Por FratresInUnum.com, 22 de outubro de 2019 – Toda vitória começa no campo semiótico, embora a maior parte das pessoas, por conta da miopia histórica, não consiga captar a profundidade dos símbolos.
Em 7 de setembro de 1303, tropas do rei da França, Felipe, o Belo, invadiram o palácio papal de Anagni e, com a mão coberta por uma luva de ferro, deram um tapa no rosto do Papa Bonifácio VIII, o qual caiu do trono para o chão. O episódio ficou conhecido como “Atentado de Anagni” e, mesmo tão circunscrito, foi determinante para o fim da cristandade medieval: o declínio do poder temporal do papado começou exatamente a partir daí e, de certo modo, estamos vivendo as consequências daquele ato até os dias de hoje.
Na manhã de ontem, dia 21 de outubro de 2019, dois rapazes foram à Igreja de Nossa Senhora em Transpontina, perto do Vaticano, onde estão acontecendo contínuos cultos pagãos por ocasião do Sínodo da Amazônia, e, em um ato de coragem sem precedentes, tomaram imagens da Pachamama e as jogaram no Rio Tibre. Todo o ato foi filmado pelos próprios jovens e o vídeo viralizou pelas redes sociais, provocando comemorações eufóricas por católicos de todo o globo, para desespero completo dos cúmplices desse Sínodo vergonhoso.
A reação de susto do Vaticano foi indisfarçável. Eles acionaram a polícia, com medo de “atentados” semelhantes. Seguiu-se uma verdadeira enxurrada de comentários louvando o ato nas redes sociais, inclusive nas páginas dos órgãos de comunicação do Vaticano. A patrulha bergogliana começou um inútil esforço concentrado para intimidar as comemorações populares, valendo-se de apelações moralistas e politicamente corretas, que foram solenemente ignoradas pelos fiéis, cuja produção de memes comemorativos excedeu-se em criatividade.
A insubordinação do laicato consciente à traição da hierarquia não pode mais ser ignorada. O gesto dos dois jovens repercutiu não apenas pelo respaldo do povo católico, mas sobretudo como representação de toda uma resistência ativa, engajada, batalhadora, que não cessa de se opor ao desmonte da Igreja e que vai romper todos os limites meramente institucionais, não se permitindo mais amordaçar, mas partindo para atitudes concretas.
Os dois moços personificaram a indignação de todos os fiéis e fizeram aquilo que todos queriam fazer. Assim como Nosso Senhor expulsou os vendilhões do Templo e como os Macabeus destruíram os altares da idolatria, aqueles dois jovens entraram na sua casa, na Igreja Católica, e jogaram no rio aquela “abominação da desolação”, que jamais deveria ser cultuada em um templo cristão.
A Igreja sempre destruiu as imagens dos deuses pagãos! Inclusive, no centro da Praça de São Pedro, a poucos metros dali, está um obelisco sobre o qual permanece fincada uma relíquia da Santa Cruz de Nosso Senhor, para simbolizar a vitória de Cristo sobre toda a idolatria do paganismo, e o templo de Santa Maria sobre Minerva, em que a Igreja destruiu todo o culto pagão a Afrodite e o substituiu pelo culto do Verbo Encarnado e de sua Mãe Santíssima.
Atirando aquele ídolo ao rio, os dois cristãos deram muito mais que um tapa em todo o Sínodo da Amazônia, e o festejamento do ato em todo o orbe católico dá provas disso. O livro do Apocalipse diz: “Então, um anjo poderoso tomou uma pedra do tamanho de uma grande mó de moinho e lançou-a no mar, dizendo: ‘Com tal ímpeto será precipitada a Babilônia, a grande cidade, e jamais será encontrada’” (Ap 18, 21).
Não há mais retorno. Francisco perdeu completamente o controle sobre o povo. A máscara caiu. Não conseguem mais sustentar a narrativa da tal eclesiologia do Povo de Deus: eles abandonaram o povo há muito tempo e se tornaram uma sinagoga restrita, autista, sectária, autoritária, que fala apenas para si mesma.
De agora em diante, o teatro se tornará cada dia mais flagrante, menos convincente. E os promotores dessa nova igreja, malgrado sua euforia, terão de conviver com o odium plebis, com um povo que não lhes dará descanso e não cessará de denunciar a sua impostura.