Falece Carmen Hernandez, iniciadora do Caminho Neocatecumenal.

Madri (RV) – Faleceu terça-feira (19/07) aos 85 anos, em Madri, Carmen Hernandez, que iniciou com Kiko Arguello o Caminho Neocatecumenal na Espanha na década de 60.

Esta realidade da Igreja foi concebida como um ‘percurso de formação católica ou fundação de bens espirituais’, uma forma atual da dinâmica das primeiras comunidades cristãs.

Acordar, tomar café, fazer uma caminhada e... dar uma palavrinha com o Papa. Eis o protocolo dos líderes do Caminho Neocatecumenal: Bento XVI recebe, respectivamente, “Kiko” Argüello, Carmen Hernández e Pe. Mario Pezzi, em 13 de novembro passado, para receber informações sobre a próxima Jornada Mundial da Juventude. Fonte: Santa Iglesia Militante.
Carmen Hernández e fundadores do movimento Caminho Neocatecumenal visitam Bento XVI em 2010.

Vocação missionária

Nascida em Ólvega, depois de se formar em Química ingressou no Instituto das Missionárias de Cristo Jesus e obteve um mestrado em teologia. Tornou-se catequista entre trabalhadores imigrantes, na periferia madrilena, ao lado de Argüello, na década de 60.

O relacionamento de amizade entre ambos, ao qual se somou Padre Mario Pezzi, foi o alicerce da nascitura obra do Caminho Neocatecumenal. Da periferia de Madrid, parte para o anúncio nas paróquias; da Espanha passa à Itália e a ação começa a se organizar com um verdadeiro catecumenato pós-batismal.

O Caminho no mundo

Hoje existem 30 mil comunidades neocatecumenais em 120 países do mundo e somam cerca de um milhão de membros.

Em 1º de julho passado, o Papa recebeu Argüello e Pe. Pezzi no Vaticano e juntos, telefonaram para Carmen, em Madri, para encorajá-la, nos seus últimos dias de vida.

Os funerais serão quinta-feira, 21 de julho, às 18h, na Catedral da Almudena, em Madri, presididos pelo arcebispo, Dom Carlos Osoro Sierra.

Sandro Magister: Papa Francisco bloqueou exame desfavorável à “liturgia neocatecumenal”.

Da coluna de hoje de Sandro Magister:

A segunda decisão tomada pelo Papa Francisco no âmbito litúrgico foi a substituição em bloco de cinco consultores do departamento das celebrações papais.

Enquanto os anteriores estavam em sintonia com o estilo celebrativo de Bento XVI, entre os novos volta a aparecer, no entanto, algum dos mais fervorosos fautores das inovações introduzidas nos anos de João Paulo II sob a direção do então mestre de cerimônias pontifícias Piero Marini.

Correm vozes no Vaticano — para terror dos amantes da tradição — de que Piero Marini pode inclusive ser nomeado por Bergoglio como prefeito da Congregação para o Culto Divino. Mesmo que estas vozes sejam infundadas, fica o fato de que as atuais liturgias papais se diferenciam muito visivelmente das de Bento XVI.

O ápice desta diferença foi a missa celebrada por Francisco na praia de Copacabana, ao fim da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, com o “musical” que irrompeu no próprio coração da liturgia, com solistas, coros e ritmos de estádio de futebol.

Mas sem chegar a estes excessos, há elementos recorrentes no estilo celebrativo do Papa atual que surpreendeu esses fiéis negativamente, aos quais deu voz pesarosa — em uma carta abertura de 23 de setembro que deu volta ao mundo — a católica mexicana Lucrecia Rego de Planas, mãe de nove filhos, docente universitária e amiga de há muito tempo do próprio Bergoglio:

> “Muy querido Papa Francisco…”

Na carta, Lucrecia Rego de Planas diz, entre outras coisas, “sofrer” ao ver que Bergoglio, também como Papa, “não faz a genuflexão diante do Sacrário nem na Consagração”, como já fazia em Buenos Aires.

De fato é assim. Na missa, depois da consagração do pão e do vinho, o Papa Francisco nunca faz a genuflexão prescrita pela liturgia, mas somente se inclina. E no Rio de Janeiro, durante a vigília noturna transmitida, na Adoração do Santíssimo Sacramento, não se ajoelhou, mas permaneceu de pé ou sentando [ndr: alguns dizem que o Papa tem problemas para genuflectir, mas não para permanecer de joelhos. Desconhecemos uma nota oficial a respeito].

Todavia, também é verdade que ao finalizar a jornada de oração e jejum pela paz convocada por ele em 7 de setembro, na Adoração Eucarística na Praça de São Pedro, permaneceu muito tempo de joelhos.

E é necessário recordar que no vôo de volta do Rio de Janeiro, o Papa Francisco expressou admiração pelas liturgias orientais, cheias de sacralidade e de mistério, e muito fiéis à tradição, nestes termos:

“As Igrejas ortodoxas conservaram essa liturgia primitiva tão bela. Nós perdemos um pouco o sentido de adoração. Eles o conservaram, eles louvam a Deus, eles adoram a Deus. Necessitamos desta renovação, deste luz que vem do Oriente”.

De fato, entre os cinco novos consultores do departamento de celebrações papais, Francisco incluiu um monge de rito oriental, Manuel Nin, retiro do Pontifício Colégio Grego de Roma. A seu lado, consultores com outra visão, como o servita Silvano Maggiani e o monfortino Corrado Maggioni, ambos da equipe de Piero Marini.

Em suma, há em Bergoglio uma oscilação nas nomeações, nos gestos e nas palavras que torna difícil interpretar suas decisões e, sobretudo, prever os seus futuros movimentos.

* * *

Papa Francisco recebe os iniciadores do "Caminho Neocatecumenal": Carmem Hernández, Kiko Argüello e Pe. Mario Pezzi.
5 de setembro de 2013: Papa Francisco recebe os iniciadores do “Caminho Neocatecumenal”: Carmem Hernández, Kiko Argüello e Pe. Mario Pezzi.

Mas além das duas decisões citadas, o Papa Francisco tomou outra reservadamente: bloqueou o exame realizado pela Congregação para a Doutrina da Fé sobre as missas das comunidades neocatecumenais.

A ordem de verificar se nestas missas havia abusos litúrgicos e quais seriam, havia sido dada pessoalmente por Bento XVI em fevereiro de 2012:

> Essa missa estranha que o Papa não quer

A execução deste exame havia terminado decididamente desfavorável ao “Caminho” fundado e dirigido por Francisco “Kiko” Argüello e Carmen Hernández, desde sempre muito à vontade para modelar as liturgias segundo os seus critérios.

Mas agora eles se sentem seguros, pois receberam a confirmação de que se salvaram do perigo pelo próprio Papa Francisco, que lhes recebeu em uma audiência em 5 de setembro passado.

* * *

É certo que o Papa atual, na entrevista à “La Civiltà Cattolica”, que é o manifesto de seu início de pontificado, ao descrever a reforma litúrgica pós-conciliar, concebe-a em termos puramente funcionais:

“O trabalho da reforma litúrgica foi um serviço ao povo como releitura do Evangelho a partir de uma situação histórica concreta”.

Se Bergoglio tivesse sido aluno do professor Ratzinger — grande estudioso e apaixonado por essa liturgia que o Vaticano II definiu como “cume e fonte” da vida da Igreja — veria estas linhas riscadas em vermelho.

Vatileaks: vazam três novos documentos. Uma dura carta do Cardeal Burke contra a liturgia do Neocatecumenato. Acusados Bertone e Gänswein.

Em sua edição de ontem, o jornal italiano La Repubblica divulgou três novos documentos vazados dos sagrados palácios pelos enigmáticos “corvos”. O primeiro, uma carta do Cardeal Raymond Leo Burke ao Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone, a respeito de rumores de uma aprovação pontifícia da liturgia do movimento Caminho Neocatecumenal. Como se sabe, a manobra orquestrada para aprovação da liturgia neocatecumenal por partidários deste movimento na Cúria Romana foi abortada na última hora, convertendo-se em aprovação de celebrações para-litúrgicas entre cada um dos estágios do itinerário catequético “kikoniano”.

Eis os principais trechos da carta do Cardeal Burke:

“Não posso, como Cardeal e membro da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, deixar de expressar a Sua Eminência a estranheza que o convite [para o encontro com o Papa previsto para seis dias mais tarde, “por ocasião da aprovação da liturgia do Caminho Neocatecumenal”] me causou. Não me recordo de ter ouvido algo sobre uma consulta acerca da aprovação da uma liturgia própria deste movimento eclesial. Recebi nos últimos dias, de várias pessoas, inclusive de um estimado bispo americano, expressões de preocupação sobre tal aprovação papal, da qual já haviam tomado ciência. Esta notícia para mim era um simples rumor ou especulação. Agora descobri que tinham razão.

Cardeal Raymond Burke.
Cardeal Raymond Burke.

Deixando de lado a questão sobre a forma com que tal aprovação foi preparada pelo Santo Padre, devo, em consciência, expressar minhas mais sérias reservas no que se refere às inovações que o Caminho Neocatecumenal introduziu na celebração da Sagrada Liturgia. Estas inovações já haviam sido corrigidas em 2006 pelo Cardeal Francis Arinze, então prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, mas devo dizer que as correções não tiveram nenhum êxito, ao menos nos Estados Unidos. As comunidades deste movimento continuaram celebrando a Santa Missa com inovações significativas, abertamente em contraste com a disciplina litúrgica a ser observada nas paróquias onde realizam seu apostolado.

Sem entrar em um comentário detalhado sobre as inovações, expresso duas de minhas principais preocupações. O lugar escolhido para a celebração da Santa Missa, o modo de dispor os membros durante a celebração e a maneira anômala para a recepção da Sagrada Comunhão, a meu ver, exageram gravemente o aspecto do banquete no Sacrifício Eucarístico e abandonam o ministério insubstituível do sacerdote na Santa Missa.

Na mesma linha, as enormes monições dadas por membros [leigos] desde o ambão, durante a celebração da Santa Missa, relativizam a proclamação da Palavra de Deus e a Homilia sobre a Palavra de Deus por parte do ministro ordenado. Enquanto estas longas monições podem ter um lugar apropriado nas celebrações não litúrgicas, representam, a meu ver, uma grave distorção do Rito da Missa.

Finalmente, como fiel conhecedor do ensinamento do Santo Padre sobre a reforma litúrgica, que é fundamental para a nova evangelização, creio que a aprovação de tais inovações litúrgicas, inclusive após a correção das mesmas por parte do Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, não parece coerente com o magistério litúrgico do Papa.

E agora o objetivo da divulgação desta carta e de outros dois documentos ameaçadores no La Repubblica:

Milão, 3 de junho de 2012 —  “Expulsar os verdadeiros culpados do Vaticano. Novamente, o único a pagar é o bode expiatório. Nenhuma vítima melhor que o mordomo do Santo Padre. A verdade deve ser procurada no poder central”. O corvo ainda está no Vaticano. Ele circula, observa e golpeia, enquanto Bento XVI está em uma visita oficial de três dias a Milão, buscando um momento de tranquilidade em meio a ressentimentos que o cercam. O corvo lança novos documentos de repente. Três, para ser exato, que La Repubblica possui e apresenta hoje. Mas a fonte adverte, temos “centenas” de cartas como estas. Ele escreve em uma carta explicativa — que precedeu os documentos — digitada em um computador. Mostrando, como se fosse necessário, que o mordomo do Papa, acusado de ser o portador das cartas que apareceram anteriormente da Santa Sé, “o bode expiatório”, como diz a carta, não é o único. Porque o corvo está, de fato, ainda na ativa. “A verdade — denuncia — deve ser procurada no poder central”. E explica: “Isto é, no arquivo privado de Mons. Georg Gänswein, secretário particular do Santo Padre, do qual diversos documentos reservados ao Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone, aparecem continuamente”.
Bento XVI, Bertone e Gänswein.
Bento XVI, Bertone e Gänswein.

Uma dura acusação, que a fonte faz sua, contra o secretário particular de Bento XVI, homem pelo qual o Papa tem, por sua vez, a mais alta confiança, e que por vários anos tem sido a pessoa com que conta para questões de natureza não só pessoais, mas também espirituais e políticas. Nos últimos anos, de fato, Monsenhor Gänswein aumentou notavelmente sua influência dentro do apartamento [papal], crescendo no papel, seguramente informal, não obstante, real e claro para todos, de conselheiro de Joseph Ratzinger, que também é seu compatriota. O corvo acrescenta em sua mensagem de introdução às três cartas: “As coisas nem sempre caminham como esperado, e houve passagens não controladas de documentos e atos ultra confidenciais entre Mons. George e o Cardeal”. Como se dissesse: os atos e documentos que saem do apartamento papal para o escritório da Secretaria de Estado, e vice-versa, por vezes tomam caminhos diferentes. E o controle sobre eles se perde.

O corvo então apresenta “três de centenas de documentos em nosso poder”. O primeiro é uma “carta super secreta” dirigida a Bertone pelo Cardeal Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica [Cardeal Burke], e que trata do que é estigmatizado como “o vergonhoso caso dos neocatecumenais, sobre o qual há uma longa nota escrita a mão pelo próprio Bento XVI”. Os outros dois são cartas com a aparente assinatura de Monsenhor Gänswein. E tratam, diz ele, de “alguns lamentáveis e vergonhosos acontecimentos dentro do Vaticano”. As duas notas levam na parte superior o brasão da Santa Sé com as palavras “Città del Vaticano“. E na parte inferior a assinatura, a mão, de “don Georg Gaenswein“. Abaixo, as palavras estampadas, “Segretario Particolare di Sua Santità Benedetto XVI” . Uma delas é datada de 19 de fevereiro de 2009. O texto das cartas foi apagado. O corvo explica: “Não publicaremos na íntegra para evitar ofender a pessoa do Santo Padre, já colocado sob grande tensão por seus colaboradores próximos”. E adverte: “A fim de sermos justos, reservamo-nos a publicação integral caso eles persistam em esconder a verdade dos fatos”. E então conclui: “Expulsem do Vaticano aqueles verdadeiramente responsáveis por este escândalo: Mons. Gänswein e Cardeal Bertone”. Duríssimas acusações não provadas e não detalhadas aqui.

Essa estranha missa que o Papa não quer.

É a missa segundo o rito do Caminho Neocatecumenal. Bento XVI ordenou à Congregação para a Doutrina da Fé que a examine a fundo. Sua condenação parece certa.

Por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com

Roma, 11 de abril de 2012 – Com uma carta assinada ao Cardeal William J. Levada, Bento XVI ordenou à Congregação para a Doutrina da Fé se examine as missas neocatecumenais estão ou não de acordo com a doutrina católica e a praxe litúrgica da Igreja Católica.

Um “problema” que o Papa julga ser de “grande urgência” para toda a Igreja.

Há tempos Bento XVI está preocupado com as modalidades particulares com que as comunidades do Caminho Neocatecumenal celebram suas missas, no sábado à noite, em locais separados.

Sua preocupação aumentou também pela trama feita às suas costas na cúria no inverno passado, sobre a qual informou http://www.chiesa nos seguintes artigos:

“Plácet” ou “Non plácet”? A aposta de Carmen e Kiko. (13.1.2012)

Aos neocatecumenais, o diploma. Mas não o que eles esperavam. (23.1.2012)

Ocorreu que o Pontifício Conselho para os Leigos, presidido pelo Cardeal Stanislaw Rylko [ndr: que também promoveu a aprovação da Canção Nova…] , havia preparado um texto de um decreto de aprovação global de todas as celebrações litúrgicas e para-litúrgicas do Caminho Neocatecumenal, que devia ser publicado em 20 de janeiro por ocasião de um encontro previsto do Papa com o Caminho.

O decreto havia sido redigido por indicação da Congregação para o Culto Divino, presidida pelo Cardeal Antonio Cañizares Llovera. Os fundadores e líderes do Caminho, Francisco “Kiko” Argüello e Carmen Hernández, foram informados disso e, felizes, anteciparam a seus seguidores a iminente aprovação.

Tudo sem o conhecimento do Papa.

Bento XVI tomou ciência do texto do decreto poucos dias antes do encontro de 20 de janeiro.

E o achou incoerente e equivocado. Ordenou que fosse anulado e reescrito segundo as suas indicações.

De fato, em 20 de janeiro, o decreto publicado se limitou a aprovar as cerimônias para-litúrgicas que marcam as etapas catequéticas do Caminho.

Em seu discurso, o Papa enfatizou que somente elas haviam sido convalidadas, enquanto deu aos neocatecumenais uma verdadeira e própria lição sobre a missa — quando um ultimato — sobre como celebrá-la em plena fidelidade às normas litúrgicas e em efetiva comunhão com a Igreja.

Nestes mesmos dias, Bento XVI recebeu em audiência o arcebispo de Berlim, Rainer Maria Woelki, homem de sua confiança, que logo seria feito cardeal. Woelki lhe falou, entre outras coisas, precisamente das dificuldades que os neocatecumenais criavam em sua diocese, com suas missas separadas no sábado à noite, oficiadas por uns trinta sacerdotes do movimento.

O Papa pediu a Woelki que lhe fizesse uma nota escrita sobre o tema. Em 31 de janeiro, Woelki enviou a ele uma carta com informações mais detalhadas.

Dias mais tarde, em 11 de fevereiro, o Papa enviou uma cópia desta carta à Congregação para a Doutrina da Fé, junto com um pedido seu de examinar o quanto antes a questão, que “não concerne somente à arquidiocese de Berlim”.

Segundo as indicações do Papa, a comissão de exame presidida pela Congregação para a Doutrina da Fé tinha de ter a colaboração de outros dois dicastérios vaticanos: a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e o Pontifício Conselho para os Leigos.

E assim foi. Em 26 de março, no Palácio do Santo Ofício, sob a presidência do Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, o Arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer, jesuíta, se reuniram para um primeiro exame da questão os Secretários dos outros dois dicastérios — o Arcebispo Augustine J. Di Noia, dominicano, do Culto Divino, e o bispo Josef Clemens, do [Conselho] para os leigos — e quatro peritos por eles designados. Um quinto perito, ausente, Dom Cassiano Folson, prior do mosteiro de São Bento em Nursia, enviou sua opinião por escrito.

Os juízos exprimidos sobre a missa dos neocatecumenais foram todos críticos. Muito severo foi também o que a própria Congregação para a Doutrina da Fé havia pedido, antes da reunião, ao teólogo e cardeal Karl J. Becker, jesuíta, professor emérito da Pontifícia Universidade Gregoriana e consultor do dicastério.

O dossiê fornecido para a reunião pela Congregação para a Doutrina da Fé incluía a carta do Papa de 11 de fevereiro, a carta do Cardeal Woelki ao Papa no original alemão e em versão inglesa, o parecer do Cardeal Becker e um guia à discussão no qual se colocava, de maneira explícita, a conformidade com a doutrina e a praxe litúrgica da Igreja Católica do art. 13 § 2 do estatuto dos neocatecumenais, com o qual eles justificam suas missas separadas no sábado à noite.

Na realidade, o perigo temido por Bento XVI e muitos outros bispos — como se conclui das numerosas denúncias que chegam ao Vaticano — é que as modalidades particulares com que as comunidades neocatecumenais de todo o mundo celebram suas missas introduzam, de fato, na liturgia latina, um novo “rito”, composto de forma artificial pelos fundadores do Caminho, estranho à tradição litúrgica, cheio de ambiguidades doutrinais e causa de divisão nas comunidades dos fiéis.

O Papa confiou à comissão por ele desejada a tarefa de averiguar o fundamento destes temores, em vista das conseqüentes decisões.

Os juízos elaborados pela comissão serão examinados em uma próxima reunião plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, uma quarta-feira — uma “feria quarta” — da segunda metade de abril.

Aos neocatecumenais, o diploma. Mas não o que eles esperavam.

A última ceia - obra de Kiko Argüello.
A última ceia - obra de Kiko Argüello.

IHU – A Santa Sé aprovou os ritos que marcam as etapas do catecismo neocatecumenal. Mas as peculiaridades com as quais celebram as missas ainda estão sob observação. Algumas foram permitidas. Outras não.

A reportagem é de Sandro Magister, publicada em seu sítio, Chiesa, 23-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Antes da audiência com Bento XVI de três dias, dentro do Caminho Neocatecumenal, corria o boato de que, nessa ocasião, seriam definitivamente aprovadas as “liturgias” do movimento eclesial fundado por Francisco “Kiko” Argüello e Carmen Hernández.

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Cañizares e a aprovação das celebrações neocatecumenais.

Por Vatican Insider | Tradução: Fratres in Unum.com

A Rádio Vaticano entrevista o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos sobre o decreto.

Creio que a relação entre catequese e liturgia no Caminho Neocatecumenal seja exemplar.” Afirmou o Cardeal Antonio Cañizares Llovera, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. “A aprovação deste decreto sobre as celebrações do Caminho Neocatecumenal contidas no ‘Diretorio Catequético’ é, para toda a Igreja, um reconhecimento da maneira de como a iniciação cristã deve ter sempre uma união entre a Palavra e as celebrações”.

Durante a entrevista à Rádio Vaticano, o purpurado espanhol recordou o catecumenato antigo, no qual as diferentes etapas estavam marcadas por celebrações específicas para cada momento do itinerário da iniciação, e indicou que no Caminho Neocatecumenou “se faz o mesmo hoje: por isso, não são etapas artificiais, não se trata de uma simples metodologia inventada pelos homens [caiu do céu, Eminência? Uma nova revelação?], mas que correspondem ao itinerário da conversão”.

A celebração da Eucaristia — indicou — no interior do itinerário próprio destas comunidades ocorre de maneira muito digna e bela, com grande sentido de fé, com espírito eclesial, festivo e litúrgico, com profundo ‘sentido do mistério e do sagrado’. A Palavra de Deus e a Eucaristia assinalam a prioridade de Deus, a iniciativa de Deus, e constituem a base e a fonte que dão vida, estímulo e força às comunidades, capacidade, vigor e liberdade para dar testemunho e evangelização”.

Por isso, ao concluir sua reflexão sobre a liturgia, o prefeito vaticano disse que “realmente devemos dar graças a Deus por este dom com que enriquece a Igreja, nascido na Espanha, mas de tanto e tão fecundo influxo no mundo inteiro”.

* * *

Celebração “digna e bela, com grande sentido de fé, com espírito eclesial, festivo e litúrgico” do “Caminho Neocatecumenal da Diocese de Franca, SP, em Lisboa, Portugal, na primeira Eucaristia [supomos que ao final da missa] celebrada em território Europeu por ocasião da Jornada Mundial da Juventude Madrid 2011” (descrição do próprio Youtube) .

O Caminho Neocatecumenal e a Reforma da Reforma da Reforma da…

Cristo Rei - Kiko Argüello - 1960.
Cristo Rei - Kiko Argüello - 1960.

 Se usa um espelho de vidro para olhar a face;

e se usam obras de arte para olhar a própria alma.

(G. Bernard Shaw)

Por Francesco Colafemmina | Tradução: Gederson Falcometa, cuja gentileza agradecemos.

A noticía de hoje [sexta-feira, 20] deixou muitos católicos sem palavras. A dizer, o verdadeiro processo de definitiva aprovação e integração do Caminho Neocatecumenal no interior da Igreja já estava em ato há muitos anos. O movimento Neocatecumenal, apesar da agressividade e do sectarismo dos seus adeptos, é considerado por numerosos homens da Igreja um instrumento para a “nova evangelização”, um verdadeiro recurso para a Igreja do futuro. Me permito duvidar em mérito, especialmente porque o Caminho tem uma estética pessoal – a nova estética (mesma coisa que no orwelliano 1984) em óbvio contraste com a estética católica, mas eu sei: o meu parecer não conta nada. Chegamos à questão da “liturgia” neocatecumenal aprovada. Alguns dizem: “não foi aprovada a liturgia neocatecumenal, mas só algumas cerimônias não estritamente litúrgicas”. É verdade, mas alguns pontos devem ser esclarecidos.

Igreja Neocatecumenal.
Igreja Neocatecumenal.

Antes de tudo, não existe uma liturgia neocatecumenal. Existe um aparato litúrgico neocatecumenal feito de particulares práticas litúrgicas e aparelhos cenográficos, mas este aparato — estes ornamentos, estes cantos e danças, que desmoronam em verdadeiros e próprios abusos litúrgicos — persiste em livros litúrgicos da Igreja Católica. Repito: não existe uma liturgia própria, mas uma maneira singular de viver a liturgia.

Está “maneira singular” se insere no interior do assim dito “caminho de iniciação cristã” e se explica – no estatuto – através três celebrações essenciais: a celebração penitencial, a da palavra e a eucarística. A tais “celebrações” se acrescentam outras que seguem o percurso iniciatico do neocatecumeno. Ora, são estas “celebrações” que teriam obtido a aprovação da Congregação para o Culto Divino. A responsabilidade é, portanto, toda do Cardeal Cañizares que alterna periodicamente ataques franceses a retirada espanhola, tímida abertura à reforma da reforma que constantemente abortam ou permanecem nos jornais ou na ilusão de algum fiel.

Acrescento que está escrito nos Estatutos (art. 14, 3) “Na celebração da Eucaristia nas pequenas comunidades seguem-se os livros litúrgicos aprovados do Rito Romano, com exceção das concessões explícitas da Santa Sé. No que concerne à distribuição da Santa Comunhão sob as duas espécies, os neocatecúmenos a recebem em pé, permanecendo em seu lugar”.

A questão é que, apesar das boas intenções, o rito não se realiza nestes termos. Mesmo depois da aprovação do Estatuto, os Neocatecumenais fazem o que lhes dá na cabeça. Na verdade, as prescrições do Estatuto são constantemente violadas e posso confirmá-lo por experiência própria. Portanto – o Papa que, apesar do controle de sua Cúria intrometida e anárquica, tem ainda idéias claras – considerou oportuno acrescentar algumas notas de roda-pé sobre o sentido da liturgia como momento de comunhão não sectária, mas universal, da Igreja entendida como Corpo Místico. Palavras que entram no ouvido de Kiko e saem pelo de Carmen…

Duas observações pessoais:

Primeiro: como pode o Cardeal Canizares consentir ainda hoje que se destruam os altares antigos, que se disserte sobre onde colocar um ambão ou como eliminar balaustres, e depois deixar a possibilidade a um grupo carismático de celebrar a Missa a seu gosto? Como se pode, não digo ignorar, o exemplo do Santo Padre que colocou no centro do altar o Crucifixo, mas chegar a aprovar as “celebrações” de quem no lugar do Crucifixo no centro do altar põe a sagrada Menorah? Cañizares outrora era chamado de “o pequeno Ratzinger”. Acredito que hoje se possa continuar a chamá-lo somente de “o pequeno”…

Altar Católico.
Altar Católico.
Altar neocatecumenal.
Altar neocatecumenal.

Segundo: como simples católico, me indigna saber que o rito milenar da Igreja, aquela que simplesmente é definida como Missa em latim, seja ainda um tabu para muitos Bispos, enquanto hoje se autorizam pseudo-celebrações fundadas sobre um diretório catequético aprovado faz um ano e composto de 12 Volumes, mas secretos! Como é possível que a Igreja mantenha ainda em segredo catequeses de um movimento carismático que se diz “católico”, ou seja, universal? Me preocupa, portanto, uma Igreja que aprova movimentos esotéricos. Pessoalmente prefiro uma Igreja exotérica, aberta a todos mas igual para todos.

O que, afinal, foi aprovado ao Neocatecumenato?

Por Padre Cristóvão

Cristo Rei - "obra de arte" de 1960 de Kiko Argüello, fundador do Caminho Neocatecumenal.
Cristo Rei - "obra de arte" de 1960 de Kiko Argüello, fundador do Caminho Neocatecumenal.

Se entendi bem, a “aprovação” tem dois alcances: é a aprovação definitiva dos estatutos, que é “definitiva” enquanto não for ab-rogada pelo papa, caso isso se veja necessário; e a aprovação das “liturgias” do movimento, que são um tipo de celebrações que marcam a passagem dos diversos estágios.

Quanto à Missa, me parece que vigoram as normas já emanadas. Os estatutos fazem referência a elas, sempre de acordo com as disposições precedentes.

A aprovação definitiva dos estatutos, infelizmente, é lamentável. De fato, os católicos empenhados na “reforma da reforma” permanecem perplexos diante desse passo atrás. Porém, precisamos considerar duas realidades, que me parecem muito relevantes:

1)           Lamentavelmente, existe uma política vaticana de boicote à “reforma da reforma”. Alguns prelados, com altíssimo poder de articulação, conseguem manobrar e condicionar as disposições papais ao interesse de determinados grupos, dos quais talvez esses mesmos façam parte;

2)           Além disso, é de se perceber que os neocatecumenais são uma verdadeira multidão, sobretudo na Igreja da Espanha. Em Roma, por exemplo, enquanto os seminários da Diocese estão praticamente vazios, os seminários neocatecumenais estão cheios. Na Espanha secularista, outrora católica, os neocatecumenais representam um número realmente significativo, com famílias numerosas, muitas vocações, etc.

Desse modo, o Papa fica condicionado duplamente: pela política interna e pelas contingências externas, sendo obrigado a sacrificar o presente em nome do futuro… Isso faz parte do modo paciente de trabalhar do Papa Ratzinger.

Em nossa cultura twittada, em que tudo é curto e rápido, custa entender um Papa e uma Igreja que precisam levar em consideração as dimensões colossais de uma história bimilenar e a densidade numérica de agrupamentos humanos bem-intencionados ainda que errôneos.

Governar a Igreja não é fácil. Além disso, nós, que amamos o Santo Padre e rezamos por suas intenções, apoiemo-lo e mostremos-lhe entender suas escolhas.

Rezemos pelo Papa!

Yes, they can. But…

Celebrações do Caminho Neocatecumenal são aprovadas pela Congregação para o Culto Divino. Mas Bento XVI faz uma ressalva: não são estritamente litúrgicas.

Fratres in Unum.com | Durante uma audiência com 7 mil participantes, a Santa Sé anunciou a aprovação das celebrações que marcam o itinerário de iniciação cristã do Caminho Neocatecumenal. O Papa Bento XVI também enviou 18 novos missio ad gentes à Europa, África e América.

Em entrevista à agência Zenit, Kiko Argüello, cofundador do movimento, comenta a aprovação:

“O reconhecimento da validade desta iniciação é um momento histórico para nós, o que estávamos esperando. Foi aprovada após anos de estudos e análises pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. No reconhecimento da validade é dito que as celebrações que marcam o percurso de crescimento do itinerário, de amadurecimento do homem novo, são magníficas e verdadeiramente inspiradas, ajudandando ao homem a convertê-lo e fazê-lo cristão, ajudando-o a crescer na fé a se unir a Jesus Cristo.  Estamos contentes e gratos a Deus por este reconhecimento.

“Depois de tanto sofrimento e tanto trabalho, somos gratos à Igreja, que reconhece oficialmente a validade desta iniciação cristã para a construção de um homem novo”. E continua Argüello: “Somos muito gratos a Bento XVI e à Igreja por este ato, no qual vemos e confirmamos que a Igreja é mãe e mestra”.

A aprovação chega após quinze anos de estudo pela Congregação para o Culto Divino e conclui o percurso de aprovação do Caminho Neocatecumenal: em 2008, a Santa Sé aprovou a versão final dos estatutos e, em 2011, aprovou a doutrina contida nos treze volumes do Diretório Catequético do Caminho Neocatecumenal.

Ressalva Pontifícia: celebrações presentes no Diretório catequético dos neocatecumenais não são estritamente litúrgicas. Igreja acompanha neocatecumenais, mas preserva a comunhão.

“Há pouco foi lido o decreto com que se aprovou as celebrações presentes no Diretório catequético dos neocatecumenais, que não são estritamente litúrgicas, mas fazem parte do itinerário de crescimento na fé”, declarou Bento XVI no curso da audiência.

“É um outro elemento que demonstra como a Igreja vos acompanha com atenção, em um paciente discernimento que compreende a vossa riqueza, mas protege também a comunhão e a harmonia de todo o Corpo de Cristo”.

Prosseguiu o Papa:

“A fim de favorecer a aproximação da riqueza da vida sacramental de pessoas que se afastaram da Igreja ou que não tenham recebido a formação adequada, os neocatecumenais podem celebrar a liturgia dominical na pequena comunidade após as primeiras vésperas do domingo, segundo as disposição do bispo dicesano”, declarou o Papa, citando os estatutos do movimento e arrancando aplausos dos presentes. “Mas — acrescentou — toda celebração eucarística é uma ação do único Cristo, juntamente com a sua única Igreja e, por isso, é essencialmente aberta a todos quem pertencem a esta Igreja. Este caráter público da santa eucaristia se exprime no fato de que cada celebração da Santa Missa é ultimamente ligada ao bispo enquanto membro do colégio episcopal responsável por uma determinada Igreja local. A celebração da pequena comunidade, como particularidade aprovada nos estatutos do Caminho, tem a tarefa de ajudar aqueles que percorrem o itinerário neocatecumenal a perceber a graça de estar inserido no mistério salvífico de Cristo. Ao mesmo tempo, o progressivo amadurecimento na fé do indivíduo e da pequena comunidade deve favorecer a sua inserção na vida da grande comunidade eclesial que encontra na celebração litúrgica da paróquia, na qual atual o neocatecumenato, a sua forma ordinária. Mas mesmo durante o Caminho, é importante não se separar da comunidade paroquial exatamente na celebração da liturgia, verdadeiro local de unidade de todos, onde o Senhor nos abraça nos diversos estados da maturidade espiritual e nos torna um só corpo”

Com informações de Zenit e TMNews.

As “esquisitices” litúrgicas do caminho neocatecumenal.

Por Oblatvs

Relato um fato ocorrido não faz muito tempo.

Num encontro de bispos, os excelentíssimos prelados conversavam com informalidade sobre uma infinidade de temas quando um bispo tradicionalista – são tantos no mundo que se torna praticamente impossível identificá-lo – começou a discorrer sobre as “esquisitices” litúrgicas do Caminho Neocatecumenal.

Alguns de seus colegas ouviam a tudo com indisfarçável contrariedade, sem, entretanto contrariá-lo. Bispos educados não contrariam uns aos outros – na presença!

Tão logo o bispo que criticava a missa à la neocatecumenato deixou o grupo, um dos bispos contrariados com os comentários – fiel ao princípio de só contestar na ausência – emendou, arrancando risadas dos demais: “Vejam quem fala: quem celebra a missa antiga criticando as esquisitices dos outros”.

Pois é, meus amigos! Há quem considere a liturgia bimilenar da Igreja um amontoado de esquisitices. E pior: há quem julgue as práticas litúrgicas neocatecumenais meras esquisitices. Não é o caso do bispo tradicionalista; ele quis apenas ser elegante.

As missas neocatecumenais estão eivadas de práticas heterodoxas que refletem uma doutrina heterodoxa – também estou sendo elegante; o nome apropriado é outro.

Fiquei muito confortado em saber que o Santo Padre não haverá de sancionar tais práticas, como se ouvia dizer. Se a informação de Francisco de La Cigoña estiver correta (No, you can’t), as práticas litúrgicas neocatecumenais continuarão a ser o que são, ou seja, práticas ilícitas, não importando quem celebre suas missas, sejam cardeais, bispos ou sacerdotes.

A aprovação dos “ritos” neocatecumenais na missa andaria na contramão da reforma da reforma litúrgica posta em marcha pelo Papa Bento XVI, a quem muitos querem ver substituído por um mais camarada.

Devemos aguardar mais alguns dias para comemorar a vitória da Sagrada Liturgia, que nunca foi um amontoado de esquisitices, menos ainda a que nos foi legada pela tradição multissecular da Igreja.