Dom Viganò, Vaticano II e crise na Igreja.

Por Rádio Spada, 12 de março de 2021 | Tradução: Hélio Dias Viana, FratresInUnum.com 

Rádio Spada (RS): Bom dia Excelência, Agradecemos-lhe pelo diálogo que teremos. Comecemos pela Galleria neovaticana, livro de Marco Tosatti, do qual o senhor escreveu o prefácio. Permita-me contar-lhe uma anedota: não havia passado poucas horas do anúncio do envio para a impressão e já no Twitter aparecia um perfil com uma pesquisa — baseada apenas na capa e no título, obviamente — para perguntar quão evangélico era imprimir um volume dedicado a denúncias escabrosas e fatos nem sempre edificantes. O que responderia a essa objeção.

🔴 Intervista-bomba di Mons. Viganò in esclusiva per Radio Spada

Dom Carlo Maria Viganò (CMV): Permitam-me recordar aqui que Bento XVI, nos meses anteriores à sua decisão de assumir o título singular de “Papa emérito”, instituiu uma Comissão de Cardeais, presidida pelo Cardeal Herranz e composta pelos Cardeais Tomko e De Giorgi, com o objetivo de realizar uma investigação aprofundada sobre as informações confidenciais divulgadas pela Vatileaks. Naquela ocasião, tive de insistir com o Cardeal Herranz para testemunhar, uma vez que não era sua intenção interrogar-me, embora eu estivesse pessoalmente envolvido como autor dos documentos confidenciais destinados ao Pontífice, que foram roubados e entregues à imprensa. Entreguei-lhes um importante dossiê no qual explicava todas as disfunções e a rede de corrupção que conheci, e que tive de enfrentar como Secretário-Geral do Governo da Cidade do Vaticano.

Acompanhei esse dossiê com uma carta, na qual, entre outras coisas, escrevia: “Estou muito triste pelos graves danos causados ​​à Igreja e à Santa Sé pelo vazamento de tantos documentos confidenciais… Se houver algum responsável por atos tão precipitados, muito mais grave é a culpa daqueles que foram responsáveis ​​por tanta corrupção e degradação moral na Santa Sé e no Estado da Cidade do Vaticano, e de alguns cardeais, prelados e leigos que, apesar de saberem, preferiram viver com tanta sujeira, adormecendo as suas consciências para agradar ao poderoso superior e fazer carreira. Espero que pelo menos esta Comissão Cardinalícia, por amor à Igreja, seja fiel ao Santo Padre e faça toda a limpeza necessária por ele exigida e não permita que esta sua iniciativa seja novamente encoberta. Muitos jornalistas de vários países procuraram contatar-me … Fiquei calado, por amor à Igreja e ao Santo Padre. A força da verdade deve fluir de dentro da Igreja, e não dos meios de comunicação … Rezo por vós, Cardeais, para que tenhais a coragem de dizer a verdade ao Santo Padre; e rezo pelo Santo Padre, para que tenha a força para fazê-la vir à luz na Igreja ”.

Esse caudal de informações, junto com as outras evidências recolhidas pelos três Cardeais, teria permitido uma operação de limpeza: tudo foi encoberto! E só pode constituir mais um elemento de chantagem para os nomes nele contidos e, nos últimos oito anos, uma ocasião para desacreditar aqueles que, por outro lado, serviram fielmente a Igreja e a Santa Sé.

Necesse est enim ut veniant scandala; verumtamen væ homini per quem scandalum venit (Mt 18,7). Denunciar a corrupção de clérigos e Prelados impôs-se como um gesto de caridade para com os fiéis e um ato de justiça para com a Igreja atormentada, porque por um lado adverte o povo de Deus contra os lobos disfarçados de cordeiros e os mostra pelo que eles são, e por outro lado mostra que a Esposa de Cristo é vítima de um conventículo de luxuriosos ávidos de poder, e se eles forem afugentados Ela poderá voltar para pregar o Evangelho. Não é aquele que revela os escândalos que peca contra a caridade evangélica, mas aquele que executa esses escândalos e os encobre. As palavras do Senhor não dão origem a mal-entendidos.

RS: Como se sabe, indo além do tema moral, é impossível não identificar no colapso doutrinário o próprio cerne da crise da Igreja. Em relação a isso, em várias ocasiões o Senhor expressou uma forte crítica ao Vaticano II. Neste ponto, pediríamos mais especificações. Falando com Sandro Magister, atacou: “A bela fábula da hermenêutica — embora credível pelo seu Autor — permanece, no entanto, uma tentativa de querer dar a dignidade de um Concílio a uma verdadeira emboscada contra a Igreja”. Podemos, portanto, esclarecer que o problema não é identificável apenas pelo Vaticano II, mas também no Vaticano II? Em outras palavras, o processo revolucionário teve um ponto de inflexão com o “Concílio”, e não somente após o “Concílio”? Não apenas o espírito do Vaticano II, mas também sua letra deve ser acusada?

CMV: Não vejo como se pode argumentar que existe um suposto Vaticano II ortodoxo do qual ninguém fala há anos, traído por um espírito do Concílio que todos também elogiaram. O espírito do Concílio é o que o anima, o que determina sua natureza, particularidade, características. E se o espírito é heterodoxo enquanto os textos conciliares não parecem doutrinariamente heréticos, isso deve ser atribuído a um movimento astuto dos conspiradores, à ingenuidade dos Padres conciliares e à conivência daqueles que preferiram procurar outro lugar, desde o início, em vez de se posicionarem com uma condenação clara dos desvios doutrinais, morais e litúrgicos.

Os primeiros a estarem perfeitamente cientes da importância de colocar a mão nos textos conciliares a fim de usá-los depois para seus próprios fins foram os cardeais e bispos progressistas, particularmente alemães e holandeses, com seus especialistas. Não é por acaso que eles conseguiram rejeitar os esquemas preparatórios apresentados pelo Santo Ofício e ignoraram as propostas do episcopado mundial, incluindo a condenação dos erros modernos, especialmente do comunismo ateu; também conseguiram impedir a proclamação de um dogma mariano, vendo nele um “obstáculo” ao diálogo ecumênico. A nova liderança do Vaticano II foi possível graças a um verdadeiro golpe de estado, ao papel proeminente do jesuíta Bea e ao apoio de Roncalli. Se os Esquemas tivessem sido mantidos, nada do que saísse das Comissões teria sido possível, porque se baseavam no modelo aristotélico-tomista que não permitia formulações equívocas.

A letra do Concílio deve, portanto, ser acusada, porque foi daí que começou a revolução. Por outro lado, poderia citar-me um caso na história da Igreja em que um Concílio Ecumênico tenha sido deliberadamente formulado de maneira equívoca para garantir que o ensinado em seus atos oficiais viesse depois a ser subvertido e contraditado na prática? Isso é suficiente para catalogar o Vaticano II como um caso em si, um hápax sobre o qual os estudiosos poderão se fundamentar, mas que deverá encontrar uma solução por parte da autoridade suprema da Igreja.

RS: Como ficou sabendo dessa crise? Um processo gradual? Um fato imediato que se desenvolveu em curto prazo?

CMV: A minha tomada de consciência foi progressiva e começou relativamente cedo. Mas compreender ou começar a suspeitar que aquilo que nos foi apresentado como sendo fruto da inspiração do Espírito Santo havia sido realmente sugerido pelo inimicus homo não foi suficiente para derrubar aquele sentimento de dolorosa obediência à Hierarquia, mesmo na presença de múltiplas provas de má fé e a malícia de alguns de seus membros. Como já tive oportunidade de declarar, o que vimos então materializar-se — falo, por exemplo, de algumas novidades, como a colegialidade episcopal, ou o ecumenismo ou o Novus Ordo — podem surgir como tentativas de ir ao encontro do desejo comum de renovação, de reconstrução do pós-guerra. Diante do boom econômico e dos grandes acontecimentos políticos, a Igreja parecia dever se rejuvenescer de alguma forma, ou como nos diziam todos, a começar pelo Santo Padre. Os acostumados à disciplina pré-conciliar, ao respeito à Autoridade, à veneração do Romano Pontífice nem ousaram pensar que aquilo que nos foi sub-repticiamente mostrado como meio de difundir a Fé e converter muitas almas à Igreja Católica era na verdade um veículo, um engano por trás do qual se escondia na mente de alguns a intenção de cancelar progressivamente a Fé e deixar as almas no erro e no pecado. Quase ninguém gostou dessas “novidades”, muito menos os leigos, mas elas nos foram apresentadas como uma espécie de penitência a ser aceita, tendo em troca uma maior difusão do Evangelho e o renascimento moral e espiritual de um mundo ocidental prostrado pela guerra e ameaçado pelo materialismo.

Mudanças radicais começaram com Paulo VI, com a reforma litúrgica e a proibição drástica da Missa Tridentina. Senti-me pessoalmente magoado e desamparado quando, como jovem secretário da Delegação Apostólica de Londres, a Santa Sé proibiu a Associação Una Voce de celebrar uma única Missa segundo o Rito Antigo na cripta da Catedral de Westminster.

Durante o pontificado de João Paulo II, algumas das instâncias mais extremas do Concílio encontraram força motriz no panteão de Assis, nas reuniões nas mesquitas e sinagogas, nos pedidos de perdão pelas Cruzadas e pela Inquisição, com a chamada purificação da memória. A carga subversiva de Dignitatis humanae e Nostra ætate foi evidente naqueles anos.

Depois veio Bento XVI e a liberalização da liturgia tradicional, até então ostensivamente objeto de oposições, apesar das concessões papais após as sagrações episcopais de Ecône. Infelizmente, os desvios ecumênicos não cessaram nem mesmo com Ratzinger, e com eles a ideologia conciliar que os justificou. A renúncia de Bento XVI e a chegada de Bergoglio continuam a abrir os olhos de muitas pessoas, especialmente dos fiéis leigos.

RS: Um tema distinto, mas ligado, é aquele relativo aos protagonistas da temporada conciliar e pós-conciliar. Detenhamo-nos por um momento na figura de Ratzinger: o papel do teólogo bávaro tanto no Vaticano II como depois é inegável, embora com diversas nuances (recordamos que de 1981 a 2005 foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, de 2005 a 2013 reinou no Trono de Pedro, desde 2013 é o “Papa Emérito”). De nossa parte, o julgamento sobre o significado do ratzingerismo é certamente negativo: sob a sua administração da Congregação para a Doutrina da Fé, prosperaram os mesmos desvios que hoje vemos “florescer” explicitamente; assim que ascendeu ao sólio pontifício, removeu a tiara do brasão papal; e continuou no caminho do ecumenismo indiferentista, renovando as celebrações escandalosas em Assis; em Erfurt chegou a afirmar que “o pensamento de Lutero, toda a sua espiritualidade era inteiramente cristocêntrica”; no Motu proprio Summorum Pontificum definiu a Missa de todos os tempos e o Novus Ordo como duas formas do mesmo rito (quando, ao contrário, implicam duas teologias totalmente diferentes); depois criou este híbrido improvável do “Papa emérito vestido de branco” que — independentemente das intenções, que não julgamos — parece não ser apenas um mal-entendido perigoso, mas uma engrenagem quase necessária do dualismo que anima a dinâmica atual de dissolução eclesial. Esses poucos exemplos, que poderiam ser seguidos por muitos outros, são, em nossa opinião, reveladores do fato de que Ratzinger sempre esteve do outro lado da cerca, embora com papéis e posições que não são idênticos. Já vimos sua afirmação sobre a “bela fábula da hermenêutica”, mas também em outras ocasiões o V. Exa. apontou alguns aspectos problemáticos do pensamento de Ratzinger. Referimo-nos em particular à sua declaração recente no LifeSiteNews na qual sustentou: “No entanto, seria desejável que, especialmente em consideração ao Julgamento Divino que o aguarda, ele se distancie definitivamente dessas posições teologicamente incorretas — estou me referindo em particular aos da Introdução ao Cristianismo — ainda hoje difundidas nas universidades e seminários que se orgulham de declarar católicos”. Portanto, perguntamos: se resumisse seu julgamento sobre o pensamento do teólogo bávaro, o que diria aos nossos leitores? Além disso, como teve a oportunidade de trabalhar em estreita colaboração com Bento XVI, o que pode nos dizer sobre ele no nível humano? Não é — sejamos claros — uma questão sobre aspectos reservados, mas sobre a sua personalidade, que V.Exa. pôde conhecer de perto.

CMV: Estou, infelizmente, de acordo, não sem uma profunda dor, com os pontos que você enumerou, embora com algumas nuances. Muitos atos de governo de Bento XVI se alinham com a ideologia conciliar, que o teólogo Ratzinger sempre defendeu com ardor e convicção. Sua formação filosófica hegeliana levou-o a aplicar o esquema tese-antítese-síntese no campo católico. Por exemplo, ao considerar que os documentos do Concílio (tese) e os excessos do pós-concílio (antítese) podem ser resolvidos na famosa hermenêutica da continuidade (síntese); tampouco escapa a invenção do Papado emérito, onde entre ser Papa (tese) e não mais ser Papa (antítese) se opta pela fórmula conciliatória de sê-lo apenas em parte (síntese). A mesma mentalidade determinou tudo o que fez para liberar a liturgia tradicional, que ele coloca ao lado do seu oposto conciliar na tentativa de agradar tanto aos autores da revolução teológica quanto aos defensores do venerável rito tridentino.

O problema é, portanto, de natureza intelectual, ideológica: surgiu todas as vezes que o teólogo bávaro tentou resolver a crise que aflige a Igreja. Em todos esses casos, sua formação acadêmica, influenciada pelo pensamento de Hegel, acredita que é possível combinar água com óleo. Não tenho motivos para duvidar que Bento XVI tenha querido a seu modo fazer um gesto de conciliação com o tradicionalismo católico. Nem que não esteja consciente da situação desastrosa em que se encontra o corpo eclesial; mas a única maneira de reconstruir a Igreja é seguir o Evangelho com uma perspectiva sobrenatural e sabendo que, pelo desígnio de Deus, o Bem e o Mal não podem ser reunidos num meio-termo fantasmagórico, mas que serão sempre contrários e irreconciliáveis, e que servindo a dois senhores acaba não se satisfazendo a nenhum dos dois.

Quanto ao meu conhecimento direto de Bento XVI, posso dizer que nos anos de seu pontificado, em que servi a Igreja na Secretaria de Estado, no Governo da Cidade do Vaticano e como Núncio nos Estados Unidos, a ideia que me fiz é a de que ele se cercou de colaboradores inadequados, nos quais não se podia confiar, e até de alguns corruptos, que se aproveitaram muito de sua suavidade de caráter e do que poderia ser considerada uma espécie de síndrome de Estocolmo, em particular com o Cardeal Bertone e seu secretário particular.

RS: Em alguns artigos publicados em CatholicFamilyNews.com foi apontado que no tocante à situação da Igreja a posição de V.E. é próxima à de Monsenhor Bernard Tissier de Mallarais, um dos quatro bispos sagrados por Monsenhor Lefèbvre. A mesma fonte mencionou uma citação de V.Exa. no sentido de que Monsenhor Lefèbvre teria sido um confessor exemplar da Fé. À luz das fortes críticas ao Concílio, e de, por outro lado, não aderir ao sedevacantismo, poder-se-ia supor que a posição de V.Exa. seja muito próxima à da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Poderia dizer-nos algo a respeito?

CMV: Em muitos setores do mundo católico, e principalmente nos ambientes conservadores, afirma-se que Bento XVI seria o verdadeiro Papa, e que Bergoglio seria um antipapa. Esta opinião se baseia, por um lado na convicção de que sua renúncia teria sido inválida (pela forma como foi redigida, por pressões externas, ou pela distinção entre munus e ministerium papal), e, por outro, que um grupo de cardeais progressistas manobrou para garantir que um candidato de sua autoria fosse eleito no conclave de 2013, violando assim as normas estabelecidas por João Paulo II na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis. Para além da verossimilhança que possam ter essas afirmações, que se confirmadas invalidariam a eleição de Bergoglio, é um problema que só pode ser resolvido pela Autoridade Suprema da Igreja, quando a Providência Se dignar pôr fim a esta situação de gravíssima confusão.

 

7 comentários sobre “Dom Viganò, Vaticano II e crise na Igreja.

    1. Claro que foi diferente. Ficou em cima do muro, como a maioria faz quando quer aparecer, mas incapaz de tomar uma posição para não se “queimar” tanto com aqueles que ele apoia quanto com os que ele critica.

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  1. A crise na Igreja vem desde o Vaticano II, facilitando vingar o suspeito “espírito do Concílio” e as esquerdas, quando o papa àquela época João XIII decidiu que a Igreja não mais condenaria a ninguém, abrindo as portas às escâncaras aos modernistas e a mais sinistros inimigos dela de todos os naipes!
    Outra vez, o papa Pio XII descobriu a traição e tomou medidas disciplinares contra o cardeal Montini, a quem afastou de Roma, nomeando-o arcebispo de Milão – promoveu-o, enquanto o demoveu – apesar de que ele se negou-se a outorgar-lhe o chapéu cardinalício e nunca admitiu recebê-lo em audiência durante a vida no Vaticano!
    Enquanto isso, o amigo do cardeal Montini De Lubac recebia as sanções do Santo Ofício e via seus livros serem denunciados em Milão, mas dos seus seguidores chegavam-lhe palavras de adesão e de alento, pois, enquanto o cardeal Montini foi criado cardeal pelo seu amigo João XXIII, sendo quem lhe abriu, assim, o caminho ao papado, itinerário esse que lhe havia sido fechado por Pio XII; porém, sendo eleito Papa, o papa Paulo VI pôde utilizar a autoridade suprema a serviço das forças modernistas, como pelo “tratado” de Metz de não condenar o demoníaco comunismo-maçonaria, chegando ao quase ápice ou a ele com o papa Francisco, sobre o qual dispensam-se comentários, pois os tradicionais sobejamente conhecem seus intinerários, diversos deles bastante duvidosos.
    Eis abaixo o esquema dos dois mafiosos maçonistas Vindice e Nubius em 1822 contra a Igreja, tentando-a implodir desde dentro – e houve êxito, usando os comunistas como massas-de-manobra!
    “O trabalho que empreenderemos não é obra de um dia, nem de um mês, nem de um ano: pode durar vários anos, talvez um século; mas em nossas fileiras morre o soldado e a luta continua… O que devemos buscar e esperar, como os judeus esperam o Messias, é um Papa de acordo com nossas necessidades… E este pontífice, como a maioria dos seus contemporâneos, estará mais ou menos imbuído dos princípios humanitários que começaremos a pôr em circulação… Quereis estabelecer o reino dos escolhidos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Que o clero marche sob o vosso estandarte, crendo sempre marchar sob a bandeira das Chaves Apostólicas… Estendei vossas redes… no fundo das sacristias, dos seminários, dos conventos… Tereis pregado uma revolução de tiara e capa pluvial, marchando com a cruz e a bandeira, uma revolução que não necessitará senão ser ligeiramente estimulada para atear fogo em todos os extremos da terra”.
    Em 1888, o papa Leão XIII ouviu o tenebroso pedido do diabo de tentar destruir a Igreja em cem anos e concedeu-lho, embora ele saiba que a Igreja de Cristo seja indestrutível: “Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas.” Col 1,18.

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  2. Excelente entrevista, porém densa, profunda, de difícil interpretação. Tanto as perguntas como as respostas exigem leitura, meditação, reflexão. Ao final se tem a impressão de que a crise é grande, enorme, profunda, dolorida.

    As vezes me questiono se este não seria o pior momento da história da Igreja. Precisaria de um vasto conhecimento histórico que não possuo para responder. Houve a perseguição do Império Romano, houve a perseguição dos reis, houve a perseguição dos revolucionários.

    Em que pese que hoje a crise “vem de dentro” não consigo deixar de analisar que todo o processo de crise da Igreja também se relaciona, se confunde, se mescla com o nosso juízo particular: a forma como nos relacionamos com Deus, com a Igreja e com os irmãos irá ser decisiva no nosso processo seja de condenação ou de salvação eterna. E falando de mim, tenho sido muito falho. Graças dou pelo sacramento da confissão.

    Concluo que apesar de tudo a esperança continua sendo uma virtude teologal. E embora convencido de que a crise da Igreja não se resolverá sem uma intervenção divina, que não sei nem sequer imagino como nem quando se dará, creio firmemente que as portas do inferno jamais prevalecerão e que ao final um coração imaculado conhecerá o triunfo.

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  3. Gostei muito do entrevistador, que tirou a máscara, de que Ratzinger seria um conservador tradicionalista como acreditam muitos conservadores desavisados.

    Na ultima pergunta, creio que Viganò, fugiu de responder a pergunta. Bom seria ele que é alguém que teoricamente estudou teologia, resolvesse os “enigmas”, que os Tradicionalistas (vide livro Dr. Arnaldo X. da S.) onde, a eleição dos Papas Pós CVII seja valida, estes por serem hereges, são Papas ilegítimos.

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    1. Caro Janusckiewicz: o papa emérito Bento XVI prometeu obedecer ao papa Francisco e a resposta de nosso bem amado, o Exmo Bispo Dom Carlo M Viganò expressa-se bem ao fim da entrevista – reconfira:
      “CMV: Em muitos setores do mundo católico, e principalmente nos ambientes conservadores, afirma-se que Bento XVI seria o verdadeiro Papa, e que Bergoglio seria um antipapa. Esta opinião se baseia, por um lado na convicção de que sua renúncia teria sido inválida (pela forma como foi redigida, por pressões externas, ou pela distinção entre munus e ministerium papal), e, por outro, que um grupo de cardeais progressistas manobrou para garantir que um candidato de sua autoria fosse eleito no conclave de 2013, violando assim as normas estabelecidas por João Paulo II na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis. Para além da verossimilhança que possam ter essas afirmações, que se confirmadas invalidariam a eleição de Bergoglio, é um problema que só pode ser resolvido pela Autoridade Suprema da Igreja, quando a Providência Se dignar pôr fim a esta situação de gravíssima confusão.
      No momento, temos o papa Francisco como tal, mas à la S Vicente de Lérins, no Commonitorium e outros similares apegados à tradição de algo que sempre ou não existiu na Igreja para ser crido ou não praticado como norma para caracterizar os ensinamentos válidos da fé tradicional da Igreja Católica, sob o “quod ab omnibus, quod ubique, quod semper”.

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  4. Não tenhamos ilusão. É preciso dizer com coragem. Bento XVI sempre esteve do lado de lá da cerca.
    Intencionalmente, conscientemente. E não há mais nada a dizer.

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