Assim o representante maior da imprensa católica alinhada ao establishment (isto é, que se inclina ao vento do momento; conservador com Ratzinger, progressista com Francisco), Andrea Tornielli, interpreta a eleição de Padre Davide Pagliarani como novo superior da FSSPX:
A nomeação de Pagliarini [sic] é surpreendente porque até hoje nunca tinha emergido como uma figura proeminente e também porque o percentual de italianos na Sociedade de São Pio X é muito baixa. Próximo de De Gallareta, foi provavelmente escolhido graças ao apoio deste último. E se for confirmada a designação do próprio De Gallareta como assistente [ndr: o que já aconteceu], o vínculo e a dependência serão ainda mais fortes e mais evidentes.
Os novos superiores eleitos pelo capítulo geral da FSSPX – da esquerda para a direita: Dom Alfonso de Galarreta, primeiro assistente; Padre Davide Pagliarani, superior geral; Padre Christian Bouchacourt, segundo assistente.
De Gallareta nos últimos anos, desde que começou o longo e árduo caminho do diálogo com a Santa Sé, sempre representou uma linha mais intransigente, menos propensa ao acordo com Roma. Será preciso aguardar as declarações oficiais para verificar qual será a atitude da nova liderança lefebvriana, mas já se pode supor um resfriamento dos contatos para chegar a resolver a posição irregular dos bispos e dos padres da Fraternidade.
A possível eleição como assistente de Dom Bouchacourt, figura mais conhecida e em evidência, inclusive representaria um sinal: ele também não deve ser incluído na corrente mais aberta ao diálogo da Fraternidade, embora em 2017 tenha reagido de maneira muito dura nos confrontos de alguns padres lefebvrianos na França, que se recusavam a aceitar a decisão de Francisco de regularizar – para o bem dos fiéis tradicionalistas – os casamentos celebrados pelos padres da Fraternidade. Bouchacourt conhece bastante bem o Papa Bergoglio, por ter sido por muito tempo superior na Argentina e por ter tido várias conversas com o então cardeal arcebispo de Buenos Aires.
Em uma entrevista, há sete anos, Dom Pagliarini dizia: “A situação canônica em que atualmente se encontra a fraternidade é consequência da sua resistência aos erros que infestam a Igreja; portanto, a possibilidade da Fraternidade de chegar a uma situação canônica regular não depende de nós, mas da aceitação por parte da hierarquia da contribuição que a Tradição pode fornecer para a restauração da Igreja. Se não chegar a nenhuma regularização canônica, simplesmente significa que a hierarquia ainda não está suficientemente convencida da necessidade e da urgência dessa contribuição. Neste caso, será preciso aguardar mais alguns anos, esperando um aumento de tal consciência, o que poderia ser co-extensivo e paralelo à aceleração do processo de autodestruição da Igreja”.
Era 2011, o Papa era Bento XVI, que havia retirado a excomunhão e permitido a missa pré-conciliar duas condições prévias para o diálogo, insistentemente solicitadas pelos lefebvrianos. Apesar disso, desde então, os encontros continuaram sem chegar (ainda) a nenhum resultado.