Até os “franciscólatras” reconhecem.

Papa Francisco precisa dar uma resposta melhor às duvidosas acusações de Viganò

IHU – É difícil saber o que pensar sobre a bomba lançada pelo arcebispo Carlo Maria Viganò, a carta de domingo (26 de agosto) pedindo que o papa Francisco renunciasseViganò, ex-núncio do Vaticano nos Estados Unidos, afirma na carta que o papa Francisco sabia que o cardeal Theodore McCarrick havia abusado seminaristas quando este último era bispo em Nova Jersey, mas não puniu o cardeal.

documento de 7.000 palavras também acusa mais uma dúzia de cardeais do Vaticano que serviram nos papados de João Paulo IIBento XVI e Francisco de fazerem parte do encobrimento.

O comentário é de Thomas Reese, jornalista, ex-editor chefe da revista dos jesuítas americanos, America, em artigo publicado por Religion News Service, 28-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Pode ser fácil escrever Viganò como um empregado descontente. Foi negado a ele o cargo que buscava durante o papado de Bento XVI – governador da Cidade do Vaticano – e foi enviado aos Estados Unidos como núncio papal, ou representante para o governo dos EUA e para a Igreja americana. Em um memorando de 2012 para o papa Bento XVI que vazou para a mídia, Viganò reclamou que estava sendo exilado porque fez inimigos tentando reformar as finanças do Vaticano.

Ser Núncio Apostólico nos Estados Unidos não é um trabalho qualquer, mas o chefe do governo do Vaticano normalmente se torna cardeal.

Viganò ficou ainda mais infeliz com seu trabalho como núncio após a eleição do Papa Francisco, que ignorou suas recomendações na nomeação de bispos. E embora a maioria dos núncios dos EUA mais tarde se tornam cardeais, ficou claro que ele nunca receberia um chapéu vermelho.

Vale a pena notar que muitas das pessoas que Viganò acusa são as mesmas pessoas com quem ele teve conflitos no Vaticano.

E não é a primeira vez que Viganò critica o papa. Ele se juntou ao cardeal Raymond Burke e outros ao criticar o documento do papa sobre a família, “Amoris Laetitia“, porque achavam que isso divergia da ortodoxia.

Empregado descontente? Sim. Mas muitos denunciantes são funcionários descontentes.

O que é mais condenável são as perguntas sobre o registro do próprio Viganò a respeito do escândalo de abuso sexual americano. Durante os procedimentos legais contra a Arquidiocese de St. Paul e Minneapolis, uma carta de 2014 de Viganò foi descoberta, na qual ele disse a um bispo auxiliar que limitasse uma investigação contra o arcebispo local e destruísse provas.

Viganò certamente não era conhecido pela transparência e responsabilidade enquanto era núncio de 2011 a 2016, mas agora se apresenta como um renascido defensor dos abusados.

Na carta, Viganò ataca muitos funcionários antigos e atuais no Vaticano, incluindo os três mais recentes secretários de Estado: os cardeais Angelo Sodano, Tarcisio Bertone e Pietro Parolin. Outros cardeais do Vaticano que ele alega saber sobre os abusos de McCarrick incluem William LevadaGiovanni Battista ReMarc OuelletLeonardo SandriFernando FiloniAngelo BecciuGiovanni Lajolo e Dominique Mamberti.

Dado como os crimes de pe. Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo, foram ignorados durante o papado do Papa João Paulo II, alguns dos quais Viganò diz serem possíveis. Mas nenhuma evidência foi apresentada.

Curiosamente, João Paulo II escapa da crítica de Viganò. O arcebispo insinua que a nomeação de McCarrick para Washington e também como cardeal foi o trabalho de Sodano “quando João Paulo II já estava muito doente”. No entanto, McCarrick foi nomeado arcebispo de Washington em 2000, cinco anos antes da morte de João Paulo IIJoão Paulo II era um fantoche durante seus últimos cinco anos no cargo? E se o abuso de seminaristas por McCarrick fosse tão amplamente conhecido na cúria do papa polonês, é difícil acreditar que o cardeal Joseph Ratzinger não soubesse. Ele contou a João Paulo II?

Viganò afirma que Re lhe disse que, em algum momento entre 2009 e 2010, o Papa Bento XVI disse à McCarrick que deixasse de viver num seminário, de celebrar a missa em público, de viajar e de dar palestras.

Mas não há evidências que sustentem a afirmação de que McCarrick foi sancionado pelo papa Bento XVIMcCarrick continuou a celebrar a missa, viajar e dar palestras em todo o papado de Bento XVI. E em suas muitas visitas a Roma, ficou no North American College, residência dos seminaristas norte-americanos. Qualquer um que ache que Bento XVI toleraria tal desobediência não conhece bem o papa emérito.

Viganò alega ter dito ao papa Francisco em 23 de junho de 2013: “Santo Padre, não sei se conhece o cardeal McCarrick, mas se você perguntar à Congregação dos Bispos há um dossiê muito espantoso sobre ele. Ele corrompeu gerações de seminaristas e sacerdotes, e o papa Bento XVI ordenou que ele se retirasse para uma vida de oração e penitência”. Como o Papa Francisco supostamente não o ouviu, Viganò acha que ele deveria renunciar.

Viganò divulgou sua carta quando o papa Francisco estava encerrando sua visita à Irlanda. Jornalistas perguntaram ao papa sobre isso durante a coletiva de imprensa dentro avião na volta para Roma.

“Não vou dizer uma palavra sobre isso”, disse o papa, segundo um vídeo do New York Times. “Eu acho que esta acusação fala por si, e vocês tem capacidade jornalística suficiente para chegar às suas próprias conclusões.

“Quando vocês tirarem suas próprias conclusões, talvez eu fale”, disse Francisco. “Mas eu gostaria que vocês fizessem esse trabalho de maneira profissional.”

Naturalmente, muitas manchetes diziam: “Papa se recusa a responder a acusações de encobrimento”.

O papa estava certo em incentivar os jornalistas a examinar o documento de Viganòpara ver o que é verdadeiro e o que não é. A conferência de imprensa não foi o lugar para fazer uma crítica linha a linha do documento. Muitos repórteres de fato examinaram o documento e encontraram alegações carentes.

Mas e quanto à afirmação de Viganò de que ele contou ao papa sobre McCarrick?

Como o papa é a única outra testemunha deste encontro, só ele pode verificar ou negar o que Viganò disse, e recusar-se a responder a essa pergunta não aumenta sua credibilidade. Os assessores de imprensa do papa deveriam tê-lo informado imediatamente após a conferência de imprensa e respondido aos repórteres com um esclarecimento antes de arquivarem suas histórias.

A resposta poderia ter sido: “Não, ele não disse isso ao papa”. Ou poderia ter sido: “Sim, ele disse isso ao papa, mas não há registro das supostas sanções por parte de Bento XVI. O papa desconsiderou as acusações porque Viganò tinha uma história de acusações infundadas. E lembre-se, foi Francisco que disse a McCarrick para passar o resto de sua vida em oração e penitência e que tirou seu chapéu vermelho”.

Os repórteres, como a maioria das pessoas, gostam do papa, mas também têm um trabalho a fazer. O Vaticano não deve dificultar isso.

Assim como toda diocese nos Estados Unidos precisa fazer um relato completo e transparente do abuso sexual clerical e da resposta dada por cada diocese aos mesmos, o Vaticano também deve revelar o que sabia, quando sabia e o que fez ou não fez. Apenas isso começará a restaurar a credibilidade da Igreja Católica.

10 comentários sobre “Até os “franciscólatras” reconhecem.

  1. Q tristeza ver a Igreja com tantas lamas!!!! Sabemos q Ela é Divina mas… tbem humana!!!! Q Nossa Mãe do Céu e Mãe da Igreja socorra a mesma e seus membros.

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  2. Só Jesus Cristo irá restaurar a Santa Igreja. Não há solução humana, infelizmente. E que aconteça logo!

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  3. Na verdade, do que tenho comentado e conversado no dia a dia, até alguns acérrimos defensores de Francisco começam a ficar vacilantes. Hoje teve o desplante de dizer isto:
    “Você não pode entrar na lógica do acusador. ‘Mas padre, eu devo acusar’. Sim, mas acuse a você. Vai fazer bem a você. A única acusação lícita que nós cristãos temos é acusar a nós mesmos. Para os outros, somente a misericórdia, porque somos filhos do Pai que é misericordioso”.
    Até para sérios defensores do Papa isto soou muito estranho. Para quem se ia limitar ao silêncio, não passa uma homilia sem enviar um recadinho ou uma “boca”…
    Não dá mais para ter credibilidade. Hoje, na reunião com o presidente da conferência episcopal dos EUA, todos sorrindo. Como assim aquele ambiente descontraído quando o assunto era os abusos a crianças?! Só a foto com a pose para a câmara era de ar grave (e apenas o do Papa).
    Meu Deus, isto só pode acabar mal. Todo o mundo sabe que em Roma está um ambiente super tenso, por muito que tentem disfarçar. A convocação do meeting de presidentes de conferências episcopais de todo o mundo foi justamente no dia em que explode o escândalo alemão com 3.700 casos de abuso de menores, mais de metade rapazinhos abaixo dos 13 anos, entre 1946 e 2014.
    Por muito menos, Bento renunciou. E pôs o lugar à disposição. Se Bento dissesse metad do que Franscisco diz…estaria crucificado na hora em praça pública.
    Confesso uma coisa: sempre vos critiquei. E critico a vossa postura na maior parte das postagens. Nunca fui da vossa linha… Mas como tenho tanto e tanto que ler, devido à profissão (comunicação social) vejo-me a concordar convosco em muita coisa e numa coisa tenho de concordar ainda mais: agora, lendo tudo, analisando e relacionando tudo, se vê claramente que Francisco está a prejudicar a Igreja e há toda uma ‘media’ a favor dele que é tudo menos imparcial!
    A verdade é que cada vez mais ele mostra que não está e talvez nunca esteve à altura de ser um bom Papa, ou melhor dizendi, um bom líder religioso. Nao morro de amores pelo cardeal Müller, muito menos pelo Burke e companhia. Mas considero injusto demais não dar satisfações a uns (que por muito que eu não goste ou ache errado, são fiéis às regras), quando saem do cargo e, com outros mais que suspeitos, mantém esses no cargo mesmo depois do tempo e ainda lhes concede audiências (cardm Wuerl, p. Ex). É inacreditável!
    Por cinco anos dei o benefício da dúvida. Mas acabou. Não dou mais.
    Francisco não inspira mais confiança. Agora, até nos que o tentavam compreender e defender. Ele não respeita as regras do jogo . Ele pensa que pode fazer o que quer. E parece tratar estes temas gravíssimos com alguma leviandade.
    Tenho sérias dúvidas se não sofrerá de jma espécie de bipolaridade ou se é apenas um traço de personalidade. Mas que está a mostrar-se ineficaz e descredibilizador para ele próprio como Papa e para a Igreja católica.

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    1. André, já que você é um comunicador social, de que lado estava a mídia na época da crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo? Em outras palavras, qual o profeta que foi bem acolhido, com exeção do profeta Jonas?

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    2. Não estou dizendo ser a correta interpretação, por motivos óbvios, não tenho essa pretensão, mas lembrando Fátima, sem dúvidas o castigo ou realidade espiritual é mais grave e se sobrepõe a material, esse “martírio” a que está sendo submetida a Igreja, lembra aquela passagem sobre um bispo de branco pela cidade em ruínas, onde acabaria sendo martirizado junto com o restante dos clérigos e fiéis por SETAS e é o q o mundo faz e fará em vista da desmoralização e descrédito q imputarão a Igreja e a todos em vista dos acontecimentos, eles provocam o mal e depois o denunciam, claro q se aproveitando tb das nossas más inclinações além de colaboradores infiltrados…

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  4. Bastante sóbrio o artigo, não só por analisar a situação da Santa Sé mas também por lançar luzes sobre pontos falhos na visão do próprio Viganò, o que questiona seriamente a idoneidade de sua acusação.

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  5. “Você não pode entrar na lógica do acusador. ‘Mas padre, eu devo acusar’. Sim, mas acuse a você. Vai fazer bem a você. A única acusação lícita que nós cristãos temos é acusar a nós mesmos”.

    Pois todo domingo na Santa Missa, eu me acuso:

    “Confiteor Deo omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Joanni Baptistae, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et vobis, fratres (et tibi pater), quia peccavi nimis cogitatione, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Joannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, [et vos, fratres (et te, pater)] orare pro me ad Dominum Deum nostrum. Amen”.

    E Bergoglio, será que ele se acusa de alguma coisa?

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  6. O grande problema com que o papa Francisco se depararia no presente seria o de credibilidade entre os melhor informados, pois os recentes episodios, como do Chile em que necessitou vir a público e se desculpar após ter afirmado que “nada havia de irregular, tratavam-se de calunias” com os comportamentos de D Osorio Barrios e depois ter de retroceder, apesar de acusado de estar bem informado e tentar esconder, humilhou-ou, o bastante mais doutras polêmicas em que estaria envolvido.
    Igualmente o caso da volta da Irlanda. tão desprovido de recursos de resposta a ponto de pedir à jornalista que o representasse, elucidando os fatos…
    Certos trechos de discursos dele como em Villa Vincencio, Colombia: … “que, pelas veias de Jesus, corre sangue pagão, que recordam histórias de marginalização e sujeição. Em comunidades onde ainda se arrastam estilos patriarcais e machistas, é bom anunciar que o Evangelho começa por salientar mulheres que criaram tendência e fizeram história”…
    Esse trechinho, até hoje e varios mais me deixam perplexo de que coragem teria de afirmar que “nas veias de Jesus corria sangue pagão e Nossa Senhora não teria vindo de uma estirpe de mulheres famosas e desconsideraria que o ser imaculada pouco valeria, inclusive livre do pecado original que de “nenhuma das outras que “cobriram-se de louros”, apesar de diferenciando de todas para muito melhor, inclusive daquelas que as julgaria que “criaram tendencia e fizeram historia”!
    Varios bispos que os consideraria como muito ponderados não duvidam do dossiê Viganò, que se embasou em fatos concretos, embora saibamos que o papa Francismo conta com varios laboratorios de engenharia social dos globalistas a seu favor e dispor a distorcerem fatos que o favoreçam, experts em montarem falsos dossiês e fraudarem os fatos, incontestaveis em criações de fatos recheados de tantos sofismas enganadores!.

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  7. Situação extremamente difícil por parecer irremediável sob a ótica humana.

    Resta, pois, limpar minuciosamente o coração e a mente de tudo aquilo que não tenha a glória de Deus em primeiro lugar. Sem descontos, retardos e desculpas. É preciso obedecer.

    A vitória é certa, mas não sabemos se a veremos.

    O mais importante de tudo é que, sob as figuras e aparências, há um rude combate de natureza espiritual. Temos que sofrer as perdas do nosso exército, que se bandeou para as hordas do inimigo.

    “E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe.”

    (Daniel 12,1)

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