Coluna do Padre Élcio: Os objetivos “humanitários” dos comunistas e a colaboração com os católicos.

CARTA PASTORAL prevenindo os diocesanos contra os ardis da seita comunista. Escrita em 13 de maio de 1961 pelo então Bispo da Diocese de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa memória (continuação).

Por Padre Élcio Murucci – FratresInUnum.com, 9 de fevereiro de 2019.

1  –  Cooperação entre católicos e comunistas em Sierra Maestra A revolução de Fidel Castro, segundo declarações dos Prelados cubanos (cf. “Cristandad”, de Barcelona, nº 358, p. 298), teve, no seu início e durante todo o período mais duro da conquista do poder, a colaboração franca, corajosa e entusiasta de católicos. A maioria dos guerrilheiros de Sierra Maestra era constituída de católicos, que lutavam com o rosário na mão, animados e acompanhados por Padres católicos.

2  –  Um grande equívoco

Houve, pois, estreita colaboração entre os católicos e os revolucionários fidel-castristas. Na aparência, uns e outros tinham o mesmo objetivo: libertar a pátria de um governo tirânico. Na aparência, dizemos, porque no fundo as intenções eram muito diversas. Os católicos desejavam acabar com os desmandos de um regime corrupto, e restaurar a ordem dentro da civilização tradicional de Cuba, a civilização cristã. Os fidel-castristas empenhavam-se, exclusivamente, pela destruição de um estado de coisas que detestavam, porque impedia a implantação de outro, ainda mais tirânico que o então existente, no qual seriam os donos de uma nação escravizada, subordinada à Moscou. Os católicos batiam-se pela reparação de certas injustiças, e mesmo pela punição dos culpados. Os fidel-castristas, como os comunistas em geral, não cuidavam das injustiças a não ser como meio de atrair adesões à sua causa. Não queriam apenas a punição dos culpados, mas a total destruição de todas as instituições e pessoas que fossem empecilhos ao domínio do partido.

3 – … do qual os católicos não desconfiavam Eis, portanto, duas forças que se conjugam para a consecução de um
mesmo fim material: pôr cobro a uma situação de fato. O desaparecimento de um governo tirânico é, em si, um bem. Ele não pode ser, no entanto, pura e simplesmente destruído. Ele precisa ser substituído por outro, pois que a sociedade não subsiste sem poder público. De onde a impossibilidade de abolir a tirania existente num país, sem se cogitar da nova autoridade que há de tomar o lugar do tirano. No caso cubano, a solução parecia muito fácil. O que se fazia necessário era abater um governo corrupto, e substituí-lo por outro, honesto, dentro do mesmo regime político. Não constituíam problema as instituições vigentes, mas a maneira como as conduziam os governantes. A solução era tão lógica, que não passou pela cabeça dos católicos houvesse entre os homens de Sierra Maestra quem pensasse de outro modo. Na aparência, portanto, tudo se preparava no sentido de corrigir os males introduzidos, especialmente pelo abuso do poder num regime legítimo e digno de ser aprovado.

4 – O ardil dos comuno-fidelistas em relação aos católicos Os comunistas, porém, pensavam diversamente. Eles tinham seu fim preestabelecido, e, como costumam fazer, aproveitavam-se da ocasião propícia, para ampliar seu poderia com vistas ao objetivo último: a dominação mundial. Não o declaravam. Guardavam seu segredo à espera de que, senhores da situação, pudessem dispensar a máscara com que iludiam os companheiros de armas. E assim um país de imensa maioria católica caiu sob a dominação dos piores inimigos da Igreja.

5 – Engodo comunista habitual: luta contra a miséria e a injustiçaO que se deu em Cuba é um exemplo típico do resultado a que leva a colaboração com comunistas. Estes, com efeito, não desdenham a cooperação dos católicos. Antes, a solicitam, provocam-na mesmo, salientando miséria e injustiças que possam despertar a indignação e a
reação dos espíritos retos. E infelizmente, amiúde conseguem a colaboração desejada. Habituados a agir de boa fé, os católicos tendem muitas vezes a achar impossível que por detrás de considerações humanitárias possa alguém esconder um fim perverso. Terminam assim empolgando-se, não pelo movimento comunista, mas pela luta em
benefício dos infelizes, dos oprimidos e sofredores. E trabalham juntos, católicos e comunistas, certos os primeiros de que os outros, como eles, desejam sinceramente curar a sociedade das chagas que a enfeiam; mais certos os últimos de que a agitação humanitária lhes proporcionará o ambiente ideal para a ampliação de seu poderio.

Et crucifixerunt eum!

Sermão da Sexta-feira Santa, 8 de abril de 1977.

Por Dom Antônio de Castro Mayer

E eles o crucificaram! Et crucifixerunt eum!

Eles. Mais imediatamente, os soldados romanos, que martelaram desapiedadamente os cravos, transpassando os punhos e os pés adoráveis do Salvador, e fixando-os na cruz. Embrutecidos nas desordens de toda espécie, num exército falho do santo temor de Deus, habituados a relaxar as tensões nervosas das campanhas militares na ferocidade com que tratavam os inimigos vencidos, tinham os soldados do “Império”, como um regalo de festa, a faculdade que lhes outorgavam os chefes de seviciarem, com sabor sádico, uma vítima indefesa, já condenada a morte.

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O infeliz sentenciado era, antes de tudo, submetido à flagelação. Suplício tremendo ao qual, frequentemente, sucumbiam suas desgraçadas vítimas. Ficava o condenado à mercê da brutalidade bestial de homens grosseiros, robustos no físico e aviltados na alma. Decidia o fim do suplício ou a morte da vitima, ou o cansaço dos verdugos.

Não foram mais compassivos os esbirros a cuja discrição entregou Pilatos a Jesus, “Jesum tradidit voluntati eorum” (Luc. XXIII, 25).

Eis que o Bom Jesus, ao ser estendido sobre o madeiro, é uma chaga viva, renovada pela violência com que lhe despiram de suas vestes. O Santo Sudário de Turim, no mudo é eloqüente depoimento dos fatos, testemunha as atrocidades praticadas sobre a sagrada humanidade do Filho de Deus: A seqüência ininterrupta das chagas, que pontilham todo o Corpo sacrossanto do Salvador, diz-nos da freqüência e violência dos golpes do flagelo, dotado de extremidades metálicas, que abriam sulcos na carne do Salvador, como o arado vai sulcando a terra.

Como se tão desumana crueldade não bastasse, ainda por escárnio e irrisão, plantam-Lhe na cabeça a coroa de espinhos.

Foi nesse estado lastimável, adornado com a púrpura de seu próprio Sangue e com o diadema de sua dolorosa realeza que o estenderam sobre a cruz e terminaram sua tétrica missão, crucificando-O.

A soldadesca infrene, vã, boçal e tremendamente feroz foi, sem dúvida, a vingança da carne contra Aquele que viera sublimá-la na castidade perfeita, parificando os homens aos anjos. Decaído de sua glória, não podia o anjo das trevas tolerar fosse seu lugar ocupado pelo homem cuja virtude domina os ímpetos da concupiscência. E armou a brutalidade do soldado romano contra o Cordeiro Imaculado, culpado de remir o homem, arrancando-o do lodaçal do vício e elevando-o à sociedade dos espíritos celestes. Pois, com humilhantes e atrozes padecimentos, suportados no seu Sagrado Corpo, purificou Jesus, superabundantemente, nossas almas de nossas culpas, e proporcionou, até ao mais miserável pecador, a graça de alçar a cabeça e apresentar-se ao Pai Celeste: «Surgam et ibo ad Patrem meum – Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai (Luc. XV, 18).

Abençoada Paixão de Jesus Cristo. «Mentita est iniquitas sibi ›› (Salmo XXVI, 12). Armou o demônio contra o Salvador os furores do averno e teve como resultado sua própria derrota. ‹‹ Adoramus Te Christe et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum- Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque com Vossa Cruz remistes o mundo ›› .

Os soldados eram subalternos. Cumpriam ordens. Estavam a serviço da autoridade romana. São homens do governador romano, Pôncio Pilatos. Esbirros e procônsul, fazem parte dessa área imensa da Humanidade, imersa nas trevas do paganismo, na ignorância do Deus Verdadeiro. São uns a ralé da abjeção a que desceu a natureza humana após o pecado. De casta superior, com certa nobreza e cultura, não é Pilatos menos abjeto no papel assumido ou aceito no Drama do Calvário. Encarna ele essa mentalidade pagã do homem decaído da excelência a que fora exaltado na Criação, e, pois, voltado sobre si mesmo, dominado pelo egoísmo.

Por natureza servo de Deus, aperfeiçoa-se o homem na medida em que aprimora seu devotamento ao Senhor dos Céus e da terra. Pois faz ele parte desse concerto admirável em que todas as criaturas formam coroa em torno da Sabedoria e Santidade inefáveis dAquele que é a fonte de todo o bem e de toda a verdade, para louvá-lO incessantemente, proclamando sua excelsa e altíssima transcendência. Mas, seduzido pelo demônio, que blandiciosa e sorrateiramente lhe açula a vaidade e o amor próprio, rejeita o homem o seu lugar na harmonia dos seres. Quer ser ele também um deus, decretando os limites do bem e do mal. Senhor e não servo da ordem moral. E tornou-se um paradoxo. Os princípios elementares do bom senso ditam-lhe ainda algumas normas de justiça, subordinadas, porém, ele aos seus interesses. Pois, sem esperança de uma vida futura, concentra seus planos na obtenção da bem-aventurança na terra, feita de vanglória e prazeres. Daí a busca ávida das riquezas e a caça do poder, dois elementos indispensáveis para alimentar sua vaidade e sensualidade. Neste afã inglório em torno de uma quimera, sente o homem seus limites, e passa a existência em sobressaltos: teme perder o domínio e a fortuna. E para conservá-los desce às ultimas vilanias.

Por detrás de pilatos está Tibério César, cujo olhar frio percorre suspeitoso a vastidão do Império receando um rival que lhe dispute o cetro. Nas mãos de Tibério está a sorte de Pilatos. E quem limitou seus horizontes ao mundo presente, sabe tudo quanto isso significa. Seu orgulho fazia-o desprezar o judeu. Por isso e, mais ainda, pela convicção da inocência de Jesus Cristo – pois sabia-o vítima da inveja dos sacerdotes e anciãos do povo – e pela impressão de superior majestade do Divino acusado, Pilatos empenhou-se por absolvê-lo. «Nullam invenio in neo causam» (Jo. XIX. 4), declara ao povo aglomerado junto ao Pretório e aguilhoado pelos sinedritas. «Não encontro razão para condená-lo». E isso, após longo processo em que se sucederam os expedientes mais abjetos, ditados pela covardia humana, que teme a única saída honrosa: o cumprimento do dever, a absolvição do inocente. Pois, apesar do reconhecimento público e solene da inocência do Salvador, Pilatos cede, e o condena a morte. São Lucas sublinha a dupla iniqüidade envolvida na sentença com que o Procônsul condenou Jesus e absolveu a Barrabás. Diante do tumulto provocado no povo pelos príncipes dos sacerdotes e demais sinedritas, Pilatos lançou a sentença, fazendo-lhes a vontade: absolveu, diz o Evangelista, aquele que fora preso por causa de homicídio e sedição, pois que o povo o pedia, e a Jesus entregou-O a morte, de acordo com a vontade de seus inimigos. Injusto absolvendo o culpado, mais injusto condenando o inocente.

É que para Pilatos, como para os que desconhecem a transcendência do homem, não há uma justiça objetiva. Há umas normas de convívio humano que, por mais necessárias que sejam, jamais se antepõem aos interesses próprios. Justo será o juiz desde que a sentença não lhe acarrete a desgraça ou lhe diminua seu bem-estar. Um aceno a semelhante possibilidade bastou para dobrar a aparente integridade do Procônsul. «Se absolves a este não és amigo de César, porque todo o que se faz rei contradiz a César» (Jo. XIX, 12). Tais palavras avivaram na fantasia do governador a figura de Tibério César: sua inflexibilidade em afastar friamente de seu caminho quaisquer opositores, ainda mesmo seu parente mais chegado. E temeu pela sua posição. E entre esta e a justiça, não tinha dúvida o pagão cético e sibarita em sacrificar a justiça e salvar o alimento de sua vaidade e o fundamento de sua fortuna. Uma palavra, uma hipócrita purificação das mãos, e sobre o sangue inocente abafam-se uns tênues restos de remorso de consciência.

Essa a mentalidade pagã. Por isso, não lhe interessa a verdade. A Jesus, que anunciava o Reino da Verdade, Pilatos pergunta entre intrigado e displicente: Que é a Verdade? – «Quid est veritas?» (Jo. XVIII, 38). – Pergunta e não espera a resposta. Esta pouco se lhe dá. Aos que vivem no circuito fechado desta terra, são incômodos os princípios transcendentes que regulam a urdidura das coisas humanas. Pois escapam ao controle dos limites das faculdades do homem. Obedecem aos desígnios de Deus. E o pagão quer ser ele mesmo o senhor de seu destino. Nem espera, nem confia na justiça da Providência.

Na mentalidade pagã floresce a rebeldia do anjo das trevas. Que nisto constituiu sua revolta: sacudir a paternal direção com que Deus dispõe todas as coisas para sua glória e o bem de sua criatura. Quis ele ser como Deus, senhor absoluto, ele mesmo, de seu destino. Precipitado do Céu pela fidelidade dos anjos bons, busca sua vingança, inoculando no espírito do homem a mesma louca pretensão de ser ele o árbitro de toda ordem moral. Que outra coisa não significa a promessa do tentador aos nossos primeiros pais: «Se comerdes do fruto desta arvore, não só não morrereis, mas sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal»(gen. III, 5). Em outras palavras, sereis por vós mesmos os árbitros da ordem moral. Jesus, que veio restaurar a ordem transtornada pelo pecado, não poderia não ter entre seus algozes os herdeiros daquela primeira nefanda impiedade, em que a criatura ousou pretender substituir-se ao Criador. Pilatos, na Paixão de Jesus Cristo, age como representante destes herdeiros de todos os tempos. Por isso, para lição nossa, é seu nome lembrado na profissão de Fé dos que rejeitam a impiedade pagã, porque abrem seus corações, reconhecidos, ao Padre Nosso que está nos Céus e por nós vela amorosamente.

A bestialidade dos soldados romanos, sim. O naturalismo orgulhoso do gentio, sem dúvida. Não são, porem, esses os que arcam com a maior responsabilidade no maior crime da História. Atesta-o o protagonista dessa tragédia, que se irradia pelos séculos. Ao Procônsul, atônito com seu silêncio, declara o Salvador: «Aquele que me entregou a ti responde por um pecado maior – Qui me tradidit tibi maius peccatum habet» (Jo. 19, II). O que me entregou a ti, o povo judeu, especialmente sua classe dirigente, o Sinédrio, os anciãos, os príncipes do povo, os doutores da lei, e à frente de todo o povo, a casta sacerdotal. Não fora a ação decisiva dessa chusma de apóstatas, talvez o povo se comovesse quando Pilatos Ihes apresentou o Salvador desfigurado pela flagelação e coroado de espinhos, e não prorrompesse no pedido histérico da sentença capital.

Os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo! Já não estamos entre a gente aviltada pela sordidez de uma vida grosseira e viciada, nem nos havemos com o mesquinho pragmatismo pagão. Estamos, agora, com  o povo eleito. Para o gentio, Jesus era um estranho; para o judeu, membro da família. Há toda a malícia do sacrifício da inocência na sentença pronunciada por Pilatos e na ferocidade com que os esbirros a executaram. O judeu acrescenta-Lhe a hediondez do parricídio. Pois, diz o Senhor no Levítico, ele era o povo escolhido. «Eu serei vosso Deus, e vós sereis meu povo»(Luc. 26, 12). Povo de predileção, objeto de um amor providente em todas as fases de sua história. Povo a quem governava através de seus profetas e mantinha escoimados das crendices e superstições que maculavam as religiões das outras gentes. A aliança de Deus com o povo de Israel era um pacto sempiterno (Is. 55, 3).

O povo eleito tinha uma missão. Competia-lhe a apresentação ao mundo do Messias, o Salvador, por quem suspiravam as nações, desde a promessa misericordiosa do Paraíso terrestre. E eis que esse povo, no momento culminante de sua história, quando tem no seu seio seu Rei, seu Senhor, o Messias, o Salvador do gênero humano, nesse momento exato de realizar sua missão providencial, quando devera conclamar a todos os povos a adoração do enviado das nações para a redenção do mundo, nesse momento, esse povo apostata. Rejeita e repele o Enviado de Deus. «Nolumus hune regnare super nos – não queremos que este reine sobre nós» (Luc. XIX, 14). E apostata, impulsionado pela hierarquia sagrada. É Caifás, o sumo sacerdote, que, na reunião do Sinédrio após a Ressurreição de Lazaro, para encerrar as dúvidas e dissipar os temores, propõe a morte dAquele cuja vinda era a única razão de ser do povo eleito. «Não sabeis, interferiu Caifás, que convém que um morra pelo povo, não venha toda a nação a perecer?» (Jo. XI, 50). E desde esse dia ficou assentado que, para o Sinédrio, Jesus devia morrer. E devia morrer por quê? Diz o Evangelho: porque Ele fazia muitos prodígios, e se O deixassem, todo o mundo acreditaria nele (Jo. XI, 47 – 8).

Em outras palavras, Jesus devia morrer porque era o Messias. Devia morrer porque realizava aqueles prodígios anunciados pelos profetas como os sinais indicadores de que chegara o tempo messiânico.

– E quem se empenha por esta morte? – O Sumo Sacerdote. Impossível mais assombrosa cegueira! À frente do povo de Deus, como seu chefe teocrático, estava ali para apresentar o Messias ao mundo: – Ouvi, povos, diria como os antigos profetas, aqui está o Desejado das Nações, o Redentor do gênero humano, aquele por quem fomos constituído seu povo de eleição. Ei-lo aqui. Finda esta nossa missão. Não haverá mais distinção entre judeu e gentio, pois Cristo Jesus congrega todo o mundo num só povo de Deus!

Oh! Bem que lógica, coerente, na ordem natural da Providencia, semelhante atitude superava os vícios do Sumo Sacerdote. Pois, de há muito, o sacerdócio judaico era infiel ao seu ofício, arrastando o povo na sua infidelidade. A condenação de Jesus Cristo pelo Sinédrio é o termo natural de uma longa obcecação que levou o sacerdócio judaico a não compreender mais a linguagem dos profetas, a perder o sentido real da redenção, a natureza verdadeira do Reino messiânico, de ordem sobrenatural, verificado nas regiões da Graça.

Caifás é o elo mais saliente de toda esta apostasia. Constituído Sumo Sacerdote pelo Procônsul Valério Graco, a origem espúria de seu pontificado está a indicar o conceito que fazia de sua missão religiosa. Seu servilismo aos prepotentes do momento, acentua-o seu longo pontificado de 18 consecutivos anos, que ainda se alongaram em outros membros da família.

Diz Santo Agostinho que dois amores construíram duas cidades: o amor próprio até o desprezo de Deus é autor da cidade terrena; e o amor de Deus até o desprezo próprio edificou a cidade celeste. Ou seja, pede-se um devotamento total a todo aquele que almeja a cidadania celeste. Semelhante dedicação perfeita exige-se especialmente daqueles que, por dever de ofício, estão votados as coisas de Deus: os sacerdotes. Por isso, a infidelidade do ministro sagrado torna-o vil e abjeto aos olhos de Deus e causa da apostasia de todo o povo. Pois, Caifás levou ao ápice a infidelidade sacerdotal. Saduceu, era, como os da seita, materialista. Não crendo já na imortalidade da alma, seu ideal se limitava as ambições terrenas: glória que alimentasse sua vaidade e riquezas que saciassem sua cobiça.

Com tal sumo sacerdote, não se poderia pensar sequer num Messias sofredor e austero, exemplo e arauto da virtude que repara os desmandos do pecado, como descreviam os profetas o Redentor do mundo. Como poderia, de fato, suportar o sacerdócio de Caifás o novo Rabino a pregar a renúncia às riquezas e à glória? Como poderia ouvir sem arrepios de escândalo a exortação do Divino Mestre: «Que adianta ao homem ganhar o mundo todo se vier a perder sua alma?» (Mat. XVI, 26). Ou, então, a pedir para si uma dedicação superior ao afeto a que fazem  jus os pais junto aos filhos? «Quem amar a sua mãe ou seu pai mais do que a mim não é digno de mim» (Mt. 10,37). Um rabino que ousava, sem pestanejar, expulsar a chicotadas os vendilhões do Templo, todos eles clientes do Sumo Sacerdote?

Não. A cidade do sacerdócio judaico não era a cidade celeste propugnada por Jesus Cristo. Por isso, devia Jesus morrer. Devia morrer porque era fiel a sua missão de Enviado de Deus a pregar a penitência para a remissão dos pecados. Devia morrer, outrossim, porque era amado do povo e punha em risco a popularidade do sacerdócio oficial. Devia morrer sobretudo porque edificava a cidade de Deus, e o sumo sacerdote estava engajado na cidade do homem.

Esta é formada das paixões humanas, todas elas presentes nos tormentos a que foi submetido o filho de Deus. No episódio do Sinédrio, mais especialmente do sacerdócio judaico, age o ódio na sua sanha de extermínio. A violência com que arrastam a multidão na gritaria a pedir a crucifixão com o fim de extorquir da cobardia do Procônsul a sentença de morte é fruto desse ódio que deseja ver esmagado o rival detestado. O mesmo ódio reponta na cena selvagem com que, após a sentença do Sinédrio, os chefes religiosos incitaram os esbirros do palácio, aos insultos mais ignóbeis contra a Pessoa adorável do Filho de Deus. Partiram cobardemente aos socos e bofetadas, contra Jesus indefeso, cuspindo na sua face sagrada. Quando magistrados descem de sua dignidade para se misturarem à canalha vã é porque o ódio já não guarda reservas. Não tem limites.

Um dos meios mais eficazes de que se serve o anjo das trevas para desviar as almas do caminho do Céu e levá-las a aceitar uma falsificação da Religião Verdadeira. Daí o ódio especial com que persegue o demônio aqueles que lhe descobrem seu jogo infernal.

O sacerdócio judaico iludia o povo com as aparências de fidelidade à revelação de Moisés, à palavra de Deus. Jesus denunciou-lhe a hipocrisia. E assim despertou o ódio de morte. Precisa morrer, dizia Caifás, aliás perdemos todo o povo. Pois o essencial é que o povo não perceba nossa hipocrisia, nossas falsificações.

– Esse ardil do demônio é de todos os tempos. Consola-nos que a vitória de Jesus Cristo também é de sempre. O véu do templo, na ocasião da morte de Jesus Cristo, rasgou-se de alto a baixo anunciando o fim do Velho Testamento e igualmente a vitória plena, completa, total de Jesus Cristo contra todas as insídias do demônio.

Ó meu Jesus! Neste dia solene e trágico em que sois elevado ao patíbulo infamante da Cruz, convém que se faca toda justiça. Pois só a Justiça condiz com a Verdade, e Vós viestes para instaurar o Reino da Verdade e dar testemunho da Verdade. Não foram somente eles que Vos crucificaram. Fomos também nós. É o que dizemos todos o dias na nossa profissão de Fé:  ‹‹ Por nossa causa e por nossa salvação desceu dos Céus, padeceu e foi crucificado sob Póncio  Pilatos » .

Sim. Eles o crucificaram. Eles, os gentios e os judeus. Mas, nós também o crucificamos. Nós, cristãos. Nós, que com Ele professamos ter o mesmo pensamento – homo unanimis (Salmo 54, 14). Nós, que com Ele compartilhamos o pão à mesma mesa. Nós que somos seus familiares, seus amigos: «Non dicam vos servos sed amicos». (Jo. 15, 15). Pois, nós também o crucificamos.

E se nos perguntarem quando o crucificamos, respondemos com o argumento com que Santo Agostinho convenceu os judeus de seu crime. Eles O crucificaram, diz o Doutor da Graça, quando diante de Pilatos vociferaram  o “crucifige”, extorquindo do Procônsul a sentença de comodismo, nós não o reconhecemos diante do mundo que lhe é hostil.

Há, na Paixão de Jesus Cristo, uma figura singular, misto de intrepidez e medo, de dedicação e vilta. É São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos. Convencido de seu valor e valentia, faz ao Mestre os mais ardentes protestos de fidelidade. “Ainda que todos te abandonem – assegura ele a Jesus – eu nunca te abandonarei”. “Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei” (Mt. 26, 33). Pois estou pronto a ir ate o cárcere e mesmo a morte, e “ainda que seja necessário morrer contigo, não te negarei”. E no Jardim das Oliveiras, foi o único que se aventurou a defender o Mestre com a espada. Decepou mesmo o orelha direita de Malco, ímpeto contido pela mansidão do Salvador.

Depois, foi a fase da vilta. Como os demais apóstolos, abandonou o Mestre nas mãos dos seus algozes e fugiu covardemente. Mais. No átrio do Palácio do Sumo Sacerdote, misturou-se aos fâmulos da Casa, mais ou menos como quem é estranho ao que ali se passava. E  bastou que uma empregada – “ancilla ostiaria”, diz São Joao, a porteira – ousasse denunciá-lo como discípulo de Cristo, para que sua reação fosse imediata: «Não conheço esse homem» (Mat. XXVI, 72). E confirmou sua negação com juramento e imprecações: «coepit anathematizare et iurare quia non novisset hominem» (Mc. XIV, 71). Não conheço esse homem! Como mentes, Pedro, assim desavergonhadamente? Não conheço esse homem… Mas, não foi Ele por quem há pouco juravas dar a liberdade e mesmo a vida.

Não conheço esse homem! Mas não foi Ele que te fez seu discípulo, que te prepôs ao colégio apostólico, a cujas glórias assististes no Tabor, que frequentemente conduzistes em tua barca, que hospedavas em tua casa?

– Como não conheces esse homem? Eis o perjuro. E como as quedas se sucedem vertiginosamente, não trepida Pedro de usar o termo desprezível, «esse homem», como se fora qualquer anônimo da rua, sobre o qual podem pesar todas as suspeitas, sem que se comovam as pessoas de bem.

Eis a espada que mais feriu o Coração do Divino Mestre. Se meu inimigo, disse Ele pelo Profeta, me amaldiçoasse, eu o suportaria. Mas, tu que pensavas comigo, que comias comigo… (Salmo V, 15).

Os pagãos viviam nas trevas, sem a luz da Fé. Os judeus há muito haviam falsificado a Religião verdadeira, com saudades das bolotas dos porcos, a mamona da iniqüidade. Uns e outros estavam em campo oposto ao do Mestre adorável. Mas Pedro, objeto das predileções de Jesus, a quem acompanhou ao Jardim das Oliveiras, que fora escolhido para testemunha de sua oração angustiosa, que dera todas as garantias de sua dedicação, esse agora o nega vilmente, atemorizado por uma mulherzinha, porteira de palácio? Acareadas as vilanias humanas ocorridas no decurso da Paixão de Jesus Cristo, a de Pedro leva a palma.

Pois em toda a tragédia da Paixão de Cristo, Pedro é quem melhor nos representa. Também nós fomos agraciados pela insondável Bondade do Salvador, que, sem nenhum mérito nosso, nos chamou para a luz inestimável da Fé, para o seio de sua Igreja, para filhos adotivos de seu Pai Celeste, para membros de sua família, para participantes de sua natureza divina. Ele que nos alimenta com sua carne e seu sangue. Pois, apesar de todos esses benefícios, outras tantas demonstrações de sua paternal bondade, nós participamos da vilania de São Pedro. Diante do mundo, com seu fausto, sua glória efêmera, com a  ameaça de um ostracismo sem maiores conseqüências, nós já esquecemos todos os favores da munificência divina, vergonhosamente renegamos nossa condição de cristãos.«Non novi hominem».

Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o silenciar diante do ceticismo diluído no pancristianismo, ao sabor de uma sociedade frívola desejosa de uma Religião sem compromissos?

Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o não combater o erro e as ambigüidades doutrinárias que dessoram e fazem definhar a Fé, base de toda verdadeira vida cristã?

Não é acaso renegar a Jesus Cristo o ajustar-se aos costumes e aos trajes que alimentam a sensualidade e são a negação da virtude cristã?

Não é acaso renegar a Jesus Cristo aceitar uma igreja nova, sem contornos definidos, dentro de um ecumenismo vago e sem carácter, pelo temor de ser apontado como causa de divisão entre os fiéis?

Não é acaso renegar a Jesus Cristo o fazer-se arauto dos direitos humanos, esquecendo os sacrossantos direitos de Deus?

Não é acaso renegar a Jesus Cristo reduzir sua obra redentora a mera libertação de reais ou supostas opressões de ordem econômico-social?

Não é acaso renegar a Jesus Cristo a preocupação excessiva com a felicidade e os bens da terra, que faz esquecer o Reino do Céu e a salvação da alma?

Quem de nós pode sinceramente isentar-se destas ou de outras negações de Jesus Cristo? Sim. Na pessoa de São Pedro estávamos nós a dizer: Non novi hominem. Não conheço a Jesus Cristo.

Oh! meu Bom Jesus… Apesar de minhas misérias, de minha negra traição ao vosso Nome, às promessas de meu Batismo, à vossa Doutrina e ao vosso espírito, ouso apresentar-me a Vós, ouso vir aos vossos pés e me aproximar de vossa Cruz. Pois ela encerra o mistério do amor com que me amais, e este é infinito, supera toda a minha malícia, por mais vã, odiosa e imensa que seja. O estado em que Vos vejo, meu bom Jesus, revestido com a púrpura de vosso Sangue, que jorra de todo vosso Corpo Sacrossanto, com a cabeça coroada dessa cruciante coroa de ignomínia, privado de todo movimento pelas cadeias que vos fixam nesse patíbulo infamante, esse estado, meu Bom Jesus, é o que eu mereci por meus pecados. E Vós, na vossa misteriosa, insondável misericórdia, conhecendo minha fraqueza para suportá-lo, e como me seria inútil, dados os limites de minha natureza, Vós me substituístes e Vos apresentastes à inexorável Justiça Divina para reparar o que por mim seria irreparável.

Compreendo agora, meu Salvador, todo o alcance da frase de Vosso apostolo: «Dilexit me et tradidit semetipsum pro me – Amou-me e entregou-se a morte por mim» (Gal. II, 20). Sim, meu Bom Jesus, Vós me amais com amor inefável. Se vossa dedicação por mim vos levou ao martírio da Cruz, que receio posso ter eu de que me não recebereis, à vista dos muitos e hediondos pecados que deformam a minha alma e a tornam indigna de vossa presença? Sei que vosso amor supera minha indignidade e que vosso Sangue Divino pode purificar-me de todos os meus crimes. Por isso, confio e me apresento a Vossa Misericórdia.

Mas, Senhor, pois que me amastes tanto, ouso pedir-Vos que me deis a graça de Vos amar também eu, de corresponder ao Vosso amor e de não pecar mais. Sim, meu Bom Jesus, não pecar mais. Sou tão fraco, que nem sequer o que há de mais lógico, belo, natural e confortador como é amar-Vos, nem isso sei ou posso fazer. Por isso, vinde, Senhor, em meu auxilio, e dai-me a graça de amar-Vos e de não pecar mais.

Que vossa Mãe e Senhora das Dores, que assiste ao vosso martírio e nele participa, que a Senhora das Dores interceda por mim. E já que A constituístes minha Mãe, que Ela fixe no meu coração indelevelmente vossas chagas sacrossantas, que, em toda parte, lembrem vosso amor por mim e a hediondez do meu pecado, que vos reduziu a este estado lastimável de um farrapo humano. E que esta lembrança seja eficaz para determinar no meu coração um amor ardente por Vós e pelas almas que remistes com Vosso Sangue.

Sancta Mater istud agas: Crucifixi fige plagas Cordi mea valide.

Fac ut ardeat cor meum In amando Christum Deum Ut sibi complaceam. 

Santa Mãe do meu Senhor, dai-me a graça de trazer indelevelmente gravadas no coração as chagas do Divino Crucificado. Fazei que meu coração se inflame no amor de Jesus Cristo para que com Ele sempre me conforme. Amém. Assim seja.

Para o fim da Quaresma – Via Sacra escrita por Dom Antônio de Castro Mayer.

ORAÇÃO PREPARATÓRIA

Meu Senhor Jesus Cristo, disponho-me a acompanhar-Vos no caminho que trilhastes do pretório de Pilatos ao Calvário, para Vos imolardes por minha salvação. Peço-Vos a graça de nos conceder grande dor e arrependimento de ter pecado, causando vossos atrozes sofrimentos, e que vosso Sangue preciosíssimo infunda em minha alma o propósito firme de nunca mais pecar.

ANTES DE CADA ESTAÇÃO

Dirigente: Nós Vos adoramos, Senhor, e Vos bendizemos;

Todos: Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

No final da consideração, depois da Ave Maria:

Todos: PESA-ME, SENHOR, de todo o meu coração ter ofendido a vossa infinita bondade, proponho com vossa graça a emenda, e espero que me perdoeis por vossa infinita misericórdia. Amém.

Dirigente: Compadecei-vos de nós, Senhor!

Todos: Compadecei-vos de nós!

Dirigente: Que as almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.

Todos: Amém.

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Na festa da Imaculada Conceição: De Maria numquam satis.

Imaculada Conceição

“De Maria numquam satis”, dizem os Santos. Não se deve dizer basta nos louvores a Maria Santíssima. Não temamos cultuá-la excessivamente. Estamos sempre muito aquém do que Ela merece. Não é pelo excesso que nossa devoção a Maria falha. E sim, quando é sentimental e egoísta. Há devotos de Maria que se comovem até às lágrimas, e, no entanto, se ajustam, sem escrúpulos, à imodéstia e à sensualidade dominantes na sociedade de hoje. Sem imitação não há verdadeira devoção marial.

Consagremos, realmente, a Maria Santíssima nossa inteligência e nossa vontade, com a mortificação de nossa sensibilidade e de nossos gostos, e Ela cuidará de nossa ortodoxia. “Qui elucidant me vitam aeternam habebunt” (Eclo 24,31) – [Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna] -, diz a Igreja de Maria. Os que se ocupam de fazê-la conhecida e honrada terão a vida eterna.

Dom Antônio de Castro Mayer.

Quando eu era jovem teólogo, antes e até mesmo durante as sessões do Concílio, como aconteceu e como acontecerá a muitos, eu alimentava uma certa reserva sobre algumas fórmulas antigas como, por exemplo, a famosa De Maria nunquam satis – “Sobre Maria jamais se dirá o bastante”. Esta me parecia exagerada.

Encontrava dificuldade, igualmente, em compreender o verdadeiro sentido de uma outra expressão bastante famosa e difundida (repetida na Igreja desde os primeiros séculos, quando, após um debate memorável, o Concílio de Éfeso, do ano 431, proclamara Nossa Senhora como Maria Theotokos, que quer dizer Maria, Mãe de Deus, expressão esta que enfatiza que Maria é “vitoriosa contra todas as heresias”.

Somente agora – neste período de confusão em que multiplicados desvios heréticos parecem vir bater à porta da fé autêntica -, passei a entender que não se tratava de um exagero cantado pelos devotos de Maria, mas de verdades mais do que válidas.

Cardeal Joseph Ratzinger – Entretiens sur la Foi, Vittorio Messori – Fayard 1985.

Post publicado originalmente na festa da Imaculada Conceição de 2008.

Ave Crux, Spes Unica!

O perigo do liturgicismo.

Proposição falsa ou ao menos perigosa: A celebração simultânea de várias Missas rompe a unidade do Sacrifício social.

Proposição certa: A simultaneidade de várias Missas não rompe a unidade do Sacrifício social da Igreja.

Franciscanos da Imaculada rezam quatro missas simultaneamente: o valor infinito de cada Santa Missa, tão obscurecidos pelo costume atual uso indiscriminado da concelebração. Foto: Juventutem Argentina.
Franciscanos da Imaculada rezam quatro missas simultaneamente: o valor infinito de cada Santa Missa, tão obscurecidos pelo costume atual do uso indiscriminado da concelebração. Foto: Juventutem Argentina.

Explanação

Não falta quem afirme que os Sacerdotes não possam oferecer a divina Vítima ao mesmo tempo em muitos altares, porque deste modo dissociam a comunidade e põem em perigo a unidade“. É a sentença reprovada pela “Mediator Dei” (A.A.S. 39, p.556). A razão é óbvia: todo sacrifício da Missa só tem valor pela sua relação intrínseca com o Sacrifício da Cruz, que foi um só e válido para todos os tempos; de maneira que ainda que muitas sejam as Missas, de fato permanece a unidade essencial do Sacrifício.

A sentença impugnada lembra o erro jansenista condenado pela Const. “Auctorem fidei” de Pio VI, em 28 de agosto de 1794, sob nº 31, que soa assim: “A proposição do Sínodo que afirma que é conveniente, para a boa ordem dos ofícios divinos e segundo o antigo costume, que em cada Igreja haja somente um altar, e que lhe agradaria ver restituído este costume — é declarada temerária, injuriosa a um uso antiquíssimo, piedoso, em vigor e aprovado desde muitos séculos, em particular na Igreja Latina” (D. 1531).

* * *

Completemos estas advertências, enumerando as aberrações que um falso liturgicismo espalhou entre os fiéis, e, como decorrência do fato, urgindo a necessidade de nos dedicarmos pelo esforço próprio, auxiliados pela graça, ascese e orações particulares, a assimilar, através da prática das virtudes, os exemplos e a vida de nosso Divino Mestre: “Efetivamente, alguns reprovam de todo as Missas privadas sem assistência do povo, como não conformes ao costume primitivo; nem falta quem pretenda que os Sacerdotes não podem oferecer a Vítima ao mesmo tempo em vários altares, porque assim dissociam a comunidade e põem em perigo a sua unidade; assim como também não falta quem chegue ao ponto de dizer que é necessária a confirmação e ratificação do povo, para que o Sacrifício possa ter força e eficácia” (Enc. “Mediator Dei” — AAS vol. 39, p. 556) (1). Lembremos, nesta altura, que o Concílio Vaticano II, ao alargar os casos de concelebração, não obrigou, exceto na Quinta-feira Santa, a todos os Sacerdotes que quisessem celebrar, a tomar parte na concelebração, mas ressalvou o direito de todo Sacerdote a celebrar privadamente, não à mesma hora na mesma igreja (Const. “Sacrosanctum Concilium”, nº 57).

(1) Pio XII, na Encíclica “Mediator Dei”, aproxima os erros do liturgicismo da heresia jansenista, que foi o contrabando com que o protestantismo procurou firmar-se dentro da Igreja. Na crise por que esta passa, atualmente, e dadas as condições de Nossa Diocese, onde é grande a infiltração protestante, parece-Nos conveniente recordar as concepções jansenistas, concernentes à Santa Missa, [para que] não venhamos, insensivelmente, a assimilar veneno tão subtil, e perder a integridade de nossa Fé. Pio XII, entre as proposições do Sínodo jansenista de Pistóia condenadas por Pio VI, lembra as indicadas pelos números 31 a 34, 39, 62, 65, 69 a 74 (Enc. “Mediator Dei”, AAS vol. 39, p. 546). Parece-Nos atender mais ao assunto desta Pastoral as que vêm sob os números 15, 28, 31, 32, 33, 66 e 67, com as repectivas notas condenatórias.

PROPOSIÇÃO 15: “A doutrina que propõe — que a Igreja deve ser considerada como um só corpo místico, formado de Cristo, como Cabeça, e dos fiéis, que são os membros dEle [de Cristo] por uma união inefável, e pela qual, de modo admirável, nos tornamos com Ele um só sacerdote, uma só vítima, um só adorador perfeito de Deus Pai, em espírito e verdade — entendida no sentido que ao Corpo da Igreja não pertencem senão os fiéis que são perfeitos adoradores em espírito e verdade, É HERÉTICA”. Diretamente, esta proposição trata dos membros da Igreja, da qual exclui os pecadores. Não deixa ela, no entanto, de insinuar o erro protestante que não admite o Sacerdócio hierárquico, essencialmente distinto do sacerdócio comum dos fiéis. Citamos esta proposição, porque não é raro encontrar-se quem interprete em tal sentido certas inovações litúrgicas.

PROPOSIÇÃO 28: “A doutrina do Sínodo, pela qual, depois de estabelecer — que a participação da Vítima é parte essencial do Sacrifício — acrescenta — que, entretanto, não condena como ilícitas as Missas nas quais os assistentes não comungam, por isso que estes participam, embora de modo imperfeito, da mesma Vítima, recebendo-A espiritualmente — enquanto insinua que falta algo de essencial ao Sacrifício que seja celebrado sem assistente, ou com assistentes que nem sacramental, nem espiritualmente participem da Vítima; e como se se devessem condenar como ilícitas as Missas, nas quais só o Sacerdote, e nenhum outro assistente comungasse, nem ao menos espiritualmente — FALSA, ERRÔNEA, SUSPEITA DE HERESIA, E COM SABOR DE HERESIA”. Não é preciso salientar a subtileza com que os jansenistas, também nesta proposição, deixam esgueirar seu erro.

PROPOSIÇÃO 31: “A proposição do Sínodo que enuncia “que é conveniente, para a ordenação dos ofícios divinos, e de acordo com o costume antigo, que em cada igreja haja um só altar, e que lhe agrada muito retornar ao costume antigo — TEMERÁRIA, INJURIOSA AO COSTUME MUITO ANTIGO, PIEDOSO, VIGENTE E APROVADO JÁ HÁ MUITOS SÉCULOS, ESPECIALMENTE NA IGREJA LATINA”.

PROPOSIÇÃO 32: “A prescrição que veta que sobre os altares se coloquem tecas de relíquias sagradas e flores — TEMERÁRIA, INJURIOSA AO PIEDOSO E APROVADO COSTUME DA IGREJA”.

PROPOSIÇÃO 33: “A proposição do Sínodo, em que mostra ele desejar que sejam afastadas as causas pelas quais esqueceram-se, em parte, os princípios relativos à Liturgia, a fim de conduzir esta a uma simplicidade maior dos ritos, para expô-la em língua vulgar e pronunciar as palavras em voz alta; como se a vigente ordenação litúrgica, recebida e aprovada pela Igreja, procedesse, em parte, do esquecimento dos princípios que a deveriam reger — TEMERÁRIA, OFENSIVA AOS OUVIDOS PIEDOSOS, CONTUMELIOSA À IGREJA, E FAVORECEDORA DOS ATAQUES DOS HEREGES CONTRA A IGREJA”.

PROPOSIÇÃO 66: “A proposição que assevera que se irá contra a praxe apostólica, e os concílios de Deus, se não se preparar os meios mais fáceis a fim de que o povo junte sua voz à voz de toda a Igreja; entendida do uso da língua vulgar a ser introduzida nas preces litúrgicas — FALSA, TEMERÁRIA, PERTURBADORA DA ORDENAÇÃO PRESCRITA PARA A CELEBRAÇÃO DOS MISTÉRIOS, E FACILMENTE FAUTORA DE MUITOS MALES”.

PROPOSIÇÃO 67: “A doutrina que exibe que apenas uma verdadeira incapacidade escusa da leitura das Sagradas Escrituras; acrescentando que, na negligência deste preceito, segue-se naturalmente o obscurecimento das verdades elementares da Religião — FALSA, TEMERÁRIA, PERTURBADORA DA PAZ DAS ALMAS, E JÁ CONDENADA EM QUESNEL”.

Dom Antônio de Castro Mayer, Carta Pastoral sobre os Problemas do Apostolado Moderno, 6 de janeiro de 1953; Carta Pastoral sobre o Santo Sacrifício da Missa, 12 de setembro de 1969. Por um Cristianismo Autêntico, ed. Vera Cruz, 1971, pp. 38; 345-347.

Publicado originalmente na festa da Exaltação da Santa Cruz de 2010.

Nada novo debaixo do sol.

Se há 36 anos a postura da CNBB é a mesma, todavia, em Campos havia quem falasse.

Mas a CNBB não quis…

Por Plinio Corrêa de Oliveira – Folha de São Paulo, 16 de maio de 1977

Quanto se enganam os que pensam que as divergências no episcopado nacional versam sobre questões nas nuvens.

É bem o contrário. Trata-se de profundas questões religiosas, das quais decorrem para a vida da Igreja, e portanto também para a do País, as mais graves conseqüências.

Um exemplo disso veio à luz quando do recente pronunciamento da CNBB acerca do divórcio.

DIVÓRCIO, NÃO -- Em defesa da moral, 20.000 católicos, na maioria mulheres, fizeram da procissão de Corpus Christi, no Rio, em 1977, um grito contra a decisão do Congresso (Foto: Walter Firmo)
DIVÓRCIO, NÃO — Em defesa da moral, 20.000 católicos, na maioria mulheres, fizeram da procissão de Corpus Christi, no Rio, em 1977, um grito contra a decisão do Congresso (Foto: Walter Firmo)

A Presidência da CNBB e a Comissão Episcopal de Pastoral representam uma tendência. Alta expressão da tendência diversa é o sr. bispo de Campos, D. Antônio de Castro Mayer.

No dia 28 de abril p.p., este prelado enviou um telegrama ao presidente da CNBB com sugestões sobre o projeto de divórcio em curso na Câmara. No dia seguinte, a imprensa divulgou uma nota da Presidência e da C.E. de Pastoral da CNBB.

Um confronto entre as aspirações do prelado de Campos e o pronunciamento da CNBB mostra bem quanto divergem as vias e as cogitações.

É possível que, no torvelinho da vida diária, tenha passado despercebida a nota oficial da CNBB. Transcrevo-lhe o parágrafo final, saltando os dois grossos parágrafos iniciais que tratam de tudo menos do divórcio. Diz a Nota:

“A Assembléia de Itaici publicou especial mensagem sobre a família, condenando, mais uma vez, a tentativa de introdução do divórcio civil entre nós. Infelizmente, numa atitude que um dos nossos grandes jornais acertadamente apelidou de “pressa indecorosa”, movimentam-se setores do Congresso Nacional para articulações, que a consciência dos eleitores bem orientados e a história não lhes perdoarão. Escutem os parlamentares dos dois partidos a voz e a advertência da Igreja, que não visa defender interesses institucionais seus, mas sim o verdadeiro bem do povo brasileiro através da defesa decidida da família e das leis morais.”

A Assembléia de Itaici, de fevereiro deste ano, se referiu de modo sumário e incolor a uma nota publicada em 1975, algum tanto mais dinâmica. De sorte que, para receber os salutares eflúvios desse dinamismo, o leitor de 1977 tem que ir buscar nos jornais de 1975 o que disse a CNBB. Quantos leitores, imaginam os dirigentes dessa entidade, se entregarão a essa complicada pesquisa?

– Com a devida vênia, digo que sobre o assunto não se poderia dizer menos nem pior.

Sem entrar ainda no mérito da questão para censurar a “pressa indecorosa” de setores do Congresso Nacional no sentido de fazer andar o assunto, a nota procura apoio em “um dos nossos grandes Jornais”.

Em seguida, acena para os deputados propugnadores do divórcio com uma perspectiva, a punição de Deus? Não. A dos homens: eles não serão perdoados pela “consciência dos eleitores bem orientados e a história”.

Por fim, faz um apelo para que os parlamentares ouçam “a voz e a advertência da Igreja”. E dá para isto dois argumentos: 1.º) a Igreja é insuspeita porque não visa a defender seus interesses institucionais. Circunlóquio estranho, que dá a impressão de que à Igreja não causam grave prejuízo os que votarem pelo divórcio; 2.º) ela age por uma razão patriótica, a saber, “o verdadeiro bem do povo brasileiro”. Ou seja, não é acima de tudo por amor à Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo e para a salvação eterna das almas que a CNBB intervém no assunto. E com isto ela omite seu mais alto fim, no momento mesmo em que lança seu apelo que deverá ser dramático contra o divórcio.

Na nota não aparece uma só citação do Antigo nem do Novo Testamento. Nem de padres ou doutores da Igreja, nem de papas ou de santos. Apenas a de “um dos nossos grandes jornais”.

A grande indecisão que se nota até entre os deputados divorcistas resulta do desagrado que o divórcio pode produzir na opinião católica. Cabe pois à CNBB avivar este santo e legítimo desagrado. E para isto ela não encontrou senão este laico e minguado arrazoado! E na cauda da “Nota”!

Com líderes espirituais que falem ao nosso povo fiel alegando preocupações temporais, não creio que a CNBB mobilize contra o divórcio a oposição católica fervente de fé e de pugnacidade, que lhe caberia despertar.

Vejamos agora a outra voz que se levanta no campo católico. Que diferença de cogitações e de vias!

Transcrevo da “Folha da Tarde” de 30 de abril p.p. o telegrama de D. Antônio de Castro Mayer à CNBB. O telegrama cujos sábios conselhos o alto órgão episcopal deixou de lado, para fazer precisamente o contrário.

Mais uma vez, transcrevo:

“Sendo os ilustres componentes do Senado e da Câmara Federal cônscios de que pela natureza de seu mandato, devem exprimir no Poder Legislativo os desejos e aspirações do eleitorado, estou persuadido de que não aprovarão o divórcio caso sintam que a maioria do povo brasileiro não o deseja.

“A repulsa dessa notória maioria se avivará e se tornará patente caso o órgão supremo da CNBB publique largamente, e com toda a urgência, um documento mostrando que a aprovação do divórcio viola gravemente a Lei de Deus, perturba a ordem natural, prejudica a fundo a moralidade pública e privada, abala a família e arruina a nação.

“Exprimo, portanto, a V. Emcia, meu desejo seja tal pronunciamento publicado pela CNBB em comunicado especial, consagrado só a essa matéria e desvinculado de considerações sobre quaisquer outros temas.”

Se a CNBB tivesse atendido ao pedido, teria sido para ela um dia de glória, e para o divorcismo um dia de derrota na longa batalha.

Pois é com pensamentos e atitudes assim que se atraem as bênçãos do Céu, e na terra o aplauso dos fiéis.

Mas a CNBB não quis…

Créditos ao leitor G. Moreno

Auxilium Christianorum, ora pro nobis!

Lepanto

Acenamos, amados filhos, a algumas práticas, através das quais, procura-se instaurar na Igreja um cristianismo novo, destoante daquele que Jesus Cristo veio trazer à terra. (…) Recorramos, pois à oração, e especialmente à devoção a Maria Santíssima, Senhora nossa. A Tradição é unânime em apresentá-La como Medianeira de todas as graças, como Mãe terníssima dos cristãos, empenhada na salvação de seus filhos, como interessada na integridade da obra de seu Divino Filho. Nas situações difíceis, em que Se tem encontrado, a Igreja habituou-nos a suplicar o valioso e eficaz auxílio da Santa Mãe de Deus, seja para profligar heresias, seja para impedir que o jugo dos infiéis pesasse sobre os cristãos. Podemos dizer que a Igreja jamais Se achou em crise tão grave e tão radical, como a que hoje alui seus fundamentos desde os seus primeiros alicerces. É sinal de que a proteção de Maria Santíssima se torna mais necessária. A nós compete fazê-la real mediante nossas súplicas à Santa Mãe de Deus. Nesse sentido, renovamos a exortação que fizemos à reza cotidiana do terço do santo Rosário, cuja valia aumentaremos com a imitação das virtudes de que a Virgem Mãe nos dá particular exemplo: a modéstia, o recato, a pureza, a humildade, o espírito de mortificação na renúncia de nós mesmos, e a caridade com que, pelo bom exemplo, como discípulos de Cristo “impregnamos de seu espírito a mentalidade, os costumes, e a vida da cidade terrena”. Confiamos que a proteção da Santa Mãe de Deus nos conservará a fidelidade à Tradição na nossa profissão de fé e nas nossas práticas religiosas, como nos hábitos de nossa vida católica.

Dom Antônio de Castro Mayer, Carta Pastoral ‘Aggionarmento’ e Tradição – 11 de abril de 1971.

Publicação original na festa de Nossa Senhora Auxiliadora de 2009.

São José.

“Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt. 5, 48). O ideal, pois, da santidade pede do homem uma assimilação da vida divina. Ideal nobilíssimo, quanto mais o seja, mas que supera totalmente as forças humanas. Por isso, na sua inefável bondade, Deus nos enviou um modelo: seu próprio filho, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Para que ele fosse dos nossos, de nossa raça, nosso irmão, podendo legitimamente nos representar, deu-lhe uma natureza humana, formada do puríssimo sangue da Santíssima Virgem Maria; fê-lo nascer de mulher, como os demais homens, de maneira que a todo homem, ao vir a este mundo, Ele pudesse ser apresentado como o protótipo de santidade. Conclui-se que o homem se santifica na medida em que reproduz, na sua vida, a maneira de viver de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Disse alguém que nenhum homem é uma ilha, pois todo indivíduo se acha no seio de uma sociedade doméstica ou sua sucedânea, através da qual ele ingressa na grande sociedade civil. Jesus Cristo não fugiu à regra. Como homem, teve também sua sociedade mais íntima, seus familiares.

É o que se lê em diversos lugares da Sagrada Escritura.

É a São José que o anjo aparece para recomendar-lhe que fuja à ira de Herodes. É ao mesmo São José que, morto o monstro, o anjo adverte que retorne a Canaã com a Sagrada Família.

Maria Santíssima queixa-se a Jesus o ter-se afastado dela e de seu pai quando permaneceu no Templo, aos 12 anos. E a Sagrada Escritura diz igualmente que em Nazaré, Jesus era simplesmente o Filho do Carpinteiro.

Costuma-se dizer que São José é o Pai putativo, Pai nutrício, Pai legal, etc., de Jesus Cristo. Todas expressões verdadeiras, mas que terminam encobrindo o conceito mais profundo e exato de paternidade de São José. Pois que ele é de fato o pai da família nazaretana. E a razão exata porque São José é o pai da família nazaretana, é porque é o verdadeiro esposo de Maria Santíssima, a mãe daquela abençoada família. E como esposo legítimo e verdadeiro, participa da maternidade que sua esposa tem com relação aos frutos de seu seio, ainda que virginais.

Da posição de São José na Sagrada Família decorre o esplendor singular da sua pessoa e a extensão e valor do seu patrocínio.

Com justiça foi declarado por Pio IX patrono da Igreja Universal. E a Santa Igreja recomenda aos fiéis que se acolham sob seu patrocínio. Especialmente como patrono da boa morte é ele invocado, uma vez que teve a ventura de morrer nos braços de Jesus e de Maria Santíssima.

Dom Antonio de Castro Mayer, Heri et Hodie, março de 1986.

Nosso post anual em homenagem à Assembléia da CNBB.

Dom Antonio de Castro Mayer e a CNBB.

A

dissecação de Dom Antonio de Castro Mayer ao movimento “cursillo” [Ndt: Cursilho em espanhol, em referência ao movimento Cursilhos da Cristandade, sobre o qual Dom Antonio escreveu uma Carta Pastoral em 1972] parecia ser aos outros bispos ainda uma nova afronta. Eles, é claro, não respondiam, não debatiam, não argumentavam. Adicionavam isso à sua lista de reclamações contra o Bispo de Campos e esperavam seu momento de atacar.

Esse momento chegou com um ataque ao Syllabus de Erros do Papa Pio IX. Essa vasta lista de heresias modernistas e erros de pensamento por anos gerou uma animosidade demoníaca por parte dos reformadores da Igreja, pois esse Papa, junto do Papa São Pio X em sua encíclica Pascendi, catalogou e documentou todos os pensamentos corrompidos e intenções destrutivas daqueles mesmos reformadores. Eles ressentiam tal exposição concisa e reluzente. Um jovem padre brasileiro modernista atacou abertamente o Syllabus por escrito e Dom Antonio, o cavaleiro da ortodoxia, levantou-se em sua defesa. Publicou uma resposta na qual demolia os argumentos do padre, explicava seus erros e expunha suas falhas intelectuais. Dom Antonio revelou a completa fraqueza do pensamento do jovem clérigo, mas este jovem padre tinha amigos poderosos em altas posições. No encontro seguinte da CNBB, um bispo levantou-se na assembléia e começou a publicamente atacar Dom Antonio, algo que muitos desejaram fazer no passado, mas que ninguém antes teve, na realidade, coragem. Isso foi uma violação do companheirismo oco que comumente reinava em tais encontros de bispos, assim como um claro ataque à noção modernista de colegialidade. A declamação aumentou em força e o bispo chegou mesmo ao ponto de demandar desculpas públicas de Dom Antonio de Castro Mayer. Dom Antonio permaneceu calado. Os outros bispos sentiram o cheiro do primeiro sangue que fora derramado. O ranger de dentes e as mordidas agora começaram de fato. Aqui finalmente estava a oportunidade de cravar os dentes na pele deste estrepitoso colega. Dom Antonio nada disse; manteve sua compostura ante seus acusadores e esperou pelo fim do ataque. Quando acabou, levantou-se, e sem expressar uma palavra, deixou a assembléia.

Nem apareceu no encontro seguinte programado. Sua ausência agora pesava em seus irmãos bispos tão severamente quanto sua presença no passado. De maneira curiosa, eles precisavam dele lá, pois sem ele já não tinham mais um foco para sua raiva. Entenderam sua partida como uma reprovação, e estavam certos. Outro bispo, de tipo gentil, amigável, agüado, procurou aliviar a tensão e fez uma visita ao Bispo de Campos. Ele implorou a Dom Antonio, dizendo: “Você deve voltar”. Dom Antonio respondeu: “Por quê? Minha posição é a expressa doutrina da Igreja Católica. Devo defender a doutrina da Igreja diante de meus irmãos bispos?”.

(The Mouth of the Lion – Bishop Antonio de Castro Mayer and the last Catholic diocese, Dr. David Allen White – Angelus Press, 1993 | Tradução: Fratres in Unum.com – publicado originalmente em 2008)

Via Sacra escrita por Dom Antônio de Castro Mayer.

ORAÇÃO PREPARATÓRIA

Meu Senhor Jesus Cristo, disponho-me a acompanhar-Vos no caminho que trilhastes do pretório de Pilatos ao Calvário, para Vos imolardes por minha salvação. Peço-Vos a graça de nos conceder grande dor e arrependimento de ter pecado, causando vossos atrozes sofrimentos, e que vosso Sangue preciosíssimo infunda em minha alma o propósito firme de nunca mais pecar.

ANTES DE CADA ESTAÇÃO

Dirigente: Nós Vos adoramos, Senhor, e Vos bendizemos;

Todos: Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

No final da consideração, depois da Ave Maria:

Todos: PESA-ME, SENHOR, de todo o meu coração ter ofendido a vossa infinita bondade, proponho com vossa graça a emenda, e espero que me perdoeis por vossa infinita misericórdia. Amém.

Dirigente: Compadecei-vos de nós, Senhor!

Todos: Compadecei-vos de nós!

Dirigente: Que as almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.

Todos: Amém.

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