As palavras do Papa Bento XVI, nesta segunda-feira, aos bispos da Conferência Episcopal da Inglaterra e País de Gales causaram alvoroço. Segundo o vaticanista de ‘Il Foglio‘, Paolo Rodari, “a imprensa britânica leu o discurso do Papa como um ataque direto ao Labour [ndt: Partido Trabalhista inglês]. As autoridades anglicanas, como um ataque dirigido a elas. Entretanto, outros notaram “que as palavras do Papa foram dirigidas à Igreja Católica da Inglaterra, acusada de não ter conseguido se expressar durante a polêmica sobre a adoção de crianças por casais homossexuais de modo unívoco e convincente”. Da mesma forma a Rainha da Inglaterra”. Eis alguns dos comentários da imprensa britânica: “O Papa ataca os trabalhistas sobre as leis de igualdade”, destacou o Telegraph. “O Vaticano lançou um ataque sem precedentes às políticas de direitos humanos de Gordon Brown”, escreveu o Times.
Adoção de crianças por homossexuais.
Segundo Rodari, “o nó principal é sempre um: graças a essas normas se impede qualquer tipo discriminação por parte de organizações como as agências de adoção. E, então, essas mesmas agências, em nome da não discriminação, são obrigadas por lei a conceder a adoção de crianças também a casais de homossexuais.
Para o Papa, o efeito de tais leis “tem sido impor limitações injustas à liberdade de comunidades religiosas para agir de acordo com suas crenças. Em alguns aspectos, isso realmente viola a lei natural, sobre a qual a igualdade de todos os seres humanos está alicerçada e pela qual é garantida”.
Tibieza episcopal.
O conflito também atingiu os meios eclesiásticos: o episcopado inglês não combateu a lei como deveria.
Por isso, Bento XVI exortou os bispos “a garantir que o ensino moral da Igreja seja sempre apresentado em sua totalidade e defendido de modo convincente. A fidelidade ao Evangelho em nada restringe a liberdade dos outros – pelo contrário, ela serve à liberdade oferecendo-lhe a verdade”, pois, continua o Papa, “quando muitos da população se declaram cristãos, como alguém poderia contestar o direito de o Evangelho ser ouvido?”.
E as advertências do Papa continuaram: “Se a mensagem salvífica de Cristo deve ser apresentada de movo efetivo e convincente para o mundo, a comunidade católica em vosso país precisa falar com uma voz unida”. Prossegue o Pontífice: “Em um meio social que encoraja a expressão de uma variedade de opiniões sobre cada questão que aparece, é importante reconhecer os dissensos pelo que são e não se confundir, a fim de uma contribuição madura para um debate equilibrado e abrangente. Essa contribuição é a verdade revelada através das Escrituras e da Tradição e articulada pelo Magistério da Igreja, que nos liberta”.
Anglicanorum Coetibus.
Para o chefe anglicano, dr. Rowan Williams, a constituição apostólica que acolhe dissidentes anglicanos na Igreja Católica foi “um ataque”. Já a Rainha Elizabeth, por sua vez, enviou o Lord Chamberlain, Earl William Peel, para pedir ao arcebispo católico de Westminster esclarecimentos sobre as intenções do Papa.
Aos senhores bispos, que também manifestaram suas reticências com relação à medida, expressou o Romano Pontífice: “gostaria de solicitar que sejais generosos na aplicação das disposições da Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus, de modo a ajudar os grupos de anglicanos que desejam entrar em plena comunhão com a Igreja Católica. Estou convencido de que, se for dada uma calorosa e generosa boas vindas, tais grupos serão uma bênção para toda a Igreja”.
Visita de Estado.
Bento XVI visitará o Reino Unido, como chefe de Estado, em outubro deste ano. A programação inclui um encontro com a rainha no palácio de Buckingham. Porém, Bento XVI declinou o convite de se hospedar no palácio e ficará na Nunciatura Apostólica. Também não participará do tradicional jantar oferecido aos chefes de estado visitantes e dispensou a carruagem de Elizabeth II.
Um abaixo-assinado na internet contra a visita já conta com 4 mil assinaturas. Terry Sanderson, da Sociedade Secular Nacional, lamenta o uso de 24 milhões de euros na visita de um Papa que “já indicou que vai atacar a igualdade de direitos e promoverá a discriminação” dos homossexuais.