Veneno e antídoto.

Por Padre Antônio Mariano – FratresInUnum.com, 23 de dezembro de 2021: Contam uma historinha de um homem que tinha um grande laranjal e que constantemente garotos pulavam os muros e comiam muitas laranjas. Achando-se esperto, o homem teve uma ideia. Pôs veneno numa laranja e afixou uma placa na entrada do laranjal com os dizeres: Cuidado! Uma laranja está envenenada. Os garotos, porém, com raiva, fizeram o mesmo que o homem e rasuraram a placa que ele tinha posto, trocando “uma” por “duas”.

SWITZERLAND-RELIGION-CATHOLICS-VATICAN-FUNDAMENTALISM

Tradidi quod et accepi.

O que aconteceu? Todas as laranjas se perderam, porque se os garotos não podiam comer, por não saberem qual a envenenada, também o dono perde tudo por não saber qual os garotos tinham envenenado.

E nenhuma pessoa ajuizada aceitaria uma laranja, nem de graça, pois, ainda que fossem mil, quem poderia garantir que não era aquela a envenenada?

Assim, diante de um risco desnecessário, uma pessoa prudente escolhe outra opção, sem riscos, segura, certa.

Isso que todos concordariam, não foi o que aconteceu com a Igreja desde a década de 60 do século passado.

Mesmo os defensores mais ardentes do Concílio Vaticano II concordam que certas partes do Concílio são no mínimo dúbias, sendo sempre (ou quase sempre) possível, porém, uma interpretação correta à luz da Tradição da Igreja. E que o Concílio tem coisas boas, trouxe avanços… algumas pessoas de má fé (por acaso, alguns dos que escreveram muitos dos documentos conciliares) é que interpretaram mal os textos do Concílio. Oh, malvados.

Desde o início, o Concílio Vaticano II foi considerado pastoral (expressão semelhante ao “café com leite” das brincadeiras de infância do meu tempo), porém, quando a Igreja foi mais pastoral: quando separou verdade e erro, expôs isso aos fiéis e zelava para que nenhum erro fosse publicado, ensinado etc; ou quando permite que verdade e erro convivam juntas devendo o próprio fiel perceber por si mesmo o que é bom e o que é mau?

É pastoral o pastor que leva as ovelhas para um campo onde estejam presentes, ainda que em pequenas quantidades, ervas venenosas que as ovelhas deverão ter o discernimento de não ingerir? É maternal a mãe que deixa junto aos brinquedos de seu filho um escorpião, porque a criança deverá ter maturidade de não se deixar picar por ele? Não devem o pastor e a mãe proteger não apenas dos males, mas do risco dos males?

O mesmo se aplica à Missa.

Quando se compara a Missa de Paulo VI com a chamada Missa de Pio V não se percebe que elas são no mínimo diferentes? E que a Missa de S. Pio V expressa de forma claríssima verdades que na Missa de Paulo VI não são (tão) expressas? Que a Missa de S. Pio V conduz à uma piedade e devoção que é, ainda que remotamente possível, difícil haurir na Missa de Paulo VI?

Então, uma pergunta simples é: que nome costumamos dar a quem, tendo à disposição o mais fácil, sempre opta pelo mais difícil?

Deixo que você mesmo responda.

Toda essa introdução, caros amigos, é para que percebamos com mais facilidade que o grande erro (deixando o conhecimento das intenções unicamente para Deus) de boa parte da hierarquia católica durante e após o Vaticano II foi de considerar que a solução dos males que se abateram sobre a Igreja era algo tão mau quanto os próprios males e que deveria ser tão ou mais combatido que os males.

A ideia de que se deveria buscar um ponto de equilíbrio entre a observância da Tradição Católica e os “exageros e má interpretação do Concílio” fez o efeito que todos conhecemos: a criminalização da Tradição.

Vale aqui a história daquela pessoa que viu-se sobre um muro. Nosso Senhor, Nossa Senhora, os Santos pediam para a pessoa pular para o lado deles. Os demônios simplesmente observavam. A pessoa então pergunta aos demônios por que não insistiam para que pulasse para o lado do inferno; ao que os demônios respondem que o muro já tinha sido feito por eles.

O eventual equilíbrio da Igreja seria rejeitar a Tradição, mas seguir algumas coisas dela, não permitindo os avanços do modernismo e suas consequências, mas adaptando-se ao mundo moderno e à mentalidade sempre mutável das pessoas.

Sim. Isso é essencialmente contraditório e impraticável. Mas foi isso que pediu-se dos católicos desde o Concílio Vaticano II.

Não sendo possível servir a dois senhores, acabou-se por servir ao mundo. E nessa subserviência ao mundo, a hierarquia da Igreja fez com que a Igreja eterna se tornasse absurdamente mutável, em sua liturgia, em sua moral, em sua fé.

Não poucas vezes os Papas tentaram corrigir certos “avanços imoderados”, mas que nada mais eram que a adequação da Igreja ao mundo que eles mesmos incentivavam.

Se tudo na Igreja deve estar adaptado ao homem contemporâneo, se o que ele encontra na liturgia, por exemplo, é praticamente igual ao que ele encontra no mundo (a língua, os cantos, as vestes…), como frear a consequência lógica de que a moral da Igreja também não deve adaptar-se ao homem moderno? Se a Liturgia, que é o mais importante da Igreja, já se adequa às modas, por que não a moral?

Aqueles padres que eram na década de 70 favoráveis à pílula, na de 90 à camisinha e nos tempos atuais à ideologia de gênero, eram chamados em certos círculos ditos conservadores de heterodoxos, ou até de hereges, mas, lamentavelmente eram apenas coerentes até o fio de cabelo com o aggiornamento proposto pela hierarquia.

A mentalidade de que a Igreja é um carro em que o Papa e os Bispos num momento aceleram e no outro freiam não é possível sem fazer da Igreja um carro desgovernado.

Como dizer a um jovem que frequenta uma liturgia mundanizada que ele não deve ser mundano? As chamadas “aberturas” da Igreja só serviram para que a fumaça de Satanás nela entrasse.

Mas, qual era a solução desses males?

Buscar os pontos positivos do Concílio?

Fazer o malabarismo mental de interpretar o Concílio à “luz da Tradição”, mas sem se render à essa Tradição, fazendo dela um uso seletivo?

Fazer com que a Missa de Paulo VI seja mais próxima da Missa de S. Pio V, mas desprezar a Missa de S. Pio V como algo de um tempo da Igreja?

São essas posturas de encarar o remédio como veneno que nos conduziram exatamente onde estamos. É por isso que até hoje os dubia sobre Amoris Laetitia não foram respondidos, mas os de Traditionis Custodes já.

É absolutamente consequente a ideia que subjaz em Traditionis Custodes e na última Responsa sobre ele de que não apenas a Missa de S. Pio V deve deixar de existir, mas de que ela é como uma praga contagiosa que deve ser afastada para longe das Igrejas Paroquiais e que macula tanto um sacerdote que a celebre que ele pode celebrar no mesmo dia 4 missas de Paulo VI, mas só uma de S. Pio V.

Esse documento tem sua origem na pertinaz negação de reconhecer que só há um remédio para os desvios que se abateram sobre a Igreja: a Tradição. A Tradição autêntica. A Tradição pura. E não a Tradição como um “modo interpretativo”, ou como um pedal de freio.

Traditionis Custodes abre a temporada de caça à Tradição. Essa caça já acontecia, mas num campo menos evidente. Agora essa guilhotina cai sobre qualquer coisa que remeta à Tradição, porque a Tradição da Igreja diz aos fiéis as mesmas palavras de Nosso Senhor: “quem não está comigo está contra mim; quem não recolhe comigo, dispersa”. A Tradição recorda ao fiel que ou se é Católico ou não se é.

E o modo mais próximo dos fiéis se aproximarem da Igreja é a Liturgia, particularmente a Missa. É necessário que um golpe seja desferido sobre a Missa de Sempre para favorecer o golpe contra a Igreja de Sempre.

E as palavras “comunhão” e “unidade” serão (indevidamente) usadas para justificar a destruição da comunhão e da unidade. Essas palavras serão uma espécie de passaporte sanitário na Igreja que provavelmente servindo-se da concelebração na Missa Crismal, mostrará os “vacinados” e “não vacinados”. A questão é, obrigando a concelebrar a Missa de Paulo VI, legitimar plenamente o Concílio e a missa subsequente, de modo que o uso da Missa de Pio V seja uma mera questão de gosto. E, se é um gosto, por que não sacrificar “heroicamente” sobre o altar da unidade e comunhão?

Mas a questão avança não apenas sobre o que é Tradicional, mas também sobre o que parecer tradicional.

Então o Bispo chama um padre e pede que em nome da obediência e comunhão ele não celebre mais a Missa de Pio V, e o padre obedece. Mas passa a celebrar a Missa de Paulo VI em latim. O Bispo então chama o padre, e em nome da comunhão e da obediência pede que, uma vez que ele é o único que celebra em latim, não o faça mais, e o padre obedece. Mas passa a celebrar a Missa de Paulo VI em português, sem acrescentar nem retirar nada. O Bispo então chama o padre, e em nome da comunhão e da obediência pede que ele acrescente na Missa a Campanha da Fraternidade, porque ele era o único padre que não a acrescentava, e o padre obedece. O Bispo então chama o padre, e em nome da comunhão e da obediência, pede que, já que ele agora fala da Campanha da Fraternidade, pare de usar músicas antigas na Missa e use o hinário da CNBB, e o padre obedece. Depois o Bispo chama o padre e diz que é ele é o único que usa batina na sua região, então em nome da comunhão com os demais padres, ele evite usar a batina, e o padre obedece e passa andar de camisa clerical. O Bispo então chama o padre e diz que devido ao calor, a maioria dos padres não usa camisa clerical, e que por isso em nome da unidade…

E assim se destrói o que ainda tenha restado de católico sobre o mundo.

Desse modo, a questão já não é mais se um bom padre vai ter que declarar em consciência que não pode obedecer a essas normas injustas, mas quando ele vai fazer isso.

É claro que para quem cresceu amando a Igreja e desejando morrer por Ela, ser punido pela “Igreja” é o pior pesadelo jamais sonhado.

Mas será esse, salvo uma intervenção direta do céu, o fim dos padres e fiéis que quiserem morrer católicos.

Igreja politizada num país polarizado e o assassinato de reputação dos bons pastores.

Por FratresInUnum.com, 21 de dezembro de 2021 – A campanha eleitoral de 2022 já começou dentro da Igreja. Uma fonte murmurante nos revelou que teria acontecido uma reunião de bispos com o Lula e que, deste modo, as alianças para o recrutamento das CEBs para a sua campanha presidencial já estariam garantidas. Externamente, o mesmo presidenciável fez uma corrida internacional para garantir o apoio dos representantes do capital estrangeiro: desde as bênçãos do Papa até os hosanas de Macron, tudo está direcionado para impulsionar a eleição do Lula.

francisco lula
Francisco: “A Luiz Inácio Lula da Silva, com minha benção”.

Já nas eleições de 2018, todos perceberam a importância do voto religioso. A ascensão de Bolsonaro à presidência não teria acontecido sem a expansão das comunidades pentecostais e a adesão de parte significativa do eleitorado católico, farto do progressismo da teologia da libertação. A esquerda percebeu isso e agora vai tentar neutralizar.

Há meses padres conservadores têm sido observados pela ala progressista da Igreja através das mídias sociais, especialmente quando fazem observações de ordem política. Recortes de vídeos e áudios, fotografias, postagens, tudo é minimamente analisado para operar-se uma perseguição que, na aparência, tem natureza moral, mas, na verdade, é de ordem política. Movem-se os aparelhos do jornalismo engajado para criar-se uma narrativa escandalosa como justificativa para o assassinato de reputação de alguém suspeito do imperdoável delito de direitismo.

A prova disso é que há alguns meses circularam vídeos e fotografias de um importante padre esquerdista, queridinho da mídia nacional e dos partidos socialistas, alguém que se promove às custas do assistencialismo e que se beneficia dele inclusive sexualmente, e o resultado foi uma operação de escrupuloso abafamento: a polícia não quis investigar, os meios de comunicação não quiserem noticiar, as autoridades da Igreja não quiseram comentar… Tudo morreu! As fotos existem, os vídeos existem, tudo foi publicado, havia envolvimento de um menor de idade (ao menos as imagens em questão demonstravam isso), mas nada se fez.

Por outro lado, padres e bispos de orientação ortodoxa são inquisitorialmente perseguidos, suas vidas e declarações são revolvidas à extenuação, suas honras são questionadas e a mesma imprensa que encobre abusos dos seus protegidos acusa de silêncio complacente a Igreja que investigou e causou imenso sofrimento nestes homens que nada fizeram senão defender a sua própria vocação e a integridade de suas igrejas e, especialmente, da sua doutrina.

Internamente, o clima de patrulhamento ideológico pela intelligentsia bergogliana tornou mais irrespirável o ar das sacristias que o das mais tiranas ditaduras. Praticamente ninguém mais tem liberdade: todos os padres e bispos não comunistas estão amordaçados e não conseguem mais expressar francamente suas posições sem o medo de serem perseguidos pela longa mão dos seus déspotas hierarcas. Repressão: esta é a realidade da Igreja neste pontificado; repressão que não se inibe nem quando flagrada, repressão que se justifica hipocritamente como isenta, chegando mesmo a dizer, como nas Respostas do último sábado, que não se pretende marginalizar ninguém.

Os fieis precisam estar preparados. Para coibir os católicos e garantir a hegemonia da opinião para o clero esquerdista, o aparelho comunista não poupará esforços e virá contra bispos, padres, movimentos, associações, mosteiros, institutos religiosos, associações, comunidades, com toda a força repressiva, para cancelar completamente não apenas ou seu lugar de fala ou as suas possibilidades de ação, mas até a sua própria existência na Igreja. Eles precisam fazer isso para oportunizarem a recondução de Lula à presidência da república.

Não estranhem se o jornalismo político de esquerda começar a perseguir pessoas da Igreja. Isso já começou e está avançando dia a dia. Precisamos estar atentos!

Tentaram destruir a reputação de Dom Alberto Taveira, arcebispo de Belém. A RCC se levantou e defendeu aquele arcebispo. A crise passou, quando todo o aparato de mídia estava voltado para fuzilar a imagem daquele homem, e hoje sabemos quem são os verdadeiros culpados. Na época, o culpado parecia ser ele; depois, percebeu-se que não. Todavia, o fim dessa história poderia ter sido diferente…

Na hora de defender a fé e condenar os erros modernos, os fieis aplaudem os seus corajosos pastores. Veremos se terão a mesma coragem para defendê-los dos lobos. Numa Igreja politizada e num país polarizado, o assassinato de reputação dos bons pastores, movido internamente pelo clero petista e externamente pelos sequazes do mesmo partido, só pode ser contido pela corajosa defesa do povo. Estejamos atentos e tenhamos os olhos bem abertos!

Padre ortodoxo em protesto incomoda Papa em visita à Grécia.

Por The Independent: O papa Francisco foi interpelado por um padre ortodoxo grego idoso no sábado ao chegar para um encontro com o chefe da Igreja Ortodoxa do país, evidência da desconfiança persistente entre alguns ortodoxos e católicos 1.200 anos depois que o cristianismo foi dividido ao meio.

“Papa, você é um herege!” o padre gritou três vezes quando Francisco chegou à residência do arcebispo Ieronymos na capital grega de Atenas. O manifestante caiu no chão quando a polícia o levou embora, e Francisco pareceu não notar quando ele entrou na residência para seu encontro privado com o Líder ortodoxo.

O incidente ocorreu após pequenos protestos contra o papa em sua parada anterior, a ilha de Chipre, que também é predominantemente cristã ortodoxa.

Durante a viagem de Francisco, os líderes de duas igrejas renovaram a promessa de superar séculos de desconfiança e competição por influência. Em contraste com o padre solitário e intrometido, Ieronymos acolheu Francisco “com um sentimento de honra e fraternidade”.

A visita de Estado de Francisco à Grécia ocorre 20 anos depois de São João Paulo II ter feito a primeira visita desse tipo desde o Grande Cisma, e aproveitou a ocasião para se desculpar pelos pecados “por ação ou omissão” cometidos pelos católicos contra os ortodoxos ao longo dos séculos.

Francisco renovou o pedido de desculpas no sábado diante de Ieronymos e outros prelados ortodoxos, dizendo que estava envergonhado pelas ações dos católicos que, por causa de uma “sede de vantagem e poder, debilitaram gravemente nossa comunhão”.

Católicos e ortodoxos se dividem por causa de uma série de questões, incluindo a primazia do papa.

Ieronymos, por sua vez, disse a Francisco no sábado que compartilhava a visão do papa de criar laços fortes para enfrentar os desafios globais como a crise migratória e as mudanças climáticas.

Profanações.

Por Padre Antônio Mariano – FratresInUnum.com, 17 de outubro de 2021: Nos últimos dias, chegaram várias notícias cujo pano de fundo é o mesmo: a profanação.

A Catedral de Toledo, uma Igreja Paroquial em Manaus, uma Basílica Romana… E esses foram os que se tornaram públicos. 

A picture of corals as part of art projection featuring images of humanity and climate change of Artistic rendering by Obscura Digital is projected onto the faade of St. Peter's Basilica at the Vatican

E não foram poucos os que manifestaram perplexidade diante desses eventos, que, num olhar atento, desgraçadamente não são tão raros.

A que ponto chegamos? Ver nossas Igrejas cedidas para clipes que incentivam o pecado, particularmente o pecado contra a natureza que brada ao céu, ou ver uma paródia sacrílega da Pietà composta por dois homens nús, onde recordamos de um dos pecados contra o Imaculado Coração de Maria que é a falta de respeito para com suas sagradas imagens!

Cada vez mais somos obrigados a reconhecer um espírito profético em certos homens que compreenderam para onde se dirigia a Igreja com as inovações do Concílio Vaticano II, um deles chegou a afirmar que ao começar a celebrar a missa em mesas seria a vitória de Lutero.

E é exatamente isso.

Tudo começa na dessacralização do Santo Sacrifício da Missa.

Se fizéssemos uma entrevista com a maioria dos que vão à Missa atual, perguntando qual a razão de irem à Missa, ou se reconhecem na Santa Missa um autêntico sacrifício as respostas fariam chorar os anjos.

O altar tornado mesa de copa, o sacrário relegado a um canto obscuro, as imagens inexistentes, o sacerdote que outrora era um sacrificador anônimo e que tornou-se um animador de auditório, o templo tornado espaço celebrativo… vitória de Lutero.

Recordo-me de uma vez em que fui venerar algumas relíquias de S. João Bosco que estavam encerradas numa belíssima imagem jacente e enquanto rezava, um padre celebrava a missa e explicando o que era “aquele boneco” contou a história do Rei Midas…

Dessacralização.

As coisas sagradas perderam completamente o valor para essas pessoas. Não há transcendência. Não há sagrado.

E se não há, qual o valor de uma Missa, ou de uma imagem, ou de uma Igreja?

Porque não ceder para outros usos? Uma reunião sindical? Um museu? Um expositório de obras bizarras? Um clipe gay? Qual o problema de fazer um barquinho e pôr ali a Pacha Mama e atravessar a nave da Basílica Vaticana com essa abominação?

Se – como já acontece em não poucos lugares – um grupo quisesse destruir uma Igreja, ou um monumento católico, como o Cristo Redentor, talvez houvesse alguma reação dos católicos. Mas mostrar o Cristo de máscara, refletir animais na Basílica Vaticana não parecem tão agressivos, afinal devemos ser uma Igreja em diálogo…

Vitória de Lutero.

Mas o Senhor não disse: “Ide e dialogai”, mas “Ide e ensinai”. Mais ainda, diz o Espírito Santo, “aquele que destruir o templo de Deus, Deus o destruirá”.

É porque não se reza mais nas Igrejas que essas profanações acontecem. É porque não se visita mais o Santíssimo Sacramento como o Divino Prisioneiro que chegamos a esse ponto!

É preciso resistir!

É preciso lutar! Queremos nossas Igrejas de volta! Queremos nossos monumentos católicos respeitados, mais ainda, venerados! Queremos a Missa Católica!

Mas não conseguiremos isso se ficarmos parados. Será que não percebemos que estamos em guerra como nos recordou o Apóstolo na Epístola de hoje?

Católicos, levantem-se! Levantem-se pela glória de Deus, pela santidade de seu templo! Levantem-se gritando o nome de Maria que sozinha vence todas as heresias. Façam do Credo o seu estandarte de batalha. Do Santo Sacrifício da Missa a jóia engastada em seus corações. Lutem.

Vitória de Deus.

* * *

Pe. Antonio Mariano está recebendo intenções para o Dia de Finados. Envie para profidelibusdefunctis@gmail.com.

Estatística é estatística. Segundo o Relatório Sauvé: 80% dos abusos sexuais na Igreja foram homossexuais.

Por Que no te la cuenten, 6 de outubro de 2021 | Tradução: FratresInUnum.com – A estatística é a estatística; e quando realizada por meios tão díspares como o The New York Times e a própria Conferência Episcopal Francesa, dificilmente se unem em consenso para mentir.

Ora, surgiu recentemente um novo relatório acerca dos abusos sexuais cometidos pelo clero nas últimas décadas. E o que se diz? O que vimos salietando há anos: que a imensa maioria de abusos foram abusos homossexuais.

2019. Relatório Pensilvânia (EUA): 80% dos abusos sexuais do clero foram abusos homossexuais.

2021 (04 de Outubro). Relatório Sauvé (França): 80% dos abusos sexuais do clero foram abusos homossexuais.

“Mas, padre! Não é porque alguém tem estas tendências que necessariamente será um pederasta!” — dirá alguém.

Sim, é verdade. Porque todos somos chamados à santidade; mesmos os que têm estas tendências.

Mas assim como não convém dar fósforo e combustível a um pirómano, ou ao viciado em jogos dar-lhe entrada gratuita ao cassino, a Igreja ordenou que não ingressassem ao seminário pessoas com tendências homossexuais arraigadas.

Porque estatística é estatística.

São Pedro Damião, ora pro nobis!

Que no te la cuenten…

P. Javier Olivera Ravasi, SE

Libera geral.

Por Jerônimo Lourenço – FratresInUnum.com, 25 de setembro de 2021: Em meados da década de 1990, a apresentadora Xuxa Meneghel reinava absoluta nas tardes de sábado da Rede Globo, com o seu programa homônimo Planeta Xuxa. Auxiliada por suas paquitas, Xuxa animava a plateia alvoroçada ao som de Libera Geral, uma canção bem sugestiva para um programa que foi responsável por introduzir o funk no Brasil.

Quase trinta anos depois, o clima na Igreja Católica se assemelha muito ao das tardes de sábado da Globo daquela época, como se a nave de Xuxa tivesse abduzido o Corpo de Cristo e o levado para o “planeta” dela. De fato, por toda parte, seja no ambão das Missas seja nas pastorais, não se ouve outra coisa senão: “Libera geral”. 

Libera a comunhão para pecadores públicos, libera o celibato, libera o casamento gay, libera o sincretismo, libera o paganismo, libera a camisinha, libera a maconha, libera o aborto, libera a ordenação de mulheres… A lista é exaustiva embora a criatividade não tenha fim. Para justificar tais pedidos, usa-se a chamada “abordagem pastoral positiva e misericordiosa do Vaticano II”. Por isso, quem apresenta objeções a essas patifarias é rotulado de “rígido”, “pervertido” e “obreiro do demônio”.

Acontece que o Povo de Deus não é burro e existe uma coisa chamada sensus fidei fidelium, do qual os leigos participam ativamente. Estes são capazes de reconhecer quando uma pregação destoa dos ensinamentos de Cristo, ainda que não consigam formular a própria perplexidade com a precisão teológica de um doutor. Basta pensar nos muitos leigos da França, por exemplo, que se recusaram, durante a Revolução, a ouvir os sermões de qualquer padre juramentado. Ou, então, para não ir tão longe, nos fiéis que acham esquisito o fato de o sacerdote não mais se ajoelhar diante da Eucaristia. Como advertiu Nosso Senhor, as ovelhas conhecem a voz do seu pastor.

É por isso que, hoje, esse pedido de liberação do pecado chega aos ouvidos do povo com um verniz pastoral sofisticado e falsamente amoroso. Doura-se o veneno para ludibriar a vítima, enquanto os fiéis ao depósito da fé vão sendo sumariamente calados e jogados ao ostracismo como se fossem leprosos. A verdade precisa ser sufocada para a mentira prevalecer.

Dada a situação, podemos até acreditar por algum tempo que a verdadeira Igreja de Cristo desapareceu e em seu lugar colocaram uma imitação barata, à imagem e semelhança daqueles que a projetaram. A nova Igreja é horizontal, é do homem, da mulher, do trans, do não-binário, atendendo ao gosto de todos; ela está aberta a todas as inclinações, de modo que ninguém precisa mais daquele estilo de catolicismo engessado, próprio do passado. Somente uns poucos saudosistas deveriam querer sair do compasso. Mas as coisas precisam seguir seu curso, imaginam, precisam caminhar com o bonde da história, sob pena de pecado contra o Espírito, que dizem ser de Deus.

A natureza humana, no entanto, facilmente se cansa do picadeiro. Naturalmente, as pessoas começam a pedir limites, regras, silêncio, orientação… E não se trata de medo da liberdade ou de renúncia à autonomia, mas de colocar o trem de volta ao trilho. Até para ser livre o homem precisa ser ordenado. 

Essa é a maravilha do fenômeno humano, que tão bem captou Machado de Assis em seu conto A Igreja do Diabo. Na história, Satanás funda a sua própria religião na qual os fiéis são livres para praticar todas as abominações imagináveis. Com isso, o tinhoso acredita que destruirá para sempre a religião do verdadeiro Deus, substituindo as santas virtudes pelos vícios deploráveis, prometendo “aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos”. Ele confessa que é o diabo, mas “para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas”.

A princípio, ele tem certo sucesso. Todavia, após alguns anos, o Diabo nota “que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes”. E essa descoberta o assombra profundamente, ao ponto que ele decide ir tirar satisfações com Deus:

Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse-lhe:

 — Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.

Na mosca. O que os inimigos da Cruz não entendem é que, não importa quanto bem-estar haja numa sociedade, os homens sempre terão o coração inquieto em busca do verdadeiro Deus. Por isso, mesmo que seja oferecido a eles qualquer arremedo de religião, qualquer espiritualidade que vise dar alguma sensação de transcendência, eles sempre sentirão o apelo da graça os convidando para a grei do Senhor. Desse modo, enquanto as falsas religiões vão definhando dia após dia, a única Igreja de Cristo permanece intacta ao longo dos séculos, contra todas as hostes infernais. Assim foi com a apostasia de Juliano, com o anglicanismo de Henrique VIII e assim será também com esta nova religião, que querem nos empurrar goela abaixo.

Como saiu do ar o Planeta Xuxa, sem deixar saudades, esta Igreja do Diabo sairá de cena com suas paquitas, enquanto nas catacumbas os fiéis vão praticando, às escondidas, o antigo culto e as antigas virtudes, para delírio de quem pede para “liberar geral”, quando o que o povo quer mesmo é a santa clausura de um lugar piedoso para rezar e adorar ao Bom Deus. Depois disso, que vamos dizer? Se Deus é por nós, quem será contra nós?

O desabafo de um padre diocesano.

FratresInUnum.com, 11 de setembro de 2021 – É muito ruim sentir “pena” de alguém, é o que costumam dizer… Afirmam estes que pena é um sentimento indigno de se sentir por alguém, que coloca esse alguém numa posição humilhante, quase que indigna de um ser humano…

Porém, não encontro um sentimento mais adequado para os sacerdotes seculares, particularmente os diocesanos.

Mesmo sem fiéis, os padres não só podem como devem rezar a Missa

Muita gente olha para o padre com compaixão: muitas vezes vive realmente na pobreza, não possui esposa, nem filhos etc. Mas tudo isso foi amplamente considerado por ele desde que percebeu os vislumbres da vocação. De tal modo, que as privações da vida sacerdotal não o assustam, como não deve assustar a um cirurgião ver sangue.

Mas, particularmente nos últimos anos, a situação dos padres diocesanos tem piorado e causado grandes dores a esses homens que nem em seus piores pesadelos podiam imaginar que passariam pelo que têm passado. Dentre várias situações, vou descrever algumas:

a) Papalatria: os padres diocesanos estão sendo postos numa posição em que precisam escolher entre a Igreja ou o Papa. Entre toda a doutrina e moral que o Senhor confiou à sua Igreja ou à febre demolidora de Francisco. A tal ponto que Francisco, conscientemente assumiu a postura de um outro Cristo capaz de dizer: “Ouvistes o que foi dito, eu porém vos digo”. Somente Deus poderia dizer tal coisa, ou um blasfemo que se sente deus. O padre diocesano que desposou a Igreja não reconhece mais o rosto da sua esposa e, por isso, é levado a crer que ela foi sequestrada e outra mulher, horrível, foi posta em seu lugar.

b) Episcopocracia: outro manancial de feridas e dores para os padres diocesanos é o autoritarismo dos bispos. Numa igreja sem fé e sem moral, quem governa são os homens e não Deus, portanto, não há mais mandamento nem dogma, há apenas a necessidade de agradar que se manifesta em cansativas expressões como “estar em comunhão”. Um padre hoje está (de um ponto de vista apenas imediato e material) completamente nas mãos do Bispo. Quando se tem um Bispo que pelo menos deixe que se seja católico, as coisas vão com certa tranquilidade; mas quando não, a vida do padre será tal que para continuar católico, aparentemente, terá que ser cismático.

c) Covardia fraterna: É claro que seus colegas (irmãos seria uma palavra forçosa demais e, na maior parte dos casos, uma mentira) não estão alheios a essa crise, e a combatem virilmente sussurrando nos corredores do retiro do clero… Mas são covardes, e num afundar de um navio os primeiros que fogem são os ratos. Esses padres não têm a vergonha de oscilar entre fé e heresia, entre a moral de situação e a moral católica, entre a batina e camisa polo. A meta de sua existência é agradar ao bispo, e esquecem que sendo o bispo um homem convém temer não a ele, mas Àqu’Ele que tem poder de tirar essa vida e de jogar a alma no inferno. Querem cargos, poder, prestígio, não para depô-los aos pés de Cristo Rei, mas para tomarem o lugar daqu’Ele a quem deveriam servir.

d) Democracia sinodal: Até alguns anos atrás não chocava aos ouvidos de ninguém ouvir que a Igreja não é democrática, mas hierárquica. Porém, quando muitos dos sucessores dos Apóstolos escolheram suceder unicamente a Judas, seguindo um modelo comunista, os Bispos criaram “conexões diretas” com certos membros do laicato que, num evidente clericalismo, muitas vezes tendo em vistas coordenações, prestígio e poder, poderiam movimentar boa parte do povo de uma paróquia no caminho que o Bispo desejasse, ficando o padre diocesano entre o mar e as pedras… Essas conexões diretas dos Bispos não são nada mais que informantes, que futriqueiras, levam-e-traz que são os responsáveis por dizer: “O Bispo não gosta do nosso pároco”; “O nosso pároco não segue as normas do plano pastoral”; “Sabiam que nessa semana nosso padre foi chamado na mitra?”.

É claro que nem todo o povo de uma paróquia está de acordo com o que é determinado pela hierarquia. Esses fiéis, verdadeiramente católicos não se opõem por causa de um gosto pessoal, mas quando as determinações ferem diretamente a doutrina, moral ou liturgia da Santa Igreja. Mas esses, mesmo imensa maioria, não contam. São negacio-nazi-fasci-terraplani- tradi-hiper-ultra-conserva-intole-homeschol-lefebri-tridenti-monforti-cedebistas.

e) Fantasma dos abusos: nunca serão suficientemente lamentados os abusos sexuais feitos por aqueles que deveriam inculcar o amor à castidade e à pureza. Mas hoje a palavra abuso, e isso é proposital, pode referir-se tanto a um estupro como a uma chamada de atenção (mesmo que serena e caridosa) que o padre deu à mulher que colocou os paninhos verdes, quando a cor litúrgica seria vermelha. E isso é feito para que simplesmente se possa qualificar aquele padre como “abusador” que, num inconsciente coletivo, será completado pela palavra “sexual”. Hoje se fala em tantas formas de abuso, que não se pode mais corrigir uma pessoa, chamar a atenção ou até mesmo fazer as perguntas necessárias para a validade de uma confissão.

E, retornando aos terríveis abusos sexuais, falta, mesmo na Lei Civil, determinar melhor não apenas as variações que podem ocorrer nesse crime, como o modo de conduzir o processo de forma que haja uma necessidade de provas materiais distintas dos depoimentos das supostas vítimas, o que, convenhamos, pode ser fonte de vários processos injustos e viciosos.

Dentro ainda dessa linha, é minimamente curioso que muitas vezes sejam exatamente sobre padres considerados tradicionais ou conservadores que se levantem esse tipo de acusação, sem (e não por falta de buscas) nenhuma outra prova que um ou outro relato contraditório.

Na lei do papa da misericórdia e da ternura, o simples fato que alguém diga que “acha que soube que viu num dia que não se lembra direito que” um padre cometeu um abuso já é motivo para suspender o padre e, se o bispo não o fizer, o bispo.

Ok. O que acontece com esse padre?

Ele não tem a estrutura de uma congregação religiosa ou convento para o abrigar. Voltará para casa da mãe, para viver de esmolas e tentar não se matar.

f) A impossibilidade de ignorar a hierarquia: durante décadas muitos padres optaram por fazer de conta que não viam os erros e viver uma vida ensinando o catecismo verdadeiro para as pessoas, celebrando piedosamente, vivendo “em comunhão”, mas sem “exageros”. Hoje isso é impossível. A quantidade de reuniões, assembleias, votações, declarações papais, motu proprios seguidos por orientações diocesanas, parecem ser um cabo de vassoura enfiado na toca de um animal que só queria permanecer quietinho e morrer em paz. É impossível a um padre hoje ficar isento. Ou rompe e permanece católico de verdade, ou permanece católico de mentira porque na verdade apostatou da fé. Achou complicada a frase anterior? É isso mesmo. Tão complicada como a situação atual.

g) Desconfiança tradicionalista: Alguém de fora poderia pensar que esses padres diocesanos encontrariam apoio nos fiéis ditos “tradicionalistas”, mas não é bem assim. Também ali, muitas vezes, esses padres encontram a frieza e a desconfiança. Muitos desses fiéis, levados por outros padres também “tradicionalistas”, questionam a validade dos sacramentos desse padre (até mesmo sua ordenação, em alguns casos); ficam atentos a um ou outro erro que possa cometer ao celebrar num rito que ama sem nunca ter visto; temem seus conselhos, uma vez que foi formado “no modernismo”; e, se dele se aproximam, é por não terem outra opção, mas sempre com desconfiança.

Enfim, essas são breves reflexões que escrevi num só fôlego, na esperança de que suscitem realmente pena, mas uma pena que leve à oração e, se possível, a alguma forma de apoio.

Pe. Mariano – 10.IX.2021

“Preso ou morto”. A renúncia frustrada do Cardeal Marx.

Ao analisar situações político-eclesiásticas, precisamos considerar todos os pontos de vista em questão e ponderar o que possa haver de verdade neles. No artigo abaixo, que traduzimos na íntegra, o autor analisa a situação da renúncia do cardeal Marx e deixa entrever a malícia do Papa Francisco na manobra de toda a situação.

Por Caminante | Tradução: FratresInUnum.com, 15 de junho de 2021 – Já antes da publicação da carta-resposta de Francisco confirmando-o em sua arquidiocese, muitos diziam que a renúncia não passava de uma mise-em-scène, destinada unicamente a provocar a renúncia do arcebispo conservador de Colônia.

Porém, as coisas não se contradizem. Pelo contrário, o maquiavelismo de Bergoglio fica ainda mais evidente quando se colocam em perspectiva todas essas eventualidades que, ao fim e ao cabo, apenas solidificam o seu poder, em detrimento de tudo que ele diga ou faça.

Realmente, quanto mais passa o tempo, mais fica evidente que os europeus não estão preparados para lidar com este nível de maquinação, com um papa jesuíta, argentino, peronista e progressista até o último nível.

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Contam que quando o arrecadador de rendas do presidente Néstor Krichner, prevendo futuras complicações, apresentou à viúva Kirchner a sua renúncia, recebeu como resposta a seguinte advertência: “Não se renuncia a mim. Daqui você sai preso ou morto”. Muito antes, quando um atribulado ministro de Perón fez o mesmo por causa de uma queima de Igrejas, o general mandou dizer-lhe, através do seu assistente: “Renuncia-se ao general apenas quando ele o pedir”. Os césares mandavam aqueles que caiam em sua desgraça que se suicidassem, os peronistas lhes proíbem de renunciar e lhes obrigam a suicidarem-se lentamente. A perversidade do poder tem múltiplas formas.

Bergoglio seguiu a tradição peronista, uma vez mais, rechaçando a renúncia do cardeal Marx. A jogada, na verdade, é uma contra-jogada maquiavélica, muito mais maquiavélica que a do inocente alemão. Com efeito, Marx, com sua renúncia, buscava candidamente duas coisas: escapar do rol necessariamente disciplinador do Sínodo que o seu cargo lhe impunha; e ficar livre como um civil a mais para poder agir em favor da rebeldia sinodal, e livre como um cardeal (ele não renunciou a isso) para armar o seu jogo de poder em Roma. Um príncipe do povo por direito próprio nessa grande queda-de-braço entre Alemanha e Roma, entre a máfia teutônica e o portenho e seus laterais. Com este simples golpe, Bergoglio desarma Marx, tira-lhe a sua principal arma (já não poderá ameaçar com a renúncia) e força-o a alinhar-se com Roma ante ao Sínodo. Marx ficou neutralizado, debilitado, esvaziado. Com que cara poderá representar os revolucionários, ele, que foi ratificado pelo próprio papa? Com um só golpe certeiro, Bergoglio matou Marx e deixou um zumbi em seu lugar. E não vejo o alemão insistindo com a sua renúncia, não ficou nenhuma margem para isso, ainda que seria interessante ver como lhe responderiam e como isso iria terminar. Preso ou morto. Porque, além disso, as denúncias que seriam o presumido motivo da sua resignação, continuam vigentes e em curso.

Que não nos engane o tom aparentemente melífluo e confiante da carta. É tal a humildade e mansidão que transmite, que o seu autor se compara com Jesus Cristo ao mesmo tempo em que crava a espada da missão suicida no pobre Marx: “E esta é a minha resposta, caro irmão. Continua como propões, mas como Arcebispo de Munchen e Freising. E se tiveres a tentação de pensar que, ao confirmar a tua missão e ao não aceitar a tua demissão, este Bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te compreende, pensa no que sentiu Pedro diante do Senhor quando, do seu modo, apresentou-lhe a renúncia: ‘Afasta-te de mim, que sou um pecador’, e escuta a resposta: ‘Apascenta as minhas ovelhas’”.

Deve-se reconhecer em Bergoglio, vazio de pensamento como é, profissional frívolo, um mestre dessas “pequenas astúcias”, como dizia Kafka, muito bem meditadas e preparadas. Como uma aranha pensativa, tecerá todas as intrigas possíveis para confundir os filhos de Armínio e evitar que se discuta o seu poder. Podemos antecipar uma guerra realmente espetacular, cheia de trapaças, chicanas e jogos sujos, e, se a biologia o acompanha, uma vitória de Francisco sobre o ingênuo episcopado progressista alemão, que terminará desaguado em um recôncavo de lugares comuns e platitudes que escamoteiam, temas que se não poderão impor, modulados por Marx e outros zumbis. Em politicagem não vão ganhar dele. E o cisma é filho da malícia, não da heterodoxia. Não são inimigos para o compadre de Flores, êmulo de Juan Perón e de Néstor Kirchner.

Sínodo do Sínodo e o novo significado de pós-Concílio.

FratresInUnum.com, 24 de maio de 2021 – Acabam de sair as novas disposições sobre o próximo sínodo, cujo tema é o sínodo mesmo — o enclausuramento eclesiológico é praticamente crônico nas reflexões das últimas décadas e, por mais ridícula que pareça, a redundância é apenas o signo léxico de uma eclesiologia em si mesma redundante. Novas disposições, por quê? Enfim, também nós não entendemos, já que o Sínodo da Família usou a mesma metodologia: consultas à “base” para, depois, resultar em sínteses diocesanas, nacionais, continentais e, com isso, realizar o circo midiático sinodal. 

Papa sínodo

Imagem: a Pachamama glorificada no Sínodo da Amazônia.

Talvez a novidade não esteja propriamente na metodologia, mas, sim, na finalidade a que ela se propõe de maneira estrutural: criar um sistema plebiscitário para dar a impressão de que todos podem participar do governo da Igreja. No entanto, longe de uma “Igreja em saída”, temos cada vez mais uma cúpula clericalista ensimesmada, cada dia mais afundada em suas burocracias, conferências, regionais, congressos e comissões eclesiásticas.

Dizemos “para dar a impressão” porque definitivamente a última coisa que interessa aos progressistas é escutar o povo fiel. Exatamente como ocorreu no sínodo para a família, quando o resultado das consultas não chegava como os chefes do sínodo queriam, eles engambelavam e davam um jeitinho de fazer suas ideias prosperarem. Se os bispos fossem eleitos pelo povo, a maioria das inócuas excelências eleitas para portarem uma mitra sobre a cabeça jamais sairiam do anonimato, inclusive porque alguns, mesmo depois de bispos, perseveram heroicamente na posição de nulidades absolutas.

O povo é e sempre foi católico raiz e nunca entendeu direito as manhas do clero progressista. O descolamento do corpo dos fieis é mais do que flagrante. Afinal de contas, não é por acaso que justamente os países que querem determinar os rumos do catolicismo no século XXI sejam aqueles cuja erosão do número de católicos seja tão vultuosa quanto a sua presunção.

Fato é que, ao fim e ao cabo, todas essas consultas servem para muito pouco, pois acabam sendo o adubo de que as vacas ideológicas irão formar o seu esterco. De resto, o próprio Papa Francisco já disse que o sínodo não consiste em colocar temas sob votação, mas em escutar o Espírito Santo – a pena é que coloquem na conta do Espírito Santo tantas obsolescências pensadas pelos teólogos!

Há, contudo, uma utilidade que não aparece numa visão superficial e é esta novidade que é visada como objetivo principal do sínodo sobre o sínodo. Trata-se, agora, não mais de realizar um sínodo sobre um tema específico, mas de realizar uma mudança na estrutura divina da Igreja, introduzindo-a numa dinâmica abertamente revolucionária. 

Dizendo em outras palavras, o que se quer é revolucionar permanentemente a Igreja em discussões contínuas, numa bagunça perpétua, em que ninguém mais terá paz, pois a cada quinquênio (quando muito!) tudo corre o risco de mudar.

Dom Hélder Câmara, na época do Concílio, fez a singela sugestão de que o papa convocasse a cada dez anos um novo Concílio Ecumênico para aggiornare – atualizar! – a Igreja no contexto do progresso daquela década, a fim de que não perdesse o bonde da história. O que ele não imaginava é que a sua sugestão, naquele tempo tão vanguardista, seria relegada como antiquada justamente pelos seus devotos!

Com a Igreja Sinodal, provavelmente a história dos Concílios ficará encerrada, pois estas reuniões de todo o episcopado serão consideradas desnecessárias e até indesejáveis. A sinodalidade bergogliana jogou o progressismo no verdadeiro pós-Concílio, quer dizer, não apenas na fase sucessiva do Vaticano II, mas numa fase que superará definitivamente a estrutura mesma de todo e qualquer Concílio, pois assumirá a perturbadora inovação como método de sua autorrealização.

A frase do protestante reformado holandês, Gisbertus Goetius, “Ecclesia Reformata, semper reformanda” (“A Igreja reformada sempre está em reforma”) agora será assumida como essência da pastoralidade da Igreja Católica. Tudo estará sempre em constante mutação. Tudo!

E não há nada de novo nisso, também. Quem não compreendeu que a provisorialidade é um elemento essencial de todas as formas da Nova Teologia, inclusive da Teologia da Libertação, simplesmente não entendeu nada. Para essas correntes de pensamento, toda e qualquer teologia é fruto do seu próprio período histórico e de sua realidade econômico-sócio-política. Não há uma teologia absoluta, feita de verdades imutáveis, de dogmas, de preceitos emanados univocamente da Divina Revelação. Tudo está em discussão e interpretação sempre!

Para os progressistas, na verdade, tudo é questão de velocidade: uns querem ir mais rápido, outros mais devagar, mas, no fundo, é preciso avançar, mesmo que lentamente. Como dizia Francisco, em Evangelii Gaudium, “o tempo é superior ao espaço” (n. 222) e, por isso, “este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos” (n. 223).

Ao contrário, a Igreja nunca precisou apelar para uma dinâmica de plebiscito porque está fundada sobre verdades eternas, as verdades da Fé, permanentes para todos os períodos da história. Os papas, os bispos, os sacerdotes ou qualquer outra autoridade nunca pensaram em mudar nada disso, por mais corruptos que fossem. A estrutura da Igreja foi criada para conservar e transmitir a Fé, e não para deixa-la à mercê das instabilidades das modas do momento. É justamente essa permanência que manteve a Igreja firme e estável por mais de dois milênios!

Não adianta nos comportarmos com aquela cegueira voluntária de quem se recusa a admitir os fatos. O Papa Francisco e toda a sua equipe, especialmente o gabinete das sombras, que atua de modo oculto e inteligente, estão atirando a Igreja Católica na diluição completa. Estamos às portas de mais uma imensa confusão que gerará nada mais nada menos que uma Igreja líquida. Resistamos e brademos sempre: Non praevalebunt!