O Papa não compreende a China.

O cardeal Joseph Zen, antigo titular da Sé de Hong Kong, profundo conhecedor das dificuldades de Igreja na China, escreveu com exclusividade ao famoso jornal The New York Times a respeito do recente acordo firmado entre o Vaticano e o Governo Chinês.  Reproduzimos a seguir a tradução na íntegra feita pelo Salve Maria.

Por Cardeal Joseph Zen-Kiun, The New York Times, 24 de outubro de 2018 | Tradução: Instituto Semper Idem – No mês passado o Vaticano anunciou ter chegado a um acordo provisório com o governo chinês a respeito da nomeação de bispos católicos.

O combativo Cardeal Zen.
O combativo Cardeal Zen.

Apoiadores do acordo dizem que ele finalmente traz união depois de longa divisão – entre a Igreja clandestina fiel ao Papa e a igreja oficial aprovada pelas autoridades chinesas – e que com isso, o governo chinês reconheceu pela primeira vez a autoridade do Papa. Na verdade, o acordo é um grande passo em direção à aniquilação da verdadeira Igreja na China.

Eu conheço a Igreja na China, eu conheço os comunistas e eu conheço a Santa Sé. Sou chinês de Xangai. Vivi muitos anos na China Continental e muitos anos em Hong Kong. Ensinei em seminários pela China – em Xangai, Xian, Pequim, Wuhan, Shenyang – entre 1989 e 1996.

O Papa Francisco, um argentino, não parece entender os comunistas. Ele é muito pastoral e vem da América do Sul, onde historicamente os governos militares e os ricos juntos oprimiram a população mais pobre. E quem aí viria para defender os pobres? Os comunistas. Talvez até alguns jesuítas, e o governo consideraria esses jesuítas como comunistas.

Francisco pode ter uma verdadeira simpatia pelos comunistas porque, para ele, os comunistas são os perseguidos. Ele não os conhece como os perseguidores nos quais se tornam, uma vez que estão no poder, como os comunistas na China.

A Santa Sé e Pequim romperam relações na década de 1950. Católicos e pessoas de outras crenças foram presos e enviados para campos de trabalho forçado. Eu voltei para a China em 1974, durante a Revolução Cultural; a situação era terrível além da imaginação. Uma nação inteira sob escravidão. Nós nos esquecemos muito facilmente destas coisas. Nós também nos esquecemos que nunca é possível ter um acordo verdadeiramente bom com um regime autoritário.

A China se abriu, sim, desde a década de 1980, mas mesmo hoje tudo ainda está sob controle do Partido Comunista Chinês. A igreja oficial na China é controlada pela, assim chamada, associação patriótica e pela conferência episcopal, ambos sob jugo do partido.

De 1985 a 2002 o Cardeal Jozef Tomko foi o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, que inspeciona o trabalho missionário da Igreja. Ele era eslovaco, alguém que entendia o comunismo, e era sensato.

A posição do Cardeal Tomko era de que a Igreja clandestina era a única Igreja fiel na China e que a igreja oficial era ilegítima. Mas ele também entendia que havia muitas pessoas boas na igreja oficial. Como o bispo de Xian, que por algum tempo foi o vice-presidente da conferência episcopal. Ou como o bispo de Xangai, Jin Luxian, um jesuíta e linguista brilhante, que foi preso na década de 1950.

Naquela época a Santa Sé tinha uma política cautelosa que foi generosamente implementada. Era passível de um compromisso razoável, mas tinha um ponto principal.

As coisas mudaram em 2002, quando o Cardeal Tomko chegou à idade de se aposentar. Um jovem italiano sem qualquer experiência no exterior o substituiu e começou a legitimar os bispos oficiais chineses de forma muito rápida e facilmente, criando a impressão de que agora o Vaticano iria automaticamente assegurar as escolhas de Pequim.

As esperanças retornaram quando Joseph Ratzinger, um alemão que viveu sob o nazismo e o comunismo, se tornou o Papa Bento XVI. Ele trouxe o Cardeal Ivan Dias, um indiano que viveu certo tempo no oeste da África e na Coréia do Sul, para a direção da congregação para a evangelização e isto internacionalizou o Vaticano. Foi criada uma comissão especial para a Igreja na China. Eu fui nomeado para esta comissão.

Infelizmente, o Cardeal Dias acreditava na Ostpolitik e nos ensinamentos de um secretário de estado da década de 1980 que havia sido um defensor da détente para com os governos controlados pelos soviéticos. E ele aplicou esta política para com a China.

Quando Bento XVI dirigiu sua famosa carta para a Igreja da China em 2007, pedindo pela reconciliação entre os católicos chineses, uma coisa incrível aconteceu. A tradução chinesa foi lançada com erros, incluindo um tão importante que não poderia ter sido deliberado. Em uma passagem delicada sobre como os padres clandestinos deveriam aceitar o reconhecimento das autoridades chinesas sem necessariamente trair a fé, uma ressalva crítica foi deixada de fora sobre como “quase sempre”, entretanto, as autoridades chinesas impuseram exigências “contrárias aos ditames” da consciência dos católicos.

Alguns de nós levantaram a questão e o texto foi eventualmente corrigido no site do Vaticano. Mas até então o erro original já circulava amplamente pela China e alguns bispos, então, compreenderam a carta do Papa como um encorajamento para se unirem à igreja sancionada pelo estado.

Hoje nós temos o Papa Francisco. Naturalmente otimista a respeito do comunismo, ele está sendo encorajado a ser otimista em relação aos comunistas na China por cínicos ao seu redor que conhecem melhor a situação.

A comissão para a Igreja na China não mais convém, mesmo ainda que ela nunca tenha sido dissolvida. Aqueles de nós que vieram da periferia, das linhas de frente, estão sendo marginalizados.

Eu estava entre aqueles que aplaudiram a decisão do Papa Francisco de apontar Pietro Parolin como secretário de estado em 2013. Mas hoje eu penso que o Cardeal Parolin se importa menos com a Igreja do que com o sucesso diplomático. Seu objetivo final é a restauração das relações formais entre Pequim e o Vaticano.

Francisco deseja ir à China – todos os Papas desejaram ir até a China, a começar por João Paulo II. Mas o que a visita de Francisco a Cuba em 2015 trouxe à Igreja? Ao povo cubano? Praticamente nada. Ele converteu os irmãos Castro?

Os fiéis na China estão sofrendo e estão agora entrando em crescente pressão. Mais cedo neste ano o governo endureceu as regulamentações sobre a prática da religião. Os padres clandestinos na China Continental me dizem que estão desencorajando os paroquianos a irem às Missas para que não sejam presos.

Francisco mesmo disse que ainda que o recente acordo – cujos termos não foram divulgados – preveja um “diálogo sobre eventuais candidatos”, é o Papa quem “aponta” os bispos. Mas qual o bem em se ter a última palavra enquanto a China terá todas as palavras antes disso? Na teoria, o Papa poderia vetar a nomeação de qualquer bispo que possa parecer indigno. Mas quantas vezes ele poderá fazer isso realmente?

Pouco depois de o acordo ter sido anunciado, dois bispos chineses da igreja oficial foram enviados à Cidade do Vaticano para o sínodo, uma reunião regular de bispos de todo o mundo. Quem os escolheu? Ambos os homens são conhecidos por serem próximos do governo chinês. Como tenho dito, sua presença no sínodo foi uma ofensa aos bons bispos da China.

Sua presença também levanta a dolorosa questão de se o Vaticano irá agora regularizar os sete bispos oficiais que permanecem ilegítimos. O Papa já levantou sua excomunhão, pavimentando o caminho para que dioceses sejam formalmente garantidas a eles.

A igreja oficial tem cerca de 70 bispos; a Igreja clandestina tem apenas cerca de 30. As autoridades chinesas dizem: vocês reconhecem os nossos 7 e nós iremos reconhecer os seus 30. Isto parece uma boa troca. Mas será se os 30 bispos serão autorizados a atuar como bispos clandestinos? Certamente não.

Eles serão obrigados a ingressar na assim chamada conferência episcopal. Eles serão forçados a se juntar aos outros nessa gaiola e se tornarão uma minoria entre eles. O acordo do Vaticano, em nome da unificação da Igreja na China, significa a aniquilação da verdadeira Igreja na China.

Se eu fosse um cartunista, desenharia o Santo Padre de joelhos oferecendo as chaves do Reino dos Céus ao presidente Xi Jinping e dizendo “Por favor, reconheça-me como Papa”.

E ainda, aos padres e bispos da Igreja clandestina, eu posso apenas dizer isto: Por favor, não iniciem uma revolução. Eles tomam as suas igrejas? Você não podem mais exercer suas funções? Vão para casa e rezem com a sua família. Preparem o solo. Esperem por tempos melhores. Retornem às catacumbas. O comunismo não é eterno.

IPCO escreve carta de apoio ao Cardeal Zen.

Fonte: ABIM

Eminentíssimo Senhor

Cardeal Joseph Zen Ze-kiun

Hong Kong – China

Eminência Reverendíssima

Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, associação cívica continuadora da obra do insigne professor cujo nome ostenta, e associações autônomas e coirmãs nos cinco continentes, dedicam-se a defender os valores fundamentais da Civilização Cristã. Seus diretores, membros e simpatizantes são católicos apostólicos romanos que combatem as investidas do comunismo e do socialismo.

cardeal-zen-china

A posição fundamentalmente anticomunista que resulta das convicções católicas dos membros de nossas organizações ficou revigorada pela heroica resistência da “Igreja clandestina” chinesa fiel a Roma. Seus bispos, sacerdotes e milhões de católicos recusam a se submeter à assim chamada Igreja Patriótica, cismática em relação a Roma e inteiramente submissa ao poder central de Pequim. Continuar lendo

‘O Vaticano está nos vendendo’: por que a aproximação entre o papa e Pequim desagrada os católicos da China.

Por BBC Brasil, 17 de fevereiro de 2018 – De um lado, o menor Estado do mundo, que diz estar baseado no poder de Deus. De outro, a superpotência mais populosa do mundo e um Estado oficialmente ateu. O Vaticano e a República Popular da China têm uma relação difícil há muito tempo.

O vínculo entre os países se rompeu em 1951, após a vitória da Revolução Cultural de Mao Tsé Tung, que não reconheceu a autoridade do papa.

A China de Mao, desconfiada da presença de poderes estrangeiros, dediciu nomear seus próprios bispos e expulsar missionários forasteiros, vistos como agentes “do imperialismo ocidental”.

Desde então, convivem no país duas igrejas: a Associação Católica Patriótica, controlada pelo governo, e vertente leal ao Vaticano – que funciona na clandestinidade, porque o governo não a reconhece.

O conflito faz com que o Vaticano e Pequim disputem há anos a prerrogativa de nomear os bispos do país. Agora, no entanto, as coisas parecem estar a ponto de mudar.

Uma fonte do Vaticano disse recentemente à agência de notícias Reuters que um acordo sobre a designação dos bispos deve ser assinado nos próximos meses.

Será um passo no caminho do reestabelecimento das relações diplomáticas nas quais o Vaticano vem apostando há anos. Mas não é o fim da polêmica.

Alguns católicos estão protestando, porque, com sua nova política, o papa “corre o risco de trair a memória de quem sofreu e morreu por lealdade a Roma”, segundo análise da jornalista Carrie Gracie, que atuou como editora da BBC na China até o início deste ano.

Yang Fenggang, diretor do Centro para Religião e Sociedade Chinesas da Universidade Perdue de Indiana, nos Estados Unidos, diz que “há alguns sacerdotes e bispos leais ao Vaticano que estão em prisão domiciliar”.

Organizações como a Anistia Internacional acusam as autoridades chinesas de “intimidar e até aprisionar” os católicos e classifica como “perseguição” a atitude das autoridades.

Um dos que se sentem traídos é o cardeal Joseph Zen, de 86 anos, arcebispo de Hong Kong. “Se acredito que o Vaticano está vendendo a comunidade católica na China? Definitivamente sim”, escreveu em seu perfil do Facebook.

Não é a primeira vez de Zen levanta a voz contra a política da Santa Sé – e ele não é o único a fazer isso. O padre Dong Guanhua, diretor espiritual de uma comunidade de fiéis em Hebei, se nega a ir aos templos tolerados pelo Estado.

“Não apoio o acordo. O governo não vai mudar sua política de controle das igrejas, porque essas negociações não significam nada”, disse à BBC.

Questionado sobre o que diria ao papa se pudesse encontrá-lo pessoalmente, respondeu: “Que tenha cuidado.”

O arcebispo Guo Xijin, a quem o Vaticano pediu que se submeta à autoridade do Estado chinês, afirma que respeitará o acordo, mas alerta que Pequim não deverá respeitar a liberdade dos católicos.

Em um comunicado, o Vaticano lamenta que haja vozes dentro da Igreja “fomentando a confusão e a controvérsia”.

Segundo Gracie, o papa está fazendo todo o possível para que o diálogo tenha êxito. “Também está tendo muito cuidado para evitar criticar a China sobre a questão de liberdade religiosa e dos direitos humanos”, diz ela.

O governo chinês diz que promove e respeita a liberdade de culto.

Negociação

Os acenos do papado à China recentemente começaram a gerar um eco cordial de Pequim

Um editorial do jornal Global Post, de propriedade do Partido Comunista Chinês, elogiou a sabedoria do papa Francisco como uma qualidade que ajudaria a superar os diferenças entre os países.

Depois disso, Peter Shao Zhumin, arcebispo nomeado pelo papa, foi libertado pelas autoridades chinesas após ter ficado sete meses preso.

Outro sinal da aproximação são as duas exposições simultâneas que estão planejadas na Cidade Proibida de Pequim e no Museu do Vaticano – os dois países trocaram obras para esse projeto.

A televisão estatal chinesa destacou o papel da “diplomacia da arte”.

Ficaram para trás os tempos em que o governo chinês impedia o avião do pontífice de atravessar seu espaço aéreo em suas viagens, como aconteceu com João Paulo 2º em 1995.

Mas os entraves ainda são muitos. Segundo Yang, “o Partido Comunista está particularmente preocupado com o catolicismo, porque ele tem uma estrutura hierárquica e é percebido como uma organização forte que poderia ter um impacto na China”.

“Outro grande obstáculo é Taiwan”, diz Yang Fenggang.

Depois do triunfo do comunismo maoísta, muitos dos católicos chineses partidários do exército nacionalista derrotado de Chiang Kai-Shek se refugiaram em Taiwan.

O Vaticano é o único Estado europeu que mantém relações diplomáticas oficiais com Taiwan, que Pequim reivindica como parte da China.

Fiel ao lema da “China Unida”, Pequim não aceita ter relações diplomáticas com países que as mantenham com Taiwan.

É um limite que o papa terá dificuldade de ultrapassar. O Sumo Pontífice tem o desafio de explicar um acordo com a China comunista à comunidade católica taiwanesa.

Desde Bento 16

As atitudes da Igreja para se reaproximar da China começaram na época do papa Bento 16, mas Francisco acelerou o processo. Por que ele faz isso diante de tantos problemas?

“A China é muito importante na visão do papa sobre a Ásia”, destaca Francesco Sisci, pesquisador da Universidade de Renmin, na China.

“A Igreja Católica é uma exígua minoria em quase todos os países asiáticos, menos de 1% da população na China. Mas a Ásia concentra cerca de 60% da população global e é também a parte do mundo que cresce mais rápido economicamente.”

Segundo Sisci, a Igreja está diante de um desafio crucial. “Ou conquista uma presença na Ásia ou estará falhando em sua missão de ser uma igreja universal.”

As várias viagens do Papa à região atendem a esse interesse.

O conteúdo do acordo para a designação dos arcebispos não foi divulgado, mas é certo de que se trata de um ponto importante na tentativa de aproximação.

Segundo a Reuters, o Vaticano estaria disposto a reconhecer a autoridade da Igreja oficial chinesa em troca de ter a voz ouvida no processo de nomeação de novos bispos no país.

O cardeal Zen afirma que o que o Vaticano está fazendo com os católicos da China é “empurrá-los para uma gaiola de pássaros”.

A alta fonte do Vaticano citada pela Reuters vê de outra forma: “Continuaremos sendo um pássaro em uma gaiola, mas ela será maior.”

O Papa Francisco e a nomeação de bispos na China. A reação do cardeal Zen.

IHU – O Papa Francisco prometeu analisar o caso dos dois bispos chineses reconhecidos a quem a Santa Sé havia pedido para se afastar e abrir caminho a prelados ordenados ‘ilicitamente’.

O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, emérito da Diocese de Hong Kong, viajou a Roma para uma audiência privada em 12 de janeiro depois que o caso gerou tumulto no país asiático.

A informação é publicada por La Croix International, 30-01-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Santa Sé pediu que Dom Zhuang Jianjian, da Diocese de Shantou, de 88 anos e que vive na província de Guangdong, e Dom Vincent Guo Xijin, da Diecese de Mindong, de 59 anos, morador da província de Fujian, se aposentassem de suas funções eclesiásticas. Ambos são reconhecidos por Roma.

Zhuang recebeu o pedido para dar espaço a Dom Huang Bingzhang, da Diocese de Shantou, de 51 anos, ilicitamente ordenado e que está excomungado. Guo recebeu o pedido para se afastar a fim de dar lugar ao bispo sancionado pelo governo, Dom Zhan Silu, da Diocese de Mindong, de 57 anos, que também fora ordenado ilicitamente.

Em resposta às muitas reportagens na imprensa, o bispo emérito escreveu uma postagem na internet no dia 29 de janeiro e que lembra a história inteira e explica o seu ponto de vista.

Zen falou que foi a Roma após uma solicitação de Zhuang para “levar ao Santo Padre a sua resposta à mensagem que recebeu da Santa Sé por uma delegação vaticana em Pequim”.

O cardeal disse ter tido sucesso em transmitir ao “Santo Padre as inquietações dos seus filhos fiéis na China” e pediu-lhe que considerasse o assunto.

“A Sua Santidade disse: ‘Sim, eu disse a eles (Cúria Romana) para não criarem um outro caso Mindszenty’”, escreveu Zen.

“Penso que foi muitíssimo significativo e apropriado o Santo Padre fazer esta referência histórica ao Cardeal Jozsef Mindszenty, um dos heróis da nossa fé”.

Mindszenty era o cardeal primaz da Hungria sob os anos de perseguição comunista. Após ser condenado à prisão perpétua em 1949, foi libertado na Revolução Húngarade 1956 e recebeu asilo na embaixada americana de Budapeste, onde viveu por 15 anos. Sob pressão do governo, a Santa Sé ordenou-lhe deixar a Hungria em 1971 e, imediatamente, nomeou-lhe um sucessor segundo o gosto do governo comunista.

Em outubro passado, a Santa Sé contatou Zhuang, quando Zhuang buscou a ajuda a Zen. O cardeal enviou a carta do bispo ao prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, anexando uma cópia ao Santo Padre.

Na época, Dom Savio Hon Tai Fai ainda se estava em Roma e levou os dois casos – deShantou e Mindong – aos conhecimentos do papa, quem ficou surpreso e prometeu olhar o assunto com atenção.

De acordo com a imprensa católica, Zhuang foi forçado a ir para Pequim em dezembro de 2017 para se reunir com uma delegação vaticana liderada por um “prelado estrangeiro do alto escalão”. Pediram-lhe que renunciasse e passasse o seu episcopado a Huang.

Guo ficou detido pelo governo por um mês na época da Semana Santa do ano passado, quando lhe solicitaram para assinar um documento afirmando que estava “voluntariando-se” para sair como condição para que seja reconhecido pelo governo.

Zen destacou que “o problema não é a renúncia dos bispos legítimos, mas o pedido para abrir caminho a bispos ilegítimos e mesmo excomungados”.

No caso de Mindong, o bispo legitimamente ordenado conduz 90% dos católicos na diocese.

O cardeal admitiu estar pessimista quanto à situação da Igreja na China, mas falou que este seu pessimismo fundamenta-se na sua longa experiência direta da “escravidão e humilhação a que os nossos irmãos bispos estão sujeitos” no país.

Falou que “com base em informações recentes, não há motivos para mudar de opinião”, já que o governo comunista está criando regulamentos mais severos que limitam a liberdade religiosa e que “a partir de 1º de fevereiro, frequentar a missa clandestina [missa não autorizada pelo Estado chinês] não será mais tolerado”.

“Será que pode haver algo realmente ‘mútuo’ com um regime totalitário?”, perguntou Zen. “Pode-se imaginar um acordo entre São José e o Rei Herodes?”

ucanews.com ouviu de um fiel católico chinês que a primeira impressão que houve, quando saiu na internet a notícia de que haveria uma reestruturação episcopal, era a de que alguém na Santa Sé tinha havia sido corrompido pela China e que “agora o que Cardeal Zen escreve prova que o papa não quer que isso ocorra”.

“Neste momento, as igrejas chinesas deveriam se esforçar no sentido da unidade com a Igreja universal, mesmo se a China e o Vaticano não tenham ainda estabelecidos relações diplomáticas”, disse.

Cardeal Zen: Papa Francisco “trairia a Cristo” se permitisse à China comunista escolher bispos.

LifeSiteNews, Hong Kong, 29 de novembro, 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: A mais alta autoridade Católica Chinesa afirmou que, se o papa Francisco permitisse à China comunista participar da escolha dos bispos Católicos da nação, isso seria o equivalente a “trair a Jesus Cristo.”

O combativo Cardeal Zen.
O combativo Cardeal Zen.

“Você não pode entrar em negociações com a mentalidade: ‘nós queremos assinar um acordo a qualquer custo’, pois assim você estaria se rendendo, estaria traindo a si próprio, você estaria traindo a Jesus Cristo”,  disse o cardeal Joseph Zen ao jornal The Guardian nesta semana.

O bispo emérito de Hong Kong, de 84 anos de idade, se opõe firmemente a um possível acordo entre o Vaticano e o Governo Chinês que gostaria de obter legitimidade para a entidade controlada pelo Estado, a Associação Patriótica Católica chinesa. Ele diz que tal movimento iria alienar os autênticos Católicos Chineses da “Igreja subterrânea”, separando-os da verdadeira Igreja encabeçada por Cristo e seu representante, o Papa.

O Wall Street Journal informou no início deste mês que, com tal acordo, “Roma se comprometeria a reconhecer como bispos somente aqueles clérigos que primeiramente obtiveram a nomeação pela conferência de bispos da Associação Patriótica”,permitindo assim que o Governo, e não a Igreja, decida quem é bispo.

O cardeal Zen disse, no início deste mês, que com um tal acordo, o Vaticano estaria simplesmente dando credibilidade a “bispos falsos” que, como “marionetes” totalmente controladas pelo governo, não buscariam o bem da Igreja, mas a sua destruição.

De acordo com o decreto do Concílio Vaticano II sobre Bispos (1965), o direito de nomear e apontar bispos pertence “correta, peculiar, e per si exclusivamente à autoridade eclesiástica competente”.

“Portanto, com a finalidade de devidamente proteger a liberdade da Igreja e de promover de forma  mais conveniente e eficiente o bem-estar dos fiéis, este Santo Concílio deseja que, no futuro, não mais direitos ou privilégios de eleição, nomeação, apresentação ou designação para o cargo de bispo sejam concedida a autoridades civis” — foi o que o Concílio afirmou naquela época.

O Código de Direito Canônico (cânon 377 § 5) declara que “nenhum direito e privilégio de eleição, nomeação, apresentação ou designação de bispos são concedidos às autoridades civis”.

O canonista Edward Peters disse que o Vaticano, ao lidar com a China, deve se lembrar da história e da lição de que “quanto maior é o papel desempenhado pelo poder secular nas nomeações eclesiásticas, maiores são as chances de abuso”.

“Tal concessão à China, se é isso que está realmente sendo proposto, certamente levaria outros estados totalitários a exigir o mesmo, recriando as mesmas complicações e confusões entre Igreja e Estado que marcaram e às vezes denegriram muito a história da Igreja”, escreveu ele em seu blog.

Zen disse ao The Guardian na entrevista que um acordo dessa natureza, apenas criaria a ilusão de uma “falsa liberdade” para uma falsa instituição.

“Mas é apenas a impressão de liberdade, não é a verdadeira liberdade, pois o povo, mais cedo ou mais tarde, vai ver os bispos como fantoches do governo e não como realmente os pastores do rebanho”, disse ele.

Zen gostaria de ver o Vaticano abandonar de vez esse acordo.

“Se não é possível obter um bom acordo, um acordo aceitável, então o Vaticano deveria sair disso e talvez tentar novamente mais tarde. Será que a Igreja poderia negociar com Hitler? Ou poderia negociar com Stalin? Não”, disse ele.

Zen sugeriu que o reconhecimento do Vaticano para a igreja administrada pelo governo ao confirmar a nomeação de seus bispos apenas serviria para “envenenar” a Igreja Católica real na China, onde se estima que cerca de sete milhões de fiéis a seguem secretamente.

“O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”, disse ele. “mas se aquele sangue é envenenado, quanto tempo durarão esses novos cristãos”?

Cardeal Zen aos católicos chineses: se houver um acordo com o governo, não precisam seguir o Papa.

IHU – Se a China Popular e a Santa Sé chegarem a um acordo, este teria, evidentemente, “a aprovação do Papa”. No entanto, os católicos chineses não precisariam levá-lo em conta caso o considerarem, “em consciência”, “contrário ao princípio da fé”. Estas são palavras do cardeal Joseph Zen, salesiano, bispo emérito de Hong Kong.

A reportagem é de Gianni Valente e publicada por Vatican Insider, 30-06-2016. A tradução é de André Langer.

O combativo Cardeal Zen.
O combativo Cardeal Zen.

Como se sabe, o cardeal ancião não gosta muito do tipo de “pax” sino-vaticana que parece estar ganhando forma com as negociações em curso entre os funcionários chineses e os oficiais vaticanos, confirmadas inclusive pelo Papa Francisco. Assim, tomando a iniciativa, o alto prelado salesiano exortou os católicos chineses a empreender o caminho da dissociação silenciosa, e também com respeito a eventuais medidas e práticas que poderiam ser aprovadas oficialmente pelo Bispo de Roma, como “extrema ratio” para esquivar as implicações de um possível e futuro acordo entre Pequim e a Sé Apostólica.

O apelo foi feito por Zen em seu blog pessoal: “Irmãos e irmãs do Continente, devemos honrar-nos!”, escreveu o cardeal com tons peremptórios aos católicos da República Popular da China. Nas primeiras linhas, o cardeal identifica imediatamente os seus polêmicos alvos: são aqueles que “estão do lado do governo” e “os oportunistas da Igreja”, que “esperam que a Santa Sé assine um acordo para legitimar a atual e anômala situação”.

Todos eles, defende Zen, ultimamente gritaram que devemos estar “prontos para escutar o Papa” e obedecer “a tudo o que disser”. E os mesmos chegam a prognosticar que a rejeição das decisões aprovadas pelo Papa poderiam vir justamente de alguns daqueles que sempre usaram contra outros a crítica da pouca fidelidade ao Papado e à Igreja de Roma.

Diante destes novos cenários, Zen convidou, sobretudo, para “manter a calma”, e na sequência ofereceu aos irmãos e irmãs “continentais” diretrizes para enfrentar este momento tão delicado, enquanto chegam tempos melhores. Reconhece que na Igreja “a autoridade suprema é o Papa, Vigário de Cristo na Terra”.

Recorda que nos últimos anos, sobretudo durante o Pontificado do Papa Bento, ele mesmo sempre repetiu “que a Santa Sé não representa o Papa. Mas, claro, se um dia fosse assinado um acordo oficial entre a China e a Santa Sé – reconhece Zen –, então seguramente esse acordo teria a aprovação do Papa”. Nesta eventual circunstância, sugere preliminarmente o bispo emérito de Hong Kong, “qualquer coisa que for aprovada pelo Papa, nós não teríamos que criticá-la”.

Deve-se evitar qualquer reação que possa ser reconhecida e recusada como uma crítica direta ao Sucessor de Pedro. Mas, o que é certo, acrescenta imediatamente Zen, “afinal de contas, a consciência é o critério último para julgar o nosso comportamento. Então, se de acordo com sua consciência o conteúdo de qualquer acordo for contrário ao princípio da nossa fé, não tem necessidade de segui-lo”.

Para justificar a evocada dissociação com respeito a eventuais acordos entre a China e a Santa Sé aprovados pelo Papa, Zen cita (propondo uma síntese livre, que não representa o texto original) as palavras do Papa Bento XVI aos católicos chineses (de junho de 2007) e na qual se declara que os princípios da autonomia, da independência, da autogestão e da administração democrática da Igreja perseguidos pela Associação Patriótica e pelos demais organismos patrióticos inspirados pelos aparelhos políticos chineses, não são “conciliáveis” com a doutrina católica. “Vocês, escreveu o cardeal aos irmãos e irmãs do Continente, não devem nunca, por motivo algum, unir-se à Associação Patriótica”.

Na parte final da sua breve mensagem, o cardeal emérito prognostica um futuro de catacumbas para os que não queiram aceitar o acordo entre a Santa Sé e a China, e que, na sua opinião, devem estar prontos para renunciar à prática pública dos sacramentos e da vida eclesial que hoje conotam e alimentam a condição ordinária e cotidiana dos católicos chineses.

“No futuro – explicou Zen comparando os efeitos de um possível acordo entre a China e o Vaticano com as condições que viveram os cristãos chineses nos anos obscuros e cruéis da Revolução Cultural –, devemos temer que já não terão um lugar público para rezar, mas poderão rezar em casa; e embora não exista a oportunidade de receber os sacramentos, o Senhor Jesus irá ao seu coração; e embora já não fosse possível ser sacerdote, poderão voltar para casa e cultivar os campos. O sacerdote é sacerdote para sempre”.

A mensagem de Zen termina com frases tranquilizadoras para os seus leitores: a resistência que propõe diante de um eventual acordo entre Pequim e a Sé Apostólica poderia ser breve: “A Igreja primitiva, escreveu o cardeal que nasceu em Shangai, teve que esperar 300 anos. Não creio que tenhamos que esperar tanto. O inverno está para acabar”.

O apelo do cardeal Zen para ignorar eventuais decisões futuras aprovadas pelo Papa representa uma fratura anunciada, depois da mobilização, que já dura 20 anos, do alto prelado de Hong Kong contra todos os passos dados pela Sé Apostólica no campo das relações entre os aparelhos estatais chineses e a Igreja católica que não considerava adequados.

O arsenal do cardeal de 84 anos inclui a deslegitimação das posições que não compartilha e que apresenta sempre como ambíguas e, na sua opinião, que cedem no nível da sã doutrina, motivo pelo qual seriam suspeitas de suposto oportunismo e mancomunação interesseiro com o poder chinês e, sobretudo, uma representação fixa e pré-fabricada da vida do catolicismo chinês durante os últimos 70 anos, com a finalidade de ocultar todos os dados da realidade que não servem para a sua permanente luta.

Por exemplo, para reconhecer como um pretexto a objeção de consciência proposta perante eventuais acordos sino-vaticanos aprovados pelo Papa, tingidos a priori de condescendência para com os organismos patrióticos construídos pelo poder chinês, bastaria recordar que João Paulo II e Bento XVI, durante seus respectivos pontificados, legitimaram ou nomearam diretamente dezenas de bispos chineses que tinham relações ordinárias com esses organismos e inclusive alguns tinham importantes cargos em seu interior.

Para o Papa Wojtyla e para o Papa Ratzinger, o fato de que os bispos pertencessem formalmente à Associação Patriótica dos católicos chineses nunca foi, em si mesmo, um obstáculo para a plena e reconhecida comunhão sacramental e hierárquica entre esses bispos e o Sucessor de Pedro. E ninguém impôs sua saída formal da Associação Patriótica como condição para obter o mandato pontifício ao próprio ministério episcopal.

João Paulo II e Bento XVI sempre indicaram a via do diálogo, e não do confronto, como instrumento para resolver os problemas vividos pelo catolicismo chinês nas relações com as autoridades civis.

Seja como for, no delicado momento em que se encontram atualmente as relações sino-vaticanas, as indicações divulgadas pelo cardeal Zen dizem respeito a todos, a começar pelos católicos chineses: bispos e sacerdotes, religiosos e leigos, aos ditos oficiais e clandestinos. Cada um, na liberdade da própria consciência iluminada pela fé, poderá entesourar esse “sensus fidei” que, no ex-Império Celeste, foi guardado inclusive nos tempos difíceis da cruel perseguição. O mesmo “sensus fidei” que sempre assinala também a comunhão real com o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro.

Zen x Parolin: Hoje nossos diplomatas provavelmente aconselhariam José a ir dialogar com Herodes!

O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, arcebispo emérito de Hong Kong, expressou sua preocupação em relação à postura da diplomacia do Vaticano para com o governo comunista da China:

“Nossas comunidades clandestinas são inexistentes aos olhos do governo. Mas, o próprio Vaticano não as leva em conta nas negociações. Isso é uma concessão a um pedido do Partido [comunista] Chinês? Para salvar a situação, aqueles irmãos e irmãs são abandonados? Mas eles são os membros saudáveis da Igreja! […] No último mês de setembro, alguns dos fiéis de Shanghai que passaram um longo tempo na prisão foram a Roma, acompanhados de seus familiares, para comemorar o 60º aniversário do início da Grande Perseguição, de 8 de setembro de 1955. Disseram-lhes:  ‘Não chamem muita atenção para vocês mesmos, o passado é passado, devemos olhar para o futuro!’. […] O que me preocupa é a visão de nosso ilustre Secretário de Estado, ainda intoxicado pelo milagre da Ostpolitk. Ano passado, em um elogio ao Cardeal Casaroli, ele aplaudiu o fato de que seu predecessor foi bem sucedido em garantir a existência da hierarquia católica nos países comunistas do Leste Europeu. Ele afirmou, ‘ao escolher candidatos ao episcopado, escolhamos pastores, não pessoas que sistematicamente se oporão ao regime, que agem como gladiadores, que adoram fazer um grande estardalhaço no cenário político’. Eu imagino, quem o Cardeal Parolin tem em mente quando faz essa descrição? Temo que ele estivesse pensando no Cardeal Wyszynski,  Cardeal Mindszenty e Cardeal Beran. Mas, estes foram os heróis que defenderam a fé de seu povo com coragem! […]

Quando os Santos Inocentes foram assassinados, o Anjo disse a José que levasse Maria e Seu Filho a um local seguro. Hoje, pelo contrário, nossos diplomatas provavelmente aconselhariam José a ir dialogar com Herodes!”.

A singela qualificação do Cardeal Zen à corja chinesa amistosamente recebida pela CNBB: “funcionários canalhas”.

Rumo a um cisma chinês? 

Entre tensões, incompreensões e desconfianças, com canais de comunicação intermitentes ou inexistentes, preparam-se as condições ideais para acender a faísca da divisão. Uma análise histórica e cultural da difícil situação.

A reportagem é de Gianni Valente, publicada no sítio Vatican Insider, 15-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nem mesmo o nada ritual apelo do cardeal Joseph Zen ao presidente Hu Jintao e ao primeiro-ministro Wen Jiabao para que detivessem seus “funcionários canalhas” que ajudam “a escória da Igreja” serviu para esconjurar mais uma anunciada ordenação ilegítima do novo bispo católico de Shanthou, na província de Guandong.

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A ira do Cardeal Zen sobre o “diálogo a qualquer custo” do Pe. Heyndrickx e Propaganda Fide.

Nosso sincero agradecimento a um grande amigo que fez a gentileza de traduzir este artigo para publicação no Fratres in Unum.

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Card. Joseph Zen Zekiun, sdb
Card. Joseph Zen Zekiun, sdb

O “estado desastroso” da Igreja na China é causado pela Política de Pequim, mas também pela política vaticana, parecida por demais à política falida da Ostpolitik do Cardeal Casaroli. Dialogar, mas sem vender a nossa fé. Risco de cisma para aqueles bispos que estão “entusiasmados”  por obedecer o regime. Um espírito de penitência e conversão para todos.

Hong Kong (AsiaNews) – A Igreja na China está num “estado desastroso” causado pela dureza do regime, mas também porque um “triunvirato” (o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, um minutante desta Congregação e o Padre Jerrom Heyndrickx, missionário de Scheut, seus conselheiros) continuam a induzir o Vaticano ao compromisso com o regime chinês, seguindo o mesmo modelo da Ostpolitik do Cardeal Casaroli. Esta atitude levou muitos bispos da Igreja oficial a participarem da ordenação ilícita de Chengde (20.11.2010 – Chengde: otto vescovi uniti al papa partecipano all’ordinazione illecita) e da Assembléia nacional dos representantes católicos (09.12.2010 – L’Assemblea patriottica cinese vota la sua leadership. Un grave danno per la Chiesa), em clara desobediência às indicações de Bento XVI. Segundo o bispo emérito de Hong Kong, é necessário que a Santa Sé dê indicações precisas à Igreja na China para evitar uma situação de cisma, na qual muitos bispos oficiais obedecem “entusiasmados” ao governo e não ao papa.

O Card. Zen desenvolve as suas argumentações no escrito que enviou, em resposta a uma reflexão do Pe. Jeroom Heyndrickx, publicada no n. de 16 de março de 2011 pela Ferdinand Verbiest Update. Nesta, o sacerdote belga, especialista sobre a Igreja na China, sublinha o fato de que, não obstante o “tapa” dado ao papa com as ordenações de Chengde e com a Assembléia de Pequim, convém prosseguir em diálogo com o governo chinês e não julgar de modo pesado os bispos, não deixando-se levar por “malentendidos” acerca de sua fidelidade “apesar das muitas violações às leis canônicas” (cf. Verbiest Update 16 – March 2011).

Eis o escrito do Cardeal Joseph Zen.

Resposta do Cardeal Zen ao N. 16 do Ferdinand Verbiest Update

Como já em outras vezes, o Pe. Jeroom Heyndrickx escolhe os Papas e os contrapõe uns aos outros. Neste caso, contrapõe o Papa Paulo VI ao Papa Pio XI: enquanto o Papa Paulo seria pelo diálogo, o Papa Pio XI amaria o confronto.

O diálogo

Quero recordar ao bom Padre Heyndrickx que há diálogo e diálogo: uma coisa é quando um Papa fala a todos sobre o grande princípio do diálogo, outra coisa é quando um Papa fala àqueles que estavam matando cruelmente seus filhos.

Pensando em nosso caso, me pergunto: devemos procurar palavras doces para falar àqueles que deram um tapa em nosso amado Santo Padre? O que significaram os fatos do fim de novembro e início de dezembro senão um tapa ao Papa?

O diálogo é certamente a “via mestra”, mas, infelizmente, alguém fechou as portas do diálogo na cara do interlocutor, que conciliador até demais.

Ostpolitik

O Padre Heyndrickx é um entusiasta da Ostpolitik do Cardeal Casaroli e afirma que o Papa Paulo VI a tinha sustentado fortemente. Não sei o quanto Paulo VI terá sustentado a política de Casaroli no Leste europeu, mas sei, de pessoa autorizadíssima, que quando João Paulo II se tornou Papa, disse “Basta!” a esta política.

O Cardeal Casaroli e os seus sequazes se enganavam pensando que tinham realizado milagres com uma política de compromisso até o fim; na verdade, fizeram as pazes, sim, com Governos totalitários, causando um desastroso enfraquecimento da Igreja. Basta escutar qualquer eclesiástico daqueles países. Um destes me contava que, um dia, o Cardeal Wyzinsky foi a Roma dizer a um oficial da Cúria Romana que tirassem as mãos da Igreja da Polônia.

Padre Heyndrickx tenta puxar o Papa João Paulo II para o seu lado, louvando a sua moderação; mas se esquece o fato de que foi o próprio Papa João Paulo II que impulsionou a canonização dos mártires da China, sabendo muito bem que isto suscitaria a ira de Pequim e, como o próprio Padre Heyndrickx reconhece, o Papa não pediu desculpas por tal canonização.

Mas voltemos à nossa Igreja na China, hoje.

A Igreja na China

A nossa Igreja na China foi reduzida a um estado desastroso exatamente porque, nestes últimos anos, alguém está fazendo cega e teimosamente a mesma política da Ostpolitik, contra a direção dada pelo Papa Bento XVI em sua Carta à Igreja da China, de 2007, e contra a opinião da grande maioria dos membros da Comissão que o Papa instituiu para o aconselhamento acerca dos modos de ajudar a Igreja na China.

O diálogo e o compromisso são necessários. Mas existe um limite. Não podemos, para agradar o Governo de Pequim, renunciar à nossa fé e à nossa disciplina eclesiástica, naquilo que tem de essencial.

Em 2007, o Papa Bento XVI julgou que tinha chegado o momento de esclarecer. E a Comissão para a China acreditava que tivéssemos chegado ao limite do compromisso e seria necessário parar por aí. Mas o triunvirato – o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, um minutante desta mesma Congregação e o Padre Heyndrickx – pensam que sabem mais que todos nós.

Certo, a Igreja da Polônia era mais forte e corajosa. A nossa Igreja da China não é assim. Mas a coragem não pode ser dada por quem não a tem. Os nossos bispos precisavam ser incentivados à coragem. Ao invés disso, alguém sempre lhes mostrou uma errada compaixão, que terminou por afundá-los ainda mais na lama da escravidão.

Alguém disse àqueles nossos irmãos: “Nós compreendemos as vossas dificuldades”. O que quer dizer “nós vos compreendemos, também se, pela pressão à qual estais sujeitos, obedeceis às ordens do Governo”. Mas, neste caso, obedecer o Governo quer dizer faltar gravemete contra a fidelidade devida ao Papa e à comunhão com a Igreja universal!

Depois da ordenação de Chengde e da Oitava Assembléia, algum bispo envolvido pediu perdão aos seus sacerdotes. Algum outro chorou amargamente. Mas existem alguns que, como diz o Padre Heyndrickx, são entusiastas da situação atual. Temo que estes não sejam mais dos nossos. É apenas a bondade do Papa que não lhe faz chamar de cismática a presente Igreja oficial na China, que declarou solenemente sua vontade de ser uma Igreja independente, com ordenações episcopais sem o mandato pontifício.

À procura dos culpados

O Padre Heyndrickx joga a responsabilidade sobre os não especificados “elementos conservadores do Partido Comunista Chinês”. Certamente o Partido é responsável. Mas todos vêem também que o grande artífice foi o Sr. Liu Bai Nian, que conseguiu colocar como chefes da Associação Patriótica e da Conferência Episcopal dois bispos a ele submissos, e agora, também como Presidente onorário, vai trabalhar todos os dias diligentemente.

Não entendo porque, quando se fala de desobediências e de merecidos castigos, o Padre Heyndrickx tenha de incluir igualmente a comunidade não oficial. Quais são os atos que justificam colocar no mesmo nível os nossos irmãos perseguidos com estes outros, honrados e exaltados pelo Governo?

Entre aqueles “políticos que tentam dividir a Igreja” e aqueles “de fora da China que se apressam a julgar”, encontra-se evidentemente o subcrito. Este é culpado de ter iniciado uma reunião de oração, em espírito de penitência e conversão. Faço questão de precisar, porém, que todos nós estávamos explicitamente incluídos entre aqueles que tinham necessidade de conversão e arrependimento.

Enquanto discutimos quem sejam os culpados, tudo permanece parado e os fiéis da China esperam em vão pelos esclarecimentos sobre como deve ser ainda a nossa Igreja. Cada dia que passa é uma eternidade para as suas dores. Quando o Senhor escutará, finalmente, as suas súplicas?

A diplomacia Vaticana contra a dura realidade da Igreja na China.

Catholic Culture – A China comunista continua perseguindo os bispos fiéis ao Papa, mesmo quando recebem reconhecimento do governo, disse o bispo aposentado de Hong Kong, num artigo publicado por AsiaNews em 8 de setembro.

Respondendo a um recente artigo de um padre belga, escreveu o Cardeal Joseph Zen Ze-kiun:

O Cardeal salesiano Joseph Zen Ze-kiun
O Cardeal salesiano Joseph Zen Ze-kiun

Nossos bispos na China têm alguma chance de dialogar? Dialogar entre si? Não! O governo mantém uma estreita vigilância para evitar que eles o façam. Com o governo? Absolutamente não! Eles apenas têm de ouvir e obedecer. São ordenados a partir para lugares que não conhecem. São chamados a encontros sem conhecer a pauta. Discursos que não escreveram lhes são dados para ler, aos quais eles sequer deram uma olhada de antemão.

É verdade que os métodos de perseguição foram aperfeiçoados. Agora, as vítimas são convidadas para jantares, excursões de turismo, são derramados sobre o povo presentes e honras (como promoções a membro do Congresso do Povo em diferentes níveis).

Nos últimos dias, vimos saber que eles libertaram Dom Julius Jia Zhiguo da prisão e que em breve farão o mesmo com Dom James Su Zhimin. Mas o plano seria de que o governo até os reconheceria como bispos, enquanto a Santa Sé lhes pediria que renunciassem, de modo a deixar livre a vaga para um sucessor escolhido com “entendimento mútuo” (?!)”. Em todo caso, o resultado final seria: o que é feito é o que o Partido quer.

O Cardeal Zen também criticou a Congregação para a Evangelização dos Povos por desejar demais um acordo com o governo chinês:

Nós dizemos: “O que o Partido [Comunista] quer não é o que o Papa quer”. Ao dizê-lo, somos tidos como culpados por confronto. Mas, por uma “feliz sorte”, atualmente o que o Partido quer parece coincidir facilmente com o que a Congregação para a Evangelização dos Povos quer. Então, Alleluia! Todos devem ficar felizes!