Et in medio nostri sit Christus Deus.

Por Padre Jerome Brow,  FratresInUnum.com, 7 de março de 2022: Quando João Paulo II erigiu a Administração Apostólica S. João Maria Vianney, houve duas cerimônias, a primeira na Catedral de Campos, RJ. Nela estava presente o representante do Papa, vários Bispos e padres vindos de diversos lugares do Brasil para presenciar o “momento histórico”.

Peregrinação da Fraternidade São Pio X a Roma para o Jubileu do ano 2000.
Peregrinação da Fraternidade São Pio X a Roma para o Jubileu do ano 2000.

Não era muito difícil conhecer os padres da Administração: batina, sobrepeliz, estola, tonsura…

No momento em que o então Pe. Fernando Guimarães, hoje Arcebispo Militar do Brasil, lia o decreto de criação da Administração, alguns padres se voltaram para os sacerdotes da administração e diziam-lhes: “Bem-vindos à Igreja!”

Essa cena me chocou.

Os conhecidos “padres de Campos” não eram católicos? “Bem-vindos”?

Se os “padres de Campos” não estavam na Igreja, onde estavam? Na carta dirigida ao Papa, os “padres de Campos” diziam que estavam “à margem” por não terem jurisdição, que foi o que a Administração concedeu-lhes, mas, jamais um “padre de Campos” (ao menos naquela época) diria que não tinha Fé, ou que não era Católico, o que seria a mesma coisa.

Os “padres de Campos” podiam não ter provisões, jurisdições, licenças, mas tinham a Fé Católica. E os fiéis também. Em um primeiro momento, para a recém-criada Administração nada tinha mudado.

Em seguida, o Rito Tradicional foi se tornando mais conhecido, menos estigmatizado. Muitos sacerdotes novos o aprendiam, os fiéis ligados de algum modo à Administração, nas regiões em que ela atuava, necessitavam de padres e alguns padres diocesanos receberam o “indulto” para dar assistência a esses fiéis até que veio o Motu Proprio Summorum Pontificum, de Bento XVI, que, ainda que de um modo imperfeito, afirmou claramente que o Rito de S. Pio V jamais tinha sido proibido ou ab-rogado.

Vários padres no mundo trouxeram a Missa tradicional para as suas paróquias, administravam os sacramentos no mesmo rito e faziam com que a Missa de Paulo VI se tornasse mais próxima o possível do que é a de S. Pio V. O que trouxe um grande fervor na vida espiritual de muitos fiéis, fervor que se manifestou na busca por conhecer mais não apenas a Santa Missa Tradicional, mas a própria Fé da Santa Igreja no sentido do que foi acreditado em todos os tempos, todos os lugares, por todos os fiéis.

Isso até Traditionis Custodes.

A iniquidade própria de Traditionis Custodes não está limitada às páginas do documento, nem nas imediatas e funestas aplicações cuja única justificação é que “são ordens”. Mas, há algo ainda pior que é o esfacelamento do mundo tradicional promovido desde dentro.

Traditionis Custodes fez com que o que era, ao menos em tese, comum à toda a Igreja, tornasse-se repentinamente uma permissão especialíssima para grupos muito precisos. Os sacerdotes dos Institutos Tradicionais, por exemplo, podem manter a Missa Tradicional, e o uso do Ritual e Pontifical.

Mas… e os sacerdotes diocesanos ou religiosos que não pertencem a esses institutos e que da noite para o dia perderam a Missa que alimentava a sua própria vida espiritual e a de muitos fiéis que não eram grupos oficiais de institutos oficiais? Na imensa maioria das dioceses, apenas um padre pode celebrar a Missa Tridentina, em um local distante e para um grupo de fiéis destinado a não crescer.

Mas, e os outros?

E os outros padres e fiéis?

Obedeçam.

Voltem penitentes ao Rito moderno! Caso contrário, exporão suas almas ao risco de uma eterna condenação (aquela que os modernistas não crêem, salvo para os tradicionalistas) ao assistir a Missa de qualquer padre que não tenha a permissão especialíssima do Bispo para celebrar o que, até 15 de julho do ano passado, era livre.

Mas, será que é isso mesmo?

Será que as Missas celebradas sem licença do Bispo, como requer o Motu Proprio são ilícitas? Será que cometem pecado mortal os fiéis que buscam os sacramentos por padres “não autorizados”?

Antes de tudo, é necessário voltarmos no tempo, à Bula Quo primum tempore do Papa S. Pio V, que afirma que jamais um sacerdote pode ser proibido de celebrar a Missa que o mesmo Papa canonizou como ato solene de seu magistério pontifício. Nesse sentido, Francisco vai diretamente contra o que S. Pio V ordenou solenemente.

Assim, os padres e fiéis ou ignoram a Quo primum tempore ou ignoram Traditionis Custodes.

E como poderia agora conduzir ao inferno (sendo a assistência dela um pecado mortal, para alguns que justificam os mais abomináveis pecados) a missa que conduziu ao céu tantos santos?

O problema é que neste momento os fiéis se encontram confusos, e colaboram nessa confusão muitos padres que celebram a missa tradicional de acordo com Traditionis Custodes anatematizando, sem ter autoridade, os padres e os fiéis que resistem, seja na Fraternidade S. Pio X (aquela que recebeu de Francisco faculdades que padre legalizados, sob Traditionis Custodes, não possuem) ou comunidades amigas, ou instituições semelhantes, seja por iniciativa pessoal, que certamente acabarão se unindo ao que já existe para garantir a continuidade que Traditionis Custodes quer destruir.

O que se esperaria de almas verdadeiramente sacerdotais é que compreendessem o que disse Nosso Senhor: “Quem não está contra nós, está a nosso favor!” E não que se apresentassem como, numa expressão bem simples, o último biscoito do pacote.

Em um filme sobre a vida de Padre Pio, em uma cena, o ator que o interpreta diz a seguinte frase: “É satanás que põe irmão contra irmão”.

Que Nossa Senhora una num só coração os padres, que cessem as rixas e divisões e que no meio deles esteja Cristo Deus.

7 comentários sobre “Et in medio nostri sit Christus Deus.

  1. “Mas… e os sacerdotes diocesanos ou religiosos que não pertencem a esses institutos e que da noite para o dia perderam a Missa que alimentava a sua própria vida espiritual e a de muitos fiéis que não eram grupos oficiais de institutos oficiais? Na imensa maioria das dioceses, apenas um padre pode celebrar a Missa Tridentina, em um local distante e para um grupo de fiéis destinado a não crescer.

    Mas, e os outros?

    E os outros padres e fiéis?”

    ——

    Há muito tempo estou querendo dar esta resposta.

    ——

    “Obedeçam”???

    Não. Façam o que os Bispos, Padres e fiéis da FSSPX e tradicionalistas de Campos fizeram, especialmente nos anos 1980. Assim, resolverão o seu problema.

    Ninguém é obrigado a ser tradicionalista ou progressista. Cada qual escolhe seu lado e sua orientação religiosa e moral, não se curvando às ordens satânicas de muitos que governam estruturas outrora católicas.

    Para quem tem medo, realmente o fardo ficará mais difícil…

    Att,

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  2. Texto divinamente inspirado. Esclarecedor, consolador e que nos leva a oração.
    Peço a Deus que o abençoe sempre e peço a Nossa Senhora que continue a aconselhar e orientar o senhor.
    Parabéns por essa publicação.

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  3. Enquanto Pachamama é entronizada na Igreja, a missa verdadeira é banida. Creio que considerar apenas isto já seja suficiente para discernir o que o católico deve fazer.

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    1. Seria uma benção para algumas pessoas, inclusive eu, se o senhor estivesse em João Pessoa/PB! Por aqui, uma petição que foi feita por fiéis à Arquidiocese não mudou nada.

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