Peregrinação internacional a Roma: Missa Tradicional na Basílica de São Pedro celebrada pelo Cardeal Cañizares.

Cardeal Cañizares
Cardeal Cañizares

Após longa espera, foi divulgado o nome do celebrante da Santa Missa Tradicional na Basílica de São Pedro, no próximo dia 3, por ocasião da Peregrinação Internacional Summorum Pontificum: trata-se do Cardeal Antonio Cañizares Llovera, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Por conta da indefinição acerca do celebrante, surgiram rumores de que ele poderia ser o próprio Papa. A expectativa agora permanece sobre a possibilidade de Bento XVI ao menos assistir à Santa Missa celebrada pelo Cardeal Cañizares.

Essa estranha missa que o Papa não quer.

É a missa segundo o rito do Caminho Neocatecumenal. Bento XVI ordenou à Congregação para a Doutrina da Fé que a examine a fundo. Sua condenação parece certa.

Por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com

Roma, 11 de abril de 2012 – Com uma carta assinada ao Cardeal William J. Levada, Bento XVI ordenou à Congregação para a Doutrina da Fé se examine as missas neocatecumenais estão ou não de acordo com a doutrina católica e a praxe litúrgica da Igreja Católica.

Um “problema” que o Papa julga ser de “grande urgência” para toda a Igreja.

Há tempos Bento XVI está preocupado com as modalidades particulares com que as comunidades do Caminho Neocatecumenal celebram suas missas, no sábado à noite, em locais separados.

Sua preocupação aumentou também pela trama feita às suas costas na cúria no inverno passado, sobre a qual informou http://www.chiesa nos seguintes artigos:

“Plácet” ou “Non plácet”? A aposta de Carmen e Kiko. (13.1.2012)

Aos neocatecumenais, o diploma. Mas não o que eles esperavam. (23.1.2012)

Ocorreu que o Pontifício Conselho para os Leigos, presidido pelo Cardeal Stanislaw Rylko [ndr: que também promoveu a aprovação da Canção Nova…] , havia preparado um texto de um decreto de aprovação global de todas as celebrações litúrgicas e para-litúrgicas do Caminho Neocatecumenal, que devia ser publicado em 20 de janeiro por ocasião de um encontro previsto do Papa com o Caminho.

O decreto havia sido redigido por indicação da Congregação para o Culto Divino, presidida pelo Cardeal Antonio Cañizares Llovera. Os fundadores e líderes do Caminho, Francisco “Kiko” Argüello e Carmen Hernández, foram informados disso e, felizes, anteciparam a seus seguidores a iminente aprovação.

Tudo sem o conhecimento do Papa.

Bento XVI tomou ciência do texto do decreto poucos dias antes do encontro de 20 de janeiro.

E o achou incoerente e equivocado. Ordenou que fosse anulado e reescrito segundo as suas indicações.

De fato, em 20 de janeiro, o decreto publicado se limitou a aprovar as cerimônias para-litúrgicas que marcam as etapas catequéticas do Caminho.

Em seu discurso, o Papa enfatizou que somente elas haviam sido convalidadas, enquanto deu aos neocatecumenais uma verdadeira e própria lição sobre a missa — quando um ultimato — sobre como celebrá-la em plena fidelidade às normas litúrgicas e em efetiva comunhão com a Igreja.

Nestes mesmos dias, Bento XVI recebeu em audiência o arcebispo de Berlim, Rainer Maria Woelki, homem de sua confiança, que logo seria feito cardeal. Woelki lhe falou, entre outras coisas, precisamente das dificuldades que os neocatecumenais criavam em sua diocese, com suas missas separadas no sábado à noite, oficiadas por uns trinta sacerdotes do movimento.

O Papa pediu a Woelki que lhe fizesse uma nota escrita sobre o tema. Em 31 de janeiro, Woelki enviou a ele uma carta com informações mais detalhadas.

Dias mais tarde, em 11 de fevereiro, o Papa enviou uma cópia desta carta à Congregação para a Doutrina da Fé, junto com um pedido seu de examinar o quanto antes a questão, que “não concerne somente à arquidiocese de Berlim”.

Segundo as indicações do Papa, a comissão de exame presidida pela Congregação para a Doutrina da Fé tinha de ter a colaboração de outros dois dicastérios vaticanos: a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e o Pontifício Conselho para os Leigos.

E assim foi. Em 26 de março, no Palácio do Santo Ofício, sob a presidência do Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, o Arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer, jesuíta, se reuniram para um primeiro exame da questão os Secretários dos outros dois dicastérios — o Arcebispo Augustine J. Di Noia, dominicano, do Culto Divino, e o bispo Josef Clemens, do [Conselho] para os leigos — e quatro peritos por eles designados. Um quinto perito, ausente, Dom Cassiano Folson, prior do mosteiro de São Bento em Nursia, enviou sua opinião por escrito.

Os juízos exprimidos sobre a missa dos neocatecumenais foram todos críticos. Muito severo foi também o que a própria Congregação para a Doutrina da Fé havia pedido, antes da reunião, ao teólogo e cardeal Karl J. Becker, jesuíta, professor emérito da Pontifícia Universidade Gregoriana e consultor do dicastério.

O dossiê fornecido para a reunião pela Congregação para a Doutrina da Fé incluía a carta do Papa de 11 de fevereiro, a carta do Cardeal Woelki ao Papa no original alemão e em versão inglesa, o parecer do Cardeal Becker e um guia à discussão no qual se colocava, de maneira explícita, a conformidade com a doutrina e a praxe litúrgica da Igreja Católica do art. 13 § 2 do estatuto dos neocatecumenais, com o qual eles justificam suas missas separadas no sábado à noite.

Na realidade, o perigo temido por Bento XVI e muitos outros bispos — como se conclui das numerosas denúncias que chegam ao Vaticano — é que as modalidades particulares com que as comunidades neocatecumenais de todo o mundo celebram suas missas introduzam, de fato, na liturgia latina, um novo “rito”, composto de forma artificial pelos fundadores do Caminho, estranho à tradição litúrgica, cheio de ambiguidades doutrinais e causa de divisão nas comunidades dos fiéis.

O Papa confiou à comissão por ele desejada a tarefa de averiguar o fundamento destes temores, em vista das conseqüentes decisões.

Os juízos elaborados pela comissão serão examinados em uma próxima reunião plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, uma quarta-feira — uma “feria quarta” — da segunda metade de abril.

Cardeal Cañizares pede por “moderação” de concelebrações no Rito Latino.

Por Catholic Culture | Tradução: Fratres in Unum.com – O Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos disse, no dia 5 de março, que a “ampliação da faculdade de concelebrar precisa ser moderada”. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II, estendeu a permissão para a concelebração em certos casos; esta permissão foi ampliada nos anos seguintes.

“A concelebração, na genuína tradição da Igreja, seja Ocidental ou Oriental, é um rito extraordinário, solene e público, normalmente presidido pelo bispo ou seu delegado, cercado por seu presbitério e por toda a comunidade de fiéis”, disse o Cardeal Antonio Cañizares Llovera na apresentação de um novo livro sobre o assunto de Mons. Guillaume Derville, um padre do Opus Dei.

“Mas as concelebrações diárias de padres apenas, que são praticadas ‘privadamente’, por assim dizer, nas Igrejas ocidentais, em vez de Missas celebradas individualmente ou ‘more privado’ [de modo privado], não fazem parte da tradição litúrgica latina”, acrescentou o cardeal. “Ademais, parece-me que o autor foi muito bem-sucedido ao examinar profundamente as razões implícitas mencionadas pelo Concílio para estender a concelebração. Esta ampliação da faculdade de concelebrar precisa ser moderada, como podemos ver quando lemos os textos do Concílio”.

Citando o Papa Bento XVI, o Cardeal Cañizares afirmou:

“Quanto a mim, tenho de dizer que isso permanece um problema, pois a comunhão concreta na celebração é fundamental, e eu não considero que a resposta definitiva realmente tenha sido encontrada. Também levantei esta questão durante o último Sínodo, mas ela não foi respondida. Fiz ainda outra pergunta a respeito da concelebração: por que, por exemplo, se mil padres concelebram, não sabemos ainda se esta estrutura foi desejada pelo Senhor?”

Cañizares e a aprovação das celebrações neocatecumenais.

Por Vatican Insider | Tradução: Fratres in Unum.com

A Rádio Vaticano entrevista o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos sobre o decreto.

Creio que a relação entre catequese e liturgia no Caminho Neocatecumenal seja exemplar.” Afirmou o Cardeal Antonio Cañizares Llovera, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. “A aprovação deste decreto sobre as celebrações do Caminho Neocatecumenal contidas no ‘Diretorio Catequético’ é, para toda a Igreja, um reconhecimento da maneira de como a iniciação cristã deve ter sempre uma união entre a Palavra e as celebrações”.

Durante a entrevista à Rádio Vaticano, o purpurado espanhol recordou o catecumenato antigo, no qual as diferentes etapas estavam marcadas por celebrações específicas para cada momento do itinerário da iniciação, e indicou que no Caminho Neocatecumenou “se faz o mesmo hoje: por isso, não são etapas artificiais, não se trata de uma simples metodologia inventada pelos homens [caiu do céu, Eminência? Uma nova revelação?], mas que correspondem ao itinerário da conversão”.

A celebração da Eucaristia — indicou — no interior do itinerário próprio destas comunidades ocorre de maneira muito digna e bela, com grande sentido de fé, com espírito eclesial, festivo e litúrgico, com profundo ‘sentido do mistério e do sagrado’. A Palavra de Deus e a Eucaristia assinalam a prioridade de Deus, a iniciativa de Deus, e constituem a base e a fonte que dão vida, estímulo e força às comunidades, capacidade, vigor e liberdade para dar testemunho e evangelização”.

Por isso, ao concluir sua reflexão sobre a liturgia, o prefeito vaticano disse que “realmente devemos dar graças a Deus por este dom com que enriquece a Igreja, nascido na Espanha, mas de tanto e tão fecundo influxo no mundo inteiro”.

* * *

Celebração “digna e bela, com grande sentido de fé, com espírito eclesial, festivo e litúrgico” do “Caminho Neocatecumenal da Diocese de Franca, SP, em Lisboa, Portugal, na primeira Eucaristia [supomos que ao final da missa] celebrada em território Europeu por ocasião da Jornada Mundial da Juventude Madrid 2011” (descrição do próprio Youtube) .

O Caminho Neocatecumenal e a Reforma da Reforma da Reforma da…

Cristo Rei - Kiko Argüello - 1960.
Cristo Rei - Kiko Argüello - 1960.

 Se usa um espelho de vidro para olhar a face;

e se usam obras de arte para olhar a própria alma.

(G. Bernard Shaw)

Por Francesco Colafemmina | Tradução: Gederson Falcometa, cuja gentileza agradecemos.

A noticía de hoje [sexta-feira, 20] deixou muitos católicos sem palavras. A dizer, o verdadeiro processo de definitiva aprovação e integração do Caminho Neocatecumenal no interior da Igreja já estava em ato há muitos anos. O movimento Neocatecumenal, apesar da agressividade e do sectarismo dos seus adeptos, é considerado por numerosos homens da Igreja um instrumento para a “nova evangelização”, um verdadeiro recurso para a Igreja do futuro. Me permito duvidar em mérito, especialmente porque o Caminho tem uma estética pessoal – a nova estética (mesma coisa que no orwelliano 1984) em óbvio contraste com a estética católica, mas eu sei: o meu parecer não conta nada. Chegamos à questão da “liturgia” neocatecumenal aprovada. Alguns dizem: “não foi aprovada a liturgia neocatecumenal, mas só algumas cerimônias não estritamente litúrgicas”. É verdade, mas alguns pontos devem ser esclarecidos.

Igreja Neocatecumenal.
Igreja Neocatecumenal.

Antes de tudo, não existe uma liturgia neocatecumenal. Existe um aparato litúrgico neocatecumenal feito de particulares práticas litúrgicas e aparelhos cenográficos, mas este aparato — estes ornamentos, estes cantos e danças, que desmoronam em verdadeiros e próprios abusos litúrgicos — persiste em livros litúrgicos da Igreja Católica. Repito: não existe uma liturgia própria, mas uma maneira singular de viver a liturgia.

Está “maneira singular” se insere no interior do assim dito “caminho de iniciação cristã” e se explica – no estatuto – através três celebrações essenciais: a celebração penitencial, a da palavra e a eucarística. A tais “celebrações” se acrescentam outras que seguem o percurso iniciatico do neocatecumeno. Ora, são estas “celebrações” que teriam obtido a aprovação da Congregação para o Culto Divino. A responsabilidade é, portanto, toda do Cardeal Cañizares que alterna periodicamente ataques franceses a retirada espanhola, tímida abertura à reforma da reforma que constantemente abortam ou permanecem nos jornais ou na ilusão de algum fiel.

Acrescento que está escrito nos Estatutos (art. 14, 3) “Na celebração da Eucaristia nas pequenas comunidades seguem-se os livros litúrgicos aprovados do Rito Romano, com exceção das concessões explícitas da Santa Sé. No que concerne à distribuição da Santa Comunhão sob as duas espécies, os neocatecúmenos a recebem em pé, permanecendo em seu lugar”.

A questão é que, apesar das boas intenções, o rito não se realiza nestes termos. Mesmo depois da aprovação do Estatuto, os Neocatecumenais fazem o que lhes dá na cabeça. Na verdade, as prescrições do Estatuto são constantemente violadas e posso confirmá-lo por experiência própria. Portanto – o Papa que, apesar do controle de sua Cúria intrometida e anárquica, tem ainda idéias claras – considerou oportuno acrescentar algumas notas de roda-pé sobre o sentido da liturgia como momento de comunhão não sectária, mas universal, da Igreja entendida como Corpo Místico. Palavras que entram no ouvido de Kiko e saem pelo de Carmen…

Duas observações pessoais:

Primeiro: como pode o Cardeal Canizares consentir ainda hoje que se destruam os altares antigos, que se disserte sobre onde colocar um ambão ou como eliminar balaustres, e depois deixar a possibilidade a um grupo carismático de celebrar a Missa a seu gosto? Como se pode, não digo ignorar, o exemplo do Santo Padre que colocou no centro do altar o Crucifixo, mas chegar a aprovar as “celebrações” de quem no lugar do Crucifixo no centro do altar põe a sagrada Menorah? Cañizares outrora era chamado de “o pequeno Ratzinger”. Acredito que hoje se possa continuar a chamá-lo somente de “o pequeno”…

Altar Católico.
Altar Católico.
Altar neocatecumenal.
Altar neocatecumenal.

Segundo: como simples católico, me indigna saber que o rito milenar da Igreja, aquela que simplesmente é definida como Missa em latim, seja ainda um tabu para muitos Bispos, enquanto hoje se autorizam pseudo-celebrações fundadas sobre um diretório catequético aprovado faz um ano e composto de 12 Volumes, mas secretos! Como é possível que a Igreja mantenha ainda em segredo catequeses de um movimento carismático que se diz “católico”, ou seja, universal? Me preocupa, portanto, uma Igreja que aprova movimentos esotéricos. Pessoalmente prefiro uma Igreja exotérica, aberta a todos mas igual para todos.

“Plácet” ou “Non plácet”? A aposta de Carmen e Kiko.

Os fundadores do Caminho Neocatecumenal esperam obter a aprovação vaticana definitiva de seu modo “convival” de celebrar as missas. O documento está pronto, mas poderia ser modificado ou bloqueado in extremis. O veredito em 20 de janeiro.

Por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com

Acordar, tomar café, fazer uma caminhada e... dar uma palavrinha com o Papa. Eis o protocolo dos líderes do Caminho Neocatecumenal: Bento XVI recebe, respectivamente, “Kiko” Argüello, Carmen Hernández e Pe. Mario Pezzi, em 13 de novembro passado, para receber informações sobre a próxima Jornada Mundial da Juventude. Fonte: Santa Iglesia Militante.
Acordar, tomar café, fazer uma caminhada e... dar uma palavrinha com o Papa. Eis o protocolo dos líderes do Caminho Neocatecumenal: Bento XVI recebe, respectivamente, “Kiko” Argüello, Carmen Hernández e Pe. Mario Pezzi, em 13 de novembro de 2010. Fonte: Santa Iglesia Militante.

Roma, 13 de janeiro de 2012 –  Como em outras vezes nos anos passados, também neste mês de janeiro, na sexta-feira, 20, Bento XVI encontrará no Vaticano, na sala de audiências, milhares de membros do Caminho Neocatecumenal, com seus fundadores e líderes, os espanhóis Francisco “Kiko” Argüello e Carmen Hernández.

Há um ano, na audiência de 17 de janeiro de 2011, o Papa comunicou à entusiasmada platéia que os treze volumes do catecismo em uso em suas comunidades haviam recebido a tão esperada aprovação, após um longo exame iniciado em 1997 pela Congregação para a Doutrina da Fé e após a introdução de numerosas correções, com quase 2000 citações de passagens paralelas do catecismo oficial da Igreja Católica.

No próximo 20 de janeiro, por sua vez, os líderes e os membros do Caminho esperam das autoridades supremas da Igreja um “plácet” ainda mais ardentemente desejado. A aprovação oficial e definitiva do que para eles é o elemento característico distintivo mais visível, e também o mais controverso: o modo como celebram as missas.

Os quatro elementos

As missas das comunidades neocatecumenais se distinguem desde sempre por, ao menos, quatro elementos.

1. São celebradas em grupos reduzidos que correspondem aos distintos estágios de avanço no itinerário catequético. Se em uma paróquia, por exemplo, há doze comunidades neocatecumenais, cada uma em um estágio distinto, outras tantas serão as missas, celebradas em locais separados, mais ou menos no mesmo horário, preferivelmente no sábado pela noite.

2. O ambiente e a decoração seguem a imagem de um banquete: uma mesa com os comensais sentados ao redor. Também quando os neocatecumenais celebram a missa em uma igreja, e não em uma sala paroquial, ignoram o altar. Colocam uma mesa no centro e se sentam em torno dela em círculo.

30 de dezembro de 1988: João Paulo II celebrada com o Neocatecumenato.
30 de dezembro de 1988: João Paulo II celebra com o Neocatecumenato.

3. Cada uma das leituras bíblicas da missa é precedida por uma extensa “monição” por parte de um ou outro dos catequistas que guiam a comunidade e são seguidas, especialmente após o Evangelho, pelas “ressonâncias”, isto é, por reflexões pessoais de um grande número dos presentes. A homilia do sacerdote se acrescenta às “ressonâncias, sem se distinguir delas.

4. Também a comunhão se realiza reproduzindo a forma do banquete. O pão consagrado – um grande pão ázimo de farinha de trigo, dois terços branca e um terço integral, preparado e cozido durante um quarto de hora, segundo as minuciosas regras estabelecidas por Kiko – é repartido e distribuído aos presentes, que permanecem em seus lugares. Uma vez acabada a distribuição, todos o comem simultaneamente, inclusive o sacerdote. Após, passa-se de um a um o cálice do vinho consagrado, do qual cada um dos presentes bebe.

Há outras particularidades, mas bastam estas quatro para entender quanta diversidade de forma e de substância há entre as missas dos neocatecumenais e as celebradas segundo as regras litúrgicas gerais. Uma diversidade certamente mais acentuada da que há entre as missas no romano antigo e no rito moderno.

As autoridades vaticanas tentaram várias vezes reconduzir os neocatecumenais a uma maior fidelidade à “lex orandi” em vigor na Igreja Católica. Mas com pulso débil e resultados quase nulos.

O chamado mais forte se deu com a promulgação dos estatutos definitivos do Caminho, aprovados em 2008.

Madri, Jornada Mundial da Juventude de 2011: Bispos brasileiros participam jubilosos de evento do Caminho Neocatecumenal.
Madri, Jornada Mundial da Juventude de 2011: Bispos brasileiros participam jubilosos de evento do Caminho Neocatecumenal.

Neles, no artigo 13, as autoridades vaticanas estabeleceram que as missas das comunidades devem estar “abertas também a outros fiéis”; que a comunhão deve ser recebida “de pé”; que para as leituras bíblicas são permitidas, além da homilia, apenas “breve monições” introdutórias.

Não há sinais das “ressonâncias” (admitidas nos estatutos precedentes, provisórios, de 2002) neste mesmo artigo 13, dedicado à celebração da missa. Fala-se disso apenas no artigo 11, que se refere, no entanto, às celebrações da Palavra durante a semana, que cada comunidade realiza com seus próprios catequistas.

É fato: o modo como hoje os neocatecumenais celebram a missa mudou muito pouco em relação ao modo como celebravam há alguns anos, quando, ademais, passavam de mão em mão, festivos, os copos com o vinho consagrado.

Somente na teoria suas missas de grupo foram abertas também a outros fiéis.

Sentados ou de pé, seu modo convivial de fazer a comunhão é sempre o mesmo.

As “ressonâncias” pessoais dos presentes continuam invandindo e prevalecendo na primeira parte da missa.

E não é só. Da audiência com Bento XVI do próximo dia 20 de janeiro, Kiko, Carmen e seus seguidores esperam sair com uma aprovação explícita de tudo isso.

Uma aprovação com todos as bençãos da oficialidade. Promulgada pela congregação vaticana para o Culto Divino.

Ratzingeriano e antipapa.

Com um Francis Arinze como cardeal prefeito da congregação e, sobretudo, com um Malcolm Ranjith como seu secretário – como era até há poucos anos – uma aprovação semelhante teria sido impensável.

O Cardeal Arinze, atualmente aposentado, foi protagonista, em 2006, de um choque memorável com os chefes do Caminho, quando lhes ordenou, por uma carta, uma série de correções, às quais eles insolentemente desobedeceram.

Quanto a Ranjith – hoje de volta à sua pátria, Sri Lanka, como arcebispo de Colombo –, é difícil encontrar, entre os cardeais, um mais aguerrido que ele na defesa da fidelidade à tradição litúrgica. No campo da liturgia, o Cardeal Ranjith tem fama de ser mais ratzingeriano que o próprio Joseph Ratzinger, seu mestre.

Hoje, à frente da congregação para o Culto Divino está outro cardeal que se passa também por um ratzingeriano de ferro, o espanhol Antonio Cañizares Llovera.

Mas, a julgar pelo documento que estaria pronto para o próximo 20 de janeiro, não seria próprio dizê-lo.

De fato, dar via livre, por sua parte, à “criatividade” litúrgica dos neocatecumenais não seria outra coisa senão arruinar a sábia e paciente obra de reconstrução da liturgia católica que o Papa Bento está realizando há anos, com uma valentia que é igual à grande solidão que o cerca.

E forneceria um argumento a mais às acusações dos tradicionalistas, para não falar dos lefebvrianos.

Entre a astúcia e a indulgência

30 de dezembro de 1988: João Paulo II celebra com o Neocatecumenato.
30 de dezembro de 1988: João Paulo II celebra com o Neocatecumenato.

Existe uma astúcia que os neocatecumenais adotam quando Papas, bispos e cardeais participam de suas missas: a de se ater às regras litúrgicas gerais.

O Cardeal Cañizares não é o único que caiu na armadilha. O que o fez acreditar que as intemperanças litúrgicas do Caminho, embora existam, seriam mínimas e perdoáveis, se comparadas ao fervor de fé de seus participantes.

Como ele, muitos cardeais e bispos tiveram os neocatecumenais em consideração, especialmente na Espanha. Na cúria vaticana, gozam de um forte apoio do prefeito da “Propaganda Fide”, Fernando Filoni, anteriormente substituto da Secretaria de Estado.

Assim, enquanto as autoridades vaticanas são inflexíveis com os outros movimentos católicos, exigindo o respeito das normas litúrgicas, são mais indulgentes com os neocatecumenais. Por exemplo, tolera-se que suas missas sejam inundadas de “ressonâncias” e, em troca, a poderosa comunidade de Santo Egídio foi obrigada, há anos, a que a homilia fosse proferida exclusivamente pelo sacerdote e não, como ocorria antes, por seu fundador, Andrea Riccardi, ou outros líderes leigos da comunidade.

Esta difundida indulgência em relação às licenças litúrgicas dos neocatecumenais tem uma explicação que se remonta aos primeiros tempos dos movimento, e é útil recordá-la.

“Lutero tinha razão”

No campo litúrgico, mais que Kiko, é a co-fundadora Carmen Hernández quem modela o “rito” neocatecumenal.

Nos anos do Concílio Vaticano II e imediatamente após, quando ainda usava o hábito religioso das Missionárias de Cristo Jesus e estudava para obter licença em teologia, Carmen se apaixonou pela renovação da liturgia. Seus mestres e inspiradores foram, na Espanha, o liturgista Pedro Farnés Scherer, e, em Roma, Don Luigi della Torre, outro liturgista de renome, pároco da igreja da Natividade na Via Gallia, uma das primeiras comunidades romanas do movimento, e Monsenhor Annibale Bugnini, na época poderoso secretário da congregação vaticana para o Culto Divino e principal artífice da reforma litúrgica pós-conciliar.

Foi exatamente Bugnini, no início dos anos 70, quem se alegrou com a maneira com que as primeiras comunidades fundadas por Kiko e Carmen celebravam a missa. Escreveu sobre isso em “Notitiae”, a publicação oficial da congregação para o Culto Divino. E foi ele, de novo, junto com os co-fundadores, quem decidiu chamar o recém-nascido movimento de “Caminho Neocatecumenal”.

Das visitas a estes liturgistas e de uma desenvolta reelaboração de suas teses, Kiko e Carmen retiraram sua concepção pessoal da liturgia católica, que colocaram em prática nas missas de suas comunidades.

Há um livro de um sacerdote da Ligúria [ndr: noroeste da Itália], pertencente ao Caminho, Piergiovanni Devoto, que, valendo-se de textos inéditos de Kiko e Carmen, expôs em público sua bizarra concepção.

O livro, publicado em 2004 com o título “O Neocatecumenato. Uma iniciação cristã para adultos”, e com a calorosa apresentação de Paul Josef Cordes, à época presidente do pontifício conselho “Cor Unum”, hoje cardeal, foi impresso por Chirico, a editora napolitana que também publicou a única obra traduzida ao italiano de Farnés Scherer, o liturgista que foi o primeiro a inspirar Carmen.

Eis, abaixo, algumas passagens do livro, extraídas das páginas 71-77.

“No decorrer dos séculos, a eucaristia foi partida e encoberta, revestida até o ponto em que não víamos em nenhuma parte de nossa mesa a ressurreição de Jesus Cristo”…

“No século IV, com a conversão de Constantino, também o imperador, com seu séqüito, ia à igreja para celebrar a eucaristia: nascem assim as liturgias de entrada, tornadas mais solenes por cantos e salmos e, quando estes são eliminados, permanece apenas a antífona, sem o salmo, o que constitui um verdadeiro e próprio absurdo”…

“De forma análoga, aparecem as procissões do ofertório, nas quais emerge a concepção própria da religiosidade natural que tende a aplacar a divindade através de dons e oferendas”…

Celebração do Neocatecumenato.
Celebração do Neocatecumenato.

“A Igreja tolerou durante séculos formas não genuínas. O ‘Gloria’, que fazia parte da liturgia das horas recitada pelos monges, entrou na missa quando se fez, das duas ações litúrgicas, uma única celebração. O ‘Credo’ fez sua aparição quando surgiram as heresias e apostasias. Também o ‘Orate Fratres’ é um grande exemplo das orações com as quais se ornamentava a missa”…

“Com o passar dos séculos, as orações privadas são incluídas em grande quantidade na missa. Já não existe a assembléia, a missa adquiriu um tom penitencial, em nítido contraste com a exultação pascal da qual surgiu”…

“E enquanto o povo vive a privatização da missa, por parte dos doutos são elaboradas teologias racionais que, embora contendo ‘in nuce’ o essencial da Revelação, estão cobertas por hábitos filosóficos alheios a Cristo e aos apóstolos”…

“Então se entende porque surgiu Lutero, que fez tabula rasa de tudo o que ele acreditava ser acréscimo ou tradição puramente humana”…

“Lutero, que nunca duvidou da presença real de Cristo na eucaristia, rechaçou a ‘transubstanciação’ por ser vinculada ao conceito de substância aristotélico-tomista, alheio à Igreja dos apóstolos e dos Padres”…

“A rigidez e o fixismo do Concílio de Trento geraram uma mentalidade estática na liturgia que chegou até os nossos dias, disposta a se escandalizar com qualquer mudança ou transformação. Isso é um erro, pois a liturgia é Vida, uma realidade que é o Espírito vivo entre os homens. Por isso não se pode engarrafá-la”…

“Fora já de uma mentalidade legalista e fixista, assistimos, com o Concílio Vaticano II, uma profunda renovação da liturgia. Eliminou-se da eucaristia toda essa pompa que a recobria. É interessante ver que, inicialmente, a anáfora [isto é, a oração da consagração – ndr de Chiesa] não estava escrita, mas era improvisada pelo presidente”…

“A celebração da eucaristia no sábado à noite não é para facilitar o êxodo dominical, mas para ir às raízes: o dia de descanso para os hebreus começa a partir das três primeiras estrelas da sexta-feira, e as primeiras vésperas do domingo para toda a Igreja são, desde sempre, o sábado à noite”…

“Com o sábado, trata-se de entrar na festa com todo o ser, para se sentar à mesa do Grande Rei e provar já hoje o banquete da vida eterna. Depois da ceia, um pouco de festa cordial e amigável concluirá esta jornada”…

Uma pergunta

Este seria “o espírito da liturgia” – título de um livro capital de Joseph Ratzinger – que as autoridades vaticanas se preparam para validar, com a práxis que dele decorre?

Lorber, FSSPX, prefaciado por Cañizares, S.E.R. Card.

Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.comMagnificat Dominum é um novo trabalho produzido pela admirável Association Sacra Musica (France – page in English), não afiliada oficialmente a nenhuma ordem ou fraternidade em particular, pela popularização das peçcas básicas do canto Gregoriano e das canções religiosas tradicionais em vernáculo entre os fiéis. O organizador do livro? Padre Bernard Lorber, FSSPX (SSPX), o padre por trás dos mais importantes projetos de Sacra Musica.

Quem escreveu o prefácio? O Cardeal Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino. (Fonte: UnaVoce.fr; créditos: Le Forum Catholique)

Ao fim, um Motu Proprio muito “tradi”.

Por Romano Libero – Golias

Tradução: Fratres in Unum.com

Contrariamente ao que os rumores romanos deixavam entender há ainda algumas semanas, e que davam conta de intrigas no Vaticano para limitar a benevolência do motu proprio de 2007 para com os tradicionalistas, a última versão do decreto de aplicação deveria definitivamente ser abundante no sentido desejado pelos defensores da missa “old style”.

Se certos Cardeais como William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé ou Antonio Maria Canizarès Llovera, prefeito da Congregação para o Culto Divino, tentaram limitar a amplitude da aplicação do motu proprio, o ponto de vista ratzingeriano de uma concessão mais ampla teria vencido. O Papa deseja, portanto, facilitar a celebração de acordo com os antigos livros litúrgicos e não endossa, por conseguinte, o ponto de vista restritivo. Que permanece, no entanto, sendo o da grande maioria dos bispos pelo mundo.

O Papa estaria convencido cada vez mais do franco sucesso dessa medida “liberal”. Sem dúvida, aqui ou acolá, algumas reservas sobreviveriam, por exemplo, sobre a missa de ordenação de padres diocesanos que não poderia ser celebrada segundo o rito antigo. No entanto, a intenção desta medida romana é, antes, condenar a leitura minimalista do motu proprio, no sentido em que a decisão de celebrar uma missa pública de acordo com o rito antigo (ou “forma extraordinária”, como se diz hoje) suporia o acordo do bispo do local, enquanto que cada pároco é livre para organizar tal celebração na sua paróquia desde que haja um pedido. Incontestavelmente, Bento XVI em nada ignora as reservas muito vivas dos bispos que às vezes proíbem párocos bem dispostos de acolher grupos unidos à antiga liturgia e de celebrar publicamente a missa para eles. Daí esta nova chamada à ordem dirigida não aos tradicionalistas, mas aos bispos pouco cooperativos. Dentre eles, altos prelados, por outro lado dificilmente suspeitos de progressismo, como os arcebispos de Madri (Rouco Varela) ou de Washington (Wuerl), dois cardeais de prestígio e de peso.

Sabemos, de fonte romana direta, que esse decreto de aplicação, com efeito, sofreu uma dupla correção. Inicialmente, tinha sido preparado por Mons. Guido Pozzo, secretário da Comissão Pontifícia “Ecclesia Dei”, responsável pelo caso. Posteriormente, o Cardeal Levada e seu fiel conselheiro, Mons. Charles J. Scicluna, um maltês, alteraram fortemente o texto em sentido restritivo. Com o acordo do Cardeal Canizarès Llovera, o Prefeito da Congregação para o Culto Divino! As nossas informações recentes estavam, portanto, exatas.

Uma vez alterado por Levada, o documento chegou ao escritório do Papa. E este último não teria ficado satisfeito com a reviravolta operada. Ele teria, então, retornado mais ou menos ao documento tal como Guido Pozzo o tinha inicialmente. Num sentido mais favorável aos tradicionalistas.

Apesar da sua posição moderada em certos aspectos, Bento XVI é muito ligado à sacralidade da liturgia, sob uma forma tradicional, para voltar atrás a esse respeito. Ele aceita o espírito de Assis. Deu um passo em direção aos judeus, exonerando-os de qualquer culpabilidade na morte de Cristo. Mas, sobre a liturgia, ele não mudou.

“Reforma da Reforma”, anúncios e desmentidos: o precedente de 2009.

Por Francesco Colafemmina – Fides et Forma

Tradução: Fratres in Unum.com

"Procissão de Corpus Christi" em Linz, Áustria. Para o porta-voz da Santa Sé, Pe. Lombardi, não há razões para pensar em um ato “restritivo” com relação à renovação litúrgica pós-conciliar.
"Procissão de Corpus Christi" em Linz, Áustria. Para o porta-voz da Santa Sé, Pe. Lombardi, não há razões para pensar em um ato “restritivo” com relação à renovação litúrgica pós-conciliar.

Em agosto de 2009, Andrea Tornielli anunciou em sua coluna em Il Giornale que o Santo Padre havia aprovado a proposta votada pela Plenária do Culto Divino em 14 de março de 2009.

“Os Cardeais e Bispos membros da Congregação votaram quase unanimemente em favor de uma maior sacralidade do rito, da recuperação do senso de culto eucarístico, da retomada da língua Latina na celebração e da reelaboração das partes introdutórias do Missal a fim de pôr fim aos abusos, experimentações desordenadas e inadequada criatividade. Eles também se declararam favoráveis a reafirmar que o modo ordinário de receber a Comunhão conforme as normas não é na mão, mas na boca. Há, é verdade, um indulto que, a pedido dos episcopados [locais], permite a distribuição da hóstia também na palma da mão, mas isso deve permanecer um fato extraordinário”.

Acrescentava Tornielli:

“As ‘propositiones’ votadas pelos Cardeais e Bispos na plenária de março prevêem um retorno ao sentido de sagrado e de adoração, mas também um redescobrimento das celebrações em latim nas dioceses, ao menos nas solenidades principais, assim como a publicação de Missais bilíngües – um pedido feito a seu tempo por Paulo VI – com o texto em latim primeiro”.

Dois dias depois do artigo de Tornielli, chega o desmentido do Pe. Ciro Benedettini, vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. Benedittini esclarece particularmente que “no momento não existem propostas institucionais relativas a uma mudança dos livros litúrgicos atualmente em uso”. O desmentido foi considerado um “não desmentido” da reforma da reforma, mas efetivamente o tumulto que seguiu aquela antecipação do Giornale no Sacri Palazzi fez com que o projeto de Cañizares fosse abortado.

Hoje, após quase dois anos, lá vamos nós de novo!

Tornielli publicou, na manhã do dia 9 de fevereiro, um interessantíssimo artigo em que fala sobre um Motu Proprio papal dedicado à reorganização da Congregação para o Culto Divino com “a função de promover uma liturgia mais fiel às intenções originárias do Concílio Vaticano II, com menos espaços para mudanças arbitrárias e a fim de recuperar uma dimensão de maior sacralidade”.

Tornielli acrescenta, recordando sua entrevista com Cañizares em dezembro passado, que “a Congregação para o Culto Divino – que alguns gostariam de rebatizar como da sagrada liturgia ou da divina liturgia – deverá pois ocupar deste novo movimento litúrgico, inclusive com a inauguração de uma nova seção do dicastério dedicada à arte e à música sacra”.

Eu também quis falar no Fides et Forma sobre esta notícia… mas estava quase certo que chegaria o desmentido. Não porque Andrea Tornielli não tenha dito a verdade, mas porque o Cardeal Bertone certamente teria bombardeado Pe. Lombardi de telefonemas para lhe pedir que negasse o conteúdo do artigo de Tornielli.

Eis, portanto, o desmentido de Lombardi noticiado pela Rádio Vaticano, às 13:41 do mesmo dia:

“Padre Lombardi confirmou que ‹‹ há tempos vem sendo estudado um Motu Proprio para dispor sobre a transferência de uma competência técnico-jurídica — como, por exemplo, a dispensa para o matrimônio rato mas não consumado da Congregação para o Culto Divino para o tribunal da Sagrada Rota [Romana]. Mas – afirmou — não há qualquer fundamento nem motivo para se ver nele uma tentativa de promover um controle de tipo ‘restritivo‘ da parte da Congregação na promoção da renovação litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano Segundo ›› ”.

Como de costume, o propósito é intimidatório: seja em relação a Tornielli, como em relação a quem queira promover uma “reforma da reforma”. No artigo de Tornielli não se fala de qualquer “controle restritivo na promoção da renovação litúrgica”. Fala, pelo contrário, de “mudanças arbitrárias” da liturgia e, dessa forma, dos abusos litúrgicos. Assim, Padre Lombardi intencionalmente interpreta pro domo sua (ou de quem trabalha na terza loggia [ndr: terceiro andar do Palácio Apostólico, onde fica a Secretaria de Estado) um trecho do artigo de Tornielli e naturalmente vai mais além, deixando entrever o medo de uma “Igreja punitiva” no âmbito litúrgico. Pelo contrário — 50 anos depois da renovação litúrgica do Concílio” (mais de Bugnini e Lercaro que do Concílio!), Padre Lombardi tem a coragem de nos repropor a usual ladainha sobre a “promoção”desta bendita renovação litúrgica!

Pergunta: onde o Padre Lombardi viveu nestes últimos 50 anos? Não percebeu nada? Não lhe parece que a Igreja esteja desde então muito renovada liturgicamente? E não lhe parece que desde então muitos altares foram destruídos e muitas igrejas desfiguradas em nome da “promoção” da renovação litúrgica do Concílio? Muito novo para ser velho, ultrapassado, mofado, insuportavelmente retórico e francamente repetitivo?

“Chega de missa criativa, na igreja silêncio e oração”.

Apresentamos nossa tradução da entrevista concedida pelo Cardeal Antonio Cañizares a Andrea Tornielli, do Il Giornale, via La Buhardilla de Jerónimo.

* * *

Cardeal Antonio Cañizares Llovera, com a Capa Magna.
Cardeal Antonio Cañizares Llovera, com a Capa Magna.

A liturgia católica vive “uma certa crise” e Bento XVI quer dar vida a um novo movimento litúrgico, que volte a trazer mais sacralidade e silêncio à Missa, e mais atenção à beleza no canto, na música e na arte sacra.

O Cardeal Antonio Cañizares Llovera, 65 anos, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, que enquanto bispo na Espanha era chamado de “o pequeno Ratzinger”, é o homem ao qual o Papa confiou esta tarefa. Nesta entevista a Il Giornale, o “ministro” da liturgia de Bento XVI revela e explica programas e projetos.

Como cardeal, Joseph Ratzinger havia lamentado uma certa pressa na reforma litúrgica pós-conciliar. Qual é a sua opinião?

A reforma litúrgica foi realizada com muita presa. Havia ótimas intenções e o desejo de aplicar o Vaticano II. Mas houve precipitação. Não se deu tempo e espaço suficiente para acolher e interiorizar os ensinamentos do Concílio; de repente, mudou-se o modo de celebrar.

Recordo bem a mentalidade então difundida: era necessário mudar, criar algo novo. Aquilo que havíamos recebido, a tradição, era visto como um obstáculo. A reforma foi entendida como obra humana, muitos pensavam que a Igeja era obra de nossas mãos e não de Deus. A renovação litúrgica foi vista como uma investigação de laboratório, fruto da imaginação e da criatividade, a palavra mágica de então.

Como cardeal, Ratzinger havia prognosticado uma “reforma da reforma” litúrgica, palavras atualmente impronunciáveis, mesmo no Vaticano. Todavia, parece evidente que Bento XVI a deseje. É possível falar dela?

Não sei se é possível, ou se é conveniente, falar de “reforma da reforma”. O que vejo absolutamente necessário e urgente, segundo o que deseja o Papa, é dar vida a um novo, claro e vigoroso movimento litúrgico em toda a Igreja. Porque, como explica Bento XVI no primeiro volume de sua Opera Omnia, em relação à liturgia se decide o destino da fé e da Igreja. Cristo está presente na Igreja através dos sacramentos. Deus é o sujeito da história, e não nós. A liturgia não é uma ação do homem, mas de Deus.

O Papa, mais que decisões impostas de cima, fala com o exemplo. Como ler as mudanças introduzidas por ele nas celebrações papais?

Acima de tudo, não deve haver nenhuma dúvida sobre a bondade da renovação litúrgica conciliar, que trouxe grandes benefícios para a vida da Igreja, como a participação mais consciente e ativa dos fiéis e a presença enriquecida da Sagrada Escritura. Mas além destes e outros benefícios, não faltaram sombras, surgidas nos anos seguintes ao Vaticano II: a liturgia, isso é fato, foi “ferida” por deformações arbitrárias, provocadas também pela secularização que desgraçadamente atinge também dentro da Igreja. Consequentemente, em muitas celebrações já não se coloca Deus no centro, mas o homem e seu protagonismo, sua ação criativa, o papel principal é dado à assembléia. A renovação conciliar foi entendida como uma ruptura e não como um desenvolvimento orgânico da tradição. Devemos reaviver o espírito da liturgia e para isso são significativos os gestos introduzidos nas liturgias do Papa: a orientação da ação litúrgica, a cruz no centro do altar, a comunhão de joellhos, o canto gregoriano, o espaço para o silêncio, a beleza na arte sacra. É também necessário e urgente promover a adoração eucarística: diante da presenção real do Senhor, não se pode senão estar em adoração.

Quando se fala de uma recuperação da dimensão do sagrado, há sempre quem apresente tudo isso como um simples retorno ao passado, fruto de nostalgia. Como o senhor responde?

A perda do sentido do sagrado, do Mistério, de Deus, é uma das perdas de consequências mais graves para um verdadeiro humanismo. Quem pensa que reavivar, recuperar e reforçar o espírito da liturgia e a verdade da celebração é um simples retorno a um passado superado, ignora a verdade das coisas. Colocar a liturgia no centro da vida da Igreja não é em nada nostálgico, mas, pelo contrário, é garantia de estar a caminho em direção ao futuro.

Como julga o estado da liturgia católica no mundo?

Diante do risco da rotina, diante de algumas confusões, da pobreza e da banalidade do canto e da música sacra, pode-se dizer que há uma certa crise. Por isso é urgente um novo movimento litúrgico. Bento XVI, indicando o exemplo de São Francisco de Assis, muito devoto do Santíssimo Sacramento, explicou que o verdadeiro reformador é alguém que obedece a fé: não se move de maneira arbitrária e não se arroga nenhuma discricionariedade sobre o rito. Não é o dono, mas o custódio do tesouro instituido pelo Senhor e confiado a nós. O Papa, portanto, pede à nossa Congregação promover uma renovação segundo o Vaticano II, em sintonia com a tradição litúrgica da Igreja, sem esquecer a norma conciliar que prescreve não introduzir inovações exceto quando as requererem uma verdadeira e comprovada utilidade para a Igreja, com a advertência de que as novas formas, em todo caso, devem surgir organicamente das já existentes.

O que pretende fazer como Congregação?

Devemos considerar a renovação litúrgica segundo a hermêutica da continudade na reforma indicada por Bento XVI para ler o Concílio. E para fazê-lo, é necessário superar a tendência de “congelar” o estado atual da reforma pós-conciliar, de um modo que não faz justiça ao desenvolvimento orgânico da liturgia da Igreja.

Estamos tentanto levar adiante um grande empenho na formação dos sacerdotes, seminaristas, consagrados e fiéis leigos, para favorecer a compreensão do verdadeiro significado das celebrações da Igreja. Isso requer uma adequada e ampla instrução, vigilância e fidelidade nos ritos, e uma autêntica educação para vivê-los plenamente. Este empenho será acompanhado pela revisão e pela atualização dos textos introdutórios de diversas celebrações (prenotanda). Somos conscientes também de que dar impulso a este novo movimento não será possível sem uma renovação pastoral da iniciação cristã.

Uma perspectiva que deveria ser aplicada também à arte e à música…

O novo movimento litúrgico deverá fazer descobrir a beleza da liturgia. Por isso, abriremos uma nova seção em nossa Congregação dedicada à “Arte e música sacra” a serviço da liturgia. Isso nos levará a oferecer, o quanto antes, critérios e orientações para a arte, canto e música sacras. Como também pensamos em oferecer o mais rápido possível critérios e orientações para a pregação.

Nas Igrejas desaparecem os genuflexórios, a Missa às vezes é ainda um espaço aberto à criatividade, são cortadas inclusive as partes mais sagradas do cânon. Como inverter esta tendência?

A vigilância da Igreja é fundamental e não deve ser considerada como algo inquisitório ou repressivo, mas como um serviço. Em todo caso, devemos tornar todos conscientes da exigência, não só dos direitos do fiéis, mas também dos “direitos de Deus”.

Existe também o risco oposto, isto é, o de se crer que a sacralidade da liturgia depende da riqueza dos paramentos: uma posição fruto de esteticismo que parece ignorar o coração da liturgia…

A beleza é fundamental, mas é algo muito distintito de um esteticismo vazio, formalista e estéril, no qual se cai às vezes. Existe o risco de se acreditar que a beleza e a sacralidade da liturgia dependem da riqueza ou da antiguidade dos paramentos. É necessário uma boa formação e uma boa catequese baseada no Catecismo da Igreja Católica, evitando também o risco oposto, o da banalização, e atuando com decisão e energia quando se recorre a costumes que tiveram seu sentido no passado, mas que atualmente não têm ou não contribuem de nenhum modo para a verdade da celebração.

Poderia nos dar alguma indicação concreta sobre o que poderia mudar na liturgia?

Mais que pensar em mudanças, devemos nos comprometer em reaviver e promover um novo movimento litúrgico, seguindo o ensinamento de Bento XVI, a reaviver o sentido do sagrado e do Mistério, pondo Deus no centro de tudo. Devemos impulsionar a adoração eucarística, renovar e melhorar o canto litúrgico, cultivar o silêncio, dar mais espaço à meditação. Disso surgirá as mudanças…