Viganò responde ao Cardeal Ouellet. O terceiro testemunho.

Mons. Carlo Viganò responde às objeções de seu antigo companheiro de cúria romana, o Cardeal Marc Ouellet.

Fonte: Marco Tosatti | Tradução: FratresInUnum.com

19 de outubro de 2018

Na memória dos mártires da América do Norte

Testemunhar a corrupção na hierarquia da Igreja Católica tem sido para mim uma decisão dolorosa e ainda o é. Mas eu sou um homem já velho, que sabe que em breve terá que prestar contas ao justo Juiz por suas ações e omissões, que teme Aquele que tem o poder de jogar corpo e alma no inferno.

Dom Carlo Maria Viganò.
Dom Carlo Maria Viganò.

Juiz, que apesar de sua infinita misericórdia, “dará a cada um segundo os méritos, a recompensa ou o castigo eterno” (Ato de fé). Antecipando a terrível pergunta daquele Juiz: “Como você pôde, você que estava ciente da verdade, permanecer em silêncio no meio de tanta falsidade e depravação?” Que resposta eu poderia dar?

Eu falei tendo plena consciência de que o meu testemunho iria provocar alarme e consternação em muitas pessoas eminentes: eclesiásticos, irmãos no Episcopado, colegas com quem trabalhei e rezei. Eu sabia que muitos deles se sentiriam magoados e traídos. Eu sabia que alguns deles iriam me acusar e questionar minhas intenções. E, o mais doloroso de tudo, eu sabia que muitos fiéis inocentes ficariam confusos e perplexos com o espetáculo de um bispo que acusa seus irmãos e superiores de malfeitos, pecados sexuais e grave negligência no seu dever. No entanto, acredito que meu contínuo silêncio teria posto em perigo muitas almas e certamente teria condenado a minha própria. Apesar de ter reportado várias vezes aos meus superiores, e até mesmo ao Papa, sobre as ações aberrantes de McCarrick, eu poderia ter denunciado antes e publicamente as verdades das quais eu estava ciente. Se existe alguma responsabilidade da minha parte por esse atraso, eu me arrependo, pois foi devido à gravidade da decisão que eu estava prestes a tomar e ao longo conflito da minha consciência.

Eu fui acusado de ter criado com o meu testemunho confusão e divisão na Igreja. Esta afirmação só pode ter algum fundo de verdade para aqueles que acreditam que tal confusão e divisão eram irrelevantes antes de Agosto de 2018. Qualquer observador desapaixonado, no entanto, já teria sido capaz de ver bem a presença prolongada e significativa de ambos, algo inevitável quando o Sucessor de Pedro se recusa a exercer sua principal missão, que é confirmar seus irmãos na fé e na sólida doutrina moral. Quando, pois, com mensagens contraditórias ou declarações ambíguas, a crise é agravada, a confusão só piora.

Então, eu falei. Porque é a conspiração do silêncio que causou e continua a causar enormes danos à Igreja, a tantas almas inocentes, a jovens vocações sacerdotais ou aos fiéis em geral. No mérito dessa minha decisão é que tomei consciência diante de Deus, e aceito com toda boa vontade qualquer correção fraterna, conselho, recomendações e convite a progredir na minha vida de fé e de amor a Cristo, à Igreja e ao papa.

Permitam-me lembrá-los novamente dos principais pontos do meu testemunho.

  • Em novembro de 2000, o núncio nos Estados Unidos, o Arcebispo Montalvo informou à Santa Sé sobre o comportamento homossexual do Cardeal McCarrick com seminaristas e sacerdotes.
  • Em dezembro de 2006, o novo núncio, o Arcebispo Pietro Sambi, informou à Santa Sé sobre o comportamento homossexual do cardeal McCarrick juntamente com outro padre.
  • Em dezembro de 2006, escrevi um memorando ao secretário de Estado, Cardeal Bertone, que o entregou pessoalmente ao substituto para os Assuntos Gerais, Arcebispo Leonardo Sandri, pedindo ao papa para tomar medidas disciplinares extraordinárias contra McCarrick visando prevenir crimes e escândalos futuros. Este memorando não recebeu nenhuma resposta.
  • Em abril de 2008, uma carta aberta ao Papa Bento XVI por parte de Richard Sipe foi transmitida ao Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Levada e ao secretário de Estado, o cardeal Bertone, e que continha acusações adicionais sobre o hábito de McCarrick levar para a cama seminaristas e sacerdotes. Foi-me entregue, um mês depois, em maio de 2008, um segundo memorando que eu mesmo apresentei ao então Substituto para os Assuntos Gerais, Arcebispo Fernando Filoni, referindo-se às alegações contra McCarrick e pedindo sanções contra ele. Também esse meu segundo memorando não obteve uma resposta.
  • Em 2009 ou 2010, eu ouvi do cardeal Re, prefeito da Congregação para os Bispos, que o Papa Bento XVI tinha ordenado a McCarrick que cessasse seu ministério público e começasse uma vida de oração e penitência. O núncio Sambi comunicou as ordens do papa a McCarrick, levantando a voz de tal maneira que chegou a ser ouvido nos corredores da nunciatura.
  • Em novembro de 2011, o cardeal Ouellet, o novo prefeito da Congregação para os Bispos, reconfirmou para mim, o novo núncio nos Estados Unidos, as restrições ordenadas pelo papa para McCarrick, e eu mesmo comuniquei cara a cara a McCarrick.
  • No dia 21 de Junho de 2013, no final de uma reunião oficial dos núncios no Vaticano, o Papa Francisco me dirigiu palavras de reprovação e de difícil interpretação sobre o episcopado Americano.
  • No dia 23 de junho de 2013, encontrei-me pessoalmente com o Papa Francisco em uma audiência privada em seu apartamento para maiores esclarecimentos, e o papa me perguntou: “O Cardeal McCarrick, como é ele?”. Palavras que só podem ser interpretadas como uma falsa curiosidade para saber se eu era ou não aliado de McCarrick. Então, disse-lhe que McCarrick havia corrompido sexualmente gerações de sacerdotes e seminaristas, e que o Papa Bento lhe havia ordenado a dedicar-se a uma vida de oração e penitência.
  • Em vez disso, McCarrick continuou a desfrutar de uma consideração especial por parte do papa Francisco, que de fato lhe confiou novas responsabilidades e missões importantes.
  • McCarrick era parte de uma rede de bispos favoráveis à homossexualidade e que, gozando do favor do papa Francisco, promoveu nomeações episcopais para se proteger da justiça e fortalecer a homossexualidade na hierarquia e na Igreja em geral.
  • O próprio Papa Francisco parece ser conivente com a propagação desta corrupção ou ciente daquilo que faz. Ele é gravemente responsável porque não se opõe a essa corrupção e nem procura erradicá-la.

Eu invoquei Deus como testemunha da veracidade dessas minhas afirmações, e nenhuma delas foi desmentida. O Cardeal Ouellet escreveu-me, censurando-me pela minha ousadia em ter quebrado o silêncio e moveu acusações graves contra os meus irmãos no episcopado e superiores, mas, na verdade, sua repreensão me confirma na minha decisão e, de fato, confirma minhas declarações, uma por uma e em sua totalidade.

  • O cardeal Ouellet admite ter me falado sobre a situação de McCarrick antes de eu partir para Washington para começar minha missão como núncio.
  • O Cardeal Ouellet admite ter me comunicado por escrito sobre as condições e restrições impostas a McCarrick pelo Papa Bento XVI.
  • O cardeal Ouellet admite que essas restrições proibiam McCarrick de viajar e aparecer em público.
  • O Card. Ouellet admite que a Congregação para os Bispos, por escrito, em primeiro lugar através do Núncio Sambi, e depois novamente por mim, ordenou McCarrick a levar uma vida de oração e penitência.

Então o que o cardeal Ouellet está contestando?

  • O Card. Ouellet contesta a possibilidade de que o Papa Francisco teria sido capaz de se lembrar de informações importantes sobre McCarrick, num dia em que ele havia se encontrado com dezenas de núncios e dedicado a cada um apenas alguns momentos de conversa. Mas não foi isso que eu testemunhei. Eu testemunhei que, num segundo encontro privado, eu informei pessoalmente ao Papa, respondendo a uma pergunta dele sobre Theodore McCarrick, o então cardeal arcebispo emérito de Washington, figura proeminente na Igreja dos Estados Unidos, dizendo ao papa que McCarrick havia corrompido sexualmente seus próprios seminaristas e sacerdotes. Nenhum papa pode se esquecer disso.
  • O Card. Ouellet nega a existência em seus arquivos de cartas assinadas pelo Papa Bento XVI ou do Papa Francisco sobre as sanções contra McCarrick. Mas não foi isso que eu testemunhei. Eu testemunhei que havia nos seus arquivos documentos-chave — independente da proveniência — que incriminam McCarrick e sobre as medidas tomadas contra ele e outras evidências do encobrimento de sua situação. E eu confirmo tudo isso novamente.
  • O Card. Ouellet contesta a existência nos arquivos do seu predecessor, o Cardeal Re, dos “memorandos de audiências” que impunham a McCarrick as restrições citadas. Mas não foi isso que eu testemunhei. Eu testemunhei que existem outros documentos, por exemplo, uma nota do Cardeal Re, não “ex-audientia SS.mi”, ou seja assinada pelo Secretário de Estado ou pelo Substituto.
  • O Card. Ouellet contesta que é falso apresentar as medidas tomadas contra McCarrick como “sanções” decretadas pelo Papa Bento XVI e anuladas pelo Papa Francisco. Verdade. Elas não eram tecnicamente “sanções”, mas eram procedimentos, “condições e restrições.” Desqualificar se eram sanções ou procedimentos não passa do mais puro legalismo. Do ponto de vista pastoral, é exatamente a mesma coisa.

Em suma, o cardeal Ouellet admite as afirmações importantes que eu fiz e faço, e contesta as afirmações que eu não faço, e nunca fiz.

Há um ponto que devo absolutamente desmentir naquilo que o cardeal Ouellet escreve. O cardeal afirma que a Santa Sé tinha conhecimento apenas de simples “boatos”, que não eram suficientes para se tomar medidas disciplinares contra McCarrick. Pois eu afirmo que a Santa Sé tinha conhecimento de uma multidão de fatos concretos e em posse de documentos comprobatórios, e que apesar de tudo, as pessoas responsáveis preferiram não agir ou foram impedidas de fazê-lo. As indenizações das vítimas de abuso sexual de McCarrick na Arquidiocese de Newark e na Diocese de Metuchen, as cartas do Padre Ramsey, dos núncios Montalvo no ano 2000 e Sambi em 2006, as cartas do Dr. Sipe em 2008, os meus dois memorandos à Secretaria de Estado, descrevendo em detalhes as acusações específicas contra McCarrick, são apenas boatos de sacristia? São correspondência oficial e não fofoca da sacristia. Os delitos denunciados eram gravíssimos, havia até mesmo a denúncia das absolvições dos cúmplices em atos torpes, com sucessiva celebração sacrílega da Missa. Estes documentos especificam a identidade dos autores, de seus protetores e a seqüência cronológica dos acontecimentos. Eles estão guardados nos arquivos apropriados; e não é necessário nenhuma investigação extraordinária para recuperá-los.

Nas acusações feitas contra mim publicamente, notei duas omissões, dois silêncios dramáticos. O primeiro silêncio é sobre as vítimas. A segunda é a causa básica de tantas vítimas, a saber, o papel da homossexualidade na corrupção do sacerdócio e da hierarquia. No tocante ao primeiro silêncio, é chocante que, em meio a tantos escândalos e indignação, haja tão pouca consideração por aqueles que foram vítimas de predadores sexuais por parte de quem foi ordenado como ministro do Evangelho. Não se trata de acertar contas ou questões de carreiras eclesiásticas. Não é uma questão de política. Não é uma questão de como os historiadores da igreja possam avaliar este ou aquele papado. Trata-se de almas! Muitas almas foram colocadas em perigo e ainda estão em perigo por sua salvação eterna.

Em relação ao segundo silêncio, essa grave crise não pode ser adequadamente afrontada e resolvida, enquanto não chamarmos as coisas por seu devido nome. Esta é uma crise devido à praga da homossexualidade naqueles que a praticam, em seus movimentos e em sua resistência a serem corrigidos. Não é exagero dizer que a homossexualidade se tornou uma praga no clero e que só pode ser erradicada com armas espirituais. É uma enorme hipocrisia fingir reprovar o abuso, dizer chorar pelas vítimas e recusar a denunciar a principal causa de tantos abusos sexuais: a homossexualidade. É uma hipocrisia recusar admitir que esse flagelo se deve a uma grave crise na vida espiritual do clero e não recorrer aos meios para remediá-lo.

Existe sem dúvidas no clero, violações sexuais também com mulheres, e estas também causam sérios danos às almas daqueles que as praticam, à Igreja e às almas daqueles que são corrompidos. Mas essas infidelidades ao celibato sacerdotal são geralmente limitadas aos indivíduos imediatamente envolvidos; eles não tendem, por si mesmos, a promover, ou disseminar comportamentos semelhantes, para cobrir tais malfeitos. Ao passo que esmagadoras são as provas de como a homossexualidade é endêmica e se dissemina por contágio, com raízes profundas difíceis de se erradicar.

É certo que os predadores homossexuais desfrutam de seus privilégios clericais a seu favor. Mas reivindicar a crise em si como clericalismo é puro sofisma. É fingir que um meio, um instrumento, é na realidade sua causa principal.

A denúncia da corrupção homossexual e da vileza moral que as permite crescer não encontra consenso e nem solidariedade em nossos dias, infelizmente, nem nas mais altas esferas da Igreja. Não é de se surpreender que ao chamar a atenção para essas feridas, eu seja acusado de deslealdade ao Santo Padre e de fomentar uma rebelião aberta e escandalosa, mas a rebelião implicaria em incitar os outros a derrubar o papado. E eu não estou exortando a nada desse tipo. Eu rezo todos os dias pelo Papa Francisco mais do que já fiz pelos outros papas. Peço, na verdade, imploro que o Santo Padre enfrente os compromissos que assumiu. Ao aceitar ser o sucessor de Pedro, ele assumiu a missão de confirmar seus irmãos e a responsabilidade de guiar todas as almas no seguimento de Cristo, no combate espiritual, pelo caminho da cruz. Que ele admita seus erros, arrependa-se, e demonstre querer seguir o mandado dado a Pedro e que, uma vez convertido, confirme seus irmãos (Lucas 22:32).

Concluindo, gostaria de repetir o meu apelo aos meus irmãos bispos e sacerdotes que sabem que as minhas afirmações são verdadeiras e que estão em condição de poder testemunhar, ou que têm acesso aos documentos que possam resolver esta situação para além de qualquer dúvida. Vocês também estão diante de uma escolha. Vocês podem escolher se retirar da batalha, continuar na conspiração do silêncio e desviar o olhar do avanço da corrupção. Vocês podem inventar desculpas, compromissos e justificativas que irão protelando até o dia do ajuste de contas. Vocês podem se consolar com a duplicidade e a ilusão de que será mais fácil dizer a verdade amanhã e depois novamente no dia seguinte.

Ou vocês podem escolher falar. Confie Naquele que nos disse: “a verdade vos libertará”. Não digo que será fácil decidir entre o silêncio e o falar. Exorto-vos a considerar em seu leito de morte qual a escolha diante do justo Juiz que você não se arrependerá de ter tomado.

+ Carlo Maria Viganò, 19 de outubro de 2018

Arcebispo Titular de Ulpiana –  Memória dos Mártires da América do Norte

Núncio Apostólico

Vaticano examinará ministério gay de Bispo.

Lima, Peru, 11 de agosto de 2011 / 05:54 pm (CNA – Tradução: Fratres in Unum.com) – Dom Raul Vera Lopez, de Saltillo, México, informou que se encontrará com o Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet, no fim de agosto ou começo de setembro.

Os dois discutirão o apoio de Dom Vera à Comunidade San Elredo, uma organização que aceita a homossexualidade.

Em declarações ao jornal mexicano Zocalo, no fim de julho, Dom Vera disse: “Houve um chamado do Vaticano e estou pronto para esclarecer o assunto… Tenho que responder a uma série de perguntas que a Cidade do Vaticano me enviou sobre meu trabalho com homossexuais”.

Dom Vera disse ao jornal El Diario, de Coahuila, que seu encontro com o Cardeal Ouellet tem relação com as notícias publicadas pela ACI Prensa, o site-irmão de língüa espanhola de CNA.

“Esta agência publicou um monte de tolices, e pediram-me para falar sobre isso e tenho o direito de fazê-lo, sou um bispo da Igreja, trabalho pela Igreja e estou em comunhão com a Igreja”.

Ele também declarou não ter sido a primeira nem a última vez que foi chamado pelo Vaticano.

Dom Vera disse que o inquérito do Vaticano não é “uma reprimenda, mas um esclarecimento, especialmente com respeito ao que esta agência publicou”.

Em duas oportunidades o bispo se recusou a conceder informações a ACI Prensa, mas, no entanto, ele acusou a agência de distorcer suas palavras. CNA e ACI Prensa crêem ter meramente relatado os fatos.

O Diario de Coahuila também informou que a Comunidade San Elredo não faz mais parte da Diocese de Saltillo e será agora uma organização separada. No entanto, continuará a promover suas atividades habituais.

O coordenador temporário do grupo é Fernando Hernandez, que afirmou que San Elredo continuaria seguindo o plano pastoral diocesano, mas que iniciaria agora “uma nova fase fora da diocese”.

Os novos bispos dos EUA e a remodelação do catolicismo mundial.

IHU – Depois de Scola em Milão, Chaput (foto) assume a Filadélfia. Passo a passo, as nomeações de Bento XVI remodelam a liderança dos principais países do catolicismo mundial.

A reportagem é de Sandro Magister, publicada em seu sítio, Chiesa, 19-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A nomeação, tornada pública hoje, de Charles J. Chaput como novo arcebispo da Filadélfia é mais um passo à frente no caminho percorrido por Bento XVI para remodelar à sua medida a liderança da Igreja Católica nos Estados Unidos, assim como em outros países.

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“Sua Santidade, nomeie para nós bispos melhores”.

Fonte: MESSAINLATINO.IT
Tradução:
Giulia d’Amore, a quem agracemos a gentileza de nos ceder sua tradução

S. Em. Rev.ma. Cardeal Karl Lehmann, arcebispo de Mainz
S. Em. Rev.ma. Cardeal Karl Lehmann, arcebispo de Mainz

Vinte e um padres franceses escreveram uma carta ao Cardeal Ouellet para, respeitosamente, expressar seu grito de dor diante das nomeações episcopais que se colocam na mais incompreensível continuidade com a amostra episcopal que nas últimas décadas arrastou o catolicismo francês, solidamente radicado e vivo até a década de 50, no estado atual da falência e decocção. O último bispo nomeado, Fonlupt, não apenas é um adepto de casamentos entre divorciados e absolvições coletivas e de pastoral tipo kolkhoz, mas também é o autor de escritos anti-eucarísticos, como temos documentado.

O original da carta está devidamente assinada, mas as assinaturas são omitidas aqui. Por óbvia prudência: a instituição “liberal” nas conferências episcopais é ferozmente iliberal e intolerante com quem não pensa da mesma maneira. E foi decidido não permitir que os seminaristas assinem nada, atentos ao fato de que o apelo dos seminaristas ambrosianos ao Papa, para a extensão da aplicação do Motu Proprio à diocese de Milão levou à convocação de todos “in sala mensa”, ao anúncio de atrozes represálias indiscriminadas (à moda Kappler) se os responsáveis não se autodenunciassem e a uma severa reprimenda no site oficial da arquidiocese.

Na verdade, o estado extremamente decepcionante da classe episcopal não é, infelizmente, um privilégio apenas francês, e boa parte do mundo sofre (incluindo a minha diocese), mesmo que, a partir de João Paulo II, mas com o empenho intermitente, se tenha tentado consertar a situação; com resultados discretos ou bom em alguns países – por exemplo, nos Estados Unidos e Austrália, também na Holanda, onde, no entanto, há religiosos – que do bispo não dependem – que fazem seus estragos: basta ver os salesianos e os dominicanos – e, pouco ou nada, em outros. É notícia destes últimos dias que o Cardeal de Mainz, Lehmann (na foto), por muitos anos presidente da Conferência Episcopal Alemã, declarou ser uma “tolice” conferir o Crisma no rito antigo. A média dos bispos da Alemanha, Áustria, Suíça, França é apta a manicômio para lunáticos; na Itália e Espanha, onde não caímos tão baixo, a média ainda é de qualquer maneira medíocre e de desoladora estagnação.

A primeira preocupação deste site [Messa in Latino] sempre foi pela escolha de bons bispos e por isso procuramos acompanhar as nomeações, antes mesmo de falar de liturgia. Porque é dos recursos humanos que depende a sorte de uma empresa; e, certamente, se a Igreja fosse um empresa, já teria falido há muito tempo. O fato de que a barca avance apesar de certos remadores é a prova histórica da assistência divina. Mas bem que a Congregação para os Bispos podia facilitar a tarefa à Providência.

Enrico

A Sua Eminência o Cardeal Ouellet,

Prefeito da Congregação para os Bispos

Eminência,

Gostaríamos de informar-lhe que a maioria dos sacerdotes e dos católicos na França não compreendem as atuais nomeações episcopais.

Em nosso país, há três ou quatro décadas, o Catolicismo encolheu e continua encolhendo drasticamente (queda continuada da prática dominical, do número de sacerdotes, de religiosos e de catequizados, de vocações, etc.). Não é impossível que, em breve, a Santa Sé seja forçada a transformar algumas dioceses francesas em administrações apostólicas, dado o número insignificante de sacerdotes em atividade.

No entanto, este Catolicismo adoecido não está morto. Transformado pela terrível provação da secularização, tem ainda – mas por quanto tempo? – a capacidade de revitalizar-se em sua condição de minoria: escotismo; escolas verdadeiramente católicas; movimentos; peregrinações; muitas novas comunidades; comunidades tradicionais jovens e vivas; novas gerações de sacerdotes verdadeiramente missionários; seminaristas diocesanos e muitas vocações potenciais, do tipo “geração Bento XVI”; possibilidades litúrgicas e vocacionais oferecidas pelo Motu Proprio Summorum Pontificum; jovens famílias cristãs; grupos muito ativos de defesa da vida. Este Catolicismo quer fechar um capítulo mortífero: abusos litúrgicos; pregação desastrosa sobre a moral matrimonial; um latente complexo anti-romano; práticas sacramentais desviantes (bênçãos de novos “casamentos” de recasados divorciados, absolvições coletivas); catequese de duvidosa catolicidade sobre a Eucaristia, etc.

Neste contexto, as nomeações episcopais são incompreensíveis. Muitos bispos da França estão em crescente desconexão com relação a esse novo Catolicismo. E é uma enorme decepção ver que alguns dos nomeados hoje, sob o Papa Bento XVI, é como se se reproduzissem por cooptação e têm ainda um espírito da “geração de 68”, mais ou menos reorientada, enquanto o restante é escolhido pela necessidade de encontrar um impossível consenso, entre homens de uma extrema timidez reformadora.

Os sacerdotes, os religiosos os clérigos que representamos desejam que isto seja feito para uma sociedade que está cada vez mais indiferente ao anúncio claro do Evangelho. Eles também são motivados por um genuíno desejo de reconciliação e paz entre todos os católicos da França, que sabem que são, hoje em dia, uma pequena minoria. Mas, para implementar uma nova pastoral, é necessário escolher novos pastores. Acontece que os sacerdotes de 50-60 anos, que têm um perfil pastoral, psicológico e intelectual sólido, que atende às necessidades vitais do novo Catolicismo francês, já são numerosos.

Eminência, a salvação do Catolicismo francês depende da nomeação dos bispos que respondam às suas reais exigências e verdadeiras expectativas.

Manifestamos o nosso profundo e religioso respeito por Vossa Eminência, e lhe rogamos de transmitir ao nosso Santo Padre, o Papa, a expressão do afeto devoto e respeitoso dos seus filhos fiéis, sacerdotes de Jesus Cristo.

Quem é o novo criador de bispos?

O cardeal Marc Ouellet durante a cerimônia de recebimento do título de Santa Maria em Traspontina, domingo, 26 de outubro de 2003 - 30 Giorni.
O cardeal Marc Ouellet durante a cerimônia de recebimento do título de Santa Maria em Traspontina, domingo, 26 de outubro de 2003 - 30 Giorni.

O Cardeal Dom Marc Ouellet, nomeado novo prefeito da Congregação para os Bispos, é uma figura praticamente desconhecida no Brasil. Em novembro de 2003, Sua Eminência concedeu uma entrevista à revista 30 Giorni, que traça um perfil do então recém-criado Cardeal: “durante muitos anos [trabalhou] na América Latina espanhola, e defendeu, também em alemão, a sua tese de graduação em Teologia [sobre a obra de Hans Urs von Balthasar]. Fala perfeitamente italiano, pois lecionou também em Roma, onde teve uma breve, porém intensa, experiência na Cúria como número dois no dicastério preposto ao diálogo ecumênico”.  Por muito tempo foi membro do quadro editorial da revista Communio, representante do progressismo moderado apegado à letra do Concílio Vaticano II, em oposição à revista Concilium, que pretende estar aliada a seu “espírito”.

Caos.

Ordenado em 1968 no que considera “clima meio caótico”, o Cardeal lembra que no dia de sua ordenação um dos seus “familiares mais próximos disse-lhe: deverás mudar de idéia, pois parece que a Igreja a que darás a tua vida está desmoronando, parece não ter futuro. E dizia isso seriamente, não por brincadeira”.

Moderação.

Sobre liturgia, Sua Eminência diz que “depois do Concílio Vaticano II houve um movimento progressista litúrgico muito exagerado, que fez com que desaparecessem os tesouros da tradição como, por exemplo, o canto gregoriano. Tesouros que deveriam ser recuperados. Mas, como afirma o cardeal Joseph Ratzinger, deve-se recuperar principalmente o sentido sagrado da liturgia, ou seja, a percepção de que a liturgia não é algo que fabricamos, que podemos recompor segundo os nossos gostos passageiros, mas sim algo que se recebe, que nos é legado. Portanto, as objetividades das reformas litúrgicas têm a sua importância. Creio que as chamadas do cardeal Ratzinger sejam muito importantes. Penso que o Concílio Vaticano II tenha feito uma boa constituição sobre a sagrada liturgia, a Sacrosanctum Concilium. Mas a atuação da reforma litúrgica não foi – sempre – à altura. Seria preciso voltar à essência da Sacrosanctum Concilium”.

Tempo.

Para o Cardeal, depois do “Concílio Vaticano II a Igreja Católica entrou de modo decisivo e irreversível no movimento ecumênico. E isso é um grande fato pentecostal do nosso tempo, a ser avaliado de modo muito positivo. Mas a separação vivida por mil anos com a ortodoxia e por quinhentos com as comunidades nascidas da Reforma não pode ser restaurada imediatamente. Precisa-se de tempo”.

Para o sucesso do diálogo, Ouellet espera uma mudança de rumos: “a orientação ecumênica é centralizada demais no episcopado, nas relações entre colegialidade e papado e insuficiente sobre os fundamentos da fé e, portanto, sobre o papel de Maria”.

Os rumos traçados já pelo Concílio Vaticano II, que deixou de aprovar o esquema exclusivamente dedicado à Santíssima Virgem, “fonte de vivas preocupações” para os peritos conciliares (cf. O Reno se lança no Tibre, ed. Permanência, pag. 96), para inseri-lo como um capítulo no esquema sobre a Igreja. Segundo os comentários do Padre Karl Rahner, a aprovação de um esquema separado “causaria um mal incalculável, em relação tanto aos orientais como aos protestantes”, pois “todos os resultados conquistados no domínio do ecumenismo, graças ao Concílio e em relação ao Concílio, seriam reduzidos a nada com a aprovação do esquema na forma em que estava”. (ibid).

Importantes nomeações: Oullet para os Bispos; Fisichella para a Nova Evangelização.

Como anunciamos anteriormente, o Santo Padre tornou públicas hoje as seguintes nomeações:

  • Do Cardeal Marc Ouellet, até agora arcebispo de Quebec, como prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, em substituição ao Cardeal Giovanni Battista Re, que apresentou sua renúncia por motivo de idade. Todo o infeliz imbroglio que envolveu esta nomeação pode ser relembrado aqui, aqui e aqui.
  • Do Arcebispo Salvatore Fisichella como presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, órgão criado por Bento XVI visando recristianizar os países do ocidente e retirar Dom Rino Fisichella da presidência da Academia Pontíficia para a Vida, após sua queda em desgraça com o caso Recife. Um dossiê completo pode ser encontrado aqui. Espera-se que, no manual da “nova evangelização” proposto pelo novo conselho, não conste nenhuma apologia ao “aborto por misericórdia”…
  • De Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, substituindo Fisichela na Academia para a Vida e de Don Enrico dal Covolo, S.D.B, como reitor da Universidade Lateranense.
  • De Monsenhor Celestino Migliore como Núncio Apostólico na Polônia. Migliore era, até então, Observador Permanente da Santa Sé na ONU.

Congregação para os Bispos: A sorte está lançada.

O Cardeal Marc Ouellet, arcebispo de Quebec, deve assumir a chefia da Congregação para os Bispos.
O Cardeal Marc Ouellet deve assumir a chefia da Congregação para os Bispos.

(Kreuz.net, Cidade do Vaticano) Ao que parece, o Papa Bento XVI decidiu: o neo-conservador Cardeal Arcebispo Marc Ouellet (66), de Quebec, Canadá, será o Prefeito da Congregação Pontifícia para os Bispos, informou hoje o conhecido vaticanista Andrea Tornielli no jornal italiano ‘Il Giornale’.

A Congregação para os Bispos prepara a nomeação de bispos e seria o dicastério mais importante para uma renovação da Igreja.

Com o Cardeal Ouellet, antigo liberal e neo-conservador, o declínio mortal continuará a pleno vapor.

Tornielli soube que o nome do Príncipe da Igreja será anunciado nas próximas semanas.

Se não houver decisões inesperadas de última hora – o que também é possível – nada impedirá o Cardeal Ouellet.

Até a sua nomeação como bispo, o Cardeal Ouellet lecionava Teologia Dogmática no Instituto Romano para as Famílias.

Ele fazia parte do círculo ideológico que se reunia em torno do Papa João Paulo II e representa a teologia do polêmico teólogo suíço, Cardeal Hans Urs von Balthasar († 1988).

Impedido por bispos liberais sob a falsa alegação de abuso

Enquanto isso, o jornalista londrino Damian Thompson afirmou em seu blog o motivo da detonação da nomeação anteriormente planejada do catolicíssimo Arcebispo de Sidney, Cardeal George Pell.

O cardeal Pell disse ter recusado a nomeação. Como razões oficiais ele mencionou a sua idade – em 8 de junho ele completou 69 anos – e sua suposta saúde frágil.

O prelado usa um marca passo.

Ontem Thompson deu nome ao verdadeiro motivo da detonação da nomeação do Cardeal Pell: “Ele é vítima de uma campanha de difamação por parte de vários bispos, especialmente, italianos.”

Os bispos desenterraram antigos – e há muito refutados – casos de abuso, difamação, para inviabilizar o cardeal.

As acusações foram levantadas durante o tempo que atuou como Arcebispo de Melbourne, nos anos 90, por um criminoso condenado anteriormente mais de trinta vezes.

O então arcebispo negou as acusações veementemente, suspendeu suas funções imediatamente e instruiu uma comissão independente para examinar as alegações.

Estes acabaram por ser rejeitadas como “totalmente infundadas”.