Um caminho sem retorno? O Estado avança sobre os direitos da Igreja.

Por FratresInUnum.com, 30 de abril de 2020 — Apesar das manifestações do Papa Francisco nos últimos dias, em alinhamento com a política de Estado da Itália, do Primeiro Ministro Giuseppe Conte, no sentido de manter-se a proibição do culto público em todo o território italiano, os bispos continuam a insurgir-se contra este abuso de autoridade, contra o atentado à liberdade de culto reconhecida a todos os cidadãos.

É muito importante tomar ciência destes fatos, pois os bispos de vários países em que o regime de quarentena foi mais rigoroso percebem que a concessão feita lhes custará muito caro e que a dificuldade de retomada das missas se impõe quase que por princípio por parte dos governos laicistas.

Infelizmente, existe uma miopia extraordinária por detrás do entreguismo bom-mocista dos nossos pastores. Eles são incapazes de enxergar um palmo à sua frente e, obedecendo bovinamente as indicações politicamente corretas da Conferência Episcopal, por puro medo de que isso “pegue mal” em relação aos outros bispos, acabam cedendo de maneira complacente aos avanços dessa intromissão ditatorial, ao invés de garantirem nem que seja o mínimo de liberdade de culto aos seus fieis. Faça-se a devida ressalva a alguns poucos bispos que começam a permitir as celebrações, ainda reticentes sobre qual será a reação de seus regionais.

Há algumas semanas, poder-se-ia alegar que não se estava percebendo o que iria acontecer. Agora, já está suficientemente claro. A hierarquia, em sua maioria, cedeu nos princípios e isso poderá custar muito caro para todos os fieis.

Manifeste-se. Continue solicitando uma reação por parte dos seus bispos.

Consequências da pandemia chinesa na vida religiosa italiana.

Por Guido Vignelli (*), Corrispondenza Romana, 29 de abril de 2020 | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com

O governo suspende a liberdade religiosa

As restrições devidas à epidemia causada pelo “vírus chinês” estão produzindo graves consequências na sociedade italiana, não somente nos campos sanitário, econômico e político, mas também no religioso.

Por mais de dois meses, o governo impôs “a suspensão de manifestações ou iniciativas de qualquer natureza, de eventos e de qualquer forma de reunião em locais públicos ou privados, mesmo se realizadas em locais fechados e abertos ao público” (decreto-lei nº 6 de 23-2-2020). Portanto, foi proibida qualquer forma de reunião que não fosse necessária por motivos sérios de cuidado da saúde, alimentação ou trabalho indispensável para a coletividade. Isso resultou no fechamento de todos os edifícios e instalações utilizados para fins de lucro, cultura ou entretenimento; apenas hospitais, casas de repouso, abrigos para idosos, escritórios públicos, supermercados e… tabacarias puderam permanecer abertos (o Estado de fato ganha com a venda de cigarros e com a loteria).

Posteriormente, o governo especificou que “ficam suspensas as cerimônias civis e religiosas”, incluindo procissões, orações públicas, peregrinações, bênçãos pascoais, até as Missas e a administração dos Sacramentos (decreto de 8-3-2020, art. 1º, letra i, art. 2, letra v). Além disso, os padres são proibidos de entrar nos hospitais para ajudar os doentes e moribundos. As atividades, os locais e o pessoal dedicado ao culto e à santificação foram comparados com aqueles dedicados ao lucro, cultura ou entretenimento.

O episcopado se submete ao governo

Antes mesmo de um pedido do governo, a Conferência Episcopal Italiana (CEI) determinou o fechamento de locais de culto e a suspensão de funções litúrgicas e cerimônias religiosas, manifestando assim “a vontade de fazer sua parte para contribuir com a proteção da saúde pública” (Declaração de 8-3-2020). A hierarquia eclesiástica permitiu assim o que nunca havia acontecido no passado, nem mesmo durante a terrível epidemia “espanhola” de 1918-1920 ou em períodos de violenta perseguição à Igreja.

Dessa maneira, o mandamento divino de “santificar as festas” foi implicitamente substituído pelo mandamento secular “fique fechado em casa”; a “Igreja em saída”, para cuidar do “hospital de campanha do mundo”, retirou-se para os conventos e sacristias; o “ministério de acompanhamento” foi suspenso por problemas de saúde; o “anúncio profético” se transformou em uma retórica consoladora e submissa.

Em um primeiro momento o Papa confirmou a diretiva da CEI e, para dar exemplo, fechou as basílicas da Cidade Eterna aos fiéis. No entanto, pouco depois, contradizendo a si mesmo, convidou o clero italiano a manter as igrejas abertas nas áreas menos afetadas pela epidemia; posteriormente, alguns bispos toleraram uma retomada mínima do culto.

Essa mudança parcial foi causada por um fato duplo. Antes de tudo, o abuso do governo provocou imediatamente o protesto de muitos fiéis e de alguns juristas e magistrados, que denunciaram a violação da liberdade de culto prescrita pela Constituição Republicana e pela Concordata entre o Estado e a Igreja. Além disso, a capitulação episcopal suscitou críticas à CEI e iniciou o fenômeno das “missas clandestinas”, celebradas por não poucos sacerdotes.

Posteriormente, alguns bispos condenaram esse protesto popular como irracional e irresponsável, porque faz “discursos abstratos sobre o direito de orar na igreja” (Dom Brambilla in Avvenire, 8-4-2020); outros se perguntaram perfidamente “se dito protesto é animado pela fé ou, antes, por uma religiosidade a ser purificada” (Mons. Libanori in Avvenire, 29-3-2020). Cerca de quarenta associações católicas publicaram uma “legítima defesa” em face da Hierarquia, declarando-se “comprometidas em entender e acolher o que nos está sendo e será solicitado pela saúde pública” (Avvenire, 17-3-2020). De qualquer forma, a CEI manteve uma posição ambígua que levou muitas dioceses, especialmente no norte da Itália, a manter o fechamento de igrejas e a suspensão do culto.

Essa concessão eclesiástica levou o governo a ousar mais. Por exemplo, reprimindo e multando as poucas tentativas de celebrar missas ou funerais nas igrejas ou de realizar orações públicas, organizadas por poucas pessoas em condições de segurança sanitária. Em alguns lugares, a polícia enviou agentes para impedir missas, fechar igrejas e dispersar grupos de oração, mesmo quando honrados pela presença dos respectivos prefeitos. Os bispos do local quase sempre condenaram não essas profanações, mas os padres que haviam sido vítimas delas.

Em consequência, ameaçado pelas autoridades políticas e abandonado pelas autoridades religiosas, o clero italiano submeteu-se quase totalmente a essa cumplicidade entre o Estado e a Igreja sancionada por uma espécie de novo pacto Molotov-Ribbentrop.

Então, sentindo-se reforçado pela capitulação eclesiástica, o governo aproveitou para humilhar ainda mais a Igreja. Ele prometera reabrir as atividades sociais, no contexto de uma liberalização gradual possibilitada pela esperada melhoria nas condições de saúde. No entanto, na conferência de imprensa de 26 de abril, o chefe do governo disse que, a partir de 4 de maio, ao permitir a reabertura de algumas atividades comerciais, culturais e recreativas, excluirá o culto público, por “razões de segurança da saúde” avançado pela comissão científica estadual. A decepção imediatamente expressa pela CEI apenas destacou o fracasso de sua estratégia habitual de “ceder para não perder”.

As causas da concessão episcopal

A sujeição eclesiástica às imposições estatais parece ter sido causada por um fator próximo — o medo — e por um fator remoto, de índole ideológica.

De fato, alguns bispos admitiram ter obedecido aos decretos do governo simplesmente por medo. Medo de perder as vantagens (especialmente econômicas) ainda recebidas do Estado; medo de serem atacados por órgãos da mídia que acusam a Igreja de não respeitar as leis; medo de serem criticados pela ciência médica oficial que acusa a Igreja de se opor à “saúde reprodutiva” dos povos.

No entanto, a principal causa da rendição episcopal reside na mentalidade difundida no clero pela “teologia do aggiornamento” à Modernidade, a qual exige uma adaptação das necessidades da Igreja às do poder laicista e a renúncia a se opor aos atropelos estatais dos direitos eclesiásticos.

Por exemplo, de acordo com o vigário de Sua Santidade [na cidade de Roma], “a vontade de Deus nos foi manifestada através da realidade do momento histórico que estamos vivendo; é a obediência à vida, que talvez seja a maneira mais exigente pela qual o Senhor nos pede que lhe obedeçamos” (cardeal De Donatis, carta ao clero romano, 13-3-2020). Segundo o vice-presidente da CEI, “é o Espírito Santo que permitiu e permitirá que a Igreja se adapte à complexidade do nosso tempo: neste caso, o tempo da pandemia” (Mons. Meini no Avvenire, 26-4-2020).

Além disso, a suspensão do culto público não pode preocupar muito um episcopado que favorece a “liturgia da palavra” em detrimento da liturgia sacramental e planeja o “retorno ao essencial” e a “recuperação da simplicidade eclesial primitiva”. O resultado é um processo de “espiritualização” (no sentido protestante) do cristianismo, na crença de que a Igreja deve se desprender dos pesados ​​fardos institucionais que são os dogmas, as leis e os ritos, e também, portanto, o culto público.

Por exemplo, em sua mensagem de 16 de abril, o Conselho Permanente da CEI alertou que, quando voltarmos à normalidade sanitária, “nada será o mesmo que antes”, e um novo estilo de “sobriedade, essencialidade e simplificação eclesial” deverá ser adotado. O próprio Papa Francisco previu a esse respeito: “Encontraremos a maneira pela qual o Espírito Santo desinstitucionaliza aquilo que não é mais necessário” (entrevista ao jornal londrino Tablet, relatada por Civiltà Cattolica, abril de 2020).

De fato, segundo alguns conhecidos teólogos, a atual suspensão do culto público constitui uma ocasião providencial para o clero se libertar de muitos encargos institucionais e os fiéis recuperarem uma espiritualidade pessoal doméstica ou comunitária, livres de uma liturgia caracterizada por “pompas rituais” e “superstições populares”. É a tendência pós-moderna rumo a uma “fé autogerenciada”. No entanto, esse discurso é perigoso para o próprio episcopado, porquanto, em tal caso, por que os fiéis devem obedecer à autoridade eclesiástica?

__________

(*) Jornalista e escritor italiano, autor, entre outros, de Uma revolução pastoralPalavras-talismã no debate eclesial sobre a família, obra prefaciada por Dom Athanasius Schneider (Artpress, Editora e Indústria Gráfica Ltda.).

Bispos italianos acordam, mas a CNBB…

Por FratresInUnum.com, 28 de abril de 2019 – Depois de dois meses de confinamento obediente, a Igreja italiana esperava que seria beneficiada na fase 2 do combate à epidemia…, dolce ilusione!

O governo do primeiro ministro Giuseppe Conte autorizou a reabertura progressiva do comércio, dos canteiros públicos, da indústria, do esporte individual, dos shoppings, dos museus, das mostras culturais, mas não das Igrejas nem muito menos do culto público para os fieis. As tratativas diplomáticas da Conferência Episcopal Italiana (CEI) foram simplesmente ignoradas, o que causou indignação nos bispos.

Em nota, a CEI afirmou que “os bispos italianos não podem aceitar ver comprometido o exercício da liberdade de culto. Deveria ser claro para todos que o empenho a serviço dos mais pobres, tão significativo nesta emergência, nasce de uma fé que deve poder nutrir-se nas suas fontes, em particular na vida sacramental”.

O bispo D. Giovanni d’Ercole gravou um vídeo, que foi devidamente legendado ao português, em que diz palavras fortes: “creio que devemos olhar a coisa com objetividade. A Igreja não é lugar de contágio”, e ainda: “isto é uma ditadura! Se vocês não nos devolverem o culto, nós o tomaremos de volta”. Por fim, o bispo conclui: “o papelão que vocês fizeram no mundo inteiro precisa ser lavado por um simples gesto de restituição de dignidade e de direito”.

Ora, os bispos italianos já começaram a perceber que toda esta interferência excessiva do Estado no que concerne à limitação da liberdade de culto de que gozam os cidadãos destina-se a restringir a ação da Igreja Católica, cuja espiritualidade essencialmente sacramental é radicalmente prejudicada, relegando os fiéis a um tipo de “protestantismo prático”. Não é possível tolerá-lo!

Enquanto isto, no Brasil, os bispos continuam com o “lockdown eclesial” e, inclusive, começam a teologizar a “comunhão sem comunhão”, como exemplificamos em nosso artigo de ontem. Inclusive, o próprio site da CNBB republicou, em forma de notícia, a vergonhosa nota do bispo de Divinópolis, ontem aqui devidamente impugnada.

Para nós, a questão mais importante e da qual quase ninguém está falando é a seguinte: esta concessão passiva à interferência do poder estatal na liberdade de culto de que goza a Igreja é uma verdadeira irresponsabilidade, pois, de agora em diante, sempre se poderá alegar a mesma razão, visto que todos os seres humanos são vetores de vírus permanentemente. Na prática, a Igreja está renunciando ao direito de ser Igreja.

Os alarmistas mais desesperados dizem, por exemplo, que o isolamento social deverá ser mantido até 2022, outros dizem que viveremos em regime de alternação de quarentena… Ora, e como será, então? Os fieis ficarão privados do socorro sacramental até lá?

Em Santa Catarina, o governo autorizou a reabertura do Culto, mas tinha determinado que a comunhão fosse embalada antes de ser distribuída. Contudo, o decreto foi reformado: “após diálogo com Arquidiocese de Santa Catarina e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COES) publicou nova portaria no Diário Oficial do Estado, do dia 24 de abril, com regras para celebração das ceias durante as missas e cultos”. Eis a nova regra:

“Nas missas e cultos em que houver a celebração da ceia com partilha de pão e vinho, o celebrante deverá colocar máscara e higienizar as mãos com álcool 70% para entregar a comunhão ou os elementos aos fieis. Os fieis, usando máscaras, os receberão em suas mãos e poderão retirar suas máscaras para consumi-los quando retornarem ao banco ou cadeiras”.

Em outras palavras, o governo está determinando as leis litúrgicas da Igreja, com o consentimento desta, e tudo em benefício do sacrilégio. Não podemos mais suportar esta situação. Os fieis precisam continuar a pressão sobre os bispos para que as atividades de culto sejam imediatamente retomadas, com toda a precaução necessária, mas sem desobedecer a práxis católica. A ditadura do vírus chinês já foi longe demais!

Continuem escrevendo aos bispos, assinem a petição do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, gravem vídeos, façam o que puderem. Temos de fazer alguma coisa!

“Eugenia espiritual” ou abandono dos fieis? – Uma resposta ao bispo de Divinópolis.

Por FratresInUnum.com, 27 de abril de 2020 – Existem circunstâncias que nos obrigam a falar e uma delas é justamente quando alguém apresenta um princípio falso, cujas conclusões podem produzir uma deterioração da verdade, especialmente da verdade da fé. É este o caso do último artigo de Dom José Carlos de Souza Campos, bispo da Diocese de Divinópolis–MG. Contextualizemos o assunto.

Nos últimos dias, jovens e famílias de todo o mundo (Brasil, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Áustria, França e Colômbia, por exemplo) gravaram vídeos solicitando aos bispos o fim do lockdown sacramental que eles impuseram a toda a Igreja, em total subserviência a este ensaio de ditadura que estamos presenciando com a crise do vírus chinês. Não se trata, portanto, de um mero movimento provinciano, mas de um clamor que nasce do coração de todos os fieis católicos.

Catedral Ourense
Catedral de Ourense, na Espanha

O argumento utilizado por estes leigos é muito simples: em todas as cidades afetadas pelas quarentenas, mantiveram-se os serviços essenciais (farmácias, bancos, supermercados, serviços de saúde, etc.), sempre orientando-se as pessoas a manterem o distanciamento social, muito prudente nestes casos. Ora, se mesmo estes serviços essenciais são mantidos, perguntam-se os fies: por que não se manterem os serviços sacramentais, se estes são espiritualmente essenciais para todos, tendo sempre os mesmos cuidados de distanciamento e higiene?

A razão da pergunta é simples: fé e bom senso, coisa que falta ao clero católico moderno, que se vale de argumentos sofísticos e contraditórios não apenas para fazer apologia de suas férias prolongadas, mas também para deformar a fé católica na necessidade dos sacramentos, como faz o bispo de Divinópolis.

Como dizia Buffon, “o estilo é o homem” e, neste caso, o reverendo bispo também se denuncia em seu estilo. O primeiro parágrafo de seu artigo é um amontoado de alegações meramente práticas que se resumem nesta pergunta de envergadura, digamos, escatológica: “Quem vai fazer a seleção na entrada (da Igreja)? (Pausa para reflexão!) Ora, é em função deste problema prático que o bispo calcula toda o seu arremedo de argumentação “teológica”, e não o contrário, como fazem os fieis em seus vídeos.

Em seguida, o artigo está dividido em duas partes. Na primeira, ele defende uma espécie de “igualitarismo de baixo”, ou seja, como existem pessoas que não podem comungar por fazerem parte do grupo de risco, logo, a igualdade impõe que ninguém receba o sacramento da Eucaristia e todos vivam de migalhas, sem criar uma espécie de “Igreja dos ‘sadios’ e dos ‘outros’”; na segunda, ele defende uma tese teológica, no mínimo, pitoresca: como formamos um Corpo Místico, comungando alguns, todos comungam, e, assim, o bispo pensa pôr fim no que ele mesmo ironicamente define como “saudade eucarística”.

A ignorância redacional deste prelado (e daqueles que o subscrevem, por exemplo) é curiosamente intrigante. De um lado, ele não percebe que o seu argumento de que “se uns comungam, todos comungam” é um argumento em favor da tese que ele tenta impugnar, isto é, a de que há um grupo que, não estando no grupo de risco, deseja comungar e, propriamente, o faz não contra aqueles que estão impossibilitados de aceder aos sacramentos, mas justamente em favor deles; de outro lado, ele não percebe que o igualitarismo para o qual apela (o qual qualificamos como sendo de baixo, porque iguala todos por baixo e não por cima) é invalidado pelo “igualitarismo factual” da sua doutrina de que basta uma única pessoa comungar na Igreja que todos já comungaram de fato.

É evidente que a “tese” tão extravagante excogitada pelo bispo invalida per se a necessidade de se receber os sacramentos em absoluto por parte dos fieis (visto que, como ele mesmo nota, sempre haverá alguém que não possa recebê-los; e, portanto, concluímos que, impondo-se a necessidade igualitarista, ninguém deve realmente receber os sacramentos para estar em comunhão com aqueles que os não recebem), ao mesmo tempo em que sustenta o monopólio dos mesmos por parte da hierarquia; nada tão contrário à doutrina da Igreja, que sempre entendeu o sacerdócio como ministério, vale dizer, como serviço ao povo de Deus.

O que mais escandaliza é o fato de o bispo referir-se com palavras tão odiosas ao Sacramento da Comunhão: “Vale passar na igreja de carro ou a pé e pegar ‘seu pedaço’ de Eucaristia e ir embora, sem celebração, sem assembleia litúrgica, sem saborear a vida comunitária celebrante?”. Mas será que este bispo não conhece a doutrina segundo a qual Cristo inteiro está presente em cada fragmento da Sagrada Hóstia? Diante da presença real de Nosso Senhor na Eucaristia, tem algum sentido falar pejorativamente em “pedaço da Eucaristia”, quando, na verdade, o fiel está recebendo Cristo inteiro? Obviamente, para este bispo, não tem sentido a comunhão com Cristo sem a comunhão com a comunidade, como se a comunhão com Cristo se pudesse fazer à margem da comunhão dos santos… É aquele mesmo velho horizontalismo de que já falamos tantas vezes!

Escandaliza, também, a reação de ridicularização e esnobismo do bispo para com os fieis que pedem os sacramentos. É possível sentir no texto a ironia pontiaguda com que o autor os qualifica de “parte sadia”, “piedosas pessoas famintas de Eucaristia, que tentam se enquadrar nos grupos seletos que podem celebrar e comungar nas Igrejas”, “certos grupos da Igreja e de pessoas com discursos de ‘saudade de Eucaristia’”, mas que se esquecem “exatamente dos patriarcas da fé”. O auge dos ataques está quando ele os acusa de “seleção espiritual” e “eugenia espiritual”.

Em outras palavras, como este bispo responde à súplica dos fieis famintos? Com indiferença, raiva, como que dizendo “quem são estes leigos que ousam pedir missas”? Quer dizer que, invertendo a lógica do bispo, a Igreja terá de criar, juntamente com os ministros da comunhão, um “ministério da vacina” e, de hoje em diante, quem não estiver imune de toda e qualquer doença não poderá participar das missas? Será que este bispo não percebe que se os seus argumentos forem realmente levados à sério ele simplesmente aboliu não apenas todos os sacramentos, mas a ideia mesma de Igreja, pois ela sempre implica a congregação de pessoas, as quais sempre são vetores de vírus, dentre os quais o coronavírus é apenas um?

É a esta miséria que se reduziu o episcopado católico com “cheiro de ovelhas” e “pobre com os pobres”, esta “Igreja em saída”.

O mais interessante é que as paróquias continuam mantendo seus serviços sociais, mesmo em tempos de pandemia, com distribuição de cestas básicas, de refeições e de roupas, coisas muito meritórias, mas que, marginalizadas da nossa essência eucarística, reduzem a Igreja a uma mera ONG, destas que o Papa Francisco vive dizendo que a Igreja não deve se tornar. Os leigos querem o Pão da Vida, mas os bispos querem alimentá-los com sopão.

Que os sacramentos sejam essenciais para a vida cristã e que esta “comunhão mística” alegada pelo bispo é apenas uma invenção ajustada para escorar a sua raiva da reinvindicação do povo fica bastante patente pelas palavras do Catecismo da Igreja Católica: “A Igreja afirma que, para os crentes, os sacramentos da Nova Aliança são necessários para a salvação. A ‘graça sacramental’ é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e própria de cada sacramento. O Espírito cura e transforma aqueles que O recebem, conformando-os com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adoção deifique os fiéis, unindo-os vitalmente ao Filho único, o Salvador” (Catecismo da Igreja Católica, 1129).

Existem situações em que não podemos ficar calados. A súplica dos fieis precisa ser atendida, os pastores precisam dar alimento ao seu rebanho e as autoridades públicas têm a obrigação de garantir a nós, cidadãos, o direito de livremente prestarmos o nosso culto a Deus e recorrermos aos meios necessários para a saúde de nossas almas. Não podemos ser coniventes com nenhuma “eugenia doutrinal”, com a “seleção de doutrinas” artificialmente ajuntadas para justificarem um verdadeiro eclesiocídio.

O Leão de Campos (V): Quem era este homem?

Dom Antônio de Castro Mayer

Dom Antônio de Castro MayerCruz 25 de abril de 1991.

Fidelium animae per misericordiam Dei

requiescant in pace.

Q

uem era este homem elevado a uma posição de alta responsabilidade eclesiástica em 23 de maio de 1948? Quem era este homem que se tornaria uma das “duas testemunhas” da Igreja de sempre, sacrificando a honra do mundo e dias calmos na defesa da Fé Católica?

Todo homem permanece em certo grau envolto em mistério, o coração de cada personalidade humana individual e o centro de cada alma é aberto e revelado apenas para Deus. Há certos aspectos de Dom Antônio de Castro Mayer que não são misteriosos, mas abertos e claros a qualquer olho observador. Facetas de sua personalidade e aspectos de sua alma eram totalmente públicos. Era um daqueles homens abençoados com a unidade de ser, o interno e externo em harmonia, os vários lados de seu caráter unificados num todo. Um homem íntegro. Em seu caráter pode ser encontrado apenas dois mistérios reais a serem explorados mais tarde. Em sua época de fragmentação, insegurança e angústia existencial, andava ele, um homem justo, uno, em paz com seu Deus.

Dom Antônio[…] Nesta primeira foto do novo bispo de Campos consagrado em 1948, a autoridade descansa confortavelmente em seu possuidor; há “aquilo no rosto que [qualquer um] chamaria de bom grado de senhor”. Todos que o conheciam e especialmente aqueles que foram afortunados o bastante para conhecê-lo bem atestam esta autoridade, um dom dado por Deus.

Eles não podem falar do homem e mencionar seu nome sem suas vozes e comportamento assumirem uma espécie de temor e reverência. E, todavia, curiosamente, eles nunca mencionam estas qualidades diretamente. Parecem quase inconscientes do grande efeito que a presença deste homem tinha sobre eles. Sua atitude e vitalidade criavam estima em todos que o encontravam, uma estima próxima da veneração. Ainda quando essas mesmas pessoas falavam diretamente de seu jeito, quando escreviam aquelas qualidades especiais que o faziam único, falavam primeiro de sua humildade, sua simplicidade, sua inocência. Modesto em sua juventude, permaneceu um homem humilde por toda sua vida. Nunca se promovendo nem trabalhando para garantir o avanço de sua carreira quando jovem, permaneceu distante das honras do mundo e muitas vezes mesmo de seus simples prazeres.

Durante sua enfermidade final, que foi longa, seu médico expressou espanto por nunca ter ouvido aquele homem reclamar sequer uma vez, pouco importasse quanto desconforto ou dor experimentava. Quando seus padres tiveram de cuidar dele por causa de seu estado enfraquecido, nunca o ouviram se queixar. Dependia de seus padres para suas refeições. Perguntavam-no: “prefere mamão ou banana de fruta?”. Replicava: “você escolhe”. “Mas temos as duas. Qual você prefere?”, respondiam. “Tanto faz, você escolhe”. As graças de Deus eram abundantes; Dom Antônio apreciaria qualquer coisa que aparecesse em seu caminho. Assim, não surpreende ter vivido numa simplicidade quase de um eremita, se poderia dizer pobreza, no palácio episcopal. Chegaria o dia em que o mundo o puniria por esta santa austeridade. Esse não é o jeito do mundo.

Seus prazeres terrenos eram poucos.  Seus livros, claro, mas isso não é novidade. Aparentemente sua única verdadeira ligação a prazeres deste mundo era seu amor pelo pingue-pongue. Nos fins de seus dias, uma raquete em sua mão indicaria a primavera de vida renovada e energia juvenil. Uma raquete em sua mão extrairia do misterioso íntimo de seu ser um desejo competitivo invisível. Com zelo, ele desafiaria seus padres, os fiéis da diocese ou as crianças que o visitavam. A batalha de dentro e fora da raquete na bolinha branca de plástico sob o revestimento verde na mesa lhe dava grande alegria. Instituiu um campeonato especial e, quando já eram passados seus próprios dias como jogador,  ainda se deliciava assistindo os quatrocentos meninos de toda a diocese mostrarem suas habilidades e avançarem os postos, raquetes em mãos, até a vitória final. Um troféu especial viaja toda primavera para a paróquia cujos moços mostraram a mais extraordinária proeza na competição de pingue-pongue daquele ano.

Tinha uma habilidade de mover-se entre seus fiéis e misturar-se com eles na vida cotidiana sem de qualquer maneira diminuir ou desfigurar sua autoridade. Sentia-se tão confortável oferecendo uma Missa Solene no Natal ou Páscoa diante de uma multidão abarrotada na Basílica do Santíssimo Salvador em Campos, uma igreja elevada ao status de basílica através de seus esforços, como ao oferecer uma benção à turma da primeira série em sua pequena cerimônia de formatura. Viveu a vida de sua diocese com os fiéis em todos os seus aspectos, em toda faceta possível da existência do dia-a-dia, e contudo sempre manteve sua dignidade como seu bispo. Serviria [como acólito] enquanto era bispo a Missa de seus jovens padres. O fazia sem falsa humildade e sem nunca fazê-los se sentir desajeitados. Não havia nada sobre sua própria Missa que a fizesse extraordinária, nada que a distinguisse. Era um bispo, sim; foi, além disso, um artesão, como o foi seu pai, fazendo bem seu trabalho e no melhor de suas habilidades, mas, ao mesmo tempo, ciente de que estava fazendo um trabalho. Sua atitude foi sempre “arregaçar as mangas e trabalhar”, e fez este trabalho sem pretensão ou esperança de elogios. As palavras do escritor inglês Evelyn Waugh vêm à mente. Numa carta escrita em 1964 ao Catholic Herald, Waugh alertava para os perigos da “renovação explosiva” dos inovadores do Concílio Vaticano Segundo “que desejam mudar o aspecto exterior da Igreja”. Ele chegava a descrever sua própria conversão, especificamente aqueles aspectos da Fé que o levaram à Igreja. Aquela “atração estranha” que mais o atraía, dizia, “era o espetáculo do padre e seus ajudantes na Missa rezada, subindo lentamente o altar sem dar uma olhada sequer para saber os muitos ou poucos que tem em sua congregação; um artesão e seu aprendiz; um homem com um trabalho que apenas ele é qualificado para fazer” (Waugh, Evelyn, A Little Order – Boston: Little, Brown, 1977 – pág. 188). O relato é uma descrição apropriada do trabalho do Bispo de Campos.

Um de seus padres o descreveu nestas palavras: “Ele foi um homem de grande simplicidade. Tinha a alma de uma criança”. Nunca falou mal de outros e se recusava a acreditar, às vezes para sua tristeza, que outros pensariam ou falariam mal dele. Amava crianças e aproveitava as ocasiões quando podia estar com elas. Era, em seu tranqüilo modo, uma delas.

Também permaneceu uma criança em sua devoção às suas mães, sua mãe terrena e sua Mãe espiritual. A incessante e intensa devoção de Dom Antônio à Santa Mãe de Deus marcou seu reinado em Campos. Uma de suas primeiras ações ao tornar-se Bispo de Campos foi publicar uma ordem especial a seus padres – doravante na diocese, ao fim de toda Missa, três Ave-Marias adicionais seriam rezadas pelo padre e fiéis à Nossa Santa Mãe com a intenção de que ela preservasse a verdadeira Fé Católica e de que a heresia nunca encontrasse abrigo na diocese. Tal devoção foi recompensada.

Ele mesmo rezaria o rosário em todas as horas do dia ou da noite. Seus padres relatam que quando viajavam com ele, muitas vezes ele os acordava em horas incomuns para rezar o rosário porque adorava rezar acompanhado. Certa vez durante uma visita ao seminário da Fraternidade São Pio X em Ecône, Suiça, o bispo acordou seus companheiros de viagem depois do “apagar das luzes” do seminário, uma hora de silêncio estritamente obrigatório, e anunciou seu desejo de rezar o rosário. Lembraram a ele que era tarde e que o seminário estava observando um período de silêncio e repouso, mas sua devoção a Nossa Senhora não seria dissuadida. Foram com ele assim que começou a andar pelos corredores do seminário com sua voz ecoando as Ave-Marias. As cabeças dos seminaristas enraivecidos começaram a aparecer enquanto mais e mais portas iam se abrindo bruscamente. Ao encontrar o vibrantemente fervoroso Dom Antônio como o réu rezador, suavemente fechavam suas portas e envergonhados retornavam para suas camas.

[…] A qualidade final de Dom Antônio de Castro Mayer que definia seu caráter é a óbvia – sua grande inteligência. Este dom é evidenciado em suas cartas pastorais e em sua vida, mas pode logo de início ser visto numa espécie de símbolo nas fotos do homem naqueles extraordinários óculos que adornavam seus olhos penetrantes. Se alguém fosse fazer uma caricatura do homem, começaria certamente por aqueles óculos. Pouco depois de sua elevação ao trono episcopal de Campos, os óculos apareceram – enormes, pesados, armação tipo concha. Os olhos escuros que brilham com intenso pensamento ficaram ampliados e pareciam colocados como jóias escuras nos sólidos círculos moldurados dos óculos. Eles dominavam sua cabeça e atraiam a atenção em toda fotografia para aqueles sábios olhos e à mente ágil trabalhando por detrás deles.

Dom AntonioNa medida em que chegava a idade, o bispo e já pequeno homem começou a diminuir fisicamente, encolhendo em tamanho enquanto seu espírito crescia, e os óculos, por serem os mesmos, tornavam-se cada vez mais salientes. Pareciam se tornar gigantes. Ao fim de sua vida, quando os anos e as provações por defender a Fé e a Igreja de Cristo cobraram seu preço total e reduziram a forma física de Dom Antônio novamente ao tamanho diminutivo de um garoto, os óculos tomavam muito do espaço na menor tela da face e servia como prismas escuros radiando a inteligência para fora em fluxos de sábias luzes. No fim ele era uma “sábia criança”, um prodígio idoso para a época.

Padre Possidente, que cuidou do bispo até o fim, conta de sua recuperação de consciência exatos quarenta minutos antes de sua morte. Embora seu corpo estivesse reduzido ao desamparo, embora ele pudesse respirar com muita dificuldade, e embora a fala agora fosse algo do passado, “seus olhos estavam completamente vivos”. Eles cintilavam com “a verdadeira luz que ilumina todo homem e que veio a este mundo”, a luz que este bispo “conheceu”, “recebeu” e “intensificou”. Brilhavam com a “verdadeira luz” que não pode se apagar.

The Mouth of the Lion: Bishop Antonio de Castro Mayer and the last Catholic Diocese. Dr. David Allen White, Angelus Press, 1993 – pág. 51 a 57

Leia as postagens anteriores da série sobre o Leão de Campos.

Post publicado originalmente em 2009.

O Papa da terra

Francisco recebendo a Pachamama

FratresInUnum.com – 23 de abril de 2020 – Em sua obra “The Jesuits” (1987), Malachi Martin, ex-jesuíta, resume a história recente da companhia de Jesus nos termos de uma guerra contra o papado. Diz ele:

“Todas as guerras se relacionam ao poder. Na guerra entre o papado e a Companhia, o poder flui ao longo das linhas de duas questões fundamentais e concretas. A primeira é a autoridade: quem está no comando da Igreja Católica no mundo inteiro? Quem estabelece a lei em que os católicos romanos devem acreditar e que tipos de princípios morais devem eles praticar? A segunda questão é o propósito: qual é o propósito da Igreja Católica romana neste mundo?”

Martin responde, em resumo, que as respostas católicas para estas questões são claras e conhecidas: a autoridade emana de Deus, através do papado; e o propósito da Igreja é salvar as almas, levando-as à eternidade.

A resposta dos jesuítas, ao contrário, é que a autoridade eclesiástica emana do povo, através de pequenas comunidades (as conhecidas CEBs) e o propósito da Igreja já não é a salvação as almas, mas a libertação de uma classe econômica, o proletariado.

Nove anos mais tarde (1996), Malachi Martin escreveu um romance, em sua maior parte baseado em fatos reais, no qual descreve a conspiração de eclesiásticos e de sociedades secretas para deformar a estrutura da Igreja Católica, reduzindo-a à completa subserviência a um governo global, totalmente desligada de toda a sua tradição anterior, tendo como último bastião de resistência um papa solitário, que precisa renunciar.

Por mais fértil que fosse, escapava à imaginação vivaz de Martin que um dia ocorreria a alguém a loucura de eleger um papa jesuíta, que viesse justamente a encerrar a guerra entre a Companhia e o papado, o qual usaria a própria autoridade suprema de romano pontífice como arma para promover a sua revolução socialista.

Escapava a Martin, também, que o socialismo se tornaria braço do poder meta-capitalista, transformando-se em revolução sexual e ecológica, destinada a criar em todos os povos da terra o desenraizamento do núcleo familiar e o acoplamento a uma estrutura global, baseada numa espécie de consciência planetária. A salvação transcendental das almas cederia lugar a uma ideia imanentista de salvação: agora, trata-se de salvar o planeta; a urgência ecológica se transformou num imperativo religioso totalmente inapelável.

Em meio à pandemia do coronavírus, o papa jesuíta não dá tréguas. Ontem, em sua audiência geral, feita na biblioteca apostólica, ele fez um discurso falando sobre “a terra”, “o cuidado com a terra” e chegou a afirmar que “nós pecamos contra a terra, contra o nosso próximo e, em definitiva, contra o Criador, o Pai bom que provê a cada um e quer que vivamos juntos em comunhão e prosperidade. E como a terra reage? Há um dito espanhol que é muito claro, sobre isto, e diz assim: ‘Deus perdoa sempre; nós, homens, perdoamos algumas vezes sim e outras vezes não; a terra não perdoa nunca’. A terra não perdoa: se nós deterioramos a terra, a resposta será muito feia”.

Um pouco antes, havia dito: “como a trágica pandemia de coronavírus nos está demonstrando, apenas juntos e cuidando dos mais fracos podemos vencer os desafios globais”.

Igrejas fechadas no mundo inteiro, padres sendo expulsos do altar pela polícia por celebrarem a missa para pouquíssimas pessoas, fieis privados dos sacramentos, e tudo isto com o completo apoio de um papa que, além de tudo, ainda tira proveito de toda a tragédia para continuar teimando com as suas fixações ideológicas e, com o dedo em riste, dizer a todo o mundo: “vejam, eu avisei! Precisa cuidar da casa comum senão a mãe terra vai castigar! Ela não perdoa, viu? E foi Deus que fez assim!” É intolerável!

Quem ainda não percebeu que a causa de todas as mazelas que estamos enfrentando é justamente este papa? Será preciso que venha ainda algo mais blasfemo, mais herético, mais apóstata, mais ultrajante à fé e à santidade da Igreja? Será preciso passar dez anos sem os sacramentos para os fieis perceberem que não dá mais para suportar tudo isto com um silêncio cúmplice? Será que já não basta a conivência bovina dos padres e dos bispos, muitos dos quais ainda se apresentam como tradicionalistas?

Francisco é o papa que está emprestando a Igreja para uma outra divindade, de uma outra religião: a deusa terra e a sua religião da terra!

Abram as Igrejas! Queremos as missas de volta!

Instituto Plínio Correa de Oliveira lança campanha pelo retorno imediato dos sacramentos.

Por FratresInUnum.com, 20 de abril de 2020 – É indissimulável o sentimento de vazio no coração dos católicos por uma Páscoa incompleta, distante do Santo Sacrifício da Missa, distante do sacramento da Comunhão, distante da confissão… A retórica dos bispos e dos padres – “assistam a missa pelas redes sociais” – tornou a situação ainda mais dolorosa, pois é de conhecimento comum entre os fieis que nada supre a assistência direta dos sacramentos. Simplesmente parece que a Páscoa não aconteceu!

A Igreja nunca esteve tão subserviente aos governos seculares, tanto da ONU quanto dos governos locais. À mínima insinuação da conveniência do isolamento, toda a estrutura eclesiástica se trancou em uníssono, deixando os fieis do lado de fora. Os padres obedecem os bispos e os bispos se aconchavam segundo suas próprias articulações internas, e o povo só assiste, atônito, gritando de fome.

E criou-se um precedente ainda pior: se um vírus é o bastante para fechar de maneira indiscriminada as Igrejas e interromper o culto público, então, já não haverá mais legitimidade, de agora em diante, para nunca mais acontecer nenhuma reunião de fieis, visto que existem e existirão milhões de vírus em circulação, de menor ou maior letalidade, e todos somos vetores. De forma subliminar, o clero católico cometeu o mais absurdo “eclesiocídio”, auto-relegando-se à perpétua clandestinidade.

Ao reivindicar o retorno das missas públicas, não pedimos que se faça de maneira descuidada e irresponsável. O Papa Francisco deu um bom exemplo em sua missa da última Quinta-feira Santa:

Imagem

Por que não se multiplicam as missas ou as celebram em locais abertos, com os devidos cuidados de higienização e distância entre os fiéis?

Pelo jeito, o único modo de retomarmos a normalidade da vida sacramental será uma reação forte dos fieis, exigindo dos governos civil e eclesiástico o imediato retorno do culto divino, com todas as cautelas que forem necessárias, com a recomendação de que as pessoas em faixa de risco permaneçam em casa, mas sem abdicar do direito de publicamente cultuar a Deus, administrar os sacramentos aos fieis desejosos e garantindo a inviolabilidade dos locais de culto.

É hora de nos manifestarmos, como leigos. Não podemos abrir mão de nossa liberdade e deixar a Igreja entregar-se tão voluntariamente na mão de seus sequestradores. Precisamos transformar este sentimento de vazio em atitude. Fomos privados da Páscoa! Agora, precisamos garantir que não seremos privados indefinidamente (ou para sempre?) da nossa religião.

Assine e ajude a divulgar a campanha do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira clicando aqui.

ABRAM AS IGREJAS JÁ!

Presidência da CNBB publica a nota “Em defesa da vida: É tempo de cuidar” para pedir a todos o empenho contra o aborto.

CNBB – A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, porta-voz da Igreja Católica na sociedade brasileira, escreveu uma nota com o título “Em defesa da vida: É tempo de cuidar”. O documento, em sintonia com segmentos, instituições, homens e mulheres de boa vontade, convoca a todos pelo empenho em defesa da vida, contra o aborto, e se dirige publicamente, como o faz em carta pessoal, aos ministros do Supremo Tribunal Federal, para que eles defendam o dom inviolável da vida.

A nota é uma resposta ao fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter agendado para o próximo dia 24 de abril o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 5581 –, que versa sobre a liberação do aborto em caso de Zika vírus. O julgamento tinha sido adiado em maio do ano passado após pressão de diversos movimentos pró-vida. A votação está prevista para acontecer de forma virtual.

Segue a nota abaixo

EM DEFESA DA VIDA – Nota à sociedade brasileira

EM DEFESA DA VIDA: É TEMPO DE CUIDAR

A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, porta-voz da Igreja Católica na sociedade brasileira, em sintonia com segmentos, instituições, homens e mulheres de boa vontade, convoca a todos pelo empenho em defesa da vida, contra o aborto, e se dirige, publicamente, como o faz em carta pessoal, aos Senhores e Senhoras Ministros do Supremo Tribunal Federal para dizer, compartilhar e ponderar argumentações, e considerar, seriamente, pelo dom inviolável da vida, o quanto segue:

  1. “É tempo de cuidar”, a vida é dom e compromisso! A fé cristã nos compromete, de modo inarredável, na defesa da vida, em todas as suas etapas, desde a fecundação até seu fim natural. Este compromisso de fé é também um compromisso cidadão, em respeito à Carta Magna que rege o Estado e a Sociedade Brasileira, como no seu Art 5º, quando reza sobre a inviolabilidade do direito à vida.
  2. Preocupa-nos e nos causa perplexidades, no grave momento de luta sanitária pela vida, neste tempo de pandemia do COVID-19, desafiados a cuidar e amparar muitos pobres e empobrecidos pelo agravamento da crise econômico-financeira, saber que o Supremo Tribunal Federal pauta para este dia 24 de abril 2020, em sessão virtual, o tratamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 5581, ajuizada pela Associação Nacional dos Defensores Públicos – ANADEP, requerendo a declaração de inconstitucionalidade de alguns dispositivos da Lei 13.301/2016 e a interpretação conforme a Constituição de outros dispositivos do mesmo diploma legal.
  3. Há de se examinar juridicamente a legitimidade ativa desta Associação de Defensores Públicos, como bem destacado nas manifestações realizadas nos autos pela Presidência da República, Presidência do Congresso Nacional, Advocacia Geral da União e Procuradoria Geral da República, pois nos parece, também, que a referida Associação não é legitimada para propor a presente ADI, tendo bem presente que a Lei 13.985/2020 trouxe suporte e apoio para as famílias que foram afetadas pelo Zika vírus, instituindo uma pensão vitalícia as crianças com Síndrome Congênita como consequência.
  4. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reitera sua imutável e comprometida posição em defesa da vida humana com toda a sua integralidade, inviolabilidade e dignidade, desde a sua fecundação até a morte natural comprometida com a verdade moral intocável de que o direito à vida é incondicional, deve ser respeitado e defendido, em qualquer etapa ou condição em que se encontre a pessoa humana. Não compete a nenhuma autoridade pública reconhecer seletivamente o direito à vida, assegurando-o a alguns e negando-o a outros. Essa discriminação é iníqua e excludente; “causa horror só o pensar que haja crianças que não poderão jamais ver a luz, vítimas do aborto”. São imorais leis que imponham aos profissionais da saúde a obrigação de agir contra a sua consciência, cooperando, direta ou indiretamente, na prática do aborto.
  5. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil insta destacar que o combatido artigo 18 da referida Lei 13.301/2016, cuja ADI pretendia a declaração de inconstitucionalidade de alguns dispositivos, foi completamente revogado pela MP 894 de 2019, convertida em Lei em 2020 (L. 13.985/2020). Desta forma, parece-nos ainda que o objeto da ação foi superado, não servindo a ação para declarar a inconstitucionalidade de outra lei que não a inicialmente combatida.
  6. A CNBB requer, portanto, que, acaso seja superada a preliminar de ilegitimidade ativa suscitada por todas as autoridades públicas que se manifestaram, e não seja extinta a ADI pela perda do objeto, no mérito não sejam acolhidos quaisquer dos pedidos formulados para autorizar, de qualquer forma, o aborto de crianças cujas mães sejam diagnosticadas com o zikavirus durante a gestação.
  7. Reafirmamos, fiéis ao Evangelho de Jesus Cristo, nosso repúdio ao aborto e quaisquer iniciativas que atentam contra a vida, particularmente, as que se aproveitam das situações de fragilidade que atingem as famílias. São atitudes que utilizam os mais vulneráveis para colocar em prática interesses de grupos que mostram desprezo pela integridade da vida humana. (S. João Paulo II, Carta Encíclica Evangelium Vitae, 58)

Esperamos e contamos que a Suprema Corte, pautada no respeito à inviolabilidade da vida, no horizonte da fidelidade moral e profissional jurídica, finalize esta inquietante pauta, fazendo valer a vida como dom e compromisso, na negação e criminalização do aborto, contribuindo ainda mais decisivamente nesta reconstrução da sociedade brasileira sobre os alicerces da justiça, do respeito incondicional à dignidade humana e na reorganização da vivência na Casa Comum, segundos os princípios e parâmetros da solidariedade.

Cordialmente,

Brasília, 19de abril de 2020

Domingo da Misericórdia

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Presidente

Dom Jaime Spengler

1º Vice-presidente

Mário Antônio da Silva

2º Vice-presidente

Dom Joel Portella Amado

Secretário-geral

Foto da semana.

Brasília, Sábado, 18 de abril de 2020 – Católicos liderados pelo padre Pedro Stepian, participam de manifestação contra o aborto e entregam a Jair Bolsonaro um quadro de Jesus Misericordioso e uma bandeira do movimento. Que ele se guie por esse ideal e deixe para trás ideias políticas que destoam da reta moral.

A hora da Missa de Sempre.

Por FratresInUnum.com, 17 de abril de 2020 – O cancelamento das missas presenciais em quase todo mundo empurrou a Igreja Católica para o ambiente virtual e, com ele, decretou a completa falência da liturgia pós-conciliar, que nunca foi bem sucedida em lugar nenhum.

Quinta-feira Santa de 2020: Padre faz lava-pés de bonecos para representar fiéis.

Tempos atrás, afirmou-se que “o problema da missa nova é que ela nunca foi rezada”: cada missa é, literalmente, um rito, ao gosto do celebrante, com total liquidez, sem nenhum tipo de estabilidade.

Isso foi clara e soberanamente percebido nas últimas semanas, em que os padres vieram para a internet ostentar a sua absoluta ignorância, em um arco que vai desde a gramática até o catecismo da primeira comunhão. Obviamente, não faltaram abusos e aberrações, em uma horrenda epifania em que superabundam homilias indigentes e o que há de pior na música e no canto, atrocidades com as quais os católicos estão mais do que habituados.

De outro lado, os fiéis estão furiosos com o completo abandono. Bispos encastelados em seus palácios, com medo da morte, e padres submissos aos bispos, em uma escravidão vergonhosa, enquanto o povo grita de fome. Assim, o pastoralismo do Vaticano II, a “Igreja em saída” do Papa Francisco, tudo foi por água abaixo, devidamente abatido pelo pastores que deveriam ter “cheiro de ovelhas”.

Contudo, a derrota da liturgia conciliar não termina por aí. Como em um passe de mágica, o “comunitarismo” da missa nova foi espanado como a poeira de uma cômoda. Os mesmos que passaram a vida inteira dizendo que o povo não podia “assistir a missa”, mas teria de “participar da missa” — entendendo por participação as conhecidas cafonices de bater-palmas, sacudir as mãos, cutucar o irmão ou qualquer outra esquisitice –, agora regrediram ao nível da “missa assistida” à distância, numa distância muito maior que aquela, sempre criticada, dos fiéis em relação ao longínquo retábulo das Igrejas tradicionais.

Os mesmos que passaram a vida criticando a comunhão espiritual – claro, para defender a comunhão dada para adúlteros e pecadores públicos, a comunhão como sinal de acolhida –, agora, defendem a comunhão via Youtube, pelo olhar e pelo desejo, dizendo que agora basta olhar para a Hóstia desde o sofá. Ironicamente, voltamos aos tempos, tão criticados por eles mesmos, anteriores a São Pio X, em que tão raivosamente afirmavam que a consagração era assistida pelo povo e em que quase ninguém comungava.

Nas novas missas sem povo, por que não celebrar em latim e de frente para Deus – já que não há ninguém adiante, mesmo, nem ninguém que possa responder? Será que não perceberam que a missa conciliar foi abolida pela obsolescência pastoralista que se tornou anulante de si mesma?

Até o Papa Francisco reconhece o fracasso da “comunidade virtual”. Em homilia proferida hoje, afirmou:

Digo isso porque alguém me fez refletir sobre o perigo deste momento que estamos vivendo, essa pandemia que fez que todos nos comunicássemos também religiosamente através da mídia, inclusive esta Missa, estamos todos comunicados, mas não juntos, espiritualmente juntos. O povo é pequeno. Há um grande povo: estamos juntos, mas não juntos. Também o Sacramento: hoje vocês terão a Eucaristia, mas as pessoas que estão em conexão conosco (terão) somente a Comunhão espiritual. E esta não é a Igreja. Esta é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor a permite, mas o ideal da Igreja é sempre com o povo e com os Sacramentos. Sempre.

Evidentemente, as missas transmitidas pela internet podem ser um alívio à completa indigência dos fiéis absolutamente abandonados por seus pastores, mas está longe de ser uma solução satisfatória, mesmo em tempos de pandemia, como pretendem alguns.

Mas, o que está ruim, ainda pode piorar. Alguns ultra-progressistas, ao criticar as missas pela internet, sugerem rezar apenas em casa, caindo no protestantismo mais despudorado, cujo germe está dado desde há tantas décadas. Há bispos que reclamam publicamente de que a Igreja entrou numa espécie de psicose eucarística e que é preciso libertar-se dela. Alguns sucessores dos Apostólos (!) chegaram a criticar padres que abençoam o povo e as cidades com o Santíssimo Sacramento pelas ruas. Nem Lutero chegou a tamanhas absurdidades!

Os fatos demonstram, uma vez mais, a fragilidade de uma reforma litúrgica que fracassou por completo. Falta apenas a humildade de reconhecê-lo e somos adultos o bastante para saber que o nosso episcopado ideologizado ainda não saiu do romantismo conciliar mais adolescente, e defende com a boca aquilo mesmo que desfaz com as próprias mãos.

Se de um mal Deus Nosso Senhor tira vários bens, parece claro que Ele impõe aos modernistas que engulam a seco um revés a todo o discurso e jargões proferidos por décadas — comunidade, participação ativa, protagonismo leigo, liturgia inculturada, fazendo-os ter de aprender a celebrar sozinhos e sem firulas. Pois, afinal, a solução, pura e simples, já demonstrada e agora reforçada pela pandemia, é deixar de lado as invencionices e retornar à Missa de Sempre.