Relativismo moral e ecologismo gestados pela UNESCO: “o engano com astúcia que tende levar ao erro”.

Por Hermes Rodrigues Nery
 
Em 1989, estava em Paris, pouco antes da queda do muro de Berlim, quando alguém me dissera: “Está começando o século 21”. Na ocasião, eu havia estado com o então presidente da UNESCO, Jean d’Ormesson,  na sede da UNESCO, em Paris, com os amigos Daniel Mèrigoux e Marcelo Yamamoto. Tomei conhecimento então de um projeto da UNESCO, no campo educacional, que visava uma radical reengenharia social anticristã e gestar para isso uma nova política global para o século 21. Não tinha como compreender, na época, do que se tratava, porque optou-se por uma revolução semântica para isso, alterando o significado das palavras para enganar os desinformados. Nesse sentido foram concebidas as grandes conferências internacionais promovidas pela ONU, nos anos 90. O primeiro passo para esse projeto totalitário de poder global foi dado pouco depois, em fevereiro de 1991, cujas premissas ideológicas e diretrizes para um novo ordenamento global emergiu no documento “Diez Problemas Prospectivos de Población – Documento de Trabajo, Caracas, Febrero,1991″, mencionado por Juan Cláudio Sanahuja, em seu livro “Poder Global e Religião Universal”: “Para realizar o projeto de poder global com um pensamento único, modificando a cultura e a religião dos povos e colonizando as consciências para formar cidadãos dóceis à Nova Ordem Mundial, em 1991, a UNESCO trabalhava com dois projetos: o de uma ética universal de valores relativos (…) e o de uma ética universal de desenvolvimento sustentável“. 

O relativismo moral (com termos e conceitos cada vez mais ambíguos nos documentos de OnGs e instituições governamentais) e o desenvolvimento sustentável (fomentado pelo alarmismo dos ativistas ecológicos) servirão de base ideológica para moldar uma nova cultura, que em nome da tolerância religiosa e da preservação da natureza, buscou dissolver as convicções e identidades culturais e religiosas, especialmente a identidade católica. Uma década e meia depois do intenso trabalho de disseminação dessas duas éticas universais e artificiais, já se sentiam os efeitos devastadores principalmente dentro da Igreja Católica. Foi o que levou o então Cardeal Joseph Ratzinger, em 18 de abril de 2005, na missa Pro Eligendo Romano Pontífice, a afirmar sua clássica constatação do fenômeno: 
 
 
“Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento… A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao coletivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar “aqui e além por qualquer vento de doutrina”, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.” [http://www.vatican.va/gpII/documents/homily-pro-eligendo-pontifice_20050418_po.html]
 
Além da ética universal dos valores relativos, a UNESCO se empenhou mais intensamente para a difusão da ética do desenvolvimento sustentável, tanto uma quanto outra com premissas equivocadas: o engano com astúcia “que tende levar ao erro”. O ecologismo onusiano, bastante sedutor, em muitos aspectos, contradiz o ensinamento da Igreja sobre a “ordem da Criação”, que deve ser respeitada a partir do “cuidado da natureza humana”, pois a ordem da Criação não supõe o equívoco do igualitarismo (erro esse já manifestado nas utopias políticas revolucionárias dos tempos modernos).
 
Afirmou Bento XVI, em dezembro de 2008, que a Igreja tem também responsabilidade pela criação, dizendo: “deve defender não só a terra, a água e o ar como dons da criação que pertencem a todos. Deve proteger também o homem contra a destruição de si mesmo (…) Quando a Igreja fala da natureza do ser humano como homem e mulher e pede que se respeite esta ordem da criação, não está expondo uma metafísica superada”. Por isso, faz parte do projeto de poder global da ONU esvaziar a fé católica de seu real significado, para introduzir com eufemismos uma outra concepção de natureza (que visa, sim, superar a metafísica católica), daí a estratégia de aliar ecologismo e sincretismo panteísta, para alcançar os fins de manipulação das consciências. Isso sim, uma “colonização ideológica” das consciências, para que também os católicos (desinformados desse processo de engano e astúcia) sejam levados a aceitar docilmente o novo paradigma cultural relativista da Nova Ordem Mundial. Daí a decisão chocante de se buscar introduzir o conceito de “pecado ecológico” no Catecismo da Igreja Católica, tendo em vista esse contexto.
 
Até o pontificado de Bento XVI, a agenda gestada nas conferências internacionais da ONU, foi criticada e rejeitada pela Igreja Católica. Mas após a sua renúncia, e com a ascensão de Francisco, o Vaticano, através da Pontifícia Academia das Ciências, abriu escancaradamente as portas para tal projeto, causando indignação e perplexidade entre os católicos, e também confusão no seio da Igreja. Os bispos, em massa, acataram tal engano (“a astúcia que tende a levar ao erro”), e em vez de defenderem a fé católica de tão grande ameaça, instrumentalizam a Igreja para tais fins, deixando os católicos atônitos, sem saber o que fazer e como lidar com essa situação. Infelizmente, é preciso reconhecer que “o engano com astúcia que tende a levar ao erro” foi introduzido não apenas na encíclica ecológica Laudato Si (a ética universal do desenvolvimento sustentável), como também em outros documentos, como em Amoris Laetitia (com aspectos da ética universal dos valores relativos). Com o Sínodo da Amazônia ficou evidente a determinação de colocar em execução tal projeto, com um desvio de propósito da missão da Igreja, sem precedentes na História, com esta proporção.
 
Francisco afirmou que pretende introduzir o conceito de “pecado ecológico” no Catecismo da Igreja Católica. Tudo isso tem causado angústia e aflição entre os católicos. É um erro isso, alguém tem que dizer isso: é um erro. Muitos bispos e cardeais deixam assim de serem baluartes da defesa da fé católica e se tornam reféns da agenda da ONU, gestada pela UNESCO, nos anos 90. A pergunta que se faz: o que fazer? Como dizer alto e em bom som que trata-se de um erro? Essas duas éticas impregnadas nos documentos do atual pontificado, agem como dissolvedoras da são doutrina católica. Em maio de 2020, Francisco anunciou um encontro de líderes mundiais por um “Pacto Global pela Educação”, com as premissas ideológicas alinhadas com a UNESCO.  Os Cardeais que acompanham tudo isso, sem requererem a correção de rota, pecam gravemente por omissão e conivência, por não defenderem a fé católica de ameaças tão graves. Enquanto católico apostólico romano, indagamos: a quem recorrer se o próprio papa Francisco é o primeiro a abraçar com entusiasmo tal equívoco?
Sim, pela fé temos a resposta: somente Deus, Todo Poderoso – como professamos no Credo – poderá agir pela nossa salvação, pois Nosso Senhor Jesus Cristo nos prometeu: “As portas do inferno não irão prevalecer” (Mt 16,18).
 
Hermes Rodrigues Nery é Coordenador do Movimento Legislação e Vida. Email: prof.hermesnery@gmail.com

4 comentários sobre “Relativismo moral e ecologismo gestados pela UNESCO: “o engano com astúcia que tende levar ao erro”.

  1. Não existe pecado ecológico.
    Isto é grossa besteira.
    Os pecados são os dos 10 mandamentos e suas derivações, os pecados capitais e o pecado original redimido pelo batismo e que corresponde ao primeiro mandamento. Mais nada.
    O resto é invenção e grossa heresia, devendo ser combatido mesmo por “católicos atônitos”.
    O que temos hoje dentro dos muros do Vaticano, não é mais a Igreja Católica Apostólica Romana.
    Agora é a Igreja Universal Bergólica Onusiana.
    Cabem aos católicos verdadeiros agora, definir onde ficará a Santa Sé Católica Apostólica Romana.

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    1. ” Não existe pecado ecológico ” você afirma. E está correto. Antes disso tentaram nos engambelar com a estória do ” pecado social ” que também não existe. Os pecados são os dos 10 mandamentos e suas derivações. Exato, preciso, sucinto e verdadeiro. E ponto.

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