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Basílica de São Pedro, 8 de fevereiro de 2014: Fiéis do Sri Lanka presentes na Itália assistiram a Santa Missa celebrada pelo Cardeal Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don, Arcebispo de Colombo, em comemoração aos 75 anos de consagração do país a Nossa Senhora. Agradecendo ao Cardeal Ranjith pelo convite de visitar o Sri Lanka, O Papa Francisco disse: “Eu acolho este convite e acredito que o Senhor nos dará a graça!”.

Cardeal Ranjith e a Sacra Liturgia.

Ocorre em Roma, de terça a sexta-feira desta semana [25 a 28], na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, a conferência Sacra Liturgia, que reúne renomados liturgistas do mundo todo. Da interessante conferência do Cardeal Malcom Ranjith, Arcebispo de Colombo, Sri Lanka, destacamos apenas alguns pontos para instigar os leitores à sua leitura na íntegra — aos que puderem traduzir outros trechos, agradecemos antecipadamente.

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“Se tais improvisações tornassem a Liturgia verdadeiramente mais eficaz e interessante, então, por que com tais experimentações e criatividade o número dos participantes aos domingos caiu tanto e tão drasticamente em nossos dias?”

LATIM E LITURGIA

Cardeal Ranjith.
Cardeal Ranjith.

A respeito do uso do latim na liturgia, vale a pena sublinhar o que foi decretado pelo Concílio: “Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular” (Sacrosanctum Concilium, n. 36), e consentia no uso do vernáculo para as leituras, monições e algumas orações e cantos. Naturalmente, confiava à competente autoridade eclesiástica territoriais decidir se e em que medida o vernáculo seria usado na Liturgia, todavia, sempre com a aprovação da Santa Sé. Mesmo relativamente ao canto gregoriano, o Concílio é prudente enquanto, mesmo admitindo outros gêneros de música sacra, sobretudo a polifonia, afirma que a Igreja “reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano”, pelo que “terá este, na ação litúrgica, o primeiro lugar” (Sacrosanctum Concilium, n. 116). Tal concepção limitada do Concílio para o uso do vernáculo na Liturgia foi aventureiramente estendida pelos reformadores; tendo o latim quase totalmente desaparecido da cena, permaneceu como o órfão mais amado na Igreja. Digo isto não porque eu seja um fanático do latim; provenho de uma terra de missão, na qual o latim não é compreendido por quase toda a minha comunidade. Mas é um erro crer que uma língua deva sempre ser compreendida por todos. A língua, como sabemos, é um meio de comunicação de uma experiência que, quase sempre, é mais ampla do que a própria palavra. Língua e palavra são, portanto, secundárias e, em ordem de importância, estão, depois, a experiência e a pessoa. A língua leva consigo sempre uma originalidade do acontecimento. Por exemplo, o termo “OM” é intraduzível para a liturgia hinduísta; além disso, as religiões orientais usam uma língua que é estritamente limitada às suas formas de oração e de culto: o hinduísmo usa o sânscrito, o budismo o pali, e o islã o árabe corânico. Nenhuma destas línguas é falada hoje, e são usadas somente em sua forma cultual; cada uma destas línguas é respeitada e reservada, desde o início, pela expressão de “algo que está para além do som e das letras”. O judaísmo, por exemplo, usa o tetragrama YHWH para indicar o impronunciável nome de Deus. Por si mesmas, as quatro letras do sagrado tetragrama não têm nenhuma nuance linguística, mas constituem o nome santíssimo de Deus na tradição escrita da Massorá.

O uso litúrgico do latim na Igreja, mesmo que tenha se iniciado em torno no século IV, dá origem a uma série de expressões que são únicas e constituem a própria fé da Igreja. O vocabulário do Credo é claramente cheio de expressões em latim que são intraduzíveis. O papel da lex orandi em determinar a lex credendi da Igreja é validíssimo no caso do uso do latim na Liturgia, porque a doutrina é frequentemente mais compreendida na experiência de oração. Por tal razão, um sadio equilíbrio entre o uso do latim e do vernáculo deveria ser, segundo meu ponto de vista, mantido. A reintrodução do usus antiquor feita pelo Papa Bento XVI não era, então, um passo para trás, como alguns definiram, mas uma iniciativa que restituía à Sacra Liturgia um sentido de estupor místico, uma tentativa de impedir uma clara banalização daquilo que é fundamental para a vida da Igreja. Deve-se honrar e impulsionar tal iniciativa do Pontífice, que também pode conduzir à evolução de um novo movimento litúrgico, que poderia desembocar na “reforma da reforma”, desejo ardente do papa Ratzinger. De fato, alguns elementos do usus antiquor refletem melhor o sentido de maravilhamento e devoção com o qual nós somos chamados a re-presentar os acontecimentos do Calvário em nossas celebrações eucarísticas. E porque aceitamos os diversos desenvolvimentos positivos do novus ordo, como, por exemplo, o mais amplo uso do texto bíblico e um maior espaço à participação da comunidade nos vários momentos da Missa, deveríamos também assegurar que aquilo que acontece sobre os nossos altares não perca a própria capacidade de causar uma verdadeira transformação espiritual da comunidade. E é por isso que se torna necessária uma mutualidade dos elementos mais positivos das duas formas: isto é a “reforma da reforma”. A própria definição das duas formas como usus antiquor e novus ordo, para mim, é errônea, porque o sacrifício do Calvário nunca é antigo, mas é sempre novo e atual.

CONCEPÇÕES ERRÔNEAS

Outro aspecto do processo de uma verdadeira renovação profunda da Igreja, por causa do papel decisivo que o culto desempenhou em sua vida e missão, é a necessidade de purificar a Liturgia de algumas concepções errôneas que penetraram pela euforia das reformas introduzidas por alguns liturgistas depois do Concílio – coisa que, é necessário reconhecê-lo, nunca esteve na mente dos padres conciliares quando aprovaram a histórica Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium.

a. Arqueologismo

A lista é aberta por um tipo de falso “arqueologismo” que tinha por slogan “voltemos à Liturgia da Igreja primitiva”. Escondia-se aqui a interpretação de que somente aquilo que se celebrava na Liturgia do primeiro milênio da Igreja fosse válido, pensava-se que o retorno a isto fizesse parte do aggiornamento. A Mediator Dei ensina que esta interpretação é errada: “A liturgia da época antiga é, sem dúvida, digna de veneração, mas o uso antigo não é, por motivo somente de sua antiguidade, o melhor, seja em si mesmo, seja em relação aos tempos posteriores e às novas condições verificadas” (Cf. Pio XII, S.S., Encíclica Mediator Dei, Enchiridion Encicliche, vol 6, Bolonha 1995, n. 487). Além disso, já que as informações sobre a práxis litúrgica dos primeiros séculos não são claramente atestadas nas fontes escritas do tempo, o perigo de um arbítrio simplista em definir tais práxis é ainda maior e corre o risco de ser uma pura conjectura. Além disso, não é respeitoso do processo natural de crescimento das tradições da Igreja nos séculos sucessivos. Nem está em consonância com a fé na ação do Espírito Santo ao longos dos séculos. E é, além de tudo, altamente pedante e irrealista.

b. Sacerdócio ministerial

Uma outra concepção errônea de reformismo em matéria de Liturgia é a tendência a confundir o altar com a nave. Observa-se frequentemente que a distinção essencial na Liturgia entre o papel do clero e dos leigos é confuso, por causa de uma compreensão errônea da diferença entre o ofício sacerdotal de todos os fiéis (sacerdócio comum) e o ofício do clero (sacerdócio ministerial): uma diferença muito bem explicada na Lumen Gentium. Este documento esclarece que o sacerdócio comum de todos os batizados foi sempre afirmado pela Igreja (cf. Ap 1,6; 1 Pd 2,9-10; Mediator Dei, nn. 39-41; e Lumen Gentium, n. 10), assim como o sacerdócio ministerial; os quais, cada um a seu modo, participam “do único sacerdócio de Cristo”… “embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau” (Lumen Gentium, n. 10). A Constituição litúrgica do Concílio afirma que a Liturgia prevê uma distinção entre as pessoas “que deriva do ofício litúrgico e da sagrada ordem” (Sacrosanctum Concilium, n. 32). A Mediator Dei era ainda mais categórica, afirmando que: “Ai soli Apostoli ed a coloro che, dopo di essi, hanno ricevuto dai loro successori l’imposizione delle mani, è conferita la potestà sacerdotale” (Mediator Dei, in Enchiridion Encicliche, vol. 6, Bolonha 1995, n. 468).

O resultado de tais confusões de papéis na época moderna é a tendência a clericalizar os leigos e a laicizar o clero. Índice de tais confusões é a sempre maior remoção das balaustradas dos altares dos nossos presbitérios e o fato de as pessoas permanecerem sentadas ou agachadas por terra em torno do altar; são pessoas demais a entrar e circular no presbitério, causando distração e distúrbio em nossas funções litúrgicas. A Santa Eucaristia, em tais situações, se torna um espetáculo, e o sacerdote um showman. O sacerdote não é mais como no passado – como escreveu K. G. Rey, em seu artigo Coming of age manifestations in the Catholic Church –: “ o mediador anônimo, o primeiro entre os fiéis diante de Deus e não do povo, representante de todos, que oferece com eles o sacrifício, recitando as orações prescritas. Hoje, ele é uma pessoa distinta, com características pessoais, o seu estilo de vida pessoal, com o seu próprio rosto voltado ao povo. Para muitos sacerdotes, esta mudança é uma tentação que não sabem gerenciar… se torna para eles o nível de sucesso do próprio poder pessoal e, por isso, o indicador do sentimento de segurança pessoal e de autoestima” (K. G. Rey, Pubertätserscheinungeng in der Katolischen Kirche, Kritische Texte, Benzinger, vol. 4, p. 25). O padre, aqui, se torna o ator principal, que recita um drama  com outros atores sobre o altar, e quanto mais são capazes e sensacionais, tanto mais sentem que recitaram bem. Em um cenário assim, o papel central de Cristo desaparece, e também, se num primeiro momento isso parece agradável, à longo prazo se torna extremamente banal e cansativo.

c. Actuosa participatio

(…)

Existem pessoas, também em nosso tempo, que desejam tornar a Liturgia mais interessante ou apetecível; fazem suas próprias regras, correndo, assim, o risco de esvaziar a Liturgia de seu essencial dinamismo interior, com o resultado final de que as chamadas formas de culto se tornam, por fim, insípidas e maçantes. Se tais improvisações tornassem a Liturgia verdadeiramente mais eficaz e interessante, então, por que com tais experimentações e criatividade o número dos participantes aos domingos caiu tanto e tão drasticamente em nossos dias? Esta é a pergunta que  devemos enfrentar com coragem e humildade. É justo considerar os requisitos antropológicos de uma sã Liturgia, sobretudo em relação aos símbolos, as rubricas e à participação; mas não se deve ignorar o fato de que estes não teriam significado sem uma correlação à chamada essencial de Cristo para unirmo-nos a Ele em Sua incessante Ação Sacerdotal.

Fonte: Diocese Suburbicária de Porto-Santa Rufina | Tradução e destaques: Fratres in Unum.com

Ranjith: simbolicamente um candidato de fora do Ocidente, substancialmente um discípulo de Bento XVI.

ranjith1Por John Allen Jr. | Tradução: Fratres in Unum.com –  Ao longo do caminho para o conclave, a maior parte do agito em torno dos candidatos a papa é gerado por especialistas e observadores da vida da Igreja, e não por cardeais que realmente votarão. Como indicador de uma ampla opinião na Igreja, o agito frequentemente é esclarecedor; como guia para o que pode verdadeiramente acontecer, ele pode ser de utilidade limitada.

A “grande esperança asiática” no conclave de 2013 pode se revelar um bom exemplo.

No termômetro da agitação, o nítido vencedor é o Cardeal Luis Antonio Tagle, de Manila, Filipinas, cujo apelido é “Chito”. Ele é jovem, articulado, sorridente, midiático, com uma reputação de simplicidade e humildade. Tagle é extremamente popular em sua pátria, e tende a impressionar as pessoas por onde passa.

Entre os cardeais, todavia, há um outro asiástico que pode aparecer como uma escolha mais convincente: o Cardeal Malcolm Ranjith (formalmente, Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don), de Colombo, Sri Lanka.

Primeiro, Ranjith tem 65 anos, dez anos a mais que Tagle, e provavelmente mais adequado à idade do perfil considerado ideal: nem tão jovem como João Paulo II em 1978, significando que ele não teria um papado demasiadamente longo, mas não tão velho como Bento XVI em 2005, significando que a Igreja provavelmente não encararia outra transição tão cedo.

Depois, Ranjith tem uma vasta experiência no Vaticano, assim, ele não precisaria do mesmo treinamento para o trabalho como alguém completamente de fora. Ele trabalhou como oficial na Congregação para a Evangelização dos Povos (mais conhecida como “Propaganda Fidei”), como núncio papal na Indonésia e no Timor Leste, e depois como Secretário da Congregação para o Culto Divino. Ele também estudou em Roma na Universidade Urbaniana e é fluente em italiano, algo usualmente visto como uma exigência central para um potencial papa.

Terceiro, o perfil de Ranjith como um “ratzingeriano”, isto é, um eclesiástico da mesma cepa de Bento XVI. Este é particularmente o caso no que diz respeito às suas atitudes sobre a liturgia, apoiando a antiga Missa em Latim e rejeitando tendências secularizantes na liturgia católica.

Em 1994, enquanto jovem bispo, Ranjith liderou uma comissão que denunciou o trabalho do teólogo do Sri Lanka Tissa Balasuriya, acusando-o de questionar o pecado original e a divindade de Cristo, assim como de apoiar a ordenação de mulheres. O furor resultante da medida levou Ranjith, pela primeira vez, a ter contato com o então Cardeal Joseph Ratzinger, que apoiou sua posição.

Quarto, Ranjith tem uma verdadeira experiência pastoral, tendo atuado como Arcebispo de Colombo, no Sri Lanka, desde 2005.

Os cardeais que buscam estender a mão ao mundo em desenvolvimento, consolidando, ao mesmo tempo, o legado intelectual e espiritual de Bento XVI, poderão encontrar estes quatro elementos no muitíssimo sedutor curriculum vitae de Ranjith.

Nascido na pequena cidade de Polgahawela, no Sri Lanka, em 1947, Ranjith é o mais velho de quatorze filhos. Em uma entrevista em 2006, ele afirmou que sua vocação foi estimulada pelo exemplo de um missionário francês dos Oblatos de Maria Imaculada que trabalhou em sua paróquia.

Após obter sua gradução em teologia na Urbaniana, Ranjith conseguiu seu diplomana no prestigioso Pontifício Instituto Bíblico em 1978, com uma tese sobre a Epístola aos Hebreus. (Lá, ele foi aluno de dois futuros cardeais jesuítas — Carlo Maria Martini e Albert Vanhoye). Ranjith também realizou algum trabalho pós-doutorado na Universidade Hebraica de Jerusalém.

Marcado desde o início como uma estrela em ascensão, em 1991, Ranjith tornou-se bispo auxiliar de Colombo na tenra idade de 43 anos. Ele coordenou a visita de João Paulo II ao Sri Lanka em janeiro de 1995, e pode-se inferir que ele se saiu bem por ser nomeado o primeiro bispo de Ratnapura nove meses mais tarde.

Dentre outras coisas, Ranjith promoveu o diálogo inter-religioso. O budismo é a religião dominante no Sri Lanka, mas o país também tem bolsões significativos de hindus e muçulmanos, enquanto os cristãos representam, grosso modo, sete por cento da população de 20 milhões.

Em 2001, Ranjith foi levado a Roma para trabalhar na Propaganda Fidei e foi simultaneamente nomeado presidente das Pontifícias Sociedades de Missão, dando-lhe uma ampla rede de contatos ao longo do mundo em desenvolvimento.

Ranjith foi despachado em 2004 como embaixador papal para a Indonésia e Timor Leste, tornando-se o primeiro cingalês a servir como núncio. Foi um movimento incomum, uma vez que Ranjith não era formado pela Academia Eclesiástica de Roma e não procedia do corpo diplomático do Vaticano. Naquela época, havia cochichos de que talvez Ranjith tivesse sido “exilado”, porque ele era visto como ligeiramente muito conservador para alguns prelados, seja nos países em desenvolvimento ou por seus superiores na Propaganda Fidei.

O então neo Cardeal, Dom Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don, arcebispo de Colombo, Sri Lanka, é acolhido em país por uma enorme multidão, após receber a púrpura cardinalícia das mãos do Papa Bento XVI.
Novembro de 2010: O então neo Cardeal Dom Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don é acolhido em seu país por uma enorme multidão, após receber a púrpura cardinalícia das mãos do Papa Bento XVI.

Essa nuvem parecia dissipar-se nove meses mais tarde, quando o novo papa, Bento XVI, chamou Ranjith de volta a Roma para servir como a autoridade número dois na Congregação para o Culto Divino.

Ao longo dos quatro anos seguintes, Ranjith tornou-se algo como uma bête noire [Ntr: ovelha negra] para os progressistas litúrgicos. Ele criticou a comunhão na mão, dizendo que ela não havia sido idealizada pelo Concílio Vaticano II (1962-65) e disseminou-se somente após a sua “introdução ilegítima” em alguns países. Quando Bento autorizou a celebração mais ampla da antiga Missa em Latim, em 2007, Ranjith detonou abertamente os bispos que não se mexeram rápido para implementá-la, acusando-os de “desobediência… e mesmo rebelião contra o papa.”

Quatro anos mais tarde, foi transferido de Roma novamente, desta vez para se tornar o Arcebispo de Colombo. Alguns interpretaram isso como um segundo exílio; O vaticanista italiano Andrea Tornielli escreveu naquela época que Ranjith era “considerado por seus adversários [como sendo] muito próximo dos tradicionalistas e lefebvristas.” Outros argumentaram que era uma promoção genuína, planejada para dar a Ranjith preparação pastoral como chefe da diocese e estabelecê-lo como o homem chave de Bento na Ásia.

Certamente ele não desperdiçou tempo. Quatro meses após a sua chegada, Ranjith emitiu novas regras litúrgicas para Colombo, exigindo que a comunhão fosse recebida na língua e de joelhos, proibindo os leigos de pregar e proibindo aos padres de trazerem costumes de outras religiões para o culto católico.

Durante quatro anos sucessivos, Ranjith tem se portado como um conservador ferrenho em questões doutrinas e de moral sexual, ao mesmo tempo em que também abraça elementos de paz e justiça do ensinamento social católico.

“Amor à liturgia e amor aos pobres, dois tesouros verdadeiros e apropriados da Igreja, pode alguém dizer, têm sido o compasso de minha vida,” disse ele. Ranjith certa vez acrescentou que embora não seja um “adepto”, ele compartilha de alguns valores do movimento “não-global” que protesta contra os modelos neo-liberais da globalização econômica.

Durante uma reunião com o clero em outubro de 2012, ele disse que o Sri Lanka não deveria sacrificar os seus padrões morais em troca de ajuda de desenvolvimento estrangeiro.

“Não queremos casamentos gays e prostíbulos por aqui, e também podemos nos virar sem o desenvolvimento alcançado após comprometer o meio ambiente”, afirmou.

Ele também demonstrou ter algum peso político. Em 2010, ele prometeu boicotar todas as funções estatais até que uma freira das Filhas da Caridade de Madre Teresa, que havia sido presa por suposto tráfico de bebês, fosse libertada. As acusações caíram rapidamente.

Pouco tempo depois de sua chegada, Ranjith também falou contra propostas no Ocidente para impor sansões ao Sri Lanka por supostos crimes de guerra durante sua guerra civil de dezesseis anos, com o objetivo de suprimir um movimento independente entre a minoria Tamil, que é majoritariamente hindu. Ranjith descende do povo de maioria cingalesa, mas a Igreja Católica no Sri Lanka inclui membros de ambos os grupos étnicos, e por reputação Ranjith tem promovido a reconciliação.

O argumento para ele ser papa reside em três pilares.

Em primeiro lugar, a sua proximidade de Bento XVI, tanto pessoalmente e em termos de sua ampla perspectiva teológica e litúrgica, significa que ele seria visto como um voto para a continuidade com as políticas dos últimos dois papados.

Alguns dos protegidos de Bento talvez estejam inclinados a enxergar Ranjith favoravelmente, como, por exemplo, o Cardeal Christoph Schönborn, de Viena, a quem Ranjith descreveu em 2006 como um “querido amigo.”

Em segundo lugar, como asiático, ele expressaria simbolicamente o desejo da Igreja estender a mão ao mundo em desenvolvimento, e confirmar os dois terços da população católica de 1,2 bilhões que agora vive fora do Ocidente. Ainda assim, como romano veterano, ele pode ser visto como uma escolha segura como o primeiro papa vindo do mundo em desenvolvimento, alguém que conhece a mente ocidental e pode navegar na sua cultura.

Em terceiro lugar, ele tem uma experiência profunda no Vaticano e também experimentou como é estar do lado perdedor de suas tensões internas, o que pode dar a entender a alguns cardeais que ele é o homem para liderar a reforma da burocracia. Seu currículo sugere que ele tem firmeza para impulsionar algumas mudanças sobre o que parece ser uma resistência significativa.

Ainda assim há alguns registros fortes na coluna de débitos de Ranjith.

Em primeiro lugar, talvez ele seja um tanto quanto tradicionalista para alguns dos moderados no Colégio dos Cardeais – “mais ratzingeriano do que o próprio Ratzinger,” como dizem alguns. Em 2006, ele falou dos lefebvristas que ele não era um fã, mas que “aquilo que às vezes eles falam sobre a liturgia, eles o dizem por alguma boa razão.”

Em segundo lugar, Ranjith tem um perfil de informante especializado [insider], pessoa que fala uma gíria católica distintiva e cujas prioridades estão frequentemente concentradas na vida interna da Igreja. Essas talvez não sejam as habilidades corretas estipuladas por alguns cardeais que dizem querer um “Missionário-mor”, alguém que poderá mover o produto católico em um mercado religioso pós-moderno competitivo apelando para o mundo externo.

Em terceiro lugar, o fato de Ranjith ter sido despachado duas vezes do Vaticano, sejam quais forem os motivos reais, pode dar a entender a alguns cardeais que ele tem um histórico de encrespar-se. Se eles estão procurando alguém que pode reunir campos diversos e mediar algumas tenções internas da Igreja, esta história poderá fazê-los parar.

Apesar daquelas desvantagens, Ranjith ainda pode ser o candidato asiático mais plausível para alcançar um padrão aceitável dentre os 115 cardeais que irão votar nesta eleição. Talvez ele não tenha o carisma ou o sex appeal de mídia de outros candidatos do “terceiro mundo”, como, por exemplo, Tagle ou o Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, de Honduras, mas para alguns cardeais ele pode parecer um golpe duplo ideal: Simbolicamente um candidato de fora do Ocidente, substancialmente um discípulo de Bento XVI.

Cardeal Ranjith quer seu seminário dirigido pela FSSPX.

Cardeal Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don.
Cardeal Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don.

Por Cathcon | Tradução: Dionisio Lisbôa – O Cardeal Arcebispo de Colombo, Albert Malcolm Ranjith Patabedinge, estaria pronto a confiar a gestão e formação dos seminaristas de sua arquidiocese à FSSPX. Tal medida, segundo o Cardeal será possível se a FSSPX for aceita e erigida canonicamente. O Cardeal espera que este projeto possa melhorar a formação dos futuros sacerdotes. A notícia é oriunda do site italiano Messa in Latino.

O superior dos distritos da FSSPX nos Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo, Padre Benoît Waillez, tornou isto conhecido em um sermão no domingo passado. Ele ressaltou que as motivações, preocupações e argumentos da Tradição começam a se difundir na Igreja Católica. O Cardeal Ranjith Patabedinge foi nomeado pelo Papa como Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos da Cúria Romana. Desde junho de 2009, é Arcebispo de Colombo, Sri Lanka, e se tornou Cardeal em novembro de 2010.

Sri Lanka: Coleta da Quaresma para garantir direito das crianças à vida.

Oposição da Igreja no Sri Lanka a um projeto do governo. No Brasil, até hoje nenhuma famigerada Campanha da Fraternidade foi dedicada especificamente ao combate ao aborto.

Colombo, 28 de março de 2012, Apic | Tradução: Fratres in Unum.com – O Cardeal Malcolm Ranjith, Arcebispo de Colombo, Sri Lanka, decidiu destinar a coleta de Quaresma para as crianças a nascer. Lançada em 25 de março de 2012 [ndr: festa da Encarnação do Verbo], esta iniciativa se opõe à proposta do governo de permitir o aborto em determinadas situações, informa ‘AsiaNews’ em 28 de março. “Os abortos estão crescendo em todo o Sri Lanka. Para proteger as crianças e colocá-las no mundo, é necessário ajudar as mães com todos os meios possíveis”, afirmou o Cardeal Ranjith. Seminários são organizados para mestres e professores sobre o tema do aborto, como proteger a vida ou como salvar a vida, esclareceu o Padre Judas Raaj. A iniciativa é promovida pela arquidiocese e pela cáritas de Colombo, com o lema: “Proteção da vida, para garantir o direito da criança à vida”.

Ranjith: “Chegou a hora”, pelo “retorno da verdadeira liturgia da Igreja”.

Desejo expressar, primeiramente, minha gratidão a todos vós pelo zelo e entusiasmo com que promoveis a causa da restauração das verdadeiras tradições litúrgicas da Igreja.

Como sabeis, é a liturgia que aperfeiçoa a fé e sua heróica realização na vida. Ela é o meio com que os seres humanos são elevados ao nível do transcendente e do eterno: o lugar de um profundo encontro entre Deus e o homem.

A liturgia, por esta razão, nunca pode ser criada pelo homem. Pois se rezamos da forma como queremos e ajustamos as normas a nós mesmos, corremos, então, o risco de recriar o bezerro de ouro de Aarão. Devemos constantemente insistir na liturgia enquanto participação naquilo que o próprio Deus faz, correndo o risco, de outra forma, de cair na idolatria. O simbolismo litúrgico nos ajuda a nos elevarmos acima do que é humano, em direção ao divino. A esse respeito, é minha firme convicção de que o Vetus Ordo representa em grande extensão e de maneira mais satisfatória aquele chamado místico e transcendente a um encontro com Deus na liturgia. Portanto, chegou para nós a hora de não só renovarmos, por mudanças radicais, o conteúdo da nova Liturgia, mas de também encorajarmos mais e mais o retorno do Vetus Ordo, como um caminho para uma verdadeira renovação da Igreja, que foi o que os Padres da Igreja assentados no Concílio Vaticano II tanto desejaram.

A cuidadosa leitura da Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium, demonstra que as imprudentes mudanças introduzidas posteriormente na Liturgia nunca estiveram nas mentes dos Padres do Concílio.

Assim, chegou a hora de sermos corajosos no trabalho por uma verdadeira reforma da reforma e também pelo retorno da verdadeira liturgia da Igreja, que se desenvolveu por sua história bimilenar em um contínuo fluxo. Desejo e rezo para que isso ocorra.

Possa Deus abençoar os vossos esforços com sucesso.

+Malcolm Cardeal Ranjith
Arcebispo de Colombo
24/8/2011

Carta do Cardeal Ranjith à 20ª Assembléia Geral da Foederatio Internationalis Una Voce, ocorrida em 5 e 6 de novembro de 2011, em Roma. Tradução: Fratres in Unum.com

Cardeal do Sri Lanka e o eixo Budista-Católico.

Em face à invasão de grupos evangélicos, o Arcebispo de Colombo, Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don, propôs uma frente comum entre católicos e budistas.

Por Gianni Valente – Vatican Insider | Tradução: Fratres in Unum.com

Uma pequena “aliança” entre a maioria budista e a minoria católica foi sugerida pelo Cardeal Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don, no sentido de dar uma resposta unificada às campanhas proselitistas maciças e bem financiadas lançadas no Sri Lanka por grupos evangélicos relacionados a centros de redes pentecostais. O Cardeal tomou esse caminho, a fim de coibir a disseminação de missões evangélicas que estão alarmando tanto a hierarquia católica quanto os líderes budistas com seus métodos de propaganda agressiva, semeando a discórdia entre as duas comunidades.

A proposta foi formalizada recentemente, na presença de políticos e jornalistas que foram convocados no palácio episcopal. Nesse quadro, Patabendige Don pediu explicitamente ao governo para estabelecer uma comissão inter-religiosa de cristãos e budistas para confrontarem juntos o proselitismo hiperativo e grupos desordeiros de ascendência norte-americana que estão se infiltrando na área metropolitana de Calombo, organizando orações públicas, sessões de cura e convenções exaustivas de propaganda religiosa. “Algumas igrejas evangélicas”, explicou o Cardeal, “estão oferecendo incentivos financeiros aos católicos e budistas para induzi-los à conversão.” De acordo com o prelado do Sri Lanka, ele esperava que o órgão inter-religioso fosse trabalhar como uma verdadeira ferramenta para monitorar o proselitismo de grupos evangélicos, com poderes relativos de interdição para coibir o desenvolvimento irregular de suas atividades e a rede de suas bases logísticas.

O cardeal disse também que estava convencido de que a comissão fosse atuar como uma câmara de reconciliação e resolução de tensões religiosas: para Sua Eminência, isso seria um antídoto para tentativas políticas de combater a onda de hostilidade e preconceito que tem crescido entre a população budista, afetando todos os cristãos, que são incapazes de distinguir diferenças e aproximações das diferentes igrejas e comunidades religiosas. O estabelecimento de uma organização inter-religiosa poderá também encorajar a proposição de um projeto de anti-conversão no Parlamento, que as minorias cristãs – incluindo católicos – vêem como um perigoso instrumento liberticida legal.

As reações dos budistas aos comentários do arcebispo de Colombo, relatadas pela agência Ucanews, chegaram rápido. O monge Kamburugamuwe Wajir Thero, chanceler da Universidade de Sabaragamuwa, disse que ele imediatamente concordava com a sugestão feita pelo Cardeal de monitorar as comunidades evangélicas: “o país precisa de algo assim”, disse o monge budista, citando os budistas convertidos pelos evangélicos e os ataques que, como reprises, têm atingido as igrejas cristãs.

De sua parte, o Pastor Rohan de S. Ekanayaka, Secretário Geral da Fraternidade Nacional Cristã do Sri Lanka (coordenação nacional da comunidade evangélica) rejeitou fortemente as acusações de vender conversões: “Quando ajudamos um mendigo, não lhe falamos sobre religião. Nossos pastores nunca oferecem dinheiro para expandir suas comunidades. Eles seguem os passos de Jesus Cristo. Eles vivem uma vida simples,” disse o líder evangélico.

A iniciativa de Patabendige Don surpreende e de muitas maneiras evita ser assemelhado e classificado como um dos pensamentos que se cristalizaram nos debates eclesiásticos nos últimos anos.

Primeiramente, alguns dos muitos admiradores da sensibilidade tradicional do Cardeal do Sri Lankan poderão se surpreender pela veemência com que ele mesmo, desta vez, conclama o estabelecimento de um órgão para diálogo inter-religioso. O atual Arcebispo de Colombo nunca perdeu a oportunidade de se apresentar como um defensor da identidade católica. Nos anos em que atuou na Cúria Romana como Secretário da Congregação para o Culto Divino, ele se destacava por esse apoio entusiasmado pela liberação da liturgia tridentina e sua crítica de abusos litúrgicos de sabor sincrético. Em uma conferência realizada na Holanda, em Hertogenbosch, em 6 de outubro de 2007, ele criticou severamente os bispos que sentiam desconforto ao optar pela “tolerância litúrgica” em relação ao antigo rito pré-conciliar introduzido pelo Papa, que ele acreditava que provavelmente seria usado mesmo como “ferramenta do diabo”.

No Sri Lanka, onde a Igreja é uma minoria, Patabendige tem demonstrado prudentemente apreço pela abertura solidária às tradições religiosas, que os tradicionalistas vêem como um dos pecados originais da reforma conciliar. Ele tem demonstrado o seu apreço de uma maneira não sincrética, enquanto ainda seguindo os ditames do Concílio.

Outro ponto sensível tocado pela iniciativa do Cardeal do Sri Lanka é o problemático “discernimento” do fenômeno evangélico-pentecostal pela Igreja Católica. No continente asiático, dominado pelas tradições religiosas e culturas antigas, a proclamação do Evangelho por católicos tem marcado de maneira progressiva a sua diferença das práticas e métodos agressivos que caracterizam as seitas e as igrejas protestantes evangélicas livres. Por outro lado, as abordagens não invasivas dos missionários sugeridas pelo Concílio com o desenvolvimento das chamadas categorias de inculturação, estiveram sujeitas a várias críticas nos últimos anos no mundo católico. Os métodos missionários têm sido acusados de timidez e irenismo excessivo no aumento das religiões locais. É essa expansão da impetuosidade neo-protestante que algumas vezes foi denominada como um modelo pelos críticos católicos das supostas precauções excessivas usadas pela Igreja nas áreas de missão.

O Papa Bento XVI também, em seu livro Luz do Mundo, reconheceu “o grande fenômeno dos evangélicos, que têm se espalhado com um ímpeto poderoso, alterando a paisagem religiosa dos países do Terceiro Mundo.” O caso do Sri Lanka confirma que a aproximação com o fenômeno pela Igreja de Roma deve necessariamente levar em consideração elementos de uma natureza diferente e única, evitando soluções prontas e driblando aporias insidiosas. No momento em que as organizações católicas como o Sínodo Central de Bispos estão preparando o enfoque de sua atenção na nova evangelização, é urgente ter um reconhecimento preliminar da natureza inerente do Evangelho e da missão cristã. De outra forma, o risco de abstrações e jogo de palavras sendo desbancado por uma linguagem simples e direta do ministro Rohan S. de Ekanayaka, que, em sua resposta, também quis lembrar ao Cardeal católico do Sri Lanka que “a missão de cada cristão é disseminar a Boa Nova”.

Errata – Esclarecimento sobre a proibição da Comunhão na mão em Colombo

Agradecemos aos amigos do blog “A vida sacerdotal” pela informação:
ERRATA: A notícia correu na internet, porém era falsa, infelizmente. A equipe d’A VIDA SACERDOTAL, na pessoa da Fernanda, recorreu à Diocese de Colombo e verificou para ver se era verdade. Eles responderam por e-mail que NÃO proibiram a Comunhão na mão, mas apenas recomendaram que a Comunhão seja dada de joelhos e na boca. Proibiram as palmas e as músicas barulhentas, isso sim.

Verdadeira Reforma Litúrgica – Comunhão na mão proibida.

FSSPX-Alemanha | Tradução: Fratres in Unum.com – S. Em. Cardeal Albert Malcolm Ranjith, Arcebispo de Colombo e estreito confidente do Papa, proibiu a Comunhão na mão em sua arquidiocese. Ele revogou todos os “Indultos” de seu predecessor para a comunhão na mão e ordenou a reintrodução das mesas de comunhão.

O cardeal defende a celebração da liturgia antiga dentre seus inúmeros clérigos e anunciou ele mesmo uma Missa Pontifical no rito extraordinário em sua Catedral. O príncipe da Igreja, nascido em 1947, que foi secretário da Congregação para o Culto Divino em Roma, de 2005 a 2009, informou recentemente sobre esta e outras reformas litúrgicas – as quais realmente merecem esse nome – em uma diocese em um congresso romano sobre a promoção da Adoração Eucarística.

Albert Malcolm Ranjith foi chamado pelo Papa em 2010 ao Sacro Colégio – como Cardeal Presbítero para assumir a igreja de San Lorenzo em Lucina.

Os grandes desiludidos pelo Papa Bento XVI.

São alguns dos maiores pensadores tradicionalistas. Haviam apostado nele e agora se sentem traídos. As últimas decepções: o Pátio dos Gentios e o encontro de Assis. A acusação que fazem contra Ratzinger é a mesma que fazem ao Concílio: ter substituído o anátema pelo diálogo.

por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com

ROMA, 8 de abril de 2011 – A Santa Sé confirmou oficialmente que no próximo dia 27 de outubro, em Assis, Bento XVI presidirá uma jornada de “reflexão, diálogo e oração” junto a cristãos de outras confissões, expoentes de outras religiões e “homens de boa vontade”.

O encontro se dará vinte e cinco anos depois daquele primeiro que se tornou célebre, desejado por João Paulo II. Joseph Ratzinger, na época cardeal, não participou dele. E já deu a entender que, com ele como Papa, o próximo encontro de Assis será revisado e corrigido, purificado de toda sombra de assimilação da Igreja Católica às outras confissões de fé.

Mas, da mesma forma, os tradicionalistas não o perdoaram. Alguns deles assinaram um apelo crítico. O “espírito de Assis”, segundo eles, é parte da confusão mais geral que está desintegrando a doutrina católica e que teve origem a partir do Concílio Vaticano II.

Uma confusão contra a qual Bento XVI não reagiu como deveria.

* * *

Nestes últimos tempos, no campo tradicionalista, as críticas contra o Papa Ratzinger não diminuíram, mas antes cresceram em intensidade. Refletem uma crescente desilusão com relação às esperanças inicialmente renovadas na ação restauradora do atual pontificado.

As críticas de alguns tradicionalistas se concentram, em particular, no modo com que Bento XVI interpreta o Concílio Vaticano II e o pós-concílio.

Segundo eles, o Papa se equivoca quando limita sua crítica às deteriorações do pós-concílio. Com efeito, o Vaticano II – sempre segundo o juízo deles – não foi apenas mal-interpretado e aplicado: ele mesmo foi portador de erros, o primeiro dos quais a renúncia das autoridades da Igreja a exercer, quando necessário, um magistério de definição e de condenação: isto é, a renúncia ao anátema para privilegiar o diálogo.

No plano histórico, tende a convalidar esta tese o volume recentemente publicado pelo Professor Roberto de Mattei: “Il Concilio Vaticano II. Una storia mai scritta” [O Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita]. Segundo de Mattei, não se pode isolar os documentos conciliares dos homens e das vicissitudes que os produziram: desses homens e dessas manobras, cuja intenção deliberada — muito bem sucedida —  era romper com a doutrina tradicionalista da Igreja Católica, nos pontos mais essenciais.

No plano teológico, um conhecido crítico tradicionalista de Bento XVI é Brunero Gherardini, com 85 anos vigorosamente vividos, cônego da basílica de São Pedro, professor emérito da Pontifícia Universidade Lateranense e diretor da revista de teologia tomista “Divinitas”.

No ano de 2009, Gherardini publicou um volume intitulado: “Concilio Vaticano II. Un discorso da fare” [Concílio Vaticano II. Um debate a se realizar], que concluía com uma “Súplica ao Santo Padre”, na qual pedia que se submetesse a um exame os documentos do Concílio e se esclarecesse, de forma definitória e definitiva, “se, em que sentido e até que ponto” o Vaticano II esteve ou não em continuidade com o magistério anterior da Igreja.

Agora, dois anos depois desse livro, Gherardini lança um novo, intitulado: “Concilio Vaticano II. Il discorso mancato” [Concílio Vaticano II. O debate ausente], no qual lamenta o silêncio com que as autoridades da Igreja responderam a sua publicação anterior. E leva sua crítica mais a fundo.

Escreve Gherardini:

“Se desejam continuar culpando apenas o pós-concílio, podem, de fato, fazê-lo, porque, efetivamente, ele não é absolutamente isento de culpa. Mas seria necessário também não se esquecer que ele é o filho natural do Concílio, e extraiu do Concílio esses princípios sobre os quais, exasperando-os, basearam seus conteúdos mais devastadores”.

Na visão de Gherardini, pelo contrário, predomina nos altos poderes da Igreja uma cega exaltação do Concílio, que “corta as asas da análise crítica” e “impede de ver o Concílio com um olhar mais agudo e menos ofuscado”.

E os primeiros responsáveis por esta exaltação acrítica seriam justamente os últimos Papas: desde João XXIII, passando por Paulo VI até João Paulo II. Quanto ao pontífice reinante – observa Gherardini –, “até agora não corrigiu nem um ponto nem uma vírgula dessa ‘Vulgata’ que foi patrocinada pelos predecessores”: ele, que também “como outros poucos oficiais católicos rugiram realmente contra as deformações do pós-concílio, jamais deixou nem de entoar o hosana ao Concílio nem de afirmar a continuidade com todo o magistério anterior a ele”.

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Outro grande decepcionado com Bento XVI é Enrico Maria Radaelli, filósofo e teológo, discípulo do maior pensador tradicionalista do século XX, Romano Amerio.

A principal obra de Radaelli é o ensaio “Ingresso alla bellezza”, de 2007, tendo nestes dias publicado a edição – no momento “pro manuscripto” e impressa em pouquíssimas cópias – de um segundo ensaio, também notável, intitulado: “La bellezza che ci salva”.

O subtítulo do novo ensaio de Radaelli sintetiza assim o conteúdo:

“A força do ‘Imago’, o segundo nome do Unigênito de Deus, que com o ‘Logos’ pode dar vida a uma nova civilização, fundada na beleza”.

E, com efeito, é este o coração do ensaio, como enfatiza no prefácio Antonio Livi, sacerdote do Opus Dei e filósofo metafísico de primeiro nível, docente na Pontifícia Universidade Lateranense.

Porém, nas cultas e vibrantes páginas de seu novo livro, Radaelli não deixa de submeter à crítica, em sua quase totalidade, a atual hierarquia da Igreja Católica, inclusive o Papa.

As decepções pelas ações de Bento XVI deriva – para Radaelli como para outros tradicionalistas – não só por ter convocado um novo encontro interreligioso em Assis, ou por ter dado vida ao “Pátio dos Gentios”, ambas iniciativas julgadas como fonte de confusão.

A maior culpa apontada ao Papa Ratzinger é a de ter renunciado a ensinar com “a força de um cetro que governa”. Em vez de definir a verdade e condenar os erros, “colocou-se dramaticamente disponível a ser também criticado, não pretendendo nenhuma infalibilidade”, como escreveu ele mesmo no prefácio de seus livros sobre Jesus.

Conseqüentemente, Bento XVI teria também ele se dobrado ao erro capital do Vaticano II: a renúncia às definições dogmáticas, em prol de uma linguagem “pastoral” e, portanto, inevitavelmente equívoca.

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De Mattei, Gherardini e Radaelli não estão sós.

O livro de Gherardini, de 2007, tem o prefácio do Arcebispo de Colombo, hoje Cardeal, Albert Malcolm Ranjith. E outro bispo, Mario Oliveri, de Albenga-Imperia, escreveu que teve de se unir “toto corde” à súplica ao Papa, com a qual termina o volume, para reexaminar os documentos do Vaticano II.

Radaelli escreve em “L’Osservatore Romano”. E tanto Gherardini como de Mattei tomaram a palavra, em dezembro passado, em um congresso, a poucos passos da basílica de São Pedro, “para uma justa hermenêutica do Concílio à luz da Tradição da Igreja”.

Neste congresso discursaram também o Cardeal Velasio de Paolis, o bispo Luigi Negri, de San Marino e Montefeltro, e Monsenhor Florian Kolfhaus, da Secretaria de Estado vaticana.

E outro bispo muito estimado, o auxiliar de Astana, no Cazaquistão, Athanasius Schneider, concluiu sua intervenção com a proposta ao Papa de elaborar um “Syllabus” contra os erros doutrinais de interpretação do Concílio Vaticano II.

Mas Dom Schneider, assim como quase todos os participantes do congresso de dezembro, organizado pelos Franciscanos da Imaculada, não considera que nos documentos do Vaticano II haja efetivos pontos de ruptura com a grande tradição da Igreja.

A hermenêutica com a qual [Dom Scheneider] interpreta os documentos do Concílio é a definida por Bento XVI em seu memorável discurso à cúria romana de 22 de dezembro de 2005: “a hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja”.

É uma hermenêutica seguramente compatível com o apego à tradição da Igreja. E é também a única capaz de vencer a contrariedade de alguns tradicionalistas acerca das “novidades” do Concílio Vaticano II, como Francesco Arzillo mostra na seguinte nota [leia a nota em espanhol aqui].

Com efeito, a linguagem “pastoral” do Vaticano II, precisamente por sua natureza não definitória, exige, com maior razão, ser compreendida à luz da tradição da Igreja, tal como o fez o próprio Bento XVI no discurso supracitado, a respeito de uma das “novidades” conciliares mais impopulares para muitos tradicionalistas, a da liberdade de religião.