Como era Santo Afonso no confessionário.

Vamos transcrever (na presente obra) esta bela página do Pe. Tellería, da vida de Santo Afonso que escreveu, com tanto esmero sobre nosso Pai:

“Nesse ministério de reconciliação, tinha Afonso seu estilo próprio, não muito diferente do que em tempos modernos empregava o santo cura d’Ars. A cordialidade de alma se unia ao seu gesto de espontaneidade  tipicamente napolitano. […] Quanto mais tímido e receoso se aproximava o pecador, maior parecia sua ternura de pai que Afonso demonstrava.

Santo Afonso Maria de Ligório.

Ei- dizia- coragem; vai fazer agora uma excelente confissão, diga-me tudo com liberdade, não te envergonhes de nada. Nem sequer importa que não tenha feito o exame (de consciência) a fundo; basta com que respondas ao que vou perguntar. Agradece a Deus porque te esperou até esse instante: a partir de agora terás que mudar de vida. Alegra-te, portanto, pois certamente Deus te perdoa se tens boa intenção. Esperou-te precisamente para te perdoar! Diga-me então, o que tens na alma.”

Assim confortado, revelava o culpado os segredos de sua consciência, não interrompia Afonso de ordinário, nem desmotivava o penitente com reprovações, nem fazia “caras” de escândalo; quando pediam alguma aclaração, respondia com uma frase de gravidade da culpa, normalmente esperava ao término da acusação dos pecados para intervir a fundo e aplicar a lei da integridade sacramental.

Cuidava logo de reforçar no penitente a dor de suas culpas e o propósito de emenda: “Meu filho, verdade que sua vida foi uma vida digna de condenação? Que mal te fez Jesus Cristo para que O tratasse assim? Se Jesus Cristo foi teu principal inimigo, teria tratado Ele pior? A um Deus que morreu por ti! Se tivesse morrido nesse tempo, qual seria seu fim eterno? Estaria condenado para sempre! Que achas disso? Se continuas vivendo dessa maneira, vai conseguir se salvar? Não vê que se condenarás? Ânimo, pois, meu filho, procura se converter agora, entregue-se a Deus, basta das ofensas até agora cometidas! Quero ajudar em tudo o que eu possa, vem procurar-me quando queira. Faça-se santo a partir de agora, recupera o ânimo! Oh, que belo é viver na graça de Deus!”

Por fim ajudava a fazer o ato de contrição, recomendava os remédios contra as recaídas e assinalava a penitência. Ainda nos casos que deveria negar ou indeferir a absolvição, fazia com termos delicados deixando a porta aberta à esperança: “Olhe, te espero tal dia: não deixes de vir, mostra-te corajoso como disse, reze à Virgem e vem me procurar. Se estou no confessionário se aproxima e te farei passar na frente antes que os demais; ou bem me chame e deixarei tudo para vir te escutar.”

Segundo afirmou no processo o Pe. Corsano: “ não tinha Afonso memória de ter despedido a ninguém sem o beneficio da absolvição.” (San Alfonso Maria de Ligorio, I , 703-704)

Extraído do livro: “Espiritualidad Redentorística, pelo P. Rogelio M. Fernandez, CSSR, 1959, Madrid, pág. 663-4.

6 comentários sobre “Como era Santo Afonso no confessionário.

  1. Lindo texto! Santo Afonso é um grande santo, que está sendo redescoberto. Algumas décadas atrás, pouco se falava ou lia do grande santo.

    Sobre a confissão, um confessor compreensivo e bondoso é uma grande dádiva de Deus. Se não me engano, São João da Cruz também falava que um confessor bondoso é melhor que um severo.

    Não sei como é em outras cidades e dioceses, mas na minha cidade as paróquias só têm um dia de confissão por semana; com exceção de uma paróquia que não vou citar. Ora isso é muito pouco!

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  2. Com toda certeza o Sacramento que transborda a infinita misericórdia de Deus Nosso Senhor é o da Penitência. Infelizmente tal grande tesouro se transformou em um mero ” escritório de reconciliação”, vezes desprezado pelos próprios padres que preferem tratar o pecado como uma mera condição subjetiva do pecador. Nos dias atuais não há mais pecado, não mais condenação eterna, ou melhor Deus não condena a ninguém. De fato, Deus não condena ninguém ao suplício eterno. Somos nós que escolhemos nossa sorte, nesse caso desgraça, eterna. Quando vemos que se aproxima da sagrada mesa, Eucaristia, muitas pessoas que publicamente estão em pecado mortal, e sem nenhum constrangimento comem e bebem para si a condenação, é de ficarmos com medo, pois sabemos muito bem que um só pecado mortal é suficiente para levarmos ao Inferno. Uma pessoa pode ter vivido seus 20, 50, 70, 100 anos no caminho do bem, mas no ultimo instante dessa vida cometeu um pecado grave, e não se arrependeu tudo estará perdido. Daí a necessidade de estarmos sempre nos vigiando, e ao menor descuido, nos arrependermos e recorremos ao sacramento da misericórdia. Tal sacramento só é eficaz quando antecedido pela penitência, o que se compreende a contrição, o arrependimento sincero, junto com o firme propósito de não mais pecar. Sem dúvida alguma um bom confessor, aquele que escuta e aconselha por caridade e não por mera “pena”, é um chamariz para que o penitente compreenda mais e mais a verdadeira caridade de Deus muito lhe foi perdoado porque muito amou. Quem verdadeiramente ama a Deus,segundo Santa Tereza, pode fazer o que quiser, logo não pecará. O horror ao pecado, mesmo o venial, deve fazer parte do nosso dia a dia, da nossa vida, pois todo e qualquer pecado é sim ofensa a Deus. Como viver um ano, um mês, um dia que seja ofendendo a Deus? O terceiro mandamento da Igreja, acredito que esteja valendo, diz para confessarmos ao menos uma vez por ano. O que é muito pouco, diante da bondade de Deus. Devemos nos confessar sempre que tivermos ofendido a Deus, e ainda que não tenhamos cometido um pecado mortal, devemos sempre procurar esse remédio que nós dá força para evitar e não nos apegarmos ao pecado. O mundo hoje é pura ocasião de pecado, seja deliberadamente, seja nos levando a conviver e aceitar o pecado. Como nos mantermos sempre livres do pecado, senão reconhecendo pela Confissão nossa fraqueza e nos submetendo ao Juízo Divino? Por mais que o padre negue ou absolva, se eu não estiver verdadeiramente arrependido, não estiver disposto e evitar novamente o pecado, de nada adiantará a absolvição, ou ao contrário o padre negar, mas se verdadeiramente eu me arrepender, a confissão será válida. É claro que para me aproximar da sagrada mesa eu preciso ter sindo absolvido pela Confissão, e se não tiver passado por ela, ou o padre negado a absolvição, não devo comungar sacramentalmente. De todo sorte, uma ótima forma de nos prepararmos para uma boa e santa Confissão é o hábito de toda noite antes de dormirmos fazermos um bom exame de consciência, e instigar em nós o verdadeiro arrependimento, assim estaremos sempre preparados para a vida eterna.

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  3. Discordo de Santo Afonso e prefiro padres às antigas… encarando o hora do Confessionário como intermináveis, sempre o mesmo Pai-Nosso, a mesma Ave-Maria, o mesmo Glória, ah e o Ato de Contrição que aprendeu na escolinha da Primeira Comunhão. Sou Bacharel em Direito e meu professor de Direito Penal, que dava aulas no oitavo semestre, hoje não mais um mero membro do Ministério Público, voltou dar aulas no primeiro semestre…. crime em planejamento ainda não é crime… o que essa molecada anda aprendendo no básico que, quando chega aqui, nem o ABC ainda sabe?

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  4. Lindo mesmo! Quem dera encontrássemos sacerdotes assim. Mas infelizmente, hoje em dia, grande parte deles se instala atrás de uma mesinha, pois nem confessionário existe mais, e querem se passar por psicólogos e não por sacerdotes.

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  5. Nas GLÓRIAS DE MARIA SANTÍSSIMA, o tradutor brasileiro em seu PREFÁCIO, testemunha: “Já velho e alquebrado, pediu uma vez o Santo que lhe fizessem a leitura de um livro piedoso. O Irmão que o assistia pôs-se a ler as ‘Glórias de Maria’. Interrompeu-o de repente o Santo com a pergunta: Mas quem terá escrito coisas tão belas sobre a Mãe de Deus? – Leu-lhe o Irmão o nome do autor: Afonso Maria de Liguori. Ferido em sua modéstia, Afonso tratou de outro assunto”.
    Na QUARTA INSTRUÇÃO do seu livro A SELVA, Santo Afonso diz que “os maus pregadores e os maus confessores são a ruína do mundo”. Depois, nessa mesma instrução, quando fala do Sacramento da Penitência, escreve as seguintes palavras: “Para ser bom Confessor, é preciso em primeiro lugar ter muita ciência”. “O ministério de Confessor é o mais importante e difícil de todos os ministérios”. “Ainda mesmo que o Confessor se veja na necessidade de diferir a absolvição, deve contudo despedir sempre o seu penitente com doçura, marcando-lhe o tempo em que se deve voltar, e apontando-lhe os remédios, de que deve fazer uso, a fim de se dispor para a absolvição”. Sobre a confissão das degredadas filhas de Eva: “Quantos Padres, em ocasiões tais, têm perdido a sua alma”! E mais isso: “Precisa também de muita firmeza para repreender os penitentes e recusar-lhes até a absolvição, quando se apresentarem mal dispostos, e isto apesar da nobreza e poderio deles, embora corra perigo de ser taxado de indiscreto ou ignorante”. A essa altura, Santo Afonso primeiro recorre à autoridade máxima, citando Eclo 7,6; e, a seguir, à autoridade mínima, dando um exemplo de um Padre Redentorista, que “tendo uma vez recusado com justiça a absolvição a um Sacerdote, a quem confessava na sacristia, este desgraçado levantou-se e não se envergonhou de lhe dizer de cara: ‘Seja, não passas de uma besta’”. Desse lamentabilíssimo incidente, resta-nos de Santo Afonso um comentário: “Não há remédio; estão expostos a estas aventuras os pobres Confessores, obrigados a recusar ou diferir a absolvição aos penitentes indispostos de algum modo; ou porque não querem sujeitar-se às justas obrigações que lhes impõem, ou porque são recidivos, ou se encontram em ocasião próxima de pecado”. A propósito, Santo Afonso, n’A SELVA, vai examinar muito brevemente, porém, magistralmente, como sempre, o comportamento do Confessor com os penitentes ocasionários e recidivos. Afirma serem “igualmente perigosos para o Confessor os dois extemos: o excessivo rigor e a demasiada indulgência para com os penitentes”. “Muitos Confessores pecam por demasiada indulgência, e assim causam um mal, que chamaremos não só grande, mas grandíssimo”. “É igualmente certo que o excessivo rigor é ainda mais funesto às almas”. Fundamenta com Ez 34,4. E cabe o cinco também. Santo Afonso, sobre a certeza que o Confessor tiver sobre o pecado mortal, é mais taxativo e retumbante: “Quando o Confessor vir claramente, de modo a não poder duvidar, que tal pessoa peca gravemente nesta matéria, não a absolva enquanto não se emendar”. Na breve análise (mas completa) que faz Santo Afonso n’A SELVA sobre ocasionários e recidivos, aponta com precisão o caso em que “Confessor certamente peca”. “Geralmente falando, quando se trata do perigo de pedados formais, e sobretudo de pecados vergonhosos, quanto mais o Confessor usar de severidade para com os seus penitentes, melhor contribuirá para a salvação da sua alma. Pelo contrário, quanto mais indulgente se mostrar, mais duro se lhes tornará. Dos Confessores demasiado indulgentes dizia Santo Tomás de Vila Nova, que são desumanamente humanos – impie pios. Tal caridade é contra a Caridade”. É diabólica ou satânica ou demoníaca. Certíssimo sempre, Santo Afonso. Basta dizer que são humanos, ainda que humanamente humanos, quia non sapis ea, queae Dei sunt, sed ea quae humanum (Mt 16,23). Leia-se e se estude a QUARTA INSTRUÇÃO d’A SELVA.

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