Um Papa que se “desmente”.

Por FratresInUnum.com, 31 de janeiro de 2019 – Mais uma entrevista aérea. E os nossos ouvidos, hoje habituados ao absurdo, quase não reagem mais às palavras de um papa, que soam irreverentes. Convém, todavia, analisar com brevidade as palavras do pontífice, pois elas nos deixam entrever muito de sua personalidade.

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Coletiva de imprensa do Papa Francisco no vôo de volta da Jornada Mundial da Juventude, no Panamá.

Um exemplo muito claro foi a sua resposta acerca da mudança da lei sobre o celibato. Inicialmente, ele disse: “prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato”, citando o papa Paulo VI. Contudo, logo em seguida, começa a fazer uma longa apologia, como que en passant, da ordenação de homens casados, despretensiosamente relatando-a como uma legítima corrente de pensamento: “[Padre] Lobinger diz: se poderia ordenar sacerdote um idoso casado, esta é a sua tese. (…) Esta é a tese, o livro é interessante e talvez isso possa ajudar a responder o problema. Acredito que o tema deve ser aberto nesse sentido para os lugares onde existe um problema pastoral, por falta de sacerdotes”.

Como é possível que alguém diga e se desdiga na mesma declaração? Além de ser esta uma tática verbal muito utilizada pelos mais maquiavélicos – o estímulo contraditório desbarata a vítima e a torna completamente incapaz de qualquer reação psicológica –, autocontradizer-se revela a mente deste papa.

Numa resposta posterior, sobre os escândalos sexuais nos Estados Unidos, ele inicialmente apresenta o encontro de fevereiro próximo com os presidentes das conferências episcopais como a sua resposta ao problema, mas ressalva que “é preciso moderar as expectativas em relação a estes pontos que lhes disse, porque o problema dos abusos continuará, é um problema humano, em todos os lugares”.

É inacreditável que o papa diga isto. Os bispos americanos queriam começar a resolver o problema com medidas drásticas, mas foram impedidos pelo Vaticano para que Francisco afirmasse, já de antemão, que “o problema dos abusos continuará”?

Antes, quando lhe perguntaram sobre o afastamento de muitos jovens da Igreja, ao invés de reconhecer humildemente os limites pastorais do clero, ele acusou os pastores e os fieis, culpando “os católicos hipócritas, que vão à missa todos os domingos e não pagam o décimo terceiro, pagam por fora, exploram as pessoas”. Antes, ele usava os padres como escudo, agora, ataca-os, bem como os leigos, conservando-se a salvo de toda e qualquer crítica. (Nem mencionemos o assunto da educação sexual para as crianças…)

Que pessoa normal não se afastaria de alguém cuja duplicidade de palavras é tão explícita? Será que tal pessoa poderia ser considerada confiável? A malandragem costuma ser recurso de gente desonesta, que procura alcançar objetivos ruins através de meios ainda piores. Não queremos pensar que um papa utilize tais artefatos.

No caso, não se trata apenas de uma trapaça humana, mas da adulteração da Igreja de Deus. Repare que, logo no início da coletiva, ele diz que a sua missão “é a missão de Pedro, confirmar na fé”, mas logo ajunta: “e isso não com mandatos frios ou preceptivos, mas deixando-me tocar o coração e respondendo ao que acontece ali”. Não há sólido que não se torne gasoso na boca deste papa!

As palavras de Francisco sobre o celibato – “Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato” – evocam aquela exclamação de São Pedro a Cristo, durante a Santa Ceia: “Darei a minha vida por ti”!, ao que Jesus respondeu: “Darás a tua vida por mim?… Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo até que por três vezes me tenhas negado” (Jo 13,37-38).

A Família.

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com, 30 de janeiro de 2019

Vemos, com tristeza, como a sociedade está moralmente enferma, totalmente invadida e convulsionada pelo paganismo e a imoralidade. Mas não bastam lamentações. Mister se faz atacar o mal pela raiz. Ora, as famílias são as raízes que elaboram o alimento moral da sociedade. É a célula da sociedade; pois esta se forma de indivíduos e estes por sua vez se formam na família.

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Temos, então, que dedicarmos todos os nossos cuidados à família, para termos realmente uma sociedade sadia. A família é obra da mão de Deus. É inútil querer corrigir a crise da sociedade se não se põe o primeiro cuidado em conservar a família. Os filhos das trevas, como disse Jesus Cristo, são muito espertos e nós vemos com tristeza, como as ideias comunistas estão se espalhando pelo mundo como um gás sumamente venenoso e que destrói em primeiro lugar as famílias, Pela imoralidade, imodéstia nas vestes, televisão, pornografia na Internet, divórcio, maus exemplos, principalmente nos colégios que vão se tornando focos de imoralidade e heresias, em cátedras de pestilências comunistas etc, etc. a indissolubilidade do matrimônio católico está em risco de dissolução quase total.  E, por outro lado, o sal na Igreja está perdendo sua força, deixando a corrupção reinar soberana. As paixões têm campo livre, os vícios, campeiam como chamas num canavial.

E não bastassem os comunistas por fora, há-os internos. Muitos casamentos se dissolveram não porque nulos, mas por causa da ausência total, ou quase, das virtudes cristãs, e, por outro lado pelo reinado desenfreado das paixões as mais nefandas. Para estes não só a “a misericórdia” do divórcio mas a possibilidade de se casarem novamente e até comungarem.

Deus fez bem todas as coisas e se existe o mal no mundo, sua causa deve ser procurada na malícia humana que perverte a harmonia do Criador. A formação da família, poderia parecer algo profano, ao passo que, na realidade, ela tanto tem de santo como de sublime. O casamento não é um mal (como muitos hereges pensaram), pelo contrário, é um bem. Foi Deus quem o fez desde o Paraíso Terrestre. É bem verdade que devido o pecado original, o casamento decaiu de sua primitiva dignidade. Mas o Filho de Deus que veio ao mundo para remir a humanidade e iluminá-la restituiu o casamento à sua primitiva santidade elevando-o à dignidade de sacramento.

Jesus Cristo, quis assistir em companhia de sua Mãe Santíssima a uma festa de casamento em Caná da Galileia, aprovando e santificando com sua divina presença. o vínculo conjugal, operando também nesta ocasião o seu primeiro milagre.

Um dia os fariseus interrogaram a Jesus: “É lícito ao homem repudiar sua mulher? Ele, porém, lhes respondeu: Desde o princípio, Deus criou o homem e a mulher, logo o homem deixará seu pai e sua mãe e viverá com sua mulher. Não separe, portanto, o homem o que Deus uniu”.

Ter esta firme e inabalável convicção sobre a divina instituição do matrimônio, sempre foi de extrema necessidade, mas, hoje, ademais, tornou-se muito urgente. Pois são tantos os homens que ignoram de todo a grande santidade do matrimônio cristão. São inúmeros os que a negam e calcam aos pés.

Lacordaire, o grande conferencista francês, queria que seus amigos Ozonam e Luis Veuillot o imitassem e renunciassem o casamento. Mas Veuillot, com todo direito, achou por bem se casar. E quando Lacordaire soube, exclamou: “Mais um que ficou na armadilha”. Relataram ao papa a frase de Lacordaire e sorrindo comentou o Santo Padre: “Eu não sabia que Nosso Senhor havia instituído 6 sacramentos e 1 armadilha”.

Outro exemplo bem diferente deste: São Francisco de Sales hospedava em sua casa um amigo. E o santo bispo, com aquela sua grande caridade, tratava o seu amigo com as maiores finezas, inclusive todas as noites ia acompanhá-lo até ao seu quarto. E o hóspede, confundido por tanta delicadeza, disse a São Francisco de Sales que não era digno de ser tratado assim por um bispo, ele que era um simples leigo. Mas o santo bispo perguntou-lhe: “Então o meu amigo não é casado?” – Ainda não, respondeu o amigo.  –  “Ah! , retrucou São Francisco de Sales, então tem razão de protestar: de hoje em diante tratá-lo-ei com mais confidência e com menores finezas”. É que o Santo da mansidão pensava que uma pessoa casada devia ser cercada de uma veneração maior, pela dignidade do sacramento do matrimônio que confere aos esposos uma graça que os torna capazes de se amarem sobrenaturalmente, de educarem os seus filhos e de suportarem com serenidade os pesos da vida.

O matrimônio é portanto um sacramento, fonte de bênçãos, rico em simbolismos, expressivo no seu programa que é a comunhão da vida toda até a morte com todas as suas manifestações: Comunhão de vida natural: “serão os dois uma úncia carne”, disse Deus. Comunhão de interesses: e portanto os bens materiais e as perdas andam em conjunto. Os afetos também se entrelaçam. E é por isso que São Paulo manda que o homem ame a sua esposa como a si próprio. Comunhão de fidelidades e deveres: ambos geram o corpo da criança e ambos concorrem para a geração moral, isto é, para a educação da mesma. Por isso é que Nosso Senhor impôs aos filhos o precito de honrar “pai e mãe”. Comunhão de trabalhos: juntos devem cultivar o mesmo campo e nos mesmos espinhos sangram as mãos e ferem os corações. Comunhão de lutas e vitórias: em todas as fases da vida, e até a morte.

Assim é que deveria ser compreendido e sobretudo vivido o matrimônio. Como são belos os componentes de uma família verdadeiramente cristã! A família cristã tem Jesus que a consola e nunca será desolada. Diz o próprio Divino Espírito Santo na Bíblia: “Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher”. “A mulher virtuosa é o prêmio dos que temem a Deus, e será dada ao homem em recompensa pelas sua boas obras”.  “Cooperadora da Providência e complemento do homem, a mãe gera, nutre, educa, dá forma, brilho e esmalte à existência. É autora maravilhosa e destra escultora dos seres” (Palavras de um poeta castelhano).

Uma mãe verdadeiramente cristã, não é mais uma simples mulher, é uma santa! “Me deem mães verdadeiramente cristãs, e eu salvarei este mundo decadente” (S. Pio X).

Outro dom tão precioso na família são os filhos: Frederico Ozonam, o grande literato católico, fundador das conferências de São Vicente de Paulo, escrevia estas linhas junto ao berço de sua primeira filhinha:  “Ah! que momento aquele em que ouvi o primeiro vagido de minha filha e vi a criatura imortal que Deus confiava ao meu cuidado, e que tantas doçuras e obrigações era portadora para mim! Não consigo mirar esses olhos que destilam suavidade e pureza, sem descobrir neles, menos apagado que em nós, o retrato sagrado do Criador”. Na verdade, os filhos são um dom de Deus.

Como é belo também o homem virtuoso na família, como a cabeça, o chefe, com a sua autoridade suave, com a sua proteção, como São José na Sagrada Família.  Vêm-nos à mente as palavras de Santa Terezinha: “Deus deu-me pais mais dignos do céu que da terra”. Pai e mãe santos! Que graça!

Não esqueçamos nunca que toda esta beleza e sublimidade da família estão na observância da lei de Deus. Por isso é que São Paulo diz que “o casamento é santo, mas no Senhor”. Quantos casamentos, hoje embora válidos, são sacrílegos. Quantos pecados, quantos crimes! Uma coisa tão sublime, tão santa e, no entanto, tratada hoje com tanta leviandade, feita sem nenhuma preparação, . Pior: toda santidade, toda bênção são afastados por tantos pecados cometidos antes e depois do casamento.

Não consigo terminar este artigo, embora já longo, sem relatar pelos menos algumas palavras do Papa Pio XII: “Aqueles, pois, que nas igrejas exercem funções diretivas ou de magistério, exortem assiduamente os fiéis a que constituam e mantenham famílias segundo a norma da sabedoria do Evangelho – buscando assim com assíduo cuidado preparar para o Senhor um povo perfeito. Pelo mesmo motivo, cumpre também sumamente atender a que o dogma, que por direito divino afirma a unidade e indissolubilidade do matrimônio, seja compreendido em sua importância religiosa e santamente respeitado por todos os que contraem núpcias. Que tão capital ponto da doutrina católica tenha validíssima eficácia para a sólida estrutura da família, para o bem-estar crescente da sociedade civil, para a saúde do povo e para uma civilização cuja luz não seja falsa…” (Pio XII, “Sertum laetitiae).

Papa Francisco no avião após JMJ-Panamá: Aborto, migrantes, crise de abusos sexuais, Venezuela, celibato.

Coletiva de imprensa. O Papa: “no confessionário entendi o drama do aborto”

Francisco no voo de retorno do Panamá: “Às mulheres que têm essa angústia eu digo: seu filho está no céu, fale com ele, cante a canção de ninar que você não pode cantar a ele”. Para a Venezuela pede uma solução pacífica: “Assusta-me o derramamento de sangue”. No encontro de fevereiro para a proteção dos menores: “devemos nos conscientizar sobre o drama e ter protocolos, os bispos devem saber o que fazer”.

Por Andrea Tornielli, Vatican News

Para entender o drama do aborto é preciso estar no confessionário e ajudar as mulheres a se reconciliarem com o filho não nascido. Para ser Papa é preciso “sentir” as pessoas, ferir-se nos encontros que que são feitos, pelas pessoas que nos atingem com suas histórias e seus dramas, levando tudo diante do Senhor para que os confirme na fé. No encontro de fevereiro sobre a proteção de menores, será necessário “tomar consciência” do que significam um menino ou uma menina abusados, para ficar do lado daqueles que sofreram essa violência terrível. E nessa idêntica perspectiva está a preocupação pela Venezuela, que leva Francisco a pedir uma solução pacífica e evitar o derramamento de sangue. O Papa, que disse estar “destruído” pela intensidade de uma viagem na qual não se poupou, dialoga por cinquenta minutos com os jornalistas no voo que o trouxe de volta a Roma, na primeira coletiva de imprensa guiada pelo diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti.

Qual o impacto que sua missão teve no Panamá? Que impacto lhe provocou?

“Minha missão em uma Jornada Mundial da Juventude é a missão de Pedro, confirmar na fé e isso não com mandatos” frios “ou preceptivos, mas deixando-me tocar o coração e respondendo ao que acontece ali. Eu a vivo assim, custa-me pensar que alguém possa realizar uma missão só com a cabeça. Para realizar uma missão você deve sentir, e quando sente, você é atingido. Isso afeta sua vida, você é atingido por problemas. No aeroporto eu estava saudando o Presidente e trouxeram um menino de cor, simpático, pequeno assim. E ele me disse: “Olha, essa criança estava atravessando a fronteira da Colômbia, sua mãe morreu, e ele ficou sozinho. Ele tem cinco anos de idade. Vem da África, mas ainda não sabemos de qual país porque não fala inglês, nem português, nem francês. Ele fala apenas a língua da sua tribo. Nós em certo sentido o adotamos”. O drama de uma criança abandonada pela vida, porque sua mãe morreu e um policial a entregou às autoridades para tomar conta dela, afeta você, e assim a missão começa a tomar cor, faz você dizer algo, faz você acariciar. A missão sempre envolve você. Pelo menos a mim envolve. Eu sempre digo aos jovens: vocês, o que fazem na vida, devem fazer caminhando e com as três linguagens: a da cabeça, a do coração, e a das mãos. E as três linguagens harmonizadas, de modo que vocês pensem o que sentem e o que fazem, sintam o que pensam e o que fazem, façam o que sentem e o que pensam. Eu não posso fazer um balanço da missão. Com tudo isso eu vou diante do Senhor para rezar, às vezes adormeço diante do Senhor, mas levo todas essas coisas que vivi na missão e peço a Ele para confirmá-los na fé através de mim. É assim que eu procuro viver a missão de Papa e como eu a vivo.”

A JMJ no Panamá correspondeu às suas expectativas?

“Sim, o termômetro é a fadiga e eu estou destruído.”

Existe um problema que  é comum em toda a América Central, incluindo o Panamá e grande parte da América Latina: gravidez precoce. Só no Panamá foram dez mil no ano passado. Os detratores da Igreja Católica culpam-na por resistir à educação sexual nas escolas. Qual é a opinião do Papa?

“Creio que nas escolas é preciso dar educação sexual. Sexo é um dom de Deus não é um monstro. É o dom de Deus para amar e se alguém o usa para ganhar dinheiro ou explorar o outro, é um problema diferente. Precisamos oferecer uma educação sexual objetiva, como é, sem colonização ideológica. Porque se nas escolas se dá uma educação sexual embebida de colonizações ideológicas, destrói a pessoa. O sexo como dom de Deus deve ser educado, não rigidamente. Educado, de “educere”, para fazer emergir o melhor da pessoa e acompanhá-la no caminho. O problema está nos responsáveis ​​pela educação, seja a nível nacional, seja local, como também em cada unidade escolar: quem são os professores para isso, que livros de textos usar… Eu vi de todos os tipos, há coisas que amadurecem e outras que causam danos. Digo isso sem entrar nos problemas políticos do Panamá: precisamos dar educação sexual para as crianças. O ideal é que comecem em casa, com os pais. Nem sempre é possível por causa de muitas situações familiares, ou porque não sabem como fazê-lo. A escola compensa isso e deve fazê-lo, caso contrário, resta um vazio que é preenchido por qualquer ideologia.”

Nestes dias o senhor falou com várias pessoas e muitos jovens. Falou também com os jovens que se distanciaram da Igreja. Quais são os motivos que os afastaram?

“São muitos, alguns são pessoais. Mas o mais geral é a falta de testemunho dos cristãos, dos padres e dos bispos. Não digo dos Papas porque é demais, mas … também. Se um pastor é um empreendedor ou organizador de um plano pastoral, se não está próximo das pessoas, não dá um testemunho de pastor. O pastor deve estar com as pessoas. O pastor deve estar na frente do rebanho, para indicar o caminho, no meio do rebanho para sentir o cheiro das pessoas e entender o que as pessoas sentem e o que precisam. Deve estar atrás do rebanho para proteger a retaguarda. Mas se um pastor não vive com paixão, as pessoas se sentem abandonadas ou sentem um certo sentido de desprezo. Sentem-se órfãs. Falei sobre os pastores, mas há também os cristãos, os católicos. Existem os católicos hipócritas que vão à missa todos os domingos e não pagam o décimo terceiro, pagam por fora, exploram as pessoas. Depois, vão ao Caribe de férias com o que explorou das pessoas. Se você faz isso, dá uma contratestemunho. A meu ver, isso é o que distancia mais as pessoas da Igreja. Sugeriria aos leigos: não diga que é católico, se não dá testemunho. Em vez disso, você pode dizer: sou de educação católica, mas sou morno, sou mundano, peço desculpa, não me olhem como exemplo. Isso é o que se deve dizer. Tenho medo de católicos assim, que acreditam ser perfeitos. A história se repete, o mesmo aconteceu com Jesus com os doutores da Lei que rezavam, dizendo: “Obrigado, Senhor, por não ser como esses pecadores.”

Vimos por quatro dias os jovens rezar com muita intensidade, podemos pensar que muitos tenham a vocação. Talvez alguns deles estão hesitando, porque não podem se casar. É possível que o senhor permita aos homens casados se tornarem padres na Igreja católica de rito latino, como acontece nas Igrejas orientais?

“Na Igreja católica de rito oriental eles podem fazer isso se fazem a opção celibatária ou de esposo antes do diaconato. Quanto ao rito latino, lembro-me de uma frase de São Paulo VI: “Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato”. Isso me veio em mente e quero afirmá-lo porque é uma frase corajosa. Ele disse em 1968-1970, num momento mais difícil do que o atual. Pessoalmente, penso que o celibato seja um dom para a Igreja e não concordo em permitir o celibato opcional. Não. Permaneceria alguma possibilidade nos lugares mais distantes, penso nas ilhas do Pacífico, mas é algo em que pensar quando há necessidade pastoral. O pastor deve pensar nos fiéis. Existe um livro do pe. Lobinger, interessante. É algo em discussão entre os teólogos, não há uma decisão minha. A minha decisão é: não ao celibato opcional antes do diaconato. É uma coisa minha, pessoal. Eu não o farei, isso é claro. Sou fechado? Talvez, mas não me sinto de colocar-me diante de Deus com esta decisão. Padre Lobinger diz: “A Igreja faz a eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja. Mas onde não há Eucaristia há comunidade, pense nas ilhas do Pacífico. Lobinger pergunta: quem faz a Eucaristia? Os diretores e organizadores dessas comunidades são diáconos, religiosas ou leigos. Lobinger diz: se poderia ordenar sacerdote um idoso casado, esta é a sua tese. Mas que exercite apenas o munus sanctificandi, isto é, celebre a missa, administre o Sacramento da Reconciliação e dê a unção dos enfermos. A ordenação sacerdotal dá aos três munera: o munus regendi (o pastor que guia), o munus docendi (o pastor que ensina) e o munus sanctificandi. O bispo só lhe daria a licença para o munus sanctificandi. Esta é a tese, o livro é interessante e talvez isso possa ajudar a responder o problema. Acredito que o tema deve ser aberto nesse sentido para os lugares onde existe um problema pastoral, por falta de sacerdotes. Não digo que deve ser feito, eu não refleti, não rezei o suficiente sobre isso. Mas os teólogos debatem sobre isso, devem estudar. Estava conversando com um oficial da Secretaria de Estado, um bispo que teve que trabalhar num país comunista no início da revolução, e quando viram como essa revolução chegava nos anos 50, os bispos ordenaram secretamente camponeses, bons e religiosos. Depois que a crise passou, trinta anos depois, a coisa se resolveu. Ele me contou a emoção que sentiu quando numa celebração viu esses camponeses com mãos de camponeses colocarem suas vestes para concelebrar com os bispos. Na história da Igreja isso se verificou. É algo a ser pensado e sobre o qual rezar. Por fim, me esqueci de citar o Anglicanorum coetibus, de Bento XVI, para os sacerdotes anglicanos que se tornaram católicos, mantendo suas vidas como se fossem orientais. Lembro-me ter visto muitos deles com o colarinho clerical e com mulheres e crianças, numa audiência de quarta-feira.”

Durante a Via-Sacra um jovem pronunciou palavras muito fortes sobre o aborto: “Há um túmulo que brada ao céu e denuncia a terrível crueldade da humanidade, é o túmulo que se abre no ventre das mães… Deus nos conceda defender com firmeza a vida e fazer de modo que as leis que matam a vida sejam eliminadas para sempre”. Trata-se de uma posição muito radical. Gostaria de saber se essa posição respeita também o sofrimento das mulheres nesta situação e se corresponde à sua mensagem de misericórdia.

“A mensagem da misericórdia é para todos, inclusive para a pessoa humana que é gestante. Após este falimento, há também a misericórdia. Mas uma misericórdia difícil, porque o problema não é conceder o perdão, mas acompanhar uma mulher que tomou consciência de ter abortado. São dramas terríveis. Uma mulher quando pensa naquilo que fez… É preciso estar no confessionário, ali deve dar consolação e por isso concedi a todos os padres a faculdade de absolver o aborto, por misericórdia. Muitas vezes, mas sempre, elas devem “encontrar-se” com o filho. Quando choram e têm essa angústia eu muitas vezes as aconselho assim: seu filho está no céu, fale com ele, cante-lhe o nana neném que não pôde cantar-lhe. E ali se encontra um caminho de reconciliação da mãe com o filho. Com Deus já existe a reconciliação, Deus perdoa sempre. Mas ela também deve elaborar o ocorrido. O drama do aborto, para ser bem entendido, você precisa estar num confessionário. É terrível.”

O senhor disse no Panamá fazer-se muito próximo dos venezuelanos e pediu uma solução justa e pacífica, no respeito pelos direitos humanos de todos. Os venezuelanos querem entender: o que significa? A solução passa mediante o reconhecimento de Juan Guaidó que foi apoiado por muitos países? Outros pedem eleições livres em breve tempo. O povo quer ouvir seu apoio, sua ajuda e seu conselho.

“Eu apoio neste momento todo o povo da Venezuela porque está sofrendo, os de um lado e os do outro. Se eu ressaltasse aquilo que diz este ou aquele país, estaria me expressando sobre algo que não conheço, seria uma imprudência pastoral de minha parte e seria danoso. As palavras que eu disse foram por mim pensadas e repensadas. E creio que com elas expressei a minha proximidade, aquilo que sinto. Eu sofro com o que está acontecendo neste momento na Venezuela e por isso peço que haja uma solução justa e pacífica. O que me espanta é o derramamento de sangue. E peço grandeza na ajuda por parte daqueles que podem ajudar a resolver o problema. O problema da violência me aterroriza, após todo o processo de paz na Colômbia, pensem naquele atentado outro dia na escola dos cadetes, algo terrificante. Por isso devo ser… não gosto da palavra “equilibrado”, quero ser pastor e se há necessidade de uma ajuda, que peçam de comum acordo.”

Uma jovem estadunidense contou-nos que durante seu almoço com os jovens o senhor lhe falou da dor pela crise dos abusos. Muitos católicos estadunidenses se sentem traídos e abatidos após as notícias de abusos e acobertamentos por parte de alguns bispos. Quais são suas expectativas e esperanças para o encontro de fevereiro, a fim de que a Igreja possa reconstruir a confiança?

“A ideia deste encontro nasceu no C9 porque nós vimos que alguns bispos não entendiam bem ou não sabiam o que fazer ou faziam uma coisa boa e outra errada. Sentimos a responsabilidade de dar uma “catequese” sobre esse problema às conferências episcopais e por isso os presidentes dos episcopados foram chamados. Primeiro: que se tome consciência do drama, de que se trata de um menino ou uma menina vítimas de abuso. Recebo regularmente pessoas vítimas de abuso. Recordo uma pessoa: 40 anos sem poder rezar. É terrível, o sofrimento é terrível. Segundo: que saibam o que deve ser feito, qual é o procedimento. Porque às vezes o bispo não sabe o que fazer. É algo que cresceu muito forte e não chegou a todos os lugares. E ademais, que sejam feitos programas gerais, mas que cheguem a todas as conferências episcopais sobre aquilo que o bispo deve fazer, e aquilo que devem fazer o arcebispo metropolitano e o presidente da conferência episcopal. Que haja protocolos claros. Esse é o objetivo principal. Mas antes das coisas que devem ser feitas, é preciso tomar consciência. No encontro se rezará, haverá alguns testemunhos para se tomar consciência, alguma liturgia penitencial para pedir perdão por toda a Igreja. Estão trabalhando bem na preparação do encontro. Permito-me dizer ter percebido uma expectativa de certo modo exagerada. É preciso moderar as expectativas em relação a estes pontos que lhes disse, porque o problema dos abusos continuará, é um problema humano, em todos os lugares. Outro dia li uma estatística. Diz: 50% dos casos é denunciado, e somente para 5% destes casos há uma condenação. É terrível. É um drama humano do qual tomar consciência. Também nós, resolvendo o problema na Igreja, ajudaremos a resolvê-lo na sociedade e nas famílias, onde a vergonha cobre tudo. Mas primeiro devemos tomar consciência e ter os protocolos.”

O senhor disse que é absurdo e irresponsável considerar os migrantes como portadores do mal social. Na Itália as novas políticas sobre os migrantes levaram ao fechamento do centro de acolhida “Castelnuovo di Porto”, que o senhor conhece bem. No Centro havia claros sinais de integração, as crianças frequentavam a escola e agora correm o risco de marginalização.

“Ouvi falar sobre o que estava acontecendo na Itália, mas estava imerso nesta viagem. Não conheço os fatos com precisão, mas posso imaginá-los. É verdade, o problema é muito complexo. É preciso memória. Devemos nos perguntar se a minha pátria é formada por migrantes. Nós, argentinos, somos todos migrantes. Os Estados Unidos, todos migrantes. Um bispo escreveu um artigo muito bonito sobre o problema da falta de memória. Usou palavras que eu uso: receber, o coração aberto para receber. Acompanhar, ajudar a crescer e integrar. O governante deve usar a prudência, porque a prudência é a virtude dos que governam. É uma equação difícil. Recorda-me o exemplo sueco, que nos anos 1970, com as ditaduras na América Latina recebeu muitos imigrantes, e todos foram integrados na sociedade. Recordo também do trabalho que é feito pela Comunidade de Santo Egídio, por exemplo: preocupa-se em logo integrar os migrantes. Mas no ano passado os suecos disseram: teremos que diminuir a entrada porque não conseguimos completar o percurso de integração. E esta é a prudência do governante. É um problema de caridade, de amor, de solidariedade. Reitero que as nações mais generosas em receber foram a Itália e a Grécia e um pouco também a Turquia. A Grécia foi muito generosa assim como a Itália, muito mesmo. É verdade que se deve pensar com realismo. Também tem outra coisa: um modo de resolver o problema das migrações é ajudar os países de onde vêm os migrantes. Eles vêm por causa da fome ou da guerra. A Europa tem a possibilidade de investir onde há fome, e este é um modo de ajudar aqueles países a crescerem. Mas há sempre aquela imaginação popular que temos na inconsciência: a África deve ser explorada! Isso pertence à história e faz mal! Os migrantes do Oriente Médio encontraram outras saídas: O Líbano é uma maravilha em sua generosidade, hospeda mais de um milhão de sírios. A Jordânia, faz o mesmo. E fazem o que pode, tentando integrá-los. A Turquia também recebeu migrantes. Nós também, na Itália recebemos alguns. É um problema complexo sobre o qual deve-se falar sem preconceitos.”

“Agradeço a todos pelo seu trabalho – concluiu o Papa – gostaria de dizer uma coisa sobre o Panamá: ali senti um novo sentimento, veio-me esta palavra: o Panamá uma nação nobre. Encontrei nobreza. E também gostaria de dizer outra coisa, que nós na Europa, não vemos o que eu vi no Panamá. Vi pais que erguiam seus filhos nos braços e diziam: esta é a minha vitória, este é o meu orgulho, este é o meu futuro. No inverno demográfico que vivemos na Europa – e na Itália é abaixo de zero – deve nos fazer pensar. Qual é o meu orgulho? O turismo, as férias, a casa, o cachorrinho? Ou o filho?.”

Ousai, Monsenhor!

Um apelo da Fundação Lepanto.

VINTE E CINCO ANOS DEPOIS…

Por Fundação Lepanto | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com: Há vinte e cinco anos, em 8 de fevereiro de 1994, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução convidando os Estados europeus a promover e proteger legalmente a homossexualidade. No Angelus de 20 de Fevereiro de 1994, o Papa João Paulo II se dirigiu a opinião pública mundial, afirmando que “o que não é moralmente permissível é a aprovação legal da prática homossexual. (…) Com a resolução do Parlamento Europeu, quis-se legitimar uma desordem moral. O Parlamento conferiu indevidamente um valor institucional a comportamentos desviados, em desconformidade com o plano de Deus”.

Em maio daquele ano, o Centro Cultural Lepanto lançou em Estrasburgo, entre os deputados, um manifesto intitulado “Europa, em Estrasburgo representada ou traída”, no qual dirigiu um protesto indignado contra a promoção de um vício condenado pelos cristãos e pela  consciência ocidental e pediu a todos os Bispos europeus “para juntar as suas vozes à do Supremo Pastor, para multiplicar em suas próprias dioceses, para denunciar publicamente a culpa moral que tem manchado a assembleia europeia e colocar em alerta o seu rebanho sobre os crescentes ataques das forças anticristãs no mundo”.

Hoje, um após outro, os grandes Estados europeus, incluindo os de tradição católica mais antiga, elevaram a sodomia a direito legal, reconhecendo, em várias formas, o chamado “casamento gay” e introduzindo o crime de “homofobia”. Pastores da Igreja, que deveriam ter formado uma barragem de oposição à homossexualização da sociedade promovida pela classe política e pelas oligarquias financeiras e da mídia, ficam em silêncio. Mesmo nos níveis mais altos da Igreja, a prática da homossexualidade e da chamada cultura “gay-friendly”, que justifica e encoraja o vício homossexual, espalhou-se como um câncer.

Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana, no Cazaquistão, disse em uma mensagem datada de 28 de julho de 2018, que “estamos testemunhando um cenário incrível, em que alguns padres e até mesmo bispos e cardeais, sem corar, já oferecem grãos de incenso ao ídolo da homossexualidade ou à ideologia de gênero, com o aplauso dos poderosos deste mundo, isto é, com o aplauso de políticos, gigantes da mídia social e poderosas organizações internacionais”.

O arcebispo Carlo Maria Viganò, em seu depoimento histórico de 22 de agosto de 2018, denunciou – utilizando nomes e circunstâncias necessárias – a existência de uma “horda homossexual que subverte a doutrina católica em relação à homossexualidade” e a presença de “redes de homossexuais, que agora são comuns em muitas dioceses, seminários, Ordens religiosas, etc.”  que “agem às escondidas, em sigilo, e se encontram com o poder de tentáculos de polvo, a estrangular as vítimas inocentes e as vocações sacerdotais, que acabam estrangulando a Igreja inteira”.

Essas vozes corajosas permanecem isoladas até hoje. O clima de indiferença e encobrimento que reina dentro da Igreja tem profundas raízes morais e doutrinárias que datam do Concílio Vaticano II, quando as hierarquias eclesiásticas aceitaram o processo de secularização como um fenômeno irreversível. Mas quando a Igreja se submete ao secularismo, o Reino de Cristo torna-se conformado a este mundo e é reduzido a uma mera estrutura de poder. O espírito militante se dissipa e a Igreja, ao invés de converter o mundo à lei do Evangelho, entrega o Evangelho às exigências do mundo.

Quanto tempo para ouvir ressoando mais uma vez as palavras de fogo de um novo São Pedro Damião ou São Bernardino de Siena, em vez da frase do Papa Francisco – “Se uma pessoa é gay e está buscando o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?” Se é verdade que o significado dessa declaração foi distorcido pela mídia, tal abuso deveria ter sido combatido por meio de documentos claros e solenes condenando a sodomia, como o fez São Pio V com as duas constituições Cum Primumd, de 1º de abril de 1566, e Horrendum Illud Scelus, de 30 de agosto de 1568. Em vez disso, a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Francisco Amoris Laetitia, de 8 de abril de 2016, não só calou sobre essa grave desordem moral, mas relativizou os preceitos da lei natural, abrindo o caminho para a aprovação da coabitação e do adultério.

E é por isso que agora lhe fazemos um apelo, Monsenhor.

SERVIR A IGREJA

O termo “Monsenhor” evoca certa dignidade, não um poder ou uma função burocrática. Cada um dos bispos, como Sucessores dos Apóstolos, é reconhecido com o título de “Monsenhor”, mas os simples sacerdotes também podem receber esse título. A palavra “dignidade” parece ter perdido seu significado hoje, apesar do fato de que houve uma declaração inteira do Vaticano II dedicada a ela. Dignidade significa a consciência de um papel e missão dados por Deus. O respeito pela dignidade de uma pessoa é a fonte do sentimento de honra. Sua dignidade, Monsenhor, deriva da honra que o senhor tem de servir a Igreja, sem buscar seus próprios interesses ou a aprovação dos poderosos. A dignidade de Monsenhor o senhor a recebeu da Igreja, e não dos homens da Igreja, e é à Igreja que o senhor deve prestar contas. A Igreja é a sociedade divina fundada por Jesus Cristo, sempre perfeita e sempre vitoriosa, tanto no tempo como na eternidade. Os homens da Igreja podem servir a Igreja ou traí-la. Servir a Igreja significa colocar os interesses d’Ela, que são os de Jesus Cristo, à frente dos interesses pessoais. Trair a Igreja significa colocar os interesses de uma família, de um instituto religioso ou de uma autoridade eclesiástica como pessoa privada por cima da Verdade da Igreja, que é a Verdade de Jesus Cristo, o único Caminho, a Verdade e a Vida. (João 14:6).

Estaríamos insultando sua inteligência, Monsenhor, se não supusermos sua ciência da crise na Igreja. Certos cardeais eminentes manifestaram em diversas ocasiões seu desconforto e preocupação com o que está acontecendo na Igreja. O mesmo mal-estar é demonstrado pelo homem comum, profundamente desorientado pelos novos paradigmas religiosos e morais. Diante desse mal-estar, Monsenhor, muitas vezes o senhor ergueu os braços, procurando acalmar seu interlocutor, usando palavras como: “Não há nada que possamos fazer além de ficar em silêncio e orar. O Papa não é imortal. Vamos esperar pelo próximo conclave.” É tudo o que podemos fazer – o senhor nos diz. Nós não podemos falar; nós não podemos agir. O senhor adotou o silêncio como regra suprema do seu comportamento. Não estará influindo nessa atitude o servilismo, o egoísmo de quem procura acima de tudo viver calmamente ou o oportunismo daqueles que conseguem adaptar-se com sucesso a todas as situações? Afirmá-lo seria fazer um julgamento sobre suas intenções, e um julgamento sobre intenções não pode ser feito por homens; somente Deus pode fazê-lo no Dia do Juízo, quando cada um de nós permanecerá sozinho diante d’Ele para ouvir Seus lábios pronunciarem a sentença inapelável que nos enviará para a felicidade eterna ou para a eterna condenação.

Nós, que vivemos na Terra, só podemos julgar fatos e palavras, tais como eles aparecem objetivamente. E as palavras com que o senhor explica o seu comportamento, Monsenhor, parecem por vezes mais nobres do que seus verdadeiros sentimentos: “Devemos seguir o Papa, mesmo quando ele nos desagrada, porque ele é a rocha sobre a qual Cristo fundou a Sua Igreja”, ou “devemos evitar um cisma a qualquer custo, porque este seria o desastre mais sério para a Igreja”.

Palavras nobres, porque afirmam verdades. É verdade que o Papa é o fundamento da Igreja e que a Igreja não pode temer nada pior do que um cisma. Mas o que gostaríamos que Monsenhor refletisse é que o caminho do silêncio absoluto que o senhor quer seguir trará maiores danos ao papado e apressará um cisma na Igreja.

É verdade que o Papa é o fundamento da Igreja, mas antes do que nele, a Igreja é fundada em Jesus Cristo. Jesus Cristo é o fundamento primário e divino da Igreja, enquanto Pedro é o fundamento secundário e humano – mesmo que seja verdade que ele é divinamente auxiliado. A assistência divina não exclui a possibilidade de erro ou a possibilidade de pecado. Na história da Igreja não faltaram papas que pecaram ou erraram, sem que isso prejudicasse a instituição do papado. Dizer que “é preciso sempre seguir o Papa e nunca afastar-se dele” enquanto se recusa a corrigi-lo respeitosamente em casos excepcionais, significa atribuir à Igreja todos os erros que ao longo dos séculos têm sido feitos pelos homens da Igreja. A ausência dessa distinção entre a Igreja e os homens da Igreja permite que os inimigos da Igreja a ataquem, e que muitos falsos amigos da Igreja se recusem a servi-la verdadeiramente.

Igualmente carregada de consequências é a afirmação de que romper o silêncio, dizer a verdade e denunciar – se necessário – a infidelidade do próprio Supremo Pastor levaria a um cisma. A palavra “cisma” significa divisão, e nunca neste momento de sua história a Igreja apareceu tão dividida e fragmentada internamente. Dentro de cada nação, dentro de cada diocese, mesmo dentro de cada paróquia, é impossível chegar a um acordo sobre uma maneira comum de viver segundo o Evangelho, porque cada um experimenta e vive um cristianismo de modo diferente – tanto litúrgica quanto dogmaticamente –, construindo cada um sua própria religião, de tal maneira que a única coisa que permanece em comum é o nome “católico”, mas a essência do catolicismo não está mais presente. Quais são as razões para essa fragmentação? A estrela que ilumina o caminho desapareceu, e os fiéis fazem o seu percurso na escuridão da noite, seguindo opiniões pessoais e sentimentos sem uma só voz que os lembre de quais são a doutrina e a práxis imutáveis da Igreja. O cisma está sendo causado pela escuridão, que é filha do silêncio. Só vozes claras, vozes cristalinas, vozes totalmente fiéis à tradição, são capazes de dissipar as sombras e permitir que bons católicos superem as divisões provocadas por este pontificado, e para evitar à Igreja novas humilhações além daquelas que já lhe foram infligidas pelo Papa Francisco. Existe apenas uma maneira de salvar a Igreja do cisma: Proclamem a Verdade. Permanecendo em silêncio, apenas aprofundaremos o cisma.

UM APELO URGENTE

Monsenhor, o senhor que goza de certa dignidade, que exerce uma autoridade moral, que recebeu uma herança, do quê tem medo? O mundo pode atacá-lo com difamações e injúrias. Seus superiores podem privá-lo de sua autoridade e dignidade externa. Mas é ao Senhor que deve prestar contas, como deverá cada um de nós no Dia do Juízo, quando tudo será pesado e julgado segundo a medida. Não nos pergunte o que o senhor deve fazer concretamente. Se o senhor tiver a coragem de falar, o Espírito Santo não deixará de sugerir à sua consciência momentos, caminhos e tons para vir a público, a fim de ser “a luz do mundo, a cidade situada em uma colina, uma lâmpada colocada num candelabro” (Mateus 5: 13-16).

O que nós lhe pedimos, Monsenhor, é que assuma uma atitude crítica filial, de resistência respeitosa, de devota separação moral daqueles responsáveis pela autodestruição da Igreja. Ouse encorajar abertamente os que defendem internamente a Igreja e professam de público a Verdade inteira da Fé Católica. Ouse procurar outros que se juntem ao senhor e a nós para emitir o brado de guerra e amor levantado por São Luís de Grignion de Montfort em sua “Oração Abrasada” com as palavras proféticas: “Fogo! Fogo! Fogo! Fogo na Casa de Deus! Fogo nas almas! Fogo até mesmo no Santuário!”.

Línguas de fogo como aquelas do dia de Pentecostes, assim como flashes de fogo como aqueles do Inferno, parecem se abater sobre a terra. Um fogo destruidor, um fogo purificador; um fogo restaurador, destinado a abarcar o mundo todo, a consumi-lo e transformá-lo. Que se acenda dentro de nós o fogo divino antes que o faça o fogo da ira de Deus, que reduzirá nossa sociedade a cinzas, como aconteceu com Sodoma e Gomorra. E esta é a razão pela qual, vinte e cinco anos depois da infeliz resolução do Parlamento Europeu, vos faço agora este apelo, pelo bem das almas, a honra da Igreja e a salvação da sociedade.

Monsenhor, por favor, aceite este apelo, que é também uma invocação à Santíssima Virgem e aos Anjos para que intervenham o quanto antes a fim de salvar a Igreja e o mundo inteiro.

Monsenhor, assuma com coragem essa causa santa em 2019, e nos encontrará batalhando ao seu lado nessa boa luta!

Roberto de Mattei – Presidente da Fundação Lepanto

Escrito aos pés da Manjedoura, neste primeiro sábado de janeiro de 2019, Vigília da Epifania do Senhor.

Coluna do Padre Élcio: A cultura na utopia comunista.

Por Padre Élcio Murucci, 26 de janeiro de 2019 – FratresInUnum.com

O comunismo, como já tivemos oportunidade de mostrar, nega a existência de Deus. Mas, ele não nega a razão humana; e não só não a nega, mas exalta-a de tal maneira que a julga capaz de dominar o universo. Dizem que a razão humana é suficiente para sujeitar todo este mundo material e para levar a felicidade à humanidade.

Na verdade, a cultura intelectual do comunismo é inspirada, para não dizer copiada, da filosofia positivista de Augusto Conte. Este filósofo fazia consistir a filosofia num sistema de conhecimentos universais e científicos. Segundo ele, estes conhecimentos universais, respondem a todas as questões que preocupam aos homens atinente à sua existência. E os conhecimentos científicos só consideram válidas as respostas que podem ser provadas por experiência, segundo os métodos da ciência moderna. A cultura intelectual, portanto, para os comunistas é a da filosofia positivista de A. Conte.

Também a literatura e as artes, são capazes de interpretar o ideal científico desta filosofia. Para o comunismo, o verdadeiro valor do homem consiste em que é um trabalhador digno de formar uma classe operária. No término da evolução, o indivíduo será totalmente absorvido por sua classe. Deverá ser educado por ela desde a sua mais tenra infância. Sua felicidade será exatamente servir à classe operária, sem nenhum desejo de sequer pensar em ter alguma coisa como própria e nem pensar em liberdade pessoal.

No término desta evolução, também a mulher deverá ser igual ao homem; a organização social comunista procurará tornar a maternidade a mais leve possível. E isto justamente para que também a mulher possa realizar sua função essencial de operária. É desta concepção comunista que advém a lei do aborto. Segundo os comunistas, a mulher é dona de si e, assim sendo, só depende dela aceitar ou não o fruto de uma submissão ao homem, isto é, o resultado da concepção. Fazem questão de lutar contra o que Deus determinou na Bíblia: “Multiplicarei os teus trabalhos, disse Deus à mulher, e especialmente os teus partos. Darás à luz com dor os filhos, e estarás sob o poder do marido, e ele te dominará” (Gên. III, 16). Na verdade, caríssimos, toda a cultura comunista leva à destruição da família. Para os comunistas, o casamento indissolúvel vem do capitalismo. É o que ensinava Engels: “O casamento monogâmico e indissolúvel, nasceu da concentração de grandes riquezas nas mãos de um só homem, e do desejo de transmitir riquezas por herança aos filhos desse homem, excluindo os demais… Quando,  – continua Engels  –  já os meios de produção tiverem passado para a propriedade comum, a família individual deixa de ser a unidade econômica da sociedade. A guarda e a educação dos filhos se torna pública: a sociedade cuida igualmente de todos os filhos, legítimos ou naturais” (Livro, “A ORIGEM DA FAMÍLIA”).

Segundo o comunismo, ou mais especificamente, para Lenine, Marx e Engels, não há nada definitivo, absoluto e muito menos sagrado: tudo é uma sucessão ininterrupta de fenômenos, de modo que a situação presente deve conduzir-nos necessariamente a outro estado, ou seja, uma vida agrupada natural e espontânea, e nela, o indivíduo viverá inteiramente para a sociedade.

Verdadeiramente, os comunistas tentam transformar o homem em puro animal. Por exemplo: a própria união do homem e da mulher não é senão a manifestação inferior do “instinto sexual”, como nos animais. Para os comunistas, é inteiramente normal, satisfazer a esta necessidade como a de comer e beber. Daí o casamento tem de deixar de ser um contrato indissolúvel. Pregam a união livre. É claro que, filhos que são do demônio, pai da mentira, enquanto não puderem consegui-lo, até eles mesmos, por vezes, têm família, mas, em verdade, o escopo final seria o desaparecimento total da mesma. Querem grande natalidade, mas não como filhos em família, mas sim como filhotes de animais domados pelos donos comunistas. Os futuros cidadãos serão logo colocados em parques infantis para aprender sua vida social, passando logo às fábricas ou às explorações agrícolas socializadas, a não ser que suas disposições os encaminhem para os estudos superiores nos quais servirão à sua classe com o trabalho intelectual.

A “IDEOLOGIA DE GÊNERO” é uma invenção diabólica dos comunistas, invenção esta que transuda todo ódio contra as diferenças que Deus fez na natureza para que houvesse a complementação e a família. Como os comunistas não aceitam a existência de Deus, querem impingir a ideia de que é o homem que tudo decide, inclusive a sua sexualidade.

“Toda a educação, dizia Lenine, toda instrução e toda a formação da juventude contemporânea, se reduzem no ensinamento da moral comunista” (A Juventude Comunista, disc. do 3º Congr. P. Russo da Juventude comunista, 1920).  Mas em que consiste esta moral comunista? É tudo o que contribui para a realização das ideias comunistas. Em outras palavras: depende inteiramente do interesse do proletariado e das exigências da luta de classes. E esta moral no término de sua evolução, será, segundo os comunistas, uma coletividade sem hierarquia; só ela existirá nos sistemas econômicos. E sua missão única será a produção dos bens pelo trabalho coletivo. Eis a grande utopia dos comunistas: quando toda a humanidade for absorvida na classe operária, não haverá mais guerras sobre a terra porque não haverá diferenças de classes e condições sociais. Será a paz definitiva, será o altruísmo mundial, será, enfim, o paraíso na terra.

Caríssimos, os comunistas não só negam a existência de Deus mas consideram que um dos obstáculos essenciais para que haja progresso e paz, é a religião com sua crença em Deus. A religião é o “ópio do povo”; e esta sentença de Marx, disse Lenine: “constitui a pedra angular de toda concepção marxista em matéria de religião”… “é um aspecto da opressão espiritual que gravita sempre e por toda parte sobre as massas populares, agrupadas pelo trabalho perpétuo em favor dos outros, pela miséria e a solidão. A fé em uma vida melhor nasce com tanta necessidade da impotência das classes exploradas em luta contra os exploradores como a crença nas divindades, milagres, diabos…, nasce da impotência do selvagem em luta contra a natureza”… (A Vida Nova, 1905).

“A priori” poderíamos dizer que no comunismo tudo isto é pura utopia falaciosa, porque sem Deus não há ordem, progresso e paz, muito menos paraíso. E “a posteriori”, nos países em que já fora implantado o regime comunista, vemos sangue derramado, fomes e guerras. Contra fatos não há argumentos. Mas infelizmente, ainda há muitos que acreditam na mentira!

Retrospectiva 2018 – Nº 1: Duas mulheres “concelebram” a Missa com bispos da CNBB. Isto já é possível ou continua sendo um gravíssimo delito?

Concluímos a publicação dos 10 posts mais lidos de 2018. Na primeira posição, matéria publicada em 21 de fevereiro de 2018. 

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Por FratresInUnum.com, 21 de fevereiro de 2018: Foi em 13 de fevereiro de 2018 que aconteceu 41a Romaria da Terra, celebrada na cidade de Mampituba, Diocese de Osório, no Rio Grande do Sul.

Como se já não bastassem as “pregações” da Deputada Maria do Rosário (PT-RS) e do Monge Marcelo Barros, ambos conhecidíssimos por suas posições, digamos, pouco ortodoxas, os bispos presentes admitiram no altar duas pastoras protestantes como “concelebrantes” na Santa Missa.

Retrospectiva 2018 – Nº 2: Carta a Jair Bolsonaro.

Continuamos publicando os 10 posts mais lidos de 2018. Na segunda posição, matéria publicada em 4 de outubro de 2018.

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04 de outubro de 2018.

Memória de São Francisco de Assis.

Deputado Jair Bolsonaro,

Somos um grupo de bispos e padres católicos que lhe escreve esta nota na tentativa de esclarecer, ao deputado e aos seus eleitores, que tipo de atuação política deve-se esperar da hierarquia da Igreja Católica.

1 – Fatos: Nota-se com frequência a manifestação de apoio explícito de ministros evangélicos em campanhas eleitorais. Deve-se, porém, notar, sem detrimento do papel cívico importante dessas pessoas, que as igrejas evangélicas não são organizadas hierarquicamente e que seus pastores gozam de maior liberdade de engajamento político.

Continuar lendo…

Uma ficção chamada Francisco.

Por FratresInUnum.com, 21 de janeiro de 2019

Durou pouco. De fato, o atual pontificado goza de certa sobrevida apenas por inércia. É uma espécie de vida vegetativa que persiste apenas em não morrer. Mas o povo não se engana mais.

franciscoOs escândalos sexuais nos Estados Unidos, o desconforto dos europeus com a obsessão migratória do pontífice, a derrota das esquerdas nos países mais importantes do ocidente, tudo isso e mais um pouco são sinais mais que eloquentes de um pontificado autista, incapaz de interagir com a realidade, totalmente alienado.

Mesmo entre os bispos, cujo assanhamento bajulatório chega a níveis de excitação verbal indecentes, tudo não passa apenas de papagaiamento de oficialidades, enfim, discurso vazio de prática. Na verdade, a Igreja de Francisco é um projeto natimorto e os seus maiores propagandistas são aqueles mesmos que a abortam, relegando-a apenas ao cárcere das palavras, sem qualquer possibilidade de encarnação.

De outro lado, o povo segue o seu instinto de ovelha, dessas mesmas ovelhas cujo cheiro Papa Francisco alega carregar, mas das quais ele se afasta em suas obras, aliando-se a toda a elite financeira que se quer servir do catolicismo apenas como outdoor para as suas ideias libertárias. Obviamente, nada disso seria possível sem o rebaixamento da Igreja ao nível de uma mera sociedade humanística embrulhada de aparência religiosa.

Justiça social, paz mundial, ecologia integral, diplomacia multilateral e outros, são jargões do léxico bergogliano, um dialeto pastoral cujo acento se torna não apenas incompreensível ao católico das ruas, mas que são sobretudo palavras quiméricas, esvoaçantes, que auto-denunciam uma perda total do contato com o mundo concreto, com problemas reais. E as pessoas se vão… Na Europa, tornam-se agnósticas; nas Américas, protestantes, pois ninguém suporta mais a cacofonia psicológica de discursos nos quais as palavras são desconexas das coisas.

O problema do catolicismo hodierno é eminentemente cognitivo. Não se trata só de uma linha teológica ou de um estilo de governo Papal… Os eclesiásticos estão flutuando sobre nuvens cor-de-rosa, suas palavras são meros pastéis de vento, cheias de nada. Os progressistas percorreram o mesmo caminho dos frankfurtianos, especialmente Lúckacs, e trocaram o povo real por um “povo possível”, existente apenas em suas mentes intoxicadas de mundanismo. É com este povo imaginário que conversam, é para ele que escrevem, é a eles que pregam e, como estes não existem, o povo real assiste perplexo ao diálogo entre o padre e o fantasma teológico, percebe que o religioso está doido e, indo embora pela rua, encontra com o pastor pentecostal que toca em sua cabeça, escuta os seus problemas reais e o ajuda a ativar a sua fé: Um católico a menos na missa, um protestante a mais no culto.

Como foi possível chegarmos a este nível de ruptura entre os eclesiásticos e o homem normal?

Desde o início do século XX, a Igreja Católica passa por um sequestro, que se foi intensificando até o papado de Paulo VI e que chegou ao nível de completa hegemonia neste pontificado. Trata-se do total predomínio da diplomacia vaticana sobre a totalidade da Igreja Católica.

São os diplomatas que governam a Cúria Romana, são eles que administram as nunciaturas e trabalham dentro das mesmas, são eles que escolhem os bispos e o fazem sempre dentro do critério mais diplomático que existe: homens inócuos, privados de opinião, que deslizam pelos conflitos no clero com o rebolado de uma enguia, suficientemente ineptos para não terem nenhum tipo de ideia formada, politiqueiros que pensam apenas em adular os superiores, gente sem fé e que não apresenta nenhum tipo de convicção religiosa forte que pudesse ser interpretada como fanatismo ou fundamentalismo, enfim, sujeitos completamente neutros, sem força de personalidade, e que sabem administrar muito bem as finanças de uma diocese, pois, ao fim e ao cabo, é por aí que se lhes mede o sucesso pastoral.

Os diplomatas, porém, são apenas burocratas que precisam promover-se através da legitimação mútua. Eles vivem num teatro cujos espectadores são eles mesmos. A sua finalidade é apenas subir na hierarquia interna da diplomacia vaticana.

Estes senhores consagraram-se aos papéis e não desconfiam sequer que existe um mundo real por detrás deles. Interagem, portanto, apenas consigo mesmos e transitam por ideias puras, órfãs de substância. Não é de se admirar que tenham lançado a Igreja nas nuvens, como pipa empinada numa tarde de verão.

O próprio Papa Francisco, aliás, é em engodo mal percebido. A ideia mesma de que ele seja um “papa pastoral” é uma absurdidade. Para percebê-lo basta ler a sua biografia. Ele nunca foi pároco, sequer por um dia. Passou a vida inteira cuidado de afazeres internos da Companhia de Jesus ou de colégios da mesma Ordem. Foi estudar na Alemanha, mas não conseguiu as notas suficientes para prosseguir os estudos. Sempre em conflito com seus confrades jesuítas, denunciado por Padre Kolvenbach como ambicioso, conseguiu ser nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires, depois arcebispo e, por fim, papa.

O papa argentino não tem uma base filosófico-teológica, nem tampouco suficiente conhecimento pastoral. Não lhe resta nada senão aquele romantismo idealista, cafona e irreal acerca de um povo que existe apenas nos papéis, nos livros sobre a “teología del pueblo”, nos discursos apaixonados e delirantes de quem nunca se confrontou seriamente com a realidade.

Cativo nas mãos de burocratas perdidos, entregue aos cuidados de bispos que se comportam como figuras formais, guiado por um papa que compagina autoconfiança onipotente com incompetência multidisciplinar, não é de se admirar que o povo siga na direção oposta à completa desorientação de seus dirigentes. Em outras palavras, não é exatamente o povo que está desorientado, são os pastores. O povo aprendeu simplesmente a ignorá-los.

E o povo os ignora porque entendeu quem eles são, ou melhor, quem eles não são.

Sob este aspecto, Bergoglio personifica bem o momento atual. Um papa pastoral que nunca foi pastor, o homem que quer mudar a história da Igreja mas é ignorante de teologia… Assim como o semi-analfabeto Lula se dignou assinar um decreto de reforma ortográfica, Francisco é tão somente o firmatário daquilo que os burocratas lhe dizem, enquanto eles mesmos vão lançando a Igreja num oceano de balões e de pipas voadoras. O caos eclesial em que este pontificado nos está lançando é fruto mais da incapacidade intelectual destes senhores que de outra coisa: eles acham que estão caminhando rumo à Igreja de Jesus, mesmo! Mas estão delirando entre bexigas coloridas.

Francisco é um nome vazio, o título de uma ficção, o apelido de um sistema fracassado; para os bons católicos, um pesadelo do qual anseiam acordar para que se lhes devolva a vida, a doutrina, a Igreja, para que retornem ao caminho de Deus, do Deus que sustenta a realidade, do Deus que alegra a nossa juventude.

Arcebispo Viganò exorta Cardeal McCarrick a arrepender-se publicamente em nova carta aberta.

Por LifeSiteNews, 14 de janeiro de 2019 | FratresInUnum.com— Em tom de caridade fraterna e sacerdotal, o Arcebispo Carlo Maria Viganò escreveu uma carta aberta ao ex Cardeal Theodore McCarrick, encorajando-o a arrepender-se publicamente de seus pecados e, assim, salvar a sua alma.

Na breve carta, datada de 13 de janeiro de 2019 e publicada em inglês e italiano (ver o texto completo abaixo), Dom Viganò buscou também persuadir McCarrick de que ele tem uma oportunidade única de beneficiar grandemente a Igreja com um ato público de arrependimento.

Dom Carlo Maria Viganò.
Dom Carlo Maria Viganò.

“O tempo está se esgotando, mas o senhor pode confessar e arrepender-se de seus pecados, crimes e sacrilégios, e fazê-lo publicamente, uma vez que esses mesmos pecados e crimes tornaram-se públicos. A sua salvação eterna está em risco,” escreve Dom Viganò.

Ele acrescenta, “Um arrependimento público de sua parte traria uma medida significativa de cura para uma Igreja gravemente ferida e sofredora. O senhor está disposto a oferecer-lhe esse dom?”.

A carta aberta do ex Núncio dos EUA surge após revelações divulgadas da Congregação para a Doutrina da Fé de que o processo de McCarrick está sendo tratado por meio de um processo administrativo despojado — chamado “processo criminal administrativo” — cuja conclusão está prevista para antes do encontro para tratar de abusos sexuais por clérigos, a se realizar no Vaticano, em fevereiro.

Um “processo criminal administrativo” desse tipo – que o direito canônico reserva para casos em que as evidências são tão fortes que dispensam um julgamento completo – dá a entender que as chances de condenação são muito grandes.

Theodore McCarrick é acusado de molestar três meninos — o mais novo com 11 anos de idade — e, pelo menos, oito seminaristas nas dioceses que governou. Se condenado, o ex Arcebispo de Washington, D.C. será destituído de seu estado clerical.

Atualmente, McCarrick reside no Mosteiro Capuchinho de São Fidelis, em Victoria, Kansas.

Apresentamos abaixo a carta aberta do Arcebispo Viganò a Theodore McCarrick. 

Carta a McCarrick

Reverendíssimo Arcebispo McCarrick,

Conforme tem sido noticiado pela Congregação para a Doutrina da Fé, as acusações contra o senhor por crimes contra menores e abusos contra seminaristas serão examinadas e julgadas muito em breve em um processo administrativo.

McCarrick
McCarrick e Francisco.

Não importa a decisão que a autoridade suprema da Igreja tomar a seu respeito, o que realmente importa e que entristeceu as pessoas que o amam e rezam pelo senhor é o fato de que ao longo desses meses o senhor não demonstrou qualquer sinal de arrependimento. Estou entre aqueles que rezam pela sua conversão, para que o senhor possa se arrepender e pedir o perdão de suas vítimas e da Igreja.

O tempo está se esgotando, mas o senhor pode confessar e se arrepender dos seus pecados, crimes e sacrilégios, e fazê-lo publicamente, uma vez que esses mesmos pecados e crimes tornaram-se públicos. A sua salvação eterna está em risco.

Todavia, algo de grande importância também está em jogo. Paradoxalmente, o senhor tem à sua disposição uma oferta imensa de grande esperança por parte do Senhor Jesus; o senhor está em condição de fazer um grande bem para a Igreja. Na realidade, agora o senhor está condição de fazer algo que se tornou mais importante para a Igreja do que todas as boas coisas que o senhor fez por Ela ao longo de toda a sua vida. Um arrependimento público de sua parte traria uma medida significativa de cura para uma Igreja gravemente ferida e sofredora. O senhor está disposto a oferecer-lhe este dom? Cristo morreu por nós todos quando ainda éramos pecadores (Rom. 5: 8). Ele somente pede que Lhe respondamos nos arrependendo e fazendo o bem que devemos fazer. O bem que o senhor está em condições de fazer agora é oferecer à Igreja o seu arrependimento sincero e público. O senhor dará este dom à Igreja?

Eu lhe imploro, arrependa-se publicamente dos seus pecados, de modo a fazer a Igreja regozijar-se e apresente-se diante do tribunal do Seu Senhor limpo pelo Seu sangue. Por favor, não anule o sacrifício de Cristo na cruz para o senhor. Cristo, Nosso Bom Senhor, continua lhe amando. Coloque sua total confiança em Seu Sagrado Coração. E reze para Maria, como eu e muitos outros estamos fazendo, pedindo que ela interceda pela salvação da sua alma.

“Maria Mater Gratiae, Mater Misericordiae, Tu nos ab hoste protege et mortis hora suscipe”.

Seu irmão em Cristo,

+ Carlo Maria Viganò

Domingo, 13 de janeiro de 2019

Festa do Batismo do Senhor

e São Hilário de Poitiers

e