Vernaculum?

Por FratresInUncum.com, 24 de julho de 2021 – As Sagradas Escrituras nos contam que os homens, em seu intento de construírem uma torre que tocasse o cimo do céu, foram confundidos por Deus com a multiplicidade das línguas. Desde então, não nos foi possível mais construir uma “cidade comum”. 

Em Pentecostes, este fenômeno inverteu-se. O Espírito Santo deu aos Apóstolos o dom de serem compreendidos por todos em sua própria “língua materna”. Desde então, quanto mais os homens se uniram pela unanimidade da mesma fé, tanto mais tiveram a necessidade de construírem uma linguagem comum que lhes ajudasse a se comunicarem de maneira precisa e direta.

Não foi sem razão que a Divina Providência permitiu que primeiramente o grego se difundisse no mundo pelo império de Alexandre Magno e que, depois, viessem os romanos e abrissem estradas por todos os lados, construindo a base que futuramente seria utilizada pelos Apóstolos como a rede pela qual eles fariam a evangelização dos povos. Também não foi sem razão que Deus quis que o Império Romano caísse e fosse substituído pelo esplendor da Sede Apostólica, que gerou e deu à luz à civilização ocidental.

“Lingua materna”, o latim sempre foi tido como língua da Igreja, idioma pelo qual os filhos dispersos desta Mãe fecunda se comunicariam, filosofariam, teologariam e, sobretudo, apresentariam a Deus o sacrifício eucarístico. Em qualquer lugar do mundo, portanto, um católico poderia sentar-se ao lado de outro católico para entender a Santa Liturgia. A língua latina não era um empecilho; pelo contrário, era o sinal da unidade de toda a Igreja, por todo o mundo.

A isto – faça-se justiça – nem o Concílio Vaticano II ousou-se opor. Os papas que o sucederam, apesar de terem consentido com a invasão bárbara das línguas vernáculas, jamais tiveram a coragem de defendê-la como um princípio, coisa que acaba de fazer Francisco em seu “Traditionis Custodes” – o nome sarcástico do documento é ainda mais sublinhado diante dessas nuances revolucionárias.

Pois bem, aquilo que o homem entende como um progresso é, de fato, um castigo: a civilização cristã perdeu unidade, diluiu-se na multiplicidade das línguas e já não é mais capaz de entender-se, sequer em sua liturgia.

Agora, Francisco quis impor tal descalabro em seu Motu Proprio. No art. 3 § 3 ele diz: “o bispo, nas dioceses nas quais até agora existe a presença de um ou mais grupos que celebram segundo o Missal antecedente à reforma de 1970: estabeleça no lugar indicado os dias em que são permitidas as celebrações eucarísticas com o uso do Missal Romano promulgado por São João XXIII em 1962. Nestas celebrações, as leituras sejam proclamadas em língua vernácula, usando as traduções da Sagrada Escritura para o uso litúrgico, aprovadas pelas respectivas Conferências episcopais”.

A exigência de Francisco de que as leituras sejam feitas em língua vernácula é extremamente abusa, inclusive pelo fato de que nem no Novus Ordo é obrigatório que se utilizem as traduções para as leituras: “No caso de que a proclamação se faça em língua latina, atenha-se à modulação indicada no Ordo cantus Missae” (Missal Romano, Introdução geral ao Lecionário, n. 14). Ademais, se diz também que “a proclamação da palavra de Deus na assembleia litúrgica deve sempre ser feita a partir dos textos latinos preparados pela Santa Sé ou das versões para o uso litúrgico aprovadas pelas Conferências Episcopais, em conformidade com as normas vigentes” (n. 111).

Portanto, a aversão que Bergoglio manifesta ter da língua latina não tem nenhum respaldo legal, nem no Concílio Vaticano II nem nos textos emitidos pelo Consilium ad exsequendam constitutionem de sacra liturgia (perdoem-nos, vamos traduzir para o vernáculo: Conselho para a execução da Constituição sobre a Sagrada Liturgia).

Contudo, o problema aqui não é meramente linguístico. Em nosso artigo de ontem, contamos o fato pouco conhecido de quando o Card. Bergoglio criou a primeira capelania Summorum Pontificum do mundo. Uma das imposições que ele fez foi a de se usar o lecionário da Missa Nova, que as leituras fossem proclamadas em vernáculo e também fossem feitas por pessoas leigas, tanto homens quanto mulheres.

Portanto, o que ele está querendo dizer aqui é que a Missa Tridentina precisa deixar de ser tridentina, ele não está apenas proibindo o rito tradicional, mas está violentando-o para que se adapte às normas do Novus Ordo, normas, aliás, que nem sequer se exigem pela força das leis litúrgicas nem sequer na Missa Nova (pois existem e podem ser usados os lecionários em latim). Daí a exigência de que se usem os textos das leituras aprovados pelas Conferências Episcopais para o uso na liturgia: não se tratam de simples traduções, mas do lecionário novo imposto para o rito antigo. A coisa é tão esdrúxula que nem a Fraternidade São Pio X entendeu de cara e se perguntou, no texto que publicamos dias atrás, o porquê de não se usar as traduções mais tradicionais, como a de Dom Gaspar Lefebvre.

Este Motu Proprio está tão mal escrito, é tão absurdamente ininteligível, que mesmo coisas desse tipo não podem ser entendidas senão com grande esforço. O texto é apenas um sinal da mente perversa do pontífice reinante, um jesuíta peronista maquiavélico que conspira o tempo todo tentando esconder a sua cara.

Ora, é mais fácil entender o latim de São Pio V que o vernáculo de Bergoglio, pois o primeiro fala com sinceridade e clareza, o segundo escreve de modo sinuoso e traiçoeiro, não pode ser explícito, joga com palavras, é obscuro. O Motu Proprio de Francisco não pode ser obedecido, pois não se pode obedecer uma lei incerta, uma lei que não é lei; a culpa disso é dele. Quem manda escrever tão mal?… Quem mandou faltar nas aulas de gramática? Quem mandou faltar nas aulas de latim?

7 comentários sobre “Vernaculum?

  1. Quem mandou faltar nas aulas de gramática ???
    Quem mandou faltar nas aulas de latim???
    Essa foi ótima !
    Ahahaha
    Continuemos resistindo!

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  2. A primeira cosia que me vem à mente, com relação à aversão de Bergoglio ao latim são os alunos dos anos 50 e 60 aqui no Brasil, quando o aprendizado desta língua era obrigatório nas escolas.
    Alguns deles, por óbvia ignorância, repudiavam o ensino porque “achavam” a língua inútil. Todava sua importância era (e ainda é) fundamental não somente no aprendizado das demais línguas como para o desenvolvimento do raciocínio e a sua aplicação em Direito.
    Sua retirada do curriculum obrigatório, todavia, deu-se mais por influência da esquerda do que propriamente por questões disciplinares. Já havia uma corrente forte no Brasil com intenções de paulatinamnete retirar o cristianismo da influência no país e, por conseguinte, a Igreja, pois o latim era, como ainda é hoje, sua lingua oficial.
    Observa-se, todavia, que não se trata de uma ação regional ou local contra esta língua, mas algo internacional. A ideia é destruir a influência da civilização romana por definitivo em todo o planeta.
    Uma Roma cristã foi o pior que poderia ter acontecido para a hegemonia oriental, algo que notamos hoje de forma bastante nítida com o crescimento da Rússia, China e adjacências.
    Bergoglio mais uma vez encaixa-se como uma luva nos objetivos da ONU e do oriente.
    A pá de cal nesta língua dentro da Igreja será certamente o próximo passo, em disputa ferrenha com o fim da missa.
    A propósito, já foi publicado o “Traditiones Custodes” em latim?
    Provavelmente não será.

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  3. Quando o superior dos jesuítas Pe Hans van Kolvenbach advertiu ao papa S João Paulo II sobre o padre Jorge Mario Bergoglio de ser algo desequilibrados e cositas más a seu respeito, como inadequado a tão nobre cargo episcopal, ele foi extremamente sábio e coerente, justamente porque sabia dos problemas polêmicos que causava entre os jesuítas de seu tempo.
    Apesar de saber de seu nada virtuoso passado, assim mesmo o elegeu bispo e depois promovido a cardeal, embora fosse peronista, que eram e são como caniços – vão dobrando-se segundo os direcionamentos dos ventos em quem se espelham, como em Juán D Perón, o qual era àquela época, como oportunista, sem nenhuma opção política definitiva que se comportava, aliara-se ao impiedoso nazista Hitler!
    Todos os erros sucedentes na Igreja atualmente podem ser debitados esses coportamento instáveis e tendendo a piorar, enquanto se mantiver como pontífice da Igreja, como o fratres tem recorrentemente enumerado, bastando conferir-lhes os posts!

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  4. Querido, o latim na realidade já é (foi) uma língua vernácula (de Roma; hoje é o italiano), do contrário estaríamos rezando ainda em grego, idioma original da comunidade cristã. Bergoglio certamente chegou a ter uma educação jesuíta de antanho, com um forte componente greco-latino. Dá um banho nesses padrecos de paróquia com barrete e seus acólitos (só lembro o saudoso comentarista “famulus cor maria”, aqui no blog). A propósito, a igreja moscovita está agora discutindo o uso ao menos parcial do russo na liturgia, no lugar do eslavo antigo (que também já foi o vernáculo). Outra pergunta: existe a edição típica dos Lecionários em latim? Ainda não vi. Ou estaria se referindo à tal “neo-vulgata”? Uma estupidez tão grande quanto seria uma “neo-Septuaginta” ou uma “neo-Divina Comédia” (uma edição crítica da Vulgata para estudo é bem-vinda, mas não uma correção dessa obra clássica). Se não querem S. Jerônimo, que façam as leituras no original hebraico ou grego, ou usem uma tradução boa para as línguas modernas. Defendo com veemência o estudo do latim em profundidade para todos os clérigos e demais fiéis interessados, bem como a existência de pelo menos uma missa dominical em latim em cada localidade de certo porte. O latim tem lugar eterno na cultura eclesiástica, porém não vejo valor em neolatinismos ou numa latinidade artificial (por exemplo, traduzir um escrito papal ou curial do italiano/espanhol para o latim, para depois ser retraduzido para outras línguas). A língua de Roma e dos romanos é hoje o italiano. Aprendamo-lo!

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    1. Quanto aos seus comentários filológicos, d’ accord, Mr Towers (esperando, embora, que v nada tenha com Yates, “The Tower”…).
      Quanto à parvoíce de serem os documentos oficiais redigidos em italiano, minha língua quase materna, discordo ironicamente). Se quiser, farei um desenho para o seu deleite ou a sua consternação).

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  5. “Dois amores erigiram duas cidades, Babilônia e Jerusalém : aquela é o amor de si até ao desprezo de Deus ; esta, o amor de Deus até ao desprezo de si”.
    Agostinho de Hipona, Santo, Bispo da Igreja católica.

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