Por FratresInUnum.com, 31 de julho de 2021 – Santo Inácio de Loyola, cuja festa celebramos hoje, é o fundador da Ordem da qual procede Jorge Mario Bergoglio, a Companhia de Jesus. Não podemos figurar a “desglória” acidental que este seu filho possa lhe dar no céu, já que justo o primeiro jesuíta a chegar ao pontificado é a completa antítese do seu fundador, o qual viveu para edificar a Igreja numa contrarrevolução decidida contra os hereges protestantes e para a conversão, sim, o proselitismo, e a expansão da civilização cristã pelo Novo Mundo. Por sua vez, seu descendente, além de entronizar no Vaticano a imagem de Lutero, tenta expropriar os fieis daquele bem que o heresiarca alemão mais odiou: a Missa de Sempre!

Lutero ab-rogou a Missa em sua seita e a chamava de “a maior blasfêmia do romanismo”. A oração que ele mais execrava na liturgia era justamente aquela que encerrava o ofertório, o “Suscipe, Sancta Trinitas” — abolida no Novus Ordo Missae de Paulo VI –, a qual ele chamava de blasfema porque ousava oferecer a Deus algo, coisa sumamente reprovável para quem considerava todas as obras humanas corrompidas e que não cria na existência de obras meritórias.
O protestantismo acabou com os sacramentos e os reduziu a ordenanças, destruiu as bênçãos, pois considerava-as blasfemas, sinais de que existiria um sacerdócio ministerial, ao qual eles rejeitam. E, por isso, à destruição da Santa Missa, seguiu-se o cortejo de destruições dos sacramentos e sacramentais, cujos ritos foram minimamente reduzidos a invocações ou orações a serem presididas por qualquer um.
O Motu Proprio “Traditionis Custodes” – o nome não poderia ser mais irônico, ainda mais neste contexto – não poderia encerrar-se sem um atentado similar. Não adianta apenas agredir a Missa, é preciso agredir a tudo aquilo que lhe corteja. Por isso, diz Francisco no art. 8: “as normas, instruções, concessões e costumes precedentes, que não estejam conformes ao que é disposto pelo presente Motu Proprio, são ab-rogadas”.
Com este artigo, sem sequer mencioná-lo expressamente, Francisco parece vedar a utilização do Breviário, do Ritual Romano e do Pontifical para todos os fieis. Nenhuma concessão é permitida, nem sequer nenhum “costume”! A lei, em geral, cristaliza alguns costumes, mas ab-rogá-los, e simplesmente por uma determinação legislativa, é qualquer coisa de inconcebível. É a este nível de imposição a que chegou Bergoglio.
Isso significa, por exemplo, que o texto do Motu Proprio – não sabemos até que ponto o mesmo será efetivamente aplicado – não permitiria mais o rito das ordenações segundo o Pontifical precedente, o que implica a abolição de todas as possibilidades de outorga das ordens menores e a obrigatoriedade do Novus Ordo para as ordenações nos Institutos ligados ao Usus Antiquor.
Do mesmo modo, ficaria proibida a possibilidade de benzer os objetos segundo o ritual tradicional, que valoriza o sacerdócio ministerial, e tornar-se-ia obrigatória a utilização do novo ritual. Por exemplo, a bênção da água na forma tradicional “eu te exorcizo, água”, “eu te abençoo, água”, ficaria sumariamente substituída pela forma nova, agora imposta: “bendito sois, Senhor”, uma berakah judaica na qual não se benze nada, mas apenas se bendiz a Deus como se aquilo já estivesse bento.
Na prática, os padres nunca seguiram este novo ritual de bênçãos. Será que alguém já solicitou uma bênção e o padre lhe pediu para esperar porque iria à sacristia pegar o ritual de bênçãos?
O próprio Dom Isnard, na Apresentação do Ritual de Bênçãos, afirmou que “não há mais bênção com um simples sinal da cruz”… Coisa jamais seguida por nenhum padre do mundo! Todos benzem apenas traçando uma cruz sobre o objeto. Além disso, continuou ele, afirmando que outra novidade são “as bênçãos presididas por leigos, homens e mulheres, em virtude de seu sacerdócio batismal. É extremamente louvável esse reconhecimento da dignidade sacerdotal (sacerdócio comum e não ministerial) do leigo”. Ora, alguém já viu uma senhora dizendo: “Dona Maria, benze esta água pra mim?” É evidente que toda a reforma litúrgica no que diz respeito aos sacramentais foi a coisa mais mal sucedida!
Portanto, por detrás dessas palavras tão lacônicas de Bergoglio se esconde uma imensa bomba contra todos os ritos que se seguem à Santa Missa tradicional e ao sacerdócio católico.
A quem tem dúvida se é isso tudo mesmo, como disse o Padre Barth, é melhor nem perguntar a Roma, pois a resposta pode ser ainda pior.
Trata-se da imposição do novo e inglório ritual que ninguém usa e da tentativa de completa extinção dos ritos dos sacramentos segundo a forma tradicional.
Como alguém pode dar um golpe desses de modo tão sorrateiro? No Concílio, ao menos, houve certa formalidade para a substituição dos ritos! Como é possível que se crie uma lei tão abrangente por detrás de palavras tão indiretas, mas ao mesmo tempo tão letais, a ponto de extinguir até os “costumes”?
Este artifício legislativo é apenas uma armadilha verbal. Do mesmo modo como antes, os padres vão continuar usando as bênçãos sérias do Ritual Romano anterior, inclusive com traduções aprovadas anteriormente, seguirão exorcizando e benzendo água, sal e óleo, darão a bênção nas velas e nos terços, nas imagens e nas medalhas, e não se incomodarão nem um pouco com tais restrições.
A Liturgia das Horas nova quase não é rezada por nenhum padre, mesmo. Os padres tradicionais continuarão rezando o seu Breviário antigo, enquanto os modernos nem saberão em que semana do saltério eles estão.
Mais difícil será a situação das ordenações. Os institutos anteriormente ligados à Comissão Ecclesia Dei terão a difícil missão de contornar a situação, mas, se conseguirem, mostrarão que esta lei não passa de um artifício de palavras… Tomara que consigam!
O que fica claro, por detrás disso tudo, é o gesto mais anti-inaciano jamais tomado por um Papa, ainda mais grave por se tratar de um “filho” do fundador da Companhia: o triunfo de Lutero e de seu ódio à Missa católica, aos sacramentos católicos e ao sacerdócio católico. Diante de tamanho descalabro, não é difícil imaginar a inquietação do glorioso soldado de Cristo perguntando a este seu “discípulo”: “fili mi, quare me dereliquisti?”, “filho meu, por que me abandonaste?”