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Ex-governador geral australiano e célebre ateu se converte a fé católica aos 85 anos.

Brisbane – Austrália (Quinta-feira, 20-09-2018, Gaudium Press) Bill Hayden, ex-governador geral da Austrália, que liderou o Partido Trabalhista Australiano, converteu-se à fé católica e recebeu o sacramento do batismo aos 85 anos de idade, após uma vida inteira de ateísmo público. O político pertencia a uma família católica, mas nunca havia sido batizado e sua falta de crenças religiosas o levou a renunciar a títulos honoríficos que representavam um apoio à religião. Um ataque cardíaco sofrido pelo político em 2014 e o exemplo de uma freira foram fundamentais para sua conversão, consumada no último dia 9 de setembro, na Igreja de Santa Maria de Ipswich, em Brisbane, Austrália.

 Ex-governador geral australiano e célebre ateu se converte a fé católica aos 85 anos
Foto: Catholic Leader

“A Irmã Angela Mary Doyle serviu por 22 anos como administradora dos hospitais Mater, em Brisbane, uma cidadela de cuidado da saúde para os mais pobres em South Brisbane, onde cresci no final da Grande Depressão”, escreveu o político em uma carta dirigida a seus amigos antes do Batismo e divulgada pelo portal Aleteia. “Dallas (sua esposa), nossa filha Ingrid e eu visitamos recentemente a Irmã Angela Maria no hospital Mater, onde ela era paciente. Na manhã seguinte, acordei com a forte sensação de que eu estava na presença de uma mulher santa. Então, depois de refletir sobre essas coisas, encontrei meu caminho de volta ao centro dessas crenças: a Igreja”, declarou.

Durante o tempo de preparação para o Sacramento do Batismo, o político enfrentou as dores de uma queda recente que ocasionou na ruptura de um ombro. O padre que o preparou, Peter Dillon, celebrou o evento como um grande encontro para o líder e “um ato de submissão ao fato de que, para ele ,não havia razão para negar que Deus é real e que ele veio descobri-lo”. Esta aceitação pública da fé é notável após gestos como a sua recusa em assumir o papel honorário de “Explorador em Chefe” tradicionalmente dado ao Governador Geral da Austrália pelos Escoteiros. O ateísmo que ele professou era incompatível com a promessa dos exploradores, pelo qual ele pediu para ser considerado em seu lugar como “Patrono Nacional da Associação Escoteira” durante seu governo.

Um aspecto significativo de seu recente Batismo é o fato de que os recentes escândalos da Igreja não influenciaram negativamente em sua declaração pública de fé. “Os problemas são causados por agentes humanos da Igreja, mas não devemos permitir que nossa fé seja prejudicada por agentes que não são tão bons quanto deveriam ser”, explicou Hayden. (LMI)

Da redação Gaudium Press, com informações da Aleteia

Coluna do Padre Élcio: “Tornar certa a inclusão no número dos eleitos por meio das boas obras”.

Evangelho do 19º Domingo depois de Pentecostes –  S. Mateus IX, 1-8

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com, 29 de setembro de 2018

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

A parábola de hoje compreende duas partes bem distintas: A primeira dirige-se aos Judeus que, tendo sido os primeiros convidados e chamados várias vezes a reconhecer o Messias, Deus feito homem, recusaram vir e chegaram mesmo a matar alguns dos enviados do Senhor e que, por causa da sua obstinação, foram excluídos do reino de Deus. A sua reprovação e a ruína de Jerusalém são claramente anunciados.

FB_IMG_1537716160586A segunda parte refere-se aos Gentios, convidados em massa para o lugar dos Judeus. Entretanto, Nosso Senhor quer também instruí-los e mostrar-lhes, com o que aconteceu àquele que não tinha a veste nupcial, que não basta, para ser recebido no festim das núpcias divinas, ser batizado e ter fé, mas que é preciso ainda estar revestido da graça santificante.

O rei que faz as bodas de seu filho é o Pai celeste. Estas núpcias do Filho de Deus realizam-se de várias maneiras:  Antes de tudo pela Encarnação, ou seja, o Filho de Deus, une-se hipostaticamente à natureza humana no seio da Bem-aventurada Virgem Maria. Há, portanto, a união da natureza divina com a natureza humana na pessoa divina do Verbo, ou seja, do Filho de Deus.

Núpcias também no sentido de que o Filho de Deus feito Homem fez uma aliança mística com a sua Igreja. Neste sentido diz São Paulo que o matrimônio é grande em Jesus Cristo e na sua Igreja (Ef. V, 32).

Em terceiro lugar, podemos dizer que o Filho de Deus feito homem como que desposa a alma fiel pela graça, consoante a fórmula do profeta Oséas: “Eu vos desposarei em fidelidade”. (Oséas, II, 20).

Estas três núpcias santas, têm por único fim preparar as núpcias eternas no Céu.

Assim, ser convidado para as núpcias do Filho de Deus, é ser chamado ao conhecimento e ao amor de Jesus, a entrar no grêmio da Igreja, a unir-se a Nosso Senhor pela Sagrada Comunhão, para um dia, enfim, entrar no reino dos Céus e lá gozar a eterna felicidade. Diz o Apocalipse XIX, 9: “Bem-aventurados os que foram chamados à ceia das bodas do Cordeiro!”

E enviou seus servos a chamar os convidados para as bodas: Os judeus, os primeiros convidados, sempre se mostraram de cerviz dura, e rebeldes ao convite divino. Eis a terrível censura do Diácono Estevão aos judeus: “Homens de cerviz dura e incircuncisos de coração e ouvidos, vós resistis sempre ao Espírito Santo; assim como foram vossos pais, assim sois vós também. A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram até os que prediziam a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós que recebestes a lei pelo ministério dos anjos e não a guardastes” (Atos VII, 51-53).  Os judeus rejeitaram este primeiro convite que foi feito desde Abraão até Moisés e os Profetas.

Novamente enviou outros servos: Este novo chamamento, mais iminente, representa a missão de João Batista e dos Apóstolos.

O festim da Igreja de Jesus Cristo está pronto: eis que o Verbo se fez carne; eis também a doutrina de vida; eis os sacramentos, sobretudo a Eucaristia, para alimentar, para regozijar e fortificar as almas. Jesus morrendo na Cruz exclamou: “Tudo está consumado”. Sim, tudo está pronto! o mistério da reparação está satisfeito eficazmente; a entrada do reino dos Céus, até então fechada pelo pecado, está aberta; a salvação é oferecida a todos: Vinde às núpcias!

Os Judeus recusaram o convite. Uns ocupados unicamente com os seus interesses materiais, ou com os prazeres, negligenciaram tão instantes convites. Outros, mais perversos, prenderam os servos enviados pelo rei. Estes homens ingratos e malvados, depois de terem ultrajado os servos do rei, mataram-nos. Na parábola dos vinhateiros,  Nosso Senhor Jesus Cristo disse que eles mataram o próprio Filho do Rei, ou seja, o próprio Jesus Cristo.

O rei encolerizou-se, mandou seus exércitos e exterminou aqueles homicidas, pondo fogo à sua cidade: Isto se cumpriu à letra quando as legiões romanas, guiadas por Tito e Vespasiano, investiram contra Jerusalém e, depois do memorável cerco, a destruíram juntamente com o Templo e dispersaram por toda a terra os habitantes que sobreviveram.

Agora a segunda parte da parábola: Diz respeito especialmente a todos os cristãos. O rei diz aos seus servos, isto é, aos Apóstolos e a seus sucessores no decorrer dos séculos: O festim das núpcias está pronto, isto é, os mistérios da Encarnação e da Redenção estão consumados. Os judeus, pela sua incredulidade e obstinação, tornaram-se indignos dele. Diz São Paulo: “Pelo seu (dos judeus) delito, veio a salvação aos gentios” (Rom. XI, 12). Deus sabe tirar o bem do mal. Portanto, ide por toda a terra, ao meio dos povos mais remotos e mais bárbaros, e todos aqueles que encontrardes, sem distinção de idade e de sexo, de condição ou de dignidade, sem acepção de pessoas. E o Apóstolo S. Paulo e Barnabé  diziam aos Judeus: “Vós éreis os primeiros a quem se devia anunciar a palavra de Deus, mas porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nós nos voltaremos para os gentios; porque assim nos ordenou o Senhor…” (Atos XIII,  46 e 47).. Efetivamente, os Apóstolos dispersaram-se e foram pregar por todo o mundo. A sua obra foi continuada através dos séculos. Por isso a Igreja militante está cheia duma multidão inumerável de todas as regiões e de todos os povos.

Mas nela os justos e os pecadores, estão ainda confundidos: trigo e cizânia, bons e maus, porque, na verdade, todos foram chamados, mas nem todos se converteram sinceramente e são fiéis às obrigações contraídas no Batismo.

O rei entrou na sala do festim para ver os que estavam à mesa: Esta visita súbita simboliza a que Deus fará a cada um de nós na hora do juízo que se seguirá logo após a morte.   E o rei viu um homem sem a veste nupcial. Todos recebiam esta veste na entrada da sala do banquete. Todos os cristãos recebem a veste cândida da graça na entrada da Igreja pelo santo Batismo. Não basta, porém, vir assentar-se à mesa do banquete, participar dos sacramentos, praticar os atos exteriores da fé: é preciso ter ainda a veste da graça. É preciso tê-la conservado sempre ou, ao menos, tê-la recuperado pela penitência para participar do banquete da graça e depois do da glória.

Disse o rei aos servidores: Atai este homem que não traz a veste nupcial. Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes. Tudo isto é imagem dos castigos que Deus infligirá ao pecador encontrado sem a veste nupcial da graça na hora do juízo. De pés e mãos ligadas porque sua pena será eterna. As trevas exteriores são a figura das horríveis trevas da privação da visão beatífica de Deus. Choro e ranger de dentes, imagem da aflição indizível, dos remorsos pungentes e do desespero que causarão ao pecador, a lembrança das suas infidelidades e a eternidade do inferno, onde caiu por sua culpa, porque dependia dele só, fazer-se receber no Céu.

Caríssimos, seremos nós do pequeno número dos eleitos? É segredo de Deus, mas isso depende de nós. São Pedro faz-nos esta recomendação que é, ao mesmo tempo, uma verdade dogmática e um preceito moral para assegurar a nossa salvação: “Portanto, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio das boas obras, porque, fazendo isto, não pecareis jamais. Desde modo vos será dada largamente a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” ( 2 S. Ped., I, 10 e 11). Amém!

Exclusivo – A segunda carta de Mons. Viganò: “Será que Cristo se tornou invisível para o seu vigário?”.

Apresentamos nossa tradução exclusiva para português da segunda carta de Mons. Carlo Viganò.

Scio Cui credidi

(2 Tm 1,12)

Antes de iniciar meu escrito, gostaria em primeiro lugar de dar graças e glória a Deus Pai por cada situação e provação que Ele tem preparado e preparará para mim durante minha vida. Como padre e bispo da santa Igreja, esposa de Cristo, sou chamado como toda pessoa batizada a dar testemunho da verdade. Pelo dom do Espírito que me sustenta com alegria no caminho que sou chamado a trilhar, pretendo fazer isso até o fim de meus dias. Nosso único Senhor dirigiu também a mim o convite, “Segue-me!”, e pretendo segui-lo com o auxílio da graça até o fim de meus dias.

“Enquanto viver, cantarei à glória do Senhor,

Salmodiarei ao meu Deus enquanto existir.

Possam minhas palavras lhe ser agradáveis!

Minha única alegria se encontra no Senhor.”

(Salmo 103,33-34)

*****

Faz um mês desde que ofereci meu testemunho, somente para o bem da Igreja, sobre o que ocorreu na audiência com o Papa Francisco em 23 de junho de 2013 e sobre certas questões que chegaram a meu conhecimento nas atribuições que me foram confiadas na Secretaria de Estado e em Washington, em relação àqueles que têm responsabilidade pelo encobrimento dos crimes cometidos pelo ex-arcebispo daquela capital.

Minha decisão de revelar aqueles graves fatos foi para mim a mais dolorosa e séria que já tomei em minha vida. Eu a tomei após longa reflexão e oração, durante meses de profundo sofrimento e angústia, durante o aparecimento contínuo de notícias sobre eventos terríveis, com vidas de milhares de vítimas inocentes destruídas e vocações e vidas de jovens padres e religiosos perturbadas. O silêncio dos pastores que poderiam ter providenciado um remédio e evitado novas vítimas tornou-se cada vez mais indefensável, um crime devastador para a Igreja. Completamente ciente das enormes conseqüências que meu testemunho poderia ter, porque o que eu estava para revelar envolvia o próprio sucessor de Pedro, mesmo assim resolvi falar para proteger a Igreja, e declaro com consciência limpa diante de Deus que meu testemunho é verdadeiro. Cristo morreu pela Igreja, e Pedro, Servus servorum Dei, é o primeiro a ser chamado a servir a esposa de Cristo.

Certamente, alguns fatos que eu estava para revelar estavam protegidos pelo segredo pontifício, que eu tinha prometido observar e que tinha observado fielmente desde o início de meu serviço à Santa Sé. Mas o propósito de qualquer segredo, incluindo o segredo pontifício, é proteger a Igreja contra seus inimigos, não encobrir crimes cometidos por alguns de seus membros, tornando-me, assim, cúmplice. Fui testemunha, não por escolha minha, de fatos chocantes e, como o Catecismo da Igreja Católica (nº 2491) afirma, o selo do segredo não é vinculante quando um mal muito grave só pode ser evitado com a divulgação da verdade. Apenas o selo da confissão justificaria meu silêncio.

Nem o papa nem qualquer dos cardeais em Roma negaram os fatos que afirmei em meu testemunho. “Qui tacet consentit” certamente se aplica aqui, porque se quisessem negar meu testemunho, bastaria que assim o fizessem e fornecessem a documentação para fundamentar a negação. Como é possível evitar que se conclua que a razão para não fornecerem a documentação é que eles sabem que esta confirma o testemunho?

O núcleo de meu testemunho foi que, desde pelo menos 23 de junho de 2013, o papa sabia por meu intermédio o quão perverso e mau era McCarrick em suas intenções e ações, e em vez de tomar as medidas que todo bom pastor teria tomado, o papa fez de McCarrick um de seus principais agentes no governo da Igreja, no que diz respeito aos Estados Unidos, à Cúria e mesmo à China, a qual acompanhamos nesses dias com grande preocupação e ansiedade por aquela Igreja mártir.

Ora, a resposta do papa ao meu testemunho foi: “Não direi uma só palavra!” Mas então, contradizendo a si mesmo, comparou seu silêncio ao de Jesus em Nazaré e diante de Pilatos, comparando-me ao grande acusador, Satanás, que semeia escândalo e divisão na Igreja — apesar de nunca pronunciar meu nome. Se ele tivesse dito: “Viganò mentiu,” teria desafiado minha credibilidade tentando afirmar a sua. Ao fazer isso, teria intensificado a demanda do povo de Deus e do mundo pela documentação necessária para determinar quem teria falado a verdade. Em vez disso, lançou uma sútil calúnia contra mim — sendo a calúnia uma ofensa que ele freqüentemente compara com a gravidade de um assassinato. De fato, assim o fez repetidamente, no contexto da celebração do Santíssimo Sacramento, a Eucaristia, onde ele não corre o risco de ser questionado por jornalistas. Quando falou com jornalistas, pediu que exercessem sua maturidade profissional e tirassem suas próprias conclusões. Mas como os jornalistas podem descobrir e conhecer a verdade se aqueles diretamente envolvidos com a questão recusam-se a responder quaisquer perguntas ou a fornecer quaisquer documentos? A falta de vontade do papa de responder a minhas acusações e sua surdez aos apelos dos fiéis que exigem uma prestação de contas são difíceis de conciliar com seus pedidos por transparência e construção de pontes.

Mais ainda, o acobertamento de McCarrick por parte do papa claramente não foi um erro isolado. Muitas outras instâncias foram documentadas recentemente na imprensa, mostrando que o Papa Francisco defendeu clérigos homossexuais que cometeram sérios abusos sexuais contra menores ou adultos. Isso inclui seu papel no caso do Pe. Julio Grassi em Buenos Aires, sua reintegração do Pe. Mauro Inzoli após o Papa Bento XVI o ter removido do ministério (até o momento em que o padre foi preso, quando então o Papa Francisco o laicizou), e sua paralisação da investigação das alegações de abuso sexual contra o Cardeal Cormac Murphy O’Connor.

Enquanto isso, uma delegação da USCCB, liderada por seu presidente, o Cardeal DiNardo, foi a Roma pedindo uma investigação sobre McCarrick. O Cardeal DiNardo e os outros prelados deveriam dizer à Igreja na América e no mundo: teria o papa se recusado a conduzir uma investigação no Vaticano sobre os crimes de McCarrick e daqueles responsáveis por encobri-los? Os fiéis merecem saber.

Gostaria de fazer um apelo especial ao Cardeal Ouellet porque, como núncio, sempre trabalhei em grande harmonia com ele e o tenho em alta estima e afeição. Ele lembrará quando, no fim de minha missão em Washington, recebeu-me em seu apartamento em Roma numa tarde para uma longa conversa. No começo do pontificado do Papa Francisco, o cardeal manteve sua dignidade, como mostrou com coragem quando era Arcebispo de Québec. Depois, entretanto, quando seu trabalho como prefeito da Congregação dos Bispos foi minado porque recomendações para indicações episcopais estavam sendo passadas diretamente para o Papa Francisco por dois “amigos” homossexuais de seu discatério, passando por cima do cardeal, ele desistiu. Seu longo artigo em L’Osservatore Romano, no qual se mostra favorável aos aspectos mais controversos de Amoris Laetitia, representa sua rendição. Eminência, antes de eu sair de Washington, foi o senhor que me contou sobre as sanções do Papa Bento XVI contra McCarrick. O senhor tem à sua completa disposição documentos chaves que incriminam McCarrick e muitos na cúria por seus encobrimentos. Eminência, eu insisto que o senhor seja testemnha da verdade.

*****

Finalmente, desejaria encorajá-los, queridos fiéis, meus irmãos e irmãs em Cristo: jamais desanimem! Tomem posse do ato de fé e de completa confiança em Cristo Jesus, nosso Salvador, feito por São Paulo em sua segunda Carta a Timóteo, Scio cui credidi (sei em quem tenho crido), que escolhi como meu lema episcopal. É um tempo de arrependimento, de conversão, de orações, de graça, para preparar a Igreja, a esposa do Cordeiro, para lutar e vencer com Maria a batalha contra o antigo dragão.

Scio Cui credidi” (2 Tim 1,12)

Em vós, Jesus, meu único Senhor, ponho toda a minha confiança.

“Diligentibus Deum omnia cooperantur in bonum” (Rom 8,28).

Para comemorar minha ordenação episcopal em 26 de abril de 1992, a mim conferida por São João Paulo II, escolhi essa imagem retirada de um mosaico da Basílica de São Marcos em Veneza. Ela representa o milagre da tempestade acalmada. Fiquei impressionado pelo fato de que na barca de Pedro, jogada pelas águas, a figura de Jesus é representada duas vezes. Jesus dorme profundamente na proa, enquanto Pedro tenta acordá-lo: “Mestre, não te importas que morramos?” e os Apóstolos, aterrorizados, olham cada um para uma direção diferente e não se dão conta de que Jesus está de pé atrás deles, abençoando-os e comandando seguramente a barca: “Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: ‘Aquiete-se! Acalme-se,’… Então perguntou aos seus discípulos: ‘Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?’” (Mc 4,38-40).

A cena é muito propícia para representar a tremenda tempestade pela qual a Igreja está passando neste momento, mas com uma diferença substancial: o sucessor de Pedro não apenas falha em ver que o Senhor está no pleno controle barca; parece que ele não tem sequer a intenção de acordar Jesus adormecido na proa.

Será que Cristo se tornou invisível para o seu vigário? Será que ele está sendo tentado a agir como substituto do nosso único Mestre e Senhor?

O Senhor tem o pleno controle da barca!

Possa Cristo, a Verdade, ser sempre a luz de nosso caminho!

+ Carlo Maria Viganò

Arcebispo Titular de Ulpiana

Núncio Apostólico

29 de setembro de 2018

Festa de São Miguel Arcanjo

A dialética de Francisco (II). A destruição da Igreja pela divisão.

Por FratresInUnum.com, 27 de setembro de 2018 — Apresentamos na semana passada um editorial sobre a “Dialética de Francisco”, mostrando o abismo que existe entre a mente de um homem comum e a de um revolucionário, na qual a contradição forma parte da estrutura mesma de sua psicologia. Nada de coerência, nada de ação linear… A unidade do processo, em si, determina o significado das ações pontuais que, via de regra, se contradizem, garantindo a vitória do movimento.

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Nossa abordagem estaria incompleta sem entendermos que, a esta psicologia nefasta, Hegel introduziu outro elemento que lhe é absolutamente essencial: aquilo que ele chamava de “trabalho do negativo”. Em poucas palavras, o processo, em sua dinâmica de autoafirmação subjetiva, destrói toda a objetividade. Obviamente, essa mesma estrutura lógica foi assumida e desenvolvida por Marx e, sobretudo, pelos filósofos da Escola de Frankfurt, que entendiam ser sua missão não apenas incutir a subjetiva psicologia dialética, mas também destruir toda a ordem objetiva.

Os frakfurtianos inventaram, para isso, duas táticas simples: primeiro, convencer a todos de que toda a sabedoria humana existente não passava de vigarice e trapaça, ou seja, de proceder a uma impiedosa desmoralização intelectual de toda a história do pensamento; para, depois, substituir tudo o que é bom por tudo que há de pior, na estética, na ética e em todos os âmbitos da cultura humana. No fundo, este último passo consistia também numa deformação sociológica: o homem honesto tem de ser considerado uma fraude, e os únicos realmente bons são os bandidos, os depravados etc.

Ora, compreendendo essas coisas fica muito fácil entender o modus procedendi do papa argentino. Não basta pensar de modo dialético e manipular as contradições sobredeterminando-as em vista de um fim, que é o advento do socialismo, do qual a Igreja está sendo feita escrava; é necessário desmontar a estrutura mesma da Igreja em todos os âmbitos, desmoralizando suas doutrinas como vigarices farisaicas e impondo de todos os lados a imoralidade como imperativo moral, anistiando o adultério, a fornicação, o homossexualismo e promovendo ao mais alto escalão da hierarquia eclesiástica os mais escandalosos dentre os efeminados e prevaricadores.

Agora, Francisco acaba de transferir ao Sínodo dos Bispos faculdades do poder papal, permitindo que, após ampla consulta popular, os representantes das conferências episcopais escrevam um documento que será submetido apenas à formal aprovação do Bispo de Roma, sendo considerado ipso facto magistério ordinário do Romano Pontífice. É a substituição da monarquia papal pelo sindicalismo eclesiástico, é a adulteração da Igreja como sempre a conhecemos feita propositalmente para a inserção de uma arquitetura que permitirá simultaneamente eximir o papa de sua responsabilidade, de um lado, deixando-o completamente amarrado, de outro, caso queira cumprir o seu encargo de defensor da fé a despeito de qualquer desvio entre a maioria do episcopado. Com este sistema em vigor, Santo Atanásio ou Santo Agostinho de nada teriam valido, e a Igreja seria hoje ariana ou pelagiana.

Com vistas à aprovação da ordenação sacerdotal dos homens casados na Amazônia (que será apenas o pontapé inicial para todo o resto do mundo), essa estrutura é adequada para preservar o Papa Francisco de críticas e, ao mesmo tempo, fazer avançar a sua agenda revolucionária, pois ele mesmo pode conferir às assembleias sinodais poder deliberativo (Cf. Constituição Episcopalis Communio, art. 18 § 2). A questão transcende, contudo, a ordenação dos viri bropati. É uma verdadeira mudança na arquitetura da Igreja, que permitirá a introdução de todas as mudanças revolucionárias controladas nas últimas décadas, a despeito do papa ou, caso ele as queira promover, sem lhe produzir algum deficit junto à opinião pública. Um golpe de mestre!

Obviamente, Papa Bergoglio é muito consciente do mal-estar que está produzindo por todos os lados. Mas este não é um efeito colateral indesejado, ao contrário, faz parte de todo o seu modo de atuar.

Os pontificados anteriores se notabilizaram por uma espécie de “governo de equilíbrio de forças e coalização”, harmonizando progressistas e conservadores através de uma constelação de centristas insípidos e apáticos. Isto é muito diferente do que fizeram os melhores e mais santos Papas, que não equilibravam forças, mas defendiam a verdade mesmo às custas de toda e qualquer intranquilidade.

Francisco radicaliza e encarna na Igreja o imperativo de Maquiavel, sistematizado por Marx et caterva: dividir para conquistar! Ele está acirrando a divisão na Igreja. Com efeito, segundo o jornal Der Spiegel, ele mesmo teria confessado a um círculo muito íntimo de amigos: “passarei para a história como o papa que dividiu a Igreja Católica”.

De fato, a dialética de Jorge Bergoglio não é apenas psicológica, é uma forma de governo e uma estratégia desconstrutivista. Ele é a versão eclesial do “trabalho do negativo” de Hegel e está muito imbuído dessa consciência.

Quem quiser permanecer fiel terá de ser muito, realmente muito, virtuoso. Caso contrário, sucumbirá ao caos. Como dizia Nosso Senhor: “de todos sereis odiados por causa do meu nome, mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça. É pela perseverança que salvareis as vossas almas” (Luc. XXI,17-19).

Francisco brinca: “Eu sou o diabo”.

Por Gloria.tv, 25 de setembro de 2018 – Antes de iniciar a sua jornada apostólica para a Lituânia, em 22 de setembro, o Papa Francisco, cumprimentando jornalistas, foi apresentado a um livro sobre João Paulo II (+2005).

Francisco admitiu que a sua reputação está esmaecendo, em comparação à de João Paulo II, brincando: “João Paulo II era um santo, eu sou o diabo.”

Palavras de um Cardeal: O Papa é frio como gelo, um astuto maquiavélico, e o que é pior, ele mente.

Por LifeSiteNews, 22 de setembro de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com – Hoje, a revista alemã Der Spiegel, uma das revistas políticas mais influentes da Europa, publicou uma matéria sobre os fracassos do papado de Francisco. LifeSiteNews já resumiu partes desta matéria sobre o envolvimento do Papa Francisco no encobrimento de casos de abuso na Argentina. Mas os autores da Spiegel também fazem um relato de suas conversas com prelados do Vaticano, sem citar seus nomes, mas que falaram de modo bem crítico sobre o Papa Francisco.

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“Não mentirás” – capa de Der Spiegel de 22 de setembro de 2018.

De acordo com a revista, um cardeal não apenas chamou claramente o papa de mentiroso, mas também disse: “Desde o início, não acreditei em uma só palavra dele”. Os comentários da própria Spiegel sobre esse papado, como veremos, também não deixam por menos.

Um dos interlocutores de alto escalão disse à equipe jornalística que, no Vaticano, reina “um clima de medo e incerteza”. “Francisco é muito bom em pôr as coisas em movimento”, disse um prelado alemão, “mas, quando no final sobram apenas resultados vacilantes, isso com certeza não ajuda”. Exemplos de tais vacilações podem ser encontradas, como diz Spiegel, no modo como o Papa Francisco tratou o debate sobre a Comunhão para cônjuges protestantes de católicos. Um cardeal alemão conta à revista sobre mentiras, intrigas, “e um Santo Padre que, ao contrário de qualquer um de seus predecessores, põe em dúvida a verdade da fé”.

Marie Collins, ela própria uma importante vítima de abuso e defensora das vítimas, fala sobre o modo como o papa e o Vaticano lidam com os casos de abuso: “belas palavras em público e [então] ações opostas por detrás de portas fechadas”.

A revista Spiegel comenta que o papa poderia muito bem ter optado por ignorar os “indícios de crimes dentro de seu próprio círculo íntimo”, porque “ele está interessado, devido a uma política de poder, em manter um ou outro cardeal ou bispo em seu ofício” [ndr: ver exemplo aqui]. Aos olhos da revista alemã, “Francisco, coloca-se em uma posição vulnerável”. Ele luta por anos “contra o capitalismo global, mas assim como seus predecessores — tomou somas que chegam a milhões do agora rejeitado cardeal McCarrick, que esse mesmo recebeu de doadores”. “O Papa elogia o valor da família tradicional, mas depois se cerca de conselheiros e colaboradores que vivem o oposto — em uma situação mais ou menos de concubinato com representantes de ambos os sexos”.

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“O papa ainda é o dono da situação?”, pergunta-se a Spiegel. A revista aponta que “a crítica [deste papado], entretanto, vem de um círculo muito maior do que o dos arqui-conservadores conectados globalmente”. Um dos problemas deste Papa, de acordo com a revista, é que “ele é silencioso em assuntos delicados”, tais como o dubia dos quatro cardeais a respeito de sua exortação pós-apostólica Amoris Laetitia, mas também a respeito da petição de 30.000 mulheres que recentemente solicitaram que ele respondesse às questões decorrentes do relatório Viganò. Ele não responde a essas mulheres, permanece mudo, e “deixa sem resposta a acusação de que, desde junho de 2013, ele tinha conhecimento sobre os feitos do molestador de menores, Cardeal McCarrick”.

Ao falar sobre um dos colaboradores mais próximos do papa, o cardeal Reinhard Marx e sua própria arquidiocese de Munique, a revista Der Spiegel aponta para a crise da fé na Baviera. “Uma parte do problema na Arquidiocese, no entanto, é doméstico”, explica. A credibilidade da Igreja ali, acrescenta, está sendo prejudicada pelos fatos de que “um clérigo de alto escalão de Munique coloca descaradamente sua concubina sentada no banco de frente da igreja, e que também nesta cidade, há indignação sobre pastores abertamente homossexuais e sobre um Papa imprevisível”.

“Desde o começo, não acreditei em uma só palavra sua.” São as palavras incisivas de um cardeal dentro dos muros do Vaticano: “Ele prega misericórdia, mas é na verdade uma pessoa fria como gelo, um astuto maquiavélico e, o que é pior — ele mente.”

Igreja Católica da China jura lealdade ao Partido Comunista após acordo com Vaticano.

O Vaticano assinou no sábado um acordo dando à instituição voz decisiva na nomeação de bispos na China.

Reuters – A Igreja Católica da China reafirmou neste domingo (23) sua lealdade ao Partido Comunista, ao mesmo em que saudou um acordo histórico com o Vaticano sobre a nomeação de novos bispos.

O Vaticano assinou no sábado um acordo dando à instituição voz decisiva na nomeação de bispos na China, embora os críticos classifiquem essa manobra como uma venda aos interesses do governo.

Os cerca de 12 milhões de católicos da China estavam divididos entre uma igreja clandestina jurando lealdade ao Vaticano e à Associação Patriótica Católica, supervisionada pelo Estado.

A Igreja Católica na China disse que “vai perseverar em seguir um caminho adequado a uma sociedade socialista, sob a liderança do Partido Comunista Chinês”.

A instituição disse que “ama profundamente a pátria” e “sinceramente endossou” o acordo, esperando que as relações entre a China e o Vaticano melhorem ainda mais, acrescentou a igreja, em comentários publicados em seu site.

O Vaticano disse que o acordo, um avanço depois de anos de negociações, “não é político, mas pastoral”, e espera que isso leve à “plena comunhão de todos os católicos chineses”.

Mas as perspectivas de tal acordo dividiram comunidades de católicos em toda a China, com alguns temendo uma maior supressão se o Vaticano ceder mais controle a Pequim. Outros querem ver a reaproximação e evitar um potencial desacordo.

Coluna do Padre Élcio: “Tem confiança, filho, os teus pecados te são perdoados”.

 Evangelho do 18º Domingo depois de Pentecostes –  S. Mateus IX, 1-8

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com, 22 de setembro de 2018

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

O santo Evangelho oferece-nos ensejo de refletirmos sobre muitos assuntos. Quero falar sobre o poder de perdoar pecados, ou seja, sobre o sacramento da Penitência ou Confissão. O poder de perdoar pecados é, na verdade, um poder divino, isto é, só Deus pode perdoar pecados. Jesus Cristo perdoava pecados justamente porque Ele era Deus. Mas quem tem o poder, pode delegá-lo a outrem.

O-pai-misericordioso-e-os-dois-filhosFoi o que Nosso Senhor Jesus Cristo fez. Assim como deu aos Apóstolos o poder de batizar, celebrar o Santo Sacrifício da Missa, o poder de pregar, deu-lhes também a eles e aos seus sucessores o poder de perdoar pecados. Por isso é que Jesus disse: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (S. João XX, 21-23).

Todos reconhecem que os reis da terra têm o poder de mandar administrar a justiça em seu nome, quer dizer, de confiar a magistrados o direito de absolver e de condenar os culpados. Por que recusar a Deus o mesmo direito? O Rei do Céu terá menos poderes do que suas criaturas? Evidentemente Deus pode confiar a homens o poder de perdoar os pecados em seu nome. Ora, é um artigo de fé que Jesus Cristo comunicou este poder aos padres quando lhes disse: os pecados serão perdoados a quem vós os perdoardes. O Salvador não disse: os pecados serão perdoados a quem anunciardes que lhes são perdoados; não; pois, absolvendo, o padre perdoa verdadeiramente os pecados na qualidade de substituto de Jesus Cristo, em virtude do poder que lhe foi dado por Nosso Senhor, que é o principal ministro do Sacramento.

Caríssimos, é mesmo impossível que haja um outro meio de perdão. Com efeito, se houvesse na religião outro meio além da confissão, para se restabelecer na graça de Deus; se bastasse, por ex., humilhar-se em sua presença, jejuar, orar, dar esmolas, declarar-lhe sua falta no íntimo do coração, que aconteceria? Que ninguém mais se confessava. Pois quem seria bastante simples para ir solicitar, com um tom suplicante, aos pés de um homem, uma graça que poderia facilmente obter sem ele, e contra a sua vontade? Então que seria da confissão estabelecida pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo (Cf. S. João, XX, 21 a 23).  – Cairia em desuso e ficaria sem efeito no mundo. Que seria do magnífico poder que Ele deu aos seus ministros de perdoar ou reter os pecados? Não é evidente que este poder tão admirável e divino tornar-se-ia um poder ridículo e completamente irrisório visto que nunca teriam de exercê-lo? Assim, ou há obrigação para todos os pecadores confessarem seus pecados ao padre, ou então Jesus Cristo zombou de seus ministros dizendo-lhes: os pecados serão perdoados a quem os perdoardes, etc. E teria igualmente zombado deles quando lhes disse: dar-vos-ei as chaves do reino dos céus (S. Mateus, XVI, 19). De que lhes serviria ter as chaves do céu se nele se pudesse entrar sem que fosse aberto pelo seu ministério?

Os grandes adversários do Sacramento da Penitência são os protestantes. Estes, seguindo Calvino, e também os ímpios modernos ousam dizer que a confissão era desconhecida nos primeiros séculos do Cristianismo. Sustentam que a confissão data do 4º Concílio de Latrão em 1215, época em que o Papa Inocêncio III tê-la-ia inventado. Caríssimos, isto constitui um grave erro que denota a mais grosseira ignorância, ou, pior ainda,  uma demonstração da mais insolente má fé. Vamos ouvir Santo Afonso: este grande Doutor da Santa Igreja diz que o Papa Inocêncio III, não fez senão determinar o tempo em que a confissão deve ser feita pelos fiéis, isto é, ao menos uma vez por ano, como já haviam prescrevido os papas Inocêncio I (+ 417), Leão I (+ 474), Zeferino (+218). Além disso, sabemos que a Tradição e a História da Igreja se apóiam no Santo Evangelho de S. João XX, 21 a 23, para provar que a confissão foi instituída por Jesus Cristo. Suponhamos os Sacramento da Penitência como a Igreja o administra, realmente estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo: Eis aqui os fatos que se devem produzir e dos quais a História Eclesiástica dá, sem dúvida, testemunho; os Padres da Igreja falarão da Confissão em seus escritos, e dirão que ela vem de Jesus Cristo; hão de afirmar que é necessária à salvação, que deve ser feita com sinceridade e com contrição; que só os sacerdotes podem absolver, etc. Os Concílios traçarão as regras aos confessores, para remediar os abusos que nascerão em diversas épocas da história. Conservar-se-ão muitos nomes de confessores que prestaram o socorro de seu ministério a personagens históricos. Talvez se encontre nas mais antigas igrejas o lugar dos tribunais da penitência; enfim, as seitas separadas da Igreja de Jesus Cristo, desde os primeiros séculos, terão provavelmente conservado alguns vestígios dessa salutar instituição.

Consultando as antiguidades eclesiásticas obteremos precisamente estes resultados que acabamos de enumerar. Até historiadores protestantes, devendo ser sinceros diante da evidência, declararam que a Confissão entre os Católicos já era exercida nos quatro primeiros séculos. Por exemplo, o historiador protestante Gibbon diz: “o homem instruído não pode resistir ao peso da evidência histórica que estabeleceu a Confissão como um dos principais pontos da doutrina católica em todo o período dos quatro primeiros séculos”.

Entre outras seitas heréticas encontramos também quem dá testemunho histórico da existência da Confissão já nos primeiros séculos da Igreja Católica. Por exemplo: os heutiquianos, os jacobitas, os armênios, os nestorianos, em um palavra, as Seitas do Oriente, separadas da Igreja Romana desde o 4º e o 5º séculos, praticavam a confissão como necessária. Muitos sábios autores atestam que se vêem nas catacumbas de Roma os confessionários próximos aos altares, cujas pinturas, semelhantes às de Pompéia, remontam aos primeiros séculos do Cristianismo.

Em Teologia usam-se os argumentos tirados das Sagradas Escrituras e depois os argumentos da Tradição. Frequentemente, usam-se também os argumentos da reta razão humana.  Assim, em se tratando da origem divina do Sacramento da Penitência, vamos, com a graça de Deus, apresentar também os argumentos da reta razão, ou também chamados argumentos do bom senso.

Pois bem! O mais simples bom senso nos mostra que a confissão não pode ter senão uma origem divina. Suponhamos que seja uma invenção humana; certamente, uma tal invenção é bastante notável para que se conhecesse o seu autor. Sabe-se o primeiro cultor da ciência: foi Thales. Arquimedes inventou as espelhos-ustórios; Nilton descobriu a lei da gravidade; Gutenberg descobriu a arte de imprimir. Pedro Álvares Cabral descobriu o nosso querido Brasil; Colombo descobriu a América etc. etc., … quem é, pois,o inventor da confissão? Foi, acaso, um grande santo? Mas  os santos Padres desde os mais próximos dos Apóstolos já supõem a confissão como um fato existente e conhecido. Logo, não foram eles que inventaram a confissão. Se os padres, os bispos e os papas fossem isentos da confissão, aquela afirmação teria alguma aparência de verdade; eles, porém, estão sujeitos a ela como os simples fiéis. Onde, pois, a razão que os induziria a impor-se uma obrigação tão humilhante? Por que força secreta teriam eles podido constranger os reis a irem ajoelhar-se ante um pobre padre para lhe fazer acusação de suas fraquezas, a submeter-se sem réplica às suas decisões, e receber dele, com respeito, uma penitência proporcionada às suas faltas? Se os padres tivessem inventado a confissão, teriam sido levados por um motivo qualquer. Qual seria este motivo? O interesse? Evidentemente que não; pois o confessor não recebe remuneração alguma pela confissão. O prazer? Mas sabeis o que é ser confessor?   – Ser confessor é ser escravo de todos – depender dos outros desde a manhã até à noite  –  a qualquer hora do dia e da noite. O confessor tem que sondar as chagas mais repugnantes, sem tremer, ouvir os crimes por maiores que sejam, sem arrepiar-se.

É sobretudo à cabeceira dos doentes e moribundos que os padres devem estar presentes. O padre deve administrar os sacramentos aos pestíferos com risco de contaminar-se do mal. Sua vida é uma vida de sacrifícios, de prisão e de fadiga, sobretudo no confessionário e junto aos leitos dos doentes.Quem teria inventado a confissão? Talvez os fiéis? Mas esta segunda suposição é tão absurda como a primeira. A confissão é um constrangimento, um ato de humildade. Ora, o homem, em lugar de submeter-se de boa vontade a uma coisa que o constrange e humilha, é ao contrário levado a repelir tudo que o contraria. Quando alguns do Anglicanismo quiseram introduzir a confissão na Inglaterra; que resultou? As revoltas populares, os gritos sediciosos levantaram-se ao mesmo tempo em todos os pontos do país. Uma tal imposição por parte de fiéis só merece a irrisão pública. Só Deus tem autoridade para impor este ato de humilhação como condição para se receber o perdão dos pecados. Portanto, o homem não podia inventar a confissão; ela é obra de Deus. Só Ele, o soberano Mestre, a poderia impor ao homem; e o homem, qualquer que seja, rei ou súdito, rico ou pobre, é obrigado a submeter-se a essa lei divina, sob a terrível pena de condenação eterna para os que, depois do Batismo, tenham cometido pecado mortal.

Quero terminar com a advertência de S. Pio V: “Sejam os confessores como eles devem ser [pai, médico, juiz, mediador, diretor das almas], ver-se-á para logo inteira reforma de todos os cristãos”. Amém!

Igreja e homens de Igreja.

Por Roberto de Mattei, Corrispondenza Romana, 12 de setembro de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com:  A corajosa denúncia dos escândalos eclesiásticos feita pelo arcebispo Carlo Maria Viganò suscitou a aprovação de muitos, mas também a desaprovação de alguns, convencidos de que se deve cobrir de silêncio tudo aquilo que desacredite os representantes da Igreja.

Esse desejo de proteger a Igreja é compreensível quando o escândalo é uma exceção. Pois em tal caso há o risco de generalizar, atribuindo a todos o comportamento de alguns. Diferente é quando a imoralidade constitui a regra, ou pelo menos um modo de vida generalizado e aceito como normal.

Neste caso, a denúncia pública é o primeiro passo para a necessária reforma dos costumes. Quebrar o silêncio faz parte dos deveres do pastor, como adverte São Gregório Magno: “O que representa, com efeito, para um pastor o ter medo de dizer a verdade senão virar as costas ao inimigo com o seu silêncio? Se em vez disso ele luta pela defesa do rebanho, ele constrói um baluarte contra os inimigos para a casa de Israel. É por isso que o Senhor adverte pelos lábios de Isaías: ‘Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como o trompete’ (Is 58, 1).”

Nas origens de um silêncio culposo há muitas vezes uma falha em distinguir entre a Igreja e os homens da Igreja, sejam estes simples fiéis, bispos, cardeais ou papas. Uma das razões para essa confusão é precisamente a eminência das autoridades envolvidas nos escândalos.

Quanto maior a sua dignidade, mais se tende a identificá-los com a Igreja, atribuindo o bem e o mal indiferentemente a eles e a Ela. Na realidade, o bem pertence somente à Igreja, enquanto todo o mal se deve apenas aos homens que a representam.

É por isso que a Igreja não pode ser chamada de pecadora.  “Ela – escreve o padre Roger T. Calmel O.P. (1920-1998) – pede perdão ao Senhor não por pecados que Ela teria cometido, mas pelos pecados que cometemos seus filhos, na medida em que não a ouvimos como Mãe” (Breve apologia da Igreja de sempre, Editora Ichtys, Albano Laziale 2007, p. 91).

Todos os membros da Igreja, tanto os da esfera docente como os da discente, são homens cuja natureza foi ferida pelo pecado original. Nem o batismo torna os fiéis impecáveis, nem a Ordem sagrada torna tais os membros da Hierarquia. Até mesmo o Sumo Pontífice pode pecar e errar, exceto quando faz uso do carisma da infalibilidade.

Devemos também lembrar que não foram os fiéis que constituíram a Igreja, como acontece nas sociedades humanas, criadas pelos membros que as compõem, e que se dissolvem quando esses se separam.

Dizer “Nós somos Igreja” [n.d.t.: nome de um movimento internacional que visa democratizar a Igreja] é falso, porque a pertencença dos batizados à Igreja não deriva de sua vontade: é o próprio Cristo que convida a fazer parte do seu rebanho, repetindo a todos: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). A Igreja fundada por Jesus Cristo tem uma constituição humano-divina: humana, porque possui um componente natural e receptivo, composto por todos os fiéis, sejam eles membros do clero ou do laicato; e outro sobrenatural e divino, por sua alma.

Jesus Cristo, sua Cabeça, é o seu fundamento, enquanto o Espírito Santo é o seu propulsor sobrenatural. Assim, a Igreja não é santa por causa da santidade de seus membros, mas seus membros é que são santificados por Jesus Cristo, que A dirige, e pelo Espírito Santo, que lhe dá vida. Portanto, atribuir alguma culpa à Igreja é o mesmo que atribuí-la a Jesus Cristo e ao Espírito Santo. Deles procede todo o bem, ou seja, “tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, tudo que é virtuoso e louvável” (Fil.4, 8), e dos homens da Igreja procede todo o mal: desordens, escândalos, abusos, violência, torpezas, sacrilégios.

 “Portanto – escreve o teólogo passionista Enrico Zoffoli (1915-1996), que dedicou algumas belas páginas a este tema –, não temos nenhum interesse em encobrir as faltas dos maus cristãos, padres indignos, pastores covardes, ineptos, desonestos e arrogantes. Ingênua e inútil seria a intenção de defender sua causa, atenuar sua responsabilidade, reduzir as consequências de seus erros, recorrer a contextos históricos e situações singulares para depois tudo explicar e tudo absolver” (Igreja e homens de Igreja, Edições Segno, Udine 1994, p.41).

Existe hoje uma grande sujeira na Igreja, como disse o então cardeal Ratzinger na Via Crucis da Sexta-feira Santa de 2005, que precedeu a sua ascensão ao pontificado. “Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! (Jesus)”

O testemunho de Mons. Carlo Maria Viganò é meritório porque, trazendo à luz essa sujeira, torna mais urgente o trabalho de purificação da Igreja. Deve ficar claro que a conduta de bispos ou padres indignos não se inspira nos dogmas ou na moral da Igreja, antes ela trai uns e outra, porque representa uma negação da lei do Evangelho.

O mundo que atribui à Igreja as culpas desses clérigos acusa-a de transgredir a ordem moral. Mas em nome de que lei e de que doutrina pretende o mundo colocar a Igreja no banco dos réus? A filosofia de vida professada pelo mundo moderno é o relativismo, que não reconhece verdades absolutas e sustenta que a única lei do homem é ser isento de leis. A consequência prática é o hedonismo, segundo o qual a única forma possível de felicidade é a fruição do próprio prazer e a satisfação dos instintos. Como pode um mundo desprovido assim de princípios, pretender julgar e condenar a Igreja? A Igreja é que tem o direito e o dever de julgar o mundo, porque possui uma doutrina absoluta e imutável.

O mundo moderno, filho dos princípios da Revolução Francesa, desenvolve com coerência as ideias do famoso libertino, o Marquês de Sade (1740-1814): amor livre, blasfêmia livre, liberdade para negar e destruir qualquer bastião da fé e da moral como nos dias da Revolução Francesa foi destruída a Bastilha onde Sade tinha estado preso. O resultado de tudo isso foi a dissolução da moral, que destruiu os fundamentos da convivência civil e tornou os últimos dois séculos a época mais sombria da História.

A vida da Igreja é também a história de traições, de deserções, de apostasias, de falta de correspondência à graça divina. Mas esta trágica fraqueza vai sempre acompanhada de uma extraordinária fidelidade: as quedas, mesmo as mais assustadoras, de muitos membros da Igreja, estão entrelaçadas com o heroísmo da virtude de muitos outros de seus filhos.

Um rio de santidade flui do lado de Cristo e corre luxuriante ao longo dos séculos: são os mártires que enfrentam as feras do Coliseu; são os eremitas que deixam o mundo para levar uma vida de penitência; são os missionários que vão até os confins da terra; são os intrépidos confessores da fé que combatem cismas e heresias; são os religiosos contemplativos que sustentam com sua oração os defensores da Igreja e da Civilização Cristã; são todos aqueles que, de diferentes maneiras, conformaram as suas vidas à vida divina. Santa Teresa do Menino Jesus queria reunir todas essas vocações em um único e supremo ato de amor a Deus.

Os santos são diferentes uns dos outros, mas o que há de comum em todos eles é a união com Deus: e essa união, que nunca diminui no Corpo Místico de Cristo, faz com que a Igreja, antes mesmo de ser una, católica e apostólica, seja acima de tudo perfeitamente santa. A santidade da Igreja não depende da santidade de seus filhos: é ontológica, porque está ligada à sua própria natureza. Para que a Igreja possa ser chamada de santa, não é necessário que todos os seus filhos vivam santamente: basta que, graças ao fluxo vital do Espírito Santo, uma parte deles, ainda que pequena, permaneça heroicamente fiel à lei do Evangelho em tempos de provação.