Desde que o Santo Padre anunciou sua decisão de consagrar a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, como a Virgem havia solicitado nas aparições de Fátima, intensificaram-se os comentários questionando o alcance desse ato. Athanasius Schneider , bispo auxiliar de Astana e conhecido crítico da ‘renovação’ eclesial, confessa suas esperanças para esta cerimônia em uma entrevista com Diane Montagna em OnePeterFive.
Por Carlos Esteban, Infovaticana, 23 de março de 2022 – Tradução: FratresInUnum.com: “Vim pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados”, anunciou Nossa Senhora aos pastorinhos nas aparições de Fátima, em 13 de julho de 1917, segundo uma dos videntes, Lúcia. “Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e haverá paz. Caso contrário, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Finalmente, meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre me consagrará a Rússia, que se converterá, e algum tempo de paz será concedido ao mundo”.
As perguntas se acumulam: por que demorou tanto para cumprir as instruções da Virgem a partir de revelações aprovadas quando está nas mãos de qualquer Papa e suas consequências previstas são tão desejáveis? A consagração feita por São João Paulo II foi válida? Se sim, qual é o sentido de repeti-lo? E: será válido desta vez?
Em entrevista a Diane Montagna, Monsenhor Schneider explica que a própria vidente, Lúcia, que havia instado sem sucesso sucessivos pontífices a cumprir o desejo da Virgem expresso nas aparições, parecia se contradizer quanto à validade da consagração realizada por São João Paulo II em 1984, dizendo em uma ocasião que “nem todos os bispos participaram nem a Rússia foi explicitamente mencionada” e, posteriormente, “sim, foi aceito pelo céu”.
A razão pela qual a consagração da Rússia não foi realizada em todo esse tempo e que não foi explicitamente mencionada em 1984, lembra Schneider, tem a ver com razões diplomáticas, mas, quanto à sua validade, o bispo cazaque prefere falar em ‘graus de perfeição’ em relação ao cumprimento. Ou seja, o ato de consagração é benéfico mesmo que incompleto, podendo ser aperfeiçoado em uma cerimônia posterior.
Quanto às palavras de Lúcia, Schneider considera que “é legítimo conjecturar que, ao reavaliar o ato de João Paulo II em 1984, Irmã Lúcia se tenha deixado influenciar pelo clima de otimismo que se espalhou pelo mundo após a queda de o Império Soviético. Note-se que a Irmã Lúcia não usufruiu do carisma da infalibilidade na interpretação da sublime mensagem que recebeu. Cabe, pois, aos historiadores, teólogos e pastores da Igreja analisar a coerência destas declarações, recolhidas pelo Cardeal Bertone, com as declarações anteriores da própria Irmã Lúcia. No entanto, uma coisa é clara: os frutos da consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, anunciados por Nossa Senhora, estão longe de se concretizarem. Não há paz no mundo.”
Nesta ocasião, Schneider descarta a ideia de que a inclusão da Ucrânia na consagração contradiz a intenção da Virgem. “Dada a atual e dolorosa guerra na Ucrânia, é completamente compreensível que o Papa Francisco também mencione a Ucrânia”, diz Schneider. “Também deve-se ter em mente que, em julho de 1917, quando Nossa Senhora falou pela primeira vez sobre a consagração da Rússia, grande parte do território da atual Ucrânia pertencia ao Império Russo, que chamou certas regiões deste território «Pequena Ucrânia», «Rússia» e «Rússia do Sul». Se o Papa mencionasse apenas a Rússia hoje, uma grande parte do território (ou seja, a maior parte da Ucrânia de hoje), que Nossa Senhora tinha diante de seus olhos em julho de 1917, seria excluída da consagração”.
Por outro lado, o bispo desaconselha esperar resultados imediatos e espetaculares do ato. Embora seja feito exatamente, seguindo detalhadamente as instruções da Virgem, lembra Schneider, não é um sacramento, “cujo efeito se produz como consequência de uma celebração válida (ex opere operato). Um ato de consagração, teologicamente falando, é um sacramental, cujo efeito depende principalmente da oração de impetração da Igreja (ex opere operantis Ecclesiae).
“A teologia católica especifica que os sacramentais não produzem graça, mas preparam para ela. Um ato de consagração não tem efeito automático, imediato, espetacular ou sensacional. Deus, em sua soberana, sábia e misteriosa providência, reserva-se o direito de determinar o tempo e a maneira de realizar os efeitos de uma consagração. Fazemos bem em ter presente as palavras de Nosso Senhor: “Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai reservou exclusivamente ao seu poder” (Act 1, 7). O modo como a Divina Providência orienta a história da salvação e a história da sua Igreja caracteriza-se habitualmente por um crescimento orgânico e gradual. Nossa tarefa é fazer o que a Mãe de Deus disse; o resto corresponde à Providência: determinar segundo tempos e formas o que ainda não conhecemos.
Dom Schneider é um bispo de fé admirável e exemplar. Que Deus nos mande muitos e novos bispos desse calibre!
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Com todo o respeito a Dom Athanasius, penso que ele infelizmente está equivocado, talvez por otimismo dadas as circunstâncias trágicas da guerra, talvez por conveniência política. Mas o fato é que as argumentações dele não se sustentam, nem pela interpretação lógica, nem sistemática, nem teleológica.
Se naqueles tempos passados a Ucrania integrou a Russia, isso ocorreu porque a pobre Ucrania sempre foi país escravo de alguma potência até 1992. Portanto os erros continuam a ser, sempre foram, da Russia.
Nossa Senhora foi didaticamente clara e objetiva quando explicitou que a Russia devia ser consagrada POR CAUSA de seus erros, que se espalhariam pelo mundo. A atual consagração em nada coincide com esse Santíssimo Apelo. Nada.
A atual consagração resume-se a um apelo pelo fim da guerra da Russia contra a Ucrania. Além disso, existem apenas lacrações politicamente corretas sem nenhuma menção ao sagrado.
Bem verdade que a piedade de Nossa Mãe é imensa, e quem sabe ela se apiede e interceda junto ao Pai Todo Poderoso.
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Prezado Fernando, Salve Maria.
Tenho a edição portuguesa completa de todos os manuscritos da Irmã Lucia, que incluem todas as suas referências à consagração. Pode, por caridade, informar aos leitores deste site onde precisamente a vidente afirma: a) qual deveria ser o texto completo exato da consagração, contendo a única motivação aceitável, “os erros da Russia” e b) que o Santo Padre não poderia consagrar nenhum outro país?
Pois, na edição que possuo (Porto, 1973), as instruções para a consagração aparecem em duas cartas diferentes da Irmã Lucia a Pio XII. A primeira, de 24/10/40, nunca chegou a ser enviada. A segunda, de 02/12/40, seguiu para Roma depois de retocada pelo Bispo de Leiria.
Em *ambas* as cartas (pags.433 e 437), a Irmã Lúcia diz, textualmente, “…se Vossa Santidade se digna consagrar *o Mundo* ao Imaculado Coração de Maria, com *menção especial* da Russia…”. E a Irmã afirma que o objetivo é “abreviar os dias de tribulações com que pretende punir o mundo se seus crimes, por meio da guerra, da fome” etc.
(As ênfases, naturalmente, são minhas).
Até onde vejo, a consagração de hoje, à parte os acréscimos ao gosto do Papa Francisco, foi planejada tendo o pedido da Irmã Lucia diante dos olhos. Deus seja louvado!
Doce coração de Maria, sede a nossa salvação.
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Concordo com o post do sr. Fernando, temo que essa consagração foi apenas um gesto pra ajudar o globalismo ocidental à tirar proveito político da situação.
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Prezado Henrique. Ao contrário do sr não possuo os manuscritos e não os li. Entretanto, o teor deles é notório e as fontes são abundantes. Posto aqui um apenas um link, a título de exemplo.
“Virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se os meus pedidos forem ouvidos, a Rússia se converterá e haverá paz; se não, ela irá espalhar os seus erros pelo mundo, causando guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados; o Santo Padre vai ter muito que sofrer; várias nações serão destruídas. No fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre vai consagrar a Rússia a mim e ela se converterá, e um período de paz será concedido ao mundo”.
https://pt.aleteia.org/2018/05/09/fatima-afinal-a-russia-foi-ou-nao-foi-consagrada-ao-imaculado-coracao-de-maria/
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Sim, esse é um trecho da Terceira Memória, que a Irmã Lúcia escreve a propósito da vida de Jacinta e onde menciona o pedido de Nossa Senhora de passagem, ao falar do Segredo.
A carta que escreveu a Pio XII – não uma, mas duas vezes – contém as instruções mais detalhadas que Nossa Senhora dá ao próprio Santo Padre, não só no dia da revelação do Segredo como em aparições posteriores. E nelas fala-se na consagração do Mundo com menção especial da Rússia.
Cuidado com fontes numerosas leram pouco e mal os originais, e com isso estão criando condições que não existem…
O que Nossa Senhora pediu por meio da Irmã Lúcia está feito. Agora é confiar, rezar e fazer penitência.
Doce coração de Maria, sede a nossa salvação.
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É curioso que repentinamente as pesssoas tenham voltado a falar de ‘erros da Rússia’, como se esses se resumissem a guerras e violências (algo que sempre existiu no mundo).
Na verdade os erros da Rússia a que Nossa Senhora aludia eram a adoção do marxismo, a abolição do casamento, o aborto, o ateísmo, o roubo de propriedade, o materialismo.
E isso meus caros, já está muito mais enraizado em outros países do que na Rússia.
Na minha humilde opinião, o que a Rússia tinha de errado para espalhar, já espalhou.
Essa guerra agora não tem mais nada a ver com o ‘espalhamento de erros’ que Nossa Senhora falou, e portanto essa consagração não tem mais a importância que deveria ter.
Atualmente há outras nações muito piores do que a Rússia pagando de santinhas.
O próprio Vaticano atualmente espalha muito mais erros pelo mundo do que a mofada Rússia.
Deixemos de ilusões.
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“O próprio Vaticano atualmente espalha muito mais erros pelo mundo do que a mofada Rússia.”
Questão de ponto de vista.
Que tal ver o fato de que as advertências de Nossa Senhora incluem os erros da Rússia dentro da própria Igreja?
Quanto à guerra, é fato. Trata-se de uma guerra civil de “baianos” contra “brasileiros”, mutatis mutandis.
Uma consagração tardia e inócua a menos que o poder divino interfira diante de tantas novas preces.
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