Evangelho do 13º Domingo depois de Pentecostes – São Lucas, XVII, 11-19.
Por Padre Élcio Murucci, 18 de agosto de 2018 – FratresInUnum.com
Aconteceu que, indo Jesus para Jerusalém, atravessava o país da Samaria e da Galileia. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos que pararam à distância, e puseram-se a gritar: “Jesus, nosso Mestre, tende compaixão de nós”! Assim que os viu, disse-lhes Jesus: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. E aconteceu que enquanto eles iam, ficaram curados. Um deles, vendo-se curado, voltou atrás, e glorificou a Deus em alta voz; e prostrando-se por terra, aos pés de Jesus, deu-Lhe graças; e este era samaritano. Então, Jesus perguntou: Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão, pois, os outros nove? Não houve quem voltasse e viesse dar glória a Deus, senão este estrangeiro. E disse-lhe: Levanta-te a vai: tua fé te salvou.
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Como nota o Santo Evangelista, Jesus estava em viagem. Mesmo em viagem, o Salvador espalha o bem por toda a parte. Aprendamos a praticar, como o Divino Mestre, o bem e a caridade, o nosso dever enfim, em todas as circunstâncias da vida, nesta viagem para a
eternidade.
Estes leprosos são a imagem dos pecadores, como a lepra é a imagem do pecado. Como eles, não deixemos que Jesus passe ao nosso lado, indiferentes aos seus benefícios. Corramos ao Seu encontro para que nos livre da lepra do pecado; não percamos o momento da graça que não sabemos se voltará outra vez. Santo Agostinho dizia: “Temo a Jesus que passa e não volta mais”.
Estes leprosos estavam à porta da cidade, e pararam à certa distância de Jesus, porque lhes era vedado o convívio com os outros homens, a fim de os não contaminarem. (Naquela época, esta doença horrível não tinha cura e era contagiosa. Hoje, graças a Deus, a medicina oferece tratamento, e a doença não progride e deixa de ser contagiosa). Assim com o homem vicioso, atingido pela lepra espiritual, deve-se evitar a convivência, pois não somente o seu exemplo, mas ainda as suas próprias palavras nos trazem o contágio do pecado. É a advertência que nos faz o Apóstolo: “Não vos deixeis seduzir; as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Cor. XV, 33).
Caríssimos, observemos que Jesus não curou os leprosos imediatamente, mas ordenou que eles fossem mostrar-se aos sacerdotes. O Salvador quer experimentar a sua fé, obediência e humildade. Segundo a Lei, os sacerdotes deviam verificar e autenticar os casos de cura de um leproso, para lhes restituir os direitos perdidos pela enfermidade.
Ora, aqueles homens não estavam ainda curados; mas, porque tiveram fé, receberam a graça desejada, antes mesmo de se apresentarem aos sacerdotes. Também , a todos nós que contraímos a lepra do pecado, diz Nosso Senhor Jesus Cristo: “Ide mostrar-vos ao sacerdote”. Ide, confessar-lhe as vossas faltas, mostrar-lhe a vossa consciência em todo o seu lastimável estado, ou seja, mostrar realmente a alma ao sacerdote com uma confissão sincera, humilde e íntegra. Mas o padre da Nova Lei, não somente verifica os casos de cura, como ainda purifica realmente, pelo poder que lhe foi transmitido pelo Divino Mestre (Cf. S. João XX, 21-23). E muitas vezes acontece que, mesmo antes de ajoelhar-se aos pés do confessor, já o pecador está realmente perdoado, porque a contrição perfeita unida ao desejo sincero de confessar-se, só por si é bastante para nos alcançar o perdão. Ao pecador arrependido Deus justifica, pelos merecimentos de Jesus Cristo, antes mesmo da recepção do Sacramento da Penitência. Todavia, não sem relação a ele, porquanto a contrição perfeita já inclui o DESEJO de receber o Sacramento (D. 725, 807, 898). Por analogia com o Batismo, diz o Mons. Penido, observam os teólogos que tal voto nem sempre é necessariamente EXPLÍCITO.
E aconteceu que, enquanto eles iam, ficaram curados. Mas apenas um deles, por sinal um samaritano, voltou para agradecer a Jesus. Este homem, habitante dos confins da Samaria, tinha-se juntado aos leprosos de Israel, vencendo as repugnâncias de raça e de religião. A desgraça tinha-os unido, tinha derrubado o muro que existia entre eles. Mas, desde que se viram livres daquele açoite, os nove judeus já não viram no samaritano mais que o inimigo de seu povo. Separaram-se dele e seguiram o seu caminho. Ele, entretanto, vinha agradecer ao seu benfeitor. “Como? – exclamou Jesus. “Então não foram dez os curados? Não houve quem voltasse para dar graças a Deus a não ser este estrangeiro?” Esta reflexão respira profunda tristeza, que as palavras “este estrangeiro” ainda mais acentuam. Aquele incidente era como que o resumo de toda a Sua missão. Prodigalizara a mãos cheias os seus benefícios a Israel, e seu povo O rejeitava. Uns dias depois, talvez os mesmos que tinham sido curados figurassem entre a turba frenética que reclamava a sua morte. Consola-O o samaritano, símbolo de todos os filhos da gentilidade, que haveriam de receber com fé e reconhecimento o benefício da redenção. Basta lermos o que o mesmo São Lucas escreve nos Atos dos Apóstolos.
Disse Jesus ao samaritano adorador agradecido: “Levanta-te e vai: que a tua fé te salvou”. Também os outros nove deveram a sua cura à fé com que obedeceram à determinação do Divino Mestre, ma só este estrangeiro agiu conforme a sua fé e segundo as suas inspirações; só este voltou a dar graças e a proclamar bem alto o nome do seu Salvador. Por isso só foi louvada a fé deste samaritano. Os Santos Padres dão ainda uma outra explicação a estas palavras de Jesus: A tua fé te salvou: A sua fé valeu-lhe, ao mesmo tempo, a cura do corpo e a justificação espiritual. Além disso, esta gratidão mereceu-lhe a graça especial, não só de renunciar ao cisma dos Samaritanos, mas também de abraçar a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo e de publicar as maravilhas de misericórdia de que acabava de ser objeto. Entretanto, os outros nove, como comenta São Beda, depois de também, pela sua fé, terem obtido a cura, perderam-se contudo pela sua ingratidão.
Pela gratidão deveria todo homem pensar sempre nos benefícios recebidos de Deus, deveria agradecer ao benfeitor e fazer bom uso dos seus dons. Pois bem, o homem ingrato, em lugar de recordar as graças que recebeu de Deus, esquece-as; em lugar de as agradecer a Nosso Senhor, desconhece que as recebeu d’Ele, e, às vezes até as atribui a si; em lugar de as empregar em servi-Lo, abusa delas para O ofender. “A ingratidão, diz S. Bernardo, é inimiga da alma, a destruição dos seus merecimentos, a ruína das suas virtudes e a perda dos benefícios que ela tinha recebido…, é um vento abrasador que seca a fonte dos dons celestiais, da piedade, do orvalho da misericórdia”. E no mesmo sermão o santo doutor diz que a ingratidão é a corrupção do coração, que priva das primeiras graças e obsta às segundas, porque, o ingrato merece perder o bem que possui, e não merece obter o que lhe falta. E eis o que diz a Sagrada Escritura: “Isto diz o Senhor Deus: Visto que te esqueceste de mim, e me lançaste para trás das costas, carrega tu também com a tua maldade…” (Ezequiel, XXIII, 35). Em Oséias I, 6 , Deus mostra qual o castigo reservado ao povo ingrato de Israel: “…Eu não me tornarei mais a compadecer da casa de Israel, antes os esquecerei inteiramente”. Terrível castigo!!!
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo, tenhamos fé nas palavras do Divino Mestre: “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados… Ide, mostrai-vos ao sacerdote”. Façamos com humildade, sinceridade e fé as nossas confissões e saibamos dar ações de graças à Misericórdia infinita de Nosso Divino Salvador. Amém!
Grato,Irmão e amigo,
Sacerdote de DEUS TRINDADE, nosso Pai Amável e Bondoso, Justo e Temível, Infinito em Poder e Fidelidade nas Palavras Vivas que salvam, vividas no Santo Espírito de DEUS, das Sagradas Escrituras que nos mostra através dessa vossa escrita acima.
São Luz segura para nosso Caminho apertado e dificel, nas Verdades ensinadas por JESUS, nova aliança, novo Adão, promessa de Vida Eterna Gloriosa.
Sua Bênção…, ore por nós viu…eu preciso…
CurtirCurtir
Completando o artigo no tocante à contrição: O Sacrossanto Concílio de Trento assim define a contrição: “É uma dor da alma e detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar para o futuro”. A contrição foi necessária em todos os tempos para obter o perdão, e é ela que prepara o homem para a remissão dos pecados. Daí o mesmo Concílio Tridentino declarar que a contrição não compreende somente a cessação do pecado e o começo de uma vida nova, mas ainda o ódio `a vida passada, segundo estas palavras do Espírito Santo: “Lançai para longe de vós todas as vossas iniquidades, e fazei em vós um coração novo e um espírito novo” ( Êxodo, XVIII, 31).
E, na verdade, quem considerar atentamente estes lamentos dos santos: “Pequei contra vós só, ó meu Deus, fiz o mal em vossa presença” (Salmo 50); “Todas as noites rego meu leito com lágrimas; recordarei todos os anos da minha vida na amargura do minha alma” (Salmo 6).
Todo aquele que meditar bem nestes lamentos dos santos, compreenderá que eles provêm de um verdadeiro ódio à vida passada e de uma profunda detestação dos seus pecados. E justamente por força deste arrependimento interno, não perdiam oportunidade de fazer penitências exteriores, e aceitavam todos os sofrimentos e tribulações como merecidas pelos seus pecados. O exemplo clássico que se dá no Antigo Testamento é o do Rei Profeta Davi. É muito salutar meditarmos nos Salmos penitenciais que, pela Vulgata tradicional, são: 6, 31, 37, 50, 101, 129, 142. Os dois mais conhecidos são: O “Miserere” (Salmo 50) e o “De Profundis” (Salmo 129).
A dor ou arrependimento dos pecados cometidos é de tal modo necessária para se obter a remissão deles, que, sem esta disposição, Deus não perdoa. Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis”. Trata-se primeiro da penitência interior, ou seja, a dor ou contrição do coração. Como dizia o Espírito Santo pelo profeta Joel: “Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes” (Joel, II, 13).
Pode acontecer que alguém se salve sem exame de consciência e sem confissão, como quando, não podendo confessar-se, por falta de tempo ou de sacerdote, faz um ato de verdadeira contrição perfeita à hora da morte; mas sem arrependimento é impossível salvar-se, mesmo que conte direitinho todos os pecados.
É preciso assinalar aqui o erro de certos penitentes que, em sua preparação para a confissão, não procuram senão lembrar-se dos seus pecados, e não se aplicam absolutamente a conceber uma verdadeira dor. Esta dor devemos nós pedi-la insistentemente a Deus; antes de nos apresentarmos ao confessionário, tenhamos cuidado de dirigir uma Ave-Maria à Santíssima Virgem, Mãe das Dores, afim de que nos obtenha um verdadeiro arrependimento dos nossos pecados. Lemos na vida do Santo Cura d’Ars como ele avisava sempre seus paroquianos sobre isso. Costumo pregar nos retiros que antes de tomarmos o caminho do confessionário, devemos fazer mentalmente três viagens: irmos até ao Céu que perdemos; até ao inferno que merecemos; até ao Calvário onde vemos Jesus chagado e morto na cruz por causa de nossos pecados.
CurtirCurtir