Por FratresInUnum.com, 29 de julho de 2021 – O fim de toda lei é o bem comum. Ausente tal princípio, não há lei, mas apenas um simulacro. Como já abundantemente demonstramos em nossas análises anteriores de “Traditionis Custodes”, este é o seu caso. A autoridade pontifícia está empenhada num puro e simples ato de violência, de agressão ao corpo eclesial, e, portanto, pode e deve ser resistida.

O art. 6 do documento diz que “os institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica, ao seu tempo erigidos pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei passam à competência da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica”.
Ora, tal ato não é senão o decreto de uma pena de morte às Congregações tradicionalistas. Coisa, aliás, que vem muito a calhar com todo o teor do Motu Proprio. Se os grupos tradicionais precisam ser restringidos até desaparecerem, para que se fundarão seminários a fim de se continuar ensinando a liturgia antiga? Nada mais coerente que extingui-los por completo.
Contudo, Bergoglio não é homem de palavras, mas de ações. Ele jamais declararia tal coisa, prefere agir sem dizê-lo ou, que é lhe é melhor ainda, agir sem agir, deixando outro sujar as mãos em seu lugar: no caso, o eminentíssimo Prefeito da Congregação, ninguém menos que o cardeal brasileiro João Braz de Aviz.
Para quem Francisco está entregando os institutos tradicionalistas?
Para aquele que disse em uma entrevista:
“Estamos trabalhando muito para a transformação da formação. Devemos pensar em formação desde o ventre até o último alento […]. Tudo conta na formação, não se pode dizer que uma coisa é formação e a outra não é […] é necessário mudar muito […] Muitas coisas da tradição, muitas das quais pertencem à cultura de um tempo passado, não funcionam mais. […] Temos formas de vida que estão ligadas aos nossos fundadores mas que não são essenciais. Uma certa maneira de rezar, uma certa maneira de se vestir, dando mais importância a certas coisas que não são tão importantes e dando pouca a outras que são importantes. Essa visão global do conjunto, nós não a tínhamos antes, mas agora temos”.
Dom João Braz de Aviz não tolera nada de outros tempos, eliminando implacavelmente até os seus cabelos brancos.
Muitas congregações foram comissariadas no tempo de Braz de Aviz. Por exemplo, Pequenas Irmãs de Maria, Mãe do Redentor na qual se dizia que não iriam tocar em seu carisma, mas apenas no modo e vivê-lo. As irmãs eram criticadas por rezar demais (sic!). Resultado: quase todas abandoram o instituto.
O Secretário da Congregação, Mons. Carballo, disse em entrevista que “para consagrados, o Concílio (Vaticano II) é um ponto que não pode ser negociado. E afirmou que aqueles que buscam nas reformas do Vaticano II todos os males da vida religiosa ‘negam a presença do Espírito Santo na Igreja’. Explicou que na Congregação para a Vida Consagrada estão ‘especialmente preocupados’ com este tema: estamos vendo verdadeiros desvios. Sobretudo porque ‘não poucos institutos dão não só uma formação pré-conciliar, mas também anti-conciliar. Isso não é admissível, é se colocar fora da história. É algo que nos preocupa muito na Congregação’”.
Foi justamente esta Congregação que misericordiosamente comissariou os Franciscanos da Imaculada, acusando-os de “rezar em latim, viver a pobreza, não aderirem à ‘teologia de gênero’ (seja lá o que for isso) e por fazerem um voto a Nossa Senhora”. O resultado do comissariamento foi a decaptação da Congregação, com a expulsão do fundador e o seu isolamento numa clausura forçada, e a dissipação dos seus membros, de modo que o fulgurante Instituto praticamente acabou.
Em entrevista posterior, o Cardeal Aviz resumiu o problema dos Franciscanos da Imaculada: “O problema é a ‘negação do Concílio’ escondida por detrás da ‘referência ao rito extraordinário’”.
Estes são apenas dois exemplos de muitos outros que se poderiam dar.
Recentemente, o Cardeal Braz de Aviz disse que que “o seguimento de Cristo é a nossa regra suprema. Hoje estivemos com o Santo Padre, e o Papa está preocupado por algumas posições tradicionalistas, também no seio da vida religiosa”. Segundo ele, em entrevista à Revista Veja, o Papa lhe teria confidenciado: “Peço a Deus a graça de viver o suficiente para que as reformas na Igreja sejam irreversíveis”.
Ah, Francisco! Ah, Francisco! A Igreja não é sua, mas Dele!
Em resumo, o art. 6 não significa apenas uma mudança de competência, mas é uma claríssima sentença de morte para os Institutos que estavam ligados à Comissão Ecclesia Dei. Os motivos para comissariamentos e supressões se encontrarão depois, são apenas desculpas a serem inventadas. O fato é que não se pretende o bem de tais institutos. Francisco realiza o seu perfeito encurralamento, segundo o antigo adágio latino: “pela frente, o precipício, por trás, os lobos” – “a fonte praecipitium, a tergo lupi”.