O machado do bispo sobre Obama. E sobre a cúria romana.

Por Sandro Magister – www.Chiesa 

Arcebispo ChaputEm um artigo-bomba publicado em Roma, Charles J. Chaput, bispo de Denver, critica o presidente americano e os homens da Igreja que o exaltam, encabeçados por Cottier, cardeal da Cúria. Porém, a Secretaria de Estado do Vaticano também está na mira.

Por Sandro Magister

ROMA, 8 de outubro de 2009 – “Sempre defenderei com veemência o direito dos bispos de me criticarem”, havia garantido Barack Obama às vésperas da audiência que teve com Bento XVI, no último dia 10 de julho.

 De fato, são oitenta os bispos católicos dos Estados Unidos que estão em flagrante desacordo com ele sobre questões cruciais, em primeiro lugar, a defesa da vida. Entre eles está o Cardeal Francis George, Presidente da Conferência Episcopal e Arcebispo de Chicago, a cidade de Obama.

Igualmente, o bispo de Denver, Charles J. Chaput, de 65 anos, originário de uma tribo nativa americana, franciscano da ordem dos capuchinhos, há um ano autor de um livro que já diz muito pelo título: “Render unto Caesar. Serving the Nation by Living Our Catholic Beliefs in Political Life” (Dai a César: servindo à nação ao viver nossas crenças católicas na vida política). É justo dar a César o que ele espera, mas se serve a nação vivendo a própria fé católica na vida pública.

Chaput não gosta da forma com que Roma, no Vaticano, dissimula as críticas da Igreja americana a Obama. Ele não gostou, particularmente, dos elogios desenfreados feitos ao presidente americano no último mês de julho – que coincidiram com o encontro de Obama com o Papa – por parte de um venerável cardeal da Cúria, o suíço Georges Cottier, teólogo da Casa Pontifícia, com um ensaio na revista “30 Dias”.

 “30 Dias” é uma revista de geopolítica eclesiástica muito lida na Cúria Romana. A revista é dirigida pelo mais “curial” dos políticos católicos italianos de longa data, o senador vitalício Giulio Andreotti. A publicação chega a todas as dioceses do mundo em seis idiomas e reflete plenamente as políticas realistas da diplomacia vaticana.

Depois de ter lido o entusiasmado artigo do Cardeal Cottier – entusiasmado, sobretudo, com o discurso pronunciado por Obama na Universidade católica de Notre Dame – e depois de ter lido também um editorial anterior de “L’Osservatore Romano”, igualmente bastante elogioso para com os primeiros cem dias do governo do presidente americano, incluindo “o apoio à maternidade”, Chaput considerou que era seu dever refutá-los.

Tomou papel e lápis e respondeu palavra por palavra: a Obama, ao cardeal Cottier e à Secretaria de Estado do Vaticano. E não o fez em um diário dos Estados Unidos, mas sim em um diário impresso em Roma, para que o Vaticano o visse.

A sua réplica foi publicada em 6 de outubro no “il Foglio”, o diário de opinião dirigido por Giuliano Ferrara, um não católico, mas muito atento ao rol público das religiões, e de simpatias decididamente “ratzingerianas”.

O artigo do bispo de Denver ocupou toda a terceira página, com o título: “O machado do bispo pele vermelha. Charles J. Chaput contra Notre Dame e o ilustre cardeal seduzido pelo abortista Obama”.

O texto está reproduzido abaixo, com o título original.

No mesmo 6 de outubro, na primeira página, “il Foglio” publicou também uma entrevista com o cardeal George, presente nestes dias em Roma para apresentar um novo livro de sua autoria, sob o título “The Difference God Makes. A Catholic Vision of Faith, Communion, and Culture” [A diferença que Deus faz. Uma visão católica sobre a fé, a comunhão e a cultura].

Na entrevista, entre outras coisas, disse o cardeal:

 “Hoje, a maior dificuldade que temos como Igreja é a de comunicar à sociedade que existe uma hierarquia de valores. Tomemos a questão do aborto e da vida em geral. A voz da Igreja é ouvida nos Estados Unidos, mas também é muito combatida. E as críticas à Igreja ocorrem por um motivo: porque nossa sociedade considera que o individualismo e a liberdade de escolha são os valores mais importantes que devemos proteger. Hoje, o livre arbítrio vale mais que a vida”.

 E também:

 “A moral da Igreja sobre certos temas jamais mudou. É verdade que L’Osservatore Romano pode ter escrito uma dúzia de linhas favoráveis a Obama e que algum cardeal pode ter falado com entusiasmo da atual administração americana, mas, além das manifestações jornalísticas, permanece de pé a máxima que a Igreja não pode trair a si mesma”.

A política, a moral e um presidente. Uma visão americana.

Por Charles J. Chaput

Um dos pontos fortes da Igreja é a sua perspectiva global. Neste sentido, o recente ensaio publicado pelo cardeal Georges Cottier sobre o presidente Barack Obama (“A política, a moral e o pecado original”, em “30 Dias”, n° 5, 2009) ofereceu uma valiosa contribuição ao debate católico sobre o novo presidente americano. Nossa fé nos une mais além dos limites. O que acontece em uma nação pode exercer um impacto importante em muitas outras. A opinião mundial sobre os líderes dos Estados Unidos não só é apropriada, mas também deve ser bem recebida.

Não obstante, o mundo não vive e não vota nos Estados Unidos, porém, os americanos sim. As realidades pastorais de cada país são melhores conhecidas pelos bispos locais que guiam o seu povo. Assim, quanto ao tema dos líderes americanos, as reflexões de um bispo americano, certamente, podem despertar um interesse significativo, uma vez que elas podem aprofundar um juízo positivo do cardeal, ao oferecer uma perspectiva diferente.

Devo advertir que aqui falo somente a título pessoal. Não falo em nome dos bispos americanos entendidos como um organismo, nem em nome de qualquer outro bispo. E nem sequer pretendo me referir ao discurso do presidente Obama ao mundo islâmico, que o cardeal Cottier menciona em seu ensaio. Para poder fazer isso seria necessário redigir outro artigo.

Pelo contrário, me concentrarei no discurso de formatura pronunciado pelo presidente na Universidade de Notre Dame, e nas observações do cardeal Cottier a este respeito. Esta decisão se dá por dois motivos.

Primeiro, os membros de minha diocese pertencem à comunidade nacional de Notre Dame, como estudantes, formandos e padres. Cada bispo tem um papel decisivo na fé das pessoas confiadas a seus cuidados, e Notre Dame tem sido sempre muito mais que uma simples universidade católica: é um ícone da experiência católica americana.

Segundo, quando o bispo local de Notre Dame se declara em desacordo com um determinado orador, e outros oitenta bispos e trezentos mil leigos respaldam abertamente o bispo, toda pessoa razoável deve deduzir que existe um problema concreto com relação a este orador, ou ao menos com relação a seu discurso específico. As pessoas razoáveis podem ademais optar por divergir do juízo dos pastores católicos mais diretamente envolvidos na controvérsia.

O ensaio do cardeal Cottier, de maneira infeliz e inconsciente, subestima a gravidade do que aconteceu em Notre Dame. E de uma maneira por demais apelativa, passa por cima da concordância do pensamento de Obama com a doutrina católica.

Há vários pontos importantes a serem realçados.

Primeiro, o desacordo sobre a intervenção do presidente Obama na Universidade de Notre Dame não tem nada a ver com a questão de ser ele um homem bom ou mau.

Indubitavelmente, ele é um homem de grandes dotes. Possui um ótimo instinto moral e político e demonstra uma devoção admirável por sua própria família. Estas são coisas que contam, mas, desgraçadamente, contam também estas outras: o ponto de vista do presidente sobre questões decisivas de bioética – incluindo o aborto, porém sem a este se limitar – difere radicalmente da doutrina católica. É precisamente por isso que Obama pôde contar durante muitos anos com o apoio de poderosas organizações favoráveis ao “direito ao aborto”. Em alguns círculos religiosos fala-se de simpática do presidente pela doutrina social católica, mas a defesa do fato é uma exigência de justiça social. Não existe nenhuma “justiça social” se os membros mais jovens e indefesos da espécie humana podem ser assassinados legalmente. Certamente, os bons programas para os pobres são vitais, mas estes não podem servir para justificar esta violação fundamental dos direitos humanos.

Segundo, em algum outro momento e em outras circunstâncias, a controvérsia em Notre Dama poderia ter desaparecido facilmente se a universidade tivesse pedido simplesmente ao presidente que proferisse uma conferência pública. Mas no momento em que os bispos americanos já haviam expressado uma forte preocupação com políticas abortistas da nova administração, a Universidade de Notre Dame fez do discurso de Obama o acontecimento culminante da cerimônia para a entrega dos títulos de licenciatura e também lhe entregou um doutorado “honoris causa” em Direito, isso apesar das inquietantes posições do presidente a respeito da lei sobre o aborto e outras questões sociais a ela vinculadas.

A verdadeira causa das preocupações católicas sobre a intervenção de Obama em Notre Dame foi sua própria posição abertamente negativa acerca do tema do aborto e outras questões controversas. Com sua iniciativa, a Universidade de Notre Dame ignorou e violou as linhas mestras expressas pelos bispos americanos no documento “Catholics in Political Life” [Católicos na Vida Política], publicado em 2004. Neste documento, os bispos exortavam as instituições católicas a não conceder honras públicas a funcionários de governo que estivessem em desacordo com a doutrina da Igreja em questões de importância primordial.

Deste modo, o áspero debate que na primavera passada causou danos os ambientes católicos americanos a propósito da condecoração outorgada a Barack Obama pela Universidade de Notre Dame não foi em absoluto sobre políticas partidárias. Pelo contrário, remetia a questões essenciais da fé, à identidade e ao  testemunho católicos – impulsionadas pelos pontos de vista de Obama –, que o cardeal Cottier pode ter compreendido mal, ao escrever fora do contexto americano.

Terceiro, o cardeal ressalta justamente os pontos de contato entre a procura, freqüentemente acentuada por Obama, de um “terreno político comum” e a promoção católica do “bem comum”. Estes dois objetivos (buscar um terreno político comum e promover o bem comum) podem freqüentemente coincidir, mas não são a mesma coisa, podem ser muito diferentes na prática. As chamadas políticas de “terreno comum” sobre o aborto podem na realidade minar até a raiz o bem comum, porque implicam uma falsa unidade: estabelecem uma plataforma de acordo público demasiado estreita e débil para sustentar o peso de um autêntico consenso moral. O bem comum não poderá jamais ser promovido por aquele que tolera o assassinato dos mais débeis, começando pelas crianças que ainda não nasceram.

Quarto, o cardeal Cottier recorda justamente aos próprios leitores o respeito recíproco e o espírito de colaboração requeridos pelo princípio de cidadania em uma democracia pluralista. Mas o pluralismo não é um fim em si mesmo, tampouco é uma desculpa para a inércia. Como reconheceu o mesmo Obama em seu discurso na Universidade de Notre Dame, a vida e a solidez da democracia dependem da convicção com a qual o povo está disposto a combater publicamente por aquilo em que crê, de forma pacífica e legal, mas com vigor e sem lamentação.

Infelizmente, o presidente também proporcionou uma curiosa observação, precisamente, que “a grande ironia da fé é que implica necessariamente a presença da dúvida… Mas esta dúvida não nos deve afastar de nossa fé, mas, pelo contrário, deve nos tornar mais humildes”. Em certo sentido, obviamente, isso é certo: deste lado da eternidade, a dúvida faz parte da condição humana. Mas a dúvida é a ausência de algo, não é um valor positivo. Se impedir os crentes de agir sobre as bases das exigências da fé, a dúvida se converte em uma debilidade fatal.

O costume da dúvida se adapta com demasiada facilidade a uma espécie de “incredulidade batizada”: um cristianismo que é um pouco mais que uma vaga lealdade tribal e um vocabulário espiritual conveniente. Muitíssimas vezes, na recente experiência americana, o pluralismo e a dúvida se converteram num álibi para a inércia e a letargia política a moral dos católicos. Talvez a Europa seja diferente. Mas parece-me que o atual momento histórico (que compartilham os católicos americanos e europeus) não se parece em nada com as circunstâncias sociais que tiveram de afrontar os antigos legisladores cristãos mencionados pelo cardeal. Estes homens tiveram a fé e também o zelo necessários (temperados pela paciência e pela inteligência) para encarnar explicitamente na cultura o conteúdo moral de sua fé. Em outras palavras, edificaram uma civilização esculpida pelo credo cristão. O que está acontecendo hoje é algo completamente diferente.

O ensaio do cardeal Cottier é um autêntico testemunho de seu próprio espírito generoso. Fiquei chocado particularmente por seus elogios ao “humilde realismo” do presidente Obama. Espero que ele tenha razão. Os católicos americanos desejam que ele tenha razão. A humildade e o realismo são o terreno sobre o qual pode crescer uma política fundada no bom sentido, modesta, à medida do homem e moral. Ficamos na expectativa para ver se o presidente Obama pode proporcionar uma liderança desse tipo. Temos o dever de rezar por ele, para que possa fazê-lo e o faça.

 

Curtas da semana.

Não tão súbito.

João Paulo II e CorãoInforma Andrea Tornielli (que nos chega via Secretum Meum Mihi) que o grupo de peritos da Congregação para a Causa dos Santos deu parecer favorável à beatificação de João Paulo II, mas não unânime. Alguns teriam manifestado “objeções e dificuldades”, entre elas aspectos do Papado cujas informações são insuficientes, assim como algumas contradições nos testemunhos. O Secretário de Estado de João Paulo II por quinze anos, Cardeal Angelo Sodano, e o substituto da mesma Secretaria, o hoje Cardeal Leonardo Sandri, teriam se negado a dar seus testemunhos. Um dos volumes “sub secreto” da Positio elenca como fatos “dignos de atenção” o caso de Marcinkus (o ‘banqueiro de Deus’), o financiamento do movimento polaco “Solidariedade” e a nomeação de alguns bispos de moralidade duvidosa. Outro caso de contradição nos testemunhos se referiria ao beijo dado por João Paulo II no Corão em maio de 1999; embora a foto seja clara, seu secretário e hoje Cardeal Dziwisz diz que o beijo nunca aconteceu.

Na contramão.

Surpreendeu a todos a notícia de que os monges da Ordem de Santa Cecília, de Caçapava do Sul, Diocese de Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, deixaram a única Igreja de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana, para se filiar ao ramo ‘tradicionalista’ da seita Anglicana. Os monges que eram “unidos a Santa Igreja Romana no seguimento de suas diretrizes a partir do Concilio Vaticano II” apostataram da Fé Católica: “por motivos de divergências jurídicas com o Bispo Diocesano na organização do Mosteiro passamos para a Igreja Católica Anglicana tradicional cognominada de IAB“. Enquanto esse próprio ramo do anglicanismo dá indícios de querer retornar à Santa Igreja, os monges fazem o caminho contrário; alguns dizem que esperam independência de sua diocese ao poder retornar futuramente com status de prelazia, que possivelmente seria concedido aos anglicanos quando de sua regularização . “Tornou-se mais fácil para nossa fundação pertencer ao Anglicanismo cuja semelhança com a Igreja de Roma condiz com o nosso carisma e propostas de espiritualidade e ação, além da tradição da Liturgia que permanece a mesma de São Pio V”.  Facilidade, péssimo critério, pois Nosso Senhor nos mostrou que “larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram” (Mt 7, 13).

Perguntas que não querem calar.

Abbé Ribeton‹‹ Para muitos católicos e homens da Igreja, depois das ilusões e do irenismo da segunda metade do século XX, marcado por um discurso resolutamente otimista sobre a modernidade, o despertar é brutal. O diálogo há muito tempo idealizado entre “a religião do Deus feito homem” e “a religião do homem feito Deus”, entre um cristianismo de progresso e um humanismo vagamente espiritual no âmbito ecumênico e tolerante de uma “laicidade positiva” e de uma sociedade “aberta” definitivamente atingiu seus limites. Pois afinal, este diálogo pôs em dificuldade a secularização sempre crescente da sociedade? Permitiu regenerar espiritualmente o nosso século? Permitiu construir uma sociedade respeitosa da lei natural? Permitiu à Igreja reagir de maneira eficaz face à cultura de morte, perante o genocídio físico do aborto, perante o genocídio espiritual de gerações inteiras pervertidas pela decadência moral do liberalismo imperante? Esse diálogo permitiu se evitar a complacência perante a ascensão do Islã? A ideologia do diálogo a todo custo não  custou caro à Igreja em termos de evangelização? Em termos de espírito missionário? Em termos de conquista das almas? E o que dizer do esquecimento e do sacrifício da doutrina de Cristo Rei… E tudo isso por quais frutos? Por qual progresso? A amizade com o mundo termina por converter ao espírito do mundo. E o espírito do evangelho jamais será conforme o espírito do mundo. ›› Excerto do editorial do abbé Vincent Ribeton, superior do distrito da França da Fraternidade São Pedro, Tu es Petrus, abril de 2009.

Faleceu Mons. Mario Marini.

Monsenhor Mario Marini, secretário da Comissão Ecclesia Dei (não confundir com Mons. Guido Marini, mestre de cerimônias do Papa), faleceu na manhã do último domingo. Requiescant in pace.

Novo site da Comissão Ecclesia Dei.

A Ecclesia Dei lançou um novo site com o histórico da Comissão,  documentos oficiais e subsídios litúrgicos. Aqui.

Um bispo na corda bamba.

Dom Marcelo Angiolo Melani, SDB, bispo de Neuquén, Argentina, teria sido admoestado pelo Cardeal Giovanni Battista Re a renunciar a seu cargo por problemas “teológicos, litúrgicos e pastorais”. O “Sindicato de Presbíteros” já está batendo panelas em favor do bispo. É uma pena a Congregação para os Bispos apenas aconselhar a renúncia, tal como fez outrora com o famoso bispo Dom Casaldáliga.

A solução para os judeus chama-se Jesus Cristo.

Vaticano (kreuz.net – 16 de maio). Ontem o Papa Bento XVI deixou a Terra Santa voando de volta para Roma. Antes, na parte da tarde, ele visitou a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém: “Aqui a História da humanidade mudou definitivamente” – explicou o Papa em sua alocução: “Como cristãos, sabemos que a paz pela qual anseia este país dilacerado por lutas tem um nome: Jesus Cristo”.

Cardeal Carlo Caffarra restringe comunhão na mão.

Cardeal CaffarraBolonha, 10 Mai. 09 / 11:27 pm (ACI).- O Arcebispo de Bolonha, Cardeal Carlo Caffarra, decidiu proibir a comunhão na mão em três igrejas de sua jurisdição e pediu aos sacerdotes muita cautela para evitar que se sigam cometendo abusos contra a Eucaristia. (…) Segundo uma carta do pró-vigário geral de Bolonha, Dom Gabriele Cavina, originaram-se “graves abusos”, porque “existem pessoas que levam as Sagradas Espécies para tê-las como ‘souvenires'”, “quem as vende”, ou pior “quem as leva para profaná-las em ritos satânicos”.

“O confronto entre as diferentes maneiras de ver as coisas é sempre útil”. Que isso valha também ao se debater os rumos tomados há quarenta anos.

Cardeal Georges Cottier‹‹ Li num jornal francês que a remissão da excomunhão aos bispos lefebvrianos é a comprovação de que a Igreja Católica também não é infalível, pois o Papa atual revogou uma providência de seu predecessor. Uma banalidade, mas que dá a medida da confusão que circula a respeito dessas coisas. O carisma da infalibilidade, que é o da própria Igreja, reside individualmente no papa enquanto sucessor de Pedro quando o pontífice sanciona por meio de um ato definitivo uma doutrina a respeito da fé e da moral (cf. Lumen gentium, 25). No governo ordinário da Igreja, um papa pode errar, e isso não é um desastre, é humano. É preciso reconhecer que uma diferença de opiniões não deve ser temida e exorcizada. Mesmo na Cúria Vaticana, sobre muitas coisas, não pensamos todos da mesma forma. Ninguém na Igreja pode ter como ideal um sistema totalitário em que um pensa por todos e os outros se esforçam para encontrar um modo de não dizer nada. O confronto entre as diferentes maneiras de ver as coisas é sempre útil, é sinal de vitalidade. Se não reconhecemos isso, acabamos por subscrever declarações em apoio ou em conflito com o papa, ou começa o jogo de contrapor os “extremamente fiéis” aos adversários. Como se na Igreja pudesse haver os partidos “pró” ou “contra” o Papa. Nós não somos os “fãs” do Papa. Ele é o sucessor de Pedro, a divina Providência o quis assim como é. E nós o amamos assim como é, pois, por trás dele, vemos Jesus. É isso que significa ser católicos. ›› Da entrevista do Cardeal Georges Cottier, O.P à 30Giorni.

Alemanha: Negacionismo das verdades de Fé, isso pode.

Alemanha. (kreuz.net) A Ascensão de Cristo não deve ser pensada de maneira literal, conforme afirma o sítio da Conferência de Bispos Alemães ‘katholisch.de’ em um artigo não assinado. As nuvens aparecem na tradição do Antigo Testamento para significar a presença de Deus: “Não se tem em mente nenhum lugar físico ao utilizar expressão “ir para o Céu”, mas sim a proximidade de Deus.”

A chave para os problemas globais: Evangelho e Magistério da Igreja.

Vaticano. (kreuz.net) No sábado o Papa Bento XVI acolheu os formandos da Academia Pontifícia de Diplomatas. Em sua alocução ele descreveu o “Diálogo com a modernidade” como uma capacidade importante dos embaixadores. O ofício de diplomata seria um chamado especial para os sacerdotes – esclareceu o Santo Padre. Como chave importante para os problemas globais o Papa mencionou o Evangelho e o Magistério da Igreja.

Curtas da semana.

Em comunhão com a ininterrupta Tradição eclesial.

Bento XVI“A missão tem as suas raízes, de modo especial, numa boa formação desenvolvida em comunhão com a ininterrupta Tradição eclesial, sem pausa nem tentações da descontinuidade. Neste sentido, é importante favorecer nos sacerdotes, sobretudo nas jovens gerações, uma correta recepção dos textos do Concílio Ecumênico Vaticano II, interpretado à luz de toda a bagagem doutrinal da Igreja. Urgente também aparece a recuperação daquela consciência que impele os sacerdotes a serem presentes, identificáveis e reconhecíveis seja pelo critério da fé, seja pelas virtudes pessoais e também pelo hábito, nos âmbitos da cultura e da caridade, sempre no coração da Missão da Igreja. Como Igreja e como sacerdotes anunciamos Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado, Soberano do tempo e da história, na alegre certeza que tal verdade coincide com as expectativas mais profundas do coração humano. No mistério da Encarnação do Verbo, no fato de que Deus se fez homem como nós, está tanto o conteúdo e o método do anúncio cristão. A missão tem aqui o seu verdadeiro centro propulsor: em Jesus Cristo, precisamente. A centralidade de Cristo traz consigo a justa valorização do sacerdócio ministerial, sem o qual não haveria Eucaristia, tanto menos a missão e a própria Igreja. Assim, é necessário vigiar a fim de que as ‘novas estruturas’ ou organizações pastorais não sejam concebidas para um tempo no qual se deve “fazer menos” do ministério ordenado, partindo de uma errônea interpretação da justa promoção dos leigos, porque em tal caso se colocaria os pressupostos para uma posterior diluição do sacerdócio ministerial e as eventuais “soluções” alegadas viriam dramaticamente a coincidir com as verdadeiras causas da problemática contemporânea relacionada ao ministério”. Palavras do Papa em audiência aos participantes da Plenária da Congregação para o Clero, hoje, dia 16 de março, pela manhã, que seguem a mesma linha das pronunciadas à Congregação para o Culto Divino no dia 13 e ressaltam o plano de governo de Bento XVI exposto em seus esclarecimentos na carta aos bispos sobre o levantamento das excomunhões dos bispos da FSSPX.

Ano sacerdotal.

Rádio Vaticano – Na manhã desta segunda feira Bento XVI recebeu em audiência os participantes na assembleia plenária da Congregação para o Clero. Nesta ocasião o Papa anunciou ter convocado um “ano sacerdotal” especial , de 19 de Junho 2009 a 19 de Junho de 2010. Ocorrem de factos os 150 anos da morte do Santo Cura d’Ars, João Maria Vianney, verdadeiro exemplo de Pastor ao serviço do rebanho de Cristo. O Santo Padre disse que tocará à Congregação para o Clero de acordo com os bispos diocesanos e com os superiores dos Institutos religiosos promover e coordenar as várias iniciativas espirituais e pastorais que parecerão úteis para fazer perceber cada vez mais a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade contemporânea”.

O Sacrifício de Cristo para a remissão dos pecados.

“Todo sacerdote é pois chamado a administrar a misericórdia Divina no sacramento da Penitência, através da qual perdoa em nome de Cristo os pecados e ajuda o penitente a percorrer o caminho exigente da santidade com consciência reta e informada. Para poder cumprir tal ministério indispensável todo presbítero deve alimentar a própria vida espiritual e procurar uma permanente atualização teológica e pastoral. Enfim, a consciência do crente se purifica sempre mais graças a uma devota e consciente participação na Santa Missa, que é o sacrifício de Cristo para a remissão dos pecados. Toda vez que o sacerdote celebra a Eucaristia, na Oração eucarística recorda que o Sangue de Cristo é derramado para o perdão de nossos pecados, para os quais, na participação sacramental no memorial do Sacrifício da Cruz, se realiza o encontro pleno da misericórdia do Pai cada um de nós”. Da Mensagem do Santo Padre, o Papa Bento XVI, ao Eminentíssimo Cardeal James Francis Stafford, da Penitenciária Apostólica, em 12 de março de 2009.

Não à cumplicidade.

Dom José Cardoso Sobrinho“Na Igreja há a possibilidade de aplicação de penalidades automáticas, dentre esses crimes está o do aborto. Em outras palavras, não fui eu que excomunguei ninguém, eu só lembrei desta lei da Igreja, que está em vigor desde o primeiro século da nossa Santa Igreja. Mas eu tenho a impressão que essa difusão (do episódio) irá produzir bons efeitos, sobretudo naqueles que são católicos. Porque estamos vivendo um período de silêncio que pode ser até interpretado como cumplicidade. Todo ano há, em Israel, uma solenidade para relembrar aqueles judeus mortos na Segunda Guerra Mundial, que foram 6 milhões de judeus. Todo ano se relembra o holocausto e o papa sempre manda representantes da Igreja Católica. Mas há um silêncio total sobre outro holocausto que acontece todos os anos. São 50 milhões de abortos todos os anos, 1 milhão no Brasil. Por isso, temos que relembrar a todos que acima das leis humanas existem as leis de Deus. A lei dos homens no Brasil diz que se pode praticar o aborto em determinadas circunstâncias, como o estupro e ameaça à vida de mãe. A lei de Deus diz que jamais é lícito eliminar uma vida inocente mesmo que para salvar outra vida. […] Eu sou dos que pretendem conservar as leis de Deus. Por exemplo, quem não aceita o culto à Nossa Senhora não aceita as leis de Deus. Não adianta andar com a bíblia embaixo do braço, ler a bíblia todo o dia… É um gesto até bonito esse, mas não adianta de nada se não aceitar o culto a Nossa Senhora, pois está lá em Lucas, capítulo 1, como Deus veio ao mundo. […] Quando eu cheguei aqui, o Iter (Instituto Teológico de Recife) estava funcionando havia muitos anos. Dizia-se, abertamente, abre aspas, havia mais ou menos 50 homossexuais declarados. Isso não era um ambiente próprio para formar os futuros sacerdotes. Antes mesmo de eu chegar aqui, a Santa Sé mandou um visitador para examinar a situação. Depois da minha chegada, eu sabendo dessa situação, retirei os alunos da arquidiocese e reabri o seminário de Olinda apenas para a formação de sacerdotes”. Palavras de Dom José Cardoso Sobrinho à revista Época

Sim à cumplicidade.

Anti-clericalismo na França - A ilustração da capa desta semana da revista satírica Charlie Hebdo mostra os bispos Fellay e Williamson juntos com o Arcebispo brasileiro de Recife e Olinda, José Cardoso Sobrinho - Fonte: Cathcon‹‹ A mãe desta menina pensou talvez que valia mais salvar uma vida que de correr o risco de perder três… Talvez os próprios médicos lhe tivessem dito que um pequeno útero de nove anos não se dilata indefinidamente… Eu não sei. O que sei é que nesta tragédia o senhor acrescentou dor à dor e provocou sofrimento e escândalo em muitas pessoas pelo mundo. Numa situação tão dramática, creio firmemente que nós, bispos, pastores na Igreja, temos primeiro de manifestar a bondade do Cristo Jesus, a único verdadeiro Bom Pastor››. Da carta aberta de Mons. Gérard Daucourt, bispo de Nanterre, França, ao bispo José Cardoso Sobrinho.

À direita,  anti-clericalismo na França – A ilustração da capa desta semana da revista satírica Charlie Hebdo mostra os bispos Fellay e Williamson juntos com o Arcebispo brasileiro de Recife e Olinda, José Cardoso Sobrinho – Fonte: Cathcon

‹‹ [Ela] deveria ter sido defendida, abraçada, acariciada com doçura para fazê-la sentir que estamos todos com ela; todos, sem excepção. Antes de pensar na excomunhão, era necessário e urgente salvaguardar a sua vida inocente e recolocá-la num nível de humanidade, da qual nós homens de Igreja devemos ser anunciadores e mestres”.  “Assim não foi feito e, infelizmente, a credibilidade do nosso ensinamento sofre com isso, pois aparece aos olhos de muitos como insensível, incompreensível e sem misericórdia. É verdade, «Cármen» trazia consigo outras vidas inocentes como a sua – não obstante serem frutos da violência – e foram ceifadas; isso, todavia, não basta para fazer um julgamento que pesa como uma guilhotina”. “O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos e não pode consentir chegar a um julgamento negativo sem antes considerar o conflito criado no seu íntimo. O médico traz consigo a sua história e a sua experiência; uma escolha como esta de ter de salvar uma vida, sabendo que coloca em sério risco outra, jamais é vivida com facilidade” ›› . Assim declarou Dom Rino Fisichella, presidente da Pontifícia Academia para a mort… ops, vida.

O Jornal “Igreja Nova” denuncia um “desmonte implacável” do trabalho de Dom Hélder Câmara.

Da posse em 15 de julho de 1985 a memória do jornal conta (lamenta), entre outras excelentes obras de Dom José Cardoso Sobrinho: Outubro de 1988 – Suspende a missa da TV Globo, celebrada pelos padres da arquidiocese; Julho de 1989 – Proíbe a lavagem da calçada da Igreja do Carmo, uma tradição dos umbandistas, ameaçando chamar a polícia. Agosto – Fecha o ITER (Instituto de Teologia do Recife), Fecha o SERENE II (Seminário Regional do Nordeste II); Dezembro – Destitui a Comissão de Justiça e Paz da arquidiocese, criada por D. Hélder; Setembro de 1990 – 57 padres assinam e publicam documento repudiando o autoritarismo do Arcebispo; Julho de 2004 – Alguma coisa grave aconteceu no Seminário Arquidiocesano de Olinda, de onde foram expulsos 19 seminaristas do Curso de Teologia (última etapa antes da ordenação). A lista completa das façanhas de Dom José pode ser encontrada aqui.

A começar pelos bispos

Kreuz.net – Alemanha. Em um esclarecimento feito na quinta-feira, o Cardeal Joachim Meisner, de Colônia, exige um pedido de desculpas por parte daqueles que odeiam o Papa. O cardeal referiu-se à recente carta pontifícia, em que Bento XVI esclareceu que havia sofrido golpes de hostilidade. Ademais, Cardeal Meisner disse: “Quem perscrutar a sua alma com honestidade e reconhecer que também deu motivo a essa declaração, deve pedir perdão ao Santo Padre.”

Crianças e Circo Gay

Kreuz.net – Áustria. O pároco de Linz, Gert Smetanig, usa truques de mágica para encher sua igreja, disse ele ao jornal regional ‘Oberösterreichische Nachrichten’. Na missa pelas famílias a igreja está sempre cheia com seiscentas pessoas. No dia de São Valentim ele teria até abençoado sodomitas. O Pe. Smetanig afixou um texto de oposição contra o Mons. Gerhard Wagner no quadro de avisos. “O bispo me telefonou e me disse que alguém tinha reclamado sobre isso.” Aparentemente, o telefonema não mudou nada. Em entrevista o padre deu um pitaco sobre o casamento de padres: “É possível ter esposa e filhos e ser pastor de almas.”

Papa não entrará no principal museu do Holocausto em Israel

Diz John Allen Jr.: Numa ação que pode posteriormente agravar as tensões Judeus/Católicos, um enviado Vaticano anunciou que o Papa Bento XVI não entrará no principal museu do Holocausto de Israel durante sua viagem de 8 a 15 de maio à Terra Santa, embora ele pare num memorial anexo ao lugar.

É bom recordar isso.
Cardeal Cañizares‹‹ Às vezes se mudou pelo simples gosto de mudar com relação a um passado percebido como todo negativo e superado. Às vezes se concebeu a reforma como uma ruptura e não como um desenvolvimento orgânico da Tradição. Daí todos os problema suscitados pelos tradicionalistas ligados ao rito de 1962. […] Mais que outra coisa, diria que foi uma reforma que foi aplicada e principalmente vivida como uma mudança absoluta, como se se devesse criar um abismo entre o pré e o pós Concílio, num contexto em que ‘preconciliar’ era usado como um insulto. É necessário recordar, de fato — e a alguns talvez não lhes agrada fazê-lo — que o assim chamado Missa de São Pio V não aboliu todos os ritos precedentes. Fora, de fato, ‘preservados’ aqueles ritos que tinham pelo menos dois séculos de história. E o rito moçárabe — junto, por exemplo, do rito próprio da ordem dominicana — estava entre estes. Deste modo, depois do Concílio de Trento não houve uma absoluta uniformidade na Liturgia da Igreja latina. […] Como é sabido, a atual disciplina da Igreja dispõe que, por norma, a Comunhão seja distribuída na boca dos fiéis. Há, logo, um indulto que permite, a pedido dos episcopados, distribuir a Comunhão também sobre a palma da mão. É bom recordar isso›› Da entrevista do Cardeal Antonio Cañizares Llovera, prefeito para o Culto Divino, a 30giorni.
É surpreendente.
Cardeal Georges Cottier‹‹ É surpreendente portanto que Monsenhor Fellay anuncie novas ordenações ao sacerdócio depois da remoção de sua excomunhão. […] O assunto central, i.e., a negação da validade do Concílio Vaticano Segundo, é extremamente difícil. A comunhão Católica implica a aceitação deste Concílio que é tão importante para a vida da Igreja. […] Desde o Concílio Vaticano Segundo existiram abusos em ambas as direções, conservadoras e progressistas; mas uma Igreja progressista nunca veio à existência. […] No momento há o paradoxo de que é mais fácil para nós falar pacificamente com os Protestantes, que estão mais longes da Igreja Católica e que frequentemente sentem nostalgia sobre a unidade, do que com os tradicionalistas, que permaneceram militantes e agressivos (em Paris eles chegaram até o ponto de ocupar uma igreja pela força) ›› Palavras do teólogo aposentado de João Paulo II, Cardeal Georges Cottier.