O decano e o camerlengo: as duas Igrejas de Sodano e Bertone.

IHU – Nos primeiros meses como secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone (Romano Canavese, 1934) se assomava de vez em quando ao apartamento a ele reservado ao lado dos seus escritórios, no primeiro andar, sob os afrescos de Rafael. Todas as vezes, fumaça preta: o apartamento ainda estava ocupado. O antecessor, cardeal Angelo Sodano (Isola D’Asti, 1927), ainda não havia ido embora. Assim, Bertone se resignava a subir ao seu alojamento provisório, na torre de São João.

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Chamado à ordem: comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé a respeito da audiência concedida pelo Papa Bento XVI ao Cardeal Schonborn.

CIDADE DO VATICANO, 28 JUN 2010 (VIS) – A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou o seguinte comunicado no início desta tarde:

“(1) O Santo Padre recebeu hoje em audiência o Cardeal Christoph Schonborn O.P., arcebispo de Viena e presidente da Conferência Episcopal Austríaca. O Cardeal pediu um encontro com o Soberano Pontífice pessoalmente a fim de relatar a atual situação da Igreja na Áustria. Em particular, o Cardeal Schonborn quis esclarecer o significado exato de suas recentes declarações a respeito de alguns aspectos de atual disciplina eclesiástica, e alguns de seus juízos acerca de posições adotadas pela Secretaria de Estado — e em particular pelo então Secretário de Estado do Papa João Paulo II — a respeito do finado Cardeal Hans Hermann Groer, arcebispo de Viena de 1986 a 1995.

“(2) O Cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio dos Cardeais, e o Cardeal Secretário de Estado, Tarcísio Bertone S.D.B, foram convidados posteriormente a participar do encontro.

“Na segunda parte da audiência, certos equívocos difundidos foram esclarecidos e resolvidos, equívocos advindos parcialmente de certas declarações do Cardeal Christoph Schonborn, que expressou seu desagrado por interpretações dadas a suas palavras.

“Em particular:

“(a) Deve ser reiterado que, na Igreja, quando acusações são feitas contra um Cardeal, a competência cabe exclusivamente ao Papa; outras partes podem ter uma função consultativa, enquanto sempre mantém o devido respeito às pessoas.

“(b) A palavra ‘chiacchiericcio’ (fofoca) foi erroneamente interpretada como desrespeitosa às vítimas de abuso sexual, para com as quais o Cardeal Angelo Sodano nutre os mesmos sentimentos de compaixão e de condenação do mal, como expressado em várias ocasiões pelo Santo Padre. A palavra pronunciada durante a saudação de Páscoa ao Papa Bento XVI foi tomada literalmente da homilia pontifical do Domingo de Ramos e se referia à “coragem que não se deixa ser intimidada por fofocas de opiniões predominantes”.

“(3) O Santo Padre, recordando com grande afeto sua viagem pastoral à Áustria, envia através do Cardeal Christoph Schonborn seus cumprimentos e encorajamento à Igreja na Áustria, e a seus pastores, confiando à proteção da Santíssima Virgem, tão venerada em Mariazell, uma jornada a uma renovada comunhão eclesial”.

Fonte: Vatican Information Service

Nota do editor: É digno de nota a ausência de uma retratação por parte do senhor Cardeal C. Schonborn de declarações como :“deveríamos dar mais consideração à qualidade dos relacionamentos homossexuais” ou “um relacionamento estável certamente é melhor do que se alguém opta por ser promíscuo”. Outras polêmicas do mesmo Cardeal podem ser vistas aqui.

Puxão de orelha número 2.

Bento XVI teria enviado uma carta ao arcebispo de Viena, Christoph Schoenborn (sic), depois deste, durante um encontro com os jornalistas (falando off the record), ter dito que o então secretário de Estado, Angelo Sodano, impediu que se abrisse uma investigação sobre as acusações de ex-seminaristas ao idoso Cardeal austríaco Hans Hermann Groer. Um sinal da existência desta carta, com a qual o Papa se teria dito surpreso pelo quanto afirmou Schoenborn, foi publicado nesta manhã pelo quotidiano Il Foglio. Do quanto tomei conhecimento, esta [carta] do caso da crítica a Sodano seria a segunda carta do gênero que o Papa teria enviado ao Arcebispo de Viena, seu amigo e aluno. A primeira carta teria, de fato, relação com a viagem há seis meses e, sobretudo, as declarações feitas pelo Cardeal Schoenborn em Medjugorje, a cidadezinha da Herzegovina famosa pelas aparições marianas que atraem milhões de peregrinos e que são objeto de uma investigação vaticana confiada ao Cardeal Camillo Ruini.

Fonte: Andrea Tornielli

João Paulo II e Marcial Maciel. A ação de Bento XVI.

Sob circunstâncias normais, o domínio do Papa Bento XVI da literatura alemã pode não parecer uma forma óbvia de preparação para o papado. Neste momento, porém, parece ser assim, porque Bento XVI e seus admiradores enfrentam uma escolha tirada diretamente do Fausto de Goethe: a fim de salvar a reputação de Bento XVI na crise dos abusos sexuais, eles são obrigados a rever a atuação de João Paulo II.

A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 12-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Não está claro se a crítica crescente do histórico de João Paulo II será suficiente para retardar sua beatificação, mas pode muito bem dar novas cores ao legado do Papa diante dos olhos da história.

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Pedem a cabeça de Sodano: “Todos dentro da Igreja devem saber que há consequências por erros escandalosos”.

Sodano deve ser removido e deve lhe ser dito que sirva a Igreja com a oração. Todos dentro da Igreja devem saber que há consequências por erros escandalosos”. É claríssimo e definitivo o distanciamento do decano do Colégio Cardinalício, o cardeal Angelo Sodano, assumido por Joseph Bottum, diretor da First Things, a revista de referência da área teológica conservadora norte-americana, fundada pelo ex-luterano, depois sacerdote católico, Richard John Neuhaus.

Depois da bofetada em Sodano dada pelo arcebispo de Viena, Christoph Schönborn – porque, em sua opinião, há 15 anos, ele acobertou o “caso Hans Hermann Groër” – é a revista em torno à qual gira um do grupos de intelectuais mais influentes dos Estados Unidos que abre fogo contra um príncipe da Igreja que, durante anos, na era Wojtyla, detinha as rédeas do governo da Cúria Romana.

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Schönborn ataca Sodano: o sujo falando do mal lavado.

Christa Pongratz-Lippitt 8 de maio de 2010 – The Tablet

O chefe da Igreja austríaca lançou um ataque a um dos cardeais mais antigos no Vaticano, dizendo que o Cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio dos Cardeais, “injustiçou profundamente” as vítimas de abuso sexual por padres católicos ao desmentir relatos de escândalo por parte da mídia. Em uma reunião com os editores dos principais jornais diários austríacos na semana passada, o Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena, disse também que a Cúria Romana precisava “urgentemente de reforma”, e que relacionamentos homossexuais duradouros mereciam respeito. Ele reiterou o seu ponto de vista de que a Igreja precisa reconsiderar a sua posição sobre divorciados recasados.

Na Páscoa, o Cardeal Sodano chamou os inúmeros relatos de abuso sexual por parte de clérigos de “fofoquinhas”. Isso “injustiçou profundamente as vítimas”, disse o Cardeal Schönborn, e ele lembrou que foi o Cardeal Sodano que havia impedido Joseph Ratzinger, então cardeal, de investigar as alegações de abuso feitas contra o Cardeal Hans Hermann Groer, o Arcebispo de Viena anterior, que pediu demissão em desgraça em 1995.

O Cardeal Schönborn disse que o Papa Bento estava trabalhando “gentilmente” na reforma da Cúria, porém ele tinha o mundo todo em sua mesa de trabalho, como se expressou o cardeal, e sua maneira de trabalhar e seu estilo de comunicação não facilitou avisá-lo rapidamente de fora.

O Cardeal Schönborn estudou sob Joseph Ratzinger na Universidade de Regensburg e sabe-se que é próximo dele.

Ao ser indagado sobre a atitude da Igreja para com os homossexuais, o cardeal disse: “Deveríamos dar mais consideração à qualidade dos relacionamentos homossexuais,” acrescentando: “Um relacionamento estável certamente é melhor do que se alguém opta por ser promíscuo.”

O cardeal disse também que  a Igreja precisava reconsiderar a sua visão dos divorciados casados “uma vez que muitas pessoas nem mesmo se casam mais”.

A primeira coisa a considerar não deve ser o pecado, mas sim o esforço das pessoas de viver de acordo com os mandamentos, disse ele. Em vez de uma moralidade baseada em dever, deveríamos trabalhar em direção a uma moralidade baseada na felicidade, ele continuou.

O Cardeal Schönborn disse que o clero muitas vezes primeiramente protegeu os perpetradores de abusos em vez das vítimas. “Dizia-se na Igreja que nós devíamos ser capazes de perdoar, mas isso era uma falsa compreensão de compaixão”, insistiu o Cardeal. Desde o caso Groer há 15 anos, contudo, a Igreja austríaca designou um crescente número de leigos, especialmente mulheres, para investigar os casos de abuso. Entretanto, esta nova abertura por parte da Igreja não era compartilhada por todos no Vaticano, ele disse.

Questionado se ele considerava o celibato como uma das causas de abusos sexuais por parte do clero, o Cardeal Schönborn disse que não tinha resposta e que os psicoterapeutas estavam divididos a respeito.

Questionado como ele avaliaria, na escala de 1 a 5, a perda de credibilidade da Igreja devido ao “tsunami” de abusos, o Cardeal disse: “Na Irlanda a situação é catastrófica — quase um 5. Na Áustria ela é dramática — diria um 3”.

O porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, louvou a Igreja austríaca por sua abertura em lidar com a crise de abusos por parte do clero e disse ao diário austríaca Kurier, na segunda-feira, que as palavras do Cardeal Sodano na Páscoa não foram “certamente as mais sábias”.

Pell, novo prefeito para os Bispos. Sodano se nega a testemunhar no processo de João Paulo II.

Duas notícias trazidas por Andrea Tornielli:

Confirmação do Cardeal George Pell para o Congregação para os Bispos: “Nos últimos dias, Bento XVI recebeu novamente em audiência o Cardeal George Pell, arcebispo de Sydney, e oficializou a nomeação como prefeito da Congregação dos Bispos. Pell posteriormente teve uma longa conversa com o seu predecessor, o Cardeal Giovanni Battista Re. O anúncio da nomeação será feito nas próximas semanas…”

[Atualização – 06 de maio de 2010, às 13:33] Segundo matéria publicada no Kreuz.net hoje, ainda na Austrália, o Cardeal Pell mostrava estar em condições de cuidar da nomeação de bispos católicos. Desde que começou a atuar como arcebispo de Sidney, uma série de bispos católicos ortodoxos foram nomeados. O Cardeal Pell também é muito receptivo em relação à liturgia. Já como arcebispo de Melbourne, ele celebrava missas pontificais regularmente no Rito Antigo naquele local – muito antes do ‘Summorum Pontificum’.

Sodano e Sandri se recusam a testemunhar no processo de João Paulo II: Em carta de 17 de junho de 2008 ao postulador da causa de canonização de João Paulo II, Monsenhor Slawomir Oder, o Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado de João Paulo II por quinze anos, escreveu: “Pessoalmente considero que o Servo de Deus João Paulo II, de venerável memória, tenha vivido santamente, praticando as virtudes teologais e as virtudes cardeais […] A única dúvida que alguns hoje exprimem diz respeito à oportunidade de dar precedência a tal causa, saltando aquelas já em curso dos Servos de Deus Pio XII e Paulo VI”. A carta chegou no momento da conclusão da “Positio”, o volume com os testemunhos do processo. Convidados, os cardeais Angelo Sodano e Leonardo Sandri (hoje prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais e, na época, substituto da Secretaria de Estado), preferiram não testemunhar. A pergunta que não quer calar: por que os dois homens mais influentes da Secretaria de Estado no reinado de João Paulo II preferiram o silêncio?

Maciel subornou vários cardeais da Cúria durante anos.

(IHU) O fundador dos Legionários de Cristo, padre Marcial Maciel Degollado, “subornou” durante anos funcionários e cardeais da Cúria Romana com o fim de “comprar o apoio para sua congregação e para a defesa de si mesmo em caso de sua reprovável conduta ser descoberta”.

A mais recente e grave revelação sobre a inquietante figura desse sacerdote mexicano (falecido em 2008 aos 88 anos) é feita desta vez pelo jornal norte-americano National Catholic Reporter.

A reportagem é do sítio Religión Digital, 08-04-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

E isso não é tudo: a publicação aponta o dedo contra três figuras chaves da Santa Sé, definindo-os de alguma forma como “protetores” de Maciel. Trata-se do cardeal espanhol Eduardo Martínez Somalo, nessa época prefeito da Congregação para os Religiosos, o então secretário de Estado e atual decano do Colégio Cardinalício, Angelo Sodano – que no domingo e nesta terça-feira defendeu Bento XVI com força dos ataques midiáticos sobre os padres pedófilos –, e o cardeal Stanislao Dziwisz, então bispo e secretário pessoal de João Paulo II.

Com relação ao pontífice polonês, o National Catholic Reporter destaca que ele estava “às escuras” (porque lhe escondiam) com relação às acusações de abusos sexuais contra o padre Maciel que chegavam continuamente à Congregação para a Doutrina da Fé, presidida então pelo atual chefe da Igreja Católica, Bento XVI.

A publicação norte-americana entrevistou alguns legionários anônimos, que indicaram além disso que Maciel Degollado fazia com que “doações” chegassem a diversos expoentes do Vaticano.

“Na época do Natal – escreve – dirigentes e cardeais ‘influentes’ recebiam de parte dos Legionários de Cristo (por ordem de seu fundador) cestos com vinhos e licores preciosos, presunto espanhol etc., por um valor mínimo de mil euros cada um”.

Também se afirma que uma “rica família mexicana” teria pago 50 mil dólares para ter a oportunidade de assistir as missas privadas que João Paulo II costumava celebrar no Vaticano.

O National Catholic Reporter indicou ainda que houve “um cardeal que rejeitou um presente financeiro da Legião: Joseph Ratzinger”. Com relação a esse fato, o jornal lembra que, em 1997, no final de uma lição de teologia aos Legionários, um dos alunos quis lhe dar um envelope fechado dizendo que se tratava de uma “doação para uso caritativo”, e que “Ratzinger disse ‘não, obrigado'”.

Segundo a revista norte-americana, “depois que alguns ex-legionários haviam sido vítimas de violências sexuais apresentaram uma denúncia canônica contra Maciel à Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Angelo Sodano, em sua qualidade de secretário de Estado, havia exercido pressões sobre o prefeito Ratzinger para que detivesse o processo contra o fundador dos Legionários”.

Cabe lembrar que, uma vez eleito Papa, Joseph Ratzinger deu total luz verde à investigação sobre o padre Maciel, até que no dia 19 de maio de 2006 (pouco mais de um ano após sua eleição), sancionou-o, convidando-o a uma vida reservada de oração e penitência, obrigando-o a renunciar a rezar missa publicamente. Foi-lhe evitado o processo canônico (que o reduziria ao estado laical) por causa de sua idade avançada e seu delicado estado de saúde.

Até agora, o Vaticano não se pronunciou sobre essas “revelações”.

A Igreja é contigo, doce Cristo na terra!

A liturgia da Igreja convida-nos a uma santa alegria. Mesmo se cai a chuva nesta histórica praça, o sol resplandece nos nossos corações. Nós nos unimos a Vossa Santidade, rocha indefectível da santa Igreja de Cristo. A Vossa Santidade somos profundamente gratos por sua fortaleza de ânimo e pela coragem apostólica. Nós admiramos o seu grande amor e o modo como, com coração de pai, faz suas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens, atualmente sobretudo dos pobres e dos sofredores.

Hoje, através de mim, toda a Igreja deseja augurar-lhe boa Páscoa. A Igreja está com Vossa Santidade, os cardeais, os seus colaboradores da Cúria romana, os irmãos bispos espalhados pelo mundo.

Particularmente com Vossa Santidade nestes dias estão os 400 mil sacerdotes que servem o Povo de Deus nas paróquias, nos oratórios, nas escolas, nos hospitais, nas forças armadas e nos numerosos outros ambientes, como também nas missões nas mais remotas partes do mundo.

Com Vossa Santidade está todo o Povo de Deus, que não se deixa impressionar por mexericos do momento e pelas provas que de vez em quando atingem a comunidade dos crentes.

Jesus havia dito: “No mundo tereis tribulações; mas tende coragem: eu venci o mundo!”

Padre Santo, nós procuraremos guardar suas palavras nesta Solenidade pascal e rezaremos por Vossa Santidade, para que o Senhor continue a sustentá-lo na sua missão a serviço da Igreja e do próprio mundo!

Feliz Páscoa, Padre Santo! A Igreja é contigo, doce Cristo na terra!

Palavras do Cardeal Angelo Sodano, decano do colégio de cardeais, dirigidas ao Santo Padre, o Papa Bento XVI, no Domingo de Páscoa de 2010.