Bento XVI responde a críticas à sua reflexão sobre Igreja e a crise de abuso sexual.

Vaticano, 27 Ago. 19 / 08:42 am (ACI).- O Papa Emérito Bento XVI respondeu às críticas sobre sua reflexão dedicada à crise de abusos, dizendo que muitas das reações confirmaram sua tese central, de que é a apostasia e o afastamento da fé o que se encontram no coração da crise, ao nem sequer mencionar Deus na crítica à sua reflexão.

Em uma breve declaração, em reação às críticas publicadas na revista alemã “Herder Korrespondenz”, Bento XVI adverte sobre um “déficit geral” nas reações à sua reflexão, indicando que, em grande parte, não entenderam o sentido desta.

Publicada pelo Grupo ACI e outros meios de comunicação, a reflexão de Bento XVI descreveu o impacto que teve a revolução sexual, assim como – independentemente desta – o colapso da teologia moral na década de 1960. O Papa Emérito sugeriu como a Igreja deveria responder, reconhecendo em princípio que “somente a obediência e o amor a nosso Senhor Jesus Cristo pode nos mostrar o caminho”.

As reações à reflexão foram particularmente veementes na Alemanha, onde os especialistas dizem que o Papa Emérito, natural da Baviera, foi objeto de críticas constantes por parte de certos setores.

Citando como exemplo a reação negativa de um professor alemão de história, Bento XVI assinala que, embora esse texto em particular tenha quatro páginas, “a palavra de Deus não aparece [nenhuma vez]”, apesar de a apostasia ter sido a reivindicação central de seu argumento.

As críticas deste tipo servem apenas para demonstrar “a gravidade da situação”, advertiu Bento XVI, “em que a palavra Deus muitas vezes parece estar à margem, mesmo na teologia”.

Foto da semana.

Vaticano, 05 Ago. 19 / 11:00 am (ACI).- O Papa Emérito Bento XVI recebeu em audiência privada e concedeu sua bênção a Mons. Livio Melina, reconhecido professor recentemente tirado do Pontifício Instituto João Paulo II, em uma decisão que gerou polêmica no mundo acadêmico.

Segundo informações concedidas ao Grupo ACI, Bento XVI recebeu Mons. Melina no dia 1º de agosto em audiência privada, durante a qual discutiram os recentes acontecimentos do Pontifício Instituto João Paulo II. Depois, concedeu a sua bênção, expressou sua solidariedade pessoal e assegurou-lhe sua proximidade na oração.

Fundado em 1981, por São João Paulo II, o instituto surgiu como espaço de formação científica em família, matrimônio e vida.

Mons. Melina foi o primeiro a obter um doutorado no Pontifício Instituto João Paulo II, em 1985, e chegou a presidi-lo por vários anos.

Em setembro de 2017, o Papa Francisco refundou o Pontifício Instituto João Paulo II, com base na necessidade de “uma renovada consciência do evangelho da família e dos novos desafios pastorais aos quais a comunidade cristã está chamada a responder”.

“A mudança antropológico-cultural, que hoje influencia todos os aspetos da vida e exige uma abordagem analítica e diversificada, não permite que nos limitemos a práticas da pastoral e da missão que refletem formas e modelos do passado”, disse o Santo Padre naquela ocasião.

Atualmente, o Grão-Chanceler do Pontifício Instituto João Paulo II é o Arcebispo Vincenzo Paglia, também presidente da Pontifícia Academia para a Vida.

Recentemente, um grupo de mais de 150 alunos do instituto publicou uma carta criticando as várias mudanças realizadas, entre as quais os novos estatutos, a retirada de Mons. Melina e a supressão da cátedra de Teologia Moral Fundamental.

Além disso, os estudantes criticaram o que consideram uma concentração excessiva de poder nas mãos de Dom Paglia.

Mons. Melina e Pe. José Noriega não voltarão a ensinar no Instituto João Paulo II no próximo ano. Tecnicamente, e porque todos os professores receberão novos contratos sob os novos estatutos do Instituto, ambos não serão demitidos, mas simplesmente não terão seus contratos renovados. É possível que possam continuar trabalhando com os alunos completando dissertações sob sua direção.

Em 29 de julho, o Pontifício Instituto João Paulo II publicou uma resposta às críticas dos estudantes, assegurando que a informação sobre “uma centralização de poder” nas mãos de Dom Paglia é “falsa”.

No entanto, um professor do instituto, consultado pelo Grupo ACI, disse que o Grão-Chanceler faz uso de um sistema complexo de normas para controlar todas as nomeações de professores sem nenhum contrapeso acadêmico.

Por sua parte, o vice-presidente do Pontifício Instituto João Paulo II, Pe. José Granados, advertiu recentemente que seus os estatutos da instituição e a mudança de professores e demissões são “um perigo para manter a herança de São João Paulo II”.

Bento XVI, o Pontifício Instituto João Paulo II e Mons. Livio Melina

Em comunicação com o Grupo ACI, o diretor da área de pesquisa do Pontifício Instituto João Paulo II, Pe. Juan José Pérez-Soba, destacou a profunda relação entre Bento XVI e a fundação de seu antecessor no pontificado, assim como com Mons. Livio Melina.

Joseph Ratzinger sempre acompanhou de perto o trabalho de Mons. Melina na cátedra de Teologia Moral Fundamental”, disse. “Em uma carta datada de 30 de junho de 1998, o então Cardeal Ratzinger se alegrava por causa da constituição, junto a esta cátedra, da ‘Área de pesquisa sobre teologia moral fundamental’”.

“Ratzinger valorizou o programa da Área de forma muito positiva”, recordou.

Pe. Pérez-Soba indicou que anos depois, em janeiro de 2003, “Ratzinger escreveu a Dom Rino Fisichella, então presidente do Instituto João Paulo II, concordando em participar de um congresso para o décimo aniversário da Veritatis Splendor, organizado pela própria área de pesquisa em teologia moral fundamental”.

Nesta missiva, o hoje Papa Emérito Bento XVI manifestou sua gratidão pelo trabalho da Área de Pesquisa em Teologia Moral Fundamental e destacou que é uma área “decisiva para a vida da Igreja“.

Para Pe. Pérez-Soba, “à luz dessa importância que Ratzinger dava à moral fundamental no Instituto, recebe nova luz a supressão da cátedra de Moral Fundamental e a retirada de Livio Melina”.

“Este movimento aparece agora como uma busca para mudar o paradigma da moral. Querem descartar a moral objetiva, que afirma a verdade sobre o bem ao qual o homem é chamado, seguindo a Veritatis Splendor. Pretende-se abrir um processo de revisão de toda a moral sexual desde o subjetivismo, começando pela Humanae Vitae”, advertiu.

“Já como Papa Bento XVI, Ratzinger enviou uma carta a Mons. Melina precisamente nos 40 anos da Humanae Vitae, para reafirmar a doutrina da Encíclica. Ali, relaciona o ensinamento de Paulo VI com o dom total de si que os esposos fazem entre si. Somente um amor fecundo e aberto à transmissão da vida é um amor total, onde os esposos se fazem mutuamente o dom de poder ser pais ou mães”.

O professor do Pontifício Instituto João Paulo II recordou depois que “enquanto Mons. Melina era presidente, Bento recebeu o Instituto várias vezes em audiência. A primeira delas, no XXV aniversário da fundação”.

“Em seu discurso, o Papa assinala dois elementos fundamentais da missão do instituto: primeiro, ensinar como o matrimônio e a família estão arraigados no âmago mais íntimo da verdade sobre o homem e sobre o seu destino. E, segundo, mostrar que a revelação de Cristo assume e ilumina a profundidade da experiência humana. O grande número de famílias que, tendo estudado no instituto, participou desta audiência, era mostra de uma grande fecundidade pastoral no ensinamento de João Paulo II.

Outra audiência importante de Bento XVI ao Pontifício Instituto João Paulo II, assinalou, foi a de 5 de abril de 2008, por ocasião de um congresso intitulado “O óleo sobre as feridas”, sobre as pessoas afetadas pela experiência do divórcio e do aborto.

“Mostra-se assim que a ideia de um Instituto João Paulo II preocupado apenas por uma doutrina rígida e insensível aos problemas concretos das famílias é falsa. O Papa elogia a imagem do Bom Samaritano usada no congresso para iluminar a dor de muitos homens que hoje estão feridos e nus à beira do caminho. Bento XVI convida o Instituto a continuar a aprofundar sua missão de levar a misericórdia de Jesus aos homens, ensinando-lhes os caminhos para o amor verdadeiro”, disse.

Por fim, Pe. Pérez-Soba recordou o discurso por ocasião do XXX aniversário do Pontifício Instituto João Paulo II, realizado em 13 de maio de 2011. “Bento XVI o dedicou à teologia do corpo, que o Instituto recebeu de João Paulo II como herança viva para proteger e promover. Bento XVI falou da família como o lugar onde a teologia do corpo e a teologia do amor se encontram”, assinalou.

A corte servil de Francisco vai à loucura.

Os bajuladores do Papa Bergoglio estão indignados com a manifestação de Bento XVI. Da matéria de LifeSiteNews

Os católicos que vêem Francisco como um campeão das mudanças tratam a carta do Papa Emérito com escarnio:

O historiador da Igreja Massimo Faggioli, professor na Universidade de Villanova, escreveu no twitter que o Papa Emérito um “deslize” e listou outros que alega terem sido cometidos que Bento.

“O deslize de hoje de B16 me lembra outros: o livro de co-autoria com [Marcelo] Pera, o discurso de Regensburg, o batismo de Magdi Allam em São Pedro, afirmou.

O teólogo Brian Flanagan, que ensina na Universidade de Marymount, declarou que a carta de Bento era “embaraçosa”.

“A idéia de que o abuso sexual de crianças na Igreja era resultado da década de 60, de um suposto colapso da teologia moral e da ‘conciliaridade’ é uma explicação embaraçosamente errada do sistêmico abuso de crianças e seu acobertamento”, escreveu Flanagan via Twitter.

O jornalista Robert Mickens, que trabalho tanto na Rádio Vaticano como no jornal inglês de esquerda The Tablet, tweetou: “Em que mundo esse homem vive?” e “Alguém precisa de alguns livros de colorir”.

No entanto, nem todos os membros do “Time Francisco” desdenharam do pontífice aposentado.

Pe. James Martin, SJ, que contribui para revista America, foi respeitoso para com o Papa Emérito, enquanto via problemas com seu foco na heterodoxia.

“Tenho grande respeito pelo Papa Emérito Bento XVI, especialmente como teólogo”, ele afirmou no  Twitter. “No entanto, discordo da maior parte de sua análise sobre a crise de abusos sexuais. Culpar uma pobre teologia e os costumes de 1960 dramaticamente é um erro”.

O biógrafo inglês do Papa Francisco Austen Ivereigh  tomou uma posição mais neutra, tweetando em uma longa série de comentários em, enquanto os pensamentos de Bento eram “em sua maior parte previsíveis”, eles contêm “alguns pontos interessantes” e finalmente apoia a própria “estratégia anti-abuso” de Francisco.

Alguns católicos expressaram dúvida de que Bento tivesse escrito a carta, ou que fosse seu único autor. Todavia, Dom Georg Gänswein, secretário do Papa Emérito, afirmou, segundo  The New York Times, que o ensaio era trabalho do próprio Bento.

Bento XVI rompe o silêncio sobre a crise de abusos sexuais na Igreja Católica.

Em ensaio redigido em língua alemã, publicado na quinta-feira, o papa emérito oferece um caminho a seguir.

Por Edward Pentin, 10 de abril de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com – Em seu pronunciamento mais significativo desde que renunciou ao papado, em 2013, o Papa Emérito Bento XVI escreveu um longo ensaio sobre os abusos sexuais cometidos por clérigos, no qual explica a sua visão das causas da crise, os efeitos que ela tem exercido sobre o sacerdócio, e qual seria a melhor reação por parte da Igreja.

Pope Benedict in 2010

Discorrendo com mais de 6.000 palavras e a ser publicado em 11 de abril no Klerusblatt, uma publicação mensal de pequena circulação da Bavária, Bento XVI atribui a culpa predominantemente à revolução sexual e ao colapso da teologia moral católica desde o Concílio Vaticano Segundo. Ele alega que esses fatos resultaram em um “colapso” na formação dos seminários anterior ao Concílio.

Bento critica o direito canônico por inicialmente ser insuficiente para tratar do flagelo, explica as reformas que introduziu para lidar com os casos de abusos e afirma que “somente a obediência e o amor a nosso Senhor Jesus Cristo” podem tirar a Igreja da crise.

O papa emérito inicia o seu ensaio, intitulado “A Igreja e o Escândalo de Abusos Sexuais,” observando que a “extensão e a gravidade” da crise de abusos têm “entristecido profundamente” sacerdotes e leigos e “levado não poucos a questionarem a própria fé da Igreja.”

Relembrando o encontro nos dias 21 a 24 de fevereiro, no Vaticano, para tratar da proteção de menores na Igreja, ele diz que foi “necessário” enviar uma “mensagem forte” e buscar um “novo início”, para que a Igreja pudesse novamente se tornar “verdadeiramente credível.”

Bento escreve que compilou notas dos documentos e relatórios daquele encontro que culminaram nesse texto, que ele afirma ter mostrado ao Papa Francisco e ao Cardeal Pietro Parolin, o secretário de estado do Vaticano.

Este ensaio esta dividido em três partes. A primeira consiste em um exame do “contexto social mais amplo” da crise, na qual ele diz que tenta mostrar que um “evento egrégio” ocorreu nos anos 60 “em uma escala sem precedentes na História.”

Uma segunda seção trata dos efeitos desses fatos na “formação dos sacerdotes e nas vidas dos sacerdotes.”

E em uma terceira parte ele desenvolve “algumas perspectivas para uma resposta apropriada por parte da Igreja.”

‘Revolução de 1968’

Para dar uma ideia do contexto social mais amplo, o papa emérito relembra a “liberdade sexual total” que se seguiu à “Revolução de 1968”. Ele diz que de 1960 a 1980 os “padrões relacionados à sexualidade desmoronaram inteiramente,” resultando na “falta de regras”, que, a despeito das “tentativas trabalhosas,” não foi interrompida.

Citando basicamente exemplos dos países europeus de língua alemã, ele se recorda da educação sexual com imagens gráficas patrocinada pelo Estado, anúncios lascivos e “filmes de sexo e pornografia” que se tornaram uma “ocorrência comum” após 1968. Segundo ele, isso, por sua vez, levou à violência e agressão, e a pedofilia foi “diagnosticada como permitida e apropriada.”

Ele pensou naquele tempo como os jovens se aproximavam do sacerdócio nesse ambiente e diz que o colapso das vocações e o “número altíssimo de laicizações” foram consequência de todos esses processos.”

Ao mesmo tempo, a teologia moral católica também “sofreu um colapso,” ele diz, tornando a Igreja “indefesa contra essas mudanças na sociedade.”

Ele explica que, até o Concílio Vaticano Segundo, a teologia moral fundava-se em grande parte na lei natural, mas a “luta por uma nova compreensão da Revelação”, fez com que a “lei natural fosse amplamente abandonada, exigindo-se que a teologia moral fosse baseada inteiramente na Bíblia.

Consequentemente, diz Bento, nada mais poderia ser “constituído um bem absoluto”, mas apenas o “relativo” poderia ser “melhor, dependendo do momento e das circunstâncias”.

Essa perspectiva relativista alcançou “proporções dramáticas” ao final dos anos 80 e 90, quando surgiram documentos como a Declaração de Colônia,” de 1989, que discordou do ensinamento do Papa São João Paulo II, causando um “clamor contra o Magistério da Igreja”. Ele lembra como João Paulo II tentou conter a crise da teologia moral através de sua encíclica Veritatis Splendor , de 1993, e a criação do Catecismo.

Todavia, os teólogos dissidentes começaram a aplicar a infalibilidade somente a questões de fé e não de moral, ainda que, Bento escreve, o ensinamento moral da Igreja esteja profundamente relacionado à fé. Aqueles que negam essa realidade, ele continua, forçam a Igreja a permanecer em silêncio “precisamente onde a fronteira entre a verdade e a mentira está em jogo.”

Colapso de Formação

Voltando-se para a segunda parte do ensaio, Bento diz que esse “processo contínuo – preparado há muito tempo – de dissolução do conceito cristão de moralidade” levou a um “colapso de longo alcance” na formação sacerdotal.

Ele observa como “diversos clubes homossexuais de seminários” exerceram um impacto significativo sobre os seminários, resultando, ao menos nos EUA, em duas visitas apostólicas que tiveram poucos frutos.

Mas ele também salienta como as mudanças para a nomeação de bispos após o Vaticano II enfatiza a ‘conciliaridade”, levando a uma “atitude negativa” em relação à tradição – tanto é assim que Bento diz que até mesmo seus próprios livros foram “escondidos”, considerados como má literatura, e somente lidos debaixo da mesa.”

A pedofilia só se tornou “aguda” ao final dos anos 80, mas o direito canônico da época “não parecia suficiente” para lidar com o crime. Roma acreditava que a “suspensão temporária” era suficiente para “purificar e esclarecer”, mas os bispos americanos que lidavam com a crise de abusos do clero americano emergente não aceitava isso, porque os supostos abusadores ainda estavam “diretamente associados” aos seus bispos. Uma “renovação e aprofundamento” da “lei penal deliberadamente interpretada de maneira vaga” do Código de Direito Canônico de 1983 então começou a ocorrer “lentamente”.

Bento também salientou outro problema canônico: a percepção da Igreja do direito penal, que garantiu plenamente os direitos do réu de que “qualquer condenação” fosse “efetivamente excluída” – algo que ele descreve como “garantismo”.

Mas Bento argumenta que uma “lei canônica formada de maneira apropriada” deve conter uma “garantia dupla” – proteções legais tanto para o acusado quanto para o “bem em jogo”, que ele define como proteger o depósito de fé. A fé “não parece mais” ser um bem que “precisa de proteção”, acrescentando que esta é uma “situação alarmante” que os pastores devem levar “a sério”.

Para auxiliar a superar esse “garantismo”, Bento decidiu, com João Paulo II, transferir os casos de abuso da Congregação para o Clero para a Congregação para a Doutrina do Fé (CDF) – um movimento, segundo ele, que era crucialmente importante para a Igreja, uma vez que essa má conduta “em última análise, prejudica a fé” e isso possibilitou que “a pena máxima” fosse imposta.

Todavia, ele acrescenta que um aspecto do garantismo permaneceu em vigor, a saber, a necessidade de “prova clara do crime”. Para assegurar que as penalidades fossem legalmente impostas, Bento diz que a Santa Sé iria assumir as investigações dos casos se as dioceses estivessem “sobrecarregados” pela necessidade de um “processo penal genuíno”. A possibilidade de recurso também foi oferecida.

Mas tudo isso estava “além das capacidades” da CDF na época, levando a atrasos. Bento observa que o “Papa Francisco empreendeu reformas adicionais”.

 O que precisa ser feito

Voltando-se para o que precisa ser feito, Bento argumenta que a tentativa de “criar outra Igreja” já “fracassou” e prossegue dando uma catequese sobre como o “poder do mal surge da nossa recusa em amar a Deus”.

Ele ensina que um mundo sem Deus “só pode ser um mundo sem sentido”, sem padrões de “bem ou mal”, onde “o poder é o único princípio” e “a verdade não conta”. Uma sociedade sem Deus “significa o fim da liberdade”, continua ele, e a sociedade ocidental é aquela em que “Deus está ausente” e não resta nada para oferecer “.

“Em aspectos individuais torna-se subitamente evidente que aquilo que é ruim e destrói o homem tornou-se uma coisa óbvia”, escreve Bento. “Esse é o caso da pedofilia. Ela foi teorizada somente há pouco tempo como bastante legítima, mas tem se disseminado cada vez mais. E agora percebemos com surpresa que estão acontecendo coisas com nossos filhos e jovens que ameaçam destruí-los. O fato de que isso também poderia se espalhar na Igreja e dentre os sacerdotes deveria nos perturbar de maneira particular”.

Ele diz que a pedofilia atingiu essas proporções por causa da “ausência de Deus”, e observa como cristãos e sacerdotes “preferem não falar sobre Deus”, e que Ele “tornou-se assunto privado de uma minoria”.

Portanto, a “tarefa primordial” é colocar Deus novamente no “centro de nossos pensamentos, palavras e ações”, para sermos “renovados e dominados pela fé”, em vez de sermos “mestres de fé”.

Ele diz que o Concílio Vaticano Segundo “acertadamente” concentrou-se em trazer de volta a presença real de Cristo ao centro da vida cristã, mas, hoje em dia “prevalece uma atitude muito diferente”, que destrói a “grandeza do Mistério”. Isso resultou em uma participação reduzida na missa dominical, na desvalorização da Eucaristia como “gesto cerimonial” e na recepção da Sagrada Comunhão como simplesmente “algo natural”.

“O que é necessário primeiro e acima de tudo é a renovação da Fé na Realidade de Jesus Cristo, que nos foi dado no Santíssimo Sacramento”, diz Bento. “Em conversas com vítimas de pedofilia fiquei ciente dessa realidade.”

A Santa Igreja Indestrutível

Ele observa também que a Igreja hoje em dia é “amplamente considerada como apenas algum tipo de aparato político,” dito em “categorias políticas” como algo que precisamos “agora tomar em nossas próprias mãos e redefinir.” Porém, uma “Igreja feita por si mesma não pode constituir esperança,” ele diz.

Observando que a Igreja é atualmente e sempre foi constituída de trigo e ervas daninhas, de “peixes ruins” e “bons peixes,” ele diz que proclamar ambos “não é uma forma falsa de apologética, mas um serviço necessário à Verdade.”

Segundo ele, o demônio é identificado no livro do Apocalipse como “o acusador que acusa nossos irmãos diante de Deus dia e noite”, porque ele “quer provar que não há pessoas justas”. Hoje, a acusação contra Deus significa “acima de tudo depreciar a Sua Igreja como ruim em sua totalidade e, dessa forma, dissuadindo-nos dela”.

Todavia, ele enfatiza que, também hoje, uma Igreja é “não apenas constituída de peixes e ervas daninhas ruins”, mas continua a ser o “próprio instrumento” através do qual Deus nos salva.

“É muito importante opor-se às mentiras e meias verdades do demônio com a verdade integral”, diz Bento. “Sim, há pecado na Igreja e o mal. Porém, mesmo hoje em dia há a Santa Igreja, que é indestrutível “.

E ele lembra que “muitas pessoas que humildemente acreditam, sofrem e amam, nas quais o Deus real, o Deus amoroso, Se revela a nós,” bem como “Suas testemunhas (mártires) no mundo.”

“Precisamos apenas estar vigilantes para vê-los e ouvi-los,” ele diz, acrescentando que uma “inércia do coração” nos leva a “não desejar reconhecê-los” — mas reconhecê-los é fundamental para a evangelização, ele diz.

Bento encerra agradecendo ao Papa Francisco “por tudo que ele faz para nos mostrar, repetidas vezes, a luz de Deus, que não desapareceu, até mesmo hoje em dia. Obrigado, Santo Padre!”

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A seguir, divulgamos a íntegra do texto de Bento XVI.

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O novo livro de Antonio Socci, “O Segredo de Bento”, já é um sucesso editorial.

Por Campari e de Maistre, 22 de novembro de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com: Não tem o que dizer! Antonio Socci, mais uma vez, soube captar a tendência. Bastou que se publicasse um link na sua página, relativo ao seu novo livro “O segredo de Bento XVI – Porque ele ainda é Papa”, para acabar no topo dos mais vendidos da Amazon, onde, no momento em que escrevo, está como o 20º livro mais vendido e obviamente o 1º na da sub-categoria dos livros religiosos. Isso quer dizer que, em pouco mais de 24h, foram compradas dezenas de milhares de cópias.

O problema é que o livro ainda nem foi publicado. Estará disponível em 27 de novembro. Portanto, foi comprado “na confiança”.

Mais uma vez, o grande público está bastante interessado pela hipótese de que Bento XVI seja ainda o Papa e os fiéis continuam a se perguntar o porquê da renúncia e quais seriam as consequências teológicas daquela escolha. Dificilmente, dizemo-lo a quem já está sugestionado, torcendo o nariz e gritando contra as “viúvas ratzingerianas”, ninguém aqui está querendo recolocar no trono o papa emérito… Mas entender o que aconteceu há cinco anos, isso queremos sim.

Veremos se o livro é apenas um blockbuster bem sucedido ou se explicará algo de novo.

Reportamos, neste meio tempo, a sinopse e o link:

O segredo de Bento XVI – Porque ainda é Papa. 

A Igreja atravessa a mais grave crise da sua história, segundo tantos observadores. Colocam-se sempre mais perguntas sobre aquilo que teria acontecido em 2013, com a surpreendente “renúncia” de Bento XVI, a sua decisão de se tornar “papa emérito” e a convivência de dois papas. Por que Bento XVI se tornou um sinal de contradição? O que estava acontecendo em nível geopolítico? Quem propunha uma revolução dentro da Igreja Católica? O papa realmente “se demitiu”? São as perguntas que Antonio Socci tenta responder através dos fatos, os gestos e as palavras de Bento XVI nestes seis anos, descobrindo, como em um apaixonante suspense, que ele ainda continua sendo o papa, e isto tem consequências ainda inexploradas. Nesta fascinante e documentada investigação, procura-se entender o que está acontecendo no Vaticano, mas sobretudo se indaga sobre a misteriosa renúncia à qual Bento XVI sentiu-se chamado, por causa da Igreja e do mundo. O autor ainda lança a hipótese de que tenham existido acontecimentos sobrenaturais na origem dessa escolha. Há que se decifrar, também, uma antiga profecia que diz respeito à Bento XVI, além de uma nova revelação que chega de Fátima, a qual não diz respeito apenas à Igreja, mas ao mundo inteiro.

Bento XVI é contrário à comunhão para protestantes na Alemanha.

Por Gloria.TV | Tradução: FratresInUnum.com – Bento XVI deu “pleno apoio a sete bispos e sua carta ao Vaticano” contra a comunhão a protestantes, informou [o vaticanista] Edward Pentin. Escrevendo para o National Catholic Register (25 de abril), Pentin se refere a “fontes confiáveis e com autoridade”.

Em fevereiro, a [totalmente decadente] conferência dos bispos alemães “permitiu” a protestantes receberem a Sagrada Comunhão.

Porém, sete bispos se opuseram à medida e recorreram a Roma para esclarecimento [que provavelmente nunca será dado].

Leia também: Seria Ratzinger contrário à proposta de intercomunhão dos bispos alemães?

Longe de continuidade, há um abismo. A verdadeira história dos onze opúsculos.

Por Sandro Magister, Settimo Cielo, 26 de março de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com – Conforme passam os dias, é cada vez mais evidente que Francisco não demitiu nem castigou, absolutamente, a Mons. Dario Edoardo Viganò, por conta da maneira com que utilizou o que lhe escreveu Bento XVI.

libretti1Pelo contrário, confirmou e inclusive reforçou seus poderes, renovando-lhe, explicitamente, a determinação de concluir a consolidação de todos os meios de comunicação do Vaticano, inclusive “L’Osservatore Romano”, em um “único sistema comunicativo” totalmente controlado por ele, em linha direta com o Papa e destinado a cuidar da imagem de pastor exemplar e também de teólogo culto.

De fato, a operação em que se instrumentalizou a carta de Bento é parte deste desenho geral.

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A origem da operação se remete ao outono passado, quando Viganò colocou à frente da Libreria Editrice Vaticana um novo diretor, Giuliu Cesareo, de 39 anos, franciscano, com estudos teológicos em Friburgo e docente de teologia moral.

Em 12 de outubro de 2017, dia da nomeação, os dois estiveram em Frankfurt, na Feira do Livro que se celebra anualmente. Viganò declarou que a mudança de diretor da Libreria Editrice Vaticana “configura um novo reforço importante no processo de reforma pedido pelo Santo Padre”. E ambos anunciaram que a nova linha editorial seria inaugurada com uma coleção de onze opúsculos de diversos autores, que objetivava “mostrar a profundidade das raízes teológicas do pensamento, dos gestos e do ministério do Papa Francisco”.

Nos dias do Natal, a coleção chegou às livrarias de Roma. E entre os autores aparecem importantes nomes do campo teológico progressista, ou totalmente partidários da “mudança de paradigma” colocada em movimento por Francisco, como os argentinos Carlos Galli e Juan Carlos Scannone, os alemães Peter Hünermann e Jürgen Werbick, os italianos Aristide Fumagalli, Piero Coda, Marinella Perroni e Roberto Repole, o jesuíta esloveno Marko Ivan Rupnik, este último mais apreciado como artista do que como teólogo, e já há algum tempo diretor espiritual do próprio Viganò.

Na escolha destes autores, é significativa, particularmente, a de Hünermann. Dois anos mais novo que Joseph Ratzinger, foi-lhe um adversário irredutível durante toda a sua vida, sustentando, entre outros pontos, uma tese sobre a natureza do Concílio Vaticano II que o próprio Ratzinger, uma vez Papa Bento XVI, sentiu-se obrigado a citar e refutar em seu célebre discurso de 22 de dezembro daquele mesmo ano, sobre a reta interpretação do Concílio.

Disse Bento, com uma referência implícita a Hünermann, que não passou despercebida pelos entendedores:

“[Para alguns] o Concílio é considerado como uma espécie de Assembleia Constituinte, que elimina uma Constituição antiga e cria uma nova. Porém, a Assembleia Constituinte precisa de uma autoridade que lhe confira o mandado e, depois, uma confirmação por parte dessa assembleia, isto é, do povo ao qual a Constituição deve servir. Os padres não tinham mandado e ninguém lhes deu; ademais, ninguém lhes poderia dar, porque a Constituição essencial da Igreja provém do Senhor”.

Quanto a Jorge Mario Bergoglio, Hünermann o conhece desde o longínquo 1968, quando permaneceu em Buenos Aires para um período de estudo, no colégio dos jesuítas. E, uma vez Papa, teve com ele uma longa conversa em Santa Marta, em maio de 2015, no intervalo entre os dois sínodos sobre o matrimônio e divórcio.

Hünermann deu a conhecer os detalhes dessa conversa em uma longa entrevista publicada em  “Commonweal“, em 22 de setembro de 2016.

A pedido de amigos latino-americanos de Bergoglio, Hünermann enviou ao Papa um informe escrito, no qual argumentava que na teologia católica anterior ao Concílio de Trento, especialmente em Santo Tomás de Aquino e São Boaventura, a indissolubiidade do matrimônio não era um absoluto, mas admitia a ruptura. E o mesmo ocorria com a absolvição sacramental do adultério, também admitida apesar da continuidade da relação.

Na conversa posterior com o Papa Francisco, os dois falaram disso, em espanhol, durante uma hora. E depois, no ano seguinte, veio a exortação “Amoris Laetitia”, a qual, segundo Hünermann, levou em conta esta sua contribuição.

Pois bem, em 12 de janeiro deste ano, somente passadas as festas de Natal, Viganò envia a Bento XVI os onze opúsculos reunidos em um estojo, juntamente com uma carta em que pede que escreva uma apresentação deles, elogiando o conteúdo e recomendando sua leitura.

Não se conhece o texto da carta de Viganò. Porém, a substância do que está escrito nela se pode depreender da carta de resposta de Bento XVI, datada de 7 de fevereiro, esta sim posteriormente conhecida.

É evidente a intenção do pedido dirigido por Viganò ao Papa emérito: arrancar do grande teólogo Bento XVI a sua aprovação pública do “novo paradigma” de seu sucessor, tal como ilustrado nos opúsculos por uma fila de teólogos recrutados entre os apologetas do novo programa.

Vendo o conteúdo e os autores dos opúsculos, o atrevimento do pedido feito por Viganò a Bento XVI deixa boquiabertos a muitos.

É totalmente negativa, de fato, a resposta de Bento na carta “pessoal reservada” enviada por ele a Viganò, em 7 de fevereiro.

O Papa emérito se nega a escrever “a breve e densa página teológica”, que lhe foi pedida,  sobre os opúsculos. Diz que não os leu nem os lerá futuramente. Expressa sua “surpresa” ao ver, entre os autores escolhidos, o “professor Hünermann, quem, durante meu pontificado, colocou-se em evidência por encabeçar iniciativas anti papais”.

Ademais, ao responder a Viganò, Bento se sente na obrigação de rechaçar por si mesmo o “tolo preconceito” segundo o qual ele teria sido “apenas um teórico da teologia que pouco compreendera da vida concreta do cristão atual”.

Assim como seria injusto, escreve, pensar que “o Papa Francisco seria somente um homem prático privado de particular formação teológica ou filosófica”. Porque, certamente, insiste ele, “é um homem de uma profunda formação teológica e filosófica”.

Se se quer reconhecer uma “continuidade” entre seu pontificado e o de Francisco, Bento XVI especifica que ela deve ser considerada “interior”.

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O que se seguiu já é conhecido. Na tarde de 12 de março, na véspera do quinto aniversário de eleição do Papa Francisco e por ocasião do lançamento, com toda pompa, no Vaticano — com o primeiro expositor sendo o Cardeal Walter Kasper — dos onze opúsculos, Viganò distribui um comunicado de imprensa no qual cita da carta de Bento XVI somente as poucas linhas referidas sobre “a profunda formação teológica” de Bergoglio e a continuidade entre os pontificados.

Inicialmente, Viganò obtém plenamente o que se propõe, isto é, um compacto coro de louvor nos meios de comunicação, sobretudo os italianos, pela suposta adesão pública de Bento XVI ao novo programa empreendido pelo papa Francisco.

Exceto que, no dia seguinte, 13 de março, Settimo Cielo publica também o outro parágrafo da carta de Bento XVI que contém sua recusa a ler e escrever qualquer coisa sobre os livretos, parágrafo também precipitadamente lido em público por Viganò na tarde anterior, porém, totalmente ignorado pelas dúzias de jornalistas presentes.

Então se desencadeou a tempestade. Pois, desde os meios de comunicação do mundo todo, recai agora sobre Viganò a acusação de ter construído e difundido uma “fake news” de gravidade inaudita, não só com o comunicado de imprensa, mas também com a foto oficial da carta de Bento XVI,  borrada em suas linhas mais incômodas.

A tempestade chega a seu ápice na manhã de 17 de março, quando, novamente, Settimo Cielo antecipa o último parágrafo da carta, que faz referência a Hünermann.

No entardecer do mesmo dia, Viganò é então obrigado a publicar o texto integral da carta de Bento XVI.

Dois dias depois, em 19 de março, ele pede por escrito ao Papa Francisco que aceite sua renúncia como prefeito da Secretaria para a Comunicação.

E, em 21 de março, Francisco a aceita, mas, também escreve, “não sem certo pesar”.

As duas cartas, na realidade, ambas publicadas no meio dia de 21 de março, não fazem a mínima alusão de arrependimento pela inédita maquinação realizada em desfavor de Bento XVI, que sequer é nomeado.

Em sua carta ao Papa, Viganò lamenta unicamente as “muitas polêmicas em torno do que foi feito por mim, que, para além das intenções, desestabilizam o complexo e grande trabalho de reforma que o senhor me confiou”.

E Francisco, em sua carta de resposta, precedida por conversas e encontros pessoais entre os dois, não faz outra coisa senão encher Viganò de elogios pelo trabalho de reforma realizado por ele até então, e volta a confirmar a ordem de concluí-lo, no novo papel de “assessor” criado deliberadamente para ele na Secretaria para a Comunicação.

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Mas, voltando à carta de Bento XVI de 7 de fevereiro, é útil examinar mais de perto a sua referência a Hünermann.

Recorda que ele “participou de forma relevante do lançamento da “Kölner Erklärung” [Declaração de Colonia], que, em relação à encíclica “Veritatis Splendor”, atacou de forma virulenta a autoridade magisterial do Papa, especialmente em questões de teologia moral”.

Com efeito, a “Declaração de Colônia” foi um ataque frontal lançado em 1989 por diversos teólogos, em sua maioria alemães, contra o ensinamento de João Paulo II e de seu prefeito da doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, sobretudo em matéria de teologia moral.

O que fez explodir o protesto foi a nomeação, como arcebispo de Colônia, do cardeal Joachim Meisner, o mesmo que, em 2016, foi um dos signatários dos “dubia” apresentados ao Papa Francisco acerca de Amoris Laetitia e sobre quem, em 2017, em seu dia de sepultamento, Bento XVI escreveu palavras profundas e impactantes.

Entre os signatários da “Declaração de Colônia” estava a nata do progressismo teológico, desde Hans Küng a Bernhard Häring, desde Edward Schillebeeckx a Johann Baptist Metz.  E estiveram também dois dos autores dos atuais onze opúsculos sobre a teologia do papa Francisco: Hünermann e Werbick.

À tese da “Declaração de Colônia”, João Paulo II reagiu, em 1993, com a encíclica “Veritatis Splendor” — que não foi citada uma única vez por Francisco em “Amoris Laetitia”. Enquanto que, por sua vez, nos parágrafos 303-305, “Amoris Laetitia” retoma e faz suas algumas das teses da “Declaração de Colônia”, especialmente ali onde, em seu terceiro e último ponto, atribui-se à consciência e à responsabilidade individual o juízo em decisões morais.

Neste mesmíssimo terceiro ponto da “Declaração de Colônia” ataca-se frontalmente a encíclica de Paulo VI “Humanae vitae“, reinvidicando a licitude dos anticoncepcionais. E também sobre este ponto o pontificado de Bergoglio está se movimento na mesma direção.

Pelo contrário, no texto quiçá mais amplo e meditado até agora publicado por Bento XVI desde sua renúncia, em um volume de 2014 de diversos autores sobre João Paulo II, o Papa emérito não duvida em indicar precisamente “Veritatis splendor” como a encíclica mais crucial desse pontificado para o tempo atual. “Estudar e assimilar esta encíclica — conclui — continua sendo um grande e importante dever”.

Não por acaso que três dos cinco “dubia” apresentados a Francisco por alguns cardeais em 2016 têm como tema justamente o risco de abandonar os fundamentos da doutrina moral confirmados em “Veritatis Splendor”.

E nem sequer é casualidade que Ratzinger tenha recordado, em sua carta a Viganò, precisamente a contestação aos princípios de “Veritatis Splendor” por parte dos teólogos da “Declaração de Colônia”, hoje no auge e clamorosamente citados por Francisco.

Um Papa cuja “continuidade” com seu predecessor pode ser realmente, neste ponto, única e totalmente “interior”.

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POST SCRIPTUM – Em 25 de março, na homilia da Missa de Domingo de Ramos, o Papa Francisco deu esta lição a quem elabora uma notícia falsa “quando se passa dos fatos para uma versão dos fatos”:

“É a voz de quem manipula a realidade e cria um relato conforma a sua conveniência e não tem problema em “manchar” a outros para se sair bem. É o grito de quem não tem problema em buscar os meios de se fazer mais forte e silenciar as vozes dissonantes. É o grito que nasce do “girar” a realidade”.

O Papa disse isso sem se ruborizar, como que esquecido do que se fez poucos dias antes em sua casa, com a carta de Bento XVI.

Georg Ratzinger fala das condições de saúde de Bento XVI.

Apesar do desmentido oficial por parte da Santa Sé, cremos ser de interesse de nossos leitores a divulgação da matéria abaixo.

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“Meu irmão Joseph tem uma doença paralisante”.

Georg Ratzinger, entrevistado pelo “Neue Post”, afirmou que o papa emérito está doente: “O que preocupa é que a paralisia possa chegar ao coração”

Por Andrea Tornielli, Vatican Insider, 14 de fevereiro de 2017 |  Tradução: Marcos Fleurer -: Georg Ratzinger, de 94 anos é irmão do “nonagenário” Papa Emérito; entrevistado recentemente, afirmou que uma “doença paralisante” estaria afetando Bento XVI. Não é a primeira vez que o monsenhor bávaro, diretor emérito do coro dos Domspatzen, faz afirmações um pouco alarmistas sobre seu familiar, como aquela entrevista, um dia após a eleição do pontífice alemão, treze anos atrás, quando ele disse que Joseph era “Muito velho” e que ele estava “muito doente” para ser Papa.

As palavras de Georg Ratzinger foram publicadas na revista “Neue Post”, e também apareceu nas páginas alemãs do site oficial da Santa Sé “Vatican News”. O irmão do Pontífice referiu-se a uma doença paralisante que obriga Joseph a “recorrer a uma cadeira de rodas”. O que mais preocupa é que a paralisia pode atingir seu coração, e então ele poderia terminar tudo subitamente “. Ele acrescentou: “Rezo todos os dias para pedir a Deus a graça de uma boa morte, em um bom tempo, para mim e para o meu irmão. Nós dois temos esse grande desejo ».

Georg Ratzinger também disse que ele fala diariamente pelo telefone com seu irmão e, como de costume, planeja visitá-lo no Vaticano para o próximo aniversário (91 primaveras), no dia 16 de abril. Mas, acrescentou, “falta muito tempo. Quem sabe o que acontecerá até então … ».

Como se recordará, há poucos dias o papa emérito escreveu uma carta ao jornalista Massimo Franco, no qual ele disse que era “um peregrino a caminho de Casa” e referiu-se ao cansaço de “este último trecho da estrada”.

Nos últimos dois anos, a fragilidade física do papa emérito tem sido evidente para todos, inclusive como pode ser visto com as fotos e “selfies” que os que o visitam costumam tirar. No entanto, Bento XVI continua lúcido, ainda sai do mosteiro onde vive, ainda se encontra com pessoas, apesar de ter algumas dificuldades locomotoras.