Coluna do Padre Élcio: Como é difícil a salvação de um surdo-mudo espiritual!

Evangelho do 11º Domingo depois de Pentecostes – São Marcos, 7, 31-37

Por Padre Élcio Murucci, 4 de agosto de 2018 – FratresInUnum.com

“Naquele tempo, saindo Jesus da região de Tiro veio por Sidon ao mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. E trouxeram-Lhe um surdo-mudo e Lhe rogaram impusesse as mãos sobre ele. Jesus, tomando-o dentre o povo, de parte, pôs os dedos em seus ouvidos e tocou-lhe a língua com a saliva. Depois, ergueu os olhos para o céu, suspirou, e disse-lhe: Ephphetha, isto é, abre-te. E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e ele falou retamente. Então, Jesus lhes ordenou que a ninguém o dissessem. Não obstante, quanto mais o proibia, tanto mais o divulgavam, e mais admirados diziam: Ele tudo tem feito bem; fez os surdos ouvirem e os mudos falarem”.

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

ephphetaA Santa Madre Igreja propõe hoje, para nossa meditação e ensinamento, a cura do surdo-mudo.

A primeira coisa que devemos observar é que na administração do santo Batismo o sacerdote faz quase os mesmos gestos de Jesus e pronuncia a mesma palavra “ephphetha”, que significa: abre-te. Estas cerimônias no Batismo significam que os cristãos devem ter os ouvidos sempre abertos para a palavra de Deus. É pela pregação que vem a fé: “Fides ex auditu”, como diz S. Paulo. É pela audição da Palavra de Deus que o cristão alimenta a sua fé logo tenha chegado ao uso da razão. Esta mesma fé deve ser confessada externamente. Em outras palavras: pelo santo Batismo, o ouvido da nossa alma abriu-se à fé e a língua aos louvores de Deus, Nosso Senhor. Tornamo-nos capazes de ouvir a voz da fé, a voz externa dos ensinamentos da Igreja e a voz interior do Divino Espírito Santo. Os nossos lábios devem sempre estar abertos para a oração, para a adoração de Deus e para fazer sempre bem feita a confissão.

Devemos observar também que, ao fazer este milagre, diferentemente de muitos outros milagres, Jesus não se contenta só em dizer: fica curado! Não, aqui o Divino Mestre faz vários gestos: retira o surdo-mudo dentre a multidão e o leva à parte; põe o dedo em seus
ouvidos; toca-lhe a língua com o dedo molhado na saliva; ergue os olhos para o céu; suspira e diz: “ephphetha”, abre-te.

Jesus não faz nada inútil. Se assim agiu ao realizar a cura do surdo-mudo, é porque há um significado em tudo isto. Na verdade, esta enfermidade natural figura uma outra, muitíssimo mais grave, deplorável e perigosa: a surdez e a mudez espirituais.

Este homem surdo-mudo é a imagem do pecador endurecido que recusa ouvir os preceitos e os conselhos paternais de Deus, e que se cala para não confessar os seus pecados ao ministro das misericórdias do Senhor. Como a confissão é secreta no confessionário, Jesus retira o surdo-mudo do meio da multidão e o toma de parte. Este gesto de Jesus significa também o santo retiro onde a alma fica longe do barulho do mundo e na solidão tem todas as condições para ouvir a palavra de Deus externa e internamente. Diz Deus pelo profeta Oseías, II, 14: “Conduzirei a alma à solidão, e falar-lhe-ei intimamente ao coração”. Deus, na verdade, não se encontra no barulho: “Non in commotione Dominus”, “Deus não está na agitação” (3 Reis, XIX, 11).

Este surdo-mudo representa um grande número de almas pecadoras. Elas não ouvem a palavra de Deus, não sabem mais falar a Deus, isto é, não rezam. Não sabem pedir perdão dos seus pecados, ou seja, não se confessam. São mudas porque são surdas. Como se formou esta surdez?

Pelo barulho do mundo agitado por toda espécie de orgulho, avareza e  luxúria. São como uma estrada aberta a todas as agitações dos transeuntes; endurecida, onde a semente da palavra de Deus não consegue penetrar, ficando assim a mercê dos demônios, que como as aves do céu, vêm e comem a semente. Estas pobres almas, cheias de si mesmas, dos seus pensamentos e da sua ciência, sufocadas pelas preocupações das riquezas e dos prazeres da vida, não querem ouvir a Deus nem aos homens de Deus. E o demônio, que as entretém nesta surdez espiritual, as torna também mudas para que não falem a Deus. Como poderiam elas orar, se não sentem a necessidade da oração? Como
poderiam proferir uma palavra de fé, se não têm pensamentos de fé? Só Jesus as pode curar, só Jesus pode fazer que elas ouçam e falem. É preciso, pois, levá-las a Jesus. O Divino Mestre as tocará com o dedo, isto é, com a graça do Espírito Santo, que é o dedo de Deus; ungindo-as com a sua saliva, lhes dará a sabedoria e o gosto das coisas de Deus. E depois, levantando os olhos para o céu, isto é, orando por elas, pronunciará o Ephphetha, que quer dizer – abri-vos. Jesus por onde passa, vai fazendo o bem: abre as consciências; abre os corações, abre as torrentes de sua graça, e, no último dia, nos abrirá também as portas da eternidade feliz.

Caríssimos e amados fiéis, como é triste o estado de um surdo-mudo!

Jesus suspirou: oh! como é difícil a salvação de um surdo-mudo espiritual!!! Não tem fé porque não ouve a palavra de Deus. Mas, sem a fé é impossível agradar a Deus. Não reza, e, sem oração não se salva. Não se confessa, e, sem confissão não há perdão, porque mesmo havendo arrependimento perfeito, arrependimento este que perdoa no mesmo momento, no entanto ele só assim perdoa se for acompanhado do desejo da confissão, e, se tiver condição de se confessar, o pecador  deverá fazê-lo antes de comungar.  Como o surdo-mudo não podia falar, pediram naturalmente por ele. Assim devemos fazer com relação às almas que desejamos converter. É preciso orar por elas, porque não sabem orar. É preciso levá-las a Jesus, recomendando-as à sua infinita misericórdia. Devemos ter compaixão destes infelizes.

Ó Jesus, meu bom Salvador, suplico-Vos que Vos digneis abrir os meus ouvidos, para que aprenda a vossa santa vontade, soltar a minha língua, para que Vos louve e Vos faça conhecer e amar. Amém!

3 comentários sobre “Coluna do Padre Élcio: Como é difícil a salvação de um surdo-mudo espiritual!

  1. E por falar em surdo-mudo… lembram-se que o Papa Francisco, há alguns anos, na cerimônia de lava-pés, convidou um travesti? Aqui em Belo Horizonte, uma das paróquias mais conhecidas da cidade, o pároco celebra a missa nova ladeado por dois travesti que atuam como acólitos. A pessoa que me informou do fato, observando o aspecto estranho das “mulheres” que serviam o altar, confirmou a impressão, depois da missa, pessoas ligadas à paróquia. Ao Sr. Editor do Fratres, querendo mais detalhes, por favor escreva em meu e-mail.

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  2. Tudo o que disse está consoante a doutrina cristã – como sempre – e interessante notar que o arrependimento perfeito só funciona conforme escreveu, para momentos de extrema necessidade e não poder se confessar, caso de um mal súbito, desastre etc., e sempre subtendendo o desejo de se confessar o quanto rápido seja possível, ainda mais quando incide num grave pecado.
    No caso de alguém situar no acima, algo que não deve e pode, dessa forma também adiando a confissão sempre para depois, depois, “não tenho tido tempo” e cair num situação enumerada acima poderia, quem sabe, ser inválido, não é?
    Quando se adoece e se sente mal, normalmente não deixa para a amanhã, semana que vem, vai a local emergencial tratar-se tão logo, portanto injustificando sempre os “amanhã, se pode hoje, depois eu vou, próxima semana, mês”…
    Quem disser publicamente a seguir, alguns ou muitos tachariam de maluco, ainda que seria ocultamente: as redes estão destruindo as pessoas a se manterem presas ao sistema e as relativizando, o mainstream; prova disso é o imenso e constante número crescente de pessoas juntas em silencio entre si, cada qual com seu atual que seria o deusinho de estimação, o celular, como inúmeras dizem “aqui tem tudo”!
    Nas igrejas, em geral, além da dissipação pelas palmas, guitarras ruidosas, bateria, pandeiro, ruidosos cânticos de parabéns ao final, etc., temos conferentes de mensagens e outros.

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  3. Em Teologia, pergunta-se o seguinte: Alguém que tenha cometido pecado mortal, se arrepende motivado por ter ofendido a Deus sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas (o motivo do arrependimento não foi o fato de ter perdido o céu e merecido o inferno= atrição ou arrependimento imperfeito) e ao ter este arrependimento perfeito, deseja receber o sacramento da confissão. Mas, depois retrata este desejo e não quer se confessar. Que acontece? Foi perdoado no momento que fez o ato de contrição perfeita com o desejo sincero de se confessar. Este perdão permanece, mas o sujeito comete pecado mortal por rejeitar depois o sacramento da confissão. Portanto, continua no perigo de se condenar. Donde, se conclui que, sem confissão não há salvação (para o adulto evidentemente que tenha cometido pecado mortal).
    Santo Afonso de Ligório ensina que o desejo da confissão, não necessariamente precisa ser explícito. E o teólogo Pe. Berthier afirma que não é necessário que a pessoa faça o propósito de se confessar O QUANTO ANTES. Mas é aconselhável, primeiro porque não se tem a certeza absoluta de ter conseguido fazer um ato de contrição perfeita; depois, o sacramento da confissão tem a sua graça sacramental, que é uma força especial para evitar o pecado.

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