O silêncio de Francisco, as lágrimas de Ratzinger e sua declaração nunca publicada.

Por Sandro Magister, 12 de fevereiro de 2020 | Tradução: FratresInUnum.com – O que mais chama a atenção na exortação apostólica pós-sinonal “Querida Amazonia”, publicada hoje, 12 de fevereiro de 2020, é seu silêncio total sobre a questão mais esperada e controversa: a ordenação de homens casados.

Nem sequer aparece a palavra “celibato”. O Papa Francisco espera que “a ministerialidade se configure de tal forma que esteja a serviço de uma maior frequência da celebração da Eucaristia, mesmo nas comunidades mais remotas e escondidas (n. 86). Mas, reafirma (no n. 88) que somente o sacerdote ordenado pode celebrar a Eucaristia, absolver os pecados e administrar a Unção dos enfermos (porque também está “intimamente ligada ao perdão dos pecados”, nota 129). E não diz nada sobre a extensão da ordenação aos “viri probati”.

Nenhuma novidade, nem sequer para os ministérios femininos. “Se lhes desse acesso à ordem sagrada”, escreve Francisco no n. 100, “esta visão nos orientaria a clerizalizar as mulheres” e a “reduzir nossa compreensão da Igreja à estruturas funcionais”.

A curiosidade que surge imediatamente da leitura de “Querida Amazonia” é, então, compreender em que medida o livro bomba escrito pelo Papa emérito Bento XVI e pelo Cardeal Robert Sarah, em defesa do celibato do clero, publicado em meados de janeiro, influenciou sobre a exortação e, em particular, seu silêncio acerca da ordenação de homens casados.

A esta questão, deve se acrescentar mais informações do que já se conhece sobre o que aconteceu nos dias quentes após a publicação do livro.

A sequência conhecida já conhecida dos fatos foi documentação oportunamente por Settimo Cieli em três “Post Scriptum”, que estão no final do artigo publicado em 13 de janeiro:

> Ancora sul libro bomba di Ratzinger e Sarah. Con il resoconto di un nuovo incontro tra i due

Mas Settimo Cielo teve notícias posteriores, de ao menos outras quatro fontes, independentes entre si, de relevante importância.

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A primeira aconteceu na manhã de quarta-feira, 15 de janeiro.

Ao longo de toda a jornada de terça-feira, 14, o ataque realizado pelas correntes radicais contra Ratzinger e Sarah havia tido um crescimento devastador, alimentado de fato pelos reiterados desmentidos do Prefeito da Casa Pontifícia, o arcebispo Georg Gänswein, de uma corresponsabilidade do Papa emérito na redação e na publicação do livro, até chegar a pedir que se retirasse sua assinatura, inutilmente confrontada pela precisa e documentada reconstrução, tornada pública pelo cardeal Sarah, da gênese do próprio livro por ação combinada de seus dois co-autores.

Pois bem, na manhã de quinta-feira, 15 de janeiro, enquanto o Papa Francisco estava celebrando sua audiência semanal e Gänswein estava sentado, tal como estabelecido pelo protocolado, a seu lado na sala Paulo VI, longes, portanto, do mosteiro Mater Ecclesiae, que é a residência do Papa emérito, de quem ele é secretário, Bento XVI tomou pessoalmente o telefone e chamou Sarah, primeiramente em sua casa, onde não o encontrou, e depois em seu escritório, onde o cardeal atendeu.

Bento XVI expressou cordialmente a Sarah a sua solidariedade. Confiou-lhe que não compreendia as razões de uma agressão tão violenta e injusta. E chorou. Também chorou Sarah. A chamada telefônica concluiu com os dois em lágrimas.

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O segundo fato, que se dá a conhecer aqui, pela primeira vez, aconteceu durante o encontro entre Sarah e Ratzinger, na casa deste, na tarde de sexta-feira, 17 de janeiro.

Nesta mesma tarde, o cardeal se referiu ao ocorrido em três tweets, nos quais confirmava o pleno acordo entre ele e o Papa emérito na publicação do livro.

Mas, não disse que durante este mesmo encontro — na realidade, ocorrido em dois momentos distintos, o primeiro às 17 horas e o segundo às 19 horas — Bento XVI havia escrito um comunicado conciso que pretendia publicar com a assinatura somente do Papa emérito, para testemunhar a consonância plena entre os dois co-autores do livro e pedir o fim de toda polêmica.

Para publicação, Gänswein entregou a declaração — da qual Settimo Cielo está em posse e na qual o traço pessoal, inclusive autobiográfico, de Ratzinger transparece de forma evidente — ao substituto secretário de Estado, Edgar Peña Parra. E é razoável supor que ele informou a respeito dela tanto o seu superior direto, o Cardeal Pietro Parolin, como o próprio Papa Francisco.

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É um fato — a terceira notícia até aqui inédita — que esta declaração do Papa emérito nunca veio à luz. Mas, é verossímil que estava na origem da decisão de Francisco de exonerar de ali em diante toda presença visível, a seu próprio lado, do prefeito da Casa Pontifícia, Georg Gänswein.

A última dessas aparições públicas se deu na manhã daquela mesma sexta-feira, 17 de janeiro, por ocasião da visita ao Vaticano do presidente da República Democrática do Congo. Depois dela, Gänswein não apareceu mais junto ao Papa, nem nas audiências gerais das quartas-feiras, nem nas visitas oficiais do vice-presidente norte-americano Mike Pence, do presidente iraquiano Barham Salih e do argentino Alberto Fernández.

Aos olhos do Papa Francisco, a declaração de Bento XVI havia efetivamente comprovado a não confiabilidade das repetidas negações feitas por Gänswein acerca da corresponsabilidade do Papa emérito na redação do livro.

Noutras palavras, a oposição do Papa emérito a que seu sucessor cedesse às correntes radicais a respeito do celibato do clero se estavaca plenamente neste ponto, sem mais nenhuma atenuação.

E tudo isso a poucos dias da publicação da exortação pós-sinodal, na qual muitos, em todo o mundo, esperava ver uma abertura de Francisco à ordenação de homens casados.

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Como corolário de tudo isso, deu-se a conhecer também o papel que desempenhou Parolin nestes acontecimentos.

Quando efetivamente na quarta-feira, 22 de janeiro, a editora Cantagalli publicou um comunicado a respeito da iminente publicação do livro na Itália, com pouquíssimas e secundárias variações com relação ao original em francês, não se disse que esse comunicado havia sido anteriormente visto e analisado, linha a linha, pelo secretário de Estado, que havia, ao fim, encorajado vivamente a publicação.

Um comunicado no qual o livro de Ratzinger e Sarah é definido como “um volume de elevado valor teológico, bíblico, espiritual e humano, garantido pelo peso dos autores e por sua vontade de colocar à disposição de todos o fruto de suas respectivas reflexões, manifestando seu amor pela Igreja, por sua Santidade, o Papa Francisco, e por toda a humanidade”.

Em queda livre.

Uma queda irreversível na popularidade de Bergoglio entre os católicos.

Por FratresInUnum.com, 20 de janeiro de 2020 – A polêmica do livro de Ratzinger-Sarah, com a consequente explosão de vendas, teve um episódio pouco comentado: a entrevista de Papa Francisco ao seu velho amigo, o ateu Scalfari, comentando o ocorrido. De passagem, vale observar como Francisco insiste em dar entrevistas ao infeliz editor do La Repubblica, mesmo este último já tendo colocado diversas heresias na boca do bispo de Roma, nunca rechaçadas por ele, para embaraço do jornalismo chapa-branca.

Sempre segundo Scalfari, Francisco teria dito que “em uma organização que abraça centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, sempre há alguém contra”, tirando importância da intervenção do Cardeal Sarah.

Ora, equivoca-se grandemente Francisco ao pensar que a resistência ao seu pontificado seja um fenômeno controlado, isolado. Muito pelo contrário, não se vê nenhum entusiasmo em lugar algum entre os católicos e os temas que ele suscita não despertam apelo nenhum ao coração dos fiéis.

Mas, alguns poderiam objetar: Francisco é aclamado! Perguntamos: por quem? Pela imprensa anti-católica, pelos hereges infiltrados e ocupantes dos cargos mais importantes, pelos que estão nas igrejas, mas que há muito perderam a Fé? Sim, concedemos.

Porém, entre os Católicos reais, o desprezo pelo que diz o Pontífice é patente e clamoroso.

O vídeo em que ele estapeia a mão de uma mulher causou um choque ainda maior do que aquele em que retira sua própria mão para que os fiéis não beijem. Mas não basta isso! Francisco escandaliza os fiéis pelo seu esquerdismo declarado, pelo seu ecologismo psicótico, pelo seu progressismo fanático, pela secura do seu caráter. Aquela abordagem populista que teria causado o que então se chamava “efeito Francisco” chegou ao ponto terminal de saturação e já não engana mais ninguém.

O fato de que Bergoglio rebaixe o protesto de Sarah a uma mera discordância pouco representativa só mostra o quanto ele mesmo está alienado da realidade. Já nos tempos dos Sínodos da Família foram reunidas quase um milhão de assinaturas pela chamada “Súplica filial” e, agora, com toda a fúria popular contra o Sínodo da Pachamama, aqueles Católicos que ainda dormiam no sono da inconsciência começam a ser despertados pelos fatos.

É muito difícil, praticamente impossível, reverter uma queda acentuada de popularidade entre os fiéis como esta que enfrenta Francisco.

Alguém pode objetar que, no caso da monarquia papal, isso não significa quase nada, pois os seus eleitores não são o povo e tampouco ele pode ser removido do trono. Contudo, mesmo o poder soberano que ele exerce não se pode destacar demais do corpo dos fiéis, sob pena de ele ficar isolado na completa irrelevância.

De certo modo, o ambiente já é esse. Os católicos sentem-se desconfortáveis com o seu pontificado e, por diversos motivos, embora lhe devotem alguma reverência devida ao seu cargo, já começam a se preocupar com a revolução que está em curso, vendo que a desordem anda longe demais.

Como a prioridade de Deus é a salvação das almas e a Providência divina dirige todas as coisas para esta finalidade, este pontificado decadente está sendo conduzido para um final pouco honroso. Só uma renúncia poderia salvar Francisco, pois isso conferiria certa legitimidade retroativa e até alguma vitimização e margem de manobra para ele. Rezemos para que aos poucos o teatro vá acabando, até que ninguém mais referende a “revolução da ternura” bergogliana.

Eis o homem.

Por FratresInUnum.com, 17 de janeiro de 2020 – Desde que Francisco subiu ao pontificado, a atitude dos cardeais e bispos é de uma adulação superlativa, como se a obediência ao Papa supusesse a subserviência a um suserano absoluto. Mas, não o é!

Cardeal Robert Sarah. Foto: Stefano Spaziani

Assim como a Igreja pós-conciliar tem apenas um dogma, “o Concílio” (como se não houvesse 20 outros antes dele), a Igreja bergogliana tem um só dogma, “Francisco”, como se nunca tivesse existido um único Papa fora ele. Ele é a premissa maior de todos os raciocínios e um argumento de autoridade que apele para ele se impõe ipso facto. Não é apenas o abandono da Fé, mas também da razão.

Como mulheres submissas a um marido tirano, os hierarcas da Igreja Católica se comportam como coroinhas complacentes, como freiras apavoradas diante de sua Madre superiora. O Papa ditador se mostra como tal não apenas por seus atos, mas pela atitude geral que predomina na Igreja: como um tirano, todos têm medo de enfrentá-lo, pois a polícia que o assiste pode puni-los a qualquer momento. Coisa inédita! Todos os papas sempre foram criticados justamente pelos que hoje se mostram como zelosos papistas. Basta lembrar de toda a oposição que sofreu Paulo VI, João Paulo II e o próprio Bento XVI.

O livro recém-publicado pelo Cardeal Robert Sarah e por um outro sob censura está explodindo em vendas e já pode se tornar um best-seller. Há que se agradecer ao Vaticano por toda a propaganda! Mas não só…

A popularidade de Sarah subiu justamente porque ele teve a atitude que todos os católicos esperam de algum cardeal ou bispo: seja homem! Reaja! Mostre de algum modo o absurdo daquilo que Francisco está fazendo.

Sarah não apenas desmentiu Dom Gänswein, mas provou o que disse e continua mantendo-se firme e sereno em todos os desdobramentos que a publicação da obra trouxe para ele. Com a dignidade de alguém que não quer dividir a Igreja, não teve para com Francisco ou Bento XVI nenhum ato de rebeldia, mas, sim, de uma resistência eclesiástica que é, em todos os seus contornos, paradigmática.

Àqueles que pretendem de algum modo diminuir o gesto do cardeal, imponham-se os fatos. O livro de Sarah causou mais reboliço que todas as manifestações anteriores e, isto, por um motivo muito claro: ele fez o que todos deveriam fazer! Ele não recuou, mas agiu como um homem de Igreja e foi protagonista daquilo que poderíamos definir como enfrentamento humilde.

Quando Nosso Senhor desmascarou os fariseus que lhe queriam encurralar com uma pergunta capciosa, se era obrigatório ou não pagar o imposto a César, Ele não os xingou, não se rebelou, não criou uma confusão: apenas foi ao fatos e pediu uma moeda. De um jeito humilde, Cristo flagrou a malícia deles referindo-se aos fatos. E foi isto que fez o Cardeal Sarah!

Francisco sabe que não o pode atingir sem ser acusado de racismo, sem flagrar a sua vingança, o seu totalitarismo. Ao mesmo tempo, o livro de Sarah é irrespondível. Francisco está desmascarado.

Enquanto os progressistas estrebucham feito endemoninhados diante da Cruz, o Cardeal Sarah vende milhares de exemplares em poucas horas e os católicos do mundo dão, assim, a esses vândalos que querem destruir a sua Igreja, aquela resposta que estava entalada em suas gargantas.

Agora, resta saber se o único homem na ativa do colégio cardinalício continuará sendo o Cardeal Sarah (exceção feita aos cardeais dos dubia, que, ou já morreram, ou não possuem cargos) ou se outros cardeais se juntarão a ele!

A Carta de Hummes sobre o Sínodo da Pachamamma e a novela do livro Ratzinger-Sarah.

Por FratresInUnum.com, 15 de janeiro de 2020 – Já está tudo pronto. Em cerca de um mês, entre fins de janeiro e começos de fevereiro, Francisco promulgará a Exortação apostólica sobre o Sínodo da Amazônia. Vazou a carta secreta de Dom Cláudio Hummes aos bispos participantes do Sínodo! Por esta, ele não esperava.

Sala Paulo VI, audiência geral de hoje: Papa Francisco e Dom Gaiswein.

Mas, afinal de contas, será que isto tem algo a ver com a novela do livro de Sarah-Ratzinger? A resposta parece ser bastante evidente, sobretudo se tivermos ciência das últimas informações relativas ao fato.

Antonio Socci, em seu perfil oficial, relatou uma versão vasada dos últimos acontecimentos. Segundo o jornalista, o livro teria explodido no Vaticano como uma bomba atômica. Papa Bergoglio, furioso, teria chamado pessoalmente o secretário de Bento XVI e Chefe da Casa Pontifícia, Dom Gänswein, com ordens de que o nome de Bento XVI fosse retirado do livro. O que pretendia, ao que parece, o papa argentino era uma desmentida total por parte de Ratzinger, a sua retirada completa da obra. Mas não foi o que aconteceu.

Ratzinger teve de enfrentar um dilema: faltar com a verdade (o que as provas apresentadas por Sarah impossibilitaram por completo), prejudicar o cardeal africano e obedecer a ordem do ditador para salvar o seu secretário, ou manter a versão íntegra dos fatos, com prejuízo de todos. Bento, então, adotou uma solução “salomônica”: doravante, o livro aparecerá “com a colaboração de Bento XVI”, ao invés de numa co-autoria — se as editoras aceitarem, pois a própria Ignatius Press, responsável pela tradução inglesa, teria se negado a alterar a capa, alegando ter recebido autorização (se tácita ou expressa, não sabemos) do próprio Gänswein! Que novela!

Consequentemente, aquilo que a corte Bergogliana tem apresentado é rigorosamente mentira: Bento XVI não retirou sua assinatura do livro. Ademais, Gänswein exagerou em seu “esclarecimento” e foi frontalmente contraposto pelo corajoso Cardeal Sarah, que não arredou o pé: poderia ter se suicidado publicamente em nome de uma suposta obediência — que seria subserviência aduladora, isso sim — ao Papa, mas foi digno.

A carta de Dom Claudio integralmente vazada mostra que a iminência da promulgação da próxima Exortação Apostólica pode ter sido o motivo principal da preocupação exasperada de Ratzinger-Sarah. A propósito, no Summit sobre a pedofilia no clero, Bento fez a mesma coisa: um texto dando o seu diagnóstico, à margem daquilo que foi dito na cúpula de representantes das Conferências Episcopais. Todavia, naquela ocasião, ele submetera sua versão à Secretaria de Estado e ao próprio Papa Francisco. Desta vez, porém, não submeteu… Por quê?

A carta de Dom Claudio mostra que a coisa é muito mais grave e que estão absolutamente conscientes do impacto que o documento causará contra eles mesmos: é toda uma preparação secreta, coletivas de imprensa a serem preparadas pelos bispos com a presença de índios, toda um mise-en-scène para causar a impressão de unidade e comunhão, um teatro calculado para paralisar a resistência católica diante de um atentado contra a sua religião.

O que está por vir na Exortação Apostólica que moveu Ratzinger-Sarah a uma cartada tão arriscada?

Precisamos nos preparar para a Exortação Apostólica e reavivar a nossa rejeição completa a tudo que significou este sínodo, o Sínodo da Pachamama.

Toda a operação midiática em torno do livro de Ratzinger-Sarah não passa de uma cortina de fumaça instrumentalizada em favor da secreta preparação para o engano do povo católico em relação ao Sínodo.

O que fazer? Precisamos alertar o maior número de pessoas sobre a iminente publicação de um documento que pretende ser o projeto piloto da invenção de um novo catolicismo: tribalista, ecologista, com um novo clero casado, com novos ministérios para as mulheres, com uma nova liturgia, enfim, uma nova religião fundada pelo papa argentino e sua corte. Não é possível ficar dormindo diante de tão absoluto perigo. É hora de reagir!

Converse com as pessoas que você puder, alerte sua família e seus amigos, a apostasia está adiantada demais. “Os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz”, eles trabalham no segredo e na escuridão. Precisamos gritar com toda a nossa voz. Não! Desta vez eles não conseguirão nos enganar!

Confusão dos diabos.

Por FratresInUnum.com, 14 de janeiro de 2020 – Daqui a cem anos, os historiadores encherão volumes e volumes na tentativa descrever o esdrúxulo capítulo da história da Igreja que estamos vivendo. Os nossos bisnetos ficarão perplexos em como fomos tão enganados. De fato, a renúncia de Bento XVI e o pontificado sucessivo, com seus impasses e tensões, com suas maquinações estranhas, com seus fluxos e refluxos, são uma realidade que superou as ficções mais misteriosas, os suspenses mais intrincados…

Qual é o mistério que está por trás de tanta história mal contada?

Qual o trunfo capaz de coagir um Papa (emérito) a ir e vir,  a dizer e desdizer? Afinal, o que nos escondem?

O livro bombástico de Ratzinger-Sarah causou um estrondo sem precedentes no Vaticano e, como consequência, os progressistas estão estrebuchando até agora, em ataques de chilique a cada segundo mais histéricos. Enquanto Bergoglio faz silêncio, os bergoglianos gritam a valer. Vamos reconstruir os fatos:

À notícia da publicação do livro, o establishment Vaticano não apenas confirmou a veracidade do fato, mas corroborou a tese do livro, isentando Francisco de qualquer tentativa de flexibilização da disciplina do celibato e blindando-o completamente como um defensor intransigente de que os padres não venham a ganhar uma sogra.

Enquanto isso, progressistas do mundo inteiro lançavam a narrativa de que Bento XVI está praticamente caduco e que a movimentação era uma tentativa de contra-golpe do entourage ratzingeriano. Os ataques ao papa alemão começaram multiplicar-se de maneira alucinante.

Literalmente, os inimigos começaram a atirar pra todos os lados: disseram que Ratzinger censurou tantos teólogos por serem contra o Papa João Paulo II e agora estava ele contra o papa; que ele está inconsciente a maior parte do tempo e que isso só poderia, portanto, ser uma manipulação; que o próprio Ratzinger fora um dia defensor da ordenação dos viri probati

Hoje, o secretário pessoal de Bento XVI, o arcebispo Georg Gänswein, veio surpreendentemente a público dizer que o papa alemão não sabia da co-autoria do livro e que, portanto, solicitou a retirada de seu nome da capa, da introdução e da conclusão da obra. Porém, surpreendentemente, os editores acabam de vir à cena dizer que quem deu o Placet à publicação foi o próprio Gänswein!

Alem disso, hoje, porém, o Cardeal Sarah divulgou as cartas assinadas por Bento XVI que comprovam a sua ciência do fato, bem como publicou uma declaração em que conta detalhes e datas de suas conversas com ele.

Em suma, Sarah comprovou que Bento XVI era ciente do fato e deixou Gänswein numa situação praticamente insustentável, mas que é confortável para o único que tem autoridade para exigi-la e que se beneficiou disso: Jorge Mário Bergoglio.

Por que Bento XVI capitulou? Que elementos de chantagem poderiam ter sido usados contra ele a ponto de obrigá-lo a voltar atrás numa decisão pública? Seriam estes os mesmos motivos que o fizeram renunciar “ao exercício ativo do ministério petrino”? São conjecturas permitidas a qualquer pessoa inteligente, que conecta causa e efeito de maneira racional. O que nos escondem?

O livro de Ratzinger-Sarah não era uma obra de insurreição contra a autoridade de Francisco e nem sequer estava escrito em tônica indignada… Eram apenas conselhos ponderados de dois homens de Igreja. Mas…

A autoridade de Francisco está tão abalada que este ato modesto e eloquente foi suficiente para sacudir as bases do seu pontificado. Daí a revolta! Francisco não se sustenta mais, seu papado está chagado de morte e ele é muito consciente de sua autoridade moral e intelectual nula diante da gigante influência do seu predecessor. Isto é um fato!

Não deixa de ser intrigante, porém, que Gänswein trate como um mal-entendido aquilo que Sarah comprova como tendo sido muito bem entendido e, ademais, como a sua “única versão dos fatos”.

Desde a renúncia de Bento XVI e da eleição de Francisco, os fiéis são tratados como retardados e tudo sempre é explicado como um grande “mal entendido”. A tática retórica já passou dos limites e, mais uma vez, os fiéis católicos sabem que estão sozinhos na resistência contra a revolução bergogliana, embora tenhamos de confessar a admirável firmeza do Cardeal Sarah, que não desertou, apesar de todas as pressões.

O episódio entrará nas crônicas oficiais vaticanas só como um equívoco, um desacerto, uma imprecisão. Passarão os anos e talvez não estejamos mais aqui quando os verdadeiros bastidores deste imbroglio forem devidamente esclarecidos. Os historiadores do futuro ficarão com muita pena de nós, ou talvez pensem que sejamos apenas uns defuntos imbecis, e se admirarão de que tenhamos podido conviver com tamanha obscuridade, com esta insuportável confusão dos diabos.

Sarah se pronuncia.

Comunicado do Cardeal Robert Sarah publicado há pouco em seu Twitter. Abaixo, tradução de FratresInUnum.com:

No último dia 5 de setembro, após uma visita ao mosteiro Mater Ecclesiae, onde vive Bento XVI, escrevi ao Papa emérito para lhe pedir se possível que escrevesse um texto sobre o sacerdócio católico, com uma atenção particular a respeito do celibato. Expliquei-lhe que eu mesmo havia começado uma reflexão, em oração. E adicionei: “Imagino que o senhor pensaria que as suas reflexões poderiam não ser oportunas por conta das polêmicas que elas provocariam, talvez nos jornais, mas estou convencido que toda a Igreja tem necessidade deste dom, que poderia ser publicado no Natal ou no início do ano de 2020”

Em 20 de setembro, o Papa emérito me agradeceu, ao me escrever que ele também, por sua vez, antes mesmos de ter recebido a minha carta, havia começado a escrever um texto a este respeito, mas que suas forças não lhe permitiriam mais redigir um texto teológico. Não obstante, minha carta o encorajava a retomar esse longo trabalho. Ele acrescentou que transmitiria o texto a mim assim que a tradução em língua italiana estivesse pronta.

Em 12 de outubro, durante o sínodo dos bispos sobre a Amazônia, o Papa emérito me enviou sob confidencialidade um longo texto, fruto de seu trabalho meses. Ao constatar a amplitude deste escrito, tanto sobre o conteúdo quanto à forma, eu imediatamente considerei que ele não seria de se propor a um jornal ou a uma revista, tanto por seu volume como por sua qualidade. Então, imediatamente propus ao Papa emérito a publicação de um livro que seria um imenso bem para a Igreja, integrando o seu próprio texto e o meu. APós diversos intercâmbios em vista da elaboração do livro, eu, finalmente, enviei, em 19 de novembro, um manuscrito completo ao Papa emérito contendo, como havíamos decidido em comum acordo, a capa, uma introdução e uma conclusão comuns, o texto de Bento XVI e o meu próprio texto. Em 25 de novembro, o Papa emérito exprimiu sua grande satisfação a respeito dos textos redigidos em comum e adicionou isto: “De minha parte, estou de acordo de que o texto seja publicado na forma que o senhor previu”.

Em 3 de dezembro, dirigi-me ao Mosteiro Mater Ecclesiae para agradecer mais uma vez o Papa emérito de me conceder tão grande confiança. Eu lhe expliquei que nosso livro seria impresso durante as férias de Natal, que seria lançado na quarta-feira, 15 de janeiro, e que, consequentemente, eu viria lhe trazer a obra no início de janeiro, após retornar de uma viagem ao meu país natal.

A polêmica que visa há várias horas me manchar, ao insinuar que Bento XVI não fora informado da publicação do livro “Do mais profundo de nossos corações”, é profundamente abjeta. Eu perdoo sinceramente a todos que me caluniam ou que querem me opor ao Papa Francisco. Minha ligação com Bento XVI permanece intacta e minha obediência filial ao Papa Francisco absoluta.

Comunicado Sarah

Esmagado pela pressão da Misericórdia.

FratresInUnum.com, 14 de janeiro de 2020 – Depois de comprovar, por documentos, a co-autoria de Bento XVI do novo livro sobre o celibato sacerdotal, o Cardeal Robert Sarah foi misericordiosamente movido a retirar o nome de Ratzinger da publicação.

Ele tweetou há cerca de 30 minutos: “Considerando as polêmicas que provocaram o aparecimento da obra “Do mais profundo de nossos corações”, decidiu-se que o autor do livro será para as próximas publicações: Card. Sarah, com a contribuição de Bento XVI. No entanto, o texto completo permanece absolutamente sem mudanças. + RS“.

https://twitter.com/Card_R_Sarah/status/1217054432933924864

Cardeal Sarah: “O mundo não precisa de uma Igreja que seja o reflexo da própria imagem do mundo!”

Fonte: Associação Dom Vital

O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, pronunciou uma conferência em Paris, na Igreja de Saint-François-Xavier, aos 25 de maio de 2019. Segue a tradução do texto integral dessa memorável conferência.

Caros amigos, permitam-me, antes de tudo, agradecer a Dom Michel Aupetit, Arcebispo de Paris, e ao pároco desta paróquia de São Francisco Xavier, o padre Lefèvre-Pontalis, pelas boas-vindas tão fraternas.

Devo apresentar-lhes meu mais recente livro: A tarde cai e o dia já declina. Nele, analiso a profunda crise que vive o Ocidente, crise da fé, crise da Igreja, crise sacerdotal, crise de identidade, crise do sentido do homem e da vida humana, o colapso espiritual e suas consequências.

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Foto da semana.

Na sexta-feira, 24 de maio de 2019, o cardeal Robert Sarah visitou a Catedral de Notre Dame de Paris. Mas redes sociais, sua eminência escreveu: “Que alegria e emoção vir a esta Casa de Deus que tanto sofreu. Rezei para que a reconstrução deste belo local seja verdadeiramente fiel à Fé de todos  os nossos pais na Fé”.

Em outro post, Sarah prosseguiu: “Caros amigos, a Catedral de Notre Dame possuía uma seta que era como que um dedo apontando para o céu. Aquela seus nos direcionava para Deus. No coração de Paris, ela pareceria dizer a todos o sentido último de toda a vida. Ela simbolizava, de fato, a única razão de ser da Igreja: nos conduzir a Deus, nos direcionar a Ele. Uma Igreja não orientada para Deus é uma Igreja que morre e desmorona.

Você quer reerguer a Igreja? Então, ajoelhe-se! Quer reerguer essa bela catedral que é a Igreja Católica? Coloque-se de joelhos! Pois, uma catedral é antes de tudo um lugar onde os homens podem de ajoelhar, um santuário da presença de Deus no Santíssimo Sacramento.

Gostaria de encorajar os padres. De lhes dizer: amem o seu sacerdócio. Sejam orgulhosos de serem crucificados com Cristo! Não tenham medo do ódio do mundo! Gostaria de expressar o meu afeto de pai e irmão aos padres de todo o mundo! Gostaria de, diante de vocês e com vocês, expressar o meu afeto aos padres fiéis de todo o mundo! Quero, diante de vocês e com vocês, prestar-lhes homenagem!

Caros amigos, amem os seus padres! Não lhes sejam gratos pelo que fazem, mas pelo que são!

 

 

A Igreja está “cega pelo mistério da iniquidade”, afirma Cardeal Sarah em novo livro.

Por LifeSiteNews, 19 de março de 2019 | Tradução: FratresInUnum.comEm seu último livro,  Le soir approche et déjà le soir baisse (“Já é tarde e a noite vem chegando”, citação do episódio dos peregrinos de Emaus, no Evangelho de São Lucas), o Cardeal Robert Sarah decidiu “se manifestar” para os “católicos desorientados” atingidos pela profunda crise pela qual passa a Igreja.

Sarah

“Não consigo mais ficar em silêncio. Eu não posso mais ficar em silêncio”, escreveu o Cardeal Sarah em seu parágrafo inicial. Ele fez uma análise ampla da “noite escura” da Igreja e de que ela “está envolvida e cega pelo mistério da iniquidade”.

Diante antes da publicação do livro na França, em 20 de março, uma introdução foi publicada online, dando o aperitivo de um texto verdadeiramente arrebatador que aborda os problemas atuais de frente: abusos sexuais, mas também relativismo doutrinal, ativismo social e falta de oração, falsas acusações de homossexualidade e hipocrisia generalizadas, e as dúvidas dos fiéis que vêem os inimigos da Igreja em seu próprio meio.

O Cardeal Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, não oferece estratégias, diz ele. Pelo contrário, ele anuncia as respostas atemporais sem as quais todos os esforços são inúteis — uma vida profundamente arraigada de oração, fidelidade ao ensinamento transmitido pela Igreja, ao invés de subestimar a doutrina católica como “muitos pastores” estão fazendo, caridade fraterna e amor a Pedro.

Mas as suas palavras não são, de forma alguma, do suplício pelo qual a Igreja está passando.

O Cardeal Sarah não hesita em falar — nas palavras de Paulo VI — da “fumaça de Satanás” que invadiu a Igreja, apontando abertamente os “traidores” que, como Judas Iscariotes, tornaram-se “agentes do Mal”. “Eles buscaram profanar as puras almas dos pequeninos. Humilharam a imagem de Cristo presente em cada criança”, ao mesmo tempo em que humilharam e traíram a tantos padres fiéis, escreveu.

“A Igreja está passando pelo mistério da flagelação” pelas mãos daqueles que “deveriam amá-la e protege-lá”, advertiu o Cardeal.

Mas a causa do escândalo dos abusos sexuais, ele acrescentou, só pode ser encontrada em traições anteriores: “A crise pela qual o clero, a Igreja e o mundo estão passando é radicalmente uma crise espiritual, uma crise de fé”.

O cardeal africano recorda que o “mistério de Judas” — palavras tomadas do Papa Francisco — reside em se distanciar do ensinamento de Jesus, e pode, portanto, ser comparado ao mistério do mal em nosso tempo.

“Jesus o chamou tal como os outros apóstolos. Jesus o amava! Ele o enviou para anunciar a Boa Nova. Mas, pouco a pouco, o coração de Judas foi sendo tomado pelas dúvidas. Sem perceber, ele começou a julgar o ensinamento de Jesus. Ele disse a si mesmo: esse Jesus é muito exigente, e não eficiente o bastante. Judas queria fazer o reino de Deus vir à terra imediatamente, por meios humanos e de acordo com seus planos pessoais”. Ele deixou de rezar com Jesus e “buscou refúgio nas coisas do mundo, provavelmente murmurando em seu coração ‘não servirei’ quando Jesus lavou seus pés na última ceia”, escreveu o Cardeal Sarah.

“Ele recebeu a comunhão quando seus planos já estavam completos. Foi a primeira comunhão sacrílega da história. E ele traiu”.

Segundo o Cardeal Sarah, as mesmas faltas, as mesmas traições, são cometidas hoje: “Nós abandonamos a oração. O mal do ativismo eficiente se infiltrou em todo lugar. Nós buscamos imitar a organização das grandes empresas. Esquecemo-nos que só a oração é o sangue que irriga o coração da Igreja… Aquele que não reza já traiu. Já está preparado para toda concessão ao mundo. Ele segue os passos de Judas”.

O cardeal tem palavras duras quanto ao abandono da doutrina católica. Eis onde ele vê a causa dos atuais escândalos de abusos sexuais:

“Nós toleramos qualquer questionamento. A doutrina católica é desafiada e, em nome de posturas pretensamente intelectuais, teólogos sentem prazer em desconstruir o dogma e em esvaziar a moral de seu conteúdo profundo. O relativismo é a máscara de Judas disfarçada de intelectual. Como podemos nos surpreender de que tantos padres rompem os seus compromissos? Nós depreciamos o significado do celibato, nós exigimos o direito a uma vida privada, o que é oposto à missão sacerdotal. Alguns vão tão longe, a ponto de reivindicar o direito ao ato homossexual. Um escândalo segue o outro, envolvendo padres e bispos”.

O Cardeal Sarah prossegue, advertindo seus irmãos padres de que todos serão prejudicados por acusações que são verdadeiras apenas para uma minoria. Mas “não se inquiete os seus corações”, acrescentou, recordando que o próprio Cristo foi atingido pelas palavras “Crucifica-O!” e pede-lhes que não se inquietem por “investigações tendenciosas” que apresenta os pastores no topo da Igreja como “clérigos irresponsáveis com uma vida interior anêmica”.

“Padres, bispos e cardeais sem moral não vão, de maneira alguma, manchar o testemunho luminoso de mais de 400 mil padres no mundo que, todos os dias, leal, alegre e santamente servem ao Senhor. Apesar da violência dos ataques que ela suporta, a Igreja não morrerá. Esta é a promessa do Senhor, e Sua palavra é infalível”.

Dirigindo-se especificamente aos católicos que são levados à duvidas, ele falou do “sutil veneno de Judas” da traição. O demônio “quer nos ver (a Igreja) como uma organização humana em crise” quando ela é “Cristo perpetuando-Se”. Satanás leva os fiéis à divisão e ao cisma “ao nos fazer crer que a Igreja traiu”. “Mas a Igreja não trai. A Igreja, cheia de pecadores, é, ela mesma, sem pecado. Sempre haverá luz suficiente nela para aqueles que buscam a Deus”.

O Cardeal Sarah advertiu os fiéis católicos contra a tentação de “resolver as coisas com nossas próprias mãos” — uma tentação que levaria à divisão através da crítica e divisão. “Não hesitemos (…) em denunciar o pecado, a começar pelos nossos próprios”.

“Eu tremo com a ideia de que a túnica inconsútil de Cristo possa uma vez mais ser despedaçada. Jesus sofreu a agonia ao ver antecipadamente as divisões dos cristãos. Não O crucifiquemos novamente”, implorou o cardeal.

Sarah não está procurando popularidade ou sucesso, ele insistiu. “Este livro é um pranto de minha alma! Um pranto de amor a Deus e a meus irmãos. Eu devo a vós, cristãos, a única verdade que salva. A Igreja está morrendo porque os pastores têm medo de falar com toda a verdade e clareza. Estamos com medo da mídia, da opinião pública, de nossos próprios irmãos. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”.

Aos católicos confusos a quem se dirige, o Cardeal Sarah exorta, especialmente aos padres, à oração: “Quem não reza se condena”, escreveu, citando Santo Afonso. “Não é uma questão de acumular devoções. É uma questão de guardar silêncio e adorar, de estar de joelhos, de entrar com temor e respeito na liturgia. É a obra de Deus, não um teatro”.

E ele prossegue sua meditação: “Caros amigos, querem colocar a Igreja em seu devido lugar? Caiam de joelhos! É o único caminho! Se fizer diferente, o que fizer não será de Deus (…) Se não encostarmos nossas cabeças, como São João, no Coração de Cristo, não teremos forças para segui-lO até a Cruz. Se não tivermos tempo de ouvir as batidas do Coração de nosso Deus, nós O abandonaremos, nós O trairemos como os apóstolos fizeram”.

Junto com as orações, na atual crise, é necessária a fidelidade à doutrina. O Cardeal Sarah está claramente consciente das razões da confusão dos dias de hoje. “Como podemos aceitar que conferências episcopais contradigam uma a outra? Onde reina a confusão, Deus não está!, escreveu.

“A unidade de fé supõe a unidade do magistério no espaço e no tempo. Quando um novo ensinamento nos é dado, deve ser sempre interpretado em coerência com o ensinamento que o precedeu. Se nós introduzimos rupturas e revoluções, rompemos a unidade que governa a Santa Igreja pelos séculos”, insistiu. “Aqueles que bradam em voz alta a mudança e ruptura são falsos profetas. Eles não procuram o bem do rebanho”.

Fidelidade à verdade significa aceitar a Cruz, escreveu o Cardeal Sarah, acrescentando que Cristo exige aquela fidelidade mais uma vez.

“Ele nos olha diretamente nos olhos e pergunta a cada um de nós: você me abandonará? Você renunciará o ensinamento da fé em toda sua plenitude? Terá coragem de pregar minha presença real na Eucaristia? Terá coragem de convidar os jovens à vida consagrada? Quando você terá força para dizer que sem a confissão frequente, a comunhão sacramental corre o risco de perder seu sentido? Você terá a audácia de recordar a verdade sobre a indissolubilidade do matrimônio? Terá a caridade de fazer o mesmo àqueles que ameaçam culpá-lo por isso? Você prefere o sucesso ou me seguirá? Queira Deus que respondamos com São Pedro, cheios de amor a humildade, ‘Senhor, a quem iremos? Só vós tendes palavras de vida eterna’. (João 6:68).”

Tudo isso exige “amor a Pedro”, escreveu o Cardeal Sarah. “O mistério de Pedro é um mistério de fé. Jesus escolheu confiar sua Igreja a um homem. Não nos esqueçamos, Ele permitiu a este homem trair três vezes à frente de todos, antes de lhe entregar as chaves de Sua Igreja. Nós sabemos que a barca da Igreja não foi confiada a um homem por causa de suas habilidades extraordinárias. Mas sabemos que este homem seria sempre assistido pelo Divino Pastor, a fim de guardar a regra da fé”.

Essa é a razão pela qual não devemos ter medo, acrescentou, falando do “fio de ouro das definições infalíveis dos pontífices, sucessores de Pedro” em oposição ao “fio negro dos atos humanos e imperfeitos dos Papas, sucessores de Simão”, nos quais ainda “sentimos a pequena agulha guiada pela mão invisível de Deus”.

Na mesma direção de sua introdução, Sarah deixou claro que não se espera que os católicos sejam cegos:

“Queridos amigos, os seus pastores estão cobertos de faltas e imperfeições. Mas não é desprezando esse fato que se construirá a unidade da Igreja. Não tenham medo de pedir a eles a fé católica, os sacramentos da vida divina. Lembrem-se das palavras de Santo Agostinho: ‘Quando Pedro batiza, é Jesus que batiza. Quando Judas batiza, ainda é Jesus que batiza!”.

E prosseguiu: “Se você pensa que seus padres e bispos não são santos, seja santo por eles. Faça penitência, jejum para reparar as faltas e covardia. É a única maneira de carregar o fardo do outro”.

A quarta exortação do cardeal é sobre a “caridade fraterna”, refletindo sobre a Igreja como mãe que abre seus braços a nós: “Em seu seio, nada pode nos ameaçar. Cristo abriu Seus braços de uma vez por todas na Cruz para que a Igreja pudesse abrir os seus a fim de nos reconciliar com ela, com Deus e conosco mesmo”, um chamado contra a divisão que “persegue a Jesus”.

Em resumo, o Cardeal Sarah está chamando os fiéis a reconhecer “a grandeza e a transcendência de Deus”, a quem devemos amar até a morte — a única condição que pode nos permitir ouvir as palavras ditas por São Francisco de Assis: “Vai e reconstrói a minha Igreja”. Ainda afirmou o Cardeal: “Vai, reconstrói pela sua fé, esperança e caridade. Vai e reconstrói pela sua o oração e fidelidade. Graças a você, minha Igreja novamente se tornará minha casa”.

Essas palavras foram assinadas em 22 de fevereiro, durante o encontro sobre abusos sexuais no Vaticano, no momento em que acusações horríveis começaram a se acumular contra a Igreja, especialmente contra aqueles membros mais fiéis a seu ensinamento perene.