Loverboys de batina.

FratresInUnum.com, 30 de junho de 2021. – Assistindo ontem ao vídeo-denúncia do Centro Dom Bosco acerca de um sacerdote que conclamou o movimento LGBT para que auxilie a Igreja a desenvolver a sua doutrina, recordamo-nos de  um tipo de padre que se tornou bastante recorrente no clero conciliar dos últimos tempos: os garotões de boa aparência e discretamente homossexuais que se tornaram uma espécie de troféu para certos bispos, também homossexuais enrustidos.

Como já comentamos em outras ocasiões, a teologia da libertação sofreu uma corrupção interna, abandonou a luta de classes para se entregar à revolução eco-homossexual e, assim, acabou por produzir um novo tipo de militante, não mais aqueles personagens toscos e mal-educados, mas uns rapazes com pose de galãs metrossexuais, mas que defendem a homossexualidade como conduta e como discurso.

Praticantes de esportes (musculação ou até crossfit), com barba serrada, bancando intelectuais, performando equilíbrio e neutralidade, reproduzindo o discurso oficial, ostentando certa sensualidade no olhar e nos gestos, os “padres-gatos” comportam-se como acompanhantes de luxo e são as “meninas dos olhos” dos seus superiores e, sobretudo, raramente dão escândalo.

Nesse sentido, são muito diferentes daqueles padres homossexuais das décadas de 80, 90 e do início do milênio, que ainda procuravam manter certa aparência de catolicismo e tinham alguma reverência, ao menos idealista, por mínima coerência doutrinal. Agora, não. Estamos no cinismo mais frio e descarado, no ceticismo confesso, na completa indiferença. Este é o resultado do enfraquecimento intelectual promovido por anos de desconstrução da teologia da libertação e do carismatismo sentimentalista e irracional: eles não creem em mais nada, muito menos em alguma moral que dê sustentação à fé.

A Rede Vida de Televisão é o exemplo mais notável: ainda contando com os da velha guarda, abrigando com frequência ex-padres, mais recentemente se viu tomada pelo perfil que descrevemos no artigo. Lamentavelmente, um deles até largou o sacerdócio para se unir a outro homem, até então pai de família.

Com modos burgueses, com gostos burgueses, os senhoritos que distribuem fotos pelas redes sociais adotaram como forma mentis o historicismo da nouvelle théologie e da teologia da libertação: acreditam que a teologia é filha do seu tempo e que a Igreja precisa “avançar” indefinidamente à marcha da ética da sociedade. Se a moda é o igualitarismo feminino, devem-se ordenar as mulheres; se é a liberdade sexual irrestrita, devem-se subscrever todas as taras “em nome do amor”.

O progressismo é, em si, uma crença acrítica e fanática em uma utopia de futuro que absolutiza a liberdade em detrimento da razão; por isso, desconstrói toda ideia de determinações morais como se estas fossem apenas imposições retrógradas que impedem o avanço da história e estigmatizassem aqueles que possuem práticas contra-majoritárias.

Por detrás de palavras aparentemente inteligentes e de discursos fingidamente articulados, os progressistas encenam moderação, fingem que a verdade não existe e a enclausuram num passado imaginário para contrapô-la a um futuro mais imaginário ainda, futuro que parece ser verdadeiro porque é imposto como versão oficial pela hegemonia daqueles que querem destruir a civilização cristã convencendo-a a desistir de sua própria existência.

Hipnotizados pelo charme de seus garotões, por anos sovados com este lixo pseudo-intelectual das faculdades eclesiásticas, os bispos aliviam-se do impacto negativo exercido por aqueles que parecem ser extremistas: os libertadores abertamente comunistas do passado ou o clero católico raiz, que entre trancos e barrancos sustenta as suas igrejas e a si mesmo por décadas, não deixando a fé descambar no mais absoluto descrédito.

A fingida moderação dos paquitos progressistas não passa de um teatro calculado para desorientar os fieis e deixá-los completamente à mercê da revolução doutrinal que estão levando a cabo. De fato, aquele choque causado por homossexuais grotescos ou por esquerdistas alla cubana é muito atenuado por rapazes de fala mansa, por “bons moços” que parecem mesmo ser a voz da sensatez, mas que estão apenas amaciando a estrutura eclesiástica para laceá-la complacentemente sob os moldes da revolução.

Na verdade, os moços refinados tão somente são desocupados que se encostaram na Igreja, parasitas incapazes de construir qualquer coisa, atores que captam a benevolência dos desavizados para capitalizá-la em seu próprio benefício, carreiristas que prostituem a sua inteligência e se valem da sedução para subir na vida. Eles são ativos e conectados, aparecem de alto a baixo na hierarquia e são facilmente encontrados em tramas palacianas, das cúrias diocesanas até a cúria romana. São eles que tiram fotos com altos prelados e cardeais, que são pelos pobres no discurso e pelos ricos nos costumes. Vestem-se de clergyman tão naturalmente quanto de camiseta e, nisso, mostram a sua completa artificialidade e sua falta de convicção, ou melhor, a sua mais profunda convicção: a de se promoverem à custa de serem loverboys de batina.

Papa Francisco rejeitado pelos fãs progressistas: caos no Vaticano, porque corre o risco de terminar sufocado. Ao menos que…

Antonio Socci em Libero Quotidiano | Tradução: FratresInUnum.com, 17 de junho de 2021 – O que está acontecendo com a Igreja Católica? Estamos às vésperas de um terremoto? Muitos sinais nos levam a pensar isso e, ontem, a coluna de La República assinada por Alberto Melloni foi realmente clamorosa, porque mostra o duro divórcio entre certas áreas progressistas e o Papa Bergoglio, a quem antes apoiavam entusiasmadamente.

Miserando atque eligendo” (Olhou-o com misericórdia e o escolheu).

Melloni – símbolo da “Escola de Bolonha” e da “ala progressista” da Igreja – inicia a sua denúncia sublinhando que o cardeal alemão, Marx, na sua recente carta de renúncia, “de fato, apresentou a sua demissão ‘do’ Papa”. Marx é o líder do poderoso e rico episcopado alemão que, com o seu Sínodo, parece querer desencadear uma revolução.

Os bispos alemães são os históricos apoiadores de Bergoglio, mas o avanço deles [no sínodo alemão] não tem o seu apoio e, agora, estão gritantemente desiludidos.

Melloni cita, depois, outros episódios recentes, como o decreto papal que limita a dez anos “o mandato dos chefes e dos organismos dos movimentos eclesiais”. Norma que, segundo Melloni, “restringe os direitos dos fieis” e “determina a liquidação dos dirigentes que estão em seus mandatos em nome de um bem definido ideologicamente”. Por outro lado, trata-se de líderes de movimentos que estão todos alinhadíssimos com o pontificado bergogliano e que, nestes anos, praticamente definharam: não se vê mais a sua vitalidade nem a sua presença pública (o decreto, pelo que me parece, tem um lado positivo). Depois, Melloni critica o “exílio de Enzo Bianchi da sua comunidade” e considera isso um “dano à credibilidade ecumênica da Igreja”.

Ataca, além disso, a inspeção ordenada por Bergoglio à Congregação para o clero, “gesto”, diz Melloni, “inédito e inútil… que mostra a rudeza com que é tratado também quem – por exemplo, o cardeal Stella, que está de saída – serviu o Papa lealmente”. Lembra também que o cardeal Stella é considerado um dos estrategistas da eleição de Bergoglio em 2013. Por isso, esta é uma outra ruptura pesada do pontífice com o seu mundo. A crítica melloniana continua também para com a “auditoria do vicariato de Roma”, disposta por Bergoglio, a quem ele acusa de dar “crédito a fofocas”.

Melloni, além disso, é duríssimo sobre toda a questão do cardeal Becciu. Para ele, provavelmente “a peça de acusação é ainda fragilíssima” e se quer “evitar que uma defesa aguda mande a toda imprensa mundial um processo contra o governo central”. Por detrás destes e de outros episódios, explica Melloni, “alguns veem o influxo excessivo de conselheiros grosseiros; outros, a atitude autoritária outrora reprovada no jovem papa Bergoglio, ainda na companhia”. Mas a acumulação de tais casos, segundo o intelectual progressista, “prepara uma tempestade”.

CRESCENTE ISOLAMENTO

Não é o primeiro “míssil” disparado contra Bergoglio pela esquerda clerical. Mas, agora aparece claramente o seu isolamento, que não para de crescer: basta considerar os casos elencados por Melloni (o cardeal Marx e os bispos alemães, os movimentos eclesiais, Enzo Bianchi, o cardeal Stella, o cardeal Becciu, o vicariato) para dar-se conta que são todos personalidades e mundos que eram seus apoiadores.

O papa argentino é uma personalidade complexa, por vezes difícil de decifrar. Certas de suas insistências iniciais sobre Jesus tocaram profundamente certos temas, como a necessidade de misericórdia que nós, homens modernos, realmente temos; mas o Evangelho também ensina que o Bom Pastor é a Verdade que se fez carne e que exige a nossa conversão. Na sua atual solidão, o papa tem que constatar amargamente que o seu pontificado, já há tempos, se precipita num doloroso fracasso.

Até o líder histórico da comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi, que é “de casa” no Vaticano, publicou um livro intitulado “A Igreja está queimando: crises e futuro do cristianismo”, onde entrevê um cenário apocalíptico: o “fim do catolicismo” e “um mundo sem a Igreja”. Se pensarmos na ênfase com que Bergoglio foi aclamado no início pelo mundo eclesiástico (sonhava-se com um triunfante “efeito Bergoglio”), pode-se entender hoje a violência da desilusão. A Igreja – depois destes oito anos – não floresceu; ao contrário, parece estar aniquilada: a vida religiosa está em estado de coma; o seu governo central, no Vaticano, está no caos permanente; a confusão, também doutrinal, reina soberanamente em todas as comunidades eclesiais; é devastadora a diminuição da prática litúrgica dominical e das vocações, atualmente em queda livre (entre outras coisas, a baixa dos matrimônios sacramentais); o clero e os bispos parecem estar em debandada.

CLERO EM DEBANDADA 

Quem pensava que romper com os grandes pontificados de João Paulo II e Bento XVI asseguraria um futuro glorioso está completamente desmentido. Quem – como Bergoglio, talvez com as melhores intenções – iludia-se que a Igreja, atirando-se no mundo, poderia revigorar-se, hoje assiste uma histórica derrota. A propósito, os sociólogos da religião, como Rodney Stark, já demonstraram isso há anos (bem…, o próprio Evangelho diz que se o sal perde o seu sabor torna-se inútil…).

Hoje, a voz da Igreja não se distingue da voz da ONU. A voz de Pedro não contrasta com as ideologias dominantes, laicistas e esquerdistas, antes, frequentemente está em consonância com elas e suscita – com tal politização – o desconcerto dos fieis e o entusiasmo dos eternos inimigos da Igreja. Além das raras intervenções de Bento XVI, não se escuta mais uma voz católica que oriente os fieis, e todos os povos, em continuidade com o magistério constante da Igreja.

Nunca a Igreja foi tão conformista e tão irrelevante no mundo, e sobre questões atuais de enorme relevância para a humanidade. Criaram o deserto e chamaram-no de “revolução”. Mas toda revolução devora os seus filhos. E, assim, agora, assiste-se a ruptura entre Bergoglio e os seus apoiadores.

A crise atual poderia induzi-lo a renunciar (coisa improvável) ou a avançar desesperadamente, à espera da “tempestade” pré-anunciada por Melloni.

Há, enfim, uma terceira possibilidade: o Papa Francisco poderia reconhecer que a tentativa de dar um futuro para a Igreja, adaptando-a à mentalidade mundana, fracassou inteiramente e que o caminho correto é aquele que foi percorrido por João Paulo II e Bento XVI. Parece impossível, como todo milagre. Que, porém, pode acontecer.

Precisaria certamente ter uma grande coragem para retomar a via heroica dos papas Wojtylla e Ratzinger, justamente porque este é um tempo de perseguições. Bento XVI, em sua última intervenção, afirmou que “a verdadeira ameaça para a Igreja, e, portanto, para o serviço petrino vem da ditadura universal das ideologias aparentemente humanistas, das quais discordar leva à exclusão do consenso de base da sociedade”. Ratzinger enumerou os dogmas destas ideologias, sublinhando que “hoje, aqueles que se lhe opõem são socialmente excomungados… A sociedade moderna pretende formular um credo anticristão: quem o contesta é punido com a excomunhão social. Ter medo deste poder espiritual do anticristo é bastante natural”. Mas Francisco (além de Deus) teria junto de si Bento XVI e todos os fieis católicos (restantes) do mundo, que são muitíssimos. Assim, a Igreja poderia verdadeiramente ajudar a liberdade dos povos.

Não, o Papa Francisco não cancelou um encontro com o presidente Biden.

Por Joshua J. McElwee, National Catholic Register, 15 de junho de 2021 | Tradução: FratresInUnum.comO Papa Francisco não se encontrou com o presidente dos EUA, Joe Biden, hoje, 15 de junho. Apesar de relatos da mídia conservadora em sentido contrário, sequer parece que o papa planejou fazê-lo.

Biden está na Europa desde 9 de junho para sua primeira viagem ao exterior como presidente, participando de uma cúpula de líderes do G7 na Grã-Bretanha no fim de semana, antes de participar de reuniões com oficiais da Otan e da União Europeia em Bruxelas, Bélgica, de 14 a 15 de junho.

O então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, encontra o Papa Francisco depois que os dois líderes falaram em uma conferência sobre pesquisa com células-tronco adultas no Vaticano, em 29 de abril de 2016, foto de arquivo. (CNS / Paul Haring)

Durante a tarde de 15 de junho, o presidente deveria viajar a Genebra, na Suíça, para um encontro bastante aguardado, no dia seguinte, com o presidente russo Vladimir Putin.

Segundo a Catholic News Agency – CNA [no Brasil, ACI Digital], de propriedade da EWTN, Biden faria uma parada rápida em Roma para se encontrar com Francisco no caminho de Bruxelas para Genebra. Alguns problemas imediatos com essa história: Roma não está no caminho para Genebra (fica a cerca de 885 quilômetros mais ao sul). E não há sequer uma única evidência que demonstre que tal encontro alguma vez esteve na ordem do dia.

CNA originalmente relatou sobre a possibilidade de um encontro Biden-Francisco  em 3 de junho , citando fontes não identificadas do Vaticano. O veículo dobrou a história em 14 de junho, relatando  em um artigo sem um autor nomeado  que o encontro aconteceria em 15 de junho, mas Francisco teria rejeitado os planos de celebrar a missa com Biden, um católico.

Mais problemas: no meio da manhã em Roma, nenhum encontro havia acontecido. O tráfego de pedestres na Via della Conciliazione, a rua que leva ao Vaticano, não foi bloqueado por segurança, como quase sempre acontece quando visitantes importantes visitam o papa (quando o presidente Donald Trump conheceu Francisco, em 2017, barricadas foram erguidas para bloquear os quarteirões do Vaticano.) 

Ao meio-dia, Emily Zeeberg, oficial de relações públicas da embaixada dos Estados Unidos na Santa Sé, disse ao NCR: “O presidente Biden não tem planos de visitar Roma ou a Cidade do Vaticano esta semana”. O arcebispo Paul Gallagher, ministro das Relações Exteriores do Vaticano, também disse ao NCR que “não tinha conhecimento” dos planos para tal encontro entre Biden e Francisco.

A programação oficial do presidente para 15 de junho certamente não deixava muito espaço para improvisações. Ele deveria ter encontros privados com o rei e o primeiro-ministro da Bélgica e com os presidentes do Conselho e da Comissão Europeia, antes de ir a Genebra para encontros com o presidente da Confederação Suíça. 

O sentimento entre outras fontes do Vaticano e de autoridades americanas em Roma sobre os relatos de uma visita de Biden era algo como o emoji de “encolher os ombros”. Por que Biden viria agora, especialmente quando ele já deve viajar a Roma em outubro para participar de uma cúpula dos líderes do G20?

As reuniões papais demoram a ser preparadas e Biden ainda nem nomeou um embaixador dos Estados Unidos junto à Santa Sé.

Claro, os relatos sem fontes da reunião presidencial não ocorrida com Francisco surgiram enquanto o catolicismo de Biden estava sob os holofotes nacionais. Os bispos dos Estados Unidos estão se preparando para realizar uma reunião virtual, de 16 a 18 de junho, na qual  discutirão  um documento sobre se políticos católicos pró-escolha [ndt: isto é, favoráveis ao aborto] como Biden devem receber a comunhão.

Pode-se notar que a matéria de 14 de junho da CNA alegando que Francisco cancelou os planos de celebrar a missa com Biden foi elogiada em um e-mail para jornalistas enviado pelo Instituto Bento XVI, uma organização com sede em São Francisco, que nas últimas semanas tem divulgado comunicados de imprensa do Arcebispo Salvatore Cordileone.

Cordileone, arcebispo de São Francisco desde 2012, está entre os membros da Conferência Episcopal dos Estados Unidos que lideram os trabalhos sobre o novo documento sobre políticos católicos pró-escolha, mesmo depois que o chefe da congregação doutrinária do Vaticano pediu aos prelados que  procedessem com cautela  no plano .

Em um comunicado de 26 de maio divulgado pelo Instituto Bento XVI, Cordileone disse ter ficado “profundamente entristecido” por outros bispos que sugeriram que a conferência poderia adiar o plano, dadas as preocupações do Vaticano.

Na tarde de 15 de junho, a CNA corrigiu sua matéria sobre a missa papal supostamente planejada de Biden. A reportagem, disseram, foi feita “erroneamente”. 

“Preso ou morto”. A renúncia frustrada do Cardeal Marx.

Ao analisar situações político-eclesiásticas, precisamos considerar todos os pontos de vista em questão e ponderar o que possa haver de verdade neles. No artigo abaixo, que traduzimos na íntegra, o autor analisa a situação da renúncia do cardeal Marx e deixa entrever a malícia do Papa Francisco na manobra de toda a situação.

Por Caminante | Tradução: FratresInUnum.com, 15 de junho de 2021 – Já antes da publicação da carta-resposta de Francisco confirmando-o em sua arquidiocese, muitos diziam que a renúncia não passava de uma mise-em-scène, destinada unicamente a provocar a renúncia do arcebispo conservador de Colônia.

Porém, as coisas não se contradizem. Pelo contrário, o maquiavelismo de Bergoglio fica ainda mais evidente quando se colocam em perspectiva todas essas eventualidades que, ao fim e ao cabo, apenas solidificam o seu poder, em detrimento de tudo que ele diga ou faça.

Realmente, quanto mais passa o tempo, mais fica evidente que os europeus não estão preparados para lidar com este nível de maquinação, com um papa jesuíta, argentino, peronista e progressista até o último nível.

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Contam que quando o arrecadador de rendas do presidente Néstor Krichner, prevendo futuras complicações, apresentou à viúva Kirchner a sua renúncia, recebeu como resposta a seguinte advertência: “Não se renuncia a mim. Daqui você sai preso ou morto”. Muito antes, quando um atribulado ministro de Perón fez o mesmo por causa de uma queima de Igrejas, o general mandou dizer-lhe, através do seu assistente: “Renuncia-se ao general apenas quando ele o pedir”. Os césares mandavam aqueles que caiam em sua desgraça que se suicidassem, os peronistas lhes proíbem de renunciar e lhes obrigam a suicidarem-se lentamente. A perversidade do poder tem múltiplas formas.

Bergoglio seguiu a tradição peronista, uma vez mais, rechaçando a renúncia do cardeal Marx. A jogada, na verdade, é uma contra-jogada maquiavélica, muito mais maquiavélica que a do inocente alemão. Com efeito, Marx, com sua renúncia, buscava candidamente duas coisas: escapar do rol necessariamente disciplinador do Sínodo que o seu cargo lhe impunha; e ficar livre como um civil a mais para poder agir em favor da rebeldia sinodal, e livre como um cardeal (ele não renunciou a isso) para armar o seu jogo de poder em Roma. Um príncipe do povo por direito próprio nessa grande queda-de-braço entre Alemanha e Roma, entre a máfia teutônica e o portenho e seus laterais. Com este simples golpe, Bergoglio desarma Marx, tira-lhe a sua principal arma (já não poderá ameaçar com a renúncia) e força-o a alinhar-se com Roma ante ao Sínodo. Marx ficou neutralizado, debilitado, esvaziado. Com que cara poderá representar os revolucionários, ele, que foi ratificado pelo próprio papa? Com um só golpe certeiro, Bergoglio matou Marx e deixou um zumbi em seu lugar. E não vejo o alemão insistindo com a sua renúncia, não ficou nenhuma margem para isso, ainda que seria interessante ver como lhe responderiam e como isso iria terminar. Preso ou morto. Porque, além disso, as denúncias que seriam o presumido motivo da sua resignação, continuam vigentes e em curso.

Que não nos engane o tom aparentemente melífluo e confiante da carta. É tal a humildade e mansidão que transmite, que o seu autor se compara com Jesus Cristo ao mesmo tempo em que crava a espada da missão suicida no pobre Marx: “E esta é a minha resposta, caro irmão. Continua como propões, mas como Arcebispo de Munchen e Freising. E se tiveres a tentação de pensar que, ao confirmar a tua missão e ao não aceitar a tua demissão, este Bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te compreende, pensa no que sentiu Pedro diante do Senhor quando, do seu modo, apresentou-lhe a renúncia: ‘Afasta-te de mim, que sou um pecador’, e escuta a resposta: ‘Apascenta as minhas ovelhas’”.

Deve-se reconhecer em Bergoglio, vazio de pensamento como é, profissional frívolo, um mestre dessas “pequenas astúcias”, como dizia Kafka, muito bem meditadas e preparadas. Como uma aranha pensativa, tecerá todas as intrigas possíveis para confundir os filhos de Armínio e evitar que se discuta o seu poder. Podemos antecipar uma guerra realmente espetacular, cheia de trapaças, chicanas e jogos sujos, e, se a biologia o acompanha, uma vitória de Francisco sobre o ingênuo episcopado progressista alemão, que terminará desaguado em um recôncavo de lugares comuns e platitudes que escamoteiam, temas que se não poderão impor, modulados por Marx e outros zumbis. Em politicagem não vão ganhar dele. E o cisma é filho da malícia, não da heterodoxia. Não são inimigos para o compadre de Flores, êmulo de Juan Perón e de Néstor Kirchner.

A galáxia Summorum Pontificum se prepara novamente para a resistência.

Por Paix Liturgique | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com: As disposições do motu proprio Summorum Pontificum eram disposições de paz. Totalmente atípica do ponto de vista da legislação litúrgica, Summorum Pontificum respondia efetivamente a uma situação ela própria atípica: organizava um modus vivendi entre a antiga liturgia e a nova liturgia, reconhecendo a todo sacerdote latino o direito a celebrar no ritus antiquior, enquanto, ao mesmo tempo, organizava as condições de implementação pública do exercício desse direito. O objetivo era pacificar liturgicamente uma Igreja que afundava cada vez mais na crise.

Mas eis que esse direito finalmente reconhecido é insuportável para os homens no poder desde 2013. Nos seus círculos, prevalece a tese de que este texto deve ser, senão revogado, pelo menos descosturado, como dizem, para perder o essencial de seu significado. Segundo eles, a Missa antes do Vaticano II pode, na melhor das hipóteses, dispor apenas de uma tolerância devidamente enquadrada.

A sua forma mental ideológica faz com que eles assumam “de coração ligeiro” – para evocar as palavras de Émile Olivier ao lançar a França na guerra [franco-prussiana] de 1870, com as consequências que conhecemos – a responsabilidade de uma retomada das hostilidades litúrgicas. Corremos o risco de nos encontrarmos, por causa deles, numa situação semelhante à dos anos pós-conciliares, mas em piores condições para a instituição eclesial.

Celebração da Missa Tridentina: um direito conquistado

Devemos estar cientes de que foi sob a pressão de uma contestação que ele não conseguiu jugular que, por etapas, o legislador romano acabou por interpretar como não obrigatória a promulgação do missal de 1969: em 1984 com Quattuor abhinc annos, em 1988 com Ecclesia Dei, em 2007 com Summorum Pontificum.

De fato, na França, mas também em todo o mundo, alguns párocos continuaram imperturbáveis ​​a celebrar a Missa Tridentina. Ao mesmo tempo, capelas “selvagens” foram organizadas em muitos lugares e as sanções impostas por alguns bispos serviram apenas para ativar a difusão dessas celebrações. Elas ganharam ainda mais consistência quando jovens padres formados e ordenados pelo Arcebispo Lefebvre começaram a exercer seu ministério sacerdotal, tanto em casas independentes fundadas para o fim de recebê-los, quanto em locais arrumados para o culto, muitas vezes de forma sumária, na cidade ou em zonas rurais.

A suspensão a divinis do Arcebispo Lefebvre em 1976 também deu grande notoriedade à sua atuação. Este acontecimento foi seguido de outro: a ocupação silenciosa da Igreja de Saint-Nicolas-du-Chardonnet, em Paris, por Mons. Ducaud-Bourget e seus fiéis, que entraram nela num domingo e ainda estão lá. Da mesma forma, 10 anos depois, em 1986, perto de Versalhes, os paroquianos da missa tradicional de Saint-Louis du Port-Marly, que haviam sido expulsos de sua igreja e cujas portas haviam sido muradas, simplesmente as escancararam para se estabelecer dentro novamente . Eles ainda não saíram de lá.

Uma pesquisa histórica do IFOP, em 1976, publicada por Le Progrès, um cotidiano de Lyon, mostrou que 48% dos católicos praticantes regulares achavam que a Igreja fora demasiadamente longe nas reformas e que 35% permaneciam a favor da missa em latim. As sucessivas sondagens realizadas na França e em todo o mundo pela associação Paix liturgique até hoje destacam uma tendência compacta: a exigência da celebração da Missa tradicional nas paróquias por parte notável, às vezes a maioria, dos fiéis praticantes.

Depois, o clima psicológico favorável criado pelo motu proprio de Bento XVI, por um lado, e, por outro, o crescimento contínuo dos institutos especializados na liturgia tradicional – a Fraternidade São Pio X e os institutos Ecclesia Dei, fundados a partir de 1988 – fizeram com que o número de lugares onde se celebra a Missa tradicional não parasse de crescer em todo o mundo. De 2007 a 2017, por exemplo, esse número simplesmente dobrou.

É um paradoxo notado por sociólogos da religião, como a francesa Danièle Hervieu-Léger: o movimento tradicionalista se opôs à corrente conciliar nos estilos de um processo aparentemente “moderno”, erguendo-se contra a autoridade. A reação tradicionalista tem algumas das características do agora chamado “populismo”, que questiona a legitimidade das “elites” por assumirem posições inovadoras elaboradas em sua bolha “elitista”. Outro paradoxo: o movimento tradicionalista se baseou, desde o início, na ação dos leigos (apoiando e até “gerando” padres, via institutos especializados), recusando as consignas do Vaticano II, supostamente destinadas a “promover os leigos”. Soma-se que Roma, desde o Vaticano II, deixou de ser tridentina, e o tridentinismo – que é em essência hierárquico – agora é assumido por um povo de base. Na verdade, dir-se-á teologicamente, e não mais sociologicamente, que se trata de uma manifestação surpreendente e providencial do sensus fidelium, do instinto de fé dos fiéis, que defende com unhas e dentes a expressão pela lex orandi da doutrina do Sacrifício eucarístico, da presença real, do sacerdócio hierárquico e, de modo mais geral, da transcendência do mistério do “Fazei isto em memória de mim!”

Uma capacidade irreprimível de resistência

Em face do perigo que hoje se aproxima, podemos então tentar medir as forças em presença através da situação francesa, que certamente não é a da Igreja universal, mas que ainda dá boas indicações neste campo.

A Igreja “oficial” hoje nada tem a ver com o sólido aparato das primeiras décadas do período pós-conciliar. Ela está exangue do ponto de vista do número de sacerdotes e religiosos. O número de seus seminaristas, e mesmo de seus seminários, continua diminuindo. Os fiéis, cada vez mais envelhecidos, também estão cada vez mais espaçados nas naves centrais das igrejas, sem precisar de “medidas sanitárias”. Tudo logicamente acompanhado por uma situação financeira catastrófica em algumas dioceses. Somam-se a isso as consequências do que se convencionou chamar de “crise sanitária”, que fez sumir cerca de 30% dos paroquianos. Os hábitos históricos, que demoram a desaparecer, fazem com que o catolicismo ainda seja considerado um componente essencial da sociedade. Mas a realidade nua patenteou-se: ele praticamente desapareceu da esfera pública.

Em contraste, o mundo tradicionalista representa uma “exceção” na Igreja, especialmente do ponto de vista das vocações sacerdotais e religiosas, semelhantes às de antes de 1965. Muitos jovens, que não conheceram as contendas conciliares, se voltam hoje espontaneamente para o tradicionalismo. As assembleias dominicais são muito concorridas e, em média, com idade muito mais jovem. Tudo acontece na galáxia tradicionalista, tanto na vida litúrgica quanto na “fecundidade” vocacional, como se o Vaticano II não tivesse acontecido. O antigo ensino catequético, muito estruturado, e a existência de uma importante rede escolar garantem uma boa transmissão da fé, da prática e dos hábitos da vida cristã. Além disso, as suas fronteiras são porosas com um mundo “clássico” (a Comunidade Saint-Martin, o Emmanuel, etc.), cuja vitalidade se explica em parte por causa de sua “diferença” com a tendência oficial, que se inspira um pouco, mas em grau menor, na vitalidade da resistência tradicionalista.

Claro, o sucesso tem seu lado negativo: a renovação das gerações certamente está garantida, mas em um mundo extremamente secularizado, isso não acontece sem perdas; e, em comparação com a atitude necessariamente muito militante dos anos pós-concílio, o mundo tradicionalista às vezes pode parecer mais “instalado” do que outrora. Verifica-se, porém, que as ações e pressões organizadas para preservar as situações adquiridas e obter novos lugares de culto podem ser organizadas sem dificuldade, as redes sociais constituindo, neste campo como alhures, uma preciosa ajuda para a expressão de uma galáxia “inconformista”.

Nessas condições, uma explosão de descontentamento nos moldes dos “coletes amarelos” poderia a qualquer momento ocorrer hoje na Igreja. Com a grande vantagem de que, no mundo católico, a doutrina e a prática são centradas para o povo cristão na celebração da Missa dominical. Ora, para que seja celebrada, basta que um sacerdote a diga e que os fiéis participem, sem que ninguém, em última instância, possa impedi-los de fazê-lo. Foi o que aconteceu a partir de 1965 e principalmente de 1969: as missas tridentinas continuaram a ser celebradas como se nada tivesse acontecido. Ameaças, oposições e até perseguições podem ter-se seguido, mas nada aconteceu: padres e fiéis continuaram “fazendo o que a Igreja sempre fez”, como o Arcebispo Lefebvre gostava de dizer.

Um fato recente muito instrutivo é o seguinte: tendo os bispos da França e de outros lugares estendido estupidamente à comunhão eucarística as “medidas sanitárias” impostas pelos governos, proibindo a comunhão na boca, certo número de fiéis respeitosos do Sacramento deixaram as igrejas de rito ordinário para irem receber a Sagrada Eucaristia com dignidade nas celebrações tradicionalistas. Com isso, desde a “crise sanitária”, o número de pessoas que vão às missas tradicionais aumentou significativamente na maioria dos lugares!

Um lembrete útil

É conhecida a famosa frase de São Jerônimo dizendo que, no século IV, “o mundo inteiro gemeu, estupefato, por acordar ariano”. Apesar de a hierarquia ter passado em larga medida para a heresia, muitos fiéis permaneceram firmes na doutrina cristológica de Niceia. Não se viu, não vemos agora, uma situação semelhante repetir-se hoje?

Mas esta capacidade de resistência “no terreno”, irreprimível em si mesma, não excluirá, aliás, grandes manifestações e ações, que já são seriamente planejadas em várias partes do mundo. [Traduzido de Paix liturgique de 1º de junho de 2021]