FratresInUnum.com, 15 de fevereiro de 2021 – Em seu vídeo do último domingo, Dom Odilo Scherer disse que “ainda nem começou a CF2021, já está dando polêmica”. Sentimos muito discordar de Sua Eminência, mas, a realidade é que nem começou a CF2021 e ela já acabou, porque sepultada pelos católicos.
Ao contrário do que sugerem algumas análises de comentadores situacionistas, a polêmica não é obra de um reduzido grupos de católicos ultraconservadores, mas do povo fiel, a ponto de chamar a atenção de sites e jornais… Entre o povo, é só no que se fala, sempre em tons de indignação e repúdio.
O desprestígio da CF-TL
Há quase 60 anos, a Igreja no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade, mudando a tônica do tempo quaresmal da preocupação com o pecado para temas revolucionários, trocando a graça transcendente pelo imanentismo político próprio da Teologia da Libertação. Mas algo mudou nesses 60 anos.
Antigamente, os católicos não entendiam muito bem a tal CF, mas tinham benevolência para com os seus pastores e aceitavam com bom espírito aquela inovação. Atualmente, os católicos já percebem o que é a Teologia da Libertação e qual a sua finalidade, isto é, a instrumentalização do altar pela esquerda dita católica. Os leigos de hoje não somos mais os leigos de 60 anos atrás. Estamos bem cientes de quem é e de quem não é.
Falácias de autoridade
Neste sentido, parece-nos realmente risível a atitude de boa parte dos bispos que, para submeter o povo à CF, apelam para argumentos de autoridade do tipo: “quem não está com os bispos, está fora da Igreja” ou “os bispos não podem errar”. Ora, mas será que esses prelados pensam realmente que nós somos imbecis? Eles não perceberam que hoje os católicos são muito mais bem formados do que naqueles tempos em que grassava o analfabetismo pelo Brasil?
De fato, nós entendemos muito bem a definição clássica da Igreja dada por S. Roberto Belarmino e recordada pelo próprio Papa Paulo VI, do qual dizem ser devotos: “A Igreja é a assembleia dos homens que professam a mesma fé cristã, na comunhão dos mesmos sacramentos, sob a guia dos legítimos pastores e especialmente do romano Pontífice”
Em outras palavras, a eclesiologia atual trocou a comunhão na verdade pela por qualquer consenso de bispos que não se importam com a ortodoxia. A fé é o elemento estruturante da Igreja e é ela que confere legitimidade aos pastores. Não adianta vir com carteirada! O episcopado não é um poder absoluto, nem o sumo pontificado o é. Ambos estão a serviço da profissão da fé católica e hoje nós temos todos os recursos para comparar aquilo que se ensina com o ensino de todos os Santos Padres, Doutores da Igreja e dos maiores teólogos de todos os tempos, talvez mais até do que muitos que ostentam mitras sobre as suas cabeças. Já fomos advertidos: “Mas, ainda que alguém – nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema” (Gl 1, 8).
Resumindo: os maiores heresiarcas de todos os tempos foram leigos ou bispos? Será que adianta agora nos apresentar apenas argumentos de autoridade?
Ideologia e CF
Dom Pedro Stringhini, bispo de Mogi das Cruzes, SP, foi mais sincero ao dizer que a CF é ideológica, mesmo. “Quem critica diz que isso é ideológico. Claro que é, claro que é ideológico! Porque quando fala dos pobres, quando fala contra as desigualdades, quando fala a favor da ideologia, claro que é ideológico! E quem fala contra é ideológico também. Estes que são aí da extrema direita, que estão falando contra a Campanha, eles estão defendendo a ideologia deles. Vamos dialogar”.
A concepção de ideologia mudou completamente de sentido entre os marxistas. Marx a entendia negativamente: a ideologia seria uma falsificação da realidade, que é cruamente material; Gramsci a entendia positivamente: como tudo é ideológico, o que se precisa fazer é a contraposição dialética das ideologias, exatamente como defende Dom Stringhini em sua declaração.
CONIC e Ecumenismo
A presidência da CNBB teve uma versão diferente da apresentada pelo bispo de Mogi das Cruzes, pois resolveu esquivar-se da responsabilidade pelo Texto Base com a finalidade de salvar a coleta do Domingo de Ramos e jogou a bomba nas mãos do CONIC.
Aliás, o próprio Dom Odilo disse que “essa polêmica está movida por preconceitos e paixão anti-ecumênica”, tentando desviar o foco do escândalo do texto base. Ora, mas este argumento foi brilhantemente destruído pelo Anderson Reis, que demonstrou que todas estas ideias apresentadas pelo CONIC não são sequer oriundas dos “evangélicos” do Brasil, em sua maioria conservadores e avessos a tais absurdos, tanto quanto os católicos.
O argumento “ecumenicista” não passa de uma tentativa de desconversa.
Fato é que um documento que fala de diálogo e que se apresenta como ecumênico não levou em conta a fé dos católicos nem da massa dos “evangélicos pentecostais”, mas tão somente a dos “protestantes tradicionais”, e sequer foi conhecido pelos bispos que o endossariam para as suas dioceses. A CNBB reconheceu que foi surpreendida pelo assunto e agora tem de pagar caro por este desprestígio.
Desgaste de anos
Todavia, se os bispos da CNBB fossem sinceros, reconheceriam subitamente que a Campanha da Fraternidade está mais do que desgastada entre os próprios bispos, os padres e o povo, e que a única força que ainda a mantém de pé é o “conservadorismo de esquerda” da velha guarda de ativistas petistas que ainda infestam a Conferência.
Nenhuma polêmica ganharia tais proporções se já não estivesse profundamente problematizada no coração dos católicos. Os fieis não aguentamos mais! Queremos a nossa quaresma de volta, isto é, aqueles que ainda tiveram a oportunidade de viver algum tipo de quaresma antes do sequestro ideológico operado pela CF, porque as gerações mais novas sequer tiveram chance de viver uma quaresma descontaminada de política esquerdista.
Agora, mais do que nunca, o descontentamento dos católicos está escancarado. Todos querem ter apenas o direito de fazerem as suas devoções quaresmais e preparar-se santamente para a Páscoa. Será pedir demais? Parece que para os bispos, sim! A ideia de suprimir a CF está fora de cogitação. Ela é mais obrigatória do que o dogma católico! – Houve padre que chegou até a dizer que falar mal da CF é pecado, enquanto diz que “Deus está se lixando se você faltou à missa” e que o relacionamento com Deus deve ser “sem culpa”, “sem esta coisa maluca de pecado” (ou seja, o pecado existe apenas de acordo com a conveniência hipocritamente sustentada por este padre).
O perigo dos conservadores
Se a CNBB fosse esperta – e é! – iria se valer agora dos chamados “conservadores” (dessa gente que defende o aggionarmento engomado, que veste batina, reza em latim e tem aquela enganosa estética tradicional; que não abomina a missa de sempre, desde que se incense a missa nova) para anestesiar a resistência dos católicos.
Daqui a pouco começarão a aparecer padres desse naipe que começarão a “acalmar os afoitos”, a dizer que “não precisamos ser tão contundentes”, a pedir moderação, luxo e sofisticação, justamente para deixar o caminho para os revolucionários.
Não podemos cair neste engodo. Aliás, precisamos deixar muito claro para todos que essa movimentação popular é totalmente descoordenada e que não aceitamos nenhum tipo de atenuação da situação atual: rejeitamos inteiramente o Texto Base e a CF, não queremos mais nenhuma linguagem enganosa e não toleraremos senão a abjuração completa deste documento nefasto.
Uma iniciativa corajosa, mas ambígua
No ano de 1988, centenário da abolição da escravatura, Dom Eugênio Salles rejeitou o Texto Base da CF, que instigava a luta racial, e criou um texto próprio para a Arquidiocese do Rio de Janeiro. A esquerda católica estrebuchou, mas nada aconteceu. Era um direito inalienável dele enquanto pastor próprio de sua diocese e, portanto, fez prevalecer a sua prerrogativa pastoral.
Agora, outra iniciativa foi tomada na mesma linha. Dom Fernando Guimarães, arcebispo militar, escreveu uma carta à Presidência da CNBB em que diz que não serão utilizados os textos da CF em sua circunscrição. A iniciativa foi corajosa, sobretudo porque diz que não enviará os recursos da coleta do Domingo de Ramos para a CNBB (nada lhes dói mais do que isso), mas ainda ambígua, pois o arcebispo louva o diálogo inter-religioso e recomenda a Fratelli tutti. Enfim, no meio de tantas evasivas, pelo menos uma atitude de discreta resistência que pode inspirar atitudes ainda mais corajosas.
Linguagem ambígua ou propositalmente calculada?
Enquanto a CNBB se esquiva da responsabilidade pelo texto, especialmente nas questões de ideologia de gênero, vozes importantes dizem que exatamente foi este o ponto principal do Texto Base. A língua bífida da serpente sempre trabalha com a mentira e a contradição!
O Padre Antônio Carlos Frizzo, assessor eclesiástico da Pastoral de Fé e Política e um dos secretários da CNBB responsáveis pela CF, em entrevista à Deutshe Welle, traduzida pela Unisinos (jesuítas), disse que o texto base “põe o dedo na ferida. Precisamos superar a violência pela força do diálogo e com a dimensão cristã dialogando. Contra todo tipo de violência: contra os negros, as mulheres, os LGBTs e, sobretudo, a violência contra a natureza”, pois, “o Brasil é um dos países que mais matam pessoas transexuais. (…) Por isso o texto-base usa, sim, dados para marcar e apontar a violência que se volta contra as pessoas que são homossexuais, transexuais etc., e também contra as pessoas que são ligadas a movimentos dos direitos humanos. O Brasil é uma sociedade tremendamente violenta. Não é mais cordial. Predomina a intolerância”.
Ele confessa que se escolheu “o tema ‘diálogo’, sobretudo pelo que ocorreu no Brasil depois do surgimento do governo Bolsonaro, quando a sociedade ficou muito dividida”.
Em outro artigo, o Padre Danilo Pena, citando um texto do famoso jesuíta James Martin, conhecido por sua adesão teológica ao movimento LGBT, diz que não se pode usar “um léxico que seja mais confortável à Igreja. Processos de reconciliação precisam respeitar a dignidade do fenômeno sem analogias. Assim, a Igreja acerta quando, ao invés de prescrever expressões alternativas, respeita e utiliza os nomes que já pertencem às pessoas que se sentem representadas por eles: “gay”, “lésbica”, “queer”, “LGBT” e “LGBTQI+”, por exemplo. Usar estas expressões, sem medo do tribunal da internet e do juízo dos católicos farisaicos, faz parte de uma opção eclesial que busca a abertura para um necessário avanço pastoral”.
Em outras palavras, o recuo dado pela cúpula da CNBB foi apenas retórico e momentâneo. A utilização da linguagem gayzista e a provocação aos católicos foi o objetivo principal do documento, que teve como intenção a quebra de uma resistência, o avanço de uma ideologia.
CF2021: uma mudança de paradigma
Na verdade, a Teologia da Libertação está realizando uma mudança de paradigma. Aquela velha TL das décadas de 60-70 existe apenas na cabeça de alguns bispos saudosistas e está sofrendo uma lenta e longa eutanásia para que ressurja a verdadeira TL do futuro: o eco-gayzismo da libertação!
Assim como a esquerda revolucionária passou por uma metamorfose na década de 90 e trocou a revolução operária pela revolução sexual, agora, a Teologia da Libertação está trocando de pele, como uma cobra. A nova TL parte do pressuposto de que a lógica capitalista patriarcal da exploração do planeta deve ser mudada por uma lógica socialista feminista e gayzista do cuidado do planeta; daí o eco-gayzismo da libertação.
Por isso, mais do que nunca, os católicos devem lutar. Não foi apenas uma ferida na sensibilidade tradicional dos fieis, nem se pode reduzir o fenômeno a uma mera questão de vocabulário ecumênico. Não se trata disso! Trata-se de uma verdadeira apostasia com a qual não nos devemos acumpliciar. É preciso resistir e mostrar a estes senhores que nós entendemos muito bem o que está acontecendo!