​Na mira: a Doutrina da Fé.

Por FratresInUnum.com

As recentes “Dubia” dos quatro cardeais ao Papa Francisco e, para informação, à Congregação para a Doutrina da Fé, ameaçam fortemente o atual establishment na Igreja. Literalmente, eles não têm para onde correr.

Francisco e Stella.
Francisco e Stella (ainda Arcebispo).

Hoje, Papa Bergoglio começa seu movimento de contra-ataque, com a discreta e exclusiva nomeação do Cardeal Beniamino Stella como membro da Congregação para a Doutrina da Fé. Sim, ninguém mais foi nomeado, somente ele.

Para um leitor desatento, essa nomeação parece pouco significativa. Mas, para quem conhece o mistério que paira sobre a sombria figura desse purpurado, é bastante clamorosa a movimentação, tão mais clamorosa quanto silenciosa.

Aliás, o Cardeal Stella nunca aparece na superfície desse pontificado, mas, como publicamos anteriormente, ele é a verdadeira “eminência parda” em exercício, aquele que dá as cartas, aquele que pontifica!

Agora, sua presença na Congregação para a Doutrina da Fé tem a finalidade de encurralar o Cardeal Müller, Prefeito, amigo pessoal de Papa Ratzinger, organizador de sua Opera Omnia, cujas posições contra o “Paradigma Kasper”, que não prevaleceu no Sínodo, mas apenas em “Amoris Laetitia”, são abundantemente conhecidas.

De fato, estamos no governo das sombras! Enquanto o Papa Francisco finge desconhecer as sérias perguntas dos cardeais, reservando aos mesmos apenas indiretas venenosas, não está parado, age! Começa agora o aparelhamento do antigo Santo Ofício! Realmente, a Doutrina da Fé está na mira!

Eminência parda? Muito parda!

O artigo que traduzimos abaixo foi publicado, originalmente, no blog italiano “Papale Papale”, mas, depois de algumas horas, não se sabe o porquê, foi retirado do ar. Não se encontra sequer sua versão em cache. Afortunadamente, o artigo reapareceu num outro blog e, até o presente momento, ainda não foi removido.

* * *

Brilha uma “Stella”[1] em cima da pirâmide vaticana: o Beniamino[2] do papa

Quem é realmente a eminência parda que de repente subiu todos os graus da pirâmide vaticana e agora brilha no cume… como uma estrela? Como pôde, um homem desconhecido de todos, repentinamente se tornar a eminência parda de toda a Santa Sé e o árbitro de todas as carreiras eclesiásticas, inclusive das pertencentes à Secretaria de Estado, para qual ele escolheu o Titular? Uma espécie de dossier (pelo menos em parte) sobre o já cardeal e atual Prefeito da Congregação para o Clero, outrora presidente da Pontifícia Academia Eclesiástica (onde se fabricam os núncios), o Emmo. Card. Beniamino Stella.

de Antônio Margheriti Mastino

Todas as pontas da Estrela

Francisco e Stella.
Francisco e Stella.

A estrela é o símbolo do sionismo, uma estrela foi o símbolo das “brigadas vermelhas”, uma estrela está no centro da meia-lua islâmica, a estrela vermelha é símbolo do comunismo soviético, muitas estrelas juntas compõem a bandeira do decadente império americano, a estrela de cinco pontas é, por antonomásia, o símbolo do satanismo. A estrela também é o símbolo da maçonaria. Digamos que, em geral, não obstante o caráter melodramático que inspira, a estrela não augura nada de bom. Há algumas semanas, também o Vaticano, cruzes!, tem a sua Stella, que começou a brilhar de modo inesperado, fulminante e violento, como que direcionada para algum buraco negro. E agora se irradia sobre tudo e sobre todos, lá, no alto da pirâmide, onde subiu, excelsa, para “iluminar” também os outros, caso não estivessem lá há algum tempo.

Estamos falando do cardeal Beniamino Stella. Passou, da noite para o dia, de obscuro reitor da Academia Eclesiástica, na qual tinha estacionado à espera da aposentadoria, ali onde se formam os futuros núncios apostólicos, a nada menos que Prefeito da Congregação para o Clero, ele que nunca trabalhou como padre em toda a sua vida, derrubando da cadeira o predecessor, que tinha sido nomeado há pouco tempo pelo outro papa, e que ali, se fossem observadas as regras e o bom-tom, deveria ainda permanecer por três anos: o Cardeal Mauro Piacenza, que, notem bem!, foi a primeira vítima eminente da escalada à pirâmide vaticana de Mons. Stella.

No entanto, quem é realmente este Beniamino Stella, que ninguém, pouquíssimos, conheciam, além daqueles que frequentam os ambientes da diplomacia vaticana? Além disso, era alguém que não era visto por aí, não confiava em ninguém, saía raramente ou senão com gente selecionadíssima. A sua história é, certamente, longa; se rica ou pobre, é difícil dizer, embora esta Stella pareça nunca ter brilhado, senão pela luz daquela aurea mediocritatis, que é o máximo brilho do Vaticano pós-conciliar. Não é claro, de fato, se a sua história ignota seja obscura ou parda, e todos sabemos que entre o pardo e o escuro a variação pode ser mínima e indefinida.

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Encontro com o misterioso Prelado

Tentemos entendê-lo com vagar, neste tipo de dossier que lhes garanto provir das melhores fontes. Vaticanas e afins. Um telefonema inesperado de um amigo me anuncia o de um “secretário”, que, por sua vez, me anuncia que Alguém, o seu chefe, tinha certas coisas para me contar, das quais apenas uma parte, com um “conta-gotas”, poderia publicar “em alguma mídia on-line”. “Por enquanto”. Marcam o encontro num apartamento “insuspeitável”, num bairro histórico de Roma. Com um certo temor, digo a verdade, fui até lá. Depois de ouvir as coisas graves que, com lentíssima circunspeção e com extenuantes circunlóquios, me contavam, surgiu-me espontaneamente uma pergunta: “Me desculpem, mas isto é coisa para divulgadores de notícias muito maiores que eu; por que não vão a um Magister, a um grande vaticanista?”.

“Porque não é prudente, porque daria muito na cara. Porque não se pode controlar aquilo que um grande vaticanista, como o sr. diz, quererá dizer ou não”.

“E porque se deveria confiar num pirata sem barco, como eu?”

“Porque o sr. tem tudo a ganhar, e também tudo a perder. Porque lhe convém fazer como estou dizendo; ou estou errado?”.

Não, não erra este elegante eclesiástico de olhos glaciais e incandescentes, que enquanto olha pra você não se entende nunca o que está pensando, não se entende ao menos se, enquanto olha, lhe vê, se você existe pra ele, se não é apenas um gravador, ao invés de um ser humano. E, nisso, é realmente um homem de poder, e isto se nota. Se nota pela sua cortesia suntuosa, pela educação atroz que recebeu; por suas mãos lisas, grandes e cândidas, como que apenas trabalhadas por manicure.

Chega o secretário, afadigado, que lhe sussurra algo. Toma o telefone e diz “pronto!”, ao modo italiano, mas depois começa a falar nalguma dura declinação do espanhol, algo como o basco, penso eu, pois de outro modo teria entendido. Não entendo o que diz. Faz um outro telefonema e, desta vez, fala português.

Sinto seu bom perfume ao longe, e observo atentamente suas mãos: percebe, e se as olha também ele. “O que é que tem? É o anel?”. Com um profissionalismo estupefaciente, dispensou apresentações. Não foi um esquecimento ou uma descortesia: escolheu fazer assim.

Tem um anel dourado na mão direita. Que era um bispo, entendi há muito. “Não somente. As abotoaduras douradas ao pulso, e depois seu perfume de, no mínimo, cinquenta euros: o papa desaprovaria!”, digo com um sorriso digno de Mefistófeles. Entende a piada e abre pela primeira vez um sorriso não plastificado: “O sr. também sabe que o papa não quer ver os eclesiásticos e seminaristas que não sejam fedidos?”

“Não quer abotoaduras nas mangas, ao contrário de Bento; não quer anéis dourados, não quer nem que os padres passem perfume”, digo.

“Quer apenas fedor de ovelha e lã de cabra”, sorri. Não espera as minhas perguntas, não as previu nem as tolera: é uma confissão espontânea, calibrada em cada vírgula. Nos despedimos. E quando já ia embora me disse “atenção ao que faz, e escreve”. Não está mais sorrindo. Entende que o tom foi ameaçador demais, procura um meu olhar ressentido, enquanto me viro velozmente, e se corrige imediatamente: “Confio no sr. Sabe, os grandes…, no sentido de conhecidos…, vaticanistas são como os grandes santos ou os grandes advogados, lhe invocam como protetores e depois prestam pouca atenção às causas pequenas, talvez até as perdem; os pequenos santos ou os pequenos advogados, ao contrário…, por um cliente que têm, se dedicam completamente, e talvez vencem a causa”. Eis aí o diplomata, finalmente!, que sabe bem alternar ameaças e adulações, o bastão e a cenoura, e entender rapidamente que o “bastão”, em mim, surte o efeito oposto ao desejado; as “cenouras”, ao contrário… Nunca me considerei incorrompível: ao contrário, se necessário for, sou corrompível. Mas nunca em relação aos princípios.

“Os pequenos advogados, ao contrário…” Me faz sorrir, porque era a teoria sobre os grandes santos e os grandes advogados que tinha, e me repetia sempre, aquele grande advogado, Giovanni Leone, o ex-presidente, que conheci em seus últimos anos de vida, como vizinho de casa e acompanhante em alguns passeios a Le Rughe, na via Cassia.

A entrevista em nome de terceiros

Tenho estima por Tornielli, sobretudo porque tenho muita estima por Messori: sendo Tornielli amigo de Messori, tenho por ele, digamos, uma “estima” por reflexo condicionado: às vezes quisera me irritar com ele, mas pela razão suscitada nunca o fiz nem nunca o farei. Mas certas vezes me parece cair em tons clericais que vão muito além do permitido, mas é uma profissão difícil esta de trabalhar com aquela feminilidade volúvel e fatal de padres que iniciaram a mudar a cor das vestes, numa velocidade sempre crescente; uma profissão ingrata e vacilante, sob moldes tão instáveis de não se desejar ao pior inimigo, e menos ainda a um pai de família.

Então, é melhor pouco incenso, ópio do povo, e poucas ladainhas cantaroladas quando se tem de tratar com esta “gente non sancta”, aqui. São vingativos, capazes de lhe fazerem perder o trabalho, especialmente se percebem que você é “inteligente” e “competente”, o que, para eles, é sinônimo de “sedição” perigosa e, não o queira Deus, de “integralismo”. Dão apenas entrevistas a quem fica de joelhos, e talvez por isso eu não seja um vaticanista, pois, depois de certo número de porradas, lhes jogaria o gravador na cara.

Mas não divaguemos. Outro dia, Tornielli publicou em Vatican Insider, uma entrevista com o novo Prefeito da Congregação para o Clero, o nosso Beniamino Stella. Uma entrevista que, pelo título, parecia estar cheia de fogo e chamas: “O clericalismo faz mal aos padres e aos leigos”. O conteúdo, naturalmente, desiludia, tinha uma verbosidade aflita, típica de “documentite aguda”, e, por si mesma, de um clericalismo incolor, tão antiquado e decrépito a ponto de superar a irrelevância. Coisa que, a olhos profanos, deveria dar a impressão de confirmar a autenticidade da entrevista, que deve ser – em minha opinião – uma daqueles em que o vaticanista profissional manda as perguntas escritas ao escritório do prelado e espera que alguém lhe copie as respostas canônicas. E, em geral, é o secretário do prelado quem o faz. Todas, coisas que o olhar profano ignora.

Digamos que aquela entrevista fedia, de modo que a “salvei” e mandei que alguns “peritos” nada profanos a examinassem, com a pergunta: “o melaço é da lata de Stella?”. Eles também a submeteram a olhares especializados. O resultado da autópsia veio depois de poucas horas. “Que nulidade este Beniamino Stella!”, foi o incipit. “Quem dera fosse dele”, continua. De fato, não é ele: “Posso lhe assegurar que ele não deu a entrevista”. Talvez – me diz, em substância – os temas foram tratados, mas Stella não tem tal propriedade de linguagem para que se possa dizer que foi ele quem falou. Antes de mais nada, porque não sabe nem o que são os sinônimos. Repete as mesmas palavras em cada frase, e dificilmente, ou melhor, NUNCA, usa termos latinos, no máximo enche seus discursos com palavras espanholescas. Além disso, usa uma fraseologia diplomática que tende ao possibilismo, à persuasão, ama iniciar cada frase com um condicional, e evita cuidadosamente as frases diretas, talvez consideradas por ele “duras demais”. Todas, coisas que, na entrevista, não constam totalmente.

O clã dos vicentinos

É curioso, ou melhor, não é, que no Vaticano, há décadas, se continue com provincialismos ou anglossaxonismos. Se antes era o reino dos “clãs” provinciais, o clã dos piacentinos, o clã dos romagnolos (ou brisingueleses, que se quer dizer), depois se passou à era dos “lobbyes”: dos gays, por exemplo, o principal de todos, também porque é o mais numeroso, se presume; ultimamente, existe um grande crescimento do lobby financeiro, laico, laicíssimo, das tarefas indefiníveis mas feitas de propósito para embalar um monte de bilhões de católicos cada dia. Todavia, um clã conseguiu se tornar o novo dirigente: o clã dos venezianos, venezianos de lugares confinantes: Parolin é veneziano, veneziano é o secretário de João XXIII, Capovilla, que se tornou cardeal com quase 100 anos, veneziano é Stella, veneziano e vicentino, como Parolin, é o sucessor de Stella na cabeça da Pontifícia Academia Eclesiástica: um laço bem amarrado em torno do campanário. Como para todos os outros clãs, este também fez um ninho, na Pontifícia Academia Eclesiástica. Um verdadeiro triângulo amoroso.

Não basta: do mesmo clã, de qualquer modo, é um dos dois novos secretários de Parolin, mas a notícia é que foi Beniamino Stella quem lhos deu, sendo um escolhido dentre seus pupilos. Portanto, Parolin precisava de dois novos secretários, dos quais um deveria ser diplomata e falar inglês (e o outro “civil” e que soubesse francês), e notem que foi mesmo um inglês, um dos preferidos de Stella, outrora secretário da nunciatura na Colômbia, quando ele era núncio. Parolin pediu a Stella e eis que Stella tinha bela e pronta uma outra sua estrelinha a ser posta no firmamento vaticano.

Não é nem mesmo um mistério, ou um caso, que um dos principais colaboradores de Stella, um outro pupilo, todo dia toma um taxi para a Secretaria de Estado a fim de dar disposições, ao invés de recebê-las.

E o futuro Papa, em segredo, foi ao seu Beniamino

Agora alguém poderia pensar que foi o Secretário de Estado Parolin que disse ao Papa que nomeasse o velho amigo, Stella, ao vértice da Congregação para o Clero, mas aconteceu o contrário: foi Stella que pôs coração e alma para fazer o papa nomear Parolin, um dos tantos núncios do mundo, que sequer era cardeal, que admitiu ter encontrado Bergoglio apenas uma vez em sua vida, ao mais alto encargo do vaticano. Porque, se ainda não entenderam, é Stella quem está no vértice da pirâmide, é ele quem manobra tudo e faz as nomeações, tem faculdade de vida e de morte sobre legiões inteiras de carreiras eclesiásticas, é ele que já é membro de todas as congregações vaticanas, coisa que apenas Marchisano conseguiu anteriormente. Ele está por trás da nomeação do cardeal Lourenzo Baldisseri, diplomata, como secretário do Sínodo.

Stella, então, foi o máximo artífice da nomeação de Parolin, desde a eleição de Francisco, ele o indicou apertis verbis no primeiro colóquio oficial com o novo Papa Francisco em 6 de junho. Digo “oficial” porque, na realidade, tinham tido outros, incógnitos, e no momento mais delicado, não com o papa, mas com o cardeal Bergoglio, antes do fechamento do conclave. Minha suscitada fonte episcopal me confirma esta notícia com uma irônica pergunta retórica: “O sr. sabe que sua eminência Bergoglio encontrou Stella diversas vezes nas semanas antes do conclave, entre as quais a última, mesmo enquanto se abriam as portas do conclave?”.

Não, naturalmente, não o sei. “E, de fato, ninguém o saberia melhor dizer, pouquíssimos o sabem”. Como assim, ninguém viu Bergoglio, um papável, durante a Sé vacante, ou seja, um vigiado especial, entrar, nada mais, nada menos, que na fábrica dos núncios e dos arcebispos, para encontrar o Star? Esta é a minha ingênua pergunta. Simplesmente, parece que foi ali num horário em que não havia ninguém no portão de ingresso, talvez com exceção de uma única vez. Mas aquela vez foi o bastante para se dar a conhecer a quem deveria saber, especialmente depois do êxito do conclave. Foi um maná, também, para o “visitado”, o novo Star do Vaticano, o Beniamino do papa. Logo, Bergoglio acreditava (ou pelo menos pensava) em entrar sem ser visto.

Mas o que fazia ali Bergoglio visitando Stella, escondido? Quem sabe? E em que horários foi até lá, precisamente? No dia anterior ao conclave, pela última vez, portanto. Uma outra vez, à tarde, ou uma noite, após o jantar, ao menos pelas vezes que se contam. Mas a verdadeira pergunta é uma outra: não parece estranho que alguém como Bergoglio, com o seu estilo, com as suas idiossincrasias “anti-cortesãs” e “anti-mundanas” mande logo à Academia, o templo da “mundanidade espiritual” um padre seu? Nunca mandou ninguém em vinte anos, e o mande no “fim” da sua própria carreira? E, por fim, vá ele mesmo à Academia, e não para encontrar os padres que mandou de Buenos Aires.

Mas, o que queria, então, de Stella? Por que toda esta confidência com um diplomata? Parece que os dois se conheceram na América Latina, talvez mesmo em Aparecida, onde entre ambos havia uma caterva de bispos e cardeais; mas Bergoglio deve ter entrado no coração de Stella, sobretudo, com a redação do texto final. Então, sobre o que falou Bergoglio a Stella nas visitas secretas? Falavam das chances e do futuro, imaginemos, do conclave. Mas uma coisa permanece certa como a morte: no “fim” de sua carreira [como arcebispo de Buenos Aires], Bergoglio mandou a Roma diversos de seus padres, a fim de prepará-los para “alguma coisa”, além de que para que eles lhe contassem “coisas romanas”, “fofoquinhas” curiais, sobretudo, que não desprezava saber e, antes, como se disse, o divertia. E…, jogando também se aprende. E talvez os padres de Bergoglio teriam contado dele a Mons. Stella, o futuro prefeito da Congregação do Clero e deus ex machina do Vaticano.

Como as estrelas, que quando há luz, não se vêem

Mas, entre Parolin e Stella, que ligame existe além de serem conterrâneos, considerado que os dois são distantes em algo como 15 anos? Simples: são verdadeiramente amigos e, como todos os amigos, cúmplices. É isso, a sorte e o destino de um é ligado ao do outro. Mas, entre os dois, aquele que está acima é Stella.

Se vocês fizerem uma pesquisa no google, notarão que antes de sua nomeação para a Cúria, não existem documentos, artigos e sequer fotos, além das costumeiras coisas oficialíssimas, sobre Stella. Escuro absoluto. Mistério. Era um fantasma. Mas, então, quem é… que tipo é realmente este personagem que subiu de repente, à venerável idade de mais de 72 anos, às honras da crônica? Deveríamos começar mesmo por seu dado anagráfico incomum, porque para um tipo de carreira que ele teve não se explica o epílogo: é como um coqueiro que desse bananas. Mas não o faremos agora.

Ao invés disso, concentremo-nos um instante sobre o homem Beniamino Stella.

Uma pessoa muito reservada. Sai pouco, seleciona muito as pessoas com as quais sai, não se mostra nunca passeando por aí, nunca num restaurante: quando sai, se esconde atrás dos outros. Às vezes, é visto com roupa esportiva e boné na cabeça pegando a bicicleta para se movimentar em qualquer parque romano, mas ninguém o reconheceria, salvo o autor deste artigo, que, avesso às coisas e aos rostos eclesiásticos, e habituado às manhãs dominicais da Villa Doria Pamphilj em Monteverde, reiteradamente reconheceu em um distinto ciclista desconhecido ele mesmo, Stella. Tentei confirmar por aí: me confirmaram.

Vida moral limpa? O sujeito parece quase um assexuado, daquilo que se sabe, mas eventualmente seria necessário perguntar ao governo cubano (esteve ali por anos, terão relatórios inteiros que lhe dizem respeito)… para talvez não encontrar nada, porque, para aqueles que o conhecem, e são poucos, se jura de todos os modos que nunca houve nenhum sinal de dupla vida em nível moral sobre ele. Nunca.

Mas é justo esta “perfeição” que fede.

Bem, de resto, ele precisa contar em todo lugar que foi o próprio Albino Luciani que o escolheu pessoalmente e, portanto, diz, qualquer qualidade terei de haver. O ponto é que isso não é verdade, ou melhor, é uma meia verdade: Stella esteve no seminário romano e dali foi logo para a Academia. Provavelmente, Luciani o tenha visto somente no dia de sua ordenação. Mas é claro que entrou em sua ex-Academia dos Nobres porque é amigo de alguém, na época era assim, e estão tantos venezianos na Academia quanto veneziano era o onipresente Sebastiano Baggio. Uma autoridade na época. Um outro vicentino. Um outro com forte cheiro de maçonaria, estando em várias lendas metropolitanas e, se diz, também em diversas pastas judiciárias. Repito, é imaculado demais, e é justo isso que fede.

Já manifestou alguma ideia eclesiológica particular? É difícil dizê-lo. Não é um tipo que se manifeste a si mesmo; pela educação que recebeu e a carreira que se fixou, seria a ruína. Em geral, fontes de oltreoceano nos confirmam: não fala, mas deixa que sejam outros a falarem, talvez deixando qualquer saída de modo tendencioso, sobre este ou sobre aquele setor nevrálgico, para colher a reação, para testar a fidelidade, para escanear o eventual imprudente doutra parte: Jano duas caras, não faz ou diz nada senão para ter informações, enquanto te alisa, te arrebenta sem que o percebas e, neste sentido, é um verdadeiro mágico. E mais de um foi esfolado pelo amo, pelas eventuais respostas imprevidentes que deu, revelando-se, simplesmente respondendo uma pergunta. Stella é felpudo, não deixa rastros quando destrói alguém. Simplesmente dá uma piscadinha de olho, espalha vaselina e, fazendo de conta que pensa como você, age segundo aquilo que a lógica do poder impõe.

Ou, como diria Papa Francisco, com uma frase inconscientemente revelatória: “Monsenhor Stella sabe bater à porta!”.

E as estrelinhas não estão olhando…

Atenção, porém, tudo isso não faz de Stella um guardião da ordem; da sua ordem, certamente, mas não da ordem geral da Igreja. Não é, de fato, imparcial, como parece. Nenhum homem neutral poderia sobreviver naqueles ambientes. Um dissimulador, sim, mas não um homem puro. Stella é o contrário: parcial e partidário, favorece as pessoas que considera mais que merecedoras (mas o Vaticano, de resto, é o Éden dos “recomendados”, onde mais que as qualidades, contam as fidelidades individuais, as relações de confiança, a intimidade corporativa, a cumplicidade de grupo) e ele o está demonstrando também em seu novo papel de Prefeito de uma dentre as mais importantes congregações.

São-me trazidos alguns exemplos, aos quais poderei somente acenar-lhes de modo leve, por enquanto. Cada ano, a fábrica de núncios desenforma uns quinze alunos, e até aqui, tudo normal.

Agora, porém, existem dois fatores, como muitos sabem.

Um primeiro. Na Academia se louva muito o aproveitamento nos exames e no estudo. E, assim, os estudantes piores, quase desprezados pelos outros – assegura-me o antigo diplomata diante de mim – são aqueles que não conseguem concluir o doutorado dentro da metade do último ano. Significa que não estudaram e não foram capazes de terminar tudo em tempo: são considerados pelos colegas e professores como ociosos e tolos, pessoas que não conseguem fazer os “trabalhos indicados”.

O segundo. Explica-me a minha fonte, Sua Excelência, que depois soube que girou meio globo terráqueo em funções de relevância diplomática, como são os critérios para definir o país de destinação e o seu prestígio. Diz-me que, substancialmente, existem destinações “missionárias”, ou seja, diplomacias de série A, B, C, de acordo com o país, certamente, mas também de acordo com muitas condições contingentes, do mesmo modo variáveis. Antes de mais nada, o nível de pobreza do país, esta é uma condição fundamental. As primeiras missões são, normalmente, na Ásia, África e Amética Latina, mas não todos os países destes continentes. É necessário tirar da América Latina os países mais importantes, tirar da África os países do norte islâmico e o sul, mais rico, tirar da Ásia os países com mais progressos, como a Índia, o Japão e a China. Claramente, todos os países da Ásia são considerados as coisas mais nojentas, porque mesmo se alguém for a um país rico na primeira vez, se está sempre longe e tudo é diferente do Ocidente. Do mesmo modo, quem parte da Ásia, terminará, depois, na América Latina ou na África. E a sua escalada se prolongará até o infinito. Se quisermos tentar fazer uma classificação, também com base naquilo que pude entender daquele diálogo, então, da Ásia é como partir do -1; se lhe mandarem para a África negra ou um país pobre da América, estará no 0. Para ser 1, deve-se mandar para um país da África do Sul, onde são mais desenvolvidos e não existem guerras e tem menos fome, ou um país da América Latina entre os mais populosos e parecidos com o Ocidente. Se for parar ali, segundo a ordem em que for mandado, será destinado a uma sede de nível 2 ou, como todos esperam, será mandado para Roma.

Acontece, porém, que alguém seja tão afortunado a ponto de ir para uma sede “fora” do programa já desde a primeira nomeação. Talvez mesmo um dos “burrinhos”. Que vá terminar numa sede melhor, senão de série A, ao menos de série B, suculentíssima, sendo também um país turístico. Mas não diremos os nomes nem dos “afortunados” nem dos países “suculentos” (por enquanto, ao menos).

Mas quem são estes cujo mérito foi tão grande a ponto de serem maximamente premiados?

E logo se responde: os “prediletos” de Beniamino Stella. E foi propriamente por isso que não deveriam ser um tipo de santo, além de não serem astros de inteligência, nem referências no estudo. E, de fato, o problema é que, em certos casos, os “prediletos” quase sempre eram propriamente os piores entre os alunos. Que fosse somente este o problema! Parece que algum destes ilustríssimos cadetes tenha sido mandado à Academia pelo próprio bispo, a fim de que fosse mantido longe da diocese: mantê-lo equivalia a meter uma bomba-relógio no sacrário da catedral. Por suspeitas e velhas acusações, verdadeiras e próprias, as mais perigosas vão aqui (mas, por ora, não podemos dizer mais). E, notem, com o clássico método do promoveatur ut removeatur, foi mandado para a Academia, onde “brilhou” com a luz refletida pelos “prediletos”, nascidos sob uma boa Stella, pela burrice, a incontinência sobre cujo gênero é melhor calar. Tanto trovejou que chove, com um igual curriculum, um “predileto” de Stella, não obstante tudo, pode muito bem dar-se em primo round a missão diplomática mais desejada e suculenta. Mas, como ensina o Evangelho, “as prostitutas vos procederão no reino dos céus”, mas também sobre a terra, parece.

Talvez seja propriamente para evitar curiosidades “perigosas” e acidentes com os alunos, tipo alguém que queira verificar cada nome e descobrir que é refugium peccatorum além de ser scholam diplomaticorum, talvez seja por isso (antes, é certo) que a Academia Eclesiástica, no site oficial do vaticano, decidiu não atualizar a lista de seus alunos, que, prestem atenção, parou nada menos que em 2002, isto é, há doze anos: uma era geológica, que viu passarem três pontificados.

Nascido sob uma boa Estrela, um só mérito: ter feito Bento escorregar

Pergunto ao meu excelente interlocutor acerca do sucessor de Beniamino Stella à presidência da Pontifícia Academia Eclesiástica. Não gosta de perguntas, prefere as declarações espontâneas. Derrete o olhar gélido que me desafia por alguns segundos, mudado. Tempera a tensão com uma piada: “Um de quem deve sempre olhar de costas” e ri a valer, também o secretário, e acrescenta “especialmente se vem antes dele pela escada”. Riem com gosto, eu não, porque, em minha ainda dúbia inocência, não entendi. Tive como que a sensação de que estivessem abusando de mim, mas talvez não; aludem, simplesmente. É um fato que Gianpiero Gloder foi logo consagrado bispo pelo Papa Francisco, talvez seja o primeiro que tenha consagrado. Tem 55 anos e um curriculum bastante escasso para aceder a tanta glória como cabeça da Pontifícia Academia Eclesiástica, sucedendo Stella. Digamos que lhe bastou ser um outro do clã vicentino. É o enésimo “predileto”, antes, o “preferido” do próprio Stella. Todavia, um ponto em falso tem: o título de comendador, um trapo de pano honorífico que lhe foi concedido pelo então presidente católico-comunista do Conselho, Romano Prodi. O motivo nos é ignorado.

Mesmo não tendo feito uma missão no exterior (menos de dois anos na Guatemala) se tornou presidente. Era até pouco antes o ecônomo da Academia (2001-2008), quando desde 2005 foi posto para fazer o que?… Esta é a pergunta mais importante… Capo ufficio para os Assuntos especiais! Logo quando Ratzinger se tornou papa. Mas, na realidade, o que fazia ali? Corrigia, do ponto de vista político, os discursos do Papa; este trabalho se tornou tão pesado que, pouco depois, deixou a Academia. Em 2008, quando foi engatilhada a hora da vingança, Sodano sendo aposentado à força, começava a operação vaticana para “neutralizar Bento”, gerenciada, notem, pelo grupo diplomático-curial, com a benção de Sodano: guerra anti Bento, devida à sua tentativa de afastar todos os diplomáticos dos postos de poder (coisa que, na época, era avaliada por todos como positiva, “finalmente”), entre os quais o sancta sanctorum de tais postos, isto é, o Secretário de Estado. Bertone era um civil, não um diplomata. “Erro” fatal. Que começasse a guerra, Sodano deu a entender com um sinal “logístico”, o arrogante e ruidoso rechaço de ceder ao sucessor, por mais de um ano, as suas secretarias, onde continuou a se meter, insensível a cada chamada.

Vocês pensaram que tenha um bom trabalho para merecer-se uma tão fulminante promoção, naquela que (hierarquicamente falando) pode ser considerada uma sede de excelência? Não foi para a Ásia, nem para a África, nem para a América latina… Ficou em Roma. O que podemos concluir, então? Que tem amigos muito poderosos, pois de outro modo não permaneceria no exterior pouco mais de um ano. Sobretudo, tem um “mérito”, o maior, que o torna um astro nascente: manipulou os discursos políticos de Bento, tanto que foi a causa dos escorregões e dos acidentes diplomáticos daquele pontificado. Ou melhor: simplesmente não lhes conferiu, ou não os quis modificar, sendo que politicamente os problemas dos discurso de Bento eram seus problemas. Não resolvidos. Fez carreira, e não por acaso. Nasceu sob uma boa Stella.


[1] Stella, em italiano, estrela. O autor faz o trocadilho entre o nome de Beniamino Stella e a estrela.

[2] O nome Beniamino, em italiano, significa, também, “o predileto”.