Sínodo: o mistério do livro desaparecido.

A agência alemã Kath.net informou e logo em seguida vários sites de língua inglesa; também aqui recontamos um episódio do Sínodo, em 2014, que se for mesmo verdade, como parece ser, não pode deixar de suscitar algumas perplexidades.

Por Marco Tosatti – La Stampa | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: A agência alemã Kath.net informou, e logo em seguida vários sites de língua inglesa. Também  aqui recontamos um episódio do Sínodo, em 2014, que se for mesmo verdade, como parece ser, não pode deixar de suscitar algumas perplexidades.

51jX-noL9nL._SY344_BO1,204,203,200_Lembram-se do livro “Permanecendo na verdade de Cristo. Matrimônio e comunhão na Igreja Católica”, publicado pela Cantagalli no ano passado, em que cinco cardeais de grande peso, incluindo o prefeito da Doutrina da Fé e outros especialistas e estudiosos defendiam tudo aquilo que até agora o Magistério ensinou sobre casamento, divórcio, etc? O texto, que na versão em Inglês é intitulado “Remaining in the Truth of Christ: Marriage and Communion in the Catholic Church”, foi impresso em três línguas e enviado (Inglês e Italiano certamente) aos participantes do Sínodo dos Bispos sobre a família de Outubro de 2014. As intervenções, algumas das quais precedentes ao consistório em que o cardeal Walter Kasper tinha enunciado sua tese e que foram objeto do debate, sobre a possibilidade de os divorciados novamente casados  receberem a comunhão, eram certamente contrárias à posição assumida pelo cardeal alemão e apoiado pela Secretaria do Sínodo.

O Sínodo de 2014 diferia de todos os outros anteriores, porque a Secretaria não quis que as intervenções dos bispos e cardeais participantes se tornassem públicas; uma decisão que foi julgada contrária à transparência de que tanto falam. O livro foi despachado individualmente para cada bispo participante do sínodo, mas nunca chegou. E de acordo com o que está sendo escrito, quando os organizadores do Sínodo tomaram conhecimento, simplesmente fizeram com que o pacote com o livro desaparecesse das caixas de correio dos membros do sínodo. Apenas dois ou três prelados o teriam recebido.

O artigo de Kath.net, que atribui ao Cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo, a responsabilidade por este gesto, diz entre outras coisas: “Este incidente teve lugar no Vaticano e não no Kremlin. Como eu relatei a um amigo que naqueles dias estava prestes a voltar para a África, ele sorriu docemente e disse: ‘Por que você se preocupa? Aqui no Sudão as coisas não estão melhores'”.

Padre Joseph Fessio, SJ, diretor da Ignatius Press, que publicou a edição americana do livro, confirma que dezenas de cópias foram enviadas e recebidas pelo correio do Vaticano (administrado pelo Governatorato), mas nunca chegou aos destinatários.

Papa Francisco aprovou relatório preliminar antes de sua publicação, segundo secretário do Sínodo.

Roma, 29 de janeiro de 2015 –  LifeSiteNews.com | Tradução: Fratres in Unum.com: O principal organizador do Sínodo do Vaticano sobre a Família revelou que o Papa Francisco aprovou o controverso relatório preliminar daquele encontro antes de ele ser divulgado. Até agora, o papel do Papa Francisco na publicação do documento era objeto de conjecturas.

Relatio post disceptationem, como era chamada, foi prevista como um sumário provisório do debate da primeira semana do Sínodo. Mas, após ter sido publicada, foi duramente criticada por vários padres sinodais, inclusive os Cardeais Raymond Leo Burke, Gerhard Müller, George Pell, e Wilfrid Napier, alguns deles publicamente e outros internamente. Alguns críticos chegaram mesmo a descrevê-la como o pior documento oficiais da história da Igreja.

Baldisseri sendo criado cardeal por Francisco.

O Cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos, falou sobre o papel do Papa acerca dos documentos sinodais em uma entrevista a Aleteia na última semana, na conferência do Pontifício Conselho para a Família.

“Os documentos foram todos vistos e aprovados pelo Papa, com a aprovação de sua presença”, afirmou Baldisseri. “Mesmo os documentos durante o Sínodo [extraordinário], tais como a Relatio ante disceptatationem [relatório antes dos debates], a Relatio post disceptationem [relatório preliminar, ao longo dos debates], e a Relatio synodi [relatório final] foram vistos por ele antes de serem publicados”.

“Esse ponto é importante não só por conta de sua autoridade, mas também porque alivia [a responsabilidade] do Secretário Geral”, acrescentou o cardeal “ironicamente”, de acordo com Aleteia.

Em seus pontos mais controversos, a Relatio post disceptationem, “relatório pós-debate”, questionou se “aceitar e valorizar a orientação sexual [dos homossexuais]” poderia ser alinhado à doutrina católica; propôs permitir a Comunhão para católicos divorciados recasados em uma “base caso-a-caso”; e afirmou que os pastores deveriam enfatizar os “aspectos positivos” de estilos de vida considerados gravemente pecaminosos pela Igreja, inclusive o recasamento civil após um divórcio e a coabitação pré-nupcial.

As previsões mais controversas foram deixadas de foram do relatório final do Sínodo, a Relatio synodi, mas muitos críticos conclamara o Vaticano a, mesmo assim, anular o documento preliminar.

Dom Baldisseri também confirmou que o Papa ordenou que as várias partes controversas na Relatio synodi proposta, isto é, o relatório final, fossem incluídos na versão publicada, embora não tenham recebido os 2/3 de votos necessários dos padres sinodais.

“Foi decisão do Papa incluir os pontos que não tiveram a maioria de 2/3”, disse.

“O Papa disse: ‘Estes três pontos tiveram uma maioria absoluta. Não foram, portanto, rejeitados com um ‘não’, já que receberam mais de 50% de aprovação. Eles são, assim, assuntos que ainda precisam ser desenvolvidos. Nós, como Igreja, queremos consenso. Estes textos podem ser modificados, é claro. Uma vez que houver uma reflexão maior, eles podem ser modificados”.

Esses trechos foram republicados como parte do Lineamenta, sem nenhuma observação de que foram rejeitados, e enviados ao bispos do mundo para discussão em vistas do Sínodo de outubro de 2015.

Diana Montagna, de Aleteia, informa que esses comentários de Baldisseri foram feitos em resposta a uma pergunta de um representante de uma organização pró-família da Venezuela, que pediu anominato. Esse homem expressou o “choque” e “preocupação” que foram a reação de muitos católicos espalhados pelo mundo, particularmente aqueles envolvidos na luta em defesa da vida e da família.

Baldisseri declarou, no entanto, que o “choque” era inapropriado. “Nós devemos ficar chocados quando há uma posição diferente da ‘doutrina comum'”, disse.

Ele garantiu aos 300 participantes da conferência que “não há motivo para se escandalizar quando um cardeal ou teólogo afirma algo que é diferente do que se considera ‘doutrina comum’. Isso não implica uma oposição. Significa reflexão. Porque o dogma tem a sua própria evolução; seu próximo desenvolvimento, não mudança”.

Montagna declarou a LifeSiteNews.com que ela quis ser “justa” com o Cardeal, então, ela gravou todos os seus comentários para garantir que ela reproduziria as citações corretamente.

Ela escreve: “O Cardeal também nos informou que as 46 questões pulicadas no Lineamenta foram trabalho do Secretariado Geral e dos 15 membros do Conselho do Secretariado. As respostas são esperadas até 15 de abril”.

Os comentários de Baldisseri confirmam as afirmações de outro alto prelado da Igreja, o Cardeal Reinhardt Marx, membro do conselho privado do Papa formado por nove cardeais , e chefe da Conferência Episcopal Alemã. Marx declarou que foi o Papa Francisco quem “abriu as portas” a esses assuntos.

“Até agora, esses dois tópicos eram absolutamente inegociáveis. Embora não tenham tido a maioria de 2/3, a maior parte dos padres sinodais, todavia, votou favorável”, disse a Die Ziet.

“Eles ainda são parte do texto”, afirmou Marx. “Eu especialmente pedi isso ao Papa, e o Papa disse que queria todos os pontos juntos com todos os resultados da votação. Ele queria que todos na Igreja vissem em que ponto estamos”.

O que alguns argumentaram é que o aparente programa do Sínodo de relaxar a oposição da Igreja ao adultério, homossexualidade e outros pecados sexuais instigaram alguns prelados a identificá-lo como um dos maiores pontos de crise da história da Igreja. Dom Athanasius Schneider, que não participou do Sínodo, mas afirmou ter refletido profundamente sobre os procedimentos, disse que trata-se de um sinal de que a Igreja está entrando em um período comparável àqueles dos tumultuosos primeiros séculos.

“Estamos vivendo em uma sociedade anti-cristã, em um novo paganismo”, declarou Schneider em uma entrevista após o fim do Sínodo.

“A tentação de hoje para o clero é querer adaptar ao novo mundo, ao novo paganismo, tentação de ser colaboracionista. Estamos em uma situação similar às do primeiros séculos, quando a maioria da sociedade era pagã e o cristianismo era discriminado”.

E continuou: “Infelizmente, havia nos primeiros séculos membros do clero e mesmo bispos que colocavam grãos de incenso diante da estátua do Imperador ou de um ídolo pagão, ou entregava as Sagradas Escrituradas para serem queimadas”.

Em nosso tempo, disse, não se pede a padres e bispos que queimem incenso para o imperador, mas que “colaborem com o mundo pagão de hoje na destruição do sexto mandamento e na revisão da forma como Deus criou homem e mulher”. Esse clero, observou, seriam “traidores da Fé; eles estão participando, em última análise, no sacrifício pagão”.

Leigos acusam Secretário do Sínodo de semear a confusão.

Por Juanjo Romero – InfoCatólica | Tradução: Alexandre Oliveira – Fratres in Unum.com: A preparação do  Sínodo da Família de 2015 continua. O Conselho Pontifício para a Família reuniu em Roma (22-24 de janeiro) os responsáveis pelos principais movimentos leigos com a finalidade de conhecer sua opinião sobre as 46 questões que serão a base do “Instrumentum Laboris”.

A reunião foi bastante discreta. Recuso-me a pensar que não publicaram[i]  as conclusões porque o resultado não foi o esperado pela Secretaria do Sínodo. Em geral, o clima era de satisfação entre os participantes. Como conta o sacerdote Santiago Martín, fundador dos Franciscanos de Maria: “Leigos Católicos: ‘concessões[ii], não, obrigado’”:

Quase todos os movimentos presentes em Roma estavam a favor da manutenção da doutrina tradicional. 

[…] O resultado não poderia ser mais claro e contundente. Quase todos os movimentos presentes em Roma, cerca de oitenta — entre os quais o mais importantes e numerosos – estão a favor da manutenção da doutrina tradicional. Todo mundo quer que se acelerem as nulidades matrimoniais, sem cair no divórcio católico, e que se tratem os divorciados com o máximo amor para que eles não se sintam excluídos da Igreja, mas sem implicar a desvalorização da Eucaristia e sem se permitir que se tenha acesso a ela sem o estado de graça. A base tem claramente disse: “não, nada de concessões”.

Dom Lorenzo Baldisseri, então Núncio no Brasil, abraça um companheiro de guerra.
Dom Lorenzo Baldisseri, então Núncio no Brasil, abraça um companheiro de guerra.

E é que os leigos têm muito mais daquela parresia pedida pelo Papa Francisco para o Sínodo, porque, exceto por um grupo de valentes cardeais, os demais parecem figurantes.
No entanto, o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo, tirou sua máscara para alguns dos participantes e:

– defendeu o direito do Cardeal Kasper dizer que a Sagrada Comunhão deve ser permitida aos adúlteros (“divorciados, que vivem em casamentos não reconhecida pela Igreja”);

– disse que os participantes não devem “se surpreender” porque há teólogos que contradizem a doutrina da Igreja;

– afirmou que os dogmas podem evoluir e que “não faria nenhum sentido a realização de um sínodo para simplesmente repetir o que sempre já se disse”;

– e sugeriu que “ainda que haja um entendimento particular de 2.000 anos, isso, por si só, não significa que tal entendimento não possa ser questionado.

A reação foi rápida. Patrick Buckley, o enviado internacional da “Society for the Protection of Unborn Children”, comentou:

“O ensinamento da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio é baseado nas palavras de Jesus Cristo. Estas palavras podem ter sido ditas há 2000 anos, mas, para os católicos, permanecem como mandamentos imutáveis de Deus.”

Maria Madise, diretora do “Voice of the Family”, une-se à queixa e narra os acontecimentos com mais detalhes:

“O cardeal Baldisseri corrigiu publicamente um delegado, que protestou contra os ataques à doutrina católica. É notável que tenha se recusado a fazer o mesmo quando o ensinamento da Igreja sobre a contracepção foi negado momentos depois por um delegado diferente. A impressão dada é que o único pecado, hoje, é defender o que a Igreja sempre ensinou. Tudo parecia posto em dúvida nesta conferência, inclusive questões já claramente resolvidas pelo Magistério da Igreja. Tal discussão distrai da tarefa de encontrar soluções reais para problemas reais que as famílias enfrentam. Fale-se apenas de graves males, como o aborto, a eutanásia e os atentados contra os direitos dos pais. Estas são algumas das questões-chave também omitidas do relatório final do sínodo 2014. Famílias que sofrem (de verdade) não são socorridas por sofismas de dissidentes profissionais, quer clérigos ou leigos”.

Agora, perdoem-me, mas eu acho terrível e preocupante que o Sínodo não seja “para as famílias”, mas sim para “não repetir o que sempre se disse”. É tão terrível que eu prefiro não continuar a discutir a situação hoje. Preocupa-me muito ser o Secretário do Sínodo que o está conduzindo nessa direção.[iii]

Podemos esperar qualquer coisa. Ele (Baldisseri) já nos deu amostras na “primeira parte” quando, de acordo com a versão dos jornalistas bajuladores, houve um exercício de “transparência”.

Transparência esta que se manifestou na decisão de não se publicar os discursos e declarações dos padres sinodais. Transparência manifestada em trazer à “Relatio intermedia”, três pontos que não correspondiam às discussões ocorridas Sínodo, como relatado por vários cardeais. Transparência manifestada em distribuir tal ‘relatio’ à imprensa antes que a todos os Padres Sinodais, para que se criasse uma pressão desde fora. Como o Cardeal Napier disse, não importavam mais as correções que pudessem ser feitas dentro das sessões, pois o mal causado já não se podia controlar. Transparência a que acorreu para não se publicar os resultados dos “pequenos grupos”, publicação esta a que (Baldisseri) foi forçado em virtude de uma petição feita ao Papa por vários cardeais.

O jornalista Edward Pentin tentou entrar em contato com o “escritório” do Cardeal Baldisseri, para possibilitá-lo de esclarecer os fatos. Até à presente data, silêncio. Transparência.

Confirmados esses pontos, e sabendo o que ele fez há alguns meses, eu não consigo parar de me preocupar com o documento de discussão do próximo Sínodo.

“Voice of the Family” incentiva a todos a rezar pelos frutos do Sínodo e pelos Padres sinodais. Eu me pergunto quantos de nós o fazemos.

* * *

Atualização (16:30) por Edward Pentin | Tradução: Airton Vieira de Souza – Fratres in Unum.com: O Cardeal Baldisseri respondeu às informações de Voice of the Family:

«As declarações a mim atribuídas por Voice of the Family não correspondem a meu pensamento. Provavelmente, falando em italiano, algumas frases poderiam ter sido limitadas pela tradução simultânea. Por isso convido a ler o texto de meu discurso»

O discurso pode ser encontrado aqui.

«Voice of the Family» respondeu à explicação do cardeal dizendo:

«As declarações recolhidas foram feitas pelo Cardeal Badisseri em resposta a uma pergunta formulada depois do discurso por um delegado preocupado, portanto não se encontram no texto».

Sinceramente, espero que isto não seja outra kasperada, porque as acusações de Voice of the Family são graves.

* * *

[i] “que no hayan transcendido”, no original.

[ii] “Rebajas”, no original.

[iii] “Tan preocupante que sea el Secretario del Sínodo lo esté dirigiendo en esa dirección.”, no original.