Um Papa que se “desmente”.

Por FratresInUnum.com, 31 de janeiro de 2019 – Mais uma entrevista aérea. E os nossos ouvidos, hoje habituados ao absurdo, quase não reagem mais às palavras de um papa, que soam irreverentes. Convém, todavia, analisar com brevidade as palavras do pontífice, pois elas nos deixam entrever muito de sua personalidade.

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Coletiva de imprensa do Papa Francisco no vôo de volta da Jornada Mundial da Juventude, no Panamá.

Um exemplo muito claro foi a sua resposta acerca da mudança da lei sobre o celibato. Inicialmente, ele disse: “prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato”, citando o papa Paulo VI. Contudo, logo em seguida, começa a fazer uma longa apologia, como que en passant, da ordenação de homens casados, despretensiosamente relatando-a como uma legítima corrente de pensamento: “[Padre] Lobinger diz: se poderia ordenar sacerdote um idoso casado, esta é a sua tese. (…) Esta é a tese, o livro é interessante e talvez isso possa ajudar a responder o problema. Acredito que o tema deve ser aberto nesse sentido para os lugares onde existe um problema pastoral, por falta de sacerdotes”.

Como é possível que alguém diga e se desdiga na mesma declaração? Além de ser esta uma tática verbal muito utilizada pelos mais maquiavélicos – o estímulo contraditório desbarata a vítima e a torna completamente incapaz de qualquer reação psicológica –, autocontradizer-se revela a mente deste papa.

Numa resposta posterior, sobre os escândalos sexuais nos Estados Unidos, ele inicialmente apresenta o encontro de fevereiro próximo com os presidentes das conferências episcopais como a sua resposta ao problema, mas ressalva que “é preciso moderar as expectativas em relação a estes pontos que lhes disse, porque o problema dos abusos continuará, é um problema humano, em todos os lugares”.

É inacreditável que o papa diga isto. Os bispos americanos queriam começar a resolver o problema com medidas drásticas, mas foram impedidos pelo Vaticano para que Francisco afirmasse, já de antemão, que “o problema dos abusos continuará”?

Antes, quando lhe perguntaram sobre o afastamento de muitos jovens da Igreja, ao invés de reconhecer humildemente os limites pastorais do clero, ele acusou os pastores e os fieis, culpando “os católicos hipócritas, que vão à missa todos os domingos e não pagam o décimo terceiro, pagam por fora, exploram as pessoas”. Antes, ele usava os padres como escudo, agora, ataca-os, bem como os leigos, conservando-se a salvo de toda e qualquer crítica. (Nem mencionemos o assunto da educação sexual para as crianças…)

Que pessoa normal não se afastaria de alguém cuja duplicidade de palavras é tão explícita? Será que tal pessoa poderia ser considerada confiável? A malandragem costuma ser recurso de gente desonesta, que procura alcançar objetivos ruins através de meios ainda piores. Não queremos pensar que um papa utilize tais artefatos.

No caso, não se trata apenas de uma trapaça humana, mas da adulteração da Igreja de Deus. Repare que, logo no início da coletiva, ele diz que a sua missão “é a missão de Pedro, confirmar na fé”, mas logo ajunta: “e isso não com mandatos frios ou preceptivos, mas deixando-me tocar o coração e respondendo ao que acontece ali”. Não há sólido que não se torne gasoso na boca deste papa!

As palavras de Francisco sobre o celibato – “Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato” – evocam aquela exclamação de São Pedro a Cristo, durante a Santa Ceia: “Darei a minha vida por ti”!, ao que Jesus respondeu: “Darás a tua vida por mim?… Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo até que por três vezes me tenhas negado” (Jo 13,37-38).

7 comentários sobre “Um Papa que se “desmente”.

  1. Situação complicada, de fato, o acima relatado, embora esclarecendo o que tem sucedido em algumas ou muitas vezes e que seria um comportamento dialético do papa Francisco, inclusive diversos o acusando de aderir a esse modelo!
    Sem poder criticá-lo por causa do cargo, sempre tenho preferido achar que devo resistir a ele, como exemplos, dentre varios mais, em temas e certos pronunciamentos como esses que nos geram imensas dúvidas sobre ensinamentos eclesiais anteriores, e pareceria ser desse modo um hábito:
    “Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é lógica do Evangelho”, da Exortação Apostólica A laetitia.
    “Lutero, testemunho de Evangelho”.
    “Islã, religião de paz”.
    Apoiaria trastes, como Pe James Martin etc, etc. e, permitindo-os, sem os afastarem sumariamente do múnus sacerdotal e pastoral, acabaria conduzindo-se conivente, permitiria junto a si escandalosos como esses e mais que já seria um imenso contratestemunho e poderia dificultar-lhe atuar, procedendo como opositor ao homossexualismo e pastor de almas.

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  2. Nossa q coisa horrorosa …se contradiz sempre estamos na dúvida com esse papa…
    Principalmente com relação ao celibato…
    A luta ta grande otimo artigo…
    Foi o.grito q estava na minha garganta …😏

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  3. Mas não nos esqueçamos de que Paulo VI, cuja “santidade” nego absolutamente, não ficou atrás em suas contradições na questão do celibato sacerdotal.
    Com efeito, ao mesmo tempo que dizia dar sua vida em defesa de tão sagrada instituição, submetia-a à votação em um sínodo dos bispos (não me lembro do ano do referido sínodo), que não aprovou o fim do celibato.
    Ora, ninguém está disposto a dar sua própria vida por algo que submete à apreciação.
    Portanto, Francisco segue seu mestre, o tartufo Paulo VI, uma das figuras mais sinistras da história da Igreja pós-conciliar.

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  4. É que já está se preparando o terreno para o “Sínodo da Amazônia”, cujo tema da ordenação de homens casados será debatido! E agora, tendo esta brecha aberta, rapidinho já vão consolidar a ideia! Que Nossa Senhora venha em nosso socorro!

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  5. “Darei minha vida…” Essas e outras declarações bombásticas e inócuas de Montini fazem pensar que ele fosse esquizofrênico ou mal intencionado. Opino que fosse os dois, sem excluir a possibilidade de infestação diabólica.

    O fato é que nos anos que se seguiram à primavera funesta de João XXXIII, cerca de 100.000 padres deixaram o ministério. Não creio que estes fossem os piores necessariamente. Muitíssimos deles viram-se e sentiram-se ludibriados pelo “projeto-montini “, o qual projeto consiste apenas nisso: a Igreja católica não é mais necessária à salvação. Pois, segundo essa heresia mal disfarçada, há um grande “plasma eclesial”, uma verdadeira pan-igreja pneumática e sem fronteiras, que congrega todos os cristãos de todas as denominações. A Igreja católica tem, quando muito, a “plenitude”… mas as outras teriam o que? A “diminitude”, a “faltitude” …? E note-se: não adianta citar os textos conciliares que afirmam a doutrina tradicional. Eles foram enxertados na redação por instância quase desesperada dos poucos bispos católicos que faziam frente à baderna que seria e foi instaurada com a complacência de Montini. Esses textos ortodoxos mais parecem pano novo em tecido velho. Não combinam.

    Então, muitas dezenas de milhares de padres foram embora. Dar a vida pelo quê? Pelo vago humanismo frurfru de Montini? Pelo deslumbramento de quem fica pagando mico pra tecnologia: geladeira, enceradeira, foguete espacial… Quem não se lembra do frenesi verborrágico de Paulo Seis quando da “conquista da lua”…?

    Dar a vida pelo quê? Pelo humanismo pelagiano de quem tem vergonha da Cruz? Foram-se muitos milhares de padres, religiosos, religiosas e até mesmo bispos (cujo número é mantido até hoje em segredo pontifício). E muitíssimos, é justo cogitar, eram bons padres. Tem gente que fraqueja, mas nem sempre por motivos fúteis. Virar palhaço do dia pra noite não é pouca coisa. E o projeto montiniesco era, como provou ser, o convite ao delírio e à mais pura palhaçada.

    Morreu sozinho, Paulo Seis, quase blasfemando por haver Deus permitido a morte de Aldo Moro. Pior. Morreu cercado por Jean Villot, Casarolli e gente que só de ver a cara (e o brasão “episcopal”) dá vontade de sair correndo clamando pelo Sangue de Cristo contra os demônios.

    Estão aí os “founding fathers” da “Outra” – pois certamente é outra – como costumava dizer certo converso e valente combatente de outrora.

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  6. Muito bom o artigo, nos faz entender as tecnicas dialeticas (fazer duas afirmacoes diametralmente opostas) usadas por esses Modernistas que hoje comandam a nossa Igreja, ou melhor o pouco que restou dela…

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