Nota da tradutora: Como afirmei anteriormente, os números dos que estão deixando os Legionários de Cristo e o Regnum Christi são bem maiores do que divulgam oficialmente. Muitos padres, em processo de incardinação nas dioceses, ainda fazem parte dos números oficiais da Legião dado que, a rigor, ainda são padres legionários, pelo menos por enquanto.
Minhas fontes me dizem que muitíssimas consagradas já deixaram o Regnum Christi. O texto da Associated Press fala em 400 mulheres. Disseram-me também que a grande maioria das 30 que saíram do ramo feminino das consagradas é de senhoritas do alto escalão, com posições de diretoria e comando.
Patrícia Medina
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Grupo se separa do ramo feminino da Legião de Cristo

Consagradas do Regnum Christi ao lado de Pe. Maciel, uma de suas mulheres e sua filha.
CIDADE DO VATICANO (Por NICOLE WINFIELD, Associated Press) – O ramo feminino da ordem religiosa infestada por escândalos, os Legionários de Cristo, entrou em turbulência nesta terça-feira depois da renúncia de sua líder e da decisão de cerca de 30 membros de separar-se do movimento.
Domingo, Malen Oriol anunciou numa carta que havia pedido renúncia como assistente do diretor geral da Legião, congregação que o Papa Bento VXI assumiu o controle em 2010 depois que a ordem revelou que seu falecido fundador molestou sexualmente seminaristas e foi pai de três filhos.
Em sua função, Oriol liderava o ramo das mulheres consagradas da Legião, cerca de 600 mulheres que vivem como freiras e atuam nas escolas legionárias, no recrutamento [de novos membros] e na arrecadação de fundos.
Oriol também revelou que um grupo de mulheres consagradas decidiu deixar o movimento e viver suas vocações sob a autoridade dos bispos locais – um duro golpe para a Legião, uma vez que grupos de reformadores agora estão saindo do movimento porque seus superiores estão se recusando a mudar.
Uma investigação vaticana em 2010 concluiu que o fundador da Legião, padre Marcial Maciel, foi um farsante e descobriu sérios abusos espirituais e psicológicos dentro da Legião e de seu ramo de consagrados.
O Papa Bento nomeou um oficial vaticano de confiança, cardeal Velasio De Paolis, para dirigir a Legião e supervisionar um processo de reforma e purificação para livrá-la dos abusos. Mas De Paolis tem sofrido críticas: que ele está agindo lentamente demais, que a problemática cultura legionária não mudou e que os mesmos superiores que acobertaram os crimes de Maciel continuam em posições de autoridade.
Dezenas de padres e cerca de 400 mulheres consagradas do ramo feminino do Regnum Christi já deixaram o movimento desde que as revelações da vida dupla de Maciel vieram à tona em 2009.
A maioria dos padres que saíram tornou-se padre diocesano. Mas a maioria das mulheres consagradas que saiu simplesmente retornou à vida como católicas normais: trabalhando, estudando, casando.
O que torna o êxodo das 30 consagradas significativo é que elas procuram continuar vivendo suas vocações religiosas sob a autoridade dos bispos – algo que é problemático para a sobrevivência da Legião, dado que mostra que há potencialmente uma maneira de continuar a viver um estilo de vida similar [de consagração] fora da Legião, se outros assim o desejarem.
O Padre Thomas Berg, um americano que deixou a Legião em 2009, disse que a única maneira da Legião seguir adiante é que grupos como esses brotem e “saiam da casca da Legião e proponham uma forma renovada da vida religiosa”.
Ele nota que existem precedentes históricos: “Grupos de reforma brotaram dentro da família franciscana de tempos em tempos para ‘reformar’ a ordem e constituem um novo tipo de comunidade Franciscana”, disse num email.
Ele disse que a diferença é que a própria Legião não sobreviveria à formação de tais grupos. “Mas é precisamente o que deve ocorrer: a Legião de Cristo como nós a conhecemos deve desaparecer. E uma nova família religiosa, purificada, precisa nascer.”
A renúncia de Oriol como cabeça do ramo consagrado, apesar de esperada, é outro golpe. Nos últimos 3 anos, os quatro irmãos Oriol – todos proeminentes padres legionários – deixaram a ordem.
Não ficou claro se Oriol se juntaria às mulheres consagradas que estão deixando o movimento. Ligações feitas à sede das consagradas em Roma não foram atendidas e um porta-voz legionário disse que não sabia.
Numa declaração feita na terça-feira, a Legião confirmou o conteúdo da carta de Oriol e desejou sucesso para as consagradas nas suas novas vidas.
“Estamos profundamente agradecidos por todos os anos que elas viveram como consagradas do Regnum Christi”, dizia a nota.
Bento VXI ordenou uma investigação no ramo consagrado após descobrir sérios problemas com a maneira de vida dessas mulheres: elas não tinham nenhuma proteção canônica real e ex-membros reclamaram de abusos espirituais, psicológicos e emocionais oriundos das rígidas regras que governavam quase todos os aspectos de suas vidas.
De Paolis anunciou em novembro que as mais de 1000 regras eram inválidas, não tinham caráter legal e seriam diminuídas até um conjunto básico de normas. Ele afirmou que o ramo consagrado do Regnum Christi deve ser independente da Legião, mas os detalhes dessa independência não foram ainda pensados.
Os escândalos da Legião se colocam como um dos piores dos da Igreja Católica no séc. XX, já que o Papa João Paulo II tinha Maciel como um modelo, ainda que o Vaticano soubesse, por mais de uma década, de acusações confiáveis de que ele era um pedófilo.