Um centenário memorável e nossa sugestão para o Ano da Fé: Catecismo de São Pio X.

Na efervescência das comemorações dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II e dos vinte anos do Catecismo da Igreja Católica, caiu no completo esquecimento o centésimo aniversário do Catecismo de São Pio X comemorado hoje.

Nada impede, declarou em 2003 o então Cardeal Joseph Ratzinger, que em nossos dias “possa haver pessoas ou grupos de pessoas que se sintam mais à vontade com o Catecismo de São Pio X”. Não só mais à vontade, mas convictas de que a segurança, clareza e eficiência, cujos resultados falam por si, do Catecismo da Doutrina Cristã é um santo remédio para a “auto-demolição da Igreja” e para a perda de Fé generalizada — ainda mais em tempos de “catecismos” joviais de conteúdo duvidoso e questionável.

Eis, portanto, a nossa sugestão para o Ano da Fé: baixe-a aqui.

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O Papa do Catecismo

Em 1909, o Papa [São Pio X] criou a Comissão Catequética com a função de preparar um novo catecismo segundo as suas orientações. Esta comissão era composta por três membros (incluindo o Pe. Pietro Benedetti e Mons. Faberi). O Papa afirmou que este catecismo deveria ser “mais curto e mais adaptado às necessidades de hoje” [1].

Cinco versões foram elaboradas entre 1909 e 1911. Em novembro de 1911, a última delas foi submetida a 50 cardeais, bispos e prelados italianos, para suas observações. A Comissão levou em consideração as sugestões feitas. Vale notar que foi solicitado a um poeta, Guido Salvadori, que lesse e aperfeiçoasse a obra do ponto de vista estilístico [2]. Finalmente, em outubro de 1912, o Catechismo della dottrina cristiana foi publicado.

Em sua carta de aprovação a este novo catecismo, Pio X claramente indicava as melhorias que foram introduzidas:

“Temos confiança de que, com a benção do Senhor, este novo texto será mais útil. Ele oferecerá tantas vantagens quanto o antigo, ou até mais. O menor volume do livro e o menor número de questões a aprender serão menos desencorajadores para os jovens, que já estão sobrecarregados com seus afazeres escolares; com a ajuda de seus professores e catequistas, eles poderão aprendê-lo todo. Apesar de sua brevidade, ele contém melhores explicações e lança mais luzes sobre as verdades que hoje, para grande prejuízo das almas e da sociedade, são mais atacadas, mais incompreendidas ou mais esquecidas. Ademais, Nós confiamos que ele encontrará utilidade mesmo entre adultos que desejam, ou que — por conta de suas responsabilidades para ter uma vida mais digna e para melhorar a eduçacão em suas famílias — são obrigados a reviver em suas almas aquele conhecimento fundamental sobre o qual se baseiam a vida espiritual e a moral Cristã” [3].

Duas versões do catecismo foram publicadas. Havia uma mais curta, intitulada Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã, que seria chamada, mais simplesmente, de Pequeno Catecismo; era destinada a crianças em preparação para a confissão e primeira comunhão. Ela consistia em um texto de orações e conceitos básicos da Fé Cristã, seguido de 188 perguntas e respostas. A versão mais longa, intitulada O Catecismo da Doutrina Cristã, consistia em 814 perguntas e respostas, seguindo a mesma estrutura do Catecismo do Concílio de Trento: I. A Fé (o Credo); II. A Lei (os Mandamentos de Deus, os preceitos da Igreja, as Virtudes); III. Graça (os sacramentos, oração) [4].

Ao aprovar este catecismo, Pio X o fez obrigatório apenas para a Diocese de Roma e sua província eclesiástica. Porém, a exemplo de seu predecessor, expressou o desejo de que as outras dioceses da Itália também o adotassem. Foi o que ocorreu. Sua clareza, assim como sua organização coerente, encontrou admiradores além das fronteiras. Em 1913, foram feitas traduções para o Espanhol, Alemão, Francês (uma em Paris e outra em Annecy) e Inglês.

[1] Carta Fin dai Primordi, 18 de outubro de 1912, Documents pontificaux, vol. II, p. 477

[2] Guglielmoni, “Il pionieri della catechesi”, in L’ultimo papa santo Pio X, p. 157

[3] Carta Fin dai Primordi, p. 478

[4] Referimo-nos à última edição italiana: Catechismo di San Pio X (Salpan Editore, Matino, 1991).

Saint Pius X, Restorer of the Church, Yves Chiron, Angelus Press, 2002, pp. 287-288 – Tradução: Fratres in Unum.com

A Confissão é o sacramento da evangelização.

VATICANO, quinta-feira, 11 de outubro de 2012 (ZENIT.org) – Reproduzimos a seguir as declarações do cardeal Timothy Michael Dolan, arcebispo de Nova Iorque e presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, na Terceira Congregação Geral da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em 9 de outubro de 2012.

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Cardeal Dolan.
Cardeal Dolan.

Um grande evangelizador americano, o reverendo arcebispo Fulton J. Sheen, dizia: “A primeira palavra no Evangelho é que ‘veio’ Jesus, e a última palavra de Jesus foi ‘ide’”. A Nova Evangelização nos lembra que os agentes da evangelização devem ser, eles próprios, evangelizados. São Bernardo de Claraval escreveu: “Se és sábio, prova-o, transformando-te em fonte e não em canal”.

Diante disto, eu acho que o principal sacramento da Nova Evangelização é o sacramento da confissão, e agradeço ao papa Bento XVI por nos lembrar desta realidade. Os sacramentos da iniciação são o batismo, a confirmação, a eucaristia, e eles compõem a carga e o desafio na equipagem dos agentes da evangelização.

O sacramento da reconciliação evangeliza os evangelizadores, porque, sacramentalmente, nos coloca em contato com Jesus, nos chama à conversão do coração e nos inspira a dar uma resposta ao seu convite ao arrependimento.

O concílio Vaticano II pediu uma renovação do sacramento da confissão, mas, infelizmente, em muitos lugares, vimos que este sacramento desapareceu. Pedimos a reforma das estruturas, dos sistemas, das instituições, a mudança de outras pessoas, mas não pedimos essa mudança de nós mesmos.

A resposta para a pergunta “O que há de errado com o mundo?” não é a política, nem a economia, nem o secularismo, nem a poluição, nem o aquecimento global.

Quando perguntado sobre o que há de errado com o mundo, o escritor britânico Gilbert Keith Chesterton respondeu: “Sou eu”, assumindo que, no centro do convite do evangelho, estão o arrependimento e a conversão do coração. E isto é o sacramento da evangelização!

O Papa na Missa de Abertura do Ano da Fé: retornar aos textos do Concílio para encontrar o seu verdadeiro espírito.

Agora, porém, temos de voltar para aquele que convocou o Concílio Vaticano II e que o inaugurou: o Bem-Aventurado João XXIII. No Discurso de Abertura, ele apresentou a finalidade principal do Concílio usando estas palavras: «O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. (…) Por isso, o objetivo principal deste Concílio não é a discussão sobre este ou aquele tema doutrinal… Para isso, não havia necessidade de um Concílio… É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de forma a responder às exigências do nosso tempo» (AAS 54 [1962], 790791-792). Até aqui, a citação do Papa João XIII, na inauguração do Concílio.

À luz destas palavras, entende-se aquilo que eu mesmo pude então experimentar: durante o Concílio havia uma tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé no hoje do nosso tempo, sem sacrificá-la frente às exigências do presente, nem mantê-la presa ao passado: na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo. Mas para que este impulso interior à nova evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que ele se apóie sobre uma base de concreta e precisa, e esta base são os documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua expressão. É por isso que repetidamente tenho insistido na necessidade de retornar, por assim dizer, à «letra» do Concílio – ou seja, aos seus textos – para encontrar o seu verdadeiro espírito; e tenho repetido que neles se encontra a verdadeira herança do Concílio Vaticano II. A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança.

Se nos colocarmos em sintonia com a orientação autêntica que o Bem-Aventurado João XXIII queria dar ao Vaticano II, poderemos atualizá-la ao longo deste Ano da Fé, no único caminho da Igreja que quer aprofundar continuamente a «bagagem» da fé que Cristo lhe confiou. Os Padres conciliares queriam voltar a apresentar a fé de uma forma eficaz, e se quiseram abrir-se com confiança ao diálogo com o mundo moderno foi justamente porque eles estavam seguros da sua fé, da rocha firme em que se apoiavam. Contudo, nos anos seguintes, muitos acolheram acriticamente a mentalidade dominante, questionando os próprios fundamentos do depositum fidei a qual infelizmente já não consideravam como própria diante daquilo que tinham por verdade.

Se a Igreja hoje propõe um novo Ano da Fé e a nova evangelização, não é para prestar honras a uma efeméride, mas porque é necessário, ainda mais do que há 50 anos! E a resposta que se deve dar a esta necessidade é a mesma desejada pelos Papas e Padres conciliares e que está contida nos seus documentos. Até mesmo a iniciativa de criar um Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização – ao qual agradeço o empenho especial para o Ano da Fé – enquadra-se nessa perspectiva. Nos últimos decênios tem-se visto o avanço de uma “desertificação” espiritual. Qual fosse o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, o vemos ao nosso redor todos os dias. É o vazio que se espalhou. No entanto, é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente.

Da homilia do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na Santa Missa de abertura do Ano da Fé – 11 de outubro de 2012.