A fronte praecipitium, a tergo lupi.

Por FratresInUnum.com, 29 de julho de 2021 – O fim de toda lei é o bem comum. Ausente tal princípio, não há lei, mas apenas um simulacro. Como já abundantemente demonstramos em nossas análises anteriores de “Traditionis Custodes”, este é o seu caso. A autoridade pontifícia está empenhada num puro e simples ato de violência, de agressão ao corpo eclesial, e, portanto, pode e deve ser resistida.

Cardeal João Braz de Avis, o representante brasileiro no consistório de hoje.
Cardeal João Braz de Avis.

O art. 6 do documento diz que “os institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica, ao seu tempo erigidos pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei passam à competência da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica”.

Ora, tal ato não é senão o decreto de uma pena de morte às Congregações tradicionalistas. Coisa, aliás, que vem muito a calhar com todo o teor do Motu Proprio. Se os grupos tradicionais precisam ser restringidos até desaparecerem, para que se fundarão seminários a fim de se continuar ensinando a liturgia antiga? Nada mais coerente que extingui-los por completo.

Contudo, Bergoglio não é homem de palavras, mas de ações. Ele jamais declararia tal coisa, prefere agir sem dizê-lo ou, que é lhe é melhor ainda, agir sem agir, deixando outro sujar as mãos em seu lugar: no caso, o eminentíssimo Prefeito da Congregação, ninguém menos que o cardeal brasileiro João Braz de Aviz.

Para quem Francisco está entregando os institutos tradicionalistas?

Para aquele que disse em uma entrevista:

“Estamos trabalhando muito para a transformação da formação. Devemos pensar em formação desde o ventre até o último alento […]. Tudo conta na formação, não se pode dizer que uma coisa é formação e a outra não é […] é necessário mudar muito […] Muitas coisas da tradição, muitas das quais pertencem à cultura de um tempo passado, não funcionam mais. […] Temos formas de vida que estão ligadas aos nossos fundadores mas que não são essenciais. Uma certa maneira de rezar, uma certa maneira de se vestir, dando mais importância a certas coisas que não são tão importantes e dando pouca a outras que são importantes. Essa visão global do conjunto, nós não a tínhamos antes, mas agora temos”.

Dom João Braz de Aviz não tolera nada de outros tempos, eliminando implacavelmente até os seus cabelos brancos.

Muitas congregações foram comissariadas no tempo de Braz de Aviz. Por exemplo, Pequenas Irmãs de Maria, Mãe do Redentor na qual se dizia que não iriam tocar em seu carisma, mas apenas no modo e vivê-lo. As irmãs eram criticadas por rezar demais (sic!). Resultado: quase todas abandoram o instituto.

O Secretário da Congregação, Mons. Carballo, disse em entrevista que “para consagrados, o Concílio (Vaticano II) é um ponto que não pode ser negociado. E afirmou que aqueles que buscam nas reformas do Vaticano II todos os males da vida religiosa ‘negam a presença do Espírito Santo na Igreja’. Explicou que na Congregação para a Vida Consagrada estão ‘especialmente preocupados’ com este tema: estamos vendo verdadeiros desvios. Sobretudo porque ‘não poucos institutos dão não só uma formação pré-conciliar, mas também anti-conciliar. Isso não é admissível, é se colocar fora da história. É algo que nos preocupa muito na Congregação’”.

Foi justamente esta Congregação que misericordiosamente comissariou os Franciscanos da Imaculada, acusando-os de “rezar em latim, viver a pobreza, não aderirem à ‘teologia de gênero’ (seja lá o que for isso) e por fazerem um voto a Nossa Senhora”. O resultado do comissariamento foi a decaptação da Congregação, com a expulsão do fundador e o seu isolamento numa clausura forçada, e a dissipação dos seus membros, de modo que o fulgurante Instituto praticamente acabou.

Em entrevista posterior, o Cardeal Aviz resumiu o problema dos Franciscanos da Imaculada: “O problema é a ‘negação do Concílio’ escondida por detrás da ‘referência ao rito extraordinário’”.

Estes são apenas dois exemplos de muitos outros que se poderiam dar.

Recentemente, o Cardeal Braz de Aviz disse que que “o seguimento de Cristo é a nossa regra suprema. Hoje estivemos com o Santo Padre, e o Papa está preocupado por algumas posições tradicionalistas, também no seio da vida religiosa”. Segundo ele, em entrevista à Revista Veja, o Papa lhe teria confidenciado: “Peço a Deus a graça de viver o suficiente para que as reformas na Igreja sejam irreversíveis”.

Ah, Francisco! Ah, Francisco! A Igreja não é sua, mas Dele!

Em resumo, o art. 6 não significa apenas uma mudança de competência, mas é uma claríssima sentença de morte para os Institutos que estavam ligados à Comissão Ecclesia Dei. Os motivos para comissariamentos e supressões se encontrarão depois, são apenas desculpas a serem inventadas. O fato é que não se pretende o bem de tais institutos. Francisco realiza o seu perfeito encurralamento, segundo o antigo adágio latino: “pela frente, o precipício, por trás, os lobos” – “a fonte praecipitium, a tergo lupi”.

Cardeal Braz de Aviz: “O Papa está preocupado por algumas posições tradicionalistas na vida consagrada”.

Por FratresInUnum.com, 20 de abril de 2021 – Numa live dirigida a religiosos espanhóis, o Prefeito da Congregação dos Religiosos, o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, disse, sem meias palavras:

“O seguimento de Cristo é a nossa regra suprema. Hoje estivemos com o Santo Padre, e o Papa está preocupado por algumas posições tradicionalistas, também no seio da vida religiosa”.

A queixa, francamente, tem um tom de piada! Enquanto a maior parte da vida religiosa está se desfazendo, a preocupação do Papa, segundo o purpurado, é justamente com aquela parte que está dando certo, que são os religiosos conservadores. A preocupação, no caso, deveria ser com essas Congregações imensamente ricas, mas que são constituídas por freiras solteironas, tão burguesas quanto amargas, ou por frades que vivem em conventos luxuosos e saem às noites para passear por lugares pouco ortodoxos a fim de esbanjar um pouco seus modos de playboys.

Cardeal João Braz de Avis, o representante brasileiro no consistório de hoje.
Cardeal João Braz de Avis.

A vida religiosa foi uma das piores vítimas do fantasma conciliar. Basta ver o que eram as Congregações antes e depois do Vaticano II. Se o Papa tivesse um pouco de auto-crítica, começaria a ver isso dentro de sua própria casa, a Companhia de Jesus, que está em franca decadência vocacional e, como a maior parte das congregações, tem a imensa maioria de seus membros na terceira idade.

Mas, não. Em uma mensagem de vídeo enviada ao mesmo evento, Francisco se queixou: “É triste ver como alguns institutos, para alcançar uma cerca segurança, para poder ter o controle, tenham caído em ideologias de qualquer tendência, de esquerda, de direita, de centro, de qualquer tendência”, como se os jesuítas não tivessem feito exatamente isso, a diluição do seu carisma na mais vergonhosa militância da esquerda internacional.

O Papa Francisco continuou como o seu chamado ao aggiornamento, dizendo que “quando um instituto reformula o carisma numa ideologia, perde a sua identidade, perde a sua fecundidade. Manter vivo o carisma fundacional é mantê-lo em caminho de crescimento, em diálogo com aquilo que o Espírito nos está dizendo na história dos tempos e dos lugares, em diversas épocas, em diferentes situações”.

Em outras palavras, manter-se fiel ao carisma fundacional tal como saído das mãos do fundador é, para Francisco, uma ideologia. E o único modo para não cair nisso é o que ele chama de “contato com a realidade”, bem ao estilo jesuítico: “não se percam em formalismos, em ideologias, em medos, em diálogos consigo mesmos e não com o Espírito Santo. Não tenham medo dos limites! Não tenham medo das fronteiras! Não tenham medo das periferias!”

Na verdade, tudo isso não passa deste complexo de traição que sofre a Companhia de Jesus depois de ter traído o seu Santo Fundador. João Paulo II quis suprimi-la novamente, justamente porque se tinha tornado um foco de irradiação de tudo que não presta na Igreja, mas teve de voltar atrás graças à mediação dos bispos espanhóis. Contudo, apesar de sua intervenção forte, o Papa polonês não conseguiu reverter aquilo que se tinha tornado irremediável. Depois da famosa 32ª. Congregação Geral, convocada pelo Pe. Pedro Arrupe, a traição ao carisma fundacional estava consumada e a Companhia não voltaria mais atrás.

Desde então, ser fiel a um carisma original, aprovado pela Igreja, passou a ser visto como algo ruim e restritivo, formalista e rígido. A nova norma é adaptar-se ao momento novo, às ideologias que estão em voga (cuidadosamente não chamadas de ideologias, mas de “realidade”). A fidelidade passou a ser interpretada como conservadorismo intransigente e os seus protagonistas passaram a ser perseguidos, pois a lei, por incrível que pareça, é destruir a vida religiosa, mesmo.

Enquanto isso, há muitas congregações que ainda estão de pé por causa de alguns bons padres e freiras tradicionais, que conseguem atrair alguma vocação, enquanto os velhos progressistas, decrépitos e derrotados, já não conseguem atrair sobre si sequer as moscas.

Talvez o Cardeal Braz de Aviz poderia acenar ao Papa que seria mais interessante preocupar-se com outros problemas mais importantes, como o alcoolismo de certos clérigos ou outras perversões menos nomeáveis, ao invés de oprimir a parte sadia da Igreja. Essas ameaças veladas são demonstração de uma fraqueza não mais dissimulável, a fraqueza da esterilidade do clero progressista, que relegou populações inteiras à descrença e que destruiu instituições veneráveis na estrutura da Igreja.

Revolução nos Conventos: “Mudaremos seu modo de rezar”.

Por Luisella Scrosati, La Nuova Bussola Quotidiana, 19 de julho de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com – “Feita a Itália, é preciso fazer os italianos”: esta é a famosa declaração atribuída ao marquês Massimo d’Azeglio. Não se sabe se ele realmente pronunciou esse ditado, mas o que é certo é que correspondia ao seu pensamento. E – o que é ainda mais preocupante — foi o programa idealizado para o renascimento dos Sabóias.

A nação Italiana já existia há séculos, ligada por uma identidade profunda, mas aquele senso de italianidade era inadequado para as novas necessidades do novo Estado. Assim, os novos italianos tiveram que ser refeitos, em primeiro lugar, convencendo-os de que antes deles sequer existiam italianos! Um enorme aparato de leis foi estabelecido, apenas para deixar claro que o que tinha sido lícito até então não valia mais, e que as antigas liberdades eram na realidade escravidão e tinham que ser suprimidas para abrir caminho para o novo, muito novo e muito italiano.

Não há necessidade de ir além: toda revolução deve fazer um novo homem e eliminar aqueles que resistem. Se você der uma olhada no que está tramando a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), você entenderá a razão da longa introdução.

O cardeal João Braz de Aviz, presidente daquela Congregação com um nome muito longo, explicou em uma recente entrevista seu programa para “fazer os italianos”:

“Estamos trabalhando muito para a transformação da formação. Devemos pensar em formação desde o ventre até o último alento […]. Tudo conta na formação, não se pode dizer que uma coisa é formação e a outra não é […] é necessário mudar muito”.

Se é necessário mudar muito na formação e a formação é um processo contínuo que diz respeito a todos os aspectos da vida, podemos dizer que o Prefeito pretende mudar tudo. Exatamente, deve “fazer os italianos” do zero.

O Cardeal continua:

“Muitas coisas da tradição, muitas das quais pertencem à cultura de um tempo passado, não funcionam mais”. E como sempre acontece, se alguma vez houve alguém um pouco preocupado com essa incursão na vida das comunidades, Braz de Aviz imediatamente quer tranquilizar que não é uma questão de tocar na substância, mas apenas nas coisas, que em sua opinião, não são essenciais: “Temos formas de vida que estão ligadas aos nossos fundadores mas que não são essenciais”. Exemplo? “Uma certa maneira de rezar, uma certa maneira de se vestir, dando mais importância a certas coisas que não são tão importantes e dando pouca a outras que são importantes. Essa visão global do conjunto, nós não a tínhamos antes, mas agora temos”.

Nós sim que temos a visão geral, não os fundadores! Nós sim que sabemos discernir as coisas essenciais das secundárias; portanto, “todas as coisas secundárias podem entrar em colapso, mas o carisma especial dos fundadores não entrará em colapso”.

É necessário estar sempre em alerta quando ouvimos falar essas pessoas, prontas a demolir aquilo que consideram secundário, em nome de preservar o essencial. Pegue uma cebola: nenhuma camada é essencial, mas depois de removê-las todas, uma por uma, você simplesmente não terá mais a cebola. Se você for ver o que aconteceu com as Pequenas Irmãs de Maria, Mãe do Redentor, entenderá o porquê. “Nós não tocaremos em seu carisma, mas em seu modo de vivê-lo”, parece ter sido o que disse uma das “kommissarie” designadas pela CIVCSVA. E parece também que as freiras tenham sido muito teimosas em acreditar que o carisma se encarna no modo de vivê-lo e que o modo de vivê-lo não as desagradava de maneira alguma. E então, por orar demais, por não querer mudar, elas receberam o ultimato de Braz de Aviz: ou vocês aceitam o comissariamento sem reservas ou podem sair do Instituto. Resultado? Quase todas as irmãs foram embora. Bela maneira de salvar o essencial!

A Congregação agora impõe quais são as coisas as quais se deve “dar mais importância” e quais de agora em diante são as de menos. E se formos ver o que produz a CIVCSVA, entenderemos que a situação é séria, extremamente séria. Em carta datada de 5 de maio de 2015, assinada pela dupla Braz de Aviz-Carballo (Secretário da Congregação), foi dado a conhecer aos Superiores Gerais que o acolhimento dos refugiados se tornou uma prioridade: “Parece-nos que é precisamente o Espírito Santo, a voz do Santo Padre e o grito desta humanidade sofredora, a questionar-nos e mostrar-nos a urgência de fazermos algo juntos”. E que algo seria esse? “A dinamização das estruturas, a reutilização de grandes casas em prol de obras mais sensíveis às necessidades atuais de evangelização e caridade, a adaptação das obras às novas necessidades”. Então todos rumo à exortação de sair de nós mesmos e ir com coragem para esta “periferia existencial.”  É, pois, o roteiro indicado por Carballo, ou seja, as dez palavras inspiradas no “magistério” do Papa Francisco sobre a vida consagrada. O novo decálogo faz uso extensivo da nova linguagem e dos slogans para esconder o nada que está por baixo: 

“Alimentem o relacionamento com Jesus na ansiedade da busca”, “Saiam do ninho”, “Sejam ousados! A profecia não é negociável para a vida consagrada”, e assim por diante. Não se pergunte onde estão as pedras angulares da vida consagrada, como o primado da oração e da adoração, a negação de si e o auto-sacrifício, a penitência, etc. Se a Itália foi feita, agora temos que fazer os italianos.

Vaticano destrói outra comunidade: 90% das freiras vão embora.

Por Gloria.tv, 11 de novembro de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com – 34 das 39 freiras das Pequenas Irmãs de Maria pediram para ser dispensadas de seus votos. Fundada em 1949, elas administram quatro casas de misericórdia nas dioceses de Laval e Toulouse (França). As irmãs fazem uso do Novus Ordo em latim. Em 2012, elas se voltaram para o “vetus ordo”.

zi82f9tqq7mvhkdds7vob2zszhkdds7vob2zwA comunidade passou por duas visitas canônicas em 2016 e em 2018 foi acusada de “excessivo sectarismo”. As irmãs definiram o relatório emitido após a segunda visita como “uma caricatura” e um “preconceito”.

A madre superiora e a mestra das noviças foram exiladas para mosteiros distantes e substituídas por três comissárias modernistas. Todos os recursos canônicos e pedidos de misericórdia foram ignorados.

Uma comissária, irmã Geneviève Médeviellem, ensina no Instituto Católico de Paris e afirma que a fornicação é justificável.

Em 17 de setembro, o cardeal Braz de Aviz, responsável pela Congregação para os Religiosos, ordenou que as freiras aceitassem a intervenção “sem reservas” para não serem removidas.

34 freiras anunciaram no dia 7 de novembro que haviam decidido, em consciência, pedir a dissolução de seus votos.

No passado, o Vaticano já havia destruído as Irmãs de Auerbach (Alemanha), as Irmãs contemplativas de São João (França) e as Irmãs Franciscanas da Imaculada (Itália). Todas essas comunidades foram abençoadas com muitas vocações.

Frades Franciscanos da Imaculada. A clausura para Padre Manelli se tornou ainda mais severa. Um decreto do Papa.

Por Marco Tosatti, 2 de fevereiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com: Há alguns dias, nós escrevemos sobre o novo decreto de comissariamento para o ramo feminino dos Franciscanos da Imaculada. Um decreto emitido com uma assinatura não apelável do Pontífice, justamente para evitar que um recurso junto ao Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica pudesse ter, como parece possível e provável, um desfecho feliz.
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Pe. Stefano Manelli. 

A Congregação para os Religiosos, presidida pelo cardeal brasileiro Braz de Aviz e pelo secretário franciscano Carballo, quer encerrar o capítulo do comissariamento dentro de um ano, convocando um capítulo logo após o verão. Mas há dificuldades.

Há forte resistência por parte de muitos religiosos contra o comissariamento que tem sido visto como uma forma de violência. Até hoje, da parte da Congregação não foram reveladas as razões e motivos para que a Ordem – uma das mais fecundas em termos de vocações – tenha sido decapitada e seu fundador, o padre Stefano Manelli, de 83 anos, obrigado a viver em uma espécie de clausura imposta.
Assim, quase quatro anos após o início dessa saga verdadeiramente extraordinária (não houve tal severidade nem contra os Legionários de Cristo, cujo fundador tinha aprontado de tudo e mais um pouco) e em antecipação a um possível capítulo, os fautores do novo curso temem que os fiéis de Padre Manelli possam acabar elegendo um governo da sua mesma linha.
Assim, há alguns dias, Padre Manelli recebeu um documento acordado numa audiência dos chefes da Congregação para os Religiosos com o Papa, e que, com o seu consentimento, estabelece:

“O Padre Stefano Manelli está obrigado a emitir um comunicado no qual declara aceitar e cumprir todas as disposições da Santa Sé e exortar os frades Franciscanos e as irmãs Franciscanas da Imaculada a manterem o mesmo comportamento.

Padre Manelli não poderá fazer nenhuma outra declaração aos meios de comunicação e nem aparecer em público.

Ele não poderá participar em qualquer iniciativa ou encontro, pessoalmente ou através dos meios de comunicação social.

O Padre Manelli está obrigado a enviar dentro do limite de 15 dias do presente decreto, todo o patrimônio econômico administrado pelas associações civis e qualquer outra quantia à sua disposição em plena disponibilidade de cada um de seus institutos.

Fica proibido ao Padre Manelli e Padre G. Pellettieri ter quaisquer relações com os Frades Franciscanos da Imaculada, exceto com aquelas comunidades onde habitarão com a permissão deste Dicastério. Evitar também qualquer contato com as Irmãs Franciscanas da Imaculada”.

Só ficou faltando o instrumento de tortura e a máscara de ferro, para o catálogo ficar completo. Em pleno 2017, na Igreja da Misericórdia. Certamente, Manelli e aqueles leais a ele serão acusados de crimes horrendos, mas então por que não dizê-lo e não submetê-los a julgamento canônico? A falta de clareza nas acusações, se é que existem, dão a impressão de uma perseguição alimentada por outros tipos de interesses. Ideológica, ou talvez ainda mais. E em um país onde os assassinos rondam impunes, a gravidade das restrições desperta uma sensação de irrealidade.

O ponto particularmente interessante é o do dinheiro. E que é muito: alguns falam num patrimônio de trinta milhões de euros. Mas que não estão nas mãos de Padre Manelli, mas sim de várias associações de leigos: Associação “Missão da Imaculada”,  Associação “Missão do Imaculado Coração” e “Associação Casa Editora Mariana”. De fato, em julho de 2015, o Tribunal de Revisão de Avellino cancelou o sequestro dos bens de propriedade das associações de leigos com um valor de cerca de 30 milhões. Os bens haviam sido sequestrados pela Procuradoria de Avellino, que levantara suspeitas de crimes de fraude e falsidade ideológica nas batalhas legais que se seguiram ao Comissariamento.

Então, como julgar as exigências feitas a Padre Manelli, uma vez que a Congregação tem conhecimento da situação jurídica sancionada pela lei italiana? Eu não consigo pensar em qualquer outra coisa, senão que essa é uma forma de violência psicológica e moral contra o frade ancião.

É interessante notar que este passo, tão severo, segue outro movimento sem precedentes acontecido há pouco dias, e certamente único, ou seja, a pressão exercida sobre o Grão-Mestre da Ordem de Malta, Matthew Festing, para renunciar, feita pessoalmente pelo Pontífice. A Ordem de Malta não é pobre, muito pelo contrário. Evidentemente, o frio exalta os ânimos autoritários, para bem além dos muros.

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Leia também: Rejeitadas as acusações contra o fundador dos Franciscanos da Imaculada.

Dom João Braz de Aviz, em visita ao Brasil, fala sobre vida religiosa e padres cantores.

Igreja Católica perde 2 mil religiosos todos os anos

Cardeal d. Braz de Aviz alertou para a urgência em rever a vida nos conventos, além de reconhecer outros problemas, como o da autoridade e o perigo do dinheiro.

Cardeal João Braz de Avis, o representante brasileiro no consistório de hoje.
Cardeal João Braz de Avis.

Estado de Minas – A Igreja Católica perde anualmente cerca de 2 mil religiosos, homens e mulheres, em todos os continentes, sobretudo na Europa, revelou o cardeal brasileiro d. João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

A declaração foi dada em encontro na tarde desta quarta-feira, 19, com mil freiras, padres, irmãos e leigos, na Catedral de São Paulo, na Praça da Sé, região central de São Paulo. No comando de aproximadamente 1,5 milhão de religiosos, pertencentes a quase 3 mil congregações e comunidades de consagrados, o cardeal faz uma revolução no Vaticano para atrair novas vocações.

Ex-arcebispo de Brasília, d. João foi nomeado prefeito por Bento XVI em 2011 e confirmado pelo papa Francisco em 2013.

“A idade média das freiras na Europa é de 85 anos, o que significa que essas idosas vão morrer em breve sem que apareçam outras para ocupar seu lugar”, disse d. João ao jornal O Estado de S. Paulo, antes da palestra na Sé.

Novas vocações só têm surgido, em maior proporção, na África e na Ásia, onde o catolicismo tem prosperado. “Vietnã e Coreia do Sul têm, cada um, 10% de católicos em suas populações”, informou o cardeal.

Para o prefeito da congregação romana responsável pelos cristãos de vida consagrada, é urgente recriar ou rever a vida comunitária nos conventos, para restabelecer a convivência em ambiente de compreensão e caridade entre seus membros. “Sei de casos de religiosos que deixaram suas comunidades e querem voltar, mas desistem porque não encontram nelas a vida em família”, disse d. João. A revisão inclui a possibilidade de organizar comunidades mistas na vida consagrada.

“No passado, tivemos dificuldades para a convivência, porque se dizia que era preciso ter cuidado, porque a mulher é um perigo, ou cuidado porque o homem é um perigo”, observou o cardeal. “Não aconselho muito formar comunidades mistas na mesma casa”, disse, depois de ter lembrado que o voto de castidade faz parte da vocação religiosa.

D. João revelou que recebeu o pedido de dispensa de uma freira de 80 anos, ex-superiora provincial de sua congregação, que deixou o convento porque, conforme alegou, queria realizar seu ideal de maternidade. Ela saiu e adotou um bebê de três meses.

Outro problema sério para a vida religiosa é o da autoridade, ligada ao voto de obediência. “Há muitas autoridades (ou superiores de comunidades) que são opressoras”, afirmou o cardeal. Ele citou o exemplo de uma superiora-geral que ocupa o cargo há 35 anos e não abre mão dele, com graves consequências para suas subordinadas. “Há casos de superioras que mudam as regras da constituição da congregação para morrerem superioras”, lamentou.

A obediência é necessária, disse d. João aos religiosos e leigos de vida consagrada, mas deve ser exercida entre irmãos. “Superiores que não aceitam conselhos não prestam”, advertiu. O bom entendimento, no exercício da autoridade, deve se estender aos mais jovens, aos quais se deve dar responsabilidade e poder. “Que o jovem não tenha medo de ir se aprofundando na vida comunitária, no período de formação.”

D. João de Aviz advertiu também para o perigo do dinheiro, que algumas ordens e congregações religiosas acumulam, apesar de seus membros fazerem voto de pobreza. “As instituições religiosas detêm 52% do patrimônio do Banco do Vaticano (IOR ou Instituto para as Obras de Religião), dinheiro não está faltando”, disse. Como exemplo, ele citou, sem revelar o nome, o caso de uma congregação que, embora com voto de pobreza, tem 30 milhões de euros no banco.

O cardeal foi muito aplaudido pelos religiosos e leigos consagrados, depois de uma hora e meia de palestra. A presidente da seção paulista da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB-SP), irmã Ivone Lourdes Fritzen, elogiou a franqueza e transparência de d. João na exposição sobre a situação e os desafios dos religiosos no mundo.

O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, aplaudiu as palavras do prefeito da Cúria Romana. Em seguida, os dois celebraram missa ao lado de bispos e sacerdotes da arquidiocese e de outras cidades

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Cardeal de confiança do Papa critica postura de padres cantores no Brasil

‘Nem tudo nos nossos padres cantores está claro’, diz dom João Braz. Em entrevista ao G1, ele fala sobre fama e música na Igreja Católica.

G1 – O cardeal João Braz de Aviz, membro da Cúria Romana no Vaticano, fez uma visita a São José dos Campos (SP), nesta terça-feira (18), para conhecer o Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada. Em entrevista ao G1, ele criticou a postura de alguns padres cantores, mas preferiu não citar nomes.

“Nem tudo nos nossos padres cantores está claro, basta olhar. É preciso voltar ao essencial, questionar o porque se está ali cantando aquela música na televisão. Qual a razão que me faz estar aqui? É Jesus Cristo? Minha fama? O dinheiro?”, afirmou.

O cardeal é considerado um dos homens de confiança do Papa Francisco e afirma que o Vaticano não interfere diretamente no cenário audiofônico católico. Para ele, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) seria o órgão mais indicado para tal.

“Não é bom deixar estragar tudo para depois mexer. Eu não cito nomes, mas tem coisas chatas aí. Por outro lado fizeram coisas boas. Daria para citar 3 ou 4 nomes, mas não vou fazer isso”, disse.

Dom Braz revelou que é um grande admirador do padre Zezinho, que aos 74 anos tem 118 discos em seu repertório. “Padre Zezinho não se apegou à imagem e ao dinheiro. O que sobressai nele é Jesus Cristo. Se o que conta é o dinheiro, a fama e o poder, mesmo que você tenha uma bela voz e fale bonito, está errado”, afirmou.

Sobre a vocação religiosa, o cardeal afirmou que uma de suas irmãs chegou a duvidar do seu celibato. “O celibato não é não ter instinto ou vontade de casar. O celibato é outra coisa. Precisamos pautar nossa vida em um testemunho simples e direto, convicto. Se uma pessoa consagrada vive infeliz e carrancuda, pode ir para outro lado, buscar outro caminho ou ela deve mudar”, disse.

Pobre Igreja, pobre cardeal.

Por Fratres in Unum.com: Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Religiosos, faz cada católico brasileiro participar de sua púrpura. O vermelho de seu cardinalato, que representa a prontidão em dar o próprio sangue por amor a Cristo, para nós chega como rubor pela pobreza, intelectual e de espírito, do cardeal. Em Dom João Braz de Aviz temos uma Igreja pobre, paupérrima!

Entrevista de Dom João Braz de Avis à Veja.
Entrevista de Dom João Braz de Avis à Veja.

Em entrevista à revista Veja desta semana (edição 2420), o ex-arcebispo de Brasília revela escancaradamente o que há muito já sabíamos, mas que, por caridade, esforçávamo-nos em não crer. Em suma: um ódio visceral ao que a Igreja construiu ao longo dos séculos e a defesa ardorosa de tudo o que há de revolucionário, reservando seu pobre veneno apenas a Bento XVI e aos “tradicionalistas na Igreja”.

No testemunho de Dom João, estas seriam palavras de Francisco: “Peço a Deus a graça de viver o suficiente para que as reformas na Igreja sejam irreversíveis”.

Reformas não só cosméticas, mas de fundo:

“Existe, no entanto, uma reforma muito mais profunda já em curso. Trata-se de uma mudança de base — simples e complexa ao mesmo tempo. A de fazer com que a Igreja seja mais fraterna, que se abra para valores autênticos — amor, justiça e paz. Nós, católicos, fomos sempre muito fechados. Convivemos por séculos com a ideia de que é preciso converter as pessoas para trazê-las para perto. Não podemos agir como se fôssemos donos da moral”.

É exatamente a tese Kasperiana, “teologia de joelhos” elogiada publicamente pelo Papa Francisco, que dissocia doutrina e pastoral. Assim, para o cardeal:

“Há duas maneiras de ler o Evangelho. Uma, de forma puramente doutrinal, racional. A outra é ver a mensagem de Jesus nas palavras do Evangelho. A mensagem de amor e de acolhimento de Jesus […] O Papa se justifica para essas pessoas. Pessoas que veem o Evangelho de forma restrita, puramente doutrinal. São os tradicionalitas da Igreja. Aos eclesiásticos e aos fiéis não tradicionalistas, ele certamente não precisa se explicar”.

Duas leituras: uma, que leva a sério o que disse Nosso Senhor. Outra, que ignora suas palavras para procurar, como filha legítima do protestantismo, ler nas entrelinhas e encontrar um “espírito” adaptável, de modo absolutamente subjetivista, às idéias do momento, às modas, à pobreza humana. Pois, de acordo com o purpurado, “o Papa não pode jamais mudar o ensinamento de Jesus. Mas pode mudar a interpretação”.

Para Dom João, “nós, católicos, fomos sempre muito fechados”. De fato, Sua Eminência nunca pôde abrir-se a Bento XVI, que, tristemente, fê-lo cardeal:

“Digamos que eu passei por uma crise pessoal muito grande. Em 2012, o então secretário da congregação que eu coordeno, o arcebispo Joseph Tobin, foi destituído por Bento XVI sob acusação de ter tomado o partido das freiras americanas responsabilizadas por desvios de disciplina e doutrina. A acusação era injusta. Posso dizer isso porque ele era meu braço-direito. Eu sempre achei que fazer a vontade de Deus por meio do caminho da Igreja é essencial. Mas, no momento em que passo a pensar que a vontade de Deus pode ser mentirosa, como eu fico? Simplesmente, calei-me diante daquela injustiça”.

É que Dom João esperava um Papa à sua medida, moldado à sua ideologia. Até a agenda é motivo para contrapor os pontífices, exaltando a um e execrando publicamente a outro:

“Vejo o Papa Francisco pelo menos a cada duas semanas […] Quanto a Bento XVI, na última vez que pedi para falar com ele, o encontro foi marcado para dali a quatro meses. Ele é extremamente tímido, e essa timidez causou uma dificuldade de comunicação muito grande”.

Pobre época, pobre Igreja, pobre cardeal!

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Os leitores podem enviar seus comentários para divulgação no “Espaço do leitor” da revista Veja até a próxima quarta-feira, 8: veja@abril.com.br.

Relatório sobre as irmãs norte-americanas enfatiza a “gratidão” e reflete mudanças no Vaticano.

IHU – O relatório do Vaticano dessa terça-feira sobre a investigação das ordens religiosas femininas dos Estados Unidos (disponível aqui, em inglês) foi amplamente positivo no tom, em contraste com as declarações emitidas quando a investigação começou em 2009.

A nota é de John Thavis, publicada no seu blog, 16-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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Naquela época, o cardeal Franc Rodé, que dirigia a Congregação vaticana para as ordens religiosas, disse que o estudo tinha como objetivo identificar atitudes “seculares” e “feministas” que tinham se infiltrado nas ordens das freiras e ajudaram a provocar um drástico declínio no número de membros.

O relatório dessa terça-feira não vai nesse sentido. Em vez disso, delineia desafios reais enfrentados pelas ordens religiosas, ao mesmo tempo em que agradece repetidamente as irmãs pelo seu serviço ao Evangelho.

Essa abordagem equilibrada reflete uma mudança de guarda no Vaticano – mas é uma mudança que começou com o Papa Bento XVI. Em 2011, Bento XVI nomeou o cardeal brasileiro João Braz de Aviz para substituir o cardeal Rodé. O cardeal brasileiro assumiu a investigação das religiosas, mas adotou uma abordagem muito mais conciliatória.

Eu acho que o relatório equilibrado dessa terça-feira foi praticamente uma conclusão antecipada, tendo em vista a liderança continuada do cardeal Braz de Aviz na Congregação vaticana para as ordens religiosas e dado que o Papa Francisco claramente quer a paz com as irmãs norte-americanas.

No entanto, parece haver uma dinâmica do “bom policial, mau policial” que ainda perdura no Vaticano. Uma investigação separada do Vaticano sobre a Leadership Conference of Women Religious (LCWR), a maior associação de irmãs norte-americanas, foi realizada pela Congregação doutrinal e tem sido muito mais crítica.

Em 2012, a Congregação doutrinal emitiu uma “avaliação doutrinal” e insistiu em grandes mudanças na LCWR para garantir que a organização se alinhe com o ensinamento católico em áreas como a ordenação de mulheres, a homossexualidade, o aborto e a eutanásia.

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O cabo de guerra sobre a implementação dessas mudanças continua. No ano passado, em uma rara demonstração de pontos de vista divergentes nos níveis mais altos do Vaticano, o cardeal Braz de Aviz criticou a forma como a revisão da LCWR foi conduzida. Isso levou a uma rápida declaração do Vaticano, que tentou minimizar qualquer desacordo entre Braz de Aviz e o cardinal Gerhard Müller, presidente da Congregação doutrinal.

O cardeal Müller não afrouxou, no entanto. Alguns meses atrás, ele repreendeu a LCWR por ter adotado ideias que ele disse que levam a “erros fundamentais” sobre “a onipotência de Deus, a encarnação de Cristo, a realidade do pecado original, a necessidade de salvação e o caráter definitivo da ação salvífica de Cristo”.

A LCWR está trabalhando com o arcebispo de Seattle, J. Peter Sartain, que foi nomeado em 2012 para implementar a avaliação doutrinal. Depois de se encontrar com o arcebispo em agosto passado, a LCWR emitiu um comunicado que dizia em parte: “Continuaremos a conversa com o arcebispo Sartain como uma expressão de esperança de que novas formas possam ser criadas dentro da Igreja para uma discussão saudável das diferenças”.

O sorriso do progresso.

Por Victor Spazevic – Riscossa Cristiana | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com – Em uma interessante entrevista, o Cardeal Braz de Aviz mencionou o progresso na resolução do “caso Franciscanos da Imaculada”. Depois de quase ter destruído aquele Instituto, o qual pouco tempo atrás ainda estava florescente, o prefeito da Congregação responsável explicou que finalmente eles descobriram os problemas.

O problema é a “negação do Concílio” escondida por detrás da “referência ao rito extraordinário”. Não sem razão Maurizio Grosso (“Corrispondenza Romana”) manifestou alguma perplexidade em torno da expressão “o Concílio”. Mas eu não vou ser assim tão malicioso e prefiro ver na expressão do Cardeal apenas um “atalho linguístico”. Suponho que o prelado a tenha usado apenas porque o Vaticano II é até agora o mais recente dos Concílios. Então, se o cardeal dissesse, por exemplo, “a Copa”, estaria se referindo à última Copa do Mundo (deveria então explicar depois tal expressão para os seus conterrâneros, que provavelmente prefeririam evitar tal exaltação), e se ele dissesse “a guerra mundial”, de certo não o faria ignorando que foram duas guerras, mas simplesmente para poupar o tempo que se gasta em pronunciar as palavras “última” ou “segunda”. Com tal economia, certamente se sobra mais tempo para tratar da teologia da libertação.

Deixemos portanto em paz “o Concílio”,  não vamos acusar Sua Eminência de querer com esta expressão “negar” não apenas um, mas vinte concílios. Seria realmente um desastre ter que por sob intervenção a Congregação [para os Institutos de Vida Consagrada] que mais faz florescer a vida religiosa, especialmente as congregações femininas, ou melhor, feministas na América.

No entanto, permanece a dúvida sobre o que se entende pela palavra “negação”. Quem nega um concílio? E no que consistiria uma tal negação? Se alguém diz: “no meu ponto de vista, o Concílio de Florença se desenvolveu em circunstâncias bastante escandalosas”, já se torna culpado de “negação”? Ou se alguém diz, “o quinto Concílio de Latrão não resolveu os problemas da sua época”, já comete o delito de “negar o concílio?” (delito o qual – como ensinou precisamente o caso Franciscanos da Imaculada – corresponde à pena de morte?) Então, se um outro diz, “o pontificado do Papa Alexandre VI foi vergonhoso” – “nega-se” aquele pontificado? Ou se alguém diz que o pontificado de Leão X, que foi “fatal para a sede romana” (von Pastor o escreveu), torna-se, talvez, um negador?

Mas não é só isso: será que os Franciscanos da Imaculada realmente procuravam evidenciar apenas o lado negativo do vigésimo primeiro concílio ecumênico? De modo algum! Muito pelo contrário, eram exatamente eles que apoiavam fortemente a linha de Bento XVI; negação – sim – mas não de “o concílio”, mas de uma de suas hermenêuticas erradas. Na verdade, eu acho que poucos estudiosos fizeram tanto para salvar o concílio quanto os bravos professores dos Franciscanos da Imaculada. Fingir que está tudo bem e que não há nenhuma crise ou enterrar a cabeça no chão como um avestruz não resolve o problema, um problema que deve ser enfrentado com amor pela Igreja, nossa querida e ensanguentada mãe, com a humildade de filhos, mas também com honestidade científica. Essa honestidade certamente não pode ir nem contra o amor à Igreja, nem contra a humildade. Quando será possível que a verdade contradiga a virtude?

Este foi o trabalho desenvolvido pelos  professores e sacerdotes dos Franciscanos da Imaculada. Quantos leigos os procuravam cheios de dúvidas e encontravam ajuda! Quantos que ao se deparar com a terrível crise e diante da tentação de se colocar toda a responsabilidade sobre os ombros dos Padres conciliares, encontravam entre os Franciscanos da Imaculada (e de fato os mais perseguidos agora) um outro lado: “Olha, o Vaticano II não queria a destruição da vida religiosa… a queda da moralidade… o enfraquecimento da Igreja… Leia os documentos, leia-os à luz da tradição; não se preocupem e não dê ouvidos a quem quer interpretar esses documentos contra o que sempre foi ensinado pela Igreja!”

No final, no entanto, devo acrescentar algumas palavras sobre o Concílio Vaticano II, a sua relevância e atualização em geral.

Existem textos conciliares que – repetindo com palavras novas as verdades de sempre, – permanecem atuais. Aqueles que lêem esses documentos “à luz da Tradição”, encontram neles um tesouro (embora, por vezes, bastante escondido). Um “tradicionalista” que denunciava abertamente a crise, Dietrich von Hildebrand, era um entusiasta da  “Lumen Gentium” (pelo menos enquanto escrevia seu “Cavalo de Tróia na Cidade de Deus”).

Mas o último concílio, desenvolvido na atmosfera do famoso “aggiornamento”, se auto-definiu como um concílio “pastoral”. E sabemos bem que nas dioceses, frequentemente orientações pastorais não duram mais do que 50 anos. Ainda mais quando se trata desses últimos 50 anos! Depois de 1968, da queda do Muro de Berlim, da transformação dos países comunistas, da globalização, da Internet, imigração, terrorismo islâmico, várias guerras, a descristianização da sociedade… talvez — aliás, certamente – esses são os mais velozes “50 anos” da história! O que há 50 anos era uma “atualização”, agora seria uma “desatualização”.

Quem, então, não foi bem atualizado? Os Franciscanos da Imaculada, seguindo o Papa Bento e as suas decisões (entre elas o retorno ao antigo rito) ou aqueles que, olhando com saudosismo para os anos da Teologia da Libertação, procuram debelar um dos mais belos frutos do Concílio Vaticano II? (lembremos da inspiração que Padre Manelli tirou do documento “Perfectae Charitatis”).

Senhor Cardeal! Os tempos mudaram, podemos dizer. O “Zeitgeist” sopra em outro lugar; sopra para a tradição. Leonardo Boff é um velho quase esquecido em seu oásis ecológico, enquanto os seminários em que se ensina a Missa segundo o Missal do recém-canonizado João XXIII estão cheios. Podemos dizer que este é o julgamento do implacável progresso da História: o progresso de vez em quando prega peças em seus admiradores. Vocês não estão bem atualizados, permanecem em seus tempos áureos da teologia da libertação. Nesse meio tempo houve um “Summorum Pontificum”, houve uma conversa sobre as duas hermenêuticas… de resto, nesse meio tempo houve também uma certa declaração sobre a teologia da libertação.

Franciscanos da Imaculada: 10 perguntas ao Cardeal João Braz de Aviz.

Por Corrispondenza Romana | Tradução: Fratres in Unum.com – Eminência Reverendíssima,

Gostaríamos de lhe dirigir as perguntas que seguem, em razão das sérias questões levantadas pela instalação de um Comissariado junto aos Frades Franciscanos da Imaculada e da Visita Apostólica às Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição, ambas medidas de sua iniciativa.

downloadTrata-se de questões de relevo universal que emergem, em consciência, do dever de cada um de procurar a verdade, especialmente em matéria de fé e de moral.

Desde que se tornou público o escândalo suscitado em tantos pela instalação do Comissariado junto aos Frades Franciscanos da Imaculada e pela Visita Apostólica às Irmãs Franciscanas da Imaculada, as perguntas dele resultantes devem também ser feitas publicamente.

1) Por que os Frades Franciscanos da Imaculada foram comissariados? No decreto de instituição do Comissariado emitido por V.E. não aparece qualquer motivo. Por quê?

2) Por que V.E. não levou em conta algumas das notas (29 de maio de 2013) enviadas pelo Conselho Geral, em conjunto com a Procuradoria Geral dos Frades Franciscanos da Imaculada, com as quais lhe participavam – no que diz respeito à Visita Apostólica então em curso – alguns fatos gravíssimos, e sem precedentes em toda a história da Igreja, entre os quais (como nele se lê): “a decisão [do Visitador] de proceder SOMENTE através de um questionário escrito, evitando totalmente a visita à comunidade e até mesmo aos seminários […]; o conteúdo do questionário, além da intenção de sugerir uma versão ‘tendenciosa’ da situação do Instituto, estava prenhe de perguntas não facilmente compreensíveis pela maioria dos nossos irmãos […]; Os resultados do questionário, por si sós, sem verificar se o que nele estava escrito corresponde realmente às convicções de cada irmão, não são confiáveis​ pelas razões acima mencionadas”?

3) V.E. está ciente das disposições emitidas pelo Comissário apostólico que designou para conduzir os Franciscanos da Imaculada, com as quais se impõe aos Frades, entre outras coisas, o fechamento do seminário, a suspensão das ordenações, e a proibição de colaborarem em publicações teológicas e de apostolado? Se não foi informado, por que endossou tais medidas, evidentemente destrutivas das atividades fundamentais próprias ao carisma desse Instituto, devidamente aprovado pela Santa Sé?

4) Por que ordenou a Visita Apostólica às Irmãs Franciscanas da Imaculada, ou seja, ao ramo feminino do Instituto religioso já comissariado por V.E.?

5) Por que enviou como Visitadora Apostólica uma religiosa tão distante, por atitudes e por formação – mas sobretudo pelo modo de pensar e de agir –,  das Irmãs Franciscanas da Imaculada?

6) Por que não demonstrou equivalente atenção e severidade em relação àqueles institutos religiosos nos quais um grande número de membros tem claramente se afastado do carisma dos fundadores e da observância de suas respectivas Regras e Constituições?

7) O que V.E. pensa a respeito da Teologia da libertação? Considera compatível com a fé católica a adesão às idéias da Teologia da Libertação, particularmente após a sua explícita condenação pela Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé, confirmada por João Paulo II (6 de agosto de 1984), com a qual, entre outras coisas, se denunciam “os graves desvios ideológicos”?

8) O que pensa a respeito da possibilidade sincretista de unificar todas as religiões em uma nova religião planetária? É verdade que V.E. já participou, fazendo o discurso introdutório, do Primeiro Fórum Espiritual Mundial, juntamente com representantes de sociedades espíritas, teosóficas e maçônicas?

9) Não considera que cada projeto da religião planetária contradiz flagrantemente o princípio de que “deve ser […] acreditado firmemente como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e Trino é oferecida e realizada uma vez para sempre no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus” (Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus, 14)?

10) O que pensa a respeito da Maçonaria? Considera compatível com a fé cristã a adesão de um católico e, com razão ainda maior de um clérigo, à Maçonaria?

Com respeitosas saudações

Corrispondenza Romana

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