Edição do último domingo, 11, do jornal Agora São Paulo, do grupo Folha de São Paulo, repercute caso de Itaquera.
Fiéis querem expulsar padre que colocou drag queen no altar.
Chamada da capa do JORNAL AGORA SÃO PAULO ANO 18 Nº 6475 – Católicos conservadores querem a saída do Padre Paulo Sérgio Bezerra da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera ( Zona Leste). Eles reclamam que o padre Paulo deixou uma drag queen falar sobre o preconceito contra gays e participar da comunhão em uma missa. Conservadores dizem que o padre estimula o “gayzismo”. O religioso afirma que quem quer a sua saída é inimigo da Igreja.

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Fiéis pedem saída de padre por missa com drag queen
Um grupo de católicos promete não sossegar enquanto não tirar da paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera (zona leste), seu líder, o padre Paulo Sérgio Bezerra.
O principal motivo foi o fato de um homossexual, que trabalha como drag queen, ter falado a fiéis contra homofobia em missa em junho.

E de ter participado da comunhão, inclusive erguendo o cálice.
Na ocasião, ele vestia roupas comuns.
Uma sequência de fatos irritou os fiéis, liderados pelo Movimento Legislação e Vida.
Primeiro, a missa; depois, a presença do publicitário Albert Roggenbuck, vestido como a drag queen Dindry Buck, no altar da paróquia de Sant’Ana, em Itaquera, do padre Manoel Olavo Amarante.
Nessa igreja também foi lançado livro, com a presença de seis drag queens.
Os dois últimos eventos foram equivocadamente ligados ao padre Paulo.
“Recebemos diversas mensagens de fiéis pedindo para falar com o bispo”, diz Hermes Rodrigues Nery, 51 anos, coordenador do movimento. Na audiência com o bispo Dom Manuel Parrado Carral, da Diocese de São Miguel Paulista, em 17 de novembro, o grupo entregou-lhe uma carta, na qual fala em “promoção do gayzismo e incentivo à militância do LGBT” em Itaquera.
O padre Olavo não é citado.
Segundo Nery, o bispo não vai substituir o padre Paulo, mas eles prometem insistir na proposta, com mobilização nacional pela internet.
Pelo Facebook, Padre Paulo fez sua defesa, que gerou uma guerra de comentários: “ Fiquei incomodada com o discurso de ódio”, diz a redatora publicitária Monise dos Reis Martins Fernandes, 30 anos, que criou abaixo-assinado em prol do padre, até anteontem com quase 3000 adesões. “É o melhor padre de Itaquera, tirá-lo seria uma injustiça”, disse o guardador de carros Vagner Portela, 25 anos.
Convidado é da Pastoral da Liturgia
O publicitário Albert Roggenbuck, 40 anos, mora em Itaquera (zona leste) e desde criança tem o hábito de ir às missas de domingo na Paróquia Sant’Ana, onde integra a Pastoral da Liturgia. Ele trabalha fazendo eventos como a drag queen Dindry Buck e calcula ter cerca de 30 shows este mês.
Roggenbuck diz que foi à Igreja Nossa Senhora do Carmo “defender valores contra a homofobia”. Na de Sant’Ana, entrou vestido de Dindry Buck quando voltava de uma festa em homenagem ao Dia da Drag Queen para ser benzido. “Não vou deixar de ser homossexual e nem católico por conta da pressão de gente que nem é da minha comunidade.”
Pároco diz ser alvo de “inimigos da Igreja”
O Padre Paulo Sérgio Bezerra, da igreja Nossa Senhora do Carmo, disse que os ataques a ele são realizados por “católicos ultraconservadores”, “fariseus” e “inimigos declarados da Igreja que pensam defender”. A resposta foi dada em sua página no Facebook.
O padre também afirmou que é um bode expiatório. E disse que outras pautas deveriam ser ocupadas no lugar da polêmica, como “#ForaTemer, a luta do MTST e a reforma da Igreja”, entre outros, comprovando a sua postura de esquerda.
Chamado de “o rei do batismo”, por batizar crianças filhas de mães solteiras ou que não tenham se casado na Igreja Católica, o padre Paulo também é conhecido por combater o preconceito contra os homossexuais. No ano passado, distribuiu folheto, durante missa de domingo, com uma oração contra a ofensiva homofóbica. Padre Paulo não quis dar entrevista, mas avisou que não vai mudar sua postura.
Procurado durante três dias por telefone e pessoalmente, o Padre Manoel Olavo Amarante, da Igreja Sant’Ana, onde ocorreu evento com drag queens, não foi encontrado na sua paróquia.
O bispo Dom Manuel Parrado Carral também não deu entrevista. Por meio de nota, a Arquidiocese de São Paulo disse que os bispos das quatro dioceses da capital são autônomos para agir.
Papa é contra a discriminação sexual
Durante uma viagem de volta da Armênia para o Vaticano, no fim de junho, o papa Francisco disse a jornalistas que estavam com ele no avião que a Igreja Católica deve desculpas aos gays por tê-los marginalizado.
A declaração foi no dia seguinte ao ataque de um atirador a uma boate gay em Orlando, nos Estados Unidos, que deixou 49 mortos.
O pontífice relembrou ensinamentos da Igreja que homossexuais não devem sofrer discriminação. “Eles devem ser respaldados e acompanhados pastoralmente”, afirmou.
Para Daniel Guerreiro Cavalcante, integrante do Movimento Legislação e Vida e que participou da reunião com o bispo Dom Manuel Parrado Carral para pedir a a saída do Padre Paulo Sérgio Bezerra, sacerdotes ligados à Teologia da Libertação (como o pároco de Itaquera) se sentem respaldados por declarações ambíguas do Papa Francisco, “que jamais legitimou isso que eles tem propagado , como ideologia de gênero”.
Cronologia da polêmica
12 de Junho
O publicitário Albert Roggenbuck, a drag queen Dindry Buck, é convidado pelo Padre Paulo Sérgio Bezerra a participar de missa na paróquia de Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera.
Durante a missa, sem estar caracterizado, participa da comunhão no altar e distribui hóstias.
16 de julho
Vestido como Dindry Buck, o publicitário sobe ao altar da paróquia de Sant’Ana, em Itaquera, durante Missa, para pedir benção no dia internacional da Drag Queen.
30 de outubro
O salão da Paróquia de Sant’Ana é aberto para o lançamento do livro “Esquadrão das Drags – Arte, Irreverência e Prevenção em Toda Parte”, das jornalistas Roseli Tardelli e Fernanda Teixeira.
Seis drag queens incluindo Dindry Buck, e o Padre Manuel Olavo Amarante, da paróquia de Sant’Ana, participam.
17 de novembro
Integrantes do Movimento Legislação e Vida entregam carta ao bispo Dom Manuel Parrado Carral, da Diocese de São Miguel Paulista, pedindo afastamento do Padre Paulo Sérgio Bezerra
O argumento é que ele violou o “magistério da Santa Igreja e a Santa Fé Católica” e pregou mensagens “pró-gayzismo”.
Bispo teria ligado para o Padre Paulo para evitar que a polêmica aumentassem.
03 de dezembro
Padre Paulo posta nas redes sociais que ataques foram feitos por católicos “ultraconservadores” e “inimigos declarados da igreja que pensam defender”.
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