Argentina. Seminário é fechado após desafiar ordem do bispo de ‘Comunhão na mão’.

IHU – Um seminário localizado no coração da famosa região vinícola argentina, Mendoza, recebeu a ordem do bispo local para fechar as portas. O religioso seguiu instruções do Vaticano após uma revolta em torno das medidas de segurança relativas à covid-19.

A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 05-08-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Diocese de San Rafael é o lar de um grande seminário diocesano, com 39 alunos estudando para o sacerdócio. A diocese, junto do governo da Província de Mendoza, decretou que, como forma de precaução, a Comunhão seria entregue somente na mão durante o tempo que durar a pandemia.

No entanto, uma maioria dos padres e leigos locais tem protestado contra a medida, com o seminário à frente de uma campanha contra a decisão tomada por Dom Eduardo Maria Taussig.

Religioso conservador, Taussig é amigo de Dom Hector Aguer, arcebispo emérito de La Plata, prelado que já foi descrito por analistas argentinos como o principal opositor do então Cardeal Jorge Mario Bergoglio – hoje, Papa Francisco – quando este era o arcebispo de Buenos Aires.

No entanto, em um texto postado no blog espanhol Info CatolicaAguer revelou ter conversado com Taussig duas vezes por telefone, e culpa o bispo pela crise.

“Lamento profundamente o que está acontecendo em San Rafael, por um erro muito grave seu: o decreto sobre como dar a Comunhão. Por duas vezes eu já manifestei a minha opinião, quando conversamos por telefone”, escreveu o arcebispo.

Embora as conferências episcopais do mundo todo estejam aconselhando os padres para que deem a Comunhão na mão durante as missas nestes tempos de pandemia, o Vaticano não publicou instruções sobre o assunto.

Críticos destas instruções dizem que não há evidências científicas de que se um padre está usando adequadamente uma máscara facial e desinfeta as mãos antes de distribuir a Eucaristia, o risco de contágio é maior se recebido na língua, e não na mão.

Os padres rebeldes sustentam que os fiéis têm o direito de receber a Comunhão na língua e que ambos os métodos de recepção estão sendo oferecidos aos católicos da diocese argentina.

Depois que os padres de San Rafael se revoltaram contra a decisão de Taussig, o bispo decidiu fechar o seminário, movimento apoiado pelo Vaticano.

Uma nota em 27 de julho anunciava que um novo reitor fora nomeado por Taussig, que ele assumiria o posto imediatamente e que “ao apresentar o novo reitor aos padres e seminaristas, o bispo também comunicou que, seguindo instruções precisas da Santa Sé, tomou a decisão de fechar o seminário no fim deste ano, assim que o ano letivo terminar”.

O comunicado anunciou ainda que o bispo, o reitor e os formadores acompanhariam os seminaristas em uma jornada de “discernimento” para que eles estes possam ser realocados em outros seminários do país.

“Embora muito dolorosa para todos, essa medida é necessária”, lê-se no texto divulgado. “Deus saberá como dar novos frutos de santidade para toda a diocese, enquanto perseveramos na comunhão com a hierarquia que o próprio Senhor arranjou para guiar a Igreja”.

Dois dias depois, o Pe. Antonio Alvare, porta-voz da Diocese de San Rafael, contou canal de televisão local TVA El Nevado que a decisão foi tomada pela Santa Sé em decorrência à desobediência da maioria dos clérigos de San Rafael em dar a Comunhão na mão.

San Rafael tem 100 mil moradores e desde que a pandemia chegou à Argentina, em março, a cidade registrou apenas seis casos positivos de covid-19, com nenhuma morte relatada.

Alvarez argumentou que, com tantos padres desafiando abertamente a autoridade do bispo, era impossível encontrar formadores para o seminário dentre o clero.

Um padre citado pelo jornal regional Los Andes disse que eles não estão sendo desobedientes à Igreja ao darem a Comunhão na língua a quem assim pede, porque a regra universal da Igreja permite tal prática. O entrevistado também disse que há formas de cumprir as medidas de saúde que não tiram os direitos dos fiéis.

Antes que a decisão de fechamento do seminário fosse anunciada – logo depois que se flexibilizou a quarentena em Mendoza –, Taussig declarou que a Comunhão só seria dada na mão após a emergência acabar, e pediu aos fiéis que não forçassem os padres e ministros a negar-lhes o sacramento solicitando recebê-lo na língua.

“Imploro que não coloquem [os padres e os ministros] na dor terrível de, ao obedecer a Igreja e as normas vigentes, não poderem dar-lhes a Comunhão”, pediu o bispo. “Se você não tem condições de receber a Comunhão na mão, saiba que não está obrigado a receber a Comunhão e poderá fazer a comunhão espiritual”.

Alvarez, o porta-voz diocesano, criticou os manifestantes – que, a certa altura, desafiaram as leis argentinas contra a aglomeração durante a pandemia, quando formaram um grupo de oração em frente ao seminário – dizendo que um protesto público não era o melhor a ser feito.

“Podemos discordar, mas há formas de fazê-lo”, disse. “Não podemos esperar a permissão para fazer algo que está proibido pela lei civil. E a restrição dos direitos constitucionais, em uma pandemia, é legítima”.

O padre salientou que “um mês atrás, nós nem sequer podíamos participar das missas”, e observou que o limite de trinta pessoas para cada evento religioso, permitido em Mendoza, está acima da média nacional, que é de dez.

Conferência Episcopal Argentina lançou uma nota, no sábado, em apoio a Taussig e sua decisão.

“Na formação presbiteral, o bispo deve ser capaz de contar com a ajuda dos padres animados pelo Evangelho, os quais aceitam, de forma plena e sem reservas, os ensinamentos do Magistério da Igreja, especialmente aqueles contidos no Concílio Vaticano II”, lê-se na nota.

“Isto requer uma consciência clara das atuais expectativas da Igreja: que eles concordem fielmente com as exigências indicadas no Plano de Formação Presbiteral, num clima de lealdade com o pastor da diocese e uma responsabilidade cuidadosa dos jovens a ele confiados”.

4 comentários sobre “Argentina. Seminário é fechado após desafiar ordem do bispo de ‘Comunhão na mão’.

  1. A peste bubônica dizimou milhões de pessoas na Europa nos séculos passados, ou seja, quantidades de mortos mil vezes maior que o covid19 que, afinal é mera gripe.
    No entanto, na época as missas continuavam normalmente com a comunhão sendo aplicada direto na boca do fiel.
    As missas estão proibidas mas os bailes funks, os ônibus cheios e diários levando pessoas ao trabalho em todas as partes continuam. Shoppings e restaurantes cheios.
    A propósito, antes de o fiel receber a hóstia na mão, ela passou pela mão do padre da mesma forma.
    Não dá para entender exceto pela perseguição ao catolicismo, inclusive por bispos que desejam de todas as formas acabar com as missas e transformar a Igreja em prática protestante e divulgação política da heresia chamada Teologia da Libertação.

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  2. É um caso horrível, e ao mesmo tempo pode ser o melhor para os próprios seminaristas – quem sabe assim lhes acaba de “cair a ficha” acerca da religião nascida do Vaticano II…
    Acho que a FSSPX devia entrar em contato com esses seminaristas e convidá-los a fazerem ao menos um tempo de experiência em seu seminário.
    Que os Santos Anjos da Guarda deles os ajudem!

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  3. Fratres
    Rezemos pela alma de nossa irmã Gercione Lima, que tanto lutou pela fé e colaborou com este site.

    Dai-lhe senhor o descanso eterno
    E que a luz perpétua a ilumine.
    Descanse em Paz Gercione.

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  4. Se consta que o papa Francisco apoiou a decisão essa muito estranha desse bispo, que mais esperar? É a CNBB II, dos 152 bispos pró TL na versão argentina, outros que provavelmente não quereriam se expor, o que pareceria!

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