Dom Schneider fala sobre a conduta da Igreja em face do coronavírus.

Por Diane Montagna, The Remnant, 27 de março de 2020 | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com – À medida que o coronavírus continua a se espalhar, Dom Athanasius Schneider exorta os padres a imitar Jesus, o Bom Pastor, e, pelo bem das almas, até a desobedecer às ordens injustas dos bispos que, segundo ele, agora estão se comportando mais como “burocratas civis” do que como “pastores”.

Dom Athanasius em entrevista a Fratres in Unum.
Fevereiro de 2015 – Dom Schneider concede entrevista a Fratres in Unum em São Paulo.

Em uma nova entrevista sobre a conduta da Igreja em face da pandemia de coronavírus (ver o texto completo abaixo), o bispo auxiliar de Santa Maria em Astana, no Cazaquistão, disse acreditar que a maioria dos bispos católicos reagiu “precipitadamente e movidos pelo pânico ao proibir todas as missas públicas”. “A decisão de fechar as igrejas é ainda mais incompreensível” afirmou.

“Enquanto os supermercados estiverem abertos e acessíveis, e as pessoas tiverem acesso ao transporte público, não se vê razão plausível para proibir as pessoas de assistir à Santa Missa em uma igreja”, disse Dom Schneider. “Pode-se garantir nas igrejas as mesmas e melhores medidas de proteção higiênica”.

Ele disse que a conduta da Igreja em face da epidemia de coronavírus revelou uma “perda de visão sobrenatural”, particularmente entre os membros da hierarquia alguns dos quais, apesar da vigilância para combater o COVID-19, “permitiram tranquilamente que o vírus venenoso dos ensinamentos e práticas heréticos se espalhasse entre o seu rebanho”, observou.

Dom Schneider exortou os padres a se lembrarem de que são “o primeiro e mais importante pastor de almas imortais”, chamados por sua vocação sacerdotal a dar a vida pelas ovelhas. Em meio à pandemia de coronavírus, ele disse que os padres devem “observar todas as precauções de saúde necessárias”, mas também “ser extremamente criativos” para encontrar maneiras de celebrar a Santa Missa e fornecer os sacramentos, mesmo para um pequeno grupo de fiéis. “Esse era o comportamento pastoral de todos os sacerdotes que foram confessores e mártires por ocasião das perseguições”, disse o bispo, cujos primeiros anos foram passados na Igreja Católica subterrânea soviética.

Segundo ele, o cuidado das almas pode exigir em alguns casos que um padre desobedeça à ordem injusta de seu bispo. “Se um sacerdote é proibido por uma autoridade eclesial de visitar os doentes e moribundos, ele não pode obedecer. Essa proibição é um abuso de poder. Cristo não deu ao bispo o poder de proibir a visita de doentes e moribundos.”

Recordando o exemplo heroico do Cardeal arcebispo de Milão do século XVI, São Carlos Borromeo (1538-1584), que enfrentou com destemor uma praga a fim de servir às necessidades espirituais de suas vítimas, Dom Schneider disse que “um verdadeiro padre fará tudo o que puder para visitar uma pessoa que está morrendo”.

Perguntado se acredita que a pandemia de coronavírus é uma forma de retribuição divina pelos eventos da Pachamama realizados no Vaticano durante o Sínodo Amazônico de outubro de 2019, Dom Schneider disse que, embora não tenha “certeza” de que esses eventos estejam relacionados, a ideia “não é exagerada”.

“A veneração ritual do ídolo pagão da Pachamama dentro do Vaticano, com a aprovação do Papa, foi seguramente um grande pecado de infidelidade ao Primeiro Mandamento do Decálogo, foi uma abominação”, afirmou. E acrescentou que “esses atos de idolatria foram o culminar de uma série de outros atos de infidelidade à salvaguarda do depósito divino da fé por muitos membros de alto escalão da hierarquia da Igreja nas últimas décadas”.

Recordando a ameaça de punição e o chamado ao arrependimento do Senhor, dirigidos aos bispos no Livro do Apocalipse (cf. 2: 14-16), Dom Schneider disse estar convencido de que “Cristo repetiria as mesmas palavras ao Papa Francisco e aos outros bispos” que permitiram a veneração da Pachamama no Vaticano e que “aprovaram implicitamente relações sexuais fora de um casamento válido” ao permitir que católicos “divorciados e casados ​​novamente”, sexualmente ativos, recebam a Sagrada Comunhão.

Na entrevista sobre a resposta da Igreja ao coronavírus, Dom Schneider afirmou também que a singularidade e a severidade da proibição de missas públicas e da comunhão sacramental fazem com que os católicos considerem seu “significado mais profundo”.

Por mais de cinquenta anos observou , a presença eucarística de Jesus Cristo foi “banalizada” e até “profanada” através da prática da Comunhão na mão e da introdução de “elementos protestantes” na liturgia romana. “Agora o Senhor interveio e privou quase todos os fiéis de assistir à Santa Missa e receber sacramentalmente a Sagrada Comunhão. Os inocentes e os culpados estão suportando essa tribulação juntos, pois no mistério da Igreja todos estão mutuamente unidos como membros” acrescentou.

Para reparar a Deus, Dom Schneider disse que o Papa e os bispos quando a pandemia de coronavírus estiver controlada deveriam fazer urgentemente um ato público de reparação em Roma “pelos pecados contra a Sagrada Eucaristia”. Disse também que o Papa deveria emitir normas concretas convidando toda a Igreja a “se voltar para o Senhor” na liturgia e “proibir a prática da Comunhão na mão”.

E concluiu: “A Igreja não pode continuar tratando impunemente o Santo dos Santos na pequena Hóstia sagrada de uma maneira tão minimalista e insegura”.

Eis a nossa entrevista com Dom Athanasius Schneider

Diane Montagna: Excelência, qual é a sua impressão geral sobre o modo como a Igreja está lidando com a epidemia do coronavírus?

Dom Schneider: Minha impressão geral é de que a maioria predominante dos bispos reagiu precipitadamente e em pânico ao proibir todas as missas públicas e o que é ainda mais incompreensível – ao fechar as igrejas. Tais bispos reagiram mais como burocratas civis do que pastores. Ao se concentrarem exclusivamente em todas as medidas de proteção higiênicas, eles perderam uma visão sobrenatural e abandonaram a primazia do bem eterno das almas.

A Diocese de Roma suspendeu rapidamente todas as missas públicas para cumprir as diretrizes do governo. Os bispos de todo o mundo adotaram medidas semelhantes. Os bispos poloneses, por outro lado, pediram que mais missas fossem celebradas, a fim de que a concentração de fiéis fosse menor. Qual a sua opinião sobre a decisão de suspender as missas públicas para impedir a disseminação do coronavírus?

Enquanto os supermercados estiverem abertos e acessíveis e as pessoas tiverem acesso ao transporte público, não se vê uma razão plausível para proibir as pessoas de assistir à Santa Missa em uma igreja. Podem-se garantir nas igrejas as mesmas e ainda melhores medidas de proteção higiênica. Por exemplo, antes de cada missa, seria possível desinfetar os bancos e as portas, e todo mundo que entrasse na igreja poderia desinfetar as mãos. Outras medidas semelhantes também poderiam ser tomadas. Pode-se limitar o número de participantes e aumentar a frequência da celebração da missa. Temos um exemplo inspirador de visão sobrenatural em tempos de epidemia no Presidente da Tanzânia, John Magufuli. Católico praticante, no domingo 22 de março de 2020 (domingo de Laetare), na Catedral de São Paulo, na capital tanzaniana de Dodoma, ele declarou: “Insisto com vocês, meus irmãos cristãos e até muçulmanos: não tenham medo, não parem de se reunir para glorificar a Deus e louvá-Lo. Por isso, como governo, não fechamos igrejas ou mesquitas. Em vez disso, elas devem estar sempre abertas para o povo buscar refúgio em Deus. As igrejas são lugares onde as pessoas podem buscar a verdadeira cura, porque ali reside o Deus verdadeiro. Não tenham medo de louvar e buscar o rosto de Deus na igreja”.

Referindo-se à Sagrada Eucaristia, o presidente Magufuli também falou estas palavras encorajadoras: “O coronavírus não pode sobreviver no Corpo eucarístico de Cristo; em breve será queimado. Foi exatamente por isso que não entrei em pânico ao receber a Sagrada Comunhão, porque sabia que com Jesus na Eucaristia eu estou seguro. Este é o momento de construirmos nossa fé em Deus”.

Vossa Excelência julga ser atitude responsável um sacerdote celebrar uma missa particular com alguns fiéis leigos presentes, tomando as devidas precauções de saúde?

É responsável, e também meritório, e seria um autêntico ato pastoral, desde que o sacerdote tome as precauções de saúde necessárias.

Os padres estão em uma posição difícil nessa situação. Alguns bons padres estão sendo criticados por obedecerem às diretrizes de seu bispo para suspender as missas públicas (enquanto continuam a celebrar uma missa particular). Outros estão procurando maneiras criativas de ouvir confissões enquanto procuram proteger a saúde das pessoas. Que conselho V. Exa. daria aos padres para viverem sua vocação nesses tempos?

Os padres devem se recordar que são antes e acima de tudo pastores de almas imortais. Eles devem imitar a Cristo, que disse: “Eu sou o bom-pastor. O bom-pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é pastor, a quem as ovelhas não pertencem, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom-pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim” (Jo 10, 11-14). Se um sacerdote toma de maneira razoável todas as precauções de saúde necessárias e usa discrição, ele não deve obedecer às diretrizes de seu bispo ou do governo para suspender a missa pelos fiéis. Tais diretrizes constituem uma mera lei humana; no entanto, a lei suprema da Igreja é a salvação das almas. Os padres em tal situação precisam ser extremamente criativos para prover aos fiéis, mesmo para um pequeno grupo, a celebração da Santa Missa e a recepção dos sacramentos. Tal era o comportamento pastoral de todos os sacerdotes que foram confessores e mártires por ocasião das perseguições.

O desafio à autoridade, particularmente à autoridade eclesial, pelos padres é sempre legítimo (por exemplo, se um padre for instruído a não visitar os doentes e moribundos)?

Se um sacerdote for proibido por uma autoridade eclesiástica de visitar os doentes e moribundos, ele não pode obedecer. Essa proibição é um abuso de poder. Cristo não deu ao bispo o poder de proibir a visita aos doentes e moribundos. Um verdadeiro padre fará todo o possível para visitar uma pessoa que está morrendo. Muitos padres o fizeram mesmo quando isso significava colocar suas vidas em perigo, seja no caso de perseguição ou no caso de epidemia. Temos muitos exemplos desses padres na história da Igreja. São Carlos Borromeo, por exemplo, dava a Sagrada Comunhão com as próprias mãos na língua dos moribundos infectados pela praga. Em nossos dias, temos o exemplo emocionante e edificante de padres, especialmente da região de Bérgamo, no norte da Itália, que foram infectados e morreram porque cuidavam de pacientes com coronavírus que estavam morrendo. Um padre de 72 anos com coronavírus morreu há alguns dias na Itália após desistir do ventilador, do qual precisava para sobreviver, permitindo que o mesmo fosse disponibilizado a um paciente mais jovem. Não visitar os doentes e moribundos é comportamento mais de um mercenário do que de um bom pastor.

Seus primeiros anos foram gastos na igreja subterrânea soviética. Que luzes ou perspectivas Vossa Excelência gostaria de compartilhar com os fiéis leigos que não podem assistir à missa e, em alguns casos, nem sequer podem passar um tempo antes do abençoado Sacramento, porque todas as igrejas em sua diocese foram fechadas?

Eu encorajaria os fiéis a fazerem frequentes atos de comunhão espiritual. Eles poderiam ler e meditar as leituras diárias e todo o ordinário da Missa. Eles poderiam enviar seu santo Anjo da Guarda para adorar Jesus Cristo no tabernáculo em seu nome. Eles poderiam se unir espiritualmente com todos os cristãos que estão na prisão por causa de sua fé, com todos os cristãos que estão doentes e acamados, com todos os cristãos moribundos que estão privados dos sacramentos. Deus preencherá este tempo de privação temporal da Santa Missa e do Santíssimo Sacramento com muitas graças.

O Vaticano anunciou recentemente que as liturgias da Páscoa serão celebradas sem os fiéis presentes. Mais tarde, especificou que está estudando “formas de implementação e participação que respeitem as medidas de segurança adotadas para impedir a disseminação do coronavírus”. Qual é a sua opinião sobre essa decisão?

Dada a estrita proibição de reuniões em grupo pelas autoridades governamentais italianas, pode-se entender que o Papa não possa celebrar as liturgias da Semana Santa com a presença de um grande número de fiéis. Penso que as liturgias da Semana Santa poderiam ser celebradas pelo Papa com toda a dignidade e sem simplificações, por exemplo, na Capela Sistina – como era costume dos papas antes do Concílio Vaticano II –, com a participação do clero (cardeais, padres) e de um grupo selecionado de fiéis, aos quais s seriam aplicadas previamente medidas de proteção higiênica. Não se vê a lógica em proibir o acendimento do fogo, a bênção da água e o batismo na Vigília Pascal, como se essas ações litúrgicas disseminassem um vírus. Um medo quase patológico superou o bom senso e a visão sobrenatural.

Excelência, o que o manejo da epidemia do coronavírus pela Igreja revela do estado da Igreja e particularmente da hierarquia?

Está revelando a perda da visão sobrenatural. Nas últimas décadas, muitos membros da hierarquia da Igreja se imergiram predominantemente em assuntos seculares, mundanos e temporais e, portanto, ficaram cegos para as realidades sobrenaturais e eternas. Seus olhos foram preenchidos com o pó das ocupações terrenas, como disse São Gregório Magno (ver Regula pastoralis II, 7). A reação deles ao lidar com a epidemia do coronavírus revelou que dão mais importância ao corpo mortal do que à alma imortal dos homens, esquecendo as palavras de nosso Senhor: “Do que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se ele vier a perder sua alma? ”(Marcos 8:36). Os mesmos bispos que agora tentam proteger às vezes com medidas desproporcionais os corpos de seus fiéis da contaminação por um vírus material, permitiram tranquilamente que o vírus venenoso dos ensinamentos e práticas heréticos se espalhasse entre seus rebanhos.

O cardeal Vincent Nichols disse recentemente que teremos uma nova fome pela Eucaristia após o término da epidemia do coronavírus. Vossa Excelência concorda?

Espero que essas palavras venham a ser verdadeiras para muitos católicos. É uma experiência humana comum que a privação prolongada de uma realidade importante inflama os corações das pessoas com um desejo por ela. Isso se aplica, é claro, àqueles que realmente acreditam e amam a Eucaristia. Essa experiência também ajuda a refletir mais profundamente sobre o significado e o valor da Sagrada Eucaristia. Talvez aqueles católicos que estavam tão acostumados com o Santo dos Santos a ponto de considerá-Lo algo comum tenham uma conversão espiritual e passem a compreender e tratar a Sagrada Eucaristia como extraordinária e sublime.

No domingo, 15 de março, o Papa Francisco foi rezar diante da imagem do Salus Populo Romani em Santa Maria Maggiore e diante do milagroso crucifixo instalado na igreja de San Marcelo al Corso. Vossa Excelência julga importante que bispos e cardeais realizem atos semelhantes de oração pública pelo fim do coronavírus?

O exemplo do Papa Francisco pode encorajar muitos bispos a atos semelhantes de testemunho público de fé e oração e a sinais concretos de penitência implorando a Deus para que acabe com a epidemia. Pode-se recomendar aos bispos e padres a percorrerem regularmente suas cidades, vilas e aldeias com o Santíssimo Sacramento no ostensório acompanhado por um pequeno número de clérigos ou fiéis um, dois, ou três, dependendo dos regulamentos do governo. Tais procissões com Jesus Eucarístico transmitirão aos fiéis e aos cidadãos o consolo e a alegria de não estarem sozinhos em tempos de tribulação, de que o Senhor está verdadeiramente com eles, de que a Igreja é uma Mãe que não esqueceu nem abandonou seus filhos. Poder-se-ia lançar pelas ruas deste mundo uma cadeia mundial de ostensórios com Jesus Eucarístico. Tais pequenas procissões eucarísticas, mesmo que realizadas apenas por um bispo ou sacerdote, implorariam graças de cura e conversão física e espiritual.

O coronavírus eclodiu na China pouco depois do Sínodo da Amazônia. Alguns meios de comunicação acreditam firmemente que essa é uma retribuição divina pelos eventos de Pachamama no Vaticano? Outros acreditam tratar-se de um castigo divino para o acordo Vaticano-China? Vossa Excelência julga válida alguma dessas posições?

A epidemia de coronavírus, em minha opinião, é sem dúvida uma intervenção divina para castigar e purificar o mundo pecaminoso e também a Igreja. Não devemos esquecer que Nosso Senhor Jesus Cristo considerou as catástrofes físicas como castigos divinos. Lemos, por exemplo: “Neste mesmo tempo, alguns contavam o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. Jesus toma a palavra e lhes pergunta: ‘Pensais vós que esses galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo” (Lc 13, 1-5).

A adoração ritual ao ídolo pagão da Pachamama dentro do Vaticano com a aprovação do Papa foi certamente um grande pecado de infidelidade ao Primeiro Mandamento do Decálogo, foi uma abominação. Toda tentativa de minimizar esse ato de veneração não conseguiu resistir à enxurrada de evidências e razões óbvias. Penso que esses atos de idolatria foram o culminar de uma série de outros atos de infidelidade à salvaguarda do depósito divino da fé por muitos membros do alto escalão da hierarquia da Igreja nas últimas décadas. Não tenho certeza absoluta de que o surto de coronavírus seja um castigo divino pelos eventos de Pachamama no Vaticano, mas considerar tal possibilidade não seria exagero. Já no começo da Igreja, Cristo repreendeu os bispos (“anjos”) das igrejas de Pérgamo e Tiatira por causa de sua conivência com a idolatria e o adultério. A figura de “Jezabel”, que seduziu a igreja de Tiatira à idolatria e ao adultério (ver Ap 2:20), também pode ser entendida como um símbolo do mundo atual, com o qual muitos com cargo de responsabilidade na Igreja estão hoje flertando.

As seguintes palavras de Cristo também permanecem válidas para o nosso tempo: “Desta vez a lançarei num leito, e com ela os cúmplices de seus adultérios para aí sofrerem muito, se não se arrependerem das suas obras. Farei perecer pela peste os seus filhos, e todas as igrejas hão de saber que Eu sou aquele que sonda os rins e os corações, porque darei a cada um de vós segundo as vossas obras” (Ap 2, 22-23). Cristo ameaçou com o castigo e chamou as igrejas à penitência: “Tenho alguma coisa contra ti: é que tens aí sequazes da doutrina [de que é lícito] comer carne imolada aos ídolos e praticar a fornicação. (…) Arrepende-te, pois; senão virei em breve a ti e combaterei contra eles com a espada da minha boca” (Ap 2, 14 e 16). Estou convencido de que Cristo repetiria as mesmas palavras ao Papa Francisco e aos outros bispos que consentiram na veneração idólatra da Pachamama e aprovaram implicitamente relações sexuais fora de um casamento válido, permitindo que os chamados “divorciados em segunda união” sexualmente ativos possam receber a Sagrada Comunhão.

Vossa Excelência apontou para os evangelhos e o livro do Apocalipse. A maneira de Deus lidar com o povo eleito no Antigo Testamento nos dá alguma ideia da situação atual?

A epidemia do coronavírus causou dentro da Igreja uma situação que, ao meu conhecimento, é única, ou seja, uma proibição quase mundial de todas as missas públicas. Isso é parcialmente análogo à proibição do culto cristão em quase todo o Império Romano nos três primeiros séculos. A situação atual é sem precedentes. No entanto, por que no nosso caso a proibição do culto público foi emitida pelos bispos católicos antes mesmo dos mandatos governamentais respectivos?

De alguma forma, a situação atual também pode ser comparada à cessação do culto sacrificial do Templo de Jerusalém, durante o cativeiro babilônico do Povo Eleito. Na Bíblia, o castigo divino era considerado uma graça, por exemplo. “Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige! Não desprezes a lição do Todo-poderoso. Pois ele fere e cuida; se golpeia, sua mão cura” (Jó 5, 17-18), e “Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te” (Ap 3, 19). A única reação adequada às tribulações, catástrofes e epidemias e situações semelhantes – que são instrumentos da mão da Divina Providência para despertar as pessoas do sono do pecado e da indiferença aos mandamentos de Deus e à vida eterna – é a penitência e a conversão sincera a Deus. Na oração a seguir, o profeta Daniel dá aos fiéis de todos os tempos um exemplo da verdadeira mentalidade que eles devem ter e de como devem se comportar e orar em tempos de tribulação: “Todo o Israel transgrediu vossa Lei e se desviou, a fim de não obedecer à vossa voz” (…) Ó meu Deus, ficai atento para ouvir-nos; abri os olhos para ver nossa ruína e a cidade que ostenta um nome vindo de vós. Não é em nome dos nossos atos de justiça que depositamos a vossos pés nossas súplicas, mas em nome de vossa grande misericórdia. Senhor, escutai! Senhor, perdoai! Senhor, ficai atento! Agi! Por vosso próprio amor, ó meu Deus, não demoreis, pois vosso nome foi dado à vossa cidade e a vosso povo!”(Dan 9, 11,18-19).

São Roberto Belarmino escreveu: “Sinais seguros da vinda do Anticristo [serão] a maior e última perseguição, e também a completa interrupção do sacrifício público (da Missa)” (A Profecia de Daniel, páginas 37-38). ) Vossa Excelência acha que o que ele se refere aqui ao que estamos testemunhando agora? É o começo do grande castigo profetizado no Livro do Apocalipse?

A situação atual fornece motivos suficientemente razoáveis ​​para se pensar que estamos no início de um tempo apocalíptico, que inclui castigos divinos. Nosso Senhor se referiu à profecia de Daniel: “Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel  – o leitor entenda bem” (Mt 24, 15). O Livro do Apocalipse diz que a Igreja deverá fugir por um tempo para o deserto (ver Ap 12,14). A atual cessação quase geral da celebração pública da Missa poderia ser interpretada como uma fuga para um deserto espiritual. O que é lamentável em nossa situação é o fato de muitos membros da hierarquia da Igreja não verem a situação atual como uma tribulação, como um castigo divino, ou seja, como uma “visita divina” no sentido bíblico. Estas palavras do Senhor também se aplicam a muitos clérigos no meio da atual epidemia física e espiritual: “No conheceste o tempo em que foste visitada” (Lc 19, 44). A situação atual desse “fogo da provação” (ver 1 Pd 4, 12) deve ser tomada a sério pelo Papa e pelos bispos, a fim de levar a uma profunda conversão de toda a Igreja. Se isso não ocorrer, aplicar-se-á também à nossa situação atual a seguinte mensagem de Soren Kierkegaard: “Um incêndio eclodiu nos bastidores de um teatro. O palhaço saiu para avisar o público, que pensou que era uma piada e aplaudiu. Ele repetiu, mas a aclamação foi ainda maior. Eu acho que é assim que o mundo chegará ao fim: no meio dos aplausos gerais dos espertalhões que acreditarem tratar-se de uma piada”.

Excelência, qual é o significado mais profundo por trás de tudo isso?

A situação da cessação pública da Santa Missa e da Sagrada Comunhão sacramental é tão única e séria que se pode descobrir por trás de tudo isso um significado mais profundo. Isso ocorreu quase cinquenta anos após a introdução da Comunhão na mão (em 1969) e uma reforma radical no rito da Missa (em 1969/1970) com seus elementos protestantes (orações do ofertório) e seu estilo de celebração horizontal e instrutiva (momentos de estilo livre, celebração em círculo fechado e em direção ao povo). A práxis da Comunhão na mão durante os cinquenta anos levou rapidamente a uma profanação intencional e não intencional do Corpo Eucarístico de Cristo em uma escala sem precedentes. Por mais de cinquenta anos, o Corpo de Cristo foi (principalmente sem querer) pisoteado pelo clero e os leigos nas igrejas católicas em todo o mundo. O roubo de hóstias consagradas também tem aumentado a um ritmo alarmante. A prática de receber a Sagrada Comunhão diretamente com as próprias mãos e os dedos se assemelha cada vez mais ao gesto de comer comida comum. Em não poucos católicos a prática de receber a Comunhão na mão enfraqueceu a fé na Presença Real, na transubstanciação e no caráter divino e sublime da Sagrada Hóstia. Com o tempo, a presença eucarística de Cristo tornou-se inconscientemente para esses fiéis uma espécie de pão ou símbolo sagrado. Agora, o Senhor interveio e privou quase todos os fiéis de assistir à Santa Missa e de receber sacramentalmente a Sagrada Comunhão.

Os inocentes e os culpados estão suportando esta tribulação juntos, pois no mistério da Igreja todos estão mutuamente unidos como membros: “Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele” (1 Cor 12, 26). A atual cessação da Santa Missa e da Comunhão públicas poderia ser entendida pelo Papa e pelos bispos como uma repreensão divina pelos últimos cinquenta anos de profanações e banalizações eucarísticas e, ao mesmo tempo, como um apelo misericordioso para uma autêntica conversão eucarística da Igreja. Da Igreja inteira. Que o Espírito Santo toque o coração do Papa e dos bispos e leve-os a emitir normas litúrgicas concretas, a fim de que o culto eucarístico de toda a Igreja seja purificado e orientado novamente para o Senhor [ou seja, celebrando ad orientem e não versus populum].

Pode-se sugerir ao Papa que realize juntamente com cardeais e bispos um ato público de reparação em Roma pelos pecados contra a Sagrada Eucaristia, bem como pelo pecado dos atos de culto religioso às estátuas da Pachamama. Uma vez terminada a atual tribulação, o Papa deveria emitir normas litúrgicas concretas, nas quais convidasse toda a Igreja a se voltar novamente para o Senhor na forma de celebração, ou seja, com o celebrante e os fiéis voltados para a mesma direção durante a oração eucarística. O Papa também deveria proibir a prática da Comunhão na mão, pois a Igreja não pode continuar tratando impunemente, de maneira tão minimalista e insegura, o Santo dos Santos na pequena Hóstia consagrada.

A seguinte oração de Azarias na fornalha ardente, que todo sacerdote diz durante o ritual do ofertório da Missa, poderia inspirar o Papa e os bispos a ações concretas de reparação e restauração da glória do sacrifício eucarístico e do Corpo Eucarístico do Senhor: “Que a contrição de nosso coração e a humilhação de nosso espírito nos permita achar bom acolhimento junto a Vós, Senhor, como se nós nos apresentássemos com um holocausto de carneiros, de touros e milhares de gordos cordeiros! Que assim possa ser hoje o nosso sacrifício em vossa presença! Que possa reconciliar-nos convosco, porque nenhuma confusão existe para aqueles que põem em Vós sua confiança. É de todo nosso coração que agora Vos seguimos, Vos reverenciamos, buscamos a vossa face. Não nos confundais; tratai-nos com vossa habitual doçura e com todas as riquezas de vossa misericórdia. Ponde vossos prodígios em execução para nos salvar, Senhor, e cobri vosso nome de glória” (Dan 3: 39-43).

16 comentários sobre “Dom Schneider fala sobre a conduta da Igreja em face do coronavírus.

  1. Precisamos sim de uma olhar sobrenatural neste tempos tão tortuosos. Assim como as santas mulheres foram chamadas pelo anjo a olharem para além do túmulo vazio, precisamos olhar para além das igrejas vazias. A Igreja não está vazia. Inúmeros foram os que reencontraram a fé nestes dias em que as transmissões televisivas e pela internet alcançaram um povo que há muito se mostrava indiferente à Santa Eucaristia. O Papa e inúmeros sacerdotes estão dando mostras de um comprometimento mais denso da fé católica. Inúmeros padres já entregaram a vida ao Senhor no apostolado de linha de frente diante dos doentes. A Igreja tem se mostrado mais presente do que nunca. Mas, jamais esqueçamos, a caridade é silenciosa. Nem um por cento do que a Santa Igreja tem feito aparece na mídia. Mas Deus está vendo o imenso amor dos que estão sim buscando, apesar dos portões fechados dos templos, escancarar os corações do povo de Deus, pois onde a desgraça abundou, a graça superabundou (cf. Rm 5,20).
    Sim, precisamos enxergar para além dos templos vazios…

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  2. Triste comprovar que mesmo padres de boa doutrina, conservadores, fieis ao ensinamento milenar da Igreja entraram nessa de “obediência às ordens legítimas das autoridades civis” e fecharam Igrejas e deixaram de rezar Missas públicas.
    Pergunto a eles: se os governantes, a partir de agora, resolverem dizer que não se pode mais benzer fieis com água benta, pois ela pode ser veículo de contaminação sim, esses padres e bispos irão se sujeitar às ordens das autoridades civis? Por coerência, eles tem que concordar.
    Por coerência, eles tem que aceitar o fato de uma autoridade civil poder regular atos e cerimônias religiosas

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  3. Até pode ter razão, mas no caso de Portugal é de lei a proibição realizar Missas. Neste caso em concreto, o que fazer?

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    1. Até ai estamos de acordo. Mas o que acontece, mesmo na FSSPX em Portugal, as Missas são rezadas com portas fechadas porque a lei as proíbe e, em caso de desobediência, são aplicadas multas ou mesmo cadeia.

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  4. Ontem quando conclui a Santa e Divina Liturgia da Páscoa, depois daquela da Vigília, com um grupo de 50 fiéis, desabei em lágrimas, rodeados por eles. Dizia -lhes : ” A Igreja é minha vida”. Todos agradeceram a graça de participarem dos Santos Ofícios. No Sábado Santo, os mercados estavam abarrotados. As igrejas fechadas. Lá estava eu preparando a igreja para a Páscoa. Flores, velas…ninguém pereceu. Soube hoje que todos estão radiantes e objetos de surpresa pelos ausentes.

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  5. Não existe sacramento virtual, isso é fato. O fiel não está nem obrigado a assistir on-line ou na TV as cerimônias. Fazemos por piedade. Nosso Senhor não deseja não ser encontrado nos sacramentos, isso por si mesmo, já é uma situação complicada pois não há um prazo disso acabar. Pode levar meses sem sacramentos.

    Contudo, como temos obrigação de tentar extrair o bem maior que Deus permite nesse mal, eu imagino que funcionará como uma triagem dos fieis. Aqueles que realmente estão na igreja de corpo e alma, continuarão a frequentar. Aqueles que estava apenas de corpo presente, vão continua indo pouco na Igreja ou nem irem mais ( melhor ainda).

    Eu estou procurando rever muito meu relacionamento e meu caminho de santidade com meu Senhor e Salvador que foi “levado de nós”, como Maria madalena no sepulcro. E ele estava, e está VIVO e RESSUSCITADO! Temos que encontrar Jesus

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  6. Não à toa este nobre prelado carrega o nome de Athanasius. Assemelha-se ao corajoso Santo Atanásio, que chegou a ser excomungado na época do arianismo.

    Multiplicai, Senhor, bispos como Dom Schneider!

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  7. Dom Athanasius, aqui no Brasil. Ele é um bispo com cabeça de monge, cônego regular. Primeiro os padres não estão proibidos de visitar os doentes. O que se recomenda é a aglomeração. É fácil falar, quando com certeza, ele não vai nem ao mercado. E nunca foi um padre pastor. Sempre nas salas de aula. sempre. E excelente professor por sinal; mas não celebrava com o povo, só em seu mosteiro. Fato.
    Antes ele dizia que onde não tinha padres, poderia se fazer a comunhão espiritual. Isto contra o sínodo da Amazônia para não ordenar os homens casados. Dois pesos e duas medidas.
    E por que agora não se pode fazer a comunhão espiritual neste tempo de epidemia? Ele sabe como se contagia. A virtude da prudencia também ainda está presente. Precisamos da fortaleza, piedade, mas também da prudencia. E tivemos santos que ficaram sem a Eucaristia por várias situações.
    Por este e outras, ele não será bispo titular. Eterno bispo auxiliar. Por que ele não sai do escritório e vai atender o povo nas Igrejas então? Não tem sendo de padre pastor, como voce vai escolher o povo que vai assistir a Santa Missa. Todos querem assistir. Ele só confirma que não sabe como funciona uma vida paroquial. e por que? Porque é padre de academia. não sem mérito. Mas fala muitas coisas quando é conveniente.

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    1. Exatamente Silva. E aos que orientam “desobedecer” duvido que eles mesmos desobedecem, gostam somente de jogar lenha na fogueira. Fica a máxima de Nosso Senhor Jesus Cristo quando se referiu ao sábado santo: ” o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”, o mesmo pode se dizer da Missa e dos Sacramentos, eles foram feito para o homem e não o homem para eles. Se for possível frequentar Missas e Sacramentos, muito bem, mas se não for, paciência. Deus é muito mais que tudo isso e conhece o coração de cada um.

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    2. Dizer “faz melhor” não é argumento, é só apelo emocional, e seu texto denuncia tanto isso com esse final digno de uma fofoqueira de esquina.
      E digo mais, houve de fato “dois pesos e duas medidas”, o que você implica é de fato “dois pesos e uma medida”, coisas diferentes mas que você quer dar o mesmo valor porque sim; o bispo fala de comunhão espiritual quando há uma falta irresistível de sacerdotes, e fala ainda na estação do laicato, não fala para que os sacerdotes primariamente promovam assim, porque os sacerdotes possuem um dever que deveria preceder e fazer subsistir a comunhão espiritual.
      O sacerdote que não vai para essa ou aquela região faz assim porque não quer, mas o sacerdote que agora não pode dar a eucaristia para os leigos não tem parte de escolha.

      Há mais para razoar do que isso, está parecendo mais lago reativo da sua parte do que qualquer outra coisa.

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  8. Em mercados estão nas portas com álcool em gel é medindo temperatura.
    Mercado é necessário e duvido que ele vá ou iria.
    A decisão foi tardia, é obrigação da Igreja proteger os fiéis. O sacrifício NÃO cessou.
    Povo tem pouca Fé!!!! OS Santos ficavam anos sem comungar!
    Parem de mi-mi-mi NÃO é uma fantasia ou chuva ou resfriadinho é algo gravíssimo. Há duas pessoas com peste chinesa na minha família: uma não sente nada, outra está detonada mas em recuperação
    Imagine aqui na Vila Tesouro missa com mil pessoas!!!!
    Os anjos no vão cantar Regina Caeli;
    Papa São Gregório não está na Terra!!!!
    Só temos o Rosário de três terços, 3 terços TRÊS TERÇOS!!!!

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  9. Se o covid-19 é castigo pelo Sínodo da Amazônia, a “adoração à Pachamamma” e o acordo Vaticano-China, por que é justamente o norte da Itália, conservador, que está sofrendo mais, enquanto Roma, o Vaticano e o sul da Itália estão sendo preservados. Por que a modernista e “herética” Alemanha está passando praticamente incólume pela crise? E dom Aldo Pagotto, defensor do “Messias” na presidência, não deveria ter sido preservado? Nesses tempos estou mais fechado que nunca com o papa Francisco e o episcopado católico. E que Deus nos ajude, pois é como Igreja una e católica que superaremos essa provação.

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