Comunicado divulgado hoje pelo Capítulo Geral do Instituto do Bom Pastor:
Padre Roch Perrel.
O Instituto do Bom Pastor, em seu capítulo geral, o segundo depois da fundação, refletiu sobre esses seis anos decorridos e confirmou seus recentes estatutos na fidelidade aos compromissos assumidos em 2006. Sendo uma jovem fundação, o Instituto do Bom Pastor se consolida guiado pelos estatutos aprovados pela Santa Sé, em torno dos quais numerosos padres e seminaristas se uniram no serviço da Igreja. Foram eleitos: o Padre Roch Perrel, Superior Geral; Primeiro Assistente, Padre Paul Aulagnier; Segundo Assistente, Padre Leszek Krolikowski; Padre Stefano Carusi, Terceiro Conselheiro; Padre Louis-Numa Julien, Quarto Conselheiro. Invocando a proteção da Santíssima Virgem Maria e seu Divino Filho Jesus, Bom Pastor.
Padre Leszek Krolikowski
Secretário do Capítulo Geral, Courtalain, 6 de julho de 2012.
Padre Roch Perrel, atual reitor do Seminário São Vicente e antigo Superior do Brasil, é o novo Superior Geral do Instituto do Bom Pastor. Félicitations, Monsieur l’Abbé!
Todavia, este comunicado não está divulgado em nenhum veículo oficial do Instituto. E o site oficial adverte a respeito: “Toda comunicação oficial do Instituto do Bom Pastor deve, evidentemente, ser publicada neste site”. O que ocorre, então?
Ao que tudo indica, houve uma cisão no Capítulo. Os velhos dirigentes parecem não aceitar a nova composição de governo do IBP.
Em seu blog, o [ex?] Superior Geral enigmaticamente aborda o assunto. Ele evoca o Direito Canônico para afirmar que, uma vez proclamado o resultado do Capítulo e tendo o eleito aceitado o encargo, apenas uma instância superior poderia contestar tal decisão. E assina, após insinuar um recurso à Sé Apostólica [“todos os caminhos levam a Roma…”]: “Padre Phillippe Laguerie, Superior Geral do Instituto do Bom Pastor”.
Fora o Padre Laguerie reeleito e, uma vez contestada a sua reeleição, outro superior acabou escolhido? Não está a nosso alcance saber.
Até que a situação se esclareça, o que podemos inferir do comunicado (ainda não divulgado em nenhum outro meio, mas cuja autenticidade foi diligentemente certificada pela nossa edição) é a vitória interna dos “compromissos assumidos em 2006”, caracterizados especificamente pelo Rito Latino Gregoriano enquanto “exclusivo” do Instituto e pelo serviço de uma “crítica séria e construtiva” aos textos do Concílio Vaticano II.
Já abordamos as divergências no IBP e a insurgência da Comissão Ecclesia Dei contra esses mesmíssimos princípios fundacionais aqui.
A nova direção do IBP é composta por padres jovens — com exceção do Pe. Aulagnier, braço direito de Dom Lefebvre por décadas — comprometidos com as razões originais pelas quais “se uniram no serviço da Igreja”. Padre Carusi, editor de Disputationes Theologicae, assume posto de importância, enquanto seu franco opositor, Padre De Tanöuarn, antigo Primeiro-Assistente, cai no ostracismo.
No mês passado, a carta aos amigos e benfeitores do seminário do Instituto já afirmava: o Capítulo Geral “é também o momento de examinar a fidelidade dos padres aos princípios fundadores do Instituto, tanto doutrinais como pastorais ou espirituais […] Alguns até pensaram que o IBP, sendo fruto do encontro surpreendente de personalidades fortes (os padres Laguérie, Tanoüarn e Héry), não poderia formar uma comunidade. Os mesmos previam uma explosão em pouquíssimo tempo. Vários anos depois, o IBP ainda está aí, mesmo que haja divisões em suas fileiras”.
Resta agora saber como e se o Instituto sobreviverá a esta que é, até agora, a sua mais árdua prova.
Comentários do Padre Paul Aulagnier, ex-membro da FSSPX (um dos primeiros padres ordenados por Dom Lefebvre e por 18 anos superior do Distrito da França, o mais importante da FSSPX) e atualmente no Instituto do Bom Pastor, à recente entrevista de Monsenhor Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei:
Devo dizer que as respostas de Mons. Pozzo, secretário da Comissão “Ecclesia Dei”, me preocupam quanto ao desenlace das conversações com a FSSPX no que se refere à questão litúrgica e à questão do Concílio Vaticano II. No que diz respeito à liturgia, todo católico ligado à tradição litúrgica da Igreja tem sempre em mente, hoje como ontem, a carta que o Cardeal Ottaviani e o Cardeal Bacci apresentaram ao Papa Paulo VI após a promulgação da reforma litúrgica de 3 de abril de 1969. Eles concluíam, na seqüência da análise do “Breve Exame Crítico”, obra de um grupo de teólogos, liturgistas e pastores, que esta reforma litúrgica se afastava, no conjunto como no detalhe, da doutrina católica definida pela Igreja e para sempre no Concílio de Trento, em sua sessão XXII.
[…]
Assim, não é porque o novo Ordo é celebrado piedosamente em Roma e noutro lugar pelo Papa que as críticas dos Cardeais Ottaviani e Bacci desaparecem como num passe de mágica. De fato, é melhor que o novo Ordo seja devotamente celebrado, mas isso não retira desta reforma o seu aspecto “equívoco” em muitos pontos essenciais à doutrina católica sobre a missa. Como os padres do FSSPX poderiam aceitar as propostas de Mons. Pozzo? Não o vejo.
Os padres da FSSPX permanecem unidos, com toda razão, a esta declaração. Como poderão aceitar as propostas do mesmo prelado? Não vejo como. A meu ver, e levando tudo isso em conta, os acordos entre Roma e o FSSPX não são para amanhã.
Em 1º de janeiro de 2011, por ocasião da oração do Angelus, o Papa Bento XVI anunciou sua intenção de renovar a cerimônia inter-religiosa de Assis, de 27 de Outubro de 1986:
“No próximo mês de Outubro, irei como peregrino à cidade de são Francisco, convidando os irmãos cristãos das diferentes confissões, os expoentes das tradições religiosas do mundo e, idealmente, todos os homens de boa vontade, a unir-se neste caminho com o objetivo de recordar aquele gesto histórico desejado pelo meu Predecessor e de renovar solenemente o empenho dos crentes de cada religião a viver a própria fé religiosa como serviço para a causa da paz”.
Ele já o havia anunciado em sua mensagem para a Paz para o ano 2011, intitulada: “A liberdade religiosa, caminho para a Paz”. Escreveu: “Em 2011, tem lugar o 25º aniversário da Jornada Mundial de Oração pela Paz, que o Venerável Papa João Paulo II convocou em Assis em 1986. Naquela ocasião, os líderes das grandes religiões do mundo deram testemunho da religião como sendo um factor de união e paz, e não de divisão e conflito. A recordação daquela experiência é motivo de esperança para um futuro onde todos os crentes se sintam e se tornem autenticamente obreiros de justiça e de paz.”
Sabemos, no entanto, que o Papa Bento XVI, enquanto ainda Cardeal, não quis assistir a esta “jornada de orações inter-religiosas para a paz”, devido ao risco de sincretismo em uma tal jornada. Ele também desejou, desde que está sobre a sede de Pedro, duas vezes, dar precisões sobre esta jornada, talvez nessa perspectiva de aniversário.
Em uma mensagem dirigida ao bispo de Assis, em 2 de Setembro de 2006, escrevia: “Para que não haja dúvidas acerca do sentido de quanto, em 1986, João Paulo II quis realizar, e que, com uma sua expressão, se costuma qualificar como “espírito de Assis”, é importante não esquecer a atenção que então foi dada para que o encontro inter-religioso de oração não se prestasse a interpretações sincretistas, fundadas numa concepção relativista. […] Por isso, mesmo quando nos encontramos juntos a rezar pela paz, é necessário que a oração se realize segundo aqueles caminhos distintos que são próprios das várias religiões. Esta foi a escolha de 1986, e tal escolha não pode deixar de ser válida também hoje. A convergência do que é diverso não deve dar a impressão de uma cedência àquele relativismo que nega o próprio sentido da verdade e a possibilidade de a obter”.
Mas, como simples observação: ele não rezou com os judeus e rabinos da sinagoga de Roma por ocasião de sua última visita? Umas são palavras. Outras as atitudes.
É possível resumi-la do seguinte modo: é necessário interpretar o Concílio como uma obra “de reforma” da Igreja, reforma, certamente, mas na “continuidade” do Magistério e de modo algum em “ruptura” com o Magistério. Haveria, desta obra conciliar, duas interpretações possíveis, “duas hermenêuticas” possíveis que, de resto, viram a luz do dia: “a da ruptura e a da reforma na continuidade”.
Em fidelidade ao Papa Bento XVI, é necessário claramente escolher esta última. Ele assim o diz claramente em sua conclusão. “É necessário utilizar esta última direção para enfrentar as questões controversas, libertando, por assim dizer, o Concílio do para-concílio que se misturou com ele, e conservando o princípio da integridade da doutrina católica e da plena fidelidade ao Depósito da Fé transmitido pela Tradição e interpretado pelo Magistério da Igreja”.
Primeira consideração:
Para Monsenhor Pozzo, uma coisa é o Concílio e os seus textos, fiéis à Tradição e ao Magistério de sempre. Outra é a interpretação do Concílio. Uma coisa é o Concílio. Outra é o “para-concílio”.
É essa a tese que não cessaram de apresentar a Dom Lefebvre e que ele sempre recusou aceitar. Não, não, dizia ele: “a origem do mal é o Concílio e ‘todas as reformas procedentes do Concílio’”. E é por isso, por exemplo, que ele tinha a audácia de dizer “ser impossível formar jovens ao sacerdócio com a nova missa”. Mas quem, da hierarquia atual, pode compreender isso? Haverá um aumento do número de padres apenas quando se abandonar a “nova missa”. Ela não é a missa “ordinária” do rito romano, é a “missa de Lutero”, ou, se preferir, uma “missa bastarda”, “uma missa envenenada”. As comunidades “Ecclesia Dei” provam essa verdade ano após ano… e a hierarquia se endurece e sempre não vê nada. Virá um dia em que Roma será obrigada a tomar bispos do seu seio e nomeá-los à frente de dioceses. Serão talvez, no início, pequenas dioceses onde não restam mais que alguns padres. Esses padres poderão se opor a nomeação desses bispos. Com um pouco de firmeza, o novo bispo poderá recorrer a esses novos padres sem ter que procurá-los na África. E de repente, a missa tradicional retornará… o povo será surpreendido… mas acontecerá rapidamente… eu sonho! Não mais do que isso.
Uma coisa é o Concílio. Outra o “para-concílio”, nos diz Monsenhor Pozzo.
Voltamos sempre aí. É o colete salva-vidas “dos conciliaristas”. É necessário, custe o que custar, salvar o Concílio
Eu bem que desejo…
Mas então, o que fazer das declarações do Cardeal Congar dizendo que Concílio foi “uma verdadeira revolução na Igreja”, ou do Cardeal Suenens dizendo que o Concílio é o “1789 na Igreja”. Ora, estas duas personalidades estiveram, elas também, entre os “personagens principais” do Concílio Vaticano II.
O que fazer da declaração de 21 de novembro de 1974 de Dom Lefebvre que diz que Concílio sofreu uma influência real do modernismo e do liberalismo; o que fazer do seu livro “Eu Acuso o Concílio”? E Dom Lefebvre estava entre as personalidades de qualidade do Concílio. Estava, à época, entre os “superiores gerais das grandes congregações da Igreja” e, além disso, arcebispo e presidente do “Coetus Internationalis Patrum”, representando cerca de 250 padres conciliares.
O que fazer então das críticas do Cardeal Ottaviani, criticando muito severamente a reforma litúrgica de Monsenhor Bugnini, reforma litúrgica realizada, dizem, em aplicação de Sacrosanctum Concilium.
Etc. etc.
Uma outra consideração:
Nas palavras de Monsenhor Pozzo há uma novidade. Ele fala de “questões controversas” do Concílio Enfim… é uma novidade. Essas “controvérsias” devem ser o objeto das discussões com a FSSPX.
Tomemos brevemente o assunto ecumenismo.
Enquanto ele resume a doutrina conciliar sobre o ecumenismo na segunda parte de sua conferência, vocês não verão nunca ele utilizar a palavra “retorno” das diferentes confissões à Igreja Católica. Esta palavra está banida do seu pensamento. Mas é o que se entende sempre sobre este assunto: é necessário evitar qualquer expressão que faça alusão ao regresso dos irmãos separados. Eis o axioma doutrinal e a diretriz prática do movimento ecumênico. Como diz Romario Amerio em seu “Iota Unum”, na página 457, “abandona-se o princípio do retorno dos irmãos separados em proveito do da conversão dos cristãos ao Cristo total, imanente a todas às confissões. Como professa abertamente o Patriarca Atenágoras: “não se trata neste movimento de união de caminhar de uma Igreja para outra, mas de caminhar todas as igrejas em direção ao Cristo comum” (ICI, n° 311, p. 18,1º de maio de 1968).
Mas se observarem que este não é o ensinamento que Pio XI nos dá em sua encíclica “Mortalium Animos”, — nela, com efeito, o Papa afirma que a verdadeira união das Igrejas não pode se realizar a não ser pelo retorno (per reditum) dos irmãos separados à verdadeira Igreja de Deus — Monsenhor Pozzo responde: Não! Não! “O Concílio permanece (sim) no campo da Tradição no que diz respeito à doutrina da Igreja. (Mas) isso não exclui, todavia, que o Concílio tenha produzido novas diretrizes e tenha esclarecido certos aspectos específicos. A novidade em relação às declarações anteriores ao Concílio consiste antes no fato de que as relações da Igreja Católica com as Igrejas ortodoxas e as comunidades evangélicas nascidas da Reforma luterana são tratadas como uma questão distinta e de um modo formalmente positivo, enquanto na encíclica Mortalium Animos, de Pio XI (1928), por exemplo, o objetivo era delimitar e distinguir claramente a Igreja Católica das confissões cristãs não-católicas”.
Se é assim que Monsenhor Pozzo pensa resolver o problema da continuidade do pensamento do Conciliar (sic) sobre o ecumenismo com a Tradição, penso que as conversações doutrinais com o FSSPX estão arriscadas a não alcançar resultado… É sempre aquilo que tenho pensado. Não é por “conversações doutrinais” que se porá termo à crise da Igreja. Quando Dom Lefebvre dizia, após o fracasso das conversações “práticas” com o Cardeal Ratzinger em 1988, que, “na próxima vez, serei eu que vou colocar as minhas condições: Estais de acordo com o Syllabus?; Estais de acordo com o juramento antimodernista? Estais de acordo com a encíclica Libertas? etc.”, ele queria simplesmente dizer que era necessário, antes de tudo, fazer uma profissão de fé antes de sentar-se novamente à mesa das conversações e que essa profissão de fé deveria ser compartilhada por todos os tomassem parte…
“Senhores, preparai-vos para um longo combate”, dizia-nos Dom Lefebvre. É doutrinal, com certeza. Mas não se discute com o modernismo. Combate-se o modernismo concretamente por uma doutrina íntegra e um apostolado enérgico e valente.
La Revue Item – Traduzido por Marcelo de Souza e Silva
O levantamento da excomunhão dos bispos da FSSPX estando hoje realizado, é fácil, é verdade, dizer que tal levantamento de excomunhão era amplamente previsível. A excomunhão não tinha mais lugar. O momento de tal levantamento era o que até então permanecia na incerteza. Ele era necessário para o bem da Igreja. Era necessário primeiramente para o bem da FSSPX, que não podia, sem perigo para si, manter-se fechada sobre si como um movimento autocéfalo, autônomo, separado indefinidamente da estrutura hierárquica da Igreja. Mas para a Igreja também o privar-se do apostolado de mais de 500 sacerdotes, frades e religiosas em um período de tão grande penúria sacerdotal e religiosa não seria sensato. O levantamento era também inevitável. A eleição de Bento XVI o tornara com efeito cada dia mais e mais provável, previsível.