Por FratresInUnum.com, 28 de julho de 2021 – É impossível suprimir da memória uma experiência maravilhosa. Não há como desfazer-se de algo bom que se viveu nem como desviver o melhor que tenha acontecido. É assim que boa parte do clero experimentou a redescoberta da Missa tradicional.

Sonegaram-lhes o latim, a batina, a tradição; não lhes informaram sobre nada, foram eles vítimas dos laboratórios mais esdrúxulos jamais excogitados sequer pelo Dr. Pavlov, tornou-se-lhes inacessível o caminho para o tesouro do catolicismo. E, ainda mais, encheram-lhes a cabeça com lixo revolucionário, teologia da libertação, missas inculturadas, músicas engajadas, pastorais ativistas… Isolaram-se-lhes numa ilha em que as notícias sobre a Missa antiga chegavam-lhes apenas por resquícios mínimos, praticamente pela poeira do tempo.
De repente, reeditam-se missais, divulgam-se vídeos explicativos, fazem-se cursos de latim, disponibiliza-se o acesso à liturgia de sempre… Os padres recomeçam a viver, encontram na liturgia antiga o perfeito encaixe para a doutrina imperecível. Começa o tempo Summorum Pontificum! Florescem comunidades tradicionais por todos os lados e os padres encontram na Missa de Sempre a perfeita reverberação para o seu sacerdócio.
Agora, não basta Francisco proibir os novos padres de celebrarem a missa antiga, ele também tenta limitar a faculdade dos próprios padres que já a celebravam de a continuarem celebrando. Ele diz o art. 5: “os presbíteros que já celebram segundo o Missale Romanum de 1962, (sic!) pedirão ao Bispo diocesano a autorização para continuar a valer-se da faculdade”.
Em termos jurídicos, esta simples linha de Francisco contém absurdidades quase inacessíveis ao leitor comum: no mesmo tempo em que ele implicitamente reconhece que os padres tenham a faculdade de celebrar segundo o usus antiquor, ele condiciona esta faculdade a que eles peçam a autorização do bispo para valerem-se dela. Ele faz mais um jogo de palavras unicamente porque não pode negar que os padres têm já esta faculdade e que esta não lhes pode ser retirada sem uma justa razão ou por uma pena eclesiástica.
Dizendo-o de outro modo: os padres têm a faculdade mas, para usar a faculdade que eles já têm, precisam pedir para que o bispo lhas permita usar. Portanto, a faculdade não é concedida pelo bispo, porque os padres já a têm na mesma extensão em que podem celebrar a Missa, mas seria o bispo que lhes autorizaria a usar, embora eles já a possuam.
Com este malabarismo verbal, Francisco consegue apenas criar algumas impressões: a de que os padres estão proibidos de usar a faculdade sem a autorização do bispo; a de que o bispo outorga a faculdade, sem a qual os padres não poderiam celebrar, e, portanto, que o poder do bispo aumenta; e, especialmente, que nem privadamente o padre poderia fazer uso da faculdade que ele já tem sem antes solicitar a autorização do seu bispo.
Embora Bergoglio derrogue todas as disposições em contrário, como é de praxe se fazer num Motu Proprio, é um princípio legal que um privilégio ou faculdade só possam ser revogados de maneira explícita, além do fato de que, dada a natureza da Missa Tradicional (restaurada por S. Pio V, por ele fixada e nunca ab-rogada) e da relação da Missa com o sacerdócio, há aí qualquer coisa de irrevogável. Vale lembrar que o indulto de 1984 previa aquilo que Paulo VI também já reconhecia em seu tempo, isto é, que os sacerdotes têm o direito de privadamente celebrarem a Missa com um Missal nunca ab-rogado e que, ademais, podem admitir alguma assistência, visto que o mais adequado é que não celebrem de modo totalmente solitário, se possível.
É verdade que há alguns bispos conservadores que já se apressaram a exigir, inclusive, que os padres lhes peçam licença por escrito para celebrarem segundo a forma extraordinária, ao invés de simplesmente dizerem que, em sua diocese, eles estão simplesmente autorizados a fazê-lo, segundo a norma do direito. Isso, em rigor, nem precisa ser de modo escrito, valeria, para tanto, uma simples declaração verbal, caso não existisse tanto zelo em mostrar subserviência a Bergoglio.
Entretanto, fato é que os padres não estão minimamente vinculados a um pedido do bispo para celebrarem privadamente de acordo com o Missal de São Pio V. Motivos jurídicos para isto não faltam e o art. 5 do Motu Proprio de Francisco não passa de um truque de palavras que, ao fim e ao cabo, nada significam.
Fato é que os padres não vão parar de celebrar o rito tradicional. Os documentos anteriores estão muito bem calçados juridicamente e não é uma norma artificial que os vai anular. Há razões objetivas para que mantenham a sua plena vigência e, mais cedo ou mais tarde, a nova norma será completamente impugnada. É incontestável, porém, que, como tais, as palavras de Francisco são tão imprecisas que não vinculam a ninguém!
Bergoglio entende tanto de leis quanto de teologia tomista; isto é, nada. Ele não sabe que não existe como coibir um costume com papel e caneta. Não se trata apenas de uma disposição legal, trata-se de um poder real, poder que a Missa tradicional tem diretamente sobre a vontade dos que a celebram e ele, como papa, não possui, pois ele não pode forçar materialmente ninguém, nem sequer debaixo do seu teto.
O fascínio exercido pela liturgia católica sobre os sacerdotes não é apenas estético, é realmente sacramental: ou seja, a Missa de Sempre explica para o próprio sacerdote em que consiste o seu sacerdócio, pois “sacerdos pro Hostia”, o sacerdote existe para o sacrifício, para imolar a vítima. Não há como simplesmente deixar de fazê-lo. Os inovadores perderam! Esta é a verdade! Já não é mais possível esconder a lâmpada debaixo do alqueire.
Os padres antigos deixaram a Missa tradicional por pura obediência. Eles foram educados a serem dóceis aos seus superiores e acataram todas as disposições do Concílio, ainda que sofrendo (foram milhares que simplesmente largaram a batina). O movimento contrário, porém, é de outra natureza: os padres que trocaram a Missa nova pela Missa tradicional o fizeram não por uma motivação extrínseca, mas intrínseca, convencidos pela própria inteligência e pela própria vontade. E este caminho não tem volta. Nosso Senhor mesmo disse no Evangelho que “ninguém que bebeu do vinho velho quer já do novo, porque diz: ‘O vinho velho é melhor’ – ‘vetus melius est’” (Lc 5,39).
Uma represa dá sinais de que vai romper, filetes d’água ou fluxo mais intenso começam a aparecer nas frestas grandes ou pequenas. João Paulo II teve e saúde e prestígio para fazer os necessários reparos da estrutura “eclesial”. Deu nada a sua tática de fundar institutos de formação paralelos às grandes espeluncas teológicas que são as universidades romanas. Não interveio nelas por mera política. Tudo pela política!
O Mobotu proprio franciscofáustico comais certeza saiu de Santo Anselmo e da malta de liturgistas de gabinete mais ou menos afastadas quando da frustra tentativa de Bento XVI re-romanizar a liturgia. É uma vendetta das tiazonas contra o projeto do papa bávaro. Mas o que essas senhoras sabem de liturgia? Conhecem meia dúzia de anáforas páleo-cristãs e só. Pulam a Idade Média (claro!) e vão se espojar no primeiro capinzal do movimento litúrgico belga de 1920. Mal amadas, amargas, retorcidas por verem o fracasso de suas igrejas vazias enquanto que a liturgia dita “tridentina” lota as igrejas quando há.
Falsas vocações!
Parece que foi isso…Enquanto o ensino estiver nas mãos doidivanas esquizofrênicas que pagam para serem “amadas” no burgo ao lado, nada feito. É quase o mesmo que acontece com o ensino universitário (e com o de todos os demais graus) com a diferença de, neste caso, não tem nenhum fracassado encostado na Igreja. Quantos há. Basta ver o oportunismo dos temas…
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“Bergoilio entende tanto de leis quanto de teologia tomista; isto é, nada. Ele não sabe que não existe como coibir um costume com papel e caneta.”
Essa foi a melhor !!!
Continuemos orando, para q vários sacerdotes corajosos continuem resistindo a essa aberração, e falta de sabedoria!
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FiU: “Vale lembrar que o indulto de 1984 previa aquilo que Paulo VI também já reconhecia em seu tempo, isto é, que os sacerdotes têm o direito de privadamente celebrarem a Missa com um Missal nunca ab-rogado e que, ademais, podem admitir alguma assistência, visto que o mais adequado é que não celebrem de modo totalmente solitário, se possível.”
Por caridade, onde exatamente isso está dito no Quattuor Abhinc Annos?
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Até quanto haveis de manter-se em cima do muro? Por que tanta revolta pela supressão da Missa tradicional, se a Missa nova é legítima expressão da fé católica? Estais por acaso, como é a acusação contrária, com apego desordenado à estética do rito ao invés de unir inteligência e vontade à essência do que o rito contém? Se reconheces que a essência da Missa tradicional é a mesma da Missa nova, se reconheces que são “duas expressões do mesmo rito”, ou seja, duas expressões da mesma fé, como defendia Bento XVI, te condenas diante de quem vos acusa de apego desordenado à estética do rito, pois afirmas que ambas tem a mesma essência, a mesma fé.
De todas as análises aqui expostas, o mais importante não se diz. Quando o documento do Papa Francisco diz que a Missa nova é a “única expressão da lex orandi do Rito Romano”, isso não está somente excluindo a Missa tradicional, mas o pior: dizendo que a essência da Missa nova é a expressão da fé católica, ou seja, Bento XVI dizia que as duas são a expressão da fé católica e Francisco diz que somente a Missa nova, mas ambos estão de acordo, e também tú, que a Missa nova é legítima expressão da fé católica.
Volta a pergunta: tú, até quando haveis de manter-se em cima do muro? Francisco está sendo firmemente coerente, mais que Bento XVI. Desde Paulo VI até Francisco, todos os Papas assumem que a Missa nova é a legítima expressão da fé católica. Se o é, a Missa tradicional não é, pois a essência de ambas é muito diferente, e todos os conversadores sofrem de desordenado apego à estética do rito, pois a Missa nova é, tanto faz se única ou não, legítima expressão da fé católica.
Se, pelo contrário, Missa nova e Missa tradicional não são expressão da mesma fé, não têm a mesma essência e a supressão da Missa tradicional é verdadeiramente um atentado, por que não se diz que a Missa nova é má? Que a Missa nova não é a expressão da fé católica coisa alguma? E, por consequência, a “hermenêutica da continuidade” só deu continuidade à crise, à auto-demolição da Igreja? Auto-demolição anunciada já por Paulo VI e continuada ininterruptamente até Francisco? E, por consequência última, por que não se afirma que a Missa nova desagrada a Deus, como é sensível pela falta de vocações que essa Missa gera?
“Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca” Apocalipse 3,15-16
Eis o motivo de Deus permitir lhe haver sido tirada a Missa tradicional, porque sois mornos.
A Missa é a continuação, nos tempos, da luta mais renhida que há: a batalha entre o Reino de Deus e o reino de Satanás, essa guerra que chegou ao ápice no Calvário, com o triunfo de Nosso Senhor. Foi para essa luta, e essa vitória, que Ele se encarnou. Visto que a vitória de Nosso Senhor foi obtida pela cruz e por seu sangue, é compreensível que sua perpetuação aconteça, também, por meio de lutas e contrariedades. Todo cristão é chamado a esse combate: Nosso Senhor nos chama porque disse que “veio à terra para trazer a espada” (Mt 10, 34). Não é surpreendente que a Missa de sempre, que exprime perfeitamente a vitória definitiva de Nosso Senhor sobre o pecado, por seu sacrifício expiatório, seja ela mesma um sinal de contradição.
A Missa expressa e veicula uma concepção da vida cristã — e, consequentemente, uma concepção de Igreja — que é absolutamente incompatível com a eclesiologia que procede do Concílio Vaticano II. O problema não é simplesmente litúrgico, estético, ou meramente formal. O problema é simultaneamente doutrinal, moral, espiritual, eclesiológico e litúrgico. Em poucas palavras, é um problema que toca todos os aspectos da vida da Igreja, sem exceção: é uma questão de fé.
Do outro lado ergue-se a Missa de Paulo VI, expressão autêntica de uma Igreja que busca estar em harmonia com o mundo, que dá ouvidos às exortações do mundo; uma Igreja que, em última instância, não tem mais de combater o mundo porque não tem mais nada a repreender; uma Igreja que não tem mais o que ensinar porque escuta os poderes desse mundo; uma Igreja que já não precisa do sacrifício de Nosso Senhor porque, tendo perdido a noção de pecado, não tem mais nada a expiar; uma Igreja que não tem mais como missão restaurar o reinado universal de Nosso Senhor, porque ela quer dar sua contribuição à construção de um mundo melhor, mais livre, mais igualitário, mais ecologicamente responsável; e tudo isso com recursos puramente humanos. À essa missão humanista a que se entregaram os homens da Igreja deve corresponder uma liturgia igualmente humanista e dessacralizada.
A Missa tradicional é a expressão suprema de um universo doutrinal e moral. Trata-se, portanto, de escolher a fé católica em sua integridade, em sua verdade, e por ela Nosso Senhor Jesus Cristo, sua cruz, seu sacrifício, sua realeza. Trata-se de escolher seu sangue, de imitar o Crucificado e de segui-lo até o fim por uma fidelidade total, radical, firme.
Aquele que não está pronto para derramar seu próprio sangue por essa Missa não é digno de celebrá-la. Aquele que não está disposto a tudo renunciar para protege-la não é digno de assistir a ela.
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