Dom Cláudio, um homem de contrastes ou um coerente clérigo da Igreja conciliar?…

Por FratresInUnum, 6 de julho de 2022 — Foi sepultado hoje, na cripta da Catedral da Sé, em São Paulo, o arcebispo emérito da cidade, Dom Claudio Hummes, franciscano, bispo, cardeal, uma personalidade muito interessante no atual cenário da Igreja.

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Hummes em 2008

É muito fácil julgar alguém a partir de uma posição doutrinal, inclusive porque dificilmente as pessoas conseguem realmente se enquadrar dentro dela, ao menos em todos os períodos de sua vida. A instabilidade da Igreja desde o Concílio Vaticano II, a crise teológica e pastoral dele decorrente e a mentalidade tipicamente positivista que predomina na formação do clero contemporâneo podem explicar como alguém consegue trafegar por tão diferentes direções no curto decurso de uma vida.

Quando falamos de “positivismo”, referimo-nos a essa mentalidade tão comum em uma Igreja que já não é determinada por um lastro doutrinal: para conservar a unidade, não podemos mais recorrer a princípios objetivos, mas apenas temos de seguir a quem manda, criando retóricas que justifiquem a posteriori as orientações dadas. 

É daí que decorre o comportamento camaleônico de tantos padres. Eles se comportam de um jeito quando o establishment é um e mudam quando é outro, com a facilidade de quem se move ao soprar dos ventos. Infelizmente, o depauperamento intelectual da Igreja pós-conciliar, que foi necessário para que se justificasse tamanha quebra doutrinal com a teologia precedente, produziu esse efeito, do qual são vítimas praticamente todos os padres sobreviventes ao Concílio e, sobretudo, os ordenados depois dele.

Pois bem, Dom Cláudio teve um começo progressista. Foi nomeado bispo coadjutor de Santo André por Paulo VI, em 1975. Naquele tempo, apoiou o movimento sindical, cujo máximo chefe foi seu amigo por toda a vida: Luís Inácio Lula da Silva, a quem se diz que ele ajudou a esconder durante as procuras da polícia da época. Ele nunca negou o seu passado engajado nas lutas dos trabalhadores amotinados sob a bandeira socialista. Nesse período, ele se aproximou da teologia da libertação, bem como deferiu duros ataques ao capitalismo e à globalização.

Contudo, durante o pontificado de João Paulo II, ele deu uma guinada à direita, especialmente quando foi arcebispo de Fortaleza (1996-1998). Ao ser nomeado arcebispo de São Paulo, já tinha uma fama de “conservador”, como bem documenta uma matéria da Folha de São Paulo, de 16 de abril de 1998:

“A nomeação de d. Cláudio foi recebida com preocupação pela parte da arquidiocese que defende maior participação da igreja nas questões políticas e sociais. Embora o novo arcebispo tenha se notabilizado pela defesa dos operários do movimento grevista do ABC, entre 78 e 82, quando era bispo de Santo André, nos últimos anos ele tem se identificado com o chamado setor ‘conservador’ do clero, que defende prioridade para as questões religiosas”.

De fato, a sua passagem pela arquidiocese de São Paulo foi muito mais “conservadora” que “progressista”: ele expulsou drasticamente do seminário todos os homossexuais, o que provocou uma baixa de candidatos ao sacerdócio absolutamente sensível; criou um modelo de formação bastante rigoroso, o qual ele exportou mediante cursos para reitores organizados sob a sua supervisão, que traziam sempre a participação de expositores de Roma, inclusive de importantes cardeais e chefes de dicastério (tratava-se de uma espécie de reprodução do curso de bispos tradicionalmente realizado pela arquidiocese do Rio de Janeiro, mas, no caso, para reitores de seminário); convidou para os cursos do clero da arquidiocese de São Paulo teólogos europeus de renome, que depois se tornaram bispos e até cardeais.

A mudança de direção provocou duras resistências por parte de uma parcela considerável do clero de São Paulo, que não lhe tinha nenhuma simpatia. Basta lembrar das cartas anônimas que circularam naquelas épocas, que eram verdadeiros protestos contra a sua pessoa e contra a sua linha pastoral, acusada de descontinuidade com Dom Paulo Evaristo Arns (cujo centenário a arquidiocese de São Paulo celebra de modo tão ostensivo este ano, sem quase nenhuma adesão popular).

Durante aqueles anos, Dom Cláudio começou a falar angustiadamente sobre a questão da evangelização porta-a-porta, pois estava aterrorizado com as notícias da expansão do protestantismo pelo Brasil. Psicologicamente, ele tinha aquele vício germânico de ideias fixas e, portanto, repetia aqueles discursos sob forma de refrão, em verso e prosa, por todos os lados em que andasse.

Quando Bento XVI foi eleito, nomeou-o Prefeito para a Congregação do Clero. Ali, embora tenha ocorrido aquele seu deslize inicial, quando se demonstrou favorável à discussão sobre a ordenação de homens casados para o sacerdócio, declaração “voluntariamente” corrigida no momento mesmo do seu desembarque no aeroporto de Fiumicino, ele também não teve um governo progressista, muito pelo contrário.

O Card. Hummes, por exemplo, determinou a sumária expulsão do sacerdócio de todos os padres que tivessem filhos, mediante uma carta enviada aos bispos do mundo inteiro por meio das nunciaturas. Determinou visitas apostólicas, fechamentos de seminários, intervenções em dioceses, e isso por todo o mundo. De certo modo, podemos dizer que a linha dura seguida pela Santa Sé nos anos seguintes, inclusive pela concessão do Papa das chamadas “faculdades especiais” à Congregação para o clero, foi fruto do seu trabalho precedente.

Foi durante a sua gestão como Chefe do Dicastério do Clero que a Santa Sé promoveu o Ano Sacerdotal, que foi um estrondo de exaltação do sacerdócio católico em meio a uma tempestade de escândalos, durante o qual se realizaram conferências importantíssimas acerca da importância do celibato sacerdotal e da santidade do sacerdócio.

Quando ocorre a eleição do Papa Francisco, ele muda completamente de direção. 

Ao nosso ver, a análise que os jornais fizeram de sua atuação no conclave é muito exagerada. Ele não era um membro da chamada Máfia de St. Gallen. O equívoco se deve ao fato de que, na biografia do Card. Danneels, menciona-se uma reunião realizada em 1984 da qual participou o Card. Basil Hume, inglês; que não pode ter participado da reunião de 2006, aquela que definiu Bergoglio como candidato da chapa progressista, visto que Hume faleceu em 1999.

A sua frase ao recém-eleito Bergoglio, “não esqueça dos pobres”, pode muito bem ter sido uma daquelas expressões brasileiras que se fazem quando alguém é promovido ou fica muito rico – não esqueça dos pobres, hein?! –, que não tem correspondente em espanhol ou italiano e, justamente por isso, pode ter sido captada de modo meio místico pelo papa argentino, a ponto de tê-lo dado a ideia de escolher o nome de Francisco e, por isso, de chamar o Card.  Hummes, juntamente com Danneels, para estar com ele na sacada de São Pedro durante a sua apresentação ao mundo… Hipóteses, sempre hipóteses…

Mas, se a sua participação na eleição de Francisco parece realmente ter sido fraca, seu protagonismo posterior no desenrolar do pontificado não o foi, pois ele soube rapidamente engajar o pontífice naquelas ideias que giraram em torno do eixo A-A – Alemanha-Amazônia: o ecologismo tribalista e a eventual ordenação dos homens casados para o sacerdócio, enfim, aqueles temas que, juntamente com o da comunhão aos adúlteros, a ordenação das mulheres e o casamento homossexual, compõem o conjunto das polêmicas germânicas que se tentaram impor com o chamado “Amazoniza-te”. 

Na verdade, a articulação em torno da Amazônia foi apenas uma espécie de tentativa de abrir uma brecha na Igreja para que se introduzisse depois toda a agenda do episcopado alemão, que detém os cofres mais opulentos da Igreja atual, com um Vaticano em plena crise financeira. Aqui, a tal opção pelos pobres já se esvaiu há muito tempo! E é justamente isso que está por detrás do atual Sínodo sobre a sinodalidade.

Contudo, se Laudato sì, o Sínodo da Amazônia e Querida Amazônia não conseguiram despertar engajamento nos fieis, produziu certo desapontamento tanto em Francisco quanto em Dom Cláudio: comenta-se que o papa não gostou do Sínodo da Amazônia, que se irritou com aquele culto à Pachamama, que esperava algo elevado do ponto de vista acadêmico e o que obteve foi uma grotesca celebração das CEBs, que causou vergonha por todos os lados; mas também Dom Cláudio saiu dessa experiência um tanto desiludido, tanto porque esperava maior reverberação, quanto porque os seus intentos de ordenação de um clero casado autóctone foram abortados pelo Papa, que não teve coragem de levar até o fim aquilo que havia ensejado.

Parece, mesmo, que essa fixação do Card. Hummes na ordenação de homens casados era devida a muitas questões interiores: ele era realmente contrário aos escândalos no clero e achava que um modo de resolvê-los seria esse, também se afligia com o avanço do protestantismo na região amazônica e queria uma contrapartida da Igreja… Mas terminou vendo essas aflições um tanto irrespondidas e, talvez, um pouco interiormente desiludido com o pontificado atual (ao menos há relatos de padres que trabalham na Amazônia e que teriam escutado discretas declarações disso por parte dele).

Em todo caso, ele é um modelo dos clérigos conciliares: vão de um lado para o outro ao sabor dos pontificados, quer sejam conservadores ou progressistas. A instabilidade doutrinal produziu o positivismo, que acabou sendo a psicologia dos padres e que os faz usar casula romana em 2009 e abraçar a Pachamama em 2019; contrastes chocantes, mas que podem ser compreendidos sob a luz de uma coerência subjetiva, a de obedecer a quem manda, independentemente de princípios, que são rearranjados retoricamente a posteriori para justificar as ações comandadas.

Se isso é uma tragédia psico-eclesial, de um lado, demonstra o completo fracasso intelectual do progressismo, de outro. Essa loucura teológica conseguiu produzir apenas vazio e ceticismo. O que resta, na vida prática, é adaptar-se. E talvez esse tenha sido o maior sucesso de Dom Cláudio, como comenta uma matéria da BBC de 15 de abril de 2005:

“A chave para o entendimento dessa aparente contradição na trajetória de d. Cláudio está na sua capacidade de se adaptar aos rumos da Igreja Católica mundial e à realidade do Brasil”.

Nesse sentido, D. Cláudio foi não apenas um clérigo típico da Igreja Conciliar, mas talvez tenha sido um dos mais eminentes e um dos exemplares mais bem-sucedidos.

A caridade cristã nos obriga a rezar por sua alma e a desejar que ele descanse nos braços de Deus. Fato é que os seus equívocos não apagam o bem que ele fez e, por isso, esperamos que o Senhor lhe tenha concedido tempo de arrependimento e a salvação eterna.

Dom Claudio Hummes, o amigo de Lula.

Por Hermes Rodrigues Nery, 4 de julho de 2022.

Uma reportagem da revista Veja, em 2002, dizia que Cláudio Hummes estava na lista de papáveis[1]. Ao ser escolhido para dirigir os Exercícios Espirituais ao papa João Paulo II, em 2002, Hummes mostrou seu prestígio junto à Cúria Romana, meses depois de ter sido nomeado cardeal.

Cláudio Hummes e Lula

Em janeiro de 2003, ele assumiu o comando da Congregação para o Clero, chefiando cerca de 400 mil sacerdotes, em todo o mundo. Naquele mesmo ano, Frei Betto despachava no terceiro andar do Palácio do Planalto, em Brasília, numa sala ao lado do amigo Luís Inácio Lula da Silva (1945- ), que iniciava seu primeiro mandato como Presidente da República Federativa do Brasil. Na ocasião, muitos bispos quiseram eleger Cláudio Hummes Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dada a sua proximidade com Lula (que chegou a ir pessoalmente a Itaici para influenciar os bispos a votarem em Cláudio Hummes). Mesmo sem ser candidato, Hummes recebeu 64 votos, tendo sido eleito Geraldo Majella Agnelo (1933- ), com 207 votos. Amaury Castanho (1927-2006), bispo de Jundiaí, enfatizou aos colegas que havia “uma ponte excelente”[2] entre Hummes e Lula. Dias antes da assembleia da CNBB, Hummes celebrou a missa do Dia do Trabalho em São Bernardo do Campo e “pediu aos presentes que saudassem a chegada de Lula com ‘vivas’”[3]. Foi Hummes quem conseguiu viabilizar o encontro de Lula com o papa João Paulo II, no Brasil, aonde Lula esperou duas horas, sob chuva, pelo encontro em 1980, antes do papa dar início à celebração no estádio do Morumbi, em São Paulo.

Mesmo depois de eclodir o escândalo do Mensalão[4], em 2005, Hummes foi enfático sobre Lula, ao dizer no programa de televisão Roda Viva: “Eu continuo sendo amigo dele, admiro ele muito e creio que foi um dos sinais maiores do Brasil diante do mundo (…) mas eu gostaria de dizer que eu continuo vendo o Lula como uma pessoa absolutamente honesta”[5]. E ainda ao ser indagado o que falaria para ele, assim que o reencontrasse, Hummes afirmou: “Eu daria a ele um grande abraço, certamente daria a ele um grande abraço e diria que eu espero que ele consiga dar a volta por cima e reconstruir esse governo e levar em frente o governo e terminar. É isso que eu diria a ele. E eu espero isso dele, que tem capacidade de fazer isso. A estrutura moral interior ele tem, para isso”[6]. A amizade de Cláudio Hummes e Lula perdurou até depois de sua saída da Presidência da República, tendo sido recebido pelo líder petista, no Instituto Lula, em São Paulo, mesmo depois do surgimento da Operação Lava Jato[7].

Prof. Hermes Rodrigues Nery é Coordenador Nacional do Movimento Legislação e Vida. Email: prof.hermesnery@gmail.com

[1] SABINO, Mário. Um papa brasileiro?. Veja online, ed. 1746, 10 abr. 2002. Disponível em: <https://bit.ly/2Mcook9&gt;. Acesso 31 jan. 2021.

[2] CARIELLO, Rafael. CNBB elege d. Geraldo Majella. Folha de S. Paulo, 6 mai. 2003. Disponível em: <https://bit.ly/3aaZxVL&gt;. Acesso 31 jan. 2021.

[3]  Idem, ibidem.

[4] Escândalo de compra de votos que abalou o governo Lula em 2005.

[5] RODA VIVA. Entrevista com Dom Cláudio Hummes. Memória Roda Viva, 11 jul. 2005. Disponível em: <https://bit.ly/3t54Hv4&gt;. Acesso 31 jan. 2021..

[6] Idem, ibidem.

[7] INSTITUTO LULA. Lula encontra Dom Cláudio Hummes, 11 ago. 2014. Disponível em: <https://bit.ly/3aehxyt&gt;. Acesso 31 jan. 2021. Lula foi preso pela Operação Lava Jato em 7 de abril de 2018, aonde ficou 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, sendo solto em 8 de novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal ter decidido pela inconstitucionalidade da prisão em segunda instância.

Tradicionalismo, sim… Mas só para os indígenas.

Por FratresInUnum.com, 10 de outubro de 2019 – O desprezo ao catolicismo tal como o conhecemos transparece a cada dia com mais força e violência nas palavras e nos gestos do Papa Francisco. Despido de pudores, ele avança contra qualquer sinal de legítima devoção católica, enquanto usa a mesma autoridade em favor de todas as tradições indígenas e pagãs.

Papa Francisco e sua preferência por modelos alternativos de Saturno
Papa Francisco e sua preferência por modelos alternativos de Saturno.

Em seu discurso na abertura dos trabalhos sinodais, Dom Claudio Hummes — que alguns querem demonizar isoladamente, como se não estivesse ali nomeado por Francisco —   disse que “desde o início de seu ministério papal, Francisco sublinha a necessidade de a Igreja caminhar. Ela não pode ficar sentada em casa, cuidando de si mesma, cercada de muros de proteção. Muito menos ainda, olhando para trás com certa nostalgia de tempos passados. Ela precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade. (…) Esse caminhar a torna fiel à verdadeira tradição. Uma coisa é o tradicionalismo que fica preso no passado, outra é a verdadeira tradição que é a história viva da Igreja, em que cada geração, acolhendo o que lhe é entregue pelas gerações anteriores como compreensão e vivência da fé em Jesus Cristo, enriquece esta tradição com sua própria vivência e compreensão desta mesma fé em Jesus Cristo no tempo atual”.

Mas, ao mesmo tempo em que, com um chutinho, joga toda a tradição católica no lixo do esquecimento e da banalidade, o mesmo Dom Claudio assegura que:

“De fato, a humanidade tem uma grande dívida para com os povos indígenas nos diferentes continentes da terra e também na Amazônia. É preciso que aos povos indígenas seja devolvido e garantido o direito de serem sujeitos de sua história, protagonistas e não objetos do espírito e prática de colonialismo de quem quer que seja. Suas culturas, línguas, história, identidade, espiritualidade constituem riquezas da humanidade e devem ser respeitadas, preservadas e incluídas na cultura mundial”.

Cegados por sua ideologia, os promotores do Sínodo não percebem a gritante contradição: aos católicos, que superem o que consideram quinquilharias do passado. Mas, aos índios, — alto lá! — se alguém deseja qualquer tipo de progresso. Até o infanticídio das tribos mereceu uma resposta dura pelo Cardeal Pedro Barreto, que parece ter se sentido ofendido com uma pergunta feita a esse respeito por um jornalista.

É absolutamente nítido que não trata mais de uma guerra entre conservadores e progressistas, mas entre católicos e anti-católicos, que agora assumiram as instâncias de poder na Igreja.

Incomodado por alguma risada indiscreta acerca da indumentária dos índios presentes na sala sinodal, Francisco reagiu: “Me entristeceu ouvir, aqui mesmo, um comentário sarcástico sobre um homem devoto que carregava oferendas com plumas na cabeça. Me digam: qual é a diferença entre ter plumas na cabeça e o chapéu de três pontas (barrete) utilizado por certos oficiais em nossos dicastérios?”

A diferença é simples: o barrete simboliza as três virtudes teologais que devem iluminar o pensamento dos sacerdotes, enquanto a arte plumária indígena é apenas um ornamento ritual e hierárquico, sem referência senão à religião natural e pagã.

Antes, em sua viagem a Moçambique, o Papa Francisco afirmara: “O clericalismo tem como consequência direta a rigidez. Nunca viram jovens sacerdotes totalmente rígidos de batina preta e capelo com a forma do planeta Saturno na cabeça? Aí estão eles. Por trás de todo rígido clericalismo há sérios problemas”.

Ousaríamos perguntar se há sérios problemas, além dos relativos à lógica e ao duplo padrão, também por trás de todo rígido ecologismo…

O tradicionalismo vale quando é para se adorar a Pachammama ou entronizar ídolos com o órgão viril ereto e desproporcional como símbolos de adoração, o tradicionalismo é lícito quando se deve adotar a nudez e a brutalidade de costumes, o tradicionalismo é aceito quando usado como arma para destruir uma outra tradição, a Católica.

Não existem sacerdotisas mulheres nas tribos indígenas. A cultura indígena é patriarcal. Mas isso não importa para os ideólogos. Eles querem diluir a Igreja e usar a “tradição” indígena apenas como elemento solvente. Os índios e o discurso ecológico não são mais que meros pretextos.

Mais uma vez cai a máscaras do pseudo isentismo de Hummes & Cia.

Deputados da oposição são convidados para evento paralelo ao Sínodo da Amazônia

O convite partiu da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), entidade presidida pelo cardeal D. Cláudio Hummes, relator-geral do sínodo. Ele chamou deputados de partidos como PT, PSB e Rede Sustentabilidade para participar de atividades

Felipe Frazão, O Estado de S. Paulo, 03 de outubro de 2019, BRASÍLIA – Deputados de oposição ao governo Jair Bolsonaro se organizam para viajar ao Vaticano a fim de denunciar violações de direitos humanos na Amazônia Legal, durante o Sínodo dos Bispos. Conforme revelou o Estado, o papa Francisco vetou a presença de políticos com mandato no encontro, mas entidades ligadas à Igreja convidaram os parlamentares brasileiros para um evento paralelo.

O convite partiu da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), entidade presidida pelo cardeal D. Cláudio Hummes, relator-geral do sínodo. Ele chamou deputados de partidos como PT, PSB e Rede Sustentabilidade para participar das atividades da tenda ‘Casa Comum’.

Espaço aberto e coletivo, conexo ao sínodo, a tenda é organizada por entidades católicas, entre elas a Repam, a Cáritas, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Movimento Católico Global pelo Clima – e não diretamente pela Santa Sé. No encontro restrito aos bispos, o papa proibiu, além dos políticos, militares de participarem das assembleias e reuniões, apesar de esforços diplomáticos do governo brasileiro para ter voz no encontro global de bispos.

Os deputados foram convidados para falar no dia 14 de outubro, um dia após a canonização de Irmã Dulce. Eles pretendem apresentar na tenda um relatório sobre a situação dos diretos humanos na Amazônia Legal. O texto, em fase final de elaboração, é coordenado pelo deputado Helder Salomão (PT-ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Outros deputados assinaram o documento, entre eles os líderes da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), e da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Nenhum é alinhado a Bolsonaro.

O documento preparado por Salomão inclui o relato de três visitas recentes feitas pela comissão para fiscalizar ocorrências na Amazônia: a disputa por terras quilombolas no entorno da base de lançamentos espaciais em Alcântara (MA), o massacre nos presídios de Manaus (AM) e a morte do cacique Emyra Wajãpi, na terra indígena da etnia no Amapá. A comissão se opôs ao acordo com os Estados Unidos para exploração da Base de Alcântara (MA), denunciou “falhas crassas” na segurança, “condições insalubres” e “provável prática de tortura” nas cadeias manauaras e contestou o inquérito sobre a morte do cacique Wajãpi, que teria se afogado, segundo a Polícia Federal – o conselho das aldeias locais denunciou um suposto assassinato cometido por garimpeiros invasores, o que a investigação não confirmou.

_Deputado pede a Maia que autorize viagem_

Helder Salomão vai pedir ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a formação de uma comitiva para viajar em missão oficial, com despesas custeadas pelo Legislativo. Segundo o petista, sem o aval de Maia, os deputados até podem viajar ao Vaticano, mas levariam falta nas atividades parlamentares, com desconto salarial. “Se o deputado não viaja em missão oficial, não poderá falar em nome do parlamento brasileiro”, pondera o petista.

Além dele, também foram convidados pela Repam para ir ao Vaticano, entre outros, nomes como Airton Faleiro (PT-PA), Camilo Capiberibe (PSB-AP) e Joênia Wapichana (Rede-RR) – única indígena no Congresso e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas.

A tenda Casa Comum vai sediar em Roma encontros entre os padres, bispos e cardeais que participam do sínodo, leigos e religiosos – que levarão 50 representantes dos povos indígenas da Amazônia. As atividades da tenda vão além das oficiais, que são restritas à lista de participantes do sínodo.

A tenda será instalada num ambiente cedido por padres carmelitas, da Igreja de Santa Maria em Transpontina, perto da Praça São Pedro. No espaço, haverá palestras, debates, vigílias, peregrinações, apresentações de costumes tribais e exposições de documentários e fotografias sobre temas como violência contra índios no Brasil, impactos negativos da mineração e a vida da irmã missionária Dorothy Stang, assassinada há 14 anos, em Anapu (PA).

Saia justa.

Por FratresInUnum.com, 9 de setembro de 2019 – Foi transmitido na noite de sábado passado, 7 de setembro, o programa “Globo News Painel”, com a participação de Dom Claudio Hummes, relator do Sínodo da Amazônia, Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega, diplomata representante do Brasil nas negociações acerca do Sínodo, e Alberto Pfeifer Filho, especialista em assuntos internacionais.

Com “cara de vinagre”, para utilizar uma dessas expressões tão profundas e delicadas do magistério bergogliano, Dom Cláudio não conseguiu disfarçar o seu constrangimento, muito diferentemente da tranquilidade que desfruta em encontros de esquerdistas ou junto de seu amigo desde os tempos do ABC Paulista, o ex-presidente e atual presidiário Lula.

Kenneth Nóbrega, com aquela délicatesse diplomatique, começou cutucando, ao mencionar o estimadíssimo, mas completamente ineficaz,  Acordo Brasil-Santa Sé como elemento importante de mediação. Explicou que esteve três vezes no Vaticano e, cara-a-cara, confrontou os representantes pontifícios acerca de quatro imprecisões dos Lineamenta do Sínodo: o papel transnacional da Guiana, que poderia dar pé ao estabelecimento de um território internacional na Amazônia; a omissão da menção aos instrumentos internacionais de que participa o Brasil, como limite das requisições do Sínodo; a ausência do reconhecimento do papel social das forças armadas na Amazônia, lembrando que a FAB transporta até alimentos em parceria com a Igreja; e a desarticulação entre o conceito de ecologia integral e de desenvolvimento sustentável, que impede o enclausuramento numa política meramente preservacionista, fechada ao progresso.

Na sequência, o representante do governo disse que, sim, os serviços de inteligência brasileiros estão monitorando a atividade pré-sinodal, como qualquer outra atividade que diga respeito à segurança do território nacional, dentro dos limites da lei e segundo a sua prerrogativa constitucional.

Em seguida, quando perguntado o porquê da preocupação do governo com a unidade territorial na questão Amazônica, Kenneth Nóbrega salientou que a menção à Guiana como localização transnacional nos Lineamenta, juntamente com a histórica cobiça internacional do espaço amazônico e as últimas declarações do presidente francês em fórum internacional são motivos mais do que suficientes para justificar a preocupação.

Dom Cláudio obviamente, permanecia o tempo todo com atitude apreensiva, olhos arregalados, aspecto ameaçado, sério, como alguém que está sendo emparedado e “quanto menos falar, melhor”.

Na sequência, Alfredo Pfeifer, perguntado sobre as declarações de que os bispos dispõem de dados distorcidos para o Sínodo, explicou dizendo que a Amazônia é um território imenso e os dados são sempre parciais e, mesmo quando verídicos, podem ser apresentados com metodologias diferentes, as quais podem favorecer o interesse deste ou daquele grupo. Justificou, ainda, dizendo que a má gestão amazônica tem impactos globais e que o Brasil e as Forças Armadas a têm feito com competência técnica e científica, responsabilidade social e ambiental.

Dom Cláudio concordou com o fato de que o Exército está muito presente na Amazônia e que há uma verdadeira colaboração com a Igreja. Também reconheceu que a Igreja não tem todos os dados, como tampouco o Exército. Ele disse que o documento preparatório do Sínodo só não falou do Estado brasileiro e do Exército porque a Igreja estava apenas falando de si mesma. Disse que os bispos ficaram perplexos com a reação do Brasil e estão preocupados com “até onde isso vai”.

Kenneth Nóbrega mostrou como a divulgação de dados errados nas últimas semanas erodiu o relacionamento de confiança, que é absolutamente imprescindível para qualquer diálogo bilateral. Ele mostrou como, de um lado, a eventual não preocupação em que se respeitem as questões de direito internacional no documento final do Sínodo pode oferecer sustentação aos ambientalistas que defendem o protecionismo agrícola europeu, que destrói a imagem do nosso agronegócio, sem discernir se é sustentável ou não, se favorece a agricultura familiar com selo orgânico ou não.

Alfredo Pfeifer disse que as duas instituições que garantem a presença brasileira na Amazônia são a Igreja e as Forças Armadas, sendo que o Exército está preocupado com a ocupação nacional e a defesa das fronteiras, mas a Igreja tem uma vocação missionária e está preocupada com a Evangelização. Ele disse que é nesta diferença que pode se dar um descompasso de interesse e de agenda, mas se espera que o Sínodo seja uma ocasião para se resolver este descompasso, ao invés de aumentá-lo.

Sobre a questão indígena, Dom Cláudio disse que, em Porto Maldonado, os índios disseram ao Papa Francisco que nunca se sentiram tão ameaçados como agora, que suas terras estão sendo invadidas por companhias de mineração, pelo desmatamento. Dom Cláudio disse que os índios são um patrimônio humano de todos nós, porque eles têm uma cultura própria, uma espiritualidade própria, milenar, uma riqueza muito grande que a humanidade não se pode dar o luxo de perder. Segundo Dom Cláudio, a Igreja pensa que isto é uma questão de direitos humanos e que na história da colonização houve um massacre dos índios, mas com a proteção que receberam nas últimas décadas, a população indígena está crescendo e há aproximadamente um milhão de índios. — Neste trecho, Dom Cláudio falou demasiadamente, monopolizando a palavra, inclusive não deixando tempo para que os interlocutores continuassem com a pauta.

Alberto Pfeifer disse que a defesa dos índios demanda o combate aos ilícitos (como a garimpagem, por exemplo), requer a presença do Estado, e que não adianta apenas alegar o direito dos índios, pois eles são desprovidos de instrumentos para se defender, mas o Brasil está utilizando as ferramentas adequadas e cumprindo o seu papel.

Kenneth Nóbrega afirmou que o Brasil tem uma legislação ambiental evoluída, mas que o Estado tem uma dupla responsabilidade: a primária, com a sua sociedade; a secundária, internacional. No que diz respeito ao debate internacional, há de haver um verdadeiro debate, onde todos falem de suas responsabilidades em campo ambiental, ou seja, não pode ser um debate em que todos apontem para o Brasil como aquele que não está cumprindo com as suas responsabilidades. Este desequilíbrio no debate criou, por parte do governo, uma percepção de injustiça.

Dom Cláudio concluiu dizendo que a Igreja está em defesa do protagonismo dos índios em seu próprio progresso, embora haja ainda um espírito colonialista, que pretende impôr a eles um tipo de progresso.

Enfim, Hummes e toda a corte bergogliana têm toda ciência de que seu tempo é curto, que não possuem apoio popular nem sucessores e que, por isso, é necessário acelerar e intensificar as “reformas”. O temor por “retrocessos” é claramente demonstrado na nova leva de cardeais criados por Francisco. Esquecem-se esses senhores, infiéis e incrédulos que são, que a Igreja é do Senhor. “Exsurge Domine”.

Cai a máscara do isentismo: Dom Cláudio Hummes em evento contra o governo Bolsonaro.

Por FratresInUnum.com, 4 de setembro de 2019 — Com Informações do Estadão — O teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA) hospedou, anteontem, o evento “Direito já”, protagonizado por partidos de esquerda e centro-esquerda, em oposição aos “retrocessos do governo Bolsonaro”.

Ao lado de dezenas de políticos esquerdistas, pousa ninguém menos que o arcebispo emérito de São Paulo, o cardeal Dom Cláudio Hummes, relator do Sínodo Pan-amazônico, a ser realizado dentro de um mês, em Roma.

Numa entrevista anterior ao próprio Estadão, Dom Cláudio, falando sobre as polêmicas entre o Sínodo da Amazônia e o governo, disse que: “Foi na campanha eleitoral que começou tudo isso. O governo, que se diz de direita, considera a Igreja de esquerda. Mas a Igreja não é partido político. Não é de esquerda. Não aceita essa qualificação, essa etiqueta. A Igreja é para todos”. E, mais adiante: “Esse governo apresentou uma questão sobretudo de soberania nacional. Mas todos sabemos que o Sínodo é da Igreja e para a Igreja. Não é para políticos, militares e outros”.

Ainda ontem, sempre o próprio Estadão, publicou a notícia de que o Vaticano vetou a participação de políticos com mandato entre os participantes do Sínodo, negando o pedido do governo brasileiro, principal interessado nas discussões, uma vez que a maior parte do território amazônico pertence ao Brasil.

Dias atrás, Dom Cláudio afirmou que quem critica o Sínodo da Amazônia “têm interesses muito fortes que se sentem um tanto ameaçados”.

A presença de Dom Cláudio num evento político de aberta oposição ao governo Bolsonaro compromete não apenas a suposta neutralidade política do Sínodo pan-amazônico, mas desmente as suas próprias declarações anteriores. Um verdadeiro escândalo para os católicos do Brasil.

A notícia de que Dom Cláudio pode ser convocado pelo Senado para esclarecer os propósitos do Sínodo fez tremer. O desespero paira sobre a cúria bergogliana.

Coalizão de movimentos requerem no Senado convocação de Dom Cláudio Hummes.

Por Hermes Rodrigues Nery, 24 de agosto de 2019 – Uma coalizão de movimentos da sociedade civil, agregados no “Convergências”, dentre eles, o Movimento Legislação e Vida, protocolaram na Presidência do Senado Federal o pedido de convocação de Dom Cláudio Hummes para prestar esclarecimentos se o o Vaticano está ou não apoiando a proposta do Corredor Triplo A, apresentada por Martín von Hildebrand ao chanceler argentino D. Marcelo Sanchez Sorondo. A convocação já conta com o apoio da senadora Selma Arruda (PSL-MT), que também protocolou ao Presidente do Senado, David Alcolumbre, o mesmo pedido. Veja aqui o requerimento.

 

A nova religião ecologista de Dom Cláudio Hummes. Aos generais: “ninguém tem medo de cara feia”.

Por FratresInUnum.com, 19 de fevereiro de 2019 – Planeta! Planeta! Planeta! Esta foi a palavra mais repedida por Dom Cláudio Hummes em sua aula inaugural na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUCSP, com a presença do grão-chanceler, o cardeal Dom Odilo Scherer. E nós estávamos lá!

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Duas vezes emérito, como arcebispo de São Paulo e Prefeito da Congregação para o Clero, o cardeal Hummes fez uma conferência sobre o Sínodo da Amazônia, a qual dividiu em duas partes: na primeira, fez um histórico; na segunda, uma contextualização teórica.

Em seguida, apresentamos as nossas notas taquigrafadas da palestra do cardeal.

Histórico do Sínodo da Amazônia

Dom Cláudio começou dizendo que, após tornar-se emérito, não sabia bem o que ia fazer, quando a CNBB o encarregou de acompanhar o trabalho na Amazônia. Em 2014, fundou-se a REPAM – Rede Pan-Amazônica –, da qual ele é presidente, e que articula o trabalho pastoral da Igreja na Amazônia, envolvendo os nove países que a compõem.

“Neste meio tempo houve a mudança dos papas: Bento XVI renunciou, pelos motivos que vocês conhecem, e foi eleito um papa argentino, que tomou o nome de Francisco”. Para Dom Claudio, isso significa que a Igreja se tornou “mais universal e menos europeia”.

Em sua viagem ao Brasil, em 2013, Francisco fez um discurso aos bispos em que mencionou, ao final, o problema da Amazônia, pois teria ficado impressionado com a insistência dos bispos brasileiros acerca do tema na Conferência de Aparecida – este teria sido o despertar do Pontífice.

Neste discurso, Francisco teria afirmado que a “Amazônia é um texto definitivo para a Igreja do Brasil” e animou os episcopados a não ter medo, a criar um clero autóctone, a avançar, a ser corajosos, a fazer propostas ousadas… “A Igreja não pode errar na Amazônia”. Por causa deste impulso do Papa, fundou-se a REPAM, para criar um “Plano Pastoral de Conjunto” para a Amazônia.

Foi neste época que o Papa lhe teria dito: “Dom Claudio, vamos rezar juntos, pois nós precisamos reunir os bispos, ainda não sei de que forma… Podia até ser, talvez, um sínodo”. Ele conversou com outros bispos para fazer o discernimento. “O Papa é jesuíta e precisa fazer discernimento, precisa de tempo”.

Em 2017, “eu estava com um problema no pulmão muito sério” (ele se refere ao câncer que apareceu neste período), “eu estava um trapo”. Mas, como era a canonização dos mártires do Rio Grande do Norte, “eu fui lá”. Na noite anterior, o Papa me disse: “amanhã eu vou anunciar o sínodo”. “Essa foi uma história que avançou muito rápida”.

Logo, o Papa anunciou o objetivo do Sínodo: “encontrar novos caminhos”. “Ele sempre dizia: ‘nós precisamos do novo’, ‘não tenham medo do novo’, precisamos sair da acomodação’”.

“O novo sempre traz resistências. Este papa também tem resistências – às vezes sem muito sentido, sem cabimento, mas, em todo caso… ‘Não tenham medo do novo’, o novo para a Igreja e para os povos indígenas, que não têm um futuro sereno, são os mais abandonados, os mais esquecidos, os mais atropelados. E, ao mesmo tempo, a questão da ‘Casa Comum’, da Ecologia”. O Papa encarregou a REPAM para ajudar a secretaria geral do sínodo a prepará-lo.

Logo em seguida, Francisco decidiu ir a Porto Maldonado, onde entrou em contato com os povos indígenas para escutá-lo. Este teria sido o objetivo principal da viagem apostólica. “Foi algo histórico, empolgante e comovente como o Papa realizou o encontro com os povos indígenas”, aos quais disse: “vocês são interlocutores insubstituíveis e a Igreja está aqui para defendê-los, a fim de que vocês sejam os protagonistas da própria história”.

Naquela ocasião, eles tiveram uma reunião de cinco horas de reunião com os índios. No dia seguinte, aconteceu a reunião com o papa, que se sentou no meio dos anciãos indígenas, os seus “sábios”. “Nós estávamos atrás e os índios estavam na frente, junto com o papa, com as suas roupas, alguns meio sem roupas”. O Papa disse: “Eu vim aqui escutar vocês”.

Segundo Dom Cláudio, o Papa “mexeu” com a metodologia da Igreja Brasileira, “ver, julgar e agir”. “Ver é escutar, não fazer a nossa análise”. O papa disse: “Hoje aqui está começando o sínodo, vocês são os principais”.

Logo no dia seguinte, houve a reunião dos bispos representantes dos nove países com o cardeal Baldisseri, que veio ao encontro do REPAM para criar o conselho pré-sinodal.

Com as palavras do papa – “hoje aqui está começando o sínodo” –, ele cria uma nova concepção do sínodo: “o sínodo é todo o processo”. “Nós realizamos mais de 20 assembleias pré-sinodais”. A secretaria do sínodo pediu que houvesse duas fontes de trabalho: “uma, a que os bispos recolhem na sua diocese, outra a que é recolhida pelo REPAM”.

O sínodo trouxe uma empolgação muito grande “e até a preocupação de alguns generais por aí… Mas nós continuamos o nosso trabalho normalmente. Ninguém tem medo de cara feia… No final, tudo vai se resolver no diálogo e na paz”.

“Estamos terminando neste momento as sínteses que vão a Roma no final de fevereiro”.

Contexto do sínodo da Amazônia

“Nós sabemos que o mundo hoje está consciente e enfrenta uma grande crise ecológica e climática”. “É urgente, pois não há muito tempo, mas há tempo ainda”.

Na COP21 de Paris chegou-se à conclusão de que seria necessário reverter a crise climática e cuidar do planeta. Dom Claudio ressaltou duas falas conclusivas desta Conferência da ONU: “plus tard, trop tard”, “muito tarde, tarde demais” e “aqui, na COP21, nós não salvamos o planeta, mas salvamos a possibilidade de salvar o planeta”.

“Quase todos os países assinaram o acordo, os Estados Unidos também, o Brasil também, mesmo com todos os problemas que hoje temos com os Estados Unidos… Espero que, com o Brasil, não”. “É nesse contexto que está este Sínodo. Eclesialmente, é o contexto da Laudato sì”.

“É missão da Igreja cuidar do planeta. É uma missão que Deus entregou a nós. Nós o fazemos por causa de Jesus Cristo. Nós não podemos não cuidar do planeta”.

“A partir daí, é preciso reescrever a nossa teologia da criação. A teologia que nós aprendemos precisa ser reescrita a partir dessa nova posição da Igreja: nós temos que cuidar do planeta! Vocês, que são jovens, precisam fazer isso. A própria cristologia precisa ser reescrita”.

“Este sínodo não terá apenas significado para a pan-Amazônia, mas terá um significado para o mundo”.

“É muito difícil haver outro sínodo da Amazônia. Este é o momento histórico da Amazônia, não se pode oscilar, não se pode perder este momento, que é um kairós”.

Depois, Dom Claudio começou a falar sobre o CO2 e o efeito estufa. “O calor entra, mas não sai. O gás carbônico faz isso: uma espécie da capa ao redor do planeta; o calor não consegue sair”. É preciso acabar com o Petróleo! Mas, pergunta-se o cardeal, como mudar as fontes de energia? Há países que não têm condições!

É preciso, também, continuou, mudar o paradigma tecnocrático: “a filosofia moderna fez uma revolução copernicana: pôs o sujeito no centro. Veio o antropocentrismo, o subjetivismo, o individualismo…” Ao mesmo tempo, veio a descoberta das ciências exatas, que trouxeram tecnologia avançada. “Isso criou a ideia de que nós, os pequenos, somos os donos de tudo que está fora”. “Com a ciência, a tecnologia, começou-se a explorar o planeta. Daí vem a ideia de um progresso indefinido, como se o planeta tivesse recursos inesgotáveis”. Isso está por trás da grande crise!

“Outro tema é a ecologia integral”. “Ecologia integral é como a Igreja entende, mas não só como a Igreja entende, pois a ecologia integral é algo que vai além da fé. Mas, o que é esta ecologia integral? No fundo é o seguinte: tudo está interligado no planeta: nós, o planeta e, por fim, o próprio Deus com o planeta”. “Nós não somos seres que foram gerados fora e fomos colocados neste planeta. Nós somos filhos deste planeta, nós somos frutos deste planeta. E muitas vezes nós entendemos que o planeta é uma coisa e nós temos outro destino. Nós fomos feitos dentro de todo o processo de desenvolvimento deste planeta. Tudo foi criado por Deus. Que nós cuidemos da nossa Mãe Terra. Este é um conceito fundamental”.

“E Deus, se encarnando em Jesus de Nazaré, Ele faz a definitiva ligação dele com este planeta, com todo este sistema. Deus também se interligou definitivamente em Jesus Cristo. E Jesus Cristo ressuscitado é o ponto culminante de toda esta caminhada do planeta. Esta é a ideia sintética de toda esta ecologia integral”.

Então, Dom Claudio citou um cântico que “agora todos cantam”. Segue o verso:

“Tudo está interligado,
como se fôssemos um!
Tudo está interligado
nesta ‘Casa Comum’”.

“Por isso, eu dizia que é necessário reescrever todas essas coisas”. “Isso já está em São Paulo, quando ele diz que Jesus Cristo é cabeça de toda a criação. Isso já estava em Teillard Chardin, quando ele aplicou isso à teoria da evolução. Mas ficou à margem, porque a teologia escolástica clássica não tinha muito clara essa ideia”.

“É preciso a gente estar atento, para estar atualizado. A moral, nos tempos que eu estudei, tinha páginas e páginas sem fim sobre o sexto e o nono (mandamentos), mas sobre a questão do dinheiro, nada ou praticamente nada. Esses dias, ouvindo uma pregação do papa, me caiu uma ficha. ‘Não se pode servir a Deus e ao dinheiro’. O grande obstáculo para o Reino de Deus é o dinheiro: a corrupção, a roubalheira, toda a violência se faz por causa do dinheiro. É o dinheiro que impede, mas os livros de moral falam pouco. É preciso reescrever essas coisas. Estão acontecendo coisas novas, que não são novas porque são velhas, porque estão no Evangelho”.

“Precisamos encontrar novas formas de desenvolvimento que não sejam colonialistas. A Igreja também tem formas colonialistas quando evangeliza. Precisamos nos purificar de todo colonialismo. Colonialismo significa: ‘eu tenho a minha forma de desenvolvimento’, eles trazem de fora e simplesmente começam a atividade predatória”.

“Não podemos derrubar a floresta, pois, sem ela, os rios e as águas vão embora: os rios aéreos, terrestres e subterrâneos”. “Precisamos procurar novos modelos que não derrubem a floresta”.

“O Sínodo tem que estimular a busca de novos modelos. O sínodo não é competente pra isso, mas pode estimular”.

“Vocês sabem que o papa quer uma Igreja missionária, em saída. Uma Igreja misericordiosa, que não aposta na lei, nas instituições, na disciplina, na cobrança, mas aposta na caridade, na misericórdia. Uma Igreja missionária. A Igreja na Amazônia também sobre dos mesmos males que nós, por aí: sofremos com a nossa Igreja, que aposta muito na lei, na disciplina, na cobrança, nas instituições, nas estruturas, e isso não salva, a lei não salva. A única coisa que salva é a caridade, a misericórdia. É claro que a lei ajuda a colocar as coisas em ordem, mas apenas quando nos ajuda a ser misericordiosos e caritativos. O papa diz que a gora a lei está atrapalhando a Igreja de ser mais misericordiosa e em saída. Então, isso tem que ser mudado”.

“Deus se aproxima de nós com respeito e amor. Deus não manda males, ele nos ajuda a sair dos males. Essa ideia de que Deus me mandou um câncer, que meu filhou morreu porque Deus mandou… Não! Deus não manda males, não! Os males têm outra origem. Deus nos ajuda a sair dos males”.

“Temos que ser uma Igreja profética, que denuncia os males, que não têm medo de cara feia”. “Não ter medo de cara feia não significa que você tem que brigar, é você não ter medo, é se por à disposição pra dialogar… pra resolver as coisas pelo diálogo, não é pelo enfrentamento. Você tem que encontrar as pessoas, se elas têm outras ideias ou talvez elas sejam violentas… Essa ameaçazinha sobre a preparação do sínodo, que veio do governo, digo: ‘o povo tem liberdade democrática de falar, e sem se sentir ameaçado’. Isso é democraria, isso é direito. Pode até falar errado, mas não pode se sentir ameaçado. Isso não podemos aceitar”.

“O papa diz que os povos originários da panamazônia são os mais empobrecidos, os mais abandonados, os mais ameaçados. Eles são os pobres com os quais a Igreja deve caminhar e encorajar”.

“A Igreja sempre cuida da ‘Casa Comum’. Ela deve se envolver com isso. A Igreja, por missão, deve cuidar da ‘Casa Comum’, da criação, cuidar dela como um jardim”.

“Enfim, o assunto da Igreja inculturada. O papa é provocativo. Ele mexe conosco. A Igreja sempre soube que tem que fazer inculturação. Depois de fazer a inculturação europeia, a Igreja ficou com medo. E foi uma inculturação bem-sucedida e dura até os nossos dias. Mas não existe só a cultura europeia. O planeta é maior com isso”.

“A Europa não pode querer ser ela só. Em Evangelii Gaudium, o Papa diz que a fé cristã não pode ser só inculturada na europa. Ele dá o nome aos bois! A fé deve se inculturar em todas as culturas. Aí que vem a questão da colonização. Se nós implantamos a Igreja europeia aqui, isso é colonialismo. Então, como este sínodo vai estimular caminhos para que se inculture a fé! Em Porto Maldonado, ele disse aos indígenas que ajudem os seus bispos a inculturar na cultura deles a fé. Isso significa dar-lhes a possibilidade de que surja naquele lugar uma Igreja com o rosto daquela cultura. Que surja uma Igreja, não que venha de fora; que surja de dentro da sua história, da sua identidade, enfim, da sua espiritualidade, que de lá de dentro surja a Igreja de rosto panamazônico e de rosto indígena, diz o papa, uma Igreja indígena. Isso não significa que aqui em São Paulo nós temos de ter uma Igreja indígena, nós somos europeus com alguma misturinha, mas fundamentalmente europeus. Mas isso não acontece com os nossos indígenas nem com os nossos negros”.

“Hoje se fala de uma Igreja indigenista, que defende o direito dos índios. Mas isso não basta! Nós precisamos de uma Igreja indígena, com os seus próprios padres, com os seus próprios bispos, que parta da sua própria vida, da sua própria identidade, cultura e história”.

Respostas às perguntas finais

Após o término da palestra, reservaram um tempo de perguntas.

Dom Claudio explicou que o sínodo está sendo preparado com embasamento acadêmico, sendo respaldado por eventos sobretudo realizados pelas Universidades Jesuítas. Haverá um grande simpósio em Boston. “Os jesuítas foram os que mais agarraram esta causa”.

Um pouco adiante, ele disse que a Igreja precisa mobilizar a sociedade para pressionar os governos quanto às questões amazônicas.

O Padre Ruiz Barbosa, da Diocese de Santarém, perguntou acerca da carência de sacerdotes na Amazônia. Dom Claudio respondeu que “a questão dos ministérios certamente será discutida no sínodo, mas, logo de início o papa disse: ‘cuidado para não perder o foco! Cuidado para não transformar o sínodo da Amazônia num sínodo sobre os ministérios’, o foco principal é a ecologia integral. O grande problema das comunidades que você citou é que 70% não tem a Eucaristia. Podem até levar a comunhão, mas elas não têm a Celebração Eucarística e é a Celebração Eucarística que constrói a Igreja. Sem a Eucaristia, a Igreja não é nada. Então, ali falta a Eucaristia, falta a confissão sacramental. O povo quer ser reconciliado com Deus e com os irmãos. Sabemos que Deus perdoa quando se pede perdão, mas o sacramento da confissão é algo muito mais forte, mais estruturante. Não há o sacramento da unção dos enfermos. É um momento crucial, o do cristão que morre e a Igreja não dá nada a ele. A Igreja exigiu tanto dele e, no final da vida, a Igreja não dá nada. O sacramento é para isso. Jesus mandou ungir os enfermos, rezar pelos enfermos. Estes sacramentos são da vida cotidiana dos católicos. Pra nós é tão normal que a gente nem pensa nisso. Lá existe uma Igreja da Palavra. Fazem um grande trabalho, os catequistas, que fazem o culto da Palavra. Mas uma Igreja da Palavra não é uma Igreja cristã completa. Falta o sacramento. E o sacramento é a força que eu preciso para praticar a caridade. A caridade salva, a Palavra ilumina, mas é o sacramento que me dá força para eu, de fato, praticar a caridade que salva. Os sacramentos são meios, não são fins. Me ajudam a praticar a caridade, a misericórdia. Isso eles não têm. Eles têm que saltar da Palavra para a caridade. O Papa diz que isso tem que ser encaminhado diferentemente. Ele mesmo diz que ainda não têm ideias claras. E como fazer isso? Ele acena, às vezes, para aquela proposta daquele bispo sul-africano, na verdade missionário, Fritz Loginger. Ele tem umas propostas que o papa também acena, de presbíteros locais que só exercem o munus sanctificandi, ou seja, apenas os sacramentos e a oração, tenham apenas essa jurisdição. Ele acena um pouco para isso, mas ele mesmo diz que não temos clareza sobre essa situação. Ele diz que o celibato é um carisma que a Igreja não pode perder. Mas, em certas situações, absolutamente que não tem outras situações… Vejam como ele é: ele não citou a Amazônia, ele citou as ilhas do Pacífico. Claro que todo mundo sabia do que ele estava falando. Mas isso porque ele diz para não perder o foco, senão a imprensa só vai falar sobre isso. O importante é a Amazônia. Este é um problema!

Depois de falar sobre que cada país e cada Conferência Episcopal tem a sua parte da Amazônia, ele afirmou que “a Amazônia é um novo sujeito pastoral” e que deve ter um próprio plano de pastoral.