É notória a contínua defesa da Liturgia Tradicional da Igreja Católica que o Arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo Núncio Apostólico nos Estados Unidos da América, tem vindo a fazer nas suas diversas intervenções. Com data de 2 de Janeiro, o Prelado escreveu um tocante testemunho sobre a Santa Missa tradicional e, em particular, acerca da graça que recebeu de redescobrir, cinco décadas depois da sua ordenação sacerdotal, este tesouro de Deus à Sua Igreja. O portal Dies Iræ divulga, em exclusivo para língua portuguesa, o escrito do Arcebispo Viganò.
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2 de Janeiro de 2022 Sanctissimi Nominis JESU
Vós, que vos permitis proibir a Missa Apostólica, alguma vez a celebrastes? Vós que, do alto das vossas cátedras de liturgia, pronunciais juízos perspicazes sobre a “Missa antiga”, alguma vez meditastes nas suas orações, nos seus ritos, nos seus gestos antigos e sagrados? Fiz-me esta pergunta várias vezes nos últimos anos: porque eu próprio, que conheço esta Missa desde criança; que, quando ainda usava calções, tinha aprendido a servi-la e a responder ao celebrante, quase a tinha esquecido e perdido. Introibo ad altare Dei. Ajoelhado nos gélidos degraus do altar, antes de ir para a escola, no Inverno. A suar debaixo da veste de acólito na canícula de certos dias de Verão. Tinha esquecido essa Missa, que foi também a da minha Ordenação a 24 de Março de 1968: uma época em que já se percebiam os sinais da revolução que, em breve, privaria a Igreja do seu tesouro mais precioso para impor um rito contrafeito. Continuar lendo →
FratresInUnum.com, 10 de janeiro de 2022. – “Domingo é dia de Missa”, quanto mais para os católicos, quanto mais para um… padre! Pois é! Com tantas comunidades carentes de sacerdotes em nosso país, a maior parte dos nossos padres celebra duas, três ou até quatro ou cinco missas, inclusive ao arrepio da lei canônica… O resultado é que, ao final de um domingo, os padres estão exaustos, pois se entregaram ao extremo para atenderem os seus fieis. Mas, para toda regra, há uma exceção.
Ao menos para o Revmo. Sr. Pe. Fábio de Melo, sacerdote de fama nacional, domingo não será um “dia de Missa” e ele não se dedicará a ajudar os seus irmãos sacerdotes naquele sublime socorro de que tanto os fieis necessitam. Ele acaba de ser contratado pela Rede Globo para integrar o quadro de jurados do “Domingão com Huck”. Porém, a notícia reportada no link apressa-se logo a acalmar os leitores: “Padre Fábio de Melo foi contratado pela Globo para reforçar o elenco do Domingão com Huck a partir de 2022. Mas calma, o religioso não irá evangilizar (sic!) os telespectadores do programa de Luciano Huck. Ele integrará o júri de um novo quadro que estreia neste domingo (9)”.
O quadro a que faz referência a reportagem é aquele em que duas pessoas mentem (sic!) acerca de sua profissão e outra diz a verdade e os jurados precisam descobrir quem é o profissional verdadeiro. Muito edificante!
Como se não bastasse o excesso de frivolidade, em sua estreia no programa, Pe. Fábio dividiu o palco com ninguém menos que Pablo Vittar, entre outros artistas, e chegou a dançar um hit do carnaval 2014 intitulado “Lepo lepo”. Analisemos a poesia do refrão da referida canção:
Eu não tenho carro Não tenho teto E se ficar comigo é porque gosta Do meu rá rá rá rá rá rá rá Lepo Lepo É tão gostoso quando eu Rá rá rá rá rá rá rá O Lepo Lepo
Deixando de lado questões mais técnicas como a profundidade da noção de amor subentendida na “canção” ou mesmo a destreza poética do autor – pensamos que uma análise estilística aqui seria algo, digamos, desnecessário –, detenhamo-nos apenas num dado que talvez seja de pouca importância para um… padre: a expressão lepo-lepo é uma onomatopeia que pretende imitar o som da cópula carnal; vulgo, do sexo.
Em outras palavras, o autor quisera exprimir algo tão metafisicamente profundo quanto “não tenho carro nem teto; se ela ‘ficar’ comigo é porque gosta do meu… gingado sexual”, palavras que, se não fossem claras do ponto de visto da poética da música, sê-lo-iam pela gesticulação que as acompanha: a imitação do movimento pélvico de uma conjunção sexual.
O mais pitoresco, para dizer o mínimo, em toda a cena é que, além de submeter-se a estar ali (o que, em si, já seria uma desonra); além de ser um dia de domingo (misericórdia!); além de dividir o palco com personalidades mais do que discutíveis; além de escutar a apresentação de uma música tão desqualificada; o padre ainda se sujeitou, mesmo que constrangido, a fazer a dancinha que acompanha este profano estribilho (literalmente, uma “dança do acasalamento”).
É tudo tão grotesco, tão surreal, que chega a ser difícil comentar.
O sacerdócio do Pe. Fábio de Melo é algo que pertence ao passado. Ele um dia descobriu a vocação, correspondeu, professou votos e foi ordenado, mas a vaidade artística devorou-o por completo e o “ser padre” já não lhe cai mais sequer como um ornato. Entre ele e o sacerdócio existe uma mútua exclusão, ambos se repelem como pólos opostos. O Evangelho deu lugar a um humanismo vago; a liturgia, ao palco; a modéstia sacerdotal, ao exibicionismo banal.
Ele precisaria urgentemente se converter, voltar-se a Deus de todo o coração, mas, a este ponto, a vaidade já obscureceu de tal modo a sua alma que já é quase impossível uma reconstrução genuína, a não ser por um milagre.
Oremos por isso, pois o espetáculo de ontem não será apenas um fato isolado. Agora, nas tardes de domingo, um padre totalmente secularizado estará nas televisões do Brasil não para celebrar Missa ou para evangelizar, mas para sujeitar-se ao mundo e terminar no… Lepo, lepo.