A Igreja hoje renunciou a ensinar a verdade integral.

Por Riccardo Cascioli, La Nuova Bussola Quotidiana, 3 de fevereiro de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com

“Falar da crise de abuso sexual de menores, enquanto se ignora o fato de que 80% dos abusos são atos homossexuais, demonstra que não há intenção de resolver o assunto”. “O mais grave problema da Igreja hoje é a tendência de fazer concessões ao mundo e se furtar de proclamar a verdade integral”. O Cardeal Gerhard Müller fala. 

Cardinal Müller

 

Dom Gerhard Müller fala de maneira calma, mas seu juízo vem alta e claramente. Ele me acolhe cordialmente em seu apartamento, a um pulo da Basílica de São Pedro, que ele manteve apesar de ter sido demitido pelo Papa Francisco de uma forma um tanto áspera em julho de 2017, quando não renovou seu mandato como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Cardeal Müller, em vinte dias haverá um encontro no Vaticano sobre abusos sexuais, um escândalo que está obscurecendo a imagem da Igreja e que, ao mesmo tempo, causa muitas tensões internas… 

É terrível para a Igreja que haja padres envolvidos, homens que em vez de terem vidas exemplares, abusam de sua missão. Representantes de Jesus Cristo, o Bom Pastor, agindo como lobos: é a perversão de sua missão.

A esmagadora maioria dos abusos sexuais cometidos por padres são, na verdade, atos homossexuais.

É fato que cerca de 80% das crianças vítimas de abuso são homens e adolescentes. Devemos encarar essa realidade, são estatísticas que não podem ser negadas. Quem quer que ignore os fatos não quer resolver o problema. Fazem acusações contra os que dizem a verdade, ao afirmar que eles têm uma inclinação geral contra os homossexuais. Mas os homossexuais enquanto categoria não existem, é uma invenção. É evidente que eles falam para encobrir os seus próprios interesses. Na criação, o conceito de homossexualidade não existe, é uma invenção que não possui fundamento na natureza humana. Essas tendências não são ontológicas, mas de ordem psicológica. Alguns querem tornar a homossexualidade em um dado ontológico.

Em vista do encontro no fim de fevereiro, há aqueles que querem usá-lo como oportunidade para argumentar que não importa se um padre tem tendências homossexuais, o importante é que ele viva castamente. Na Alemanha, há bispos que já deram declarações neste sentido.

Seria um crime contra a Igreja: explorar o pecado para estabelecer ou normalizar o pecado contra o sexto mandamento, um crime. Não há forma de legitimar atos homossexuais ou mesmo atos sexuais desordenados. Se cremos em Deus, cremos que os dez mandamentos são expressões diretas da vontade salvífica de Deus para conosco, são a substância da moralidade do homem e de sua felicidade, são expressão da vida, da verdade de Deus.

Recentemente, o caso de uma missa ecumênica em Milão foi denunciado, na qual uma pastora batista leu o Evangelho, pregou a homilia e distribuiu a Eucaristia após permanecer o lado do padre durante a consagração. O pároco explicou que a transubstanciação é só uma forma de compreender a Eucaristia. Este tipo de ecumenismo não é um fato isolado. 

Isso equivale a um ato blasfemo. Há uma ignorância grosseira entre os padres, bispos e mesmo cardeais: eles são servos da Palavra de Deus, mas não a conhecem, bem como desconhecem a doutrina. Se falamos de transubstanciação, o Quarto Concílio de Latrão, o Concílio Tridentino e também o Vaticano II, assim como algumas encíclicas, como Mysterium Fidei (1965) explicaram que com essa expressão a Igreja reconhece a verdadeira conversão do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Na Inglaterra, no tempo de Eduardo VI e Elizabeth I (século XVI), havia a pena de morte para aqueles que acreditavam na transubstanciação. Muitos católicos foram martirizados e não sacrificaram suas vidas por causa de uma das muitas maneiras de compreender a Eucaristia, era pela verdade do sacramento.

Mas o que um leigo pode fazer se acabar parando numa missa dessas?

Devem protestar publicamente. Eles têm o direito de sair ou, se se sentirem aptos a falar, devem dizer: “Eu protesto contra a dessacralização da Santa Missa; vim aqui para assistir à Missa Católica, não para participar em alguma construção da missa por um pároco que não conhece nada da Fé Católica”.

Após o aniversário da Reforma Protestante, agora temos os 800 anos do encontro entre São Francisco e o Sultão. Já estão acontecendo cursos de Islã nas paróquias e imãs estão sendo convidados para irem a igrejas explicar quem foi Jesus para o Islã… 

Para nós, é uma ofensa dizer que Jesus foi só um homem, que Ele não é o Filho de Deus. Como se pode convidar alguém para vir a uma igreja ofendê-lo? Há uma má consciência presente hoje no Catolicismo para com a própria fé e, por outro lado, ajoelhamo-nos para os outros. Primeiro o jubileu de Lutero, agora o de São Francisco: é só uma forma de trazer o protestantismo para dentro e de islamizar a Igreja. Isso não é verdadeiro diálogo, alguns de nós perdemos nossa Fé e queremos nos tornar escravos de outros para sermos amados.

Qual é o principal problema que a Igreja enfrenta hoje?

A relativização da Fé. Parece muito complicado anunciar a Fé Católica em sua integridade e de cabeça erguida. Embora o mundo hoje mereça a verdade e a verdade é a verdade de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Acordos falsos não ajudam as pessoas no mundo de hoje. Em vez de propor a Fé e educar o povo, tendemos a relativizar, sempre dizer um pouco menos, menos, menos… O Cristianismo se preocupou com o mundo, reduziu-se para agradar a todos hoje e, consequentemente, o povo está decepcionado.

O Papa constantemente enfatiza o conceito de fraternidade universal. O que se pretende com essa expressão, a fim de não confundir as pessoas?

Não fico nem um pouco satisfeito quando os maçons louvam o Papa. A fraternidade deles não é a fraternidade dos Cristãos em Jesus Cristo, é muito menos. Com base na criação, somos todos filhos de Deus. Temos todos um pai no céu, mas este pai revelou-se em Israel, a Moisés, aos profetas e finalmente em Jesus Cristo. Fraternidade é, certamente, evitar guerras, brigas entre pessoas, mas não podemos reduzi-la a isso. Uma religião universal não existe, há uma religiosidade universal, uma dimensão religiosa que impulsiona a todos em direção ao mistério. Por vezes, circulam ideias absurdas, descrevendo o Papa como chefe de uma esquerda internacional ou chefe de uma religião universal, mas isso é absolutamente contrário à instituição do papado de Jesus Cristo. Jesus instituiu Pedro como o primeiro e princípio de sua sucessão no papado, por conta de sua confissão ou profissão de fé: “Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Esta é a substância do papado, é a voz da profissão de fé da Igreja e não o chefe da ONU.

12 comentários sobre “A Igreja hoje renunciou a ensinar a verdade integral.

  1. É tragicômico! O Cardeal Müller resolveu tornar-se “ortodoxo” depois de ser dispensado da CDF por Francisco! Menos mal. E coisa assustadora: ele defende posições que uma criança no primeiro lustro do século XX conhecia de cor, e que bispos e padres atuais têm dificuldade em conhecer!…Realmente, o pior castigo que se possa imaginar é a perda da fé. Que Nossa Senhora Aparecida proteja a nossa fé e interceda diante de Seu Filho para que faça a fé voltar aos corações dos nossos sacerdotes.

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  2. Eis aí o exemplo de fé católica verdadeira do cardeal D G Müller, distinguindo a Religião Divina de Cristo-Jesus doutras todas falsas, e/ou mesmo nenhuma adesão a um projeto de falso ecumenismo, com imensas cessões para outras religiões fundamentadas apenas em homens, ou então da doutrina relativista e alienante, proposta por tantos da neo igreja “católica”, com varios componentes associados a ela, desde a Alta Hierarquia.
    Assim, segundo ele, alguns procedem como se nem conhecessem o básico do Catecismo Católico; quem sabe se seriam infiltrados dentro da Igreja da judaico-maçonaria? De cordo com os estudiosos da Maçonaria, a Alta Vendita foi o braço armado da Maçonaria e os que ocupavam posições de liderança nesse grupelho secreto deveriam ser maçons de alto grau!
    Um papa conforme seus desejos para os atenderem, eram os planos cobiçados pela diabólica Alta Vendita-maçonaria a todo e a qualquer custo, a respeito de um pontífice conivente com eles, que almejavam conseguir para levarem adiante seus maléficos desígnios de relativizarem o mundo, isso vindo desde o século XVIII!
    “O que devemos exigir, o que devemos buscar e esperar, como os judeus esperaram o Messias, é um Papa conforme os nossos desejos. Alexandre VI, com todos os seus crimes privados, não nos serviria, pois nunca errou em questões religiosas” etc. e seria o modelo de comportamentos do papa Francisco a quem mais procuravam? Certo é que os maçons não se achegam a seus inimigos de forma alguma e lhes tecem elogios e menos ainda em encontros “fraternos”, além doutras escorias da humanidade anti catolicismo e das esquerdas o entronizarem!
    Antecedentes muitos estranhos e evidentes possuía o ex cardeal Bergoglio e, à sua eleição, os inimigos da Igreja levantaram-se num coro uníssono aplaudindo sua eleição, sendo um deles o apóstata L Boff, o qual ainda exclamou que “ele é um dos nossos” – nesse caso mereceria credibilidade – certo é que esse ideologista detestava o papa *Bento XVI, vendo seu documento no link abaixo anti maçônico, quando Prefeito da CDF!
    http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19831126_declaration-masonic_en.html%5D)

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  3. Mto boas colocações de Sua Eminência. Cumpre assim com seu munus episcopal de transmitir a Fé íntegra.

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  4. Por incrível que possa parecer, o Cardeal Gerhard Müller que alguns anos atrás era um dos mais modernistas do clero dentro da Santa Sé, está se tornando em um dos maiores defensores da moral e doutrina católica!

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  5. “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” (Mc 8:36)
    Talvez se a igreja, com inicial minúscula, meditasse sobre essa frase não deixaria de ensinar a verdade integral, se bem que em se tratando de Fé, a verdade só pode ser integral. Não sendo integral é aquilo que outrora se combatia chamado de heresia. Para agradar a Deus não existia meia verdade, meio caminho, muito menos agradar ao mundo. É público e notório que a décadas Roma já não pode ser seguida às cegas. Infelizmente p Roma locuta, causa finita, já não pode mais ser aplicado sem antes um estudo severo e piedoso. Causa tristeza ver em sites católicos um tal de oba, oba em comportamentos, manifestações puramente humanas contrárias aos ensinamentos de Nosso Senhor. Isto quando não deturpam intencionalmente as frases contidas nas sagradas escrituras, para chancelar o pecado contra Deus. Em que pese o passado nada cristão desse nobre Cardeal, o que importa é o que foi dito, e que infelizmente é o que acontece. O mundo está cada vez mais longe de Deus, longe do espiritual, levando as almas a se conformarem com essa vida sem Deus e aqui se deleitarem com o prato de lentilhas desdenhando o direito da progenitura à exemplo da Esaú. Às vezes penso que há pessoas que estão tão certa da sua condenação que já se entregaram por completo ao mal e querem por que querem levar mais outras consigo, talvez seja esse o pecado da Impenitência Final, que não há perdão nesse mundo e nem no outro. De toda sorte, não deixemos nunca de rezar e fazer penitência por nós, nossas famílias e por todos os pecadores. Relembrando as palavras de Fátima que há muitas almas que se condenam, vão para o Inferno, porque não há que reze e se sacrifiquem por elas, sejamos pois essas almas, ainda que indignas,mas que rezem e se sacrifiquem por nós e pelos outros. Rezemos pelo Santo Padre, para que se arrependa a tempo e assim possa salvar tantas almas que o acompanham cegamente.

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  6. Ora, se a Igreja opta por não proclamar a verdade, omitindo-a e, até mesmo propagando o erro como uma escolha lícita em detrimento do dado revelado, vulnerando e comprometendo Sua própria missão, segundo o mandado de Seu Divino Fundador, poder-se-ia cogitar na terrificante hipótese da prevalência das portas do inferno sobre a Santa Madre Igreja? Evidentemente que não, pois a promessa de Nosso Senhor é indefectível.

    O fato é que, desde a promulgação do CV II, todos os Papas, sem exceção, uns mais, outros menos, “renunciaram ao ensino da verdade integral”. Isto não pode acontecer com a Igreja de Cristo, segundo as palavras do Próprio Mestre. Daí questionamo-nos, estarrecidos: A Igreja do pós-concílio VC 2 é a Igreja Católica? A Igreja de Jesus Cristo? Só há uma resposta lógica e racional: Não! Porque a Igreja de Cristo não pode errar!

    Problema complexo e tormentoso que municia a corajosa (e complexa) posição daqueles que sustentam a vacância da Sé de Pedro. A Igreja de Cristo sem Seu Vigário Supremo? Meu Deus!

    Como assim?????

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