Coluna do Padre Élcio: Sobre Problemas do Apostolado Moderno – Questões políticas, econômicas e sociais.

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com, 25 de maio de 2019

Caríssimos, concluímos com este post a aposentação das 11 proposições (de 70-80) falsas ou ao menos perigosas acompanhadas de imediato das proposições certas respectivas e das explanações. São excertos da Carta Pastoral Sobre Problemas do Apostolado Moderno, que contém um catecismo de verdades oportunas que se opõem a erros contemporâneos.

200px-dom_mayer_em_cerimc3b4nia_de_coroac3a7c3a3o_da_virgem_mariaA proposição falsa ou ao menos errônea será escrita em itálico;  a proposição certa, em negrito.As 11 proposições fazem parte do VIII capítulo deste catecismo. Esta carta pastoral foi escrita em 06/01/1953 por D. Antônio de Castro Mayer, então bispo da Diocese de Campos, RJ, hoje de saudosa e santa memória. “Defunctus adhuc loquitur”. Embora escritas na metade do século passado, são inteiramente oportunas essas considerações, porque o comunismo e o socialismo, embora por vezes se procurem  mascarar, porém, são sempre os mesmos, pois intrinsecamente maus; enquanto, por outro lado, a doutrina autêntica da Santa Madre Igreja é perene e viva, porque é a VERDADE, isto é, a PALAVRA DE JESUS CRISTO que permanece para sempre.

Demos, pois, a palavra a D. Antônio de Castro Mayer:

79 (Proposição falsa): A democracia cristã consiste no governo do povo, isto é, da maioria.

(Proposição certa): “Democracia cristã” é expressão usada para indicar qualquer governo que promova o bem comum sob a lei de Deus, seja esse governo monárquico, aristocrático ou democrático. É o que ensina Leão XIII quando diz que a democracia cristã “não deve absolutamente ter em vista preferir e preparar uma forma de governo em substituição a outra” (Encíclica “Graves de Communi”). A forma democrática de governo é compatível com a doutrina da Igreja na medida em que significa a participação do povo nos negócios públicos. Mas, por “povo” a Igreja não entende a maioria numérica, anorgânica, isto é, a massa; porém toda a população, atendidas as legítimas diferenciações de classe, de região, etc. Assim, a democracia legítima não é o domínio das classes mais numerosas sobre as menos numerosas, da massa sobre o escol, mas a justa e proporcionada influência das classes, famílias, regiões e grupos sociais, nos negócios públicos.

EXPLANAÇÃO

A diferença entre a concepção católica e a concepção corrente de democracia procede de uma maneira diferente de entender a palavra “povo”. Para a Igreja, o povo é em certo sentido o contrário da massa. Pio XII diz: “Povo e multidão amorfa, ou como se costuma dizer, massa, são dois conceitos diversos. O povo vive e se move por vida própria; a massa é por si mesma inerte e não pode ser movida senão do exterior. O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais  –  em sua própria posição e segundo seu modo próprio  –  é uma pessoa cônscia das respectivas responsabilidades e convicções. A massa, pelo contrário, espera o impulso do exterior, fácil joguete nas mãos de quem quer que lhe explore os instintos e as impressões, pronta a seguir, alternadamente, hoje esta bandeira e amanhã aquela. Da exuberância de vida de um verdadeiro povo a vida se difunde, abundante, rica, no Estado e em todos os seus organismos, comunicando-lhes com vigor incessantemente renovado a consciência de sua própria responsabilidade, o verdadeiro sentido de bem comum” (Alocução de Natal de 1944).
Ora, para o comum dos democratas o povo é precisamente o que Pio XII chama de massa. É o que se deduz das palavras do Papa gloriosamente
reinante: “Por toda a parte, atualmente, a vida das nações está desagregada pelo culto cego do valor numérico. O cidadão é eleitor. Mas, como tal, não é ele na realidade senão uma das unidades cujo total constitui uma maioria ou uma minoria, que o simples deslocamento de algumas vozes, quando não de uma só, basta par inverter. Do ponto de vista dos partidos, o leitor não conta senão por seu poder eleitoral, pelo concurso que seu voto dá; de sua situação, e de seu papel na família e na profissão não se cogita” (Alocução aos dirigentes do Movimento Universal pró-Confederação Mundial, em 1951).
Escrevendo sobre a democracia no sentido aceitável da palavra, convém acrescentar que ela jamais se identifica com o mito revolucionário da soberania popular. Todo poder vem de Deus. O povo  –  e por “povo” entenda-se o que acima foi definida em oposição à massa  –  apenas pode escolher os que governarão com autoridade que lhes vem de Deus.

80 (Proposição falsa): Os católicos devem preferir o socialismo ao liberalismo.

(Proposição certa): Os católicos não devem aceitar o liberalismo, nem o socialismo.

EXPLANAÇÃO

Segundo a doutrina da Igreja, tanto o regime liberal quanto o socialista são maus, e quando levados a suas últimas consequências produzem a completa subversão da vida social.
Os católicos devem, pois, promover a instauração de um regime que se ache em um terreno inteiramente diverso.  –  A sentença impugnada tem
o defeito de situar o liberalismo e o socialismo como se eles fossem um o contrário do outro. Na realidade, como o afirma Leão XIII, o liberalismo é causa do socialismo, e, na concepção leiga e anorgânica de nossos tempos, é impossível sair de um extremo sem cair no outro.
Considere-se uma sociedade entregue ao paganismo. Se a autoridade se mostra liberal e condescendente, se as leis concedem muita facilidade de movimentos aos particulares, o desencadear-se assustador das paixões produzirá por força a anarquia. A manutenção da ordem exige uma tal multiplicidade de leis, decretos, regulamentos, tantas intervenções públicas para assegurar a realização das incontáveis funções estatais, que o cidadão isolado, desarmado, aterrorizado, se tornará em pouco tempo um grão de poeira, um escravo inerme diante do Estado Moloch.
Os fundamentos da verdadeira solução, oposta ao liberalismo e ao socialismo, se encontram nas seguintes palavras do Soberano Pontífice [Pio XII]: “O Estado não contém em si e não reúne mecanicamente em um território dado, uma aglomeração amorfa de indivíduos; ele é, e deve ser na realidade, a unidade orgânica e organizadora de um verdadeiro povo” (Alocução de Natal de 1948).