De volta ao gueto.

“Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda a parte e sempre levamos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo.

Enquanto vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa existência mortal.” (II Cor 4, 8-11)

Por Padre Antônio Mariano – FratresInUnum.com, 19 de dezembro de 2021: Ontem pela manhã, recebi a triste notícia da odiosa resposta que a Congregação para o Culto Divino emitiu acerca de algumas perguntas feitas sobre o Motu Proprio Traditionis Custodes. [Respostas extremamente rápidas, enquanto os dubia dos cardeais continuam engavetados por Francisco].

igreja destruida

Dizem – não sou especialista… – que os tubarões têm olfato e que, se sentem cheiro de sangue, tornam-se ainda mais agressivos contra as suas vítimas.

Aqueles que se sentiram acolhidos por Summorum Pontificum descobriram que, de uma hora para outra, não existe, literalmente, mais lugar para eles nas paróquias. E que se existir, será apenas pelo tempo que o Bispo considerar oportuno para que eles se acomodem a Traditionis Custodes, ou seja, não queiram mais assistir à Missa no que até pouco tempo antes era chamado de forma extraordinária do Rito Romano, e que agora é uma liturgia sem perspectiva de vida na Igreja, um rito exilado.

Cada vez mais violência, cada vez mais sanha.

Quando foi a primeira mordida?

Hoje, talvez nos seja fácil perceber que a primeira mordida, pelo menos desse ciclo mais recente, foi o próprio Summorum Pontificum. Ali, Bento XVI, embora faça justiça ao afirmar que o Rito de S. Pio V, para usar uma denominação menos inadequada para o que nada mais é que simplesmente a Missa de Sempre, nunca foi proibido ou ab-rogado, coloca-o num nível de sensibilidade e gosto.

Ninguém, exceto aqueles que suportaram injustamente várias sanções, teve a coragem de trazer o “problema” para o campo correto: a Fé.

A Missa Nova é o arauto da nova fé, humanista, maçônica, sionista, ecumênica, revolucionária, de uma nova Igreja Conciliar. Mesmo a Missa de Paulo VI “bem celebrada” é apenas um cozinhar mais lento de um mesmo desfazer da verdadeira Fé Católica.

Aliás, a expressão “Igreja Conciliar” não foi criada por nenhum cismático, mas por um Cardeal da Cúria que acusava Mons. Lefebvre de não aceitar a “Igreja Conciliar”.

Por mais que até pudesse ter boa-vontade, Bento XVI não teve a intrepidez necessária para corrigir, quando lhe foi possível, os desvios doutrinários que tornam mais evidente a existência atual de duas Igrejas que não podem conviver juntas, como não se pode ter trevas onde há a luz.

Neste caso, então, a Igreja Conciliar com sua hierarquia não suporta a Igreja Católica com sua liturgia voltada unicamente para Deus, e para a destruir exige como um mantra a comunhão que são eles mesmos a tornar cada vez menos viável.

Não se pode deixar de recordar a pergunta que certa vez fez Mons. Lefebvre: “Terei que me tornar protestante para continuar católico?” E a resposta a cada dia se torna mais clara: sim.

Cada vez menos será possível ser fiel à Santa Igreja e não ser punido pela hierarquia da Igreja.

Não basta ao Papa e seus colaboradores mais próximos o tormento que muitos padres e fiéis já têm que enfrentar por causa da covid, suas variantes e vacinas. É necessário criar mais tormento: empurrar os fiéis para a irregularidade, com muita misericórdia, é claro.

Não há outra saída.

Para a hierarquia, a Missa de S. Pio V é apenas uma questão de tempo. E os institutos ligados à hierarquia terão que cada vez mais expor que sua questão é apenas uma preferência, um gosto que deverá mudar, começando pela concelebração nas missas crismais e o uso do novo pontifical. E isso sob olhar atento de um Braz de Aviz.

Uma celebração ecumênica, inter-religiosa, um manifesto político, uma campanha de vacinação pode ocorrer numa Igreja Paroquial, sem nenhum constrangimento, mas uma Missa de S. Pio V só se “escrupolosamente” houver a certeza irrevogável de que não há nenhuma outra igreja/capela que possa ter a Missa… e com licença direta da Santa Sé. Realmente deve haver pouca coisa para as congregações romanas se ocuparem…

E mais, tudo o que é naturalmente permitido a um padre em relação à Missa de Paulo VI é agora claramente proibido em relação à Missa de S. Pio V. Como, por exemplo, celebrar mais de uma Missa por dia. Ora, se essencialmente, como dizem, ambas as missas seriam a mesma  coisa, por que o que vale para uma não vale para a outra?

A hierarquia já não teme mais perder a lógica, se, como avisou Nossa Senhora em La Salette, Roma perderia a fé.

Esse documento datado de 04 de dezembro é também um incentivo a que os bispos sejam mais cruéis; é como se estivessem atiçando ainda mais aqueles bispos que querem junto com o Papa destruir tudo que ainda possa restar de católico em suas dioceses. É um respaldo para que com aquela voz pausada e tom manso eles possam com uma carinha de pena dizer que não são eles, é o Vaticano… teeemmm queeee teeeerrrr coooomuuuunnnhãaaaaaooooooo.

Ao ler o documento não nos é difícil sentir em alguma medida com Santo Elias: “Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus todo-poderoso, porque os filhos de Israel abandonaram tua aliança, destruíram teus altares e mataram à espada teus profetas” (I Rs 19,14).

Francisco inaugura um estilo em que cada documento vem em contradição ao seu nome: Cor orans inaugura a destruição da Vida Contemplativa; Traditionis Custodes retira dos Bispos o direito de regularizarem a vigência do Rito de S. Pio V em suas dioceses, tendo que tudo remeter unicamente às Congregações Romanas; Amoris Laetitia seca as fontes do autêntico matrimônio cristão etc…

Como disse no início, recebi a notícia desse documento ontem de manhã, mas só à noite consegui ler o documento e escrever essas linhas, é porque tinha que celebrar duas missas à tarde, e vou concluir por aqui, porque terei que me recolher para conseguir celebrar dignamente outras três no domingo. E quando falo missa, não poderia me referir a outra que não fosse a mesma que alimentou a Fé verdadeira de multidões de santos que a celebraram ou assistiram e que receberam os sacramentos nessa mesma forma e que não negarão a sua intercessão para que permaneçamos fiéis não a um gosto, mas à uma fé.

E que na nossa morte possamos dizer com Santa Teresa: “Morro filha da Igreja”. Ainda que sejamos como estrangeiros exilados para os filhos de nossa Mãe.

12 comentários sobre “De volta ao gueto.

  1. Concordo com tudo, exceto quando diz que “a Missa Nova, mesmo quando bem celebrada, é um cozinhar mais lento de um mesmo desfazer da verdadeira Fé Católica”.

    A essência da missa é: leitura das Sagradas Escrituras, ofertório, consagração e comunhão.

    A missa já era descrita assim desde os primeiros séculos da Igreja (conferir a Primeira Apologia, de Justino Mártir, escrita no século II).

    Posteriormente diversos outros ritos foram surgindo (incluindo o de São João Crisóstomo, usado nas igrejas do Oriente).

    Sem dúvida o desmonte da liturgia foi um passo fundamental da atual crise em que estamos, e o rito de São Pio V sem dúvida foi um ápice, mas não significa que seja o único rito eucarístico correto.

    Há sacerdotes que conseguem transmitir a fé e a sensibilidade católica mesmo na aridez da liturgia atual.

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    1. Então prove, Padre.
      Falar não adianta muita coisa.
      Mas prove com argumentos verdadeiros, teológicos, corretos, não com opiniões pessoais.

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    2. Prezado sacerdote:
      De fato, a liturgia dâmaso-gregoriana cujo rito chamamos de Romano ou “tridentino” não se arvora como o único rito Eucarístico correto.
      Existe a liturgia de São João Crisóstomo, e tantas outras orientais que dispensam apresentação.
      O Novus Ordo, contudo, ao contrário de todos os mais de 20 ritos da Igreja,
      1) é um rito artificial, pois não nasceu da Tradição e muito menos do desenvolvimento natural, ao contrário de todas as liturgias ocidentais e orientais; seu criador tem nome e sobrenome: Annibale Bugnini. Seus colaboradores foram seis pastores protestantes, a saber: Drs. George, Jasper, Shepherd, Kunneth, Smith, e Thurian; quem a encomendou oficialmente foi o próprio Paulo VI, e quem a ordenou de fato foi a franco-maçonaria.
      Quem diz isso foi o falecido D. Pestana, bispo de Anápolis, que pouco antes de falecer, em conferência registrada por este blog, declarou o seguinte: (…)o próprio Monsenhor encarregado da liturgia – Bugnini – tinha escrito uma carta ao chefe da maçonaria italiana, dizendo que pela liturgia HAVIA FEITO TUDO QUE ERA POSSÍVEL; tudo aquilo, segundo recebeu instruções, mais não poderia ser feito. […] Um padre polonês que encontrou este ofício o levou imediatamente a Paulo VI, que o mandou para fora de Roma, na nunciatura no Irã. Até Monsenhor Benelli, que era o braço direito do Papa, também foi retirado de Roma e estranhamente ambos morreram pouco depois em circunstâncias misteriosas(…).
      2) é um rito com graves deficiências, pois foi examinado por uma comissão de 12 teólogos especializados em liturgia sob a direção de D. Marcel Lefebvre, que por sua vez atendeu ao pedido dos cardeais Alfredo Ottaviani e Antônio Bacci, que fizeram o “Breve Exame Crítico” (também conhecido como “intervenção Ottavianni”) “que dissecou o Novus Ordo e expôs suas falhas. O cardeal Ottaviani não era um qualquer: ele era o próprio Prefeito do Santo Ofício, portanto se alguém poderia falar com autoridade sobre o assunto, seria ele, junto com o prefeito da antiga Congregação dos Ritos Divinos.
      3) É um rito que coroa todo um processo revolucionário que o precede, e que o usa como a vitrine de todo um esquema de desmonte da Igreja. Na obra “Maçonaria e Igreja Católica” de autoria dos Padres J.A.E. Benimeli, G. Caprile e V.Alberton, Editora Paulus, São Paulo, 1981 – obra de padres que DEFENDEM a aproximação da maçonaria com a Igreja, está dito sobre João XXIII: “…cremos que sinais claros desta nova, mais serena atitude encontra–se (sic) também na posição assumida por alguns grupos maçônicos diante da figura dos dois papas artífices do Concílio, por ocasião de sua morte.
      “Na de João XXIII, o Dr. G. Gamberini, Grão Mestre do Grande Oriente da Itália distribuiu a nota seguinte:
      “Sucede quase sempre, que um papa deixe profundas lamentações no âmbito de sua Igreja, mas, certamente, é a primeira vez que um papa morre circundado pela simpatia e pelo afeto de toda a humanidade. Desaparece, como todos sentem, um homem bom. Juntamente com esse homem bom desaparece o mais límpido, e ao mesmo tempo, o mais genial e eficaz defensor da Igreja. Consagrara-se à sobrevivência da Igreja, e a esta sobrevivência estava pronto a sacrificar todo outro valor tradicionalmente a ela associado [e foi o que João XXIII e Paulo VI fizeram no Vaticano II]. A sua morte é grande mal para a Igreja. Mas desaparece, também, um homem que se prometia colmar (sic) [tapar], em virtude de um autêntico sentimento cristão, o abismo escavado pela Igreja, antes dele, entre si mesma e a civilização moderna. E a sua morte é um grande mal para todos”.
      E sobre Paulo VI: O mesmo maçom Gamberini o elogiou também por ocasião de sua morte, dizendo:
      “(…) Nenhum dos seus predecessores foi tão difamado como ele. Talvez, porque, no seu tempo, a arte de difamar não conseguira as presentes garantias de impunidade. Mas, sem dúvida, a ele e não aos seus predecessores coube a sorte de tomar conhecimento da incumbência da ameaça final para a sua Igreja como para todas as religiões, como para toda espiritualidade. E teve de bater-se e procurou fazê-lo em mais de uma frente, com mais de uma tática. Para os outros a morte de um Papa é um acontecimento proverbialmente raro, mas que acontece, não obstante com a freqüência de anos e de decênios. Para nós é a morte de quem fez cair a condenação de Clemente XIV e de seus sucessores. Ou seja, é a primeira vez — na História da Maçonaria moderna — que morre o chefe da maior religião ocidental, não em estado de hostilidade com os maçons. E pela primeira vez na História os maçons podem render homenagem ao túmulo de um Papa, sem ambigüidades nem contradições”.
      Na 4ª edição deste livro, o senhor pode checar essas passagens nas páginas 100-102.
      Então este é o problema da Missa Nova: não é inválida em si mesma, pois um padre que consagra segundo a Fé da Igreja e usa do mínimo exigido – Matéria e Forma – atualiza o Sacrifício.
      MAS é um rito feito com a ajuda de protestantes que renegam a Transubstanciação e a Presença Real, e têm como centro o Ecumenismo acima de tudo.
      É um rito que humilha o Sacrifício da Cruz e prepara a RELIGIÃO UNIVERSAL da maçonaria.

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  2. O comentário de Bruno Luís Santana merece uma publicação a parte pelo Blog. Ele resume, com fontes, os acontecimentos mais decisivos para a história contemporânea da Igreja. E considerando estes dois acontecimentos (CV II e Novus Ordo) comparando com a portentosa mensagem de Fátima pode-se perceber claramente o renhido embate entre o céu e o inferno pelas almas tendo como arena a Igreja de Cristo.

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    1. Está aí o que perguntei acima, Luiz! Acho que não terá lei que impeça um sacerdote de rezar missa conforme aprendeu, nem lei que o obrigue a se “atualizar”.

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    2. Desculpe, o que postei agora foi em relação a um comentário que fiz em outro post. Mas é isso mesmo. Acho que não há nada a temer, ou coloquem a boca no trombone.

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  3. Em nenhum momento eu tratei das intenções de quem fez o atual rito. Portanto, o Sr Bruno Luís Santana, que focou nesses aspectos, apenas conseguiu desviar o assunto.

    O que eu quis dizer é que, apesar de árida, e apesar de ter sido um passo fundamental da atual crise em que estamos, a essência da missa continua correta, e pode servir para transmitir a fé, a depender do celebrante.

    E ao invés de formar uma opinião sobre a missa baseada apenas em opiniões e relatos de gente recente, sugiro procurar livros de história da Igreja. Vocês estão focandos apenas nos últimos 50 anos, eu estou olhando 2 mil anos.

    Como o sr. NPr pediu para eu provar, segue a transcrição da narração de um rito de missa do século II, escrita por Justino Mártir:
    ————

    “No dia que se dá o nome de sol, todos, nas cidades e no campo, se reúnem em um mesmo lugar: lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas, tantos quanto o tempo permitir.
    Quando o leitor termina, aquele que preside faz um discurso para advertir e para exortar à imitação desses belos ensinamentos.
    Em seguida, nós nos levantamos e rezamos em conjunto, em voz alta.
    Depois, quando acaba a oração, traz-se o pão, juntamente com o vinho e a água. Aquele que preside eleva aos céus as orações e as eucaristias tanto quanto possível, e todas as pessoas responde com a aclamação ‘amem’.
    Depois ocorrem a distribuição e a divisão das coisas consagradas para cada um e é enviada aos ausentes, pelo ministério dos diáconos, a parte que lhes cabe.
    Os abastados que desejam fazer doações doam livremente o que querem e o que é recolhido é entregue àquele que preside, o qual dá assistência aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos indigentes, aos prisioneiros, aos hóspedes estrangeiros.
    Nós nos reunimos no dia do sol porque esse é o primeiro dia, no qual Deus, tirando a matéria das trevas, criou o mundo, e no qual Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos.

    Posteriormente, explicando a Eucaristia, o mesmo Justino escreve:

    “Damos a esse alimento o nome de Eucaristia e ninguém pode participar dela sem que declare a verdade da nossa doutrina, sem que tenha sido recebido o banho da remissão dos pecados e da regeneração e sem que viva de acordo com os preceitos de Cristo. Pois nós não consideramos esse alimento um pão comum e uma bebida comum. Da mesma forma que, pela virtude do Verbo de Deus, Jesus Cristo, nosso Slavador, fez-se carne e sangue para nossa salvação, assim também o alimento consagrado pela oração formada das palavras de Cristo, e que deve nutrir nossa carne e nosso sangue, é a carne e o sangue do Verbo Encarnado.”

    Justino, Primeira Apologia, 66 e 67, Hemmer e Lejay, pp. 143-145

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    1. Sr. Padre, não vejo como esse trecho de São Justino possa justificar o Novus Ordo. Vale lembrar que o arqueologismo litúrgico fora condenado por Pio XII na Encíclica Mediator Dei. Outra coisa que me chama atenção são as traduções desse trecho, afinal de contas, qual a exata palavra usada por São Justino que foi traduzida para o termo ”presidir” como se encontra no texto? Essa citação me faz lembrar de alguns casos em que o arqueologismo foi usado para mudanças na liturgia, quais sejam, um trecho que alguns defensores da dita comunhão na ”mão” usam a partir de um suposto texto de São Cirilo de Jerusalém, que na verdade não foi escrito por ele mas sim por um padre ligado ao arianismo e também a famosa ”oração eucarística” de Santo Hipólito, onde vários trechos da oração original foram retirados e que no livro ”Memórias” de Louis Bouyer, fora revelado que ele, juntamente com o beneditino Bernard Botte, reescreveram esse texto em uma noite num restaurante de Roma.

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