Coluna do Padre Élcio: “A Bondade e Misericórdia do Coração de Jesus”.

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Quantos assuntos de meditação nos oferece o Santo Evangelho de hoje: A Bondade e Misericórdia do Coração de Jesus, a paz, a fé, o Sacramento da Penitência!

Com a graça de Deus vamos falar sobre a Misericórdia. Como são assuntos que se entrelaçam, falaremos  de passagem também sobre os demais.

Caríssimos, a Misericórdia divina é infinita. Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e tenha a vida eterna. Deus espera com paciência o pecador; vai a procura dele com toda solicitude; e recebe com toda alegria o pecador arrependido.  Os Apóstolos estavam sem paz: haviam pecado, abandonado o Mestre, estavam fechados numa casa com medo dos judeus. Jesus ressuscitado lhes aparece. Suas primeiras palavras não foram de repreensão, foram de paz: A paz esteja convosco! Como Jesus é bom!. A paz é um dom tão precioso que sobrepuja todo entendimento humano. Jesus quer que seus discípulos tenham a paz e dá a eles o poder de transmiti-la a todos os pecadores arrependidos: dá-lhes o poder de perdoar os pecados. É o tribunal da misericórdia em que o próprio réu se acusa, mas para ser perdoado. Caríssimos, é o sangue de Jesus Cristo que banha e lava a nossa alma. Não vemos, mas tenhamos fé: “A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados”. Façamos um profundo ato de fé: Deus ama-nos com amor infinito, distinto, imutável, se não me afasto d’Ele por um ato consciente de minha livre vontade, como infelizmente fez Judas Iscariotes. Este infeliz apóstolo até se arrependeu, mas não confiou na bondade do Coração de Jesus.

Ensina a fé que Deus é misericórdia e que por esse motivo se inclina com tanto mais amor para nós quanto mais reconhecermos as nossas misérias: porque a miséria atrai a misericórdia. Invocá-Lo com confiança, é afinal honrá-Lo, é proclamar que Ele é a fonte de todos os bens e nada tanto deseja como conceder-no-los. É por isso que na Sagrada Escritura nos declara vezes sem conta que defere as súplicas dos que esperam n’Ele: “Porque esperou em mim, livrá-lo-ei; protegê-lo-ei, porque conheceu o meu nome” (Sl. XC, 14). Nosso Senhor Jesus Cristo convida-nos a orar com confiança; e, para inculcar esta disposição, recorre não somente às exortações mais insistentes, mas ainda às parábolas mais comovedoras. Ele possui o mais perfeito coração humano, o mais terno, o mais amante, o mais desejoso de praticar o bem, o mais sensível ao esquecimento e à ingratidão. Quando Jesus Cristo pode encontrar uma alma completamente confiante n’Ele e convencida de sua própria miséria, não há maravilhas que não opere nela.

Quando o sentimento de nossas misérias nos inquietar, meditemos estas palavras de São Vicente de Paulo: “Representais-me as vossas misérias. E quem não se encontra, infelizmente, cheio delas? Tudo está em as conhecer e amar a abjeção que as acompanha, como vós fazeis, sem se deter mais que para nelas estabelecer o fundamento bem firme duma grande confiança em Deus; porque então o edifício levanta-se sobre rocha, de sorte que, ao rugir a tempestade, fica imóvel”.  Na verdade, as nossas misérias atraem, efetivamente, a misericórdia divina, quando a invocamos com humildade, e não fazem senão pôr-nos na melhor disposição para recebermos as graças divinas. São Vicente acrescentava que, quando Deus começou a fazer bem a uma criatura, não cessa de lho continuar a fazer até o fim, se ela se não torna excessivamente indigna dele. Assim, as misericórdias passadas são penhor das futuras.

Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro; pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. Meu Jesus, misericórdia! Jesus, eu confio em Vós! Amém!

Coluna do Padre Élcio: Surrexit, alleluia! Ressuscitou, aleluia!

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Uma Feliz e Santa Páscoa a todos!

Pelas três horas da tarde, na sexta-feira Santa, estando tudo consumado, inclinando a cabeça Jesus rendeu o espírito. Suspenso entre o céu e a terra Jesus estava realmente morto. A obra ímpia dos filhos das trevas estava consumada. O Salvador do mundo tinha exalado o último suspiro. Seu corpo, descido da cruz, tinha sido colocado num sepulcro. Os fariseus triunfavam. Viram a seus pés o cadáver ensanguentado e inânime de Jesus a quem tanto odiavam. Nos arraiais dos escribas e fariseus a alegria era geral, embora mesclada de um certo temor. Pois Jesus tinha ressuscitado o jovem de Naim, a filha de Jairo e Lázaro. E isso agora pouco importaria se Jesus não tivesse também predito sua própria ressurreição: “Ao terceiro dia o Filho do Homem ressurgirá”. Sua desconfiança, portanto, não era de todo infundada. Impunha-se máxima cautela.

Antes prevenir que remediar. Cuidadosos, fariseus e escribas puseram guardas em redor do túmulo. Selaram a tampa com o selo da nação. Deixaram ordens severas ao pelotão dos soldados. Retiraram-se satisfeitos.

Vede homens cegos e insensatos, quereis ligar o Verbo Eterno. Credes selar para todo sempre nas entranhas da terra a Religião de Cristo!?

Três dias depois, era de madrugada. As estrelas iam desmaiando uma após outra na cúpula celeste. Meigos clarões de uma linda aurora purpurizavam as nuvens. Os passarinhos começavam a pipilar nos arbustos. O sol não tardaria a dourar os píncaros do Calvário.

E eis que a terra treme, a pedra sepulcral é retirada, os guardas caem por terra como mortos. Jesus Cristo sai glorioso do túmulo. Surrexit! Ressuscitou! Sua alma pelo poder da divindade unira-se de novo ao  corpo, o qual se levanta majestoso, saindo triunfante do sepulcro. Surrexit! Alleluia! Ressuscitou! Aleluia! Que palavra!!! meus irmãos!!! Vinte séculos são passados que ela se fez ouvir pela primeira vez sobre um túmulo vazio. Um anjo a disse a algumas mulheres, estas a alguns discípulos e estes a toda Jerusalém. De Jerusalém ela passou pelas nações e percorreu rapidamente a terra inteira. E sob a ação desta palavra tudo se muda: o velho mundo desmorona-se, os velhos costumes caem-se, um mundo novo se eleva, novos costumes florescem. A humanidade regenerada sente um sangue novo circular em suas veias.

 Surrexit! Ressuscitou! E depois, cada ano, num dia marcado a Igreja repete esta palavra. Ela a canta em seus cânticos. Ela a diz em suas orações. Ela a proclama em seus ensinamentos. Ela a lança com entusiasmo nas abóbodas de seus templos. E os ecos sagrados, a voz dos fiéis e os instrumentos religiosos a repetem: Surrexit! Ressuscitou! Alleluia, Alleluia! A esta palavra o gozo renasce em todos os corações, a felicidade se pinta em todos os olhares, o luto da Santa Quaresma desaparece. Os altares se cobrem de flores, os sacerdotes entoam novamente seus cânticos de alegria. Alleluia! Repicam os sinos nos céus de primavera em cada ângulo do mundo, sob todas as latitudes!!!

Mas, caríssimos e amados irmãos, por que este gozo universal? É porque a Ressurreição de Jesus Cristo é a pedra angular do Cristianismo. Jesus ressuscitou! Tudo está aí contido: Dogma, Culto, Moral. Se Jesus Cristo ressuscitou, nossa fé é certa, nossa esperança é segura, nossa Religião é divina.

Mas não é este o único motivo de nossa alegria e extraordinário júbilo neste santo dia: A Ressurreição de Jesus Cristo é também o penhor e ao mesmo tempo o modelo de nossa ressurreição futura. E este pensamento leva ao auge a nossa felicidade. Jesus Cristo ressuscitou, logo nós ressuscitaremos também e nas mesmas condições e com a mesma glória, é claro, segundo nossa medida limitada de  puras criaturas. Assim, que a nossa carne se desfaça no pó do qual veio, nós não nos inquietaremos. Um dia ela se elevará deste mesmo pó cheia de vida e gloriosa. O próprio Jesus garantiu que os justos brilharão como o sol.

Jesus Cristo pôde ressuscitar a Si mesmo, Ele poderá ressuscitar também a nós. Nenhuma voz mortal, nenhuma voz divina, nenhum profeta, anjo algum Lhe disse: Levantai-Vos. Nenhuma mão estranha desligou as faixas que prendiam seu sudário. Só, no silêncio da noite rompeu as portas da morte, sozinho a abateu e venceu. Ora, o que Ele pôde para Si, não poderá para nós? Nossa carne não é porventura da mesma natureza que a Sua? Nosso corpo não é semelhante ao seu Corpo? Não disse Ele: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim e Eu nele; e Eu o ressuscitarei no último dia?

Depois, Jesus mesmo prometeu: ” Eu sou a Ressurreição e a Vida. O que crê em mim, ainda mesmo que tenha morrido, viverá e todo homem que vive e crê em mim não morrerá para sempre”.

São Paulo exclama: “Si compatimur ut et conglorificemur”. Se sofremos com Cristo para que com Ele sejamos igualmente glorificados”. Jesus Cristo é a nossa Cabeça e nós somos seus membros. Nossas mãos como as de Jesus devem distribuir benefícios sobre os homens; nossos pés, a exemplo dos Seus, devem correr a procura de nossos irmãos que se extraviaram. Nosso corpo todo inteiro como nossa alma deve se entregar às obras de piedade e de misericórdia. Pois bem, este corpo assim oferecido em vítima para a glória de Deus e ao bem das almas, estas mãos que tantas vezes depositaram o bálsamo nas chagas dos feridos, estes pés que levaram a consolação e a esperança nos tugúrios dos pobres e dos infelizes; estes pés tão belos que levaram o Evangelho às nações bárbaras; estes pés e estas mãos, este corpo, serão então para sempre cinza e pó e, depois de ter participado dos trabalhos do Corpo Mistico de Jesus Cristo, eles também não participarão da Sua glória?

Tanto no pensamento do grande Apóstolo como no pensamento de todos os cristãos, o dogma de nossa ressurreição futura está estreitamente ligado ao dogma da Ressurreição de Jesus Cristo. Um é a consequência rigorosa, necessária do outro.

Mas a Ressurreição de Jesus Cristo não é somente o penhor de nossa ressurreição. Ela é também o modelo da nossa.

Jesus sai do túmulo, inteiramente outro. Sai com seu corpo revestido com todos os dotes de um corpo glorioso. Não mais sujeito à dor, à enfermidade, à morte. Seu corpo ressuscitado é ligeiro como o espírito, penetrável, entrará no Cenáculo estando as portas fechadas. Todo ele revestido de glória e resplendente de luz, deslumbrará seus discípulos por aparições inesperadas. Ora, caríssimos irmãos, todas estas qualidades constituirão os dotes dos nossos corpos ressuscitados. Não haverá mais lugar para a morte. Esta foi tragada na vitória de Cristo. Nossos corpos terão por abrigo as abóbodas celestes, por vestes a luz deslumbrante do paraíso; por alimento, a eterna vista e eterna posse de Deus.

Alleluia! Alleluia! Regozija-te, portanto, ó minha carne no dia da Ressurreição de Jesus! Este dia é o anúncio de tua regeneração e de teu triunfo. Este dia é verdadeiramente o dia que fez o Senhor. Nossa alma está na alegria, nosso corpo cheio de esperança!

Não! Não! a separação de minha alma e de meu corpo não será eterna. Estes dois seres, tão longo tempo e tão estreitamente unidos se reunirão um dia. Quando a alma se separar com tanta pena do corpo que ela anima, o adeus que ela lhe diz não é um adeus sem esperança. Eles se tornarão a ver, se reencontrarão um dia. Ao som de trombeta angélica a alma acorrerá sobre este túmulo onde repousa seu mortal invólucro. Ela chamará seu companheiro bem amado; e a esta voz conhecida, o corpo se levantará do pó e se unirá em fraternais amplexos a alma, sua cara companheira.

Eis, caríssimos irmãos, o que a solenidade deste dia nos anuncia. Jesus Cristo saindo radioso do túmulo nos diz: Vede-Me. O que Eu sou, vós sereis um dia. Aleluia! Aleluia!

Uma mãe, a quem havia pouco, tinham morrido dois filhos, ouviu falar do juízo final e da ressurreição da carne.  – “Portanto – dizia ela extasiada – meus dois filhos eu os verei ainda, ainda poderei acariciá-los. Ver-lhes-ei os seus rostos, beijá-los-ei ainda; porém, não mais chorando, como os beijei, frios, frios, antes de os recompor no caixão. Mas quando será? “Quando as trombetas dos anjos soarem a hora do juízo final!”

E quase impaciente por tornar a ver seus filhos, aquela mãe disse: “E por que não é amanhã este dia?”

Caríssimos irmãos! Quem é que não chora algum parente defunto! Talvez sua mãe, talvez um irmão, talvez o esposo? Quantas vezes não vos assaltou um desejo veemente de lhes rever as feições, de olhar nos olhos tristes, de tornar a ouvir-lhes a voz qual a ouvíamos em horas felizes?

Pois bem! O mistério da Páscoa dá-nos um grande consolo. Revê-lo-emos, tornaremos a ver não só os seus espíritos mas também os seus corpos gloriosos; revê-lo-emos como os havemos conhecido e amado na terra.

Os santos sorriam na hora da morte. E tinham razão. Para o cristão que procura imitar a Cristo, a morte não passa de uma breve separação entre a alma e o corpo. É a alma que saúda seu corpo: Até breve irmão, combatemos juntos, estás cansado, deixo-te repousar. Depois de teu breve sono, ao soar da trombeta angélica, voltarei para te retomar, mas para gozares sempre, sem mais te cansares.

Ressurgiremos! Este é o grito de Jó: “Sei que o meu Redentor vive. Mas também sei que no último dia eu também ressurgirei para O ver com estes meus olhos!”

Preparemo-nos, caríssimos irmãos, para a gloriosa ressurreição dos corpos, ressurgindo do pecado e da tibieza.

Se caímos em algum pecado, comecemos tudo de novo. Confessemo-lo arrependidos.

O rei Felipe II de Espanha velou uma noite inteira para escrever ao Papa uma carta de suma importância. Quando acabou, distraído pela fadiga e pelo sono, em vez de derramar nela a areia para enxugar; derramou a tinta. Felipe II empalideceu, mas depois recolhendo a sua coragem disse: “Comecemos de novo”.

Oh! Se na nossa vida tem havido momentos de sono e distração em que havemos derramado a tinta dos pecados na nossa alma, hoje que é Páscoa, é justamente o momento oportuno de dizermos: Comecemos de novo! Amém! Assim seja!

Coluna do Padre Élcio: A multiplicação dos pães é figura do milagre eucarístico

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA

João VI, 1-15

A multiplicação dos pães é figura do milagre eucarístico

“Naquele tempo, passou Jesus à outra margem do mar da Galileia, que é o de Tiberíades, seguindo-O grande multidão, porque via as maravilhas que ele fazia aos que estavam enfermos. Subiu, então, Jesus ao lado de seus discípulos. Ora, estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo Jesus os olhos e vendo que uma grande multidão vinha a Ele, disse a Felipe: Onde compraremos pães para dar de comer a toda essa gente? Dizia isso, porém, para o experimentar, porque Ele bem sabia o que havia de fazer. Respondeu-Lhe Felipe: Duzentos dinheiros de pão não bastariam para que cada um deles recebesse uma pequena porção.

Disse a Jesus um de seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: está aqui um moço que tem cinco pães e dois peixes, mas que é isto para tanta gente? Disse-lhe Jesus: fazei assentar os homens. Havia no lugar muita relva. Assentaram-se, pois, os homens, em número de quase cinco mil. Tomou, então, Jesus os pães, e havendo dado graças, distribuiu-os aos que estavam sentados; e igualmente distribuiu os peixes, quanto eles quiseram. Quando já estavam fartos, disse Ele a seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que se não percam. Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que comeram. Vendo, então, aqueles homens o milagre que Jesus fizera, diziam: Este é verdadeiramente o Profeta que deve vir ao mundo. Mas Jesus sabendo que o viriam buscar à força, para O fazerem rei, fugiu de novo sozinho para um monte”.

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

O quarto domingo da Quaresma é chamado o domingo “Laetare”, porque a Santa Missa de hoje inicia-se com esta palavra que significa “Alegra-te”. A Santa Igreja, como o faz no Advento (3º domingo), interrompe também na Quaresma a sua penitência. Demonstra alegria, pelo toque do órgão, pelo enfeite dos altares e pelo róseo dos paramentos. (Este róseo é para indicar que este domingo é chamado também “dia das rosas”; nele os cristãos se presenteavam mutuamente com rosas). Aliás, toda a Missa de hoje respira alegria e júbilo. E por que assim? Porque antigamente faziam os catecúmenos, neste dia, um juramento solene e eram recebidos no seio da Igreja, representada pela igreja da “Santa Cruz de Jerusalém” em Roma, onde o Papa celebrava a Missa.

Mãe dedicada e amorosa, alegra-se a Santa Igreja, ao receber os que serão lavados nas águas batismais (Introito, Epístola). E não menos se alegram os próprios catecúmenos (Gradual, Ofertório e Communio). A maravilhosa multiplicação dos pães, que se repete na santa Missa, nos garante a todos nós, a glória futura. Louvemos e agradecemos a bondade de Deus (Ofertório).

Este o significado da Liturgia deste 4º Domingo da Quaresma. Vejamos, agora, brevemente, a explicação do Santo Evangelho de hoje:

Este milagre é a figura do milagre eucarístico. São João observa que “Estava próxima a Páscoa”. Assim, em sua ternura maternal, a Santa Igreja oferece hoje este Evangelho à nossa meditação, para nos preparar para a comunhão pascal. Convinha pôr diante dos olhos dos discípulos uma imagem da Páscoa cristã, em que o Cordeiro de Deus imolado seria comido sob a aparência  do pão. Com efeito, dentro de pouco tempo a Igreja será espalhada por toda a terra, dividida em diversos grupos, cada um debaixo da direção de seu Pastor, de quem receberá o pão celestial; e este alimento vivo e vivificante nunca se acabará.

 

As circunstâncias que antecedem, acompanham e seguem o milagre da multiplicação dos pães, significam as disposições que devemos ter antes, durante e depois da Santa Comunhão:

A – Circunstâncias que precedem o milagre:

  1. Este povo testemunha a sua fé seguindo a Jesus, vindo procurá-Lo de tão longe e com tantas fatigas. – Devemos também testemunhar a Jesus esta boa vontade, esta fé, este amor.
  2. O povo encontra Jesus no deserto e aí recebe os benefícios de Jesus. – Igualmente, para merecer participar do banquete da Eucaristia, é mister dar à nossa alma um pouco de retiro, afastar por um tempo toda preocupação temporal, todo divertimento e distrações humanas. “Deus não está na agitação”.
  3. Jesus prepara as multidões para o milagre, instruindo-as e falando-lhes sobre o reino dos céus. – O mesmo faz a Santa Igreja. Durante a Quaresma há mais pregações e ela convida seus filhos a assistirem mais assiduamente à palavra de Deus.
  4. Jesus cura aqueles que têm alguma doença e os cura antes de lhes dar de comer. – É a figura do Sacramento da Penitência, que deve ordinariamente, preceder à santa comunhão.
  5. Vemos a obediência e a confiança absoluta deste povo: sob a ordem de Jesus todos se assentam sobre a relva, por grupos, e aguardam sua vez…. – Aqui há um duplo ensinamento: – a) Se assentar sobre as relvas, segundo os Santos Padres, significa que é preciso calcar aos pés todas as concupiscências da carne, renunciar aos seus maus hábitos… – b) Depois, cada um deve se aproximar da mesa da comunhão segundo a ordem estabelecida, com decoro e modéstia, deve se ajoelhar, colocar as mãos postas e receber na boca a Santa Hóstia.

B – As circunstâncias do milagre e o milagre mesmo:

  1. Vemos a bondade e atenção do coração misericordioso de Jesus. Tem compaixão das multidões, que são como ovelhas sem pastor, e que vieram de longe para procurá-Lo e escutá-Lo. –  Tendo amado os seus que estavam no deserto deste mundo, amou-os até ao fim, até ao extremo. Diz o Salmo 110: “O Senhor instituiu um memorial de suas maravilhas, Ele que é misericordioso e compassivo, deu alimento aos que o temem”.
  2. Jesus faz trazer os pães, toma-os em suas benditas mãos, eleva os olhos aos Céus, dá graças a seu Pai, depois benze estes pães e os distribui ao povo… e à medida que são distribuídos eles se multiplicam de uma maneira maravilhosa. – Caríssimos, tudo isto figura o que vai se passar depois no Cenáculo, quando, na última Ceia, Jesus vai instituir a Eucaristia. E o mesmo acontece cada dia no mundo todo, sobre os altares, onde Nosso Senhor renova esta maravilha inefável, mudando o pão em seu Corpo e o fazendo distribuir, pelas mãos de seus sacerdotes.
  3. Todos comeram e se saciaram e ficaram fortificados. – Felizes os cristãos que têm fome da graça, do Corpo sagrado do Salvador!…Aqueles que se aproximam da mesa sagrada com humildade, fé e amor, serão também saciados, fortalecidos e repletos de consolações celestes. Não temos nós enfermidades e fraquezas no deserto desta vida? E não é o pão celestial que recebemos, incomparavelmente superior àquele que fartou o povo judeu? Quantos milagres não encerra? quantos mistérios não resume? De quantas graças não é a fonte? – Todos foram fartos, e fortificados. Eis o efeito do pão eucarístico, quando se come com boa disposição, farta; não se buscam os prazeres da terra, quando já se gozou dos do Céu; conforta, e é neste sentido que se chama o pão dos fortes.

C – Circunstâncias que se seguem ao milagre:

  1. Em seguida Jesus disse aos seus discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram”. – Isto indica que é aos Apóstolos e aos sacerdotes que Jesus incumbiu esta missão de conservar como o maior tesouro sobre a terra, a divina Eucaristia, e de levá-la aos doentes. E, quanto aos fiéis, devem conservar religiosamente os frutos e as graças da comunhão, tendo todo o cuidado para não os perder.
  2. Este povo demonstra sua gratidão, exalta a Jesus e reconhece-O como o Messias. – Isto faz a gente pensar como devem ser nossas ações de graças depois da santa Comunhão.
  3. O povo quer proclamar Jesus Rei. – Depois da Comunhão, lancemo-nos aos pés de Jesus, dando-nos a Ele inteiramente, reconhecendo-O por nosso Mestre e o Rei dos nossos corações!

Caríssimos e amados irmãos! Meditai todos estes pensamentos; examinai-vos sobre vossas comunhões… e prometei a Jesus fazer doravante, todos os esforços para O receber mais frequentemente, e sobretudo com mais devoção e fruto, afim de não viver senão para Ele, aguardando a felicidade de possuí-Lo eternamente na Jerusalém Celeste!

Amém

IMPORTANTE: Entrevista do Bispo Athanasius Schneider ao Rorate Caeli sobre “Profissão das Verdades Imutáveis”, comunhão para “divorciados e recasados”

Dom Athanasius Schneider – auImage result for athanasius schneider bishopxiliar de Astana, no Cazaquistão, e um dos três redatores originais da Profissão das Verdades Imutáveis dessa semana em resposta a Amoris Laetitia e da aprovação oficial do papa Francisco concedendo a Sagrada Comunhão a alguns católicos “divorciados e recasados”,  participou de uma entrevista ao Rorate Caeli após o lançamento do documento.

RORATE CAELI (RC): Sua Excelência esteve pessoalmente à frente da restauração da liturgia tradicional por muitos anos. Agora, Sua Excelência, o Arcebispo Peta e o Arcebispo Lenga se viram obrigados a vir a público em defesa do sacramento do matrimônio após a divulgação de Amoris Laetitia. Por que três de vocês decidiram que agora era o momento de responder?

BISPO ATHANASIUS SCHNEIDER (BAS): Após a publicação de Amoris Laetitia, vários bispos e conferências episcopais começaram a emitir normas “pastorais” sobre os chamados “divorciados e casados novamente”. É preciso que se diga que, para um Católico não existe divórcio porque o vínculo sacramental válido de um casamento ratificado e consumado é absolutamente indissolúvel e até mesmo o vínculo de um casamento natural é por si mesmo indissolúvel. Além do mais, para um católico, há apenas um casamento válido enquanto o cônjuge legítimo ainda está vivo. Portanto não se pode falar em “recasamento” nesse caso.

A expressão “divorciado e casado novamente” é consequentemente enganosa e enganadora. Uma vez que esta expressão é a mais comumente conhecida, preferimos usá-la apenas entre aspas com a anterior observação “assim chamada”. As mencionadas normas pastorais em relação aos assim chamados “divorciados e recasados”,  normas essas mascaradas de uma retórica que beira o sofisma – preveem, em última instância, a admissão do “divorciado e recasado” à Sagrada Comunhão sem o requisito da condição indispensável e divinamente estabelecida para que eles não possam violar seu vínculo sagrado através do vínculo sexual habitual com uma pessoa que não é o legítimo cônjuge. Um certo climax foi atingido nesse processo de reconhecimento implícito do divórcio dentro da vida da Igreja quando o Papa Francisco ordenou publicar na Acta Apostolicae Sedis, sua carta de aprovação de normas similares que foram emitidas pelos bispos da Região Pastoral de Buenos Aires .

Este ato foi seguido pela declaração de que essa aprovação pertenceria ao autêntico Magistério da Igreja. Em vista de tais normas pastorais que contradizem a Divina Revelação na sua absoluta condenação do divórcio e contradiz também o ensino e a prática sacramental do infalível Magistério Ordinário e Universal da Igreja, fomos forçados pela nossa consciência, como sucessores dos Apóstolos, a elevar nossa voz e reiterar a doutrina e a prática imutáveis da Igreja quanto à indissolubilidade do casamento sacramental.

 

RC: A conferência to Cazaquistão lançou oficialmente uma interpretação de Amoris Laetitia? Eles planejam fazê-lo, ou isso significa que a conferência acredita que Amoris Laetitia não pode ser entendida de forma ortodoxa ou que é de alguma forma compatível com o Catecismo, com a Escritura e a Tradição?

BAS: O texto da “Profissão das verdades” não é um documento da Conferência Episcopal do Cazaquistão, mas apenas dos Bispos que a assinaram. Nossa Conferência Episcopal considerou não ser necessário emitir normas pastorais como uma interpretação da AL. Embora em nossa sociedade, a praga do divórcio está amplamente disseminada como consequência de 70 anos de materialismo comunista e nós também temos em nossas paróquias casos dos assim chamados “divorciados e recasados”,  esses mesmos “divorciados e casados novamente” não ousariam pedir para serem admitidos à Sagrada Comunhão, uma vez que o conhecimento e a consciência do pecado estão, graças a Deus, muito profundamente arraigadas em suas almas, mesmo vivendo numa sociedade civil.

Em nosso país, as pessoas cometem pecados como em qualquer outro lugar, mas nosso povo ainda acredita que o pecado é pecado e, portanto, para esses pecadores há esperança de conversão e de misericórdia divina. Seria então para o nosso povo – e até mesmo para os assim chamados “divorciados recasados” entre eles – uma espécie de blasfêmia exigir o acesso à Sagrada Comunhão enquanto continuam a coabitar com uma pessoa que não é o seu cônjuge legítimo. Portanto, nossa Conferência Episcopal não viu a necessidade de emitir normas relevantes.

 

RC: Nós tivemos a famosa dubia enviada ao Papa e uma correção filial – feita principalmente por leigos – enviada também. Nenhuma das duas obtiveram uma resposta. No entanto, muitos sentem que Francisco já respondeu em certo sentido, quando endossou oficialmente a instrução aparentemente herética dos bispos de Buenos Aires aos divorciados recasados que ainda permanecem coabitando. Será que deveríamos esperar mais alguma coisa de Francisco sobre esse assunto?

BAS: as instruções dos bispos de Buenos Aires não expressam diretamente uma heresia. No entanto, eles permitem, em casos individuais, receber a Santa Comunhão, apesar desses casais não terem intenção de parar com as relações sexuais com seus parceiros não conjugais. Nesse caso, as instruções pastorais negam na prática e, portanto, indiretamente, a verdade divinamente revelada da indissolubilidade do casamento. A triste circunstância é que o Papa aprovou tais instruções. Desta forma, o Papa deu, na minha opinião, uma resposta direta ao primeiro ponto e indiretamente aos quatro outros pontos da dubia. Só podemos esperar através de nossos apelos, orações e sacrifícios, que o Papa Francisco possa responder de modo inequívoco aos cinco pontos da dúbia de acordo com ensino relevante do Magistério infalível ordinário e universal.

 

RC: A ameaça para os fiéis foi clara, não só desde que Amoris Laetitia foi promulgada, mas pelas discussões em si emanadas dos sínodos. É inquestionável a confusão que foi causada. Todavia, assim como a utilidade da Humanae Vitae foi minada devido ao longo tempo que levou para ser publicada, será que não é tarde demais para sanar o dano, especialmente quando o próprio Papa acaba de dar oficialmente a permissão para alguns divorciados recasados receberem a Sagrada Comunhão?

BAS: Nós precisamos ter em mente que a Igreja não está nas nossas mãos, mas nas poderosas mãos de Cristo e assim não podemos dizer que é tarde demais para corrigir os danos. Também podemos aplicar a seguinte afirmação de São Paulo à nossa situação dentro da Igreja: “Onde o pecado abundou, a graça abundou ainda mais” (Romanos 5:20). Deus de alguma forma permitiu a atual confusão doutrinal e moral na Igreja com o objetivo de que após essa crise, a verdade triunfará de forma ainda mais brilhante e a Igreja se tornará espiritualmente mais bonita, especialmente através dos casais, das famílias e Papas.

 

RC: Ouvimos até agora, por mais de um ano , que uma correção formal proveniente dos cardeais era iminente, mas nada aconteceu. O que o senhor acredita que a está impedindo ?

BAS: diante do atual, temporal e parcial eclipse da função do Magistério Pontifício no que diz respeito concretamente à defesa e a aplicação prática da indissolubilidade do casamento, os membros dos colégios episcopais e cardinalício devem assistir o Papa neste ofício magisterial, através da pública profissão das verdades imutáveis contidas no magistério público e universal – o que significa o que todos os Papas e o inteiro episcopado durante todos os tempos – ensinaram no tocante à  doutrina e a prática sacramental do casamento.

 

RC: Se uma correção formal é feita por vários cardeais e Francisco continua a aprovar oficialmente as conferências dos bispos dando a Sagrada Comunhão a alguns divorciados e recasados, então como ficamos?

BAS: Existe o seguinte princípio da doutrina católica tradicional desde os primeiros séculos: “prima sedes a nemine iudicatur”, ou seja, a primeira cátedra episcopal na Igreja (a cátedra do Papa) não pode ser julgada por ninguém. Quando os Bispos recordam respeitosamente ao Papa as imutáveis verdades e disciplina da igreja, eles não julgam a primeira cadeira da Igreja, em vez disso se comportam como irmãos e irmãos do Papa. A atitude dos bispos em relação ao Papa deve ser colegial, fraterna, não servil e sempre sobrenaturalmente respeitosa, como enfatizou o Concílio Vaticano II (especialmente nos documentos Lumen gentium e Christus Dominus). Uma pessoa pode continuar a professar a imutável fé e rezar ainda mais pelo Papa e então, apenas Deus pode intervir e Ele o fará inquestionavelmente .

 

RC: Para o católico típico, que vai para a Igreja mas que não segue as políticas da Igreja, como fazem os leitores de Rorate, os católicos casuais que ouvem o Sumo Pontífice dizendo inúmeras coisas confusas durante os últimos anos, coisas que parecem contrárias (esperamos) a tudo o que lhes foi ensinado a vida inteira, o que a sua excelência diria a eles? E como os Católicos sérios podem rebater sempre que são perguntados pelos modernistas se eles se acham “mais católicos do que o Papa”?

BAS: Primeiramente, esses fiéis devem continuar a ler e estudar o Catecismo imutável, e especialmente os grandes documentos doutrinários da Igreja. Tais documentos são tema aqui, por exemplo, os Decretos do Concílio de Trento sobre os sacramentos; as encíclicas Pascendi de Pio X.; Casti connubii de Pio XI; Humani generis de Pio XII; Humanae vitae de Paul VI; o Credo do povo de Deus de Paulo VI; a encíclica Veritatis esplendor de João Paulo II; e sua Exortação Apostólica Familiaris consortio. Esses documentos não refletem um significado pessoal e de curta duração de um Papa ou de um sínodo pastoral. Em vez disso, esses documentos refletem e reproduzem o infalível Magistério Ordinário e Universal da Igreja.

Em segundo lugar eles devem ter em mente que o Papa não é o criador da verdade, da fé e da disciplina sacramental da Igreja. O Papa e todo o Magistério “não está acima da Palavra de Deus, mas apenas a seu serviço, ensinando apenas o que lhe foi transmitido ” (Concílio Vaticano II, Dei Verbum, 10). O Primeiro Concílio do Vaticano ensinou que o carisma do ministério dos sucessores de Pedro “não significa que eles devam tornar conhecida uma nova doutrina, mas que com a assistência do Espírito Santo devem religiosamente guardar e fielmente transmitir a revelação ou o depósito da Fé transmitida pelos Apóstolos. “(Pastor aeternus, cap. 4).

Em terceiro lugar, o Papa não pode ser o ponto focal da fé na vida diária do fiel Católico. O ponto focal deve ser Cristo. Caso contrário, nos tornamos vítimas de um insano papa-centrismo ou uma espécie de papolatria, uma tradição que é alheia à Tradição dos Apóstolos, aos Padres e à grande tradição da Igreja. O chamado “ultramontanismo” dos séculos XIX e XX atingiu seu pico em nossos dias criando um papa-centrismo e popolatria insanos. Para mencionar apenas um exemplo: houve em Roma lá pelo final do século 19 um famoso monsenhor que levava diferentes grupos de peregrinos para audiências papais. Antes de deixá-los entrar para ver e ouvir o Papa ele lhes dizia: “Ouçam atentamente as palavras infalíveis que sairão da boca do Vigário de Cristo”.  Certamente esta é uma caricatura do ministério Petrino contrária à doutrina da Igreja. No entanto, mesmo em nossos dias, não poucos católicos, sacerdotes e bispos mostram substancialmente a mesma atitude caricatural em relação ao sagrado ministério do sucessor de Pedro.

A verdadeira atitude em relação ao Papa de acordo com a tradição católica deve ser sempre com moderação sã, com inteligência, com lógica, com senso comum, com o espírito de fé e, claro, com devoção sincera. No entanto, tem que haver uma síntese equilibrada de todas essas características. Esperamos que, após a crise atual, a Igreja atinja uma atitude mais equilibrada e sã em relação à pessoa do Papa e ao seu sagrado e indispensável ministério na Igreja.

Coluna do Padre Élcio: Explicação do Evangelho do Primeiro Domingo depois da Epifania – Sagrada Família.

Lucas II, 42-52 (Para não me alongar demais, não transcrevo aqui o Evangelho).

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com

“Tendo Jesus completado doze anos, subiu com seus pais a Jerusalém etc.: Todos os homens deviam apresentar-se no Templo, três vezes por ano, isto é, por ocasião da Páscoa, de Pentecostes e da festa dos Tabernáculos. As mulheres, ainda que não fossem obrigadas pela Lei, costumavam ir ao Templo por devoção, ao menos pela festa da Páscoa. Os filhos começavam a ser obrigados na idade dos doze anos, época em que se tornavam “filhos da Lei”.

Assim, tendo atingido os doze anos, Jesus, para nos dar exemplo de submissão às prescrições divinas, foi a Jerusalém com seus pais. Enquanto Deus, Jesus não estava obrigado, mas submete-se com humildade, para edificação nossa, à observância da lei. Seguindo a vontade de Deus Pai, Jesus ia tornar célebre para sempre esta primeira Páscoa histórica da sua vida. Ia erguer uma ponta do véu que nos ocultava a sua sabedoria infinita e a sua divindade; ia, outrossim, santificar sua Mãe e S. José por uma provação de três dias; e finalmente, com sua obediência inefável e a sua vida de trabalho, ia pôr os fundamentos da sociedade e das famílias cristãs.

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Eis o que disse o Papa Leão XIII ao instituir a festa da Sagrada Família neste domingo (1º depois da Epifania): “Os pais de família têm em S. José um modelo admirável de vigilância e solicitude paterna; as mães podem admirar na Virgem Santíssima um exemplo insigne de amor, de respeito e de submissão; os filhos têm em Jesus, submisso a seus pais, um exemplo divino de obediência; os nobres aprenderão, olhando para esta família de sangue real, a moderação na prosperidade e a dignidade nas aflições; os ricos aprenderão a ter mais em conta as virtudes do que as riquezas; os operários e todos os que sofrem, devido à sua condição pobre, terão motivo e ocasião de alegrar-se pela sua sorte em vez de entristecer-se, porque têm de comum com a Sagrada Família as fadigas e os cuidados da vida cotidiana”.

Acabados os dias da festa, quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem etc. Geralmente os habitantes de um mesmo lugar iam em caravana composta de dois grupos: um de homens e outro de mulheres e quando saíam do Templo, faziam-no por duas portas diferentes. Os meninos podiam ir em um ou em outro. Por isto pôde acontecer que, ao saírem de Jerusalém, não notassem que Jesus não estava no meio da caravana de Nazaré. Mas, fazemos a mesma pergunta que sua Mãe Santíssima Lhe fez: Por que é que Jesus agiu desta maneira? É óbvio, Jesus procede assim, não por desobediência, mas para cumprir a vontade de seu Pai e cuidar dos seus interesses. Deus resolvera manifestar desde então seu Filho aos sacerdotes e doutores da lei. Queria, outrossim, ensinar-nos a renunciar à carne e ao sangue, a pôr de lado a afeição dos pais, apesar das dores do sacrifício recíproco, desde que se trate de obedecer a Deus e de consagrar-se ao seu serviço.

Podemos também indagar o porquê da aflição de Maria Santíssima: afinal ela sabia que seu Filho era Deus, infinitamente sábio e todo poderoso. Todavia, esta ausência súbita e inesperada era para ela um mistério, cujo verdadeiro motivo não podia penetrar. Caríssimos, admiremos este secreto e maravilhoso proceder de Deus com Maria e José. Aflige-os, não para os punir, porque não são culpados de qualquer falta, mas porque os ama. Era como se lhes dissesse ainda com mais verdade do que o Arcanjo Rafael disse a Tobias: “Porque eras aceito a Deus, por isso foi necessário que a tribulação te provasse”.

Quantas vezes, miseráveis pecadores como somos, perdemos a Jesus por nossa culpa, pelo pecado; ou então, por vezes, em castigo de alguma negligência ou infidelidade às graças, Jesus retira-se ou esconde-se.

E quantos não sentem dor por isso e não procuram a Jesus. E por que não nos humilhamos profundamente, e não redobramos de devoção e de fervor para procurar a Jesus? Ó Maria Santíssima aumentai em mim a amor ao vosso divino Filho!

E aconteceu que, depois de três dias, encontraram-No no Templo, sentado entre os doutores, ouvindo-os e interrogando-os etc. Comumente os discípulos ficavam sentados em esteiras aos pés dos doutores que ficavam orgulhosamente em seus tronos. Mas, provavelmente, estupefatos e maravilhados da sabedoria e das respostas daquele menino, os doutores deram-Lhe a honra de se assentar no meio deles. Jesus, que é a fonte de toda a ciência, de toda a luz, assim nos ensina a humildade e a modéstia como diz S. Gregório: “O Menino Jesus é encontrado entre os doutores não ensinando”. Interrogava também aos doutores, parecendo querer instruir-se a si mesmo, e também para nos ensinar a consultar a Igreja. S. Lucas não diz qual foi o assunto ali tratado. Mas declarará a sua Mãe que deve empregar-se nos negócios de seu Pai. Certamente falava do Messias, da época da sua vinda já que os doutores não aproveitaram das consultas bíblicas e da solução transmitida por eles mesmos aos Reis Magos. Mostraram o verdadeiro caminho, mas eles mesmos não o seguiram. Agora Jesus mesmo antes de sua vida pública já quer mostrar-lhes que Ele é o Messias. Evidentemente, Jesus queria dispor os corações dos sacerdotes e dos doutores a desejarem e a receberem esse Messias cujo nascimento já sabiam e cuja sabedoria divina perceberam naquele Menino muito acima dos comuns dos homens.

Caríssimos, tenhamos cuidado em utilizar melhor as graças de Deus. Disse-Lhe sua Mãe: Filho, por que nos fizeste isto? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição”. José e Maria ficaram admirados porque Jesus ainda não havia manifestado assim em público sua sabedoria. Mas José não fala. Maria, porém, com a autoridade e ternura de mãe é que fala. Admiramos o respeito e a deferência de Maria para com seu santo Esposo, nomeando-o em primeiro lugar e dando-lhe o título de pai de Jesus e de chefe da família. Na verdade, José, externa e legalmente era considerado como pai de Jesus Cristo. A palavra da santíssima Mãe de Jesus não é de censura; é um grito do coração, todo cheio de confiança e de abandono, de humildade e de ternura; é uma espécie de queixa afetuosa sobre a longa ausência de Jesus, para exprimir a sua pena e a de José.

Respondeu-lhes Ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? É evidente que a resposta de Jesus não inclui censura, mas apenas admiração. Se Maria e José sabiam que Ele era o Messias, Filho de Deus, que veio ao mundo cumprir a vontade de seu Pai, era natural que O encontrassem no Templo, ocupado nas coisas referentes a Deus. Estas são as primeiras palavras de Jesus, conservadas nos evangelhos. Nelas manifesta diretamente sua divindade. Por elas dá a conhecer àqueles que O cercam no Templo, e a nós todos,o fim da sua missão sobre a terra, e ensina-nos que os interesses de Deus e o seu agrado devem estar acima de qualquer consideração humana. Algumas vezes Deus fala à alma dos filhos e os chama para si. Nesse caso os pais não devem opor-se à vocação celeste, nem têm o direito de fazê-lo.

E eles (Maria e José) não entenderam o que lhes disse: Porque, na verdade, ainda não sabiam que Jesus devia abandonar tudo, para cuidar unicamente da glória de seu Pai.

Desceu com eles e veio para Nazaré, e lhes era submisso. Sua Mãe conservava todas estas coisas em seu coração. Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens: Sendo Deus, Jesus obedecia a seus pais. Que exemplo para os filhos!

Por sua vez, Sua Mãe conservava todas estas coisas no coração, para meditá-las, e pautar por elas todos os atos da sua vida. Jesus crescia em sabedoria e em graça: Como Deus, possuía todos os conhecimentos e a plenitude da graça. Crescendo, ia aos poucos manifestando estes dons, o que causava aos homens a impressão de desenvolvimento progressivo. Enquanto homem, Jesus Cristo foi adquirindo conhecimentos experimentais do mundo que o cercava e neste sentido houve verdadeiro crescimento.

JESUS, MARIA E JOSÉ, SALVAI AS FAMÍLIAS! Amém!

Cardeal Burke: esse será o modelo da correção formal ao Papa Francisco

Pete Baklinski, 16 de agosto de 2017, LifeSiteNews | Tradução: FratresInUnum.com: Uma vez que o Papa Francisco optou por não responder às cinco perguntas sobre se a sua Exortação Amoris Laetitia está em conformidade com a doutrina católica, é “necessário” fazer uma “correção” dos aspectos em que seu ensinamento se distancia da fé católica, disse o Cardeal Raymond Burke em uma nova entrevista.

O Cardeal, que é um dos quatro signatários dos dubia apresentados há cerca de um ano e que pedia ao Papa para esclarecer o seu magistério, explicou em uma entrevista ao The Wanderer a maneira como se deve proceder para emitir uma “correção formal”.

 Burke explicou: “Parece-me que a essência da correção é bastante simples”.

“Por um lado, expõe-se a doutrina clara da Igreja; por outro, aquilo que efetivamente está sendo ensinado pelo Romano Pontífice é afirmado. Se houver contradição, o Romano Pontífice é instado a conciliar seu próprio ensinamento em obediência a Cristo e ao Magistério da Igreja,” ele disse.

“A pergunta é a seguinte: ‘Como essa correção seria feita?’ De maneira muito simples, por meio de uma declaração formal a qual o Santo Padre seria obrigado a responder. Os Cardeais Brandmüller, Caffarra, Meisner e eu usamos uma instituição antiga na Igreja que propõe os dubia ao Papa,” continuou o Cardeal.

Fizemos isso de maneira muito respeitosa e de maneira alguma com agressividade, para dar-lhe a ocasião de expor a doutrina imutável da Igreja. O Papa Francisco optou por não responder aos cinco dubia. Então, agora é necessário simplesmente afirmar a doutrina da Igreja a respeito do matrimônio, da família, dos atos intrinsecamente maus, e assim por diante. Esses são os pontos que não estão claros nos ensinamentos atuais do Romano Pontífice. Portanto, esta situação deve ser corrigida. A correção se dirigiria principalmente a esses pontos doutrinários”, acrescentou.

Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Cardeais Raymond Burke, Joachim Meisner (recém-falecido), Walter Brandmüller e Carlo Caffarra LifeSite

No ano passado os quatro cardeais divulgaram suas perguntas (dubia), uma vez que o papa não lhes respondeu. Eles esperavam que a resposta do Papa às suas cinco perguntas do tipo sim ou não dissiparia o que chamavam de “incerteza, confusão e desorientação entre muitos fiéis” decorrentes da exortação polêmica.

Em junho, os quatro divulgaram publicaram uma carta ao Papa, na qual pediram, sem lograr êxito, uma audiência privada para discutir a “confusão e desorientação” dentro da Igreja em razão da exortação.

A exortação tem sido usada por vários bispos e grupos episcopais, inclusive na Argentina, Malta, Alemanha e Bélgica, para emitir diretrizes pastorais que permitem que a Comunhão seja dada aos católicos divorciados e recasados no civil que vivem em adultério. Entretanto, bispos no Canadá e na Polônia emitiram declarações com base na leitura do mesmo documento, que proíbe esses casais de receberem a Comunhão.

O Papa Francisco ainda não dialogou com os três cardeais remanescentes.

Burke disse na entrevista ao The Wanderer que o Papa é o “princípio da unidade dos bispos e de todos os fiéis”.

“Entretanto, a Igreja está sendo dilacerada neste momento pela confusão e divisão”, ele disse.

“O Santo Padre deve ser instado a exercer seu ofício para pôr fim à confusão”, acrescentou.

Se o Papa continuar se recusando a responder aos dubia, o “próximo passo seria uma declaração formal afirmando claramente a doutrina da Igreja, conforme exposto nos dubia”, disse Burke.

“Além disso, a declaração afirmaria que essas verdades da Fé não estão sendo definindas pelo Romano Pontífice com clareza. Em outras palavras, em vez de fazer as perguntas como foram feitas nos dubia, a correção formal consistiria em dar as respostas, conforme eninadas claramente pela Igreja”, acrescentou.

Acredita-se amplamente que os Cardeais, seguindo as doutrinas da Igreja sobre o Matrimônio, a Penitência e a Eucaristia, responderiam as cinco perguntas com sim ou não, da seguinte maneira:

  1. Seguindo as afirmações da Amoris Laetitia (números 300-305), um casal que vive habitualmente em adultério pode receber a absolvição e a Sagrada Comunhão? NÃO
  2. Com a publicação de Amoris Laetitia (ver n° 304), ainda é preciso considerar válido o ensinamento de São João Paulo II na Veritatis Splendor de que existem “normas morais absolutas que proíbem atos intrinsecamente maus e que são vinculativos sem exceções? “SIM
  3. Após a Amoris Laetitia (nº 301), ainda é possível afirmar que o adultério habitual pode ser uma “situação objetiva de pecado habitual grave”? SIM
  4. Após as afirmações da Amoris Laetitia (nº 302), os ensinamentos de João Paulo II na Veritatis Splendor ainda são válidos no sentido de que as “circunstâncias ou intenções nunca podem transformar um ato intrinsecamente mau em virtude de seu objeto em um ato “subjetivamente” bom ou que pode ser defendido como uma escolha “? SIM
  5. Após a Amoris Laetitia (nº 303), ainda é preciso considerar como válido o ensinamento da encíclica Veritatis Splendor de São João Paulo II “que exclui uma interpretação criativa do papel da consciência e enfatiza que a consciência nunca pode ser autorizada a legitimar exceções às normas morais absolutas que proíbem atos intrinsecamente maus em virtude de seu objeto? “SIM

O cardeal Burke disse que os fiéis católicos que se sentem frustrados com a maneira como o Papa Francisco lidera a Igreja não devem acolher nenhuma noção de “cisma”.

Ele disse: “As pessoas falam sobre um cisma de facto. Sou absolutamente contrário a qualquer tipo de cisma formal – um cisma nunca pode ser certo “.

“Entretanto, as pessoas podem estar vivendo em uma situação cismática se abandonaram a doutrina de Cristo. A palavra mais apropriada seria aquela que Nossa Senhora usou em sua Mensagem em Fátima: apostasia. Pode haver apostasia dentro da Igreja e, de fato, é o que está acontecendo. Com relação a essa apostasia, Nossa Senhora também se referiu à omissão dos pastores em buscar a unidade da Igreja”, acrescentou.

 

Reflexões da Sagrada Escritura: Jesus na Eucaristia é fonte de Vida Sobrenatural

“Eu sou o pão da vida” . “Se alguém comer desse pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo. 6, 48 e 52).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

Demos a palavra ao Papa Leão XIII, de santa memória: 5. “Conhecer com fé íntegra a virtude da Santíssima Eucaristia, tal qual é, é conhecer tal qual é a obra que, na sua onipotente misericórdia, Deus feito homem realizou em favor do gênero humano. Porquanto a mesma fé que nos obriga a confessar e a honrar a Cristo como o soberano Autor da nossa salvação, o qual, pela sua sabedoria, pelas suas leis, ensinamentos, exemplos e pela efusão do seu sangue, renovou todas as coisas, igualmente nos força a crê-lo e adorá-lo assim realmente presente na Eucaristia, onde ele próprio permanece mui verdadeiramente até o fim dos tempos no meio dos homens, e como mestre e pastor cheio de bondade, como intercessor onipotente junto a seu Pai, para haurir em si mesmo e distribuir a eles com eterna abundância os benefícios da sua redenção. Quem atenta e religiosamente considerar os benefícios que emanam da Eucaristia, compreenderá que o mais excelente e o mais eminente é aquele que contém todos os outros, sejam quais forem: com efeito, é da Eucaristia que se transfunde nos homens essa vida que é a verdadeira vida: O Pão que darei é a minha carne para a vida do mundo (Jo 6, 52).

6. Não é só desta maneira (…) que Cristo é a Vida, Ele que declarou que o fim da sua vinda ao meio dos homens era trazer-lhes verdadeira abundância de uma vida mais do que humana: Vim a fim de que eles tenham a vida e a tenham superabundantemente (Jo 10, 10). E, realmente, ninguém o ignora, desde que a bondade e a humanidade de Deus nosso Salvador apareceram (Tito 3, 4) na terra, fez-se sentir uma força criadora de uma ordem de coisas toda nova e a difundir-se em todas as veias da sociedade civil e doméstica. Desde então, novas relações se estabeleceram entre o homem e seu semelhante, novas leis regeram a sociedade e os indivíduos, novos deveres foram impostos, as instituições, as ciências e as artes adquiriram novo surto; mas o principal é que os corações e as mentes foram  reconduzidos à verdade da religião e à pureza dos costumes; bem mais: uma vida toda celeste e toda divina foi-nos comunicada; é o que certamente significam estas expressões frequentemente relembradas na Sagrada Escritura: lenho de vida, palavra de vida, livro de vida, coroa de vida, e, em particular, pão de vida.

7. A vida de que falamos tem muita semelhança com a vida natural do homem, e esta é entretida e fortalecida pelo alimento; deve, pois, aquela ser sustentada e reanimada pelo seu alimento próprio. Importa lembrar aqui em que tempo e de que maneira Cristo nos exortou e induziu a receber convenientemente e dignamente o pão de vida que ele se propunha dar-nos. Quando se espalhou a notícia do milagre da multiplicação dos pães, realizado nas margens do lago de Tiberíades para saciar a multidão, logo muitos afluíram para Ele, esperando talvez obter para si mesmos um benefício semelhante. Jesus aproveitou essa ocasião, e, assim como outrora, à Samaritana que lhe pedia tirar para ela água do poço, Ele mesmo inspirara a sede da água que jorra para a vida eterna (Jo 4, 14), assim também eleva as almas dessa multidão ávida a fim de fazer desejar com mais ardor esse outro pão que permanece para a vida eterna (Jo 6, 27). “Mas esse pão, diz Jesus prosseguindo o seu ensinamento, não é aquele maná celeste que, na sua marcha  através do deserto, vossos pais acharam já pronto; não é sequer esse que, de todo admirados, recebestes recentemente de mim; porém eu mesmo sou esse pão: Eu sou o pão de vida (Jo, 6, 48). E, para ainda mais os convencer desta verdade, dirige-lhes este convite e lhes dá este preceito: Se alguém comer desse pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo (Jo 6, 52). Ele mesmo lhes prova assim a importância desta ordem: Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do homem e se não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós (Ib. 54, 10). Longe de nós, pois, esse erro, tão difundido e  perniciosíssimo, dos que pensam que o uso da Eucaristia deve ser quase exclusivamente reservado a esses homens livres de todos os cuidados, acusados de terem o coração estreito, e de só o repouso buscarem num regime de vida mais religiosa. Esse bem, fora do qual nada é mais excelente nem mais salutar, oferece-se a todos indistintamente, sejam quais forem a condição e a categoria de cada um; pertence a todos os que querem (e ninguém há que não deva
querê-lo) alimentar em si a vida da graça, cujo termo é a aquisição da vida bem-aventurada com Deus.

8. E prazam ao céu façam uma justa ideia da vida eterna e não a percam de vista aqueles, sobretudo, cujo talento, atividade, autoridade tanto podem para dirigir os acontecimentos e os homens. Mas, ao contrário, vemos e deploramos que a maioria deles consideram com orgulho o haverem inculcado ao século como que uma vida nova e próspera, porque, graças ao seu impulso, o obrigam a marchar a largos passos para toda sorte de progressos e de maravilhas. Na realidade, para qualquer lado que se dirijam os olhares, o que se verá é a sociedade humana, se se afastar de Deus, ao invés de fruir da tranquilidade que deseja, ser, ao contrário, presa de angústia e de agitação, como o doente atormentado por uma febre ardente: ao passo que ela aspira ansiosamente à prosperidade em que coloca a sua única esperança, vê-a desaparecer e fugir-lhe no momento em que acredita possuí-la. Efetivamente, os homens e os Estados dependem necessariamente de Deus, de sorte que não podem viver, nem mover-se, nem fazer  qualquer bem senão em Deus, por Jesus Cristo, de quem têm promanado e promanam abundantemente todos os  bens, os melhores e os mais preciosos.

9. Ora, a fonte e o princípio de todos esses bens é sobretudo a sagrada Eucaristia: esta entretém, fortifica essa vida cuja privação nos causa tamanho pesar, e aumenta maravilhosamente essa dignidade humana de que se faz tanto caso agora. Com efeito, que coisa maior e mais desejável do que nos tornarmos, tanto quanto possível, participantes e associados da natureza divina? Ora, é isso precisamente o que Cristo nos concede na Eucaristia, pela qual ele prende e une a si ainda mais estreitamente o homem, elevado pela graça até à divindade. Há, com efeito, esta  diferença entre o alimento do corpo e o da alma: que aquele se converte na nossa própria carne, ao passo que este nos transforma nele; e, a este propósito, eis o que Santo Agostinho faz o próprio Cristo dizer: Tu não me  transformarás em ti como faz o alimento de tua carne, mas serás transformado em mim (Conf. lib. 7, c. 10).

AVISO: Até aqui são palavras do Papa Leão XIII, na Encíclica Sobre Santíssima Eucaristia, “Mirae Caritatis” escrita em 1902.

Quero aproveitar o ensejo para avisar ao “FRATRES IN UNUM” e aos seus caríssimos leitores que ficarei em recesso nesta coluna por 2 meses a partir do dia 17 de julho. Farei, se Deus quiser OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DE SANTO INÁCIO (30 dias) e depois farei várias consultas e tratamentos médicos. Caríssimos, peço-lhes a caridade de vossas valiosas orações e, desde já, vos agradeço. Que Deus Nosso Senhor abençoe a todos e os cumule de escolhidas graças. Salve Maria! Amém!