Coluna do Padre Élcio: Fome da Eucaristia, Fome da Palavra de Deus.

Evangelho do Sexto Domingo depois de Pentecostes – S. Marcos VIII, 1-9

Por Padre Élcio Murucci, 30 de junho de 2018 – FratresInUnum.com

Atitude exemplar a da multidão que, por três dias havia seguido a Jesus no deserto, ávida unicamente em alimentar suas almas e despreocupada com o alimento corporal. Exemplo  muito mais para se admirar  hoje quando o mundo, com raras exceções, só tem ânsia em enriquecer e gozar. Infelizmente, os lugares de divertimento e de ráfico refervem dia e noite, ao passo que Jesus Eucarístico é abandonado nos Tabernáculos. Os sacerdotes zelosos em vão repetem as palavras de Deus.

EucharistieFelizes, no entanto, os que têm fome da Eucaristia, porque quem não come deste Alimento morrerá para sempre. Felizes os que têm fome da palavra de Deus, porque não só de pão material vive o homem, mas também, e sobretudo, da palavra que sai da boca de Deus, através de seus fiéis ministros: “Quem vos ouve, a mim ouve”.

FOME DA EUCARISTIA: Nas primeiras décadas do século XV, piratas de terra e de mar haviam invadido a Groelândia, passado a fio de espada uma pare da população cristã, e reduzido o resto à escravidão. Todas as igreja tinham sido arrasadas até o solo, e todos os sacerdotes mortos. Muitas vezes os pobres Groenlandeses tinham recorrido a Roma, onde era Papa Inocêncio VIII, mas inutilmente. O mar em toda a volta da sua inóspita praia gelara, de modo que, havia oitenta anos, nenhuma nau estrangeira ali tinha podido aproar. Privados de bispo e de sacerdotes, muitos já haviam esquecido a fé de seus pais, retornando aos vícios do paganismo. Só poucos tinham sabido conservar-se fiéis à religião. Esses tinham achado um corporal, aquele sobre o qual repousara o Corpo do Senhor na última Missa celebrada pelo último padre groenlandês. Todo ano eles o expunham à veneração pública: em torno dele os velhos, tremendo e chorando, rezavam, em torno dele as mães conduziam seus filhos para aprenderem a conhecer Jesus. Em torno dele todos se comprimiam como famintos em torno de uma branca mesa sobre a qual não tinha ficado mais do que o perfume da comida. E exclamavam: “Senhor! envia-nos depressa o sacerdote que consagre, dá-nos ainda, uma vez ao menos, a tua Carne a comer e o teu Sangue a beber, do contrário também nós perderemos a fé e morreremos como pagãos” (L. PASTOR, HISTÓRIA DOS PAPAS, v. III, pag. 448 e 449).

Caríssimos, nós temos Jesus sempre perto de nós. Contudo, pensai em quantas igrejas ficam desertas o dia todo! Pensai no número tão grande de cristãos que esqueceram até o fazer a Páscoa ou, então pensai naqueles que fazem a comunhão, sem vontade, com o coração frio e imerso nos desejos mundanos e mesmo pecaminosos. Pensai em todos aqueles que poderiam participar das Santas Missas, receber a Eucaristia e não o fazem e isto, por motivos fúteis, ou melhor sem nenhuma explicação senão a falta de fé e de amor a Jesus! Os homens não têm mais fome do Pão de vida: como farão para viver na
graça de Deus e um dia ressuscitar para a vida eterna?!

FOME DA PALAVRA DE DEUS: Lemos na vida de Santo Efrém o seguinte fato que muito ilustra este ponto que ora tratamos. Este santo, estando em oração, ouviu uma voz que dizia; “Efrém, toma alimento”. Pasmado com essa ordem, e não sabendo de onde vinha, o santo respondeu: “E que comida me darás?” Então a voz replicou: “Vai ter com Basílio: ele te instruirá, e te oferecerá o alimento eterno”. Imediatamente ele correu em busca do bispo Basílio, e achou-o na igreja, orando. Então conheceu que a palavra de Deus era a comida que ele devia tomar. E foi instruído na palavra de Deus pelo santo e sábio Bispo Basílio. Caríssimos, assim como o pão material é necessário para sustentar o corpo, assim também a palavra divina é necessária para sustentar a alma. Uma alma sem este alimento espiritual consome-se de fome, e vai perecer miseravelmente. A fé é absolutamente necessária para a salvação, pois, sem ela, como afirma S. Paulo, é impossível alguém agradar a Deus. E a fé, como assegura o mesmo Apóstolo, vem pelo
ouvido “fides ex auditu”, ou seja, a fé é alimentada nas almas pela audição da palavra de Deus. Por que é que em tantos cristãos a fé é lânguida, e por isso, morta, porque não tem a força necessária para dar frutos para a vida eterna. É uma árvore com a folhas amareladas; ou é qual lamparina bruxuleante cujo azeite está se extinguindo.

A palavra de Deus é necessária não só para iluminar a mente mas também para fortalecer a nossa vontade no bem. A terra, quando não é banhada pelas águas, esteriliza-se e não produz senão espinhos; assim também o nosso coração quando o celeste orvalho da palavra de Deus não o fecunda mais. Como é triste a gente ver católicos (que na verdade, só trazem o nome) nem sequer se incomodam em ouvir ou ler a Explicação do Evangelho dos domingos e dias santos! A estes valem as palavras terríveis de Santo Hilário: quando este santo subia ao púlpito, percebendo que algumas pessoas saíam da igreja para não se aborrecerem com o sermão que ele ia fazer, deteve-se à porta da igreja e gritou: “Agora bem podeis fugir da igreja, mas um dia já não podereis sair do lugar de tormentos”.

Caríssimos, imitemos as turbas cujo exemplo nos comove e anima na leitura do Evangelho de hoje. Procuremos primeiro ter fome de Jesus na Eucaristia, ter fome da palavra de Deus, e obteremos o seu reino e o pão material ser-nos-á dado por acréscimo. Amém!

NB.: Hoje celebra-se a Festa do Preciosíssimo Sangue de Jesus; é primeira Classe e daí prevalece sobre a Domingo que é de segunda Classe. Eis algo sobre esta grande festa: Esta meditação é muito própria para nos santificar. Este foi um dos pontos de meditação assídua de Santa Catarina de Sena. Este o grito incessante desta santa extraordinária: “Banhai-vos no Sangue, mergulhai no Sangue, revesti-vos do Sangue de Cristo!”… “A alma que se inebria e se submerge no Sangue de Cristo, veste-se de verdadeiras e reais virtudes”.

Mas, evidentemente, nada mais próprio para nos excitar a amar a
Jesus do que as palavras do próprio Divino Espírito Santo nas Sagradas
Escrituras: “Cristo amou-nos e lavou-nos dos nossos pecados no Seu
Sangue” (Apoc. I, 5). “Mas Cristo, vindo como pontífice dos bens
futuros, [passando] pelo meio de um tabernáculo mais excelente e
perfeito, não feito por mão de homem, isto é, não desta criação, e não
com o sangue dos bodes ou dos bezerros, mas com o seu próprio sangue,
entrou uma só vez no Santo dos Santos, depois de ter adquirido uma
redenção eterna.” (Hebreus IX, 11 e 12).

Caríssimos, devemos ter o “sentido” do Sangue de Cristo, do Sangue
que Ele derramou por nós até à última gota. Sangue que, por meio dos
sacramentos – da confissão, em particular – jorra continuamente para
lavar as nossas almas, para as purificar e enriquecer com os méritos
infinitos da Redenção na Cruz. Este Sangue Preciosíssimo que o Verbo,
ao encarnar, tomou da nossa natureza humana, todo no-lo devolveu como
preço do nosso resgate. E Jesus o fez livremente, ou melhor dizendo,
obrigado por seu amor por nós. : “Amou-nos e lavou-nos dos nossos
pecados no seu Sangue”. Na verdade, todos os mistérios da nossa
redenção são mistérios de amor e todos, por isso, nos incitam ao amor;
mas o Mistério do Sangue de Jesus Cristo particularmente nos comove:
contemplar a efusão do Sangue de Jesus, que corre do Calvário tingindo
de púrpura o mundo inteiro, rociando todas as almas!!! Nada mais
comovente e capaz de nos obrigar a amar a Jesus sem reservas: “Sic nos
amantem, quis non redamaret?”

Conclusão melhor não poderíamos fazer do que empregando as palavras
de São Paulo: “… deixando todo o peso que nos detém e o pecado que
nos envolve, corramos com paciência na carreira que nos é proposta,
pondo os olhos no autor e consumador da fé, Jesus, o qual, tendo-lhe
sido proposto gozo, sofreu a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e
está sentado à direita do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que
sofreu tal contradição dos pecadores contra si, e não vos deixareis
cair no desânimo. Pois ainda não resististes até derramar o sangue,
combatendo contra o pecado…” (Hebreus XII, 1-5). Amém!

Cardeal Müller: “Estamos experimentando uma conversão ao mundo, não a Deus”.

Por Catholic World Report, 26 de junho de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com – O Cardeal Gerhard Müller é o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e antigo bispo de Regensburg, Alemanha. Um renomado professor de teologia, é presidente tanto da Pontifícia Comissão Bíblica como da Comissão Teológica Internacional. Ele é também autor de diversos livros, incluindo The Hope of the FamilyPriesthood and Diaconate [“A esperança da Família, Sacerdócio e Diaconato], and The Cardinal Müller Report: An Exclusive Interview on the State of the Church [O relatório do Cardeal Müller: uma entrevista exclusiva sobre o estado da Igreja].

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Cardeal Gerhard Müller.

Dom Müller recentemente respondeu a algumas questões de Catholic Word Report sobre a situação na Alemanha, tensões sobre a proposta de recebimento da Sagrada Comunhão por certos protestantes, contínuos conflitos sobre o ensinamento da Igreja a respeito da proibição de mulheres serem ordenadas ao sacerdócio, e homossexualidade.

CWR: Desde 2014, tem havido, dentro da Igreja, uma contínua onda de conflitos e tensões que envolvem muitos bispos da Alemanha. Qual o contexto desse fenômeno? Qual a fonte desses diversos conflitos sobre eclesiologia, Sagrada Comunhão e assuntos relacionados?

Cardeal Gerhard Müller: Um grupo de bispos alemães, com seu presidente [i.e., da Conferência Episcopal] na dianteira, se vêem como lançadores de tendências na Igreja Católica em direção à modernidade. Eles consideram a secularização e a descristianização da Europa como um desenvolvimento irreversível. Por essa razão, a Nova Evangelização — programa de João Paulo II e Bento XVI — é, na visão deles, uma batalha contra o curso objetivo da história, se assemelhando à batalha de Dom Quixote contra os moinhos de vento. Portanto, todas as doutrinas da fé que se opõem ao “mainstream”, ao consenso social, devem ser reformadas.

Uma consequência disso é a demanda para a Sagrada Comunhão mesmo a pessoas sem a Fé Católica e também por aqueles Católicos que não estão em estado de graça santificante. Também estão na agenda: benção para casais homossexuais, intercomunhão com protestantes, relativização da indissolubilidade do sacramento do matrimônio, introdução dos viri probati e abolição do celibato sacerdotal; aprovação de relações sexuais antes e fora do casamento. Essas são as metas, e para alcançá-las eles estão dispostos a aceitar até a divisão da conferência episcopal.

Os fiéis que levam a doutrina Católica a sério são rotulados como conservadores e empurrados para fora da Igreja, expostos a campanha difamatória da mídia liberal e anti-católica.

Os muitos bispos, a revelação da verdade e da profissão da Fé Católica é só mais uma variável no jogo de poder político intra-eclesial. Alguns deles citam acordos individuais com o Papa Francisco e pensam que suas declarações em entrevistas com jornalistas e figuras públicas distantes de serem católicos oferecem uma justificativa mesmo para “diluir” verdades de Fé definidas, infalíveis (=dogmas). Tudo isso dito, estamos lidando com um patente processo de protestantização.

O ecumenismo, pelo contrário, tem sua meta na plena unidade de todos os cristãos, que já está sacramentalmente realizada na Igreja Católica. O mundanismo do episcopado e do clero no século 16 foi a causa da divisão da cristandade, que é diametralmente oposta à vontade de Cristo, fundador da Igreja una, santa, católica e apostólica. A doença daquela era é agora supostamente o remédio com o qual a divisão deve ser superada. A ignorância da Fé Católica naquela época era catastrófica, especialmente entre bispos e papas, que dedicavam-se mais à política e ao poder do que em testemunhar a verdade de Cristo.

Hoje, para muitos, ser aceito pela mídia é mais importante que a verdade, pela qual devemos também sofrer. Pedro e Paulo sofreram o martírio por Cristo em Roma, centro do poder naquela época. Eles não eram celebrados pelos grandes desse mundo como heróis, mas zombados como Cristo na cruz. Não devemos nunca nos esquecer a dimensão martirológica do ministério Petrino e do múnus episcopal.

CWR: Por que, especificamente, alguns bispos alemães desejam permitir o acesso à Sagrada Comunhão a protestantes em uma base regular ou comum?

Cardeal Müller: Nenhum bispo tem autoridade de administrar a Sagrada Comunhão a cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica. Somente em situações de perigo de morte um protestante pode pedir a absolvição sacramental e a Sagrada Comunhão como viaticum, se ele compartilha de toda a Fé Católica e, assim, ingressa em plena comunhão com a Igreja Católica, embora ele não tenha ainda declarado sua conversão oficialmente.

Infelizmente, mesmo bispos, atualmente, não conhecem mais a Fé Católica na unidade da comunhão sacramental e eclesial, e justificam sua infidelidade à Fé Católica com, supostamente, uma preocupação pastoral ou com explicações teológica que, entretanto, contradizem os princípios da Fé Católica. Toda doutrina e praxis devem ser fundamentadas na Sagrada Escritura e na Tradição Apostólica, e não devem contradizer os pronunciamentos anteriores do Magistério da Igreja. Este é o caso da permissão para cristãos não católicos receberam a Comunhão durante a Santa Missa — exceto na situação emergencial descrita acima.

CWR: Como o senhor avalia, primeiramente, o estado da Fé Católica na Alemanha e, depois, na Europa como um todo? Pensa que a Europa pode ou irá recobrar o sentido de sua identidade cristã anterior?

Cardeal Müller: Há muitas pessoas que vivem sua fé, amam a Cristo e sua Igreja, e colocam toda sua esperança em Deus, na vida e na morte. Mas, entre eles, há muitos que se sentem abandonados e traídos por seus pastores. Ser popular perante a opinião pública é, atualmente, critério para supostamente ser um bom bispo ou padre. Estamos experimentando uma conversão ao mundo, não a Deus, contrariamente à afirmação do Apóstolo Paulo: “Por acaso eu procuro o favor dos homens, ou de Deus? Estou tentando agradar aos homens? Se ainda estivesse agradando aos homens, não deveria ser servo de Deus” (Gal 1:10).

Precisamos de padres e bispo cheios do zelo pela casa de Deus, dedicados inteiramente à salvação dos seres humanos na peregrinação de Fé para a nossa casa eterna. Não há nenhum futuro para um “Cristianismo light”. Precisamos de cristãos com espírito missionário.

CWR: A Congregação para a Doutrina da Fé recentemente reiterou o ensino perene da Igreja de que mulheres não podem ser ordenadas ao sacerdócio. Por que o senhor pensa que este ensinamento, que já foi repetido diversas vezes nos anos recentes, continua a ser contestado por muitos na Igreja?

Cardeal Müller: Infelizmente, atualmente a Congregação para a Doutrina da Fé não é particularmente estimada, e seu significado para o primado Petrino não é reconhecido. O Secretariado de Estado e os serviços diplomáticos da Santa Sé são muito importantes para a relação da Igreja com diversos Estados, porém, a Congregação para a Doutrina da Fé é mais importante para a relação da Igreja com sua Cabeça, da qual toda graça procede.

A Fé é necessária à salvação; a diplomacia papal podem fazer muito bem ao mundo. Mas a proclamação da Fé e da doutrina não devem ser subordinados às demandas e condições dos atores do poder terreno. A Fé sobrenatural não depende de poderes terrenos. Na Fé, é absolutamente claro que o Sacramento da Ordem, nos três graus (bispo, padre e diácono) só podem ser recebidos validamente por um homem católico batizado, porque somente ele podem simbolizar e sacramentalmente representar Cristo como Esposo da Igreja. Se o ministério sacerdotal é compreendido como uma posição de poder, então essa doutrina da exclusividade das Sagradas Ordens a católicos de sexo masculino é uma forma de discriminação contra as mulheres.

Mas essa perspectiva de poder e prestígio social é falsa. Apenas se virmos todas as doutrinas da Fé e dos sacramentos com olhos teológicos, e não em termos de poder, a doutrina da Fé sobre os pré-requisitos naturais para o sacramento da Sagrada Ordem e do matrimônio serão também evidentes a nós. Apenas um homem pode simbolizar Cristo enquanto Esposo da Igreja. Apenas um homem e uma mulher podem simbolicamente representar a relação de Cristo e da Igreja.

CWR: O senhor, recentemente, apresentou a edição italiana do livro de Daniel Mattson, Why I Don’t Call Myself Gay [Porque eu não me chamo gay]. O que o impressionou no livro e em sua abordagem? Como ele se distingue de algumas abordagens “pro-gay” e posturas adotadas por alguns Católicos? O que pode ser feito para explicar, em termos positivos, o ensinamento da Igreja sobre sexualidade, casamento e assuntos relacionados?

Cardeal Müller: O livro de Daniel Mattson foi escrito a partir de uma perspectiva pessoal. Ele é fundamentado em uma profunda reflexão intelectual sobre a sexualidade e o matrimônio, que o faz diferente de qualquer forma de ideologia. Portanto, ele ajuda a pessoas com atração para o mesmo sexo a reconhecer sua dignidade e a seguir um benéfico caminho no desenvolvimento de sua personalidade, e a não se deixarem ser usados como peças nos jogo de poder de ideólogos. Um ser humano é uma unidade interior de princípios espirituais e materiais, e, consequentemente, uma pessoa e um sujeito livremente atuante de uma natureza que é espiritual, corpórea e social.

O homem é criado para uma mulher e a mulher para um homem. A meta da comunhão matrimonial não é o poder de um sobre o outro, mas, antes, a unidade em um amor que se doa, no qual ambos crescem e juntos alcançam o objetivo em Deus. A ideologia sexual que reduz o ser humano ao prazer é, de fato, hostil à sexualidade, pois nega que a meta do sexo e do eros é agape. Um ser humano não pode se permitir ser degradado ao status de um animal mais desenvolvido. Ele é chamado a amar. Somente se amo o outro por si mesmo eu chego a mim mesmo; só assim sou liberado da prisão de meu egoísmo primitivo. Não se pode ser realizado às custas dos outros.

A lógica do Evangelho é revolucionária em um mundo de consumismo e narcisismo. Pois somente o grão de trigo que cai no chão e morre não permanece sozinho, mas produz muitos frutos. “Quem amar sua vida a perderá, e quem odiar sua vida neste mundo a guardará pra a vida eterna” (Jo 12:25).

Após a rejeição do Vaticano, bispos alemães se sentem “obrigados seguir em frente” sobre a intercomunhão.

IHU – Líderes da conferência dos bispos alemães dizem que se sentem “obrigados a seguir em frente” em sua proposta de criar diretrizes nacionais para permitir que os protestantes casados ​​com Católicos recebam a Comunhão, mesmo após o chefe doutrinal do Vaticano pedir que eles deixassem o assunto de lado.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 27-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

“É importante para nós, que estamos em uma busca ecumênica de alcançar uma compreensão mais profunda entre os cristãos. Somos obrigados a persistir com coragem neste assunto”, afirmou o Conselho Permanente da Conferência, em uma declaração no dia 27 de junho.

A declaração, que aparentemente indica um tom de desafio, também diz que o presidente da Conferência, cardeal Reinhard Marx, se reuniu recentemente com o Papa Francisco para discutir o assunto. Na ocasião, Marx afirmou que pôde compreender a carta de 25 de maio do chefe doutrinal, informando aos alemães sobre questões de como sua proposta “fornece orientação e margem para interpretação”.

A declaração corresponde a uma carta enviada aos bispos alemães pelo cardeal, Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Nessa carta, que vazou para um jornalista italiano, Ladaria expôs aos alemães a decisão do Papa de não publicar a proposta, por falta de informações.

O cardeal ainda disse numa breve coletiva de imprensa, no dia 26 de junho, que sua carta deveria ser um “apelo à reflexão” e não “frear” a proposta. Ele chamou a questão da intercomunhão de “um caso que deve ser estudado em uma situação ampla, e não apenas como um problema local”.

A Igreja Católica geralmente reserva a recepção da Comunhão aos seus membros, sustentando que a partilha do sacramento seja um sinal de unidade na fé.

Embora o texto das diretrizes alemãs não tenha sido publicado, devemos considerar as situações em que uma pessoa luterana casada com um católico romano, que frequenta regularmente a missa com o cônjuge católico, poderia receber a Eucaristia.

A questão afeta a Alemanha mais do que a maioria dos outros países, já que a comunidade cristã está dividida de maneira quase igual entre católicos e luteranos.

Em sua declaração, os bispos alemães dizem que estão preocupados com a prestação de cuidados pastorais para casais ​​interdenominacionais que têm uma séria necessidade espiritual de receber a Eucaristia“.

O texto afirma que Marx também pôde esclarecer com Francisco a respeito da proposta das diretrizes nacionais que serviriam como “uma ajuda à orientação”, para que os bispos individuais usassem sua autoridade sob a lei canônica de permitir a Eucaristia à cristãos que não se encontram em plena comunhão com a Igreja Católica.

Durante uma coletiva de imprensa no voo de volta a Roma após sua visita a Genebra em 21 de junho, Francisco disse que havia dado permissão a Ladaria para escrever a carta aos alemães com intuito de garantir que a proposta tenha um bom resultado.

Segundo o Papa Francisco, embora o Código de Direito Canônico da Igreja Católica permita que um bispo local decida dar a Comunhão em casos especiais, não permite que isso seja responsabilidade de conferências nacionais.

A declaração dos bispos alemães diz que a totalidade da conferência irá reconsiderar a proposta de diretrizes sobre a intercomunhão em sua próxima assembleia geral, a ser realizada em setembro. Em fevereiro, a conferência aprovou pela primeira vez a proposta com mais de dois terços dos votos.

Debate histórico – A Luta pela Ortodoxia Católica.

Por FratresInUnum.com – Imagine o leitor a seguinte possibilidade: um debate num programa de televisão em cadeia nacional onde o tema é o quanto as mudanças na Igreja Católica após o Concílio Vaticano II foram benéficas ou prejudiciais ao catolicismo. Os debatedores são um leigo tradicionalista, autor de vários livros sobre o tema, e um padre, também ele autor de livros e liturgista, apoiador das reformas conciliares. O mediador, também católico, propõe temas que vão desde a suspensão de um teólogo liberal pelo Papa até as mudanças na Missa católica e seus efeitos. O programa também conta com um “examinador”, um padre jesuíta doutorado em línguas semíticas e estudioso dos Manuscritos do Mar Morto, também autor de inúmeros livros. Sua função é intervir nos vinte minutos finais questionando os debatedores sobre alguns pontos defendidos por cada um ao longo do debate.

Um evento como esse, tão improvável quanto possa parecer em nossos dias, realizou-se há quase 40 anos. Foi ao ar em 4 de maio de 1980, pouco mais de um ano e meio após a eleição do Papa João Paulo II. O programa é “Firing Line” (Linha de Fogo) e a TV é a PBS americana. O apresentador, o saudoso William Buckley Jr.; o leigo debatedor é simplesmente Michael Davies, que estava então a concluir sua trilogia “Revolução Litúrgica”; o liberal, o Padre Joseph Champlin. Na posição de examinador encontramos ninguém menos que o Padre Malachi Martin.

Essa preciosidade histórica está disponível agora, em vídeo com legendas em português, no link abaixo. Após apenas quinze anos desde o encerramento do Concílio, e dez do aparecimento da Missa Nova, um debate sério sobre temas que continuam atuais, testemunhando que, desde muito cedo na revolução que tomou de assalto a Igreja de Cristo no século passado, houve católicos que viram claramente o que estava acontecendo e fizeram o que estava ao seu alcance para alertar seus irmãos. Seu alerta chega até nós como um lembrete de que suas vozes, mesmo distantes no tempo, continuam com o mesmo peso e lucidez de então. E por que nos falam tão vivamente apesar da distância? Porque não fazem mais do que expressar a Verdade. E essa é atemporal. Aproveite.

Cinco anos de Francisco. Uma alternativa: Resistência!

Por FratresInUnum.com – 25 de junho de 2018: O problema deixou de ser intra-eclesial há muito tempo! Invasão de terras, multiculturalismo, ecologismo psicótico, globalismo, favorecimento do islã, abertura irresponsável às imigrações, apoio total às esquerdas, omissão em reprovar o aborto, feminismo dogmático, apoio tácito à revolução homossexual, desculpabilização do adultério…

Lançamento do livro do Sr. Ureta em Roma.

Há dez anos, se alguém cogitasse a ideia de que haveria um papa que apoiasse essas bandeiras, seria taxado como louco. No entanto, o “impossível” realizou-se: há cinco anos, os católicos fieis precisam suportar o martírio de um papa que promove tudo que a doutrina da Igreja sempre reprovou.

Não se trata de querelas internas do clero católico ou de bizantinismos absurdos. Estes conceitos são o instrumento com que o Papa Francisco está bagunçando todo o ocidente e, para dizê-lo de modo direto, com que ele está afetando a tua vida, caro leitor.

Diante disso, o que fazer?

No último sábado, em Roma, foi lançado um volume escrito pelo Sr. José Antônio Ureta, membro da TFP francesa, intitulado: “A ‘mudança de paradigma’ do Papa Francisco. Continuidade ou ruptura na missão da Igreja?. Balanço quinquenal do seu pontificado” [a edição eletrônica do livro pode ser gratuitamente baixada neste link], em que ele pacientemente analisa esta problemática.

Recolhendo uma vasta documentação, partindo das próprias palavras do Papa Francisco, o autor demonstra como ele está efetivamente realizando uma “mudança de paradigma”, uma “revolução cultural” mediante as “inovações” que está implementando na própria Igreja e, através dela, na sociedade.

Diante desse panorama desolador, o autor recorda a legitimidade do direito que assiste os fieis católicos de resistir! Assim como São Paulo declara ter resistido a São Pedro, o primeiro Papa, porque ele se tornara censurável (cf. Gal. II,11), é-nos consentido de resistir contra-revolucionariamente, pacífica e respeitosamente, sem cindir a unidade da Igreja, permanecendo em nossa posição de católicos e tomando as prudentes distâncias de quem quer que esteja a demolir o edifício da nossa fé.

No próprio sábado, dia 23 de junho, o Instituto Plínio Correia de Oliveira, em adesão e fidelidade aos ensinamentos do líder católico brasileiro cujo nome ostenta e como um eco daquele ato de resistência ante à política de distensão vaticana para com os governos socialistas que ele publicou em 1974, veio à público com uma declaração de apoio à publicação do Sr. Ureta e cerrando fileiras em torno desta mesma posição de decidida resistência [a declaração do IPCO pode ser lida neste link].

Diante da perplexidade que marca este período doloroso da história da Igreja, diante da pergunta que muitos nos fazem: “o que fazer?”, diante do sentimento de impotência que há no coração de tantos católicos inconformados, desejosos de não se omitir, de fazer algo pelo Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, de manifestar-se dalguma maneira, cremos que a iniciativa vem em boa hora, quase como uma resposta à ingente necessidade de reagir diante da ameaça que nos aflige.

Sugerimos aos nossos leitores a leitura e difusão do presente material. Não podemos cruzar os braços! Deus, Nosso Senhor, espera de nós uma atitude. Nossa Senhora de Fátima quer servir-se de nossa fidelidade como instrumento para o triunfo do seu Coração Imaculado!

Ut adveniat Regnum Iesu, adveniat Regnum Mariae!

Coluna do Padre Élcio: Deus é nosso refúgio para domarmos a nossa língua.

Evangelho do 5º domingo depois de Pentecostes: S. Mateus V, 20-24.

Por Padre Élcio Murucci, 23 de junho de 2018 – FratresInUnum.com

“Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Se vossa justiça não vai além da justiça dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; e quem matar, será réu em juízo. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será levado ao tribunal do juízo; e o que chamar a seu irmão: tolo, será réu diante do Conselho. E o que lhe chamar louco, será condenado ao fogo da Geena. Portanto, se trouxeres a tua oferenda ao altar, e te lembrares que o teu irmão tem contra ti alguma coisa, deixa a tua oferenda diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois vem fazer a tua oblação”.

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Tive a inspiração de resumir o sermão que  Santo Agostinho fez sobre o Evangelho deste 5º Domingo depois de Pentecostes.

O Santo Evangelho cuja leitura acabamos de ouvir, muito nos fez tremer, se temos fé. Não tremem aqueles que não têm fé. Na verdade, para se chegar a segurança na vida sem fim, deve-se tremer agora nesta vida que tem fim. E nós trememos. E como não tremer quando se ouve a própria Verdade dizer: “Quem chamar a  seu irmão ‘louco’, será réu do fogo da Geena”. Por outro lado diz São Tiago na sua  Epístola: “Nenhum homem é capaz de domar a sua língua” (Tiago III, 7 e 8).

john baptistQue faremos então, irmãos meus? Se Jesus disse: “Quem chamar a seu irmão ‘louco’ será réu do fogo eterno” e se a Sagrada Escritura também diz: “O homem não tem capacidade de domar a sua língua”, logo estamos todos condenados? De modo nenhum! Porque diz também o Espírito Santo na Bíblia Sagrada: “Senhor, Vós fostes nosso refúgio de geração em geração” (Conf. Salmo 89, 1). Vossa ira é justa, ó Senhor! A ninguém mandais injustamente para o fogo eterno. Entendemos, caríssimos, que, se o homem não tem capacidade para domar a sua língua, deve se refugiar em Deus para domá-la. Tomemos o exemplo dos próprios animais que nós homens domamos. Nem o cavalo, nem o camelo, nem o elefante, nem a serpente, nem o leão se domam a si mesmos. Para domá-los, lança-se mão do homem. Logo, para domar o homem.  é mister recorrer a Deus. Refugiemo-nos n’Ele!

Sim, Senhor, “Vós fostes nosso refúgio”. Sem dúvida, Deus nos domará se nós nos refugiarmos n’Ele. Se nos deixarmos domar por Ele. O homem doma um leão que não é obra de suas mãos; e não há de domar a ti quem te tirou do nada pelo poder de Suas mãos? Olhai, caríssimos, para os animais ferozes. Ruge um leão e nós trememos. Contudo, o homem se sente capaz de domá-lo. Não pela força física, mas pela inteligência.

Nisto o homem é mais forte que o leão, porque foi feito à imagem de Deus. Assim o homem, que é imagem de Deus, doma a fera. E não domará Deus a Sua imagem, que é o homem?

Em Deus, pois, está nossa esperança; sujeitemo-nos a Ele e imploremos Sua misericórdia; ponhamos n’Ele nossa confiança; e, tanto nos doma, amansa e nos faz perfeitos quanto nos submetemos a Ele e n’Ele nos refugiamos. Ás vezes Deus, nosso Domador,  também lança mão do chicote e da vara. São as provações e humilhações a que nos submete. Tu, ó homem, domas um cavalo para que uma vez manso te seja adjutório, conduzindo-te sobre ele. E, no entanto, quando morre, tu o abandonas às aves. No entanto, quando Deus te doma é para dar-te uma recompensa, que não é outra senão Ele mesmo. Depois de uma morte passageira, ressuscita-te, devolvendo a ti a carne sem faltar sequer um cabelo. Ele te ressuscita, para te colocar entre os anjos para sempre. Ali já não necessitas mais de ser domado, porque serás posse deste mesmo Pai, infinitamente doce. Então será Deus tudo em todos. Não haverá então infelicidade que nos prove, senão felicidade que nos satisfaça plenamente. Só Deus será nosso pastor; nosso Deus será nossa bebida; nosso Deus será nossa glória; nosso Deus será nossa riqueza. Toda variedade de bens que andas buscando aqui na terra, tê-los-á todos juntos n’Ele, em Deus. Buscai, caríssimos, não os bens, mas o Bem supremo que contém em Si todos os bens.

Nosso Deus e Redentor e Pai nos doma, castiga e às vezes emprega até o chicote, mas tudo isto é para nos entregar uma herança que será Nosso mesmo Pai. Com este fim  nos corrige, e ainda há quem murmura e chega até a blasfemar! Um blasfemo, porém, não açoitado, não encontrará um Juiz irado? Não é, porventura, preferível que Deus te açoite, ó homem, mas te receba por filho, do que não te castigue mas te abandone?

Digamos, pois, ao Senhor, Nosso Deus: “Senhor, Vós fostes nosso refúgio de geração em geração. Na primeira geração e na segunda, Vós fostes nosso refúgio. Refúgio para que nascêssemos, quando ainda não existíamos; refúgio para que renascêssemos, quando éramos pecadores; refúgio para nos sustentar, quando fugíamos de Vós; refúgio para nos levantar e guiar, quando éramos vossos filhos; sempre fostes nosso refúgio. Não voltaremos a deixar-Vos quando nos haveis curado de nossos males, quando haveis domado nossa carne, nosso orgulho, nossa ira e assim nos enriquecido de vossos bens; bens estes que nos dais entre carícias para evitarmos as fadigas do caminho. E quando nos corrigis, açoitais e bateis, é para que não nos afastemos do caminho. Vós, ó Senhor, serás nosso refúgio! Amém!

NB: Hoje, 24 de junho é Festa de S. João Batista que é de 1ª classe, enquanto o domingo é de 2ª classe. Assim sendo, a missa de hoje é a do Nascimento de S. João Batista. Pensei, então em fazer estas poucas reflexões que creio farão algum bem a nós sacerdotes.

SÃO JOÃO BATISTA É MODELO DOS SACERDOTES

Toda a grandeza e santidade do Precursor vêm das suas relações com o Messias: é Seu Precursor. Precederá a Jesus Cristo no espírito e virtude de Elias. Preparará o caminho para Jesus. É predestinado e consagrado por Deus para a obra de Jesus Cristo. João Batista será sempre pequeno aos seus próprios olhos e fará de tudo para sê-lo na estimação dos homens: “É preciso que Cristo cresça e que eu diminua” (S. João, III, 30). Ele será grande, sim, mas só diante do Senhor. Este, aliás, foi o belíssimo elogio que dele fez o Arcanjo S. Gabriel: “Ele será grande diante do Senhor” (S. Lucas I, 15). O seu nascimento e a sua vida, as suas palavras e ações, a sua glória e as suas virtudes referem-se a Jesus, como ao seu centro, e é principalmente sob este aspecto que João Batista oferece para os sacerdotes um modelo a seguir: Tudo deve ser para Jesus; tudo é de Jesus.
Qual foi o ministério que Deus confiou ao Precursor? Fazer conhecer o Filho de Deus encarnado, e com isto lançar os fundamentos de reino de Cristo na terra. Podemos dizer que esta foi precisamente o VOCAÇÃO de João Batista. Zacarias, pai de João Batista, profetizou iluminado pelo Espírito Santo ao dizer no seu “Benedictus”: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel!… E tu, menino, serás chamado o profeta do Altíssimo, porque irás ‘adiante da face do Senhor a preparar os seus caminhos’; para dar aos seu povo o conhecimento da salvação, para remissão dos seus pecados, pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus, graças à qual nos visitou do alto o Sol nascente, ‘para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra do morte’; para dirigir os nossos pés no caminho da paz” (S. Lucas I, 68 e 76-79). E diz o Evangelista S. João: “Houve um homem enviado por Deus que se chamava João. Este veio por testemunha para dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da Luz (o Verbo)” (S. João I, 6-8).

S. João Batista confessará e não negará e confessará que ele não era o Messias, a Luz, que haveria de salvar o mundo. Ele, na verdade, nasceu com esta missão sublime: mostrar a Luz ao mundo, Jesus receberá dele não a sua missão, mas a autenticidade da sua missão. Mostrará Jesus Cristo ao povo como sendo o verdadeiro Messias para salvar a humanidade do pecado: “Eis Aquele que tira o pecado do mundo” (S. João I, 29). Que missão sublime a de João Batista! Por isso é que o Anjo assegurou: “Ele será grande diante do Senhor”. E o próprio Jesus dirá de seu Precursor: “Na verdade vos digo que entre os nascidos das mulheres não veio ao mundo outro [profeta] maior que João Batista” (S. Mateus XI, 11). Na verdade, como precursor anunciado por Malaquias III, 1, é o maior profeta, porque enquanto os outros anunciaram o Cristo, ele com sua mão batizou-O, apontou-O com seu dedo e preparou os corações para recebê-Lo.

E assim, os sacerdotes devem reconhecer a sublimidade de sua missão e procurar fazer jus à ela. O sacerdote é o homem de Jesus Cristo, encarregado de O manifestar ao mundo e de Lhe franquear a entrada dos corações. Tenho cumprido esta sublime missão? E para realizar esta tão sublime missão, que fez o Precursor? Levou uma vida santa. Quando Deus chama alguém para determinada missão, dá ao seu enviado os meios e graças necessárias para cumpri-la. Jesus concede-lhe a autoridade de missão capaz de dominar os espíritos e a autoridade de virtudes e santidade para comover os corações. Pois bem!
as maravilhas que acompanham o seu nascimento dispuseram-no para influir eficazmente nos espíritos. Não fará milagres, porque os do seu nascimento serão suficientes para estabelecer a verdade do seu testemunho. João Batista, apenas nasce, é conhecido e respeitado, como o enviado de Deus; fale ele, e os povos o acreditarão.

Mas, era mister, outrossim, mover os corações, arrancá-los da paixões e trazê-los para Nosso Senhor Jesus Cristo. Para tanto, precisava de uma SANTIDADE que atraísse os olhares e a admiração. O retiro é o ambiente propício para a santidade; e ele retira-se desde bem novo ainda, para os desertos e aí se conserva até ao dia em que o Espírito Santo mandou que pregasse: “O Senhor, falou a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele foi por toda a terra do Jordão, pregando o batismo de penitência para remissão dos pecados” (S. Lucas III, 2 e 3).

Naquele santo retiro, em que se ocupou? Conversar com Deus e praticar rigorosa penitência. Ele já fora santificado no seio materno e, como diz o Espírito Santo: “Ora o menino crescia e se fortificava no espírito” (S. Luc. I, 30). Fazia penitências para aplacar a Deus em favor dos pecadores, aos quais ele havia de anunciar o Messias.

Ó Jesus! todas as graças por mim recebidas na qualidade de sacerdote,  tiveram por fim, fazer de mim um digno ministro de Jesus Cristo, e, por que não dizê-lo? um santo, já que “sancta sanctis”. Ó meu Deus! como me pesa não ter eu correspondido aos vossos desígnios tão fielmente como o vosso precursor!… Felizes dos sacerdotes que foram santos e que são santos imitando fielmente o Precursor!!! Mas para Deus nunca é tarde! Empreguemos, pelo menos, o resto de nossas vidas, procurando tudo só para Jesus, e que tudo em nossas pessoas seja de Jesus exclusivamente. Devemos, caríssimos colegas no sacerdócio, banir dos nossos corações toda tentação de vaidade, vício este infelizmente
não tão raro. S. João Batista, obtém os mais felizes resultados. É tido por Elias, ou por um dos antigos profetas ressuscitado; é tido pelo próprio Messias. Diante desta glória, O Batista confunde-se, humilha-se: “É preciso que Jesus cresça e que eu diminua”. Dizia também: “Eu na verdade batizo-vos com água, mas virá um mais forte do que eu, a quem
não sou digno de desatar a correia dos sapatos; Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”.

Muitos poderiam pensar que a humildade de João Batista torná-lo-ia complacente na presença dos grandes. Mas assim agiria um orgulhoso que só pensa em si. João Batista disse a verdade nas margens do Jordão, e di-la-á em face do rei Herodes: “NON LICET”, “NÃO TE É LÍCITO”. Com esta palavra arrojada, combate o escândalo intrepidamente. Prendem-no; degolam-no. E assim, no seio materno, no nascimento, na vida e na morte, o precursor de Jesus Cristo, dá testemunho d’Ele. Tudo nele é de Jesus Cristo, como tudo é para Jesus Cristo. Ó Jesus, Vós desejais agora como então, entrar nas almas, para lhes levar a paz e a salvação; dai-nos, pois, santos sacerdotes, que vos preparem o caminho. Fazei de todos os vossos ministros, como de João Batista, lâmpadas acesas, para que à luz que alumia, juntem sempre a caridade que abrasa. Amém!

Por que Roma marginaliza os greco-católicos ucranianos?

Por Padre Raymond de Souza, The Catholic Herald, 15 de junho de 2018 Tradução de Georges-François Sassine – FratresInUnum.com – As relações entre a maior das igrejas católicas orientais, a Igreja Greco-Católica Ucraniana e a Santa Sé tornaram-se desgastadas nos últimos anos, em vista à falta de apoio desta última à primeira em face da agressão russa contra a Ucrânia (em geral) e contra esta igreja sui iuris (em especial).

Newly elected Major Archbishop Sviatosla
Arcebispo-Maior, Dom Sviatoslav Shevchuk, em sua cerimônia de entronização na Catedral Patriarcal de Kiev. Eventos recentes mostram ressentimento crescente dentro da Igreja Greco-Católica Ucraniana.

Os católicos ucranianos acreditam que a Santa Sé julga ser mais importante manter boas relações com a Igreja Ortodoxa Russa, que é fortemente aliada do presidente russo Vladimir Putin. A conseqüência é que a Santa Sé não protesta como deveria contra a agressão de Putin na Ucrânia.

Dois eventos em Maio sugerem que essas relações desgastadas não serão reparadas tão brevemente.

Primeiro: havia o consistório para novos cardeais anunciados no domingo de Pentecostes. Liderando a lista de 11 novos cardeais eleitores, estava Louis Raphaël I Sako, patriarca da Babilônia e chefe da Igreja Caldeia, principal igreja católica oriental do Iraque. Tornar o patriarca um cardeal foi um ato amplamente visto como sinal de solidariedade aos já muito sofridos católicos iraquianos.

Em 2016, o Papa Francisco fez algo parecido com a Síria, embora nesta vez não tenha escolhido um oriental para o cardinalato, mas um bispo italiano que servia como núncio em Damasco.

No entanto, em cinco consistórios para a criação de novos cardeais, o Papa Francisco “passou”  por Dom Sviatoslav Shevchuk, chefe da igreja ucraniana e arcebispo-maior de Kiev. Os antecessores de Dom Shevchuk foram todos cardeais, que remontam ao tempo em que a Igreja Greco-Católica Ucraniana – quase liquidada por Stalin – era a maior igreja clandestina do mundo.

O Papa Francisco traça um novo rumo na seleção dos cardeais, mas mesmo diante da natureza idiossincrática de suas escolhas, é evidente que as igrejas sofredoras e os povos sofredores são favorecidos pelos cardeais. O fato de a Ucrânia ter sido negligenciada cinco vezes em cinco anos sugere que o sofrimento ucraniano ressoa menos em Roma do que as objeções dos ortodoxos russos, que consideram a própria existência dos greco-católicos ucranianos (assim como sua sede e seu arcebispo-maior) como uma afronta.

O segundo sinal de que as relações da Igreja Greco-Católica Ucraniana com a Santa Sé não se recupera, ocorreu quando o papa Francisco recebeu uma delegação da Igreja Ortodoxa Russa, liderada pelo Metropolita Hilarion, representante de Kirill, Patriarca de Moscou, para as relações com outras Igrejas. Durante o encontro, o Papa Francisco fez um discurso calorosamente recebido e promovido pelos ortodoxos russos.

“Eu gostaria de reiterar que a Igreja Católica nunca permitirá que uma atitude de divisão surja de seu povo”, disse o Papa Francisco. “Nós nunca nos permitiremos fazer isso, eu não quero isso. Em Moscou – na Rússia – existe apenas um patriarcado: o seu”.

Na Ucrânia há um esforço para estabelecer um novo patriarcado ortodoxo independente de Moscou. É um conto complexo, habilmente descrito nestas páginas na semana passada pelo Pe. Mark Drew. É apoiado pelo governo ucraniano e tem apoio entre muitos ucranianos que se ressentem de que sua autoridade religiosa – o Patriarcado de Moscou – defenda firmemente seu opressor político, Putin.

A Igreja Greco-Católica Ucraniana apoia os esforços para ter um novo patriarca ortodoxo ucraniano unificado, autônomo e independente de Moscou. Isso enfurece os ortodoxos russos, por isso eles ficaram muito satisfeitos em ouvir o Santo Padre – aos seus ouvidos, pelo menos – tomar o seu lado.

“A Igreja Católica, as Igrejas Católicas não devem se envolver em assuntos internos da Igreja Ortodoxa Russa, nem em questões políticas”, disse o papa Francisco. “Esta é a minha atitude e a atitude da Santa Sé hoje. E aqueles que se intrometem não obedecem à Santa Sé ”.

Quem poderia o Papa Francisco ter em mente? Os ortodoxos russos certamente concluíram que o Santo Padre estava falando sobre a Igreja Greco-Católica Ucraniana e Dom Shevchuk. É difícil pensar em qualquer outro candidato plausível, dadas as circunstâncias atuais.

Nos últimos anos, acredita-se que o Vaticano se ofenda com a Igreja Greco-Católica Ucraniana , ou a tolerância dos ataques contra a mesma, por parte dos ortodoxos russos. Isso certamente faz parte do preço exigido pelo Patriarcado de Moscou para um encontro com o Papa Francisco – algo há muito tempo negado a São João Paulo II. . Esse encontro histórico aconteceu em Havana em fevereiro de 2016.

A questão é se a nova relação entre a Santa Sé e os ortodoxos russos exigirá relações tensas entre católicos, a saber, a Santa Sé e os greco-católicos ucranianos. Eventos recentes sugerem que isso acontecerá.

Padre Raymond J de Souza é sacerdote da Arquidiocese de Kingston, Ontário, e editor-chefe da convivium.ca. Este artigo apareceu pela primeira vez na edição de 15 de junho de 2018 do Catholic Herald.

Papa na entrevista a Reuters: Chile, imigração e diálogo com a China.

Imigração, futuro da Igreja, reformas no Vaticano, mas também o problema de abuso sexual no Chile e o acordo com a China sobre a nomeação de novos bispos. São os temas abordados pelo Papa na ampla entrevista concedida, no último domingo (17/06), à agência de notícias Reuters.

Cidade do Vaticano – Vatican News

O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornalista Philip Pullella da agência de notícias Reuters.

Na entrevista, o Pontífice aborda várias questões e explica que o populismo não é a resposta aos problemas da imigração.

Em que ponto estão as relações de reaproximação com a China?

Papa: “Estamos em um bom ponto, mas as relações com a China seguem por três caminhos diferentes. Antes de tudo o caminho oficial, a delegação chinesa vem a Roma, fazemos reuniões e depois a delegação vaticana vai à China. Há boas relações e conseguimos fazer muitas coisas positivas. Este é o diálogo oficial.

Depois há o segundo diálogo, de todos e com todos. “Sou o primo do ministro fulano que mandou dizer que…” e sempre há uma resposta. “Sim, está bem, vamos em frente”. Existem estes canais abertos periféricos que são, digamos assim, humanos e não queremos interrompê-los. Pode-se ver a boa vontade tanto por parte da Santa Sé quanto por parte do governo chinês.

O terceiro, que para mim é o mais importante no diálogo de reaproximação com a China, é cultural. Há sacerdotes que trabalham nas universidades chinesas. E também consideramos muito a cultura como a mostra que fizemos no Vaticano e na China, é o caminho tradicional, como o dos grandes, como Matteo Ricci.

Agrada-me pensar nas relações com a China assim, multifacetado, não se limitar apenas ao oficial diplomático, porque os outros dois caminhos enriquecem muito. Acredito que vai bem. Na sua pergunta, o senhor falou de dois passos para frente e um para trás, mas eu digo que os chineses merecem o prêmio Nobel da paciência, porque são bons, sabem esperar, o tempo é deles e têm séculos de cultura… é um povo sábio, muito sábio. Eu respeito muito a China.”

Como o senhor responde às preocupações como as do cardeal Zen?

Papa: “O cardeal Zen lecionava Teologia nos seminários patrióticos. Creio que esteja meio assustado. A idade também influencia um pouco. É uma boa pessoa. Veio falar comigo, o recebi, mas está um pouco assustado. O diálogo é um risco, mas prefiro o risco do que a derrota certa de não dialogar. No que se refere ao tempo, alguns dizem que são os tempos chineses. Eu digo que são os tempos de Deus, avante, tranquilos.”

Falemos das mulheres. O senhor disse que as mulheres são essenciais para o futuro da Igreja. As mulheres pedem mais cargos de responsabilidade na Cúria?

Papa: “Concordo que devem ser mais. Para colocar uma mulher como vice-diretora da Sala de Imprensa, tive que lutar. Entre os candidatos que estou entrevistando para o cargo de Prefeito da Secretaria para a Comunicação, havia também uma mulher, mas ela não podia por ter outros compromissos. São poucas, é preciso colocar mais mulheres. Agora nomeei duas mulheres para o cargo de subsecretárias do Dicastério para os Leigos, Família e Vida. Neste sentido é preciso ir adiante segundo a qualidade. Não tenho nenhum problema em nomear chefe de um dicastério uma mulher, se o Dicastério não há jurisdição. Por exemplo, o do Clero tem jurisdição, deve ser um bispo, mas os dicastérios sem jurisdição são muitos. Até o da Economia eu não teria problema em nomear uma mulher competente. Estamos atrasados, concordo, mas temos que ir adiante.”

Leiga ou religiosa? Ou todas as duas?

Papa: “É o mesmo, não importa. Mulheres. Também nos Conselhos deve haver mulheres. Tenho a experiência de Buenos Aires. Antes fazia uma reunião com os conselheiros padres sobre um tema que era preciso resolver, mas depois debatia o mesmo tema com um grupo misto e o resultado era muito melhor. As mulheres têm uma capacidade de entender as coisas, é outra visão. Há também a experiência que tive aqui nos cárceres. Visitei muitos cárceres e os cárceres que estão sob a direção de uma mulher parecem melhores. Lembro-me que uma vez fui a uma prisão, uma daquelas prisões não muito grandes, mas bem protegida, e a diretora era uma mulher, de sessenta anos, mais ou menos. Depois da missa, houve um refresco. Ela dizia: “você faz isso, e a música, a tarantella…”. Era uma mãe. Quem estava triste ali dentro ia até ela. As mulheres sabem como administrar bem os conflitos. Nestas coisas as mulheres são melhores. Acredito que seria assim também na Cúria, se houvesse mais mulheres, mesmo que alguém tenha dito que haveria mais fofoca. Mas eu não acredito porque os homens também são fofoqueiros.”

Como responde a uma mulher que realmente sente forte o desejo de se tornar sacerdote?

Papa: “Existe a tentação de “funcionalizar” a reflexão sobre as mulheres na Igreja, que devem fazer isso,  que devem se tornar aquilo. Não, a dimensão da mulher vai além da função. É uma coisa maior. Voltemos a Hans Urs Von Balthasar, que concebe a Igreja com dois princípios: o princípio petrino que é masculino, e o princípio mariano que é feminino e não há Igreja sem mulheres. A Igreja é mulher, esposa de Cristo, é  mulher dogmaticamente e sobre isso devemos aprofundar e trabalhar e não ficarmos tranquilos porque funcionalizamos as mulheres. Sim, devemos dar uma função, mas isso é pouco, devemos ir além. Com a ordem sagrada não é possível, porque dogmaticamente não funciona e João Paulo II foi claro e fechou a porta e eu não retorno sobre isso. Era uma coisa séria, não um capricho. Mas não devemos reduzir a presença da mulher na Igreja com funcionalidade. Não, é algo que o homem não pode fazer. O homem não pode ser a esposa de Cristo. É a mulher, a Igreja, a esposa de Cristo. No Cenáculo, Maria parece ser mais importante que os Apóstolos. Devemos trabalhar sobre isso e não cair, digo com respeito, numa atitude feminista. No final seria um machismo com a saia. Não devemos cair nisso. Na Igreja existem diferentes funções, e também as mulheres podem ser chefes de um Dicastério. Isto há uma função, mas deve ser mais que a função. É outra dimensão de unidade, de acolhimento e de esposa. A Igreja é esposa.”

 Falemos sobre a situação de abuso sexual na Igreja, que recentemente veio à tona com o escândalo no Chile.

Papa: “Eu não queria falar sobre isso agora, mas tenho que dizer. Procurem as estatísticas. A grande maioria dos abusos ocorre no âmbito familiar e nos bairros, com os vizinhos, as famílias, depois nas academias, nas piscinas, nas escolas e também na Igreja, mas alguém pode dizer (os padres) são poucos, mas mesmo se fosse somente um (padre) seria trágico porque aquele sacerdote tem o dever de levar aquela pessoa a Deus e destruiu o caminho para chegar a Deus. Nisto, não me importam as estatísticas, é um drama geral para o qual a sociedade deve olhar mais ainda e também ver a maneira como lida com esse problema.

Falemos da Igreja. Isso eclodiu, claramente, nos tempos de Boston, digamos assim. Sabemos que as pessoas eram transferidas daqui para lá, porque não havia consciência da gravidade disso. Mas a Igreja se despertou e a lição que aprendi não é original. Tinha aprendido São João Paulo II com os cardeais dos Estados Unidos no caso de Boston. Aprendeu Bento XVI com os bispos da Irlanda. Eu tive que tomar uma decisão. Como foi no caso do Chile? Eu estudei as coisas, as denúncias com as informações que estavam aqui. Fiz examinar, me ajudaram e eu procedi de acordo com aquilo.

O problema do pe. Karadima é muito complexo porque ali se mistura a elite chilena com situações sociopolíticas. As famílias entregavam os filhos a Karadima porque acreditavam que a doutrina era segura e ninguém sabia o que estava acontecia ali dentro. Karadima é um doente grave. É um homem cujo caso vocês estudaram. Há 4 Bispos que saíram dos 40 que ele preparou no seminário e quando eu transferi Barros, de ordinário militar a Bispo de Osorno, tudo estourou. Fiz com que fosse estudado o caso Barros e não aparecia nada de consistente nas informações que tinham no Vaticano.

Voltei da viagem ao Chile inquieto, “isso não se explica”, pensei. Aqui há algo que vai além da propaganda ou alguma tomada de posição anticlerical. Pensando e pensando, pedi conselho e decidi enviar uma visita canônica, mons. Scicluna, que voltou com um relatório de 2.300 páginas de declarações de 64 pessoas. Estourou uma coisa que não se entendia, e quando vi isso, decidi convocar os bispos. Era a única coisa a ser feita. Com boa vontade escrevi uma carta de 12-13 páginas somente a eles. Na reunião eu expliquei a eles durante meia-hora e depois os convidei a rezar durante um dia e depois no outro dia começou reunião. No final eles disseram “queremos que o Senhor se sinta livre, apresentamos as renúncias”. Eu fiquei quieto e eles fizeram assim. Foi um gesto generoso, muito, porque perceberam que as coisas escritas na nota que lhes dei eram sérias. Era uma carta privada, mas que depois saiu no Chile. Eles me pediram para escrever uma carta ao povo chileno e eu fiz. Depois comecei a investigar, caso por caso, e aceitei três renúncias, incluindo duas com limite de idade, mas com problemas muito sérios nas dioceses. Eu me perguntei o que aconteceu no Chile que de mais de 70% da população que apoiava a Igreja caiu para menos de 40%. É um fenômeno difícil de entender. Acredita-se que ali exista algo de um elitismo oculto, mas é uma opinião. Certamente, é o trabalho do espírito do mal.”

O senhor pretende aceitar outras renúncias dos bispos no Chile?

Papa: “Talvez alguma. Tenho ainda de aceitar as renúncias de dois que superaram os limites de idade. Mas talvez há outro do qual aceitarei a renúncia. Em um caso, pedi que as acusações fossem dadas a ele para que pudesse se defender das acusações e depois veremos.”

Como julga o trabalho do presidente Trump, em particular, suas decisões de retirar os Estados Unidos do acordo de Paris sobre mudança climática e recuar nas relações com Cuba?

Papa: “Em relação a Cuba me entristeci porque foi um bom passo avante, mas não quero julgar porque para tomar uma decisão desse gênero deve ter tido algum motivo.

Sim, a decisão do presidente Trump sobre Paris também me entristeceu porque o futuro da humanidade está em jogo. Mas ele às vezes nos faz entender que repensará e eu espero que repense bem nos acordos de Paris.

Em relação à minha posição sobre outras coisas, uno-me ao episcopado e vou atrás dele. Não para lavar as mãos, mas porque não conheço bem as coisas. O episcopado sabe e eu vou atrás das declarações do episcopado.”

O que pensa da situação atual em que nos últimos meses cerca de 2.000 menores foram divididos das famílias, dos pais, na fronteira com o México?

Papa: “Eu apoio o episcopado. Que fique claro que nestas coisas eu respeito o episcopado.”

O senhor sempre se preocupou com a imigração e a separação das famílias.

Papa: “Sim. É por isso que apoio o episcopado que trabalhou muito. Mas nos tempos de Obama, celebrei a missa em Ciudad Juárez, na fronteira, e do outro lado concelebraram 50 bispos, e havia muitas pessoas no estádio. Ali, já havia o problema, não é apenas de Trump, mas também dos governos precedentes.”

A reforma da Cúria é suficiente?

Papa: “Acredito que podemos agrupar todos sob a reforma da Cúria, porque é algo amplo. Mas houve também outras coisas, como por exemplo a reforma do direito matrimonial e os dois Motu Proprio. Isso foi uma coisa histórica, porque havia coisas antigas. Também historicamente feitas para um conflito, como a sentença dupla.”

Ainda existem algumas doenças na Cúria?

Papa: “As doenças existem e existirão, porque são doenças podemos dizer, normais nestes casos. Devemos lutar. Quando eu fiz o elenco de todas e depois fiz também o elenco dos remédios, era para dizer para ficar atentos a fim de não cair, mas são tentações normais. Isso sempre continuará. Acredito que a sabedoria seja conhecê-las para não cair.”

Mas há também santos na Cúria, como o senhor disse.

Papa: “Muitos, muitos, muitos. Muitos, até mesmo alguns que estão aposentados e continuam trabalhando. Esses fiéis curiais, antigos e também jovens.”

O navio Aquarius chegou à Espanha. Todo este episódio faz pensar que a Europa esteja desmoronando na questão da imigração. O ministro do Interior italiano criticou o senhor no passado dizendo-lhe para colocar os migrantes no Vaticano. Qual é a solução para o problema da migração?

Papa: “Não é fácil, mas os populismos não são a solução. Vejamos a história. A Europa foi formada pela imigração. Vejamos a atualidade. Na Europa há um grande inverno demográfico. Ficará vazia. A história atual é que há pessoas que chegam em busca de ajuda. Acredito que não devemos rejeitar as pessoas que chegam, devemos receber, ajudar e organizar, acompanhar e, em seguida, ver onde colocá-las, mas em toda a Europa. A Itália e a Grécia foram corajosas e generosas ao acolher essas pessoas. No Oriente Médio, a Turquia também foi corajosa, o Líbano, a Jordânia. A um certo ponto, façamos todos, não? As pessoas fogem da guerra ou da fome. Voltamos à fome. Na África, por que há fome? Porque no nosso inconsciente coletivo existe um lema que diz que a África deve ser explorada. Muitas vezes que se vai à África é explorá-la. Falei sobre isso com a Merkel e ela concorda que temos que investir na África, mas investir de maneira organizada, dando fontes de trabalho, não ir para explorá-la. Quando um país dá a independência a um país africano dá do solo para cima, mas o subsolo não é independente. Depois reclama porque os africanos famintos vêm para cá, há injustiças lá! A Europa deve fazer um trabalho de educação e investimento na África para evitar a imigração na raiz. Alguns governos estão pensando bem. Depois é preciso acomodá-los conforme o possível,  mas criar psicose não é um remédio. E também há um problema. Nós mandamos de volta as pessoas que vêm. Essas pessoas terminam nas prisões dos traficantes.”

Então o populismo não resolve.

Papa: “O populismo não resolve, mas o que resolve é o acolhimento, estudo, acomodação, prudência, porque a prudência é uma virtude do governo e o governo deve chegar a um acordo. Eu posso receber um certo número e acomodá-los. Existe o tráfico de escravos ali, os governos devem entender isso. Não é fácil o acolhimento, educação, integração na medida do possível, e não se pode procurar uma solução única. A primeira solução é investir no lugar quando não há guerra.”

Qual é a sua visão para o futuro da Igreja?

Papa: “A Igreja vai adiante. Os povos estão abertos, mas são pecadores, somos todos pecadores; mas quando vemos os sinais da presença de Deus, pensamos nas obras de misericórdia. As pessoas se abrem porque buscam a salvação, buscam a imortalidade, buscam o encontro com Deus. O futuro da Igreja está ali. O futuro da Igreja está a caminho, a caminho. É verdade, está também na adoração, na oração, nos templos, mas sair, sair. O Apocalipse diz que o Senhor está à  porta e chama. Sim, chama para que nós o abramos. Mas hoje acredito que o Senhor muitas vezes bate à porta para que nós o abramos para deixá-lo sair. Porque nós temos muitas vezes um Cristo fechado. Uma Igreja que sai, sim, poderia sofrer acidentes, mas uma Igreja fechada fica doente. Sair, sair com a mensagem: este é o futuro.”

Ao combate!

Nossos amigos do Centro Dom Bosco estão organizando uma procissão nesta sexta-feira (22), no Rio de Janeiro, pela conversão dos abortistas. O momento é gravíssimo! Não bastasse toda a pressão internacional, recentemente, o PSOL ajuizou a ADPF 442 perante o STF na tentativa de legalizar o aborto no Brasil até a 12ª semana de gestação. Assim, pedimos a todos os sacerdotes cariocas que nos leem que, se possível, participem e convidem seus paroquianos a participarem do evento nas missas que celebrarem até essa data. Precisamos todos nos unir contra esse crime que brada aos céus. A hora é agora!

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Chega de meias palavras! Chega de eufemismos! A outrora católica Irlanda dobrou-se aos caprichos do lobby feminista. A Argentina está prestes a sancionar a nefanda lei abortista, cuja aprovação no parlamento foi insanamente festejada por centenas de feministas.

O que estamos esperando? Manteremos a postura tíbia de “diálogo com as realidades contemporâneas” ou partiremos para o bom combate, tal como fizeram incontáveis santos e mártires no passado glorioso?

O destino será a igreja da Candelária, onde, nesta mesma data, grupos de feministas pretendem se reunir para pedir a legalização do aborto. Os organizadores pedem apenas que os participantes levem seus terços e mantenham uma atitude pacífica durante a procissão, mesmo se provocados. Se algum leitor puder emprestar megafones, por favor, entre em contato com o CDB (contato@centrodombosco.org).

Reverendíssimos pastores, reajam!, conduzam-nos!, protejam-nos! Não permitam que o rebanho que lhes foi confiado seja devorado pelos lobos da Revolução. Olhemos o exemplo da Polônia, é possível frearmos ou ao menos postergarmos essa onda avassaladora se tivermos Fé e Coragem, confiando sempre no poder de Deus e na intercessão da Virgem Maria.

Reverendíssimos sacerdotes, os senhores são mais que bem-vindos à procissão! Compareçam e ajudem a espalhar o Evangelho da Vida em nossa cidade!

“Prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas.” (II Tim 2-4)