Cardeais atacam sínodo e miram o papa Francisco.

Religiosos alemães dizem que evento sobre Amazônia seria uma ‘desculpa’ para tratar de política, abolição do celibato e sacerdócio feminino.

Por José Maria Mayrink, O Estado de S.Paulo, 11 de agosto de 2019 – As críticas de cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia e indiretamente ao papa Francisco deverão tumultuar o encontro em Roma, de 6 a 27 de outubro. A reunião de alguns dos principais nomes da Igreja Católica, já alvo de críticas políticas, também vira palco do confronto interno em relação ao atual pontificado.

O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé (1912-1917), Gerhald Muller, de 71 anos, e seu colega Walter Brundemuller, de 90 anos – um dos signatários da carta Dubia, que pede esclarecimentos sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual se discutem situações como a comunhão dos divorciados -, disseram que o documento sobre o Sínodo contém heresia, estupidez e apostasia.

Papa Francisco

Prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé acusa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja Foto: MAURIZIO BRAMBATTI/EPA/EFE

No livro recém-publicado Römische Begegnungen (Encontros em Roma, em livre tradução), Muller acusa o papa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja. No texto, há amplas críticas a aproximações com “política” e “intrigas”, além de falas sobre uma secularização da Igreja ao modelo protestante. São amplas as queixas, por exemplo, à celebração dos 500 anos da Reforma (em 2017), que teve em seu final a presença do pontífice.

Marxismo

Em relação ao encontro de outubro, Muller concentra suas objeções aos conceitos de cosmovisão (com acenos a mitos e rituais evocando a “mãe natureza”), ecoteologia, cultura indígena e ministério sacerdotal, com a possibilidade de ordenar padres casados, presente no instrumento de trabalho. “A cosmovisão dos povos indígenas é uma concepção materialista semelhante ao marxismo e não é compatível com a doutrina cristã”, afirmou o cardeal, em entrevista em 17 de julho. Àqueles que por acaso veem nele um defensor do eurocentrismo, Muller afirma que por 15 anos visitou o Peru, em viagens regulares de ao menos três meses. Nessas, manteve contatos constantes com Gustavo Gutierrez, principal teórico da Teologia da Libertação.

O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé adverte que a tarefa dos cristãos não é preservar a natureza como ela é, mas ter a responsabilidade pelo progresso da humanidade, na educação e na justiça social, pela paz. Os homens, incluindo os índios da Amazônia, são assim chamados a colaborar com a vontade salvífica de Deus.

“É impossível esconder o fato de que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas”, afirmou o cardeal Brundemuller.

O Sínodo da Amazônia terá cerca de 250 participantes, dos quais 61 brasileiros, sem contar os convidados do papa. Estarão presentes os bispos titulares dos nove Estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os países estrangeiros cortados pela floresta são Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Dom Cláudio

O cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, d. Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e nomeado pelo papa relator-geral do sínodo, não comentou ao Estado as críticas dos cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho. Mas seu pensamento está em uma entrevista concedida ao padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica, e publicada agora no semanário alemão Stimmen der Zeit.

Para Hummes, o foco da próxima reunião está em criar “uma Igreja indígena para as populações indígenas” e “inculturada”. Ele ainda destaca que o evento responde a um desejo do papa Francisco, sobre o qual conversavam – e “rezavam” – desde 2015.

Francisco diz que ordenação de casados não será tema central

“Absolutamente, não.” Em uma clara resposta a setores da Igreja que levantam dúvidas sobre o sínodo, o papa afirmou esta semana que a possibilidade de ordenar “viri probati” – normalmente idosos, ligados a comunidades amazônicas e de virtude comprovada – não será tema central do encontro. “É simplesmente um ponto do Instrumentum Laboris. O foco são os ministros da evangelização e as diferentes formas de atuação”, disse em entrevista publicada anteontem pelo jornal italiano La Stampa.

Mais diretamente, o pontífice afirmou que essa reunião é filha direta de sua encíclica verdeLaudato Si, na qual expõe o planeta como uma casa comum. “Quem não a leu não entenderá o sínodo”, diz Francisco. O papa defendeu a Amazônia como parte importante a ser preservada, a exemplo dos oceanos. Sua perda, segundo ele, poderia levar à redução da biodiversidade e ao surgimento de doenças mortíferas.

Na entrevista, o chefe da Igreja Católica não fugiu das discussões políticas na região, destacando por exemplo que os governos locais devem responder diretamente sobre “as minas ao ar livre” que envenenam os rios, por exemplo. “A ameaça à vida dessas populações e desse território envolve interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, afirmou.

No texto divulgado na Alemanha, na semana passada, o cardeal d. Cláudio Hummes também afirmou que é necessário confrontar “resistências” existentes “tanto na Igreja quanto fora dela”. Para ele, “ interesses econômicos e o paradigma tecnocrático se opõem a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se impor pela força”. Ele fala ainda de crimes ambientais que ficaram impunes e destaca a necessidade de o encontro tratar de direitos humanos.

Medalha

Uma medalha cunhada especificamente para o sínodo foi apresentada anteontem, na qual aparece uma imagem do trabalho missionário da Igreja na Amazônia via rito do batismo e da eucaristia.

Em seu texto oficial, o Vaticano alega que “o enfoque missionário na Amazônia exige mais do que nunca um magistério eclesial exercido na escuta do Espírito Santo, que seja capaz de assegurar tanto a unidade como a diversidade e, portanto, uma cultura de encontro em harmonia multiforme”.

11 comentários sobre “Cardeais atacam sínodo e miram o papa Francisco.

  1. “Mais diretamente, o pontífice afirmou que essa reunião é filha direta de sua encíclica verde, Laudato Si, na qual expõe o planeta como uma casa comum. “Quem não a leu não entenderá o sínodo”, diz Francisco. “—-
    Será?
    E os que leram Amoris Laetitia, não entenderam e expuseram a dubia? Estamos falando de quatro cardeais e o resto do povo católico.
    Quem não entende e pergunta não recebe resposta de Francisco.

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  2. A religião não tem que mudar. Quem tem que mudar são os homens. O problema é a humanidade e não Jesus Cristo.

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  3. Tarde piaram esses cardeais!
    Às vezes sou inclinado a pensar que, considerando que Deus escreve certo por linhas tortas, e quando permite o mal é porque há de tirar um bem maior, sou inclinado a pensar que Francisco presta à Igreja bom serviço.
    A Igreja dita conservadora de JP2 e de Ratzinger, a Igreja “do meio cá meio lá”, a Igreja em cima do muro, a Igreja muralista, a Igreja do beijo do Corão e do indecente festival de Assis, a Igreja do catecismo “amarelinho”, como se diz no Brasil, é uma igreja morta. Francisco evidenciou sua inconsistência, ostentou, coberto de razão, suas contradições.
    De modo que agora Francisco, por ocasião do Sínodo da Amazônia,sobre as ruínas dessa igreja nascida das ambiguidades do Vaticano II e precocemente decrépita em conseqüência dos compromissos e dos conchavos assinados desde os tempos de Montini com o objetivo de neutralizar a reação dos verdadeiros católicos fiéis ao magistério tradicional dos papas, agora Francisco, construindo um espantoso monumento sobre essas ruínas, obrigará os católicos a ver a raiz do drama vivido pela Igreja há mais de 50 anos e a tomar uma decisão:
    Ou abraçam abertamente o modernismo, com o Vaticano II e todas suas conseqüências, como a prostituição do festival de Assis, Amoris Laetitia, Sínodo da Juventude LGBT, Sínodo gnóstico da Amazônia panteísta, com seu culto da natureza e suas sacerdotisas pagãs,
    Ou rejeitam o Vaticano II e se declaram católicos fiéis da Sagrada Tradição Imutável da Igreja.
    A Igreja não pode ser meio tradicional e meio modernista, como a quiseram Montini, JP2 e Ratzinger.

    Os verdadeiros amigos do povo não revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas.

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    1. P. J: F. Sou obrigada, em vários pontos a concordar consigo, não sabe. Quando “um projecto” é de Deus, permanecerá; Quando não é de Deus cairá, por si mesmo, de acordo com o que afirmava Gamaliel, lembra? Então quem sabe? “esta história” acabará, não tarda?

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    2. A revolução precisa de um recuo conservador para voltar depois com mais força, vemos isso várias vezes na história, como por exemplo na França. Depois revolução francesa veio o recuo conservador da restauração bourbônica, onde se implementou uma monarquia liberal na França, e depois disso veio a revolução de Julho que coroou o Luís Filipe I (filho do grão-mestre maçom Luís Filipe II, Duque de Orleães)

      Enfim, pelo visto na Santa Igreja Católica acontece o mesmo, logo após o concílio Vaticano II, que nas palavras do Cardeal Suenens, foi a revolução francesa na Santa Madre Igreja. Ora, logo se o CVII era revolução francesa na Igreja, seria preciso de uma restauração bourbônica na Igreja, e foi isso que foram os pontificados dos Papas João Paulo II e Bento XVI, e dessa restauração veio o Papa Francisco, que seria então o nosso Luís Filipe I.

      Curioso que o Papa Bento XVI abdicou dando assim chance de Jorge Mario Bergoglio se tornar Papa, assim como o Carlos X da França abdicou para que Luís Filipe I se tornasse Rei da França.

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  4. Os objetivos básicos desse circo-teatro denominado “Sínodo da Amazonia”, que teria sido convocado e preparado pelo assessores nada respeitaveis do papa Francisco, evidentemente que esse compartilharia dessa historia mal contada, também será de tentar fazer ressurgir das cinzas as esquerdas da América Latina, a PATRIA GRANDE da URSAL-FORO DE S PAULO, tentar o possível nesse sentido, graças aos apoios delas, apesar de em baixa, cada vez mais rechaçadas pelo povo de se tratarem de grupos compostos apenas por bandidos do PCC-FARC-CV-FDN-PT etc, esse último golpista diferenciando-se desses anteriores, vestindo ternos e de colarinhos brancos – temas teatrais são com as esquerdas mesmo, entendem a fundo de artes cênicas, também!
    Além disso, criar uma falsa missa indígena, liberação dos preservativos, como a camisinha, permitir a comunhão deles sem efeito, liberando-a aos divorciados irregulares, aos adúlteros, a implantação do sacerdocio feminino, liberar as uniões gays, leigos fazendo homilias nessas missas sem efeito algum da Transubstanciação e sem vínculos quaisquer com a Igreja católica de 2000 anos, portanto, + 1 seita, como das 10 001 protestantes!
    …“Livros maus serão abundantes na terra e os espíritos das trevas espalharão por toda parte um relaxamento universal em tudo que concerne ao serviço de Deus. Os chefes, os líderes do povo de Deus negligenciaram a oração e a penitência, e o demônio obscureceu sua inteligência. Eles tornaram-se estrelas errantes que o velho demônio arrastará com sua cauda para fazê-los perecer.
    Sim, os sacerdotes estão pedindo por vingança, e a vingança paira sobre suas cabeças. Ai dos sacerdotes e pessoas consagradas a Deus, que por sua infidelidade e suas vidas perversas estão crucificando o meu Filho de novo!” – Virgem de La Salette, 19/09/ 1846.
    O papa Eugênio IV, texto infalível, proclamado no ano de 1441 A. “A Santa Igreja Romana firmemente crê, professa e prega que todos fora da Igreja Católica, não apenas pagãos, mas também judeus, hereges e cismáticos, não podem tomar parte na vida eterna, mas irão para o fogo eterno ‘que foi preparado para o demônio e seus anjos’ a não ser que se unam a Ela antes da morte[…]”.

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  5. As profecias estão se cumprindo…
    Somos os apóstolos dos últimos dias. Os tempos da Grande Tribulação chegaram!
    Há sinais na natureza, no mundo e na Igreja.
    Na Natureza: terremotos, pragas, enchentes…
    No mundo: Nova Ordem Mundial – NOW, aparecimento do Anticristo, rumores de Guerra (3ª Grande Guerra), crise econômico-social- política…
    Na Igreja Católica Romana: a apostasia atingiu o ápice da hierarquia (antipapa: o falso profeta, do Apocalipse), o fim do Vaticano (como instituição) está próximo, a exemplo da destruição do Templo de Salomão.
    Em breve, retornaremos às catacumbas.
    Quem viver, verá!

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