O amigo e primeiro conselheiro de Francisco, Oscar Maradiaga, pregava o pauperismo, mas obtinha meio milhão [de euros] por ano de uma Universidade de Honduras. Bergoglio quis que se realizasse uma investigação inclusive sobre os investimentos milionários e os comportamentos inadequados do bispo Pineda, fidelíssimo do purpurado. E hoje mesmo o papa falou de “traidores e aproveitadores na Igreja”. A investigação completa será no “Expresso”, no próximo domingo.
Por Emiliano Firripaldi, L’Espresso, 21 de dezembro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – Quando terminou de ler a investigação do visitador apostólico que ele mesmo havia mandado a Honduras em maio, Papa Francisco colocou as mãos no solidéu (ndt. pequeno chapéu em forma de circunferência que os eclesiásticos usam).

Tinha acabado de descobrir que o seu amigo e primeiro conselheiro – o poderoso cardeal Oscar Maradiaga, inflamado sustentador de uma Igreja pobre e pauperista, e, em 2013 promovido pelo próprio Bergoglio como coordenador do Conselho dos cardeais – recebeu por anos cerca de 35 mil euros por mês (ao que se acrescentava um 13o. salário de 54 mil euros em dezembro) da Universidade Católica de Tegucigalpa.
Bergoglio não podia nem imaginar que várias testemunhas, tanto eclesiásticos como leigos, acusasariam Maradiaga de fazer alguns investimentos milionários, em sociedades londrinas, que depois desapareceriam no nada, nem que o Tribunal de Contas do pequeno país da América Central estivesse investigando acerca da utilização de enormes somas de dinheiro dadas pelo governo hondurenho à “Fundação para a educação e a comunicação social” e à “Fundação Suyapa”, ambas sob a responsabilidade da Igreja local e, portanto, do próprio Maradiaga.
“O papa está triste e dolorido, mas também muito determinado a descobrir a verdade”, explicam agora na Casa Santa Marta. Não apenas sobre a utilização final dos pagamentos vertiginosos obtidos pelo cardeal (só em 2015, se lê num relatório interno da Universidade, revisado pelo “Espresso”, o purpurado recebeu quase meio milhão de euros, cifra que segundo algumas fontes teria embolsado por uma década, como “Grão-chanceler” do ateneu); mas também por outros detalhes muito desagradáveis contidos na instrutória dirigida pelo bispo argentino Jorge Pedro Casaretto. Um homem de confiança de Francisco que colocou preto no branco graves acusações trazidas por muitas testemunhas (foram ouvidas umas cinquenta, entre pessoal administrativo da diocese e da universidade, sacerdotes, seminaristas, além do motorista e do secretário do cardeal), também o bispo auxiliar de Tegucipalga Juan José Pineda, fidelíssimo de Maradiaga e de fato aquele que fazia suas funções na América Central.
Francisco, tendo estudado o dossiê que lhe chegou até as mãos há seis meses, chamou para si a decisão final.
Maradiaga, salesiano somo o ex-secretário de Estado, Tarcísio Bertone, nasceu em Honduras há 75 anos. O seu aniversário será em 29 de dezembro e depois de alguns dias deverá entregar as suas demissões sobre a escrivaninha de Francisco, que decidirá ou não se lhe confirmará em seus encargos.
Professor primário e professor de matemática no ensino médio, o purpurado é um homem cultíssimo, fala corretamente cinco línguas, é especialista em teologia moral e filosofia, e é um grande apaixonado por música. Tornou-se célebre na América Latina como inimigo jurado da corrupção e paladino dos mais indigentes, em 2013, Francisco, que aprecia os seus dotes intelectuais e de governo, quis que ele fosse chefe do grupo dos conselheiros que está executando a reforma da cúria romana.
As acusações são muitas. “Há despesas para amigos íntimos de Pineda, como um mexicano que se faz chamar de ‘frei Erick’, mas que nunca professou votos”, explica um missionário. “O personagem chama-se Erick Cravioto Fajardo e viveu por anos em um apartamento adjacente ao do cardeal, em Villa Iris. Recentemente, Pineda, que viveu com ele debaixo do mesmo teto, comprou para ele um apartamento no centro e um carro. Tememos que o dinheiro venha do caixa da Universidade ou da Diocese. Denunciamos este relacionamento próximo e mal falado também no Vaticano. O papa sabe de tudo”.
As testemunhas ouvidas pelo visitador Casaretto falaram também de investimentos milionários catastróficos: Maradiaga teria lançado somas imensas da diocese em algumas sociedades financeiras de Londres, como a Leman Wealth Management (cujo titular, ao lerem-se os registros da Company House da Inglaterra e Gales, é alguém chamado Youssry Henien), e agora parte do dinheiro dado como crédito (e depositados em contas de institutos alemães) teria desaparecido.
Não apenas. No relatório de Casaretto levanta-se a hipótese de importantes buracos no império midiático posto em pé pelo arcebispado e controlado pela Fundação Suyapa (que gerencia jornais e televisões da diocese), enquanto o bispo Pineda foi recentemente indicado pelos jornalistas locais como o dirigente de operações financeiras seguras e como o destinatário de fundos públicos (parece que um milhão de euros) para ostensivos projetos destinados “à formação dos valores dos fieis e à compreensão das leis e da vida social”. Despesas que, segundo os acusadores, nunca foram sustentadas por justificativas válidas.
No Vaticano estão preocupados também pela abertura, por parte do Tribunal de Contas de Honduras, de uma investigação contábil da Diocese entre os anos de 2012-2014: os juízes do Tribunal superior de Contas querem entender se as dezenas de milhões de lempiras doadas a cada ano pelo governo em favor da Fundação para a Educação e a Comunicação social, cujo representante é ainda Maradiaga, foram usadas para os objetivos previstos pela lei. Até agora, a Igreja não entregou – lê-se em uma carta dos magistrados obtida pelo “Espresso” – os ativos e os passivos, e as várias justificativas de despesa.
Logo entenderemos se Bergoglio considerará as pesadas acusações como críveis ou não.