Coluna do Padre Élcio: O Trabalho Frutuoso e Não Frutuoso.

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com, 16 de junho de 2018

EVANGELHO DO 4º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

S. Lucas V, 1-14

Os Apóstolos tinham passado a noite em esforços inúteis. Trabalharam ininterruptamente a noite toda e, não obstante, não apanharam um peixe sequer.

Caríssimos, donde vinha esta esterilidade estranha em homens hábeis na pesca e para ela possuidores de todos os recursos? Ah! é que eles tinham confiado só em si mesmos, em seu número, em suas forças, em sua arte e na sua experiência. Só pensaram nas circunstâncias favoráveis: a noite, as trevas, o silêncio. E Deus tinha querido dar-lhes uma lição e lhes ensinar que o homem, sem Deus, não pode nada, sobretudo nas coisas espirituais, das quais esta pesca material era a imagem. Jesus não estava com os Apóstolos e assim seus esforços tinham sido vãos. Mas Jesus vem a eles e tudo muda imediatamente de feição. Manda que se dirijam para o alto mar e que lancem as redes. Nesta altura, as circunstâncias são menos favoráveis: já é pleno dia; uma multidão cobre as margens e, naturalmente, faz grande alarido. Não importa: a pesca é tão abundante que as redes se rompem pela quantidade de peixes; as duas barcas ficam super repletas de peixes, o que as faz quase afundar. É que agora os Apóstolos não estavam sós, mas Jesus estava com eles. A verdade é que, sem Jesus nada podemos de bom.

Esta pesca miraculosa era a imagem de uma pesca mais miraculosa ainda que deveriam fazer os apóstolos numa ordem de coisas mais elevada: “Ide ao alto mar e lançai as vossas redes para a pesca”. Obedientes a esta ordem, os apóstolos, tornados pescadores de homens, lançarão suas redes, não mais sobre as margens solitárias e ignotas, mas nos altos mares do mundo, nas cidades as mais brilhantes, as mais civilizadas, as mais populosas: Atenas, Antioquia, Éfeso, Alexandria, Roma. Como prometera, Jesus estará sempre com eles: “Eis que estou convosco”. E assim os povos virão em multidão se lançar nas redes da palavra de Deus e submeter-se-ão à Verdade que eles ensinam. Em sua primeira pregação, S. Pedro converterá três mil almas e, na segunda, cinco mil. Em breve, a Igreja não terá mais espaço para conter os neo-convertidos; ela deverá expandir suas tendas. A multidão de seus filhos constituirá uma super carga e até um perigo; suas redes se romperão, e sua barca estará prestes a soçobrar. As heresias, os cismas serão a consequência funesta, mas necessária, de alguma maneira, de sua fecundidade maravilhosa, que se tornará para ela uma fonte de dor, como profetizou Isaías: “Multiplicaste a gente e não aumentaste a alegria” (Isaías IX, 3). Mas acrescenta logo após o profeta: “Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado e foi posto o principado sobre o seu ombro… o seu império se estenderá cada vez mais e a paz não terá fim; sentar-se-á sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o firmar e fortalecer pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre” (Is. IX, 6 e 7). O mesmo Jesus compara a
Sua Igreja à uma rede que colhe toda espécie de peixes, bons e maus, mas depois recolhe só os bons e lança fora os ruins.

Caríssimos, se quisermos, também os leigos, que nossas ações e trabalhos sejam úteis para a vida eterna, é mister que trabalhemos com Jesus Cristo; com a luz de sua graça e não na noite tenebrosa do pecado.

O meio mais acessível de santificação é tudo fazermos à luz de Deus, com Jesus, por Jesus e em Jesus, porque, unidos a Ele, todas as nossas ações serão frutuosas, meritórias.

O que é trabalhar sem Jesus?

•       É trabalhar sem a graça, sem a verdadeira luz, em cegueira espiritual, em estado de pecado mortal, sob o império de determinadas paixões. Ai! quantos cristãos trabalham assim infrutuosamente, consumindo a vida no pecado.
•       É trabalhar para o mundo, pela terra. São aqueles que se extenuam e sofrem mil cuidados para adquirir riquezas ou honras. E tudo isto é vaidade e aflição de espírito. “Que adianta ao homem, disse Jesus, ganhar o mundo todo, se vier a perder a sua alma?” E contudo é esta a vida da maioria dos homens, mesmo de cristãos!
•       É trabalhar sem pureza de intenção, conforme a nossa própria vontade, sem procurar, nem a glória, nem a vontade divinas. O que assim se faz é sem mérito e sem fruto. Ai! e são muitos os que assim trabalham com prejuízo total, mesmo entre as pessoas religiosas, porque se age por leviandade, por rotina e com negligência.

Como se trabalha com Jesus?

•       Conservando sempre o estado de graça, vivendo na amizade de Jesus, para que ainda as menores das nossas ações sejam santas: “Aquele que me segue, disse Jesus, não anda nas trevas”.
•       Nada fazendo senão conforme a vontade de Deus, na ordem por Ele estabelecida: “A pessoa obediente cantará vitória” (Prov. XXI, 28).
•       Não perdendo jamais de vista, em todas as nossas ações, a santa presença de Deus. Disse Deus a Abraão: “Anda na minha presença e serás perfeito” (Gen. XVI, 1).
•       Executando todas as coisas só por amor de Deus e para Sua glória e referindo-Lhe tudo: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Cor. X, 31).
•       Conservando-se sempre, e em tudo, em união com Nosso Senhor. Sem Nosso Senhor Jesus Cristo não podemos fazer nada de bom: “Sem mim, disse Jesus, nada podeis fazer”. Com Ele, porém, tudo é abençoado!

Terminemos ouvindo Santa Teresinha do Menino Jesus: “Senhor, Vós o vedes, caio em tantas fraquezas, mas não me admiro… Entro dentro de mim e digo: estou ainda no mesmo ponto que antes! Mas digo isto com uma grande paz e sem tristeza, porque sei que conheceis perfeitamente a fragilidade da nossa natureza e estais sempre pronto a socorrer-nos. Portanto, de que poderei ter medo? Apenas me vedes convencida do meu nada, ó Senhor, logo me estendeis a mão; mas se eu quisesse fazer alguma coisa de grande, mesmo sob o pretexto de zelo, imediatamente me deixaríeis só. Basta, pois, que me humilhe e suporte de boa vontade as minhas imperfeições; é nisto que consiste para mim a verdadeira santidade”. Amém!

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